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EXAME DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL DIREITO CIVIL - PESSOA NATURAL (ART.1º AO 39 DO CC/02) AULA 01 1 - PESSOA NATURAL Pessoa natural: refere-se ao ser humano. Observação: Muitos chamam a pessoa natural de “pessoa física”, mas essa expressão é do Direito Tributário. 2 - SUJEITO DE DIREITO Sujeito de direito: engloba não apenas a pessoa natural, mas entidades coletivas, empresas, associações civis e organizações não-governamentais. Observação: “pessoa natural” não é sinônimo de “sujeito de direito”, pois esta tem o conceito mais amplo. O sujeito de direito pode ou não ter personalidade jurídica (civil). Personalidade jurídica: é uma aptidão genérica para titularizar direitos e deveres. a. Sujeitos de direito com personalidade jurídica/civil: → Pessoa natural → Pessoa jurídica b. Sujeitos de direito sem personalidade jurídica/civil (entes despersonalizados): → Nascituro → Condomínio → Massa falida → Espólio (herança quando se torna autora ou ré de ação) → Sociedade irregular/fato → Outros (Ex. órgãos públicos) 2.1 - PRINCÍPIO DA LEGALIDADE A diferença entre os sujeitos de direito com e sem personalidade jurídica pode ser encontrada no princípio da legalidade. a. Sujeitos com personalidade jurídica/civil: podem tudo que a lei não proibir. Exemplo: O casamento é celebrado quando homem e mulher manifestam perante a autoridade competente a sua vontade em casar. Contudo, é preciso salientar que o ordenamento jurídico reconhece também o casamento entre pessoas do mesmo sexo. E essa permissão se dá através de decisões das Cortes supremas (STF e STJ). Exemplo 2: O art.426 do CC/02 dispõe que: “Não pode ser objeto de contato a herança de pessoa viva;” Veja que no segundo exemplo a lei proíbe que a herança de pessoa viva seja objeto de contrato. Mas, se a lei nada dissesse a respeito disso, a herança de pessoa viva poderia ser objeto de contrato. Ao praticar um ato que a lei proíbe, mas nada fala em relação à penalidade, esse ato será nulo. Isto é, toda vez que a lei proibir, mas não mencionar a punição, o ato será nulo. Note o que dispõe o art. 166 do Código Civil: Art.166 do Código Civil - É nulo o negócio jurídico quando: VII. a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. b. Sujeitos sem personalidade jurídica/civil: somente poderão atuar quando a lei permitir. Observação: O CPC permite que o condomínio, o espólio e a sociedade irregular, sejam partes (autores ou réus) em processo (ação judicial). Ou seja, para o CPC, esses sujeitos possuem personalidade judiciária. 3 - NASCITURO Pessoa natural: é o ser humano e possui personalidade jurídica/civil. → O art.2º do CC/02 dispõe que a personalidade jurídica/civil da pessoa natural começa do nascimento com vida (funcionamento do aparelho cardiorrespiratório/entrada de ar nos pulmões). Art.2º do Código Civil - A personalidade jurídica/civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. → Logo, percebe-se que o Código Civil, na letra fria da lei, adota a Teoria Natalista (nascimento com vida). Atenção: Muitas decisões judiciais, principalmente do STJ, vêm reconhecendo como pessoa o nascituro desde a concepção (Teoria Concepcionista). Na prova da OAB o aluno não deve entrar na discussão. Nascituro: é aquele que tem vida intrauterina. → O fato é que o nascituro possui direitos. Exemplos: Direito à personalidade (ex.: vida), que não se confunde com a personalidade jurídica, direito a alimentos (Lei n. 11.804/2008), doação, direito à herança, direito a dano moral (Ex.: REsp 1.487.089) etc. → Quando o nascituro sai do ventre materno, ocorre um fenômeno chamado nascimento. Observe que, no dia do parto, três situações são possíveis: I. Respira: Nascimento com vida. II. Respirar e, logo após, morte. III. Nascimento sem respiração: natimorto. Observação: caso haja o nascimento com a respiração, adquire-se a personalidade civil ou jurídica. 