Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INFLUÊNCIA DO CAPITALISMO E A REFORMA DO ENSINO MÉDIO NO BRASIL RESUMO - Em 2017 foi sancionada a reforma do ensino médio pelo presidente Michel Temer, após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, promovendo uma transformação imponente e antidemocrática no ensino médio no país. Na perspectiva dessa reforma, se tornam claros os interesses políticos e econômicos e diferenças ideológica. Conferindo a flexibilização curricular na educação básica, condensando a concepção de qualidade da educação no Brasil. Este artigo tem como objetivo analisar e pontuar os diversos aspectos acerca do novo modelo educacional, para a melhor compreensão da reforma na educação disposta na Lei nº 13.415/2017 e a influência do sistema capitalista na educação. É importante analisar e discutir as novas diretrizes que envolvem área da educação, que relaciona uma tendência pedagógica tecnicista com o novo formato do ensino médio regular em consonância com suas bases legais. Para alcançar o objetivo adotou-se como metodologia a revisão de literatura, através de diversos trabalhos acadêmicos e periódicos sobre o tema. PALAVRAS-CHAVE: Reforma do Ensino Médio. Impeachment. Política Neoliberal. Ensino Tecn INTRODUÇÃO Nos últimos anos o cenário educacional tem se caracterizado por uma série de reformas marcadas pela competição de projetos cujos alicerces possuem diferentes visões da sociedade sobre a função social da escola e do currículo. Esses conflitos de projeto giram em torno de dois pontos de vista diferentes, um que coloque a educação de qualidade para todos no contexto de um país com extrema desigualdade social e defenda profundas mudanças sociais e econômicas em direção a uma sociedade melhor e igualitária; e outro que preconiza a formação profissional segundo a lógica de mercado, vantagens para os gestores, competência consolidada e cultura de desempenho. O impeachment da presidenta Dilma Rousseff, visto pelo mundo como um processo antidemocrático, instituiu a PEC 55 aprovada com reformas drásticas no sistema previdenciário e trabalhista. Junto com essas reformas, também trouxe mudanças significativas no campo educacional do Brasil. Durante o período da ditadura militar no Brasil, duas leis educacionais foram impostas pelos militares e pelos tecnocratas (leis n° 5.50/68 e 5.692/71), a partir dessa perspectiva, podem-se encontrar similaridades com o governo neoliberalista de Michel Temer (2016-2018), e as propostas referentes a mudanças educacionais, principalmente no ensino médio e no ensino técnico no Brasil. Diante do panorama neoliberal e ultraconservador que vem ocorrendo no Brasil nos últimos anos, após o impeachment de Dilma Rousseff, assumindo medidas que eliminam os direitos e amplia a desigualdade social e a concentração de renda no país. No governo do presidente Michel Temer, foram aprovados o Projeto de Lei 867/2015, que inclui diretrizes e fundamentos da educação nacional como “Programa Escola sem Partido”; Medida provisória 76/2016 (reforma do Lycée), a emenda constitucional (CE) 95/2016, que congelou gastos públicos por 20 anos; a Lei n° 13.415/2017, bastante danosa à educação básica pública, que tem impacto direto sobre a formação docente foi a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Essas medidas representam um grande retrocesso para a educação brasileira e para o país como um todo. O impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016 trouxe enormes perdas para a classe trabalhadora, principalmente em termos de direitos e desmantelamento dos serviços públicos. Uma das propostas pelo então vice- presidente Temer em 2015 ao meio empresarial, foi o programa “Ponte para o futuro”, que se apresenta como um grande túnel para o passado que visa desconstruir os avanços constitucionais de 1988 e o acesso aos direitos universais (Saúde, educação, segurança e seguridade social) por meio do argumento falacioso de que esses direitos foram consagrados dentro da constituição "sem orçamento público". Essas recomendações partiram do diagnóstico de que a política de ajuste fiscal adotada no governo Dilma era insuficiente. A seguinte questão norteia este