4 - CAPACIDADE DE DIREITO No mesmo momento em que se adquire personalidade civil, também se adquire a capacidade de direito. Atenção: A doutrina menciona que a capacidade de direito possui o mesmo conceito da personalidade civil; não é possível dissociá-las. A capacidade de direito encontra-se no art. 1º do CC/02: Art.1º do Código Civil - Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. → Isso significa que toda pessoa tem aptidão genérica para titularizar direitos e deveres e tem capacidade de direito na ordem civil. Exemplo: Um menino de 2 anos pode ter conta no Banco do Brasil, pois ele tem personalidade civil e capacidade de direito. A capacidade de direito se desdobra em duas modalidades: a. Capacidade de direito: possibilidade de gozar dos direitos e efetivar os deveres. Exemplo: embora um menino de 2 anos possa ter conta no Banco do Brasil, ele não pode abri-la sozinho → Ao nascer, respirar, ganhar personalidade jurídica ou civil, e adquirir a capacidade de direito, mas não apresentar a capacidade de fato, a pessoa é denominada incapaz. Destacam-se os seguintes apontamentos importantes: → Não existe incapaz de direito, pois toda pessoa tem capacidade de direito; e → Todo incapaz é incapaz de fato. b. Capacidade de fato/exercício: é uma capacidade específica que lhe permite exercer os seus direitos e deveres sozinho. Essa capacidade é adquirida efetivamente aos 18 anos. → Ao nascer, respirar, ganhar personalidade jurídica ou civil, adquirir a capacidade de direito e a capacidade de fato, o sujeito é plenamente capaz. 5 - INCAPAZ a. Incapaz: é a pessoa natural desde o nascimento com vida até os 18 anos. b. Relativamente incapaz: é a pessoa natural entre os 16 anos e os 18 anos. c. Capaz: é a pessoa natural dos 18 anos em diante. O art. 3º define quem é o absolutamente incapaz (incapacidade grave). Art.3º do Código Civil - São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos (menor impúbere). O art. 4º define quem é o relativamente incapaz (incapacidade leve). Art.4º do Código Civil - São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I. os maiores de dezesseis e menores de dezoitos anos (menor púbere); II. os ébrios habituais (alcoólatras) e os viciados em tóxico (drogados); III. aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade IV. os pródigos (gastadores compulsivos). Parágrafo único: A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. Observação: Aqueles que são maiores de 18 anos e são ébrios habituais, toxicômanos, não manifestam vontade ou são pródigos podem ser considerados incapazes. Observação 2: O incapaz, absoluto ou relativo, pode praticar atos da vida civil, desde que seja representado. Atenção: Para o ECA, considera-se criança aquele que tem até 12 anos incompletos e adolescente aquele que tem de 12 a 18 anos incompletos. Não confundir as idades do ECA com as do CC/02. 6 - REPRESENTAÇÃO a. Os absolutamente incapazes: são representados em sentido estrito pelos representantes. b. Os relativamente incapazes: são apenas assistidos pelos representantes. 6.1 - REPRESENTANTES a. Genitores: possuem o cuidado com os filhos, desde que menores. Isso acontece por causa do poder familiar que os pais possuem sobre o filho menor (arts. 1.630 a 1.638). Atenção: O poder familiar pode ser perdido. Isso ocorre por meio da destituição do poder familiar. As causas de destituição estão elencadas no art. 1.638 (ex.: castigos imoderados, punições sem razoabilidade, abandono, prática de violência doméstica em face da mãe etc.). → Evidentemente, a perda familiar acontece por meio de decisão judicial. → Quando os pais perdem o poder familiar, o menor continua sendo considerado incapaz. → Quando um dos pais falece, o outro fica com o poder familiar. b. Tutores: é um instituto ligado aos menores que não possuem poder familiar sobre eles por destituição ou falecimento dos pais. → O direito de nomear o tutor é dos genitores mediante testamentoou outro documento autêntico. Exemplo: O pai de determinado menino morreu quando este tinha 10 anos. Aos 12 anos, a mãe descobre que tem um câncer terminal e morrerá em breve. Neste caso, o direito de nomear o tutor é dos genitores mediante testamento ou outro documento autêntico. Art.1729 do Código Civil - O direito de nomear tutor compete aos pais, em conjunto. Parágrafo único: A nomeação deve constar de testamento ou de qualquer outro documento autêntico. → Em caso de destituição do poder familiar ou falecimento dos genitores, o menor será colocado sob tutela. c. Curadores: são pessoas designadas para tomar conta de indivíduos maiores. → A curatela é uma medida excepcional, utilizada apenas quando a pessoa não consegue ter controle da sua própria vida (arts. 1.767 a 1.783 - A do CC/02). Atenção: A curatela do pródigo limita-se apenas a questões patrimoniais. 6.2 - ATOS PRATICADOS SEM OS REPRESENTANTES a. Absolutamente incapaz: o ato praticado sem o seu representante será considerado nulo. Art.166 do Código Civil - É nulo o negócio jurídico quando: I. celebrado por pessoa absolutamente incapaz; b. Relativamente incapaz: o ato praticado sem o seu representante será considerado anulável. Art.171 do Código Civil - Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I. por incapacidade relativa do agente; Existem alguns atos que permanecem válidos, mesmo quando os maiores de 16 e menores de 18 anos (menores púberes) praticam sem a representação dos seus assistentes: Exemplos: Ser testemunha; fazer testamento; e aceitar mandato 7 - EMANCIPAÇÃO Emancipação: é o fenômeno jurídico em que é possível antecipar o momento aquisitivo da capacidade de fato, ou seja, antes dos 18 anos, ser possível praticar por conta própria os atos da vida civil. Espécies e emancipação: a. Emancipação voluntária: somente os pais podem deliberar por emancipar voluntariamente seus filhos. A emancipação poderá ser concedida quando: o menor tiver 16 anos, sendo formalizada direto no cartório por meio de escritura pública, em caráter irrevogável e independentemente de homologação judicial. Observação: Os filhos não podem exigir que seus responsáveis o emancipem, uma vez que o poder familiar pertence exclusivamente aos pais. Atenção: Se o menor não tiver sobre ele o poder familiar dos pais (caso falecidos ou que estejam destituídos do poder familiar), o tutor não poderá emancipá-lo voluntariamente. b. Emancipação judicial: espécie de emancipação dada pelo juiz por meio de uma sentença, ouvido o tutor e o Ministério Público (uma vez que o processo envolve o interesse de incapaz) quando o menor tem 16 anos. c. Emancipação legal: → Casamento (não se aplica à união estável!) → Emprego público efetivo → Colação de grau em curso superior → Pelo estabelecimento civil ou comercial → Pela existência de relação de emprego, em que o menor com 16 anos completos tenha economia própria Observação: O menor de idade pode casar-se a partir dos 16 anos (idade núbil) desde que haja o consentimento de seus pais (Art.1520 do CC/02). Atenção: Caso ocorra o divórcio do casamento antes dos 18 anos, o menor não voltará à incapacidade. Art.5º do Código Civil - A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único: Cessará, para os menores, a incapacidade: I. pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II. pelo casamento; III. pelo exercício de emprego público efetivo; IV. pela colação de grau em curso de ensino superior; V. pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. 7.1 - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES I. Emancipação e o pagamento de alimentos: a emancipação voluntária (com a deliberação dos pais) não os exime do pagamento de alimentos, entendimento reforçado pela (Súmula nº 358, do STJ). Súmula nº 358 do STJ: o cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos. Em suma, os alimentos continuam devidos tendo enquanto fundamento, além da súmula, o princípio da solidariedade. A exoneração dos alimentos deve garantir o contraditório, e o não pagamento somente pode ser considerado após decisão judicial. II. Emancipação e a responsabilidade dos pais: por sua vez, a responsabilidade dos pais, em um caso de emancipação voluntária, passa a ser solidária (somente até os 18 anos). 8 - MORTE Morte: põe fim à pessoa natural. Art. 3º da Lei n. 9.434/1997 - A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. Segundo o art. 3º da Lei n. 9.434/1997 que dispõe sobre o transplante de órgãos, o falecimento de uma pessoa atestado por um médico ocorre quando há morte encefálica. Isso porque há situações em que o coração de uma pessoa continua batendo, mas o cérebro já não possui mais vida, tornando impossível fazer com que essa pessoa volte a viver, interagir e praticar atos comuns do dia a dia. São consequências jurídicas da morte: → Herança → Fim do casamento ou união estável → Fim do poder familiar sobre os filhos → Extinção de contratos que sejam personalíssimos (que trazem uma obrigação infungível) No direito civil existem algumas modalidades de morte: a. Morte real (Art.6º do CC/02): há efetivamente um corpo morto. → É atestada por um médico que emite o atestado de óbito, documento que deve ser levado ao cartório para que a certidão de óbito possa ser emitida. Art.6º do Código Civil - A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. Atenção: I. Nenhum sepultamento será feito no Brasil sem que haja a certidão de óbito; II. Em localidades em que não haja efetivamente um médico, o atestado de óbito pode ser substituído por uma declaração de duas testemunhas que tenham verificado ou presenciado o evento morte (conforme lei de registros públicos); III. Para fins de transplante (lei 9434/97) a morte é caracterizada pela chamada morte