estudo: A partir das reformas educacionais anteriores e de seus respectivos resultados, a reforma proposta pela Lei nº 13.415/17, será eficaz para resolver de forma definitiva os problemas do ensino brasileiro ou apenas uma justificativa para beneficiar o setor privado-mercantil? Nessa perspectiva, as mais recentes "reformas" educacionais, lembram o período da ditadura militar em ambos os governos, a educação brasileira passa por dificuldades e as medidas propostas emergem dessa "crise" de mudança que visa a profissionalizar o cidadão como força de trabalho que visa a satisfação dos interesses do mercado. A linha pedagógica tecnicista passou a ter um domínio maior, com o surgimento da necessidade de mão-de-obra qualificada, impulsionada pelo desenvolvimento industrial, o que originou um sistema educacional adaptado ao novo modelo educacional dando prioridade ao ensino técnico, enquanto a educação da sociedade fica em segundo plano, intencionalmente reproduzido para atender às necessidades da economia capitalista. Sendo assim, após a análise da literatura acerca desse novo modelo educacional proposto, é possível concluir que a Lei nº 13.415/17 não poderá ser considerada como a ação definitiva para resolução dos problemas no sistema de ensino médio no Brasil, sendo que visa priorizar o ensino profissionalizante, pois entre os moldes desse novo modelo educacional, está a flexibilização dos conteúdos, deixando de ser obrigatório o ensino de várias disciplinas. A formação geral passa a se desenvolver em competências especificas como: linguagens; matemática; ciências da natureza; ciências humanas e sociais aplicadas, e na formação técnica e profissional. Assim, este artigo tem como objetivo analisar e pontuar os diversos aspectos acerca do novo modelo educacional, para a melhor compreensão da reforma na educação (Lei nº 13.415/2017) e a influência do sistema capitalista na educação. É importante analisar e discutir as novas diretrizes que envolvem área da educação, que relaciona uma tendência pedagógica tecnicista com o novo formato do ensino médio regular em consonância com suas bases legais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei 9394/96), a BNCC e demais legislações de interesse relacionadas ao tema. Para realização deste trabalho, adotou-se como metodologia a revisão de literatura, através de diversos trabalhos acadêmicos e periódicos. As pesquisas foram realizadas em diversas bases de dados como SciELO e Google Acadêmico, e foram escolhidas por serem multidisciplinares e contemplarem estudos de diferentes partes do país. Os estudos foram selecionados para delinear e esclarecer as posições dos autores sobre o tema. 1 DESENVOLVIMENTO 1.1 Reforma do Ensino Médio de 2017 Em 2016, após a posse Michel Temer propôs uma grande reforma do ensino médio no Brasil. Diante do cenário nacional, o ensino médio do país deveria passar por uma profunda reforma devido ao seu fraco desempenho e ao índice de evasão. No entanto, a forma como as reformas atuais são aplicadas e as propostas curriculares são arbitrárias e autocráticas e não beneficiam a sociedade brasileira (NETO; LIMA; ROCHA, 2017). Sua plataforma de governo denominada "Ponte para o Futuro" do ponto de vista político-ideológico contrasta fortemente com a agenda do governo anterior de da qual o fazia parte, se encaixando em um cenário político preocupante (CAVALCANTI; VENERIO,2017). A reforma começou como uma medida provisória e convertida na Lei nº 13.415 em 16 de fevereiro de 2017, passando a entrar em vigor em 2018. Esta lei altera as disposições da lei n° 9.394/9, que dispões sobre as orientação e fundamentos da educaçãonacional, conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e a lei nº 1.494/07, que é a Lei do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB). Da mesma forma introduziu uma Política para promover o estabelecimento de escolas de ensino médio em tempo integral (SERRÃO, 2016; BALD; FASSINI, 2017). De acordo com o novo currículo, o método inovador do ensino secundário será dividido entre conteúdos gerais e disciplinas específicas de acordo com o percurso formativo escolhido pelo aluno (línguas, matemática, ciências naturais