encefálica. https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11454323/artigo-3-da-lei-n-9434-de-04-de-fevereiro-de-1997 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/105509/lei-dos-transplantes-de-%C3%B3rg%C3%A3os-lei-9434-97 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11454323/artigo-3-da-lei-n-9434-de-04-de-fevereiro-de-1997 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/105509/lei-dos-transplantes-de-%C3%B3rg%C3%A3os-lei-9434-97 b. Morte presumida (Art.7º e 22 a 39 do CC/02): não há o corpo morto. → Existe, na verdade, uma presunção de morte (sem a efetiva certeza). → Para que se tenha a determinação de morte presumida, se faz necessária decisão judicial que a declare. Observação: Sem corpo não existe qualquer possibilidade de emissão da certidão de óbito. c. Morte por comoriência (Art.8º do CC/02): é a morte simultânea. → Ela ocorre no mesmo momento (condição de tempo), mas não necessariamente no mesmo local. Em suma, a comoriência se faz relevante para fins de sucessão, uma vez que os comorientes não são considerados herdeiros entre si, dessa forma, para que o indivíduo possa ser considerado um herdeiro, ele precisa estar vivo na data da morte do autor da herança ou pelo menos concebido. Art.8º do Código Civil - Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.d. Morte civil: não se trata efetivamente de uma morte, mas sim de uma ficção em considerar alguém como morto, ocorrência que se aplica somente em uma determinada situação específica, sendo fundamento para a indignidade no direito sucessório (arts. 1.814 a 1.818, CC) e na deserdação (arts. 1.961 a 1.965). → Caso o herdeiro venha a ser declarado indigno, ele será considerado como morto para fins de herança, aplicando-se o mesmo para um indivíduo deserdado (para fins de partilha). Atenção: A morte civil existe em alguns ordenamentos jurídicos e corresponde a uma pena de banimento em que a pessoa é tratada como morta para todos os fins de relação civil. No Brasil, não se aplica enquanto uma punição efetiva a morte civil, sendo possível afirmar apenas que a indignidade e a deserdação no direito sucessório acabam correspondendo a um resquício (lembrança) dessa modalidade. 8.1 - MORTE PRESUMIDA Ausente: é a pessoa que sumiu de seu domicílio sem deixar notícias. Atenção: Para caracterizar um ausente é necessário a demonstração de não presença e não notícia da pesso, devendo a pessoa estar efetivamente desaparecida e sem que se saiba a razão ou os motivos de seu desaparecimento a. Morte presumida sem declaração de ausência: não há presença da pessoa, mas tem notícia de uma alta possibilidade de morte. → Não se pode considerar desde o começo que a pessoa está morta, uma vez que não se sabe se ela, se cansou da vida que levava e resolveu se mudar sem deixar vínculos onde residia (ausência de notícias). Perigo de vida (Art.7º, I, do CC/02): pode ser aplicado a hipóteses como um sequestro em que a vítima não retorna, queda de aeronave em alto-mar em que não é possível localizar os corpos das vítimas e outras situações que configuram uma altíssima probabilidade de que a pessoa esteja morta. Art.7º do Código Civil - Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I. se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; Desaparecimento em guerra (Art.7º, II, do CC/02: após 2 anos, muito provavelmente possa ter sido morto em combate. Art.7º do Código Civil II. se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra Ambas as hipóteses previstas no art.7º do CC/02 estão atribuídas a um processo judicial em que o juiz é quem promove a declaração da morte por sentença, tratando-se evidentemente de uma sentença declaratória. Ainda, quanto à transferência de eventuais bens do falecido declarado aos herdeiros, estes serão transferidos imediatamente aos sucessores. → Caberá em uma sentença declaratória de morte presumida a fixação obrigatória (pelo juiz) da data e o horário provável da morte. → É possível dar entrada nesse tipo de ação somente após o encerramento das buscas pelas autoridades competentes Art.7º do Código Civil Parágrafo único: A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. b. Morte presumida com declaração de ausência: não há notícia e não há presença da pessoa. Observação: Aonde quer que o ausente esteja vivendo, ele é plenamente capaz. 8.1.1 - MORTE PRESUMIDA COM DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA A ausência corresponde a um fenômeno em que não se tem notícias da pessoa e não há também a sua presença. Diante dessa situação, deve haver um procedimento judicial trifásico, de jurisdição voluntária e que segue a regragem do art. 744 e 745, do CPC, além do 22 ao 39, do CC, dividindo-se em três momentos: I. Desaparecimento da pessoa de seu domicílio (Art.22 a 25 do CC/02): O desaparecimento da pessoa de seu domicílio promove a iniciação do procedimento. a. Sem representante: → Será feita uma petição inicial requerendo a declaração da ausência e a designação de um curador. → Se ao desaparecer, não deixar representante ou procurador, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará ausência, e nomear-lhe-á curador. Podem ser curadores do ausente: → Cônjuge do ausente que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência. → Na falta de cônjuge a curadoria do bens do ausente passa para os pais ou descendentes. → Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador. Observação: Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos. Art.22 do Código Civil - Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. Art.25 do Código Civil - O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador. §1º. Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo. §2º. Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos. §3º. Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador. b. Com representante: → Caso o ausente deixe o mandatário de seus bens, mas o mesmo não queira, não possa exercer o mandato, não possa continuar o mandato ou os seus poderes forem insuficientes, será declarado a ausência e nomeado um curador. Art.23 do Código Civil - Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes. Art.24 do Código Civil - O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as circunstâncias, observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores. II. Sucessão provisória (Art.26 a 36 do CC/02): A partir do momento em que o juiz designar um curador, caso haja representante, o prazo para a declaração de ausência será de três anos. Atenção: Caso não exista a figura de um representante, o prazo será de apenas um ano. Neste momento, ainda não há a plena certeza de que houve a morte de fato, trata-se de um conceito que ainda se encontra em seus estágios iniciais. Dessa forma, caberá aos interessados (cônjuge, companheiro, herdeiros e credores) a abertura da sucessão provisória. → A partilha será promovida e os bens serão entregues aos herdeiros, que terão a posse provisória dos bens. Observação: Propriedade: O bem é de fato do indivíduo (foi adquirido). Posse: Há o contato com a coisa embora o indivíduo não seja o proprietário. Atenção: Não é possível realizar eventuais liquidações e garantir a conservação das posses. → Os herdeiros necessários (ascendentes, descendentes, cônjuge ou companheiros) entrarão na posse dos bens independentemente de promoverem garantias. → Os chamados herdeiros legítimos devem emitir caução ou garantia de restituição dos bens para que possam receber a posse provisória. Ao transmitir a posse provisória, o juiz está promovendo uma sentença a qual transitará em julgado no prazo de 15 dias, será possível posteriormente a abertura dos testamentos (caso existam). A sentença somente produzirá efeitos em 180 dias corridos (similar a um trânsito em julgado diferido). Art.26 do Código Civil - Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão. III. Sucessão definitiva (Art.37 a 39 do CC/02): Atrelado a um aumento na chance de morte, haverá uma declaração de morte. → Será contado a partir dos 180 dias corridos (prazo da sentença) o prazo de 10 anos da sucessão definitiva, que estará atribuída a declaração de morte (com o surgimento do estado de viuvez). → A posse, antes provisória, torna-se a propriedade resolúvel, que pode desfazer-seou resolver-se caso o indivíduo reapareça. → Finalmente, a propriedade somente se torna definitiva após 10 anos da propriedade resolúvel. → Se os bens se deteriorarem ou se a pessoa que estiver em posse dos bens morrer, as garantias serão mantidas. → Caso mediante fiscalização do Judiciário fique comprovado que a deterioração dos bens foi promovida pelo responsável, ele deverá responder pelo valor respectivo. Atenção: Se a pessoa que desapareceu tinha 80 anos de idade ou mais e caso não haja notícias em um período de 5 anos de seu desaparecimento, a lei permite que os bens sejam alocados diretamente sob sucessão definitiva. Súmula nº. 331 (STF): É legítima a incidência do imposto de transmissão causa mortis no inventário por morte presumida. Atenção: a. Suscetível a registro (Art.9º do CC): tem a função de dar publicidade aos atos que modificam ou constituem. → Registram-se os nascimentos, casamentos, óbitos, emancipações (dada pelos pais ou juiz), interdição, a sentença declaratória de ausência e a por morte presumida. b. Suscetível a averbação (Art.10 do CC): a publicidade de alterações de atos já existentes. → Casamento nulo ou anulável, divórcio, eventuais separações judiciais, estabelecimento a sociedade conjugal, atos de reconhecimento de filhos. 