e humanas e formação técnica). As disciplinas de português e matemática continuam sendo obrigatórias durante os três anos do ensino médio, assim como artes e educação física, que também passam a ser disciplinas obrigatórias, anteriormente excluídas pelo texto original da Medida Provisória. Nas disciplinas de línguas estrangeiras, o espanhol deixará de ser obrigatório ao contrário do inglês que continua a ser obrigatório a partir do 6º ano do ensino primário. As disciplinas de Filosofia e Sociologia são excluídas pelos Poderes Executivos e passarão a ser disciplinas obrigatórias da Linha de Base Nacional do Currículo Comum (BNCC) assim como a Educação Física e Artística (SENADO,2017). Atualmente para a formação técnica no ensino médio, os alunos devem completar 2.000 horas de formação continuada em três anos e 12.000 horas de formação técnica complementar. A nova lei estipula que esta formação aconteça durante o horário escolar normal desde que os alunos continuem a estudar português e matemática. No final do ensino secundário os alunos recebem um diploma de ensino geral e um certificado de ensino técnico. Os professores em formação técnica podem ser especialistas com notórios conhecimentos na sua área de atuação ou ter experiência profissional atestada por determinado curso ou prática pedagógica. A Medida Provisória foi criticada pela oposição, por ocorrer sem debates públicos (SENADO,2017). Segundo o Ministério da Educação tais mudanças são necessárias para retomar o crescimento econômico do Brasil. A qualificação do trabalho e o investimento em recursos humanos poderão ajudar os trabalhadores brasileiros a se adaptarem à nova realidade do capitalismo internacional trazendo maior produtividade e competitividade ao país. Essa reforma é norteada pelas supostas necessidades do mercado e pelas demandas da produção. Também tenta justificar o mau desempenho dos alunos, pois muitas matérias desestimularia os alunos, o que explica a evasão escolar, tornando a flexibilização e a modernização do currículo, uma pauta importante para essa reforma, focando nas disciplinas de português e matemática (FERRETI; SILVA, 2017; MOTA; FRIGOTTO, 2018). O Conselho Nacional de Educação (CNE) apresentou em dezembro de 2017, a RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 2 DE 22 DE DEZEMBRO DE 2017 com o objetivo de estabelecer e orientar a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O documento foi homologado em 14 de dezembro de 2018 e passou a ser a nova base de ensino para a educação básica do Brasil. Dessa forma, fica mais compreensível a perspectiva neotecnicista de formação que fundamenta as novas diretrizes (GONÇALVES; MOTA; ANADON, 2020). É possível direcionar o seu perfil tecnicista ao ponto em que reduzem a formação docente a capacitação necessária à aplicação da BNCC, conforme esclarece Coimbra (2020, p. 625-626): Evidencia-se que a “grande tarefa” desta Resolução é a de reduzir a formação de professores/as e colocá-la a serviço de uma formação neotecnicista para “a necessária aplicação” da BNCC – Base Nacional Comum Curricular. Assim, questionamos: Como visar uma formação integral de estudantes, se na formação de professores/as não compreendemos o/a profissional em uma visão integral? O que seria a Educação Integral nos termos desta legislação? Perguntas sem respostas, por enquanto... (COIMBRA, 2020, p. 625-626). Estas questões levantadas por Coimbra (2020) são interessantes na medida em que mostram que esta tentativa de justificar a necessidade da reforma na formação de professores é bastante frágil e ignora questões importantes sobre a complexidade envolvida no fenômeno educacional. Visto que por meio de competências a associação das orientações ao BNCC é mais organicamente estabelecida (COSTA; MATTOS; CAETANO, 2021). O Art. 4º da Lei 13.415/2017, dispõe que a formação técnica será realizada na própria instituição de ensino ou em parcerias com outras instituições: §8° - A oferta de formação técnica e profissional a que se refere o inciso V do caput, realizada na própria instituição ou em parceria com outras instituições, deverá ser aprovada previamente pelo Conselho Estadual de Educação, homologada pelo Secretário Estadual de Educação e certificada pelos sistemas de ensino (BRASIL, 2017). A reforma do ensino médio pode ser entendida como sendo parte integrante de um programa global de educação e os motivos utilizados pelos defensores dessas mudanças são tênues, porém mantêm padrões da governança internacional, cujo propósito da modernização, é reduzir a educação e o conhecimento, visando capacitar mão-de-obra com funções mínimas adequadas às necessidades imediatas da sociedade capitalista contemporânea, tarefa essa, que deve ser realizada pelo sistema educacional (FERREIRA, 2017). Numa época em que a informação é mais acessível, o conhecimento e a compreensão estão cada vez mais afastados das populações que mais precisam. Mesmo que a globalização afete a todos, não é igual para todos pelo contrário existe um abismo ainda maior entre ricos e pobres. Conforme Fraisoli (2019) esclarece, que se cria a ideia de uma cultura global única, mas construída por e para a elite enquanto ignora as comunidades e culturas locais quando cita Santos (1998, p. 7-8): O ensino na globalização exige, também, redobrada cautela. Vivemos, neste fim de século, uma forte tendência para o totalitarismo, o que, inclusive, aparece no discurso de certos governantes, quando, por exemplo, nos dizem: "penso assim, se você pensa diferente, você está contra a nação". Então, o desejável papel pedagógico dos homens de governo é substituído por um discurso autoritário, que frequentemente vai buscar fundamento na chamada "globalização" - a globalização perversa atual - apresentada como um caminho único, quando, na realidade é apenas uma maneira de fazer a história (SANTOS, 1998, p. 7-8). E no contexto histórico do Brasil essa reforma reversa não melhorará a qualidade do ensino médio, pelo contrário, tenderá a piorar o desempenho e aumentar a desigualdades escolar dos alunos, ou seja, é a porta para o retrocesso em face da crescente globalização (FERRETI; SILVA, 2017). 1.2 Influência do Capitalismo no Ensino Ao longo dos anos, o sistema educacional brasileiro tem enfrentado alguns desafios, incluindo proporcionar educação de qualidade para todos e atender às novas exigências da educação cívica devido às mudanças econômicas, políticas e tecnológicas presentes em nossa sociedade. No século XX o Brasil entrou em um período de crise e buscou mudanças políticas, portanto, sociais, onde os países mais desenvolvidos sentiram uma grande necessidade de uma estruturação educacional e a confiaram ao Estado para essa tarefa (MOTA; FRIGOTTO, 2018). Com o surgimento de uma nova economia, devido ao processo de industrialização dos grandes centros urbanos, a onda de migração do campo aumentou exponencialmente, e cada vez mais surge a necessidade de preparar a sociedade para o trabalho industrial. Portanto, a educação sendo de responsabilidade do Estado, de acesso público universal e gratuito terá a função de preparar as pessoas para ingressar no mercado de trabalho e se adaptar ao sentido capitalista (COSTA; MATTOS; CAETANO, 2021).E no contexto histórico do Brasil essa reforma educacional não melhorará a qualidade do ensino médio, ao contrário, tenderá a piorar o rendimento dos alunos e aumentar a desigualdade de aprendizado entre eles. No campo econômico os empresários se reasseguraram logo após a aprovação da Lei 13.415/2017, que estará totalmente implementada até 2022. Nesse aspecto, as empresas do setor da educação buscam criar um novo mercado altamente lucrativo, investindo fortemente em escolas privadas, enquanto as escolas públicas encontram dificuldades em se adaptarem ao novo currículo, propiciando o uso do orçamento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, em vias de contratos com parceiros Públicos e Privados (PPPs), para se enquadrarem ao novo formado educacional (FERRETI; SILVA, 2017; RAMOS; FRIGOTTO, 2016). Segundo Borges (2017), o FUNDEB teve orçamento de R$ 136,9 bilhões de reais no ano de 2016; montante que representou cerca de 80% do total do capital de investimento público na educação básica em todo o país. Para poder acessar os recursos públicos sem incorrer aos pesados custos de infraestrutura exigidos pelas redes públicas, a