9 - DIREITO DA PERSONALIDADE (ART.11 A 21 DO CC/02) Direito da personalidade: são os direitos atribuídos à dignidade da pessoa humana. → Os direitos da personalidade dispõem de um rol exemplificativo e não taxativo, uma vez que o legislador infraconstitucional não poderia (ou teria) condições de pensar e imaginar todas as situações possíveis relativas aos direitos da personalidade. Na verdade, os direitos da personalidade estão inseridos em categorias relacionadas à proteção das referidas integridades do sujeito (pessoa humana). Configuram integridades a serem protegidas: a. Integridade física: Direito ao corpo (vivo ou morto), partes do corpo etc. b. Integridade moral: Honra, intimidade, nome, imagem etc. c. Integridade intelectual: Liberdade de pensamento, autorias científicas e artísticas etc. Por se tratar de um rol exemplificativo, existem direitos da personalidade que são reconhecidos pela doutrina e jurisprudência (mundo acadêmico), mas que não encontram previsão no Código Civil, o que não quer dizer que tais direitos não sejam efetivos. A título de exemplo, é possível mencionar: a. Direito ao esquecimento: Reconhecido em enunciado de jornada de direito civil. Trata-se do direito de não ter que conviver com fatos passados e que digam respeito exclusivamente ao indivíduo. b. Direito de não saber: Direito que o indivíduo tem de não saber de situações relacionadas a sua vida desde que sejam tópicos que digam respeito especificamente ao próprio. c. Direito de não nascer: Atribuído ao caso do francês Nicolas Perruche. 9.1 - CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DA PERSONALIDADE É fato que os direitos da personalidade têm características em comum, dentre as quais: a. Absolutos: Trata-se de direitos erga omnes. b. Inatos: Inerentes à própria condição humana. É importante se atentar ao art. 52 do Código Civil, que estabelece que os direitos da personalidade também se aplicam à pessoa jurídica no que for cabível, ao dispor acerca da proteção concedida a PJ. Esse entendimento é reforçado pela Súmula n. 227 do STJ: Súmula n. 227: É possível que a pessoa jurídica (de direito privado) possa sofrer dano moral. c. Extrapatrimoniais: Os direitos da personalidade não tem valoração econômica, não estão sujeitos a qualquer modalidade de precificação. d. Imprescritíveis: Não há prazo extintivo para o exercício de um direito de personalidade. Quando ocorre a violação de um direito de personalidade em relação ao titular, ainda que não seja possível atribuir uma valoração econômica a ele, efetivamente será possível promover a busca pelo dano por meio de reparação ou indenização monetária. Destacam-se, entre os danos cabíveis: → Dano moral; → Dano material; e → Dano estético. Observação: É possível, em virtude de uma única situação, a cumulação de danos por meio de uma tutela indenizatória. Em suma, apesar de a honra não poder ser atrelada a um valor econômico, a sua violação gera um aspecto econômico por meio do dano moral, que, para ser fixado, a figura jurídica responsável deve elaborar uma ponderação entre o ato praticado, a violação tida, as condições econômicas de quem o praticou e de quem teve a violação de seu direito, características que concebem uma análise que permitem a verificação da proporcionalidade que irá configurar uma indenização cabível. Ainda assim, tais ocorrências não configuram a precificação de um direito de personalidade. Muito embora os direitos da personalidade sejam imprescritíveis, quando ocorrer a violação de um direito de personalidade, o ofendido deverá buscar a reparação dos danos sofridos por meio de uma ação judicial (de reparação, indenização, etc.) e que se encontra sujeita a prazo prescricional de três anos (art. 205, §3º), conforme art. 189 do Código Civil: Art. 189 do Código Civil - Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. Atenção: Ainda quanto ao prazo prescricional de 3 anos, o Resp 816209 do STJ (considerado um leading case) que trata de crimes de tortura ocorridos na ditadura militar, determina que tais ocorrências configurariam uma hipótese em que a prescrição da demanda não se aplicaria. Para os casos em que a violação do