estratégia do negócio é investir na gestão da educação e de outros serviços com parcerias privadas, para capacitar e ensinar os gestores da rede pública de ensino, o desenho de estratégias para a adaptação ao novo ensino médio baseado na lógica da produtividade empresarial Portanto, Borges (2017) reitera que o novo formato de ensino moderno é bastante atraente para a rede particular, porém é impraticável na rede pública, tornando-se difícil a implementação dessa nova estrutura proposta com o financiamento disponível para a rede pública, pois exige um maior número de professores e maior especialização por parte dos mesmos, o que repercutiria em um aumento significativo no investimento da educação O quadro de professores é deficitário dentro de um contexto de congelamento de gastos aplicado pelo governo. Para conseguir implementar o novo ensino médio a solução prática mais próxima da realidade seria dividir as escolas públicas nas cinco vertentes de conhecimento (Linguagens, Matemática, Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Formação Técnica) o que levaria à criação de ilhas de referência e à limitação do acesso à educação. No final os alunos da escola pública não terão a mesma escolha e qualidade de ensino em relação aos alunos da rede privada (FERRETI; SILVA, 2017). Nesse aspecto, observamos a ascensão do sistema social dualista, pois enquanto o ensino médio prepara os pobres para ingressar no mercado de trabalho, prepara a elite para ingressar no ensino superior, sem a promoção de reformas estruturais que poderia realmente representar a democratização da educação, justificada pelo fato de menos de 17% dos alunos que concluem o ensino médio ingressarem no ensino superior e em torno de 10% dos alunos buscarem o aprendizado profissional, se tornando um bom motivo para a implantação do ensino tecnicista ou neotecnicista (NETO; LIMA; ROCHA, 2017). De acordo com Manacorda (2007, p. 67): “a relação entre o trabalhador e sua atividade que não é de modo algum natural, mas que contém em si uma específica determinação econômica”, apresenta a proposta educacional atual como um retrocesso ao ensino tecnicista da década de 70. Nesse contexto, pode-se ainda observar o modelo taylorista-fordista, fruto do processo industrial das fábricas e caracterizado pela formalização, racionalização, mecanização, planejamento, centralização, divisão do trabalho e produção em massa, entre outros, influenciando na gestão educacional do país (RAMOS; FRIGOTTO, 2016). Educação e trabalho sempre estiveram ligados e os padrões de produção, por sua vez, influenciam as atividades pedagógicas no campo da educação. Para Aranha (1996), a própria escola é um local de trabalho e como tal presta serviços à comunidade; nesse sentido pertence ao setor terciário e é influenciado pela sociedade a que pertence. Tal afirmação mostra que as mudanças que ocorrem na forma de organização das condições e relações de trabalho da produção, também necessitam para formar um novo tipo de trabalhador (SAVIANI, 2010). Outro modelo de trabalho que podemos citar nesse mesmo ensejo, ocorrido depois do Fordismo e do Taylorismo, foi o Toyotismo, também conhecido como "modelo flexível", rompeu com o método de produção em massa, pois não valorizava quantidade, mas a eficiência. A produção nesse modelo é paralela à demanda, o que pode causar uma alta taxa de desemprego devido a flexibilidade e proporciona a expansão do setor terciário (prestação de serviços), pois requer trabalhadores multifuncionais com capacidade de produção e solução de problemas (RAMOS; FRIGOTTO, 2016). Os modelos de trabalho citados acima tiveram êxito, contribuindo fortemente para o desenvolvimento do capitalismo no mundo, porém também contribuiu para uma carga de trabalho exaustiva aos trabalhadores em busca de produção e lucro por parte das empresas. Sendo assim, os modelos de trabalho, possuem uma relação direta com a educação, que sempre foi e é refletida para acompanhar os direcionamentos provenientes do capitalismo, visando a manutenção da ordem que se mantêm e sempre se manterá (GALUCH; SFORNI, 2011). Segundo Neves (2005) devido as mudanças na organização do trabalho e nos modos de estruturação