direito não é conhecida de imediato: Ao titular do direito violado, o STJ considera a aplicabilidade da teoria da Actio Nata, em que o prazo prescricional será contado efetivamente da data da violação do direito material desde que considerada a ciência do sujeito, determinação estampada na Súmula 278 do STJ: Súmula nº 278 do STJ: O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral. Atenção: Todos os prazos prescricionais encontram previsão em lei. Especificamente no direito civil, esses prazos constam nos artigos 205 e 206 do Código Civil. e. Impenhoráveis: Não existe a possibilidade de penhora. f. Indisponíveis (relativamente) - (Art.11 do CC/02): Tais direitos são considerados intransmissíveis pois não é possível transmitir um direito de personalidade a um terceiro, sendo também irrenunciáveis pelo menos motivo (não sendo possível se dispor de tais direitos). → O conjunto de ambas essas características configuram tais direitos enquanto indisponíveis, atribuição considerada de forma relativa. Sendo possível transmitir um direito de personalidade quando: A lei autorizar (Lei n. 9.610/1998 de direitos autorais e a Lei n. 9.434/1997 relacionada ao transplante de órgãos) ou quando as partes dispuserem em um contrato (disposição voluntária En. 4º JDC). Enunciado nº 4º do JDC: O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral. A limitação voluntária em questão deve seguir três regras: → A restrição não pode ser permanente (por período indeterminado); → A restrição não pode ser genérica; e → A restrição não pode violar a dignidade da pessoa humana, ainda que o titular concorde. g. Vitalícios: Este grupo de direitos estará atribuído ao seu titular até a morte. Atenção: Não se pode confundir os direitos da personalidade com a personalidade jurídica! Os direitos da personalidade são atribuídos a partir da concepção do indivíduo. 9.2 - OUTRAS QUESTÕES I. Morto pode sofrer dano moral? Resposta: O morto não tem direito de personalidade e não sofre dano moral. → Por outro lado, sofre o dano moral em virtude de violação de um direito de personalidade do morto os indivíduos vivos classificados como lesados indiretos.Assim, seria possível, por exemplo, que o filho de um falecido ajuíze uma ação desse tipo alegando que sofreu dano moral indireto/reflexo/por ricochete. No que concerne essa situação, existem dois artigos de relevância:Art. 12 do Código Civil - Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único: Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau (irmãos, sobrinhos, tios e primos). Art. 20 do Código Civil - Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. II. Hate speech: Termo atribuído às manifestações de ódio ou intolerância, situações não admitidas no ordenamento jurídico. Súmula nº221 do STJ: São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação. III. Biografias: As biografias foram objeto de julgamento no Supremo por meio da ADI 4815, que decidiu por ser inexigível a autorização prévia para publicação de biografias. IV. Direito ao esquecimento: Conforme enunciado 531 da JDC, o indivíduo possui o direito de não conviver atualmente com ato passado, tema bastante debatido devido ao atual superinformacionismo midiático, configurado pela exploração midiática de crimes e fatos pretéritos promovida desnecessariamente. V. Art.13 a 15 do CC/02: Tratam da integridade física e a possibilidade de disposição do próprio corpo (somente para objetivo científico ou altruístico), podendo ser revogado na hora que o indivíduo quiser. VI. Resp 575/576/PR STJ + Súmula 387 STJ: Possibilidade de cumulação do dano moral com o dano estético. VII. Resp 898.450: Não pode haver vedação em edital quanto a tatuagens em candidatos. VIII. ADI 4275: O STJ reconhece a possibilidade de alteração de sexo e do prenome no registro civil de nascimento da pessoa independentemente de autorização judicial ou procedimento cirúrgico, bastando apenas a autodeclaração direta no cartório. IX. En. 403 JDC: É possível que a pessoa opte por não receber transfusão sanguínea desde que seja capaz, maior de idade e que possa manifestar livremente, conscientemente e de maneira informada a sua oposição, dizendo respeito apenas a si mesma. X. Súm. 403 STJ: Ao utilizar a imagem de uma pessoa para fins econômicos ou comerciais, o dano moral será presumido (in re ipsa). XI. Nome (arts. 16 a 19 do CC/02): O nome é de suma importância, sendo composto pelo prenome e o sobrenome, podendo ser alterado somente em situações excepcionais.
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