de poder, diretrizes e práticas, surge a necessidade de adequar os métodos educacionais às necessidades dos indivíduos e da sociedade para se adaptarem às novas demandas do desenvolvimento do capitalismo monopolista, desenvolvendo, para tal finalidade uma educação hegemônica que se opõe, tendo em conta o carácter contraditório e conflituoso de classes, de uma educação do anti-hegemonismo por parte das classes dominadas A reforma do ensino médio é uma manifestação do pensamento conservador, usando a lógica econômica e o pragmatismo para representar nosso capitalismo dependente da era da hegemonia neoliberal e da cultura pós-moderna. Trata-se de uma política de congelamento da educação básica, eliminando o conteúdo científico e ético-político esperado em uma sociedade que tem como fundamento de política pública as pessoas e não o mercado (GONÇALVES; MOTA; ANADON, 2020). 2 CONCLUSÃO Conforme exposto, conclui-se que a construção de um sistema público educacional sempre enfrentará problemas difíceis e complexos relacionados com a dimensão do território nacional, falta de investimento público, falta de preparação da formação profissional, fragilidade política, imposição por parte das classes dominantes e ações de agentes privados. A reforma educacional de 2017 é apenas mais um capítulo dessa história, mas apresenta peculiaridades ainda mais graves do que as observadas em períodos anteriores. A reforma do ensino médio, terá graves consequências para as escolas públicas, afetando ainda mais a qualidade da educação pública do país, e consequentemente promovendo a descentralização da educação e a isenção do Estado da responsabilidade pela gestão escolar gerando graves desigualdades; o declínio nas habilidades de pensamento crítico e raciocínio dos alunos, especialmente em escolas públicas; a segregação dos alunos das séries iniciais, porque ao eliminar as disciplinas do ensino médio enfatizando a especialização profissional, o governo determina que os alunos das escolas públicas não frequentem as universidades, porque pouca ou nenhuma proposta foi introduzida para a promoção do processo do vestibular, e muitas outras consequências preocupantes. Essa reforma traz à luz o interesse do governo pela elite, criando um exército de reserva de muitos indivíduos que ao final de sua formação inicial, não se tornaram profissionais e não terão acesso ao ensino superior,transformando a educação em um mercado, que disponibiliza mão-de-obra barata, ampliando ainda mais o distanciamento entre as classes sociais. Desse modo, a escola torna-se um instrumento e uma experiência empírica do neoliberalismo, na manipulação social econômica e política. Portanto, há uma grande necessidade de mudanças no programa educacional do país e novamente, é claro que, não há proposta de mudança nas condições de trabalho dos professores muito menos na estrutura física das escolas. Precisamos esclarecer qual é o projeto educacional que estamos ajudando a construir, e qual é o seu embasamento teórico. Por conta da hegemonia das ideias neoliberais que buscam se confundir com discursos mais progressistas vêm gerando uma série de confusões conceituais que afetam sobremaneira nossa prática escolar. REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo e PINTO, Geraldo Augusto. A fábrica da educação: da especialização taylorista à flexibilização toyotista. São Paulo: Cortez, 2017. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996. BALD, Volnei André; FASSINI, Edí. Reforma do ensino médio: resgate histórico e análise de posicionamentos a respeito da lei nº 13.415/17 por meio de revisão de literatura, ed. [S.l.: s.n.], 2017. 19 p. Disponível em: https://www.univates.br/bdu/bitstream/10737/1868/1/2017VolneiAndreBald.pdf. Acesso em: 27 dez. 2021. BORGES, Helena. Sob aplausos do mercado financeiro, empresários já lucram com reforma do ensino médio. Disponível em: https://theintercept.com/2017/10/20/sob-aplausos-do-mercado-financeiro- empresarios-ja-lucram-com-reforma-do-ensino-medio/. Acesso em: 04 jan. 2022. BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm. Acesso em: 29 dez. 2021. CAVALCANTI, Bernardo Margulies; VENERIO, Carlos Magno Spricigo. Uma ponte para o futuro? : reflexões sobre a plataforma política do governo Temer. Revista de Informação Legislativa: RIL, v. 54, n. 215, p. 139-162, jul./set. 2017. Disponível em:https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/54/215/ril_v54_ n215_p139. Acesso: 07 jan. 2022. COSTA, E. M.; MATTOS, C. C.; CAETANO, V. N. S. Implicações da BNC- formação para a universidade pública e formação docente. Revista Ibero- Americana de Estudos em Educação, v. 16, n. 1, p. 896-909, mar. 2021. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view /14924/10563. Acesso em: 29 dez. 2021. COIMBRA, C. L. Os Modelos de Formação de Professores/as da Educação Básica: quem formamos? Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 1, p. 1-22, 2020. Disponível em:https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/view/ 91731. Acesso em: 29 dez. 2021. FERREIRA, Eliza Bartolozzi. A contrarreforma do ensino médio no contexto da nova ordem e progresso. Educ. Soc. [online]. 2017, vol.38, n.139, pp.293-308, 2017. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/873/87351644003.pdf. Acesso em: 04 jan.2022. FERRETI, Celso João; SILVA, Monica Ribeiro da. Reforma do ensino médio no contexto da medida provisória n° 746/2016: Estado, currículo e disputas por hegemonia. Educ. Soc. [online]. 2017, vol.38, n.139, pp.385-404, 2017. FRAISOLI, Camila. A REFORMA DO ENSINO MÉDIO DE 2017 E SUAS CONSEQUÊNCIAS. 14º Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia Políticas, Linguagens e Trajetórias, [s. l.], 13 dez. 2019. Disponível em: https://ocs.ige.unicamp.br/ojs/anais14enpeg/article/view/3226. Acesso em: 7 jan. 2022. GALUCH, Maria Terezinha Bellanda; SFORNI, Marta Sueli de Faria. Interfaces entre políticas educacionais, prática pedagógica e formação humana. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v.6. n.1, p. 55-66, jan.-jun.2011. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/3697789.pdf. Acesso em: 04 jan.2022.. GONÇALVES, S. R. V.; MOTA, M. R. A.; ANADON, S. B. A resolução CNE/CP n. 2/2019 e os retrocessos na formação de professores. Formação em movimento, v. 2, n. 4, p. 360-379, jul./dez. 2020. Disponível em: http://costalima.ufrrj.br/index.php/FORMOV/article/view/610. Acesso em: 29 dez. 2021. MANACORDA, Mario Alighiero. Marx e a pedagogia moderna. Campinas: Alínea, 2007. MOTTA, Vânia Cardoso da; FRIGOTTO, Gaudêncio. Por que a urgência da reforma do ensino médio? Medida provisória nº 746/2016 (lei nº 13.415/2017). Educação & Sociedade, Campinas, v. 38, n. 139, p. 355-372, abr. 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/j/es/a/8hBKtMRjC9mBJYjPwbNDktk/ ?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 29 dez. 2021. NETO, Edgar de Campos; LIMA, Edméia Maria de; ROCHA, Ana Carolina. Breve reflexão acerca da reforma do ensino médio e seus impactos na formação do estudante. In: Congresso Nacional de Educação, XIII., 2017, Campinas. Formação de professores e educação ... [S.l.: s.n.], 2017. p. 8711-8725. v. 1. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/ 2384012892.pdf. Acesso em: 29 dez. 2021. NEVES, L.M.W. (Org.). A nova pedagogia da hegemonia: estratégias do capital para educar o consenso. São Paulo: Xamã, 2005. RAMOS, Marise Nogueira; FRIGOTTO, Gaudêncio. Medida provisória 746/2016: A contra-reforma do ensino médio do golpe de estado de 31 de agosto de 2016. HISTEDBR, Campinas, v. 37, n. 70, p.30-48, dez. 2016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/ article/download/8649207/15754/27446. Acesso em: 29 dez. 2021. SANTOS, Milton., Por uma outra globalização: do pensamento único a consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 1998. SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 3. ed. rev. Campinas/SP: Autores Associados, 2010. SENADO, Agência. Sancionada Lei da Reforma no Ensino Médio. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/02/16/ sancionada-lei-da-reforma-no-ensino-medio. Acesso em: 29 dez. 2021. SERRÃO, Patrícia. Entenda o que diz a proposta de Reforma do Ensino Médio. EBC. Brasil. [S.1.], 19 out. 2016. Disponível em: http://www.ebc.com.br/ educacao/2016/10/entenda-reforma-do-ensino-medio. Acesso em: 29 dez. 2021.
Compartilhar