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INFLUÊNCIA DO CAPITALISMO E A REFORMA DO ENSINO MÉDIO NO BRASIL

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INFLUÊNCIA DO CAPITALISMO E A REFORMA DO ENSINO 
MÉDIO NO BRASIL 
 
 
 
RESUMO - Em 2017 foi sancionada a reforma do ensino médio pelo presidente Michel Temer, 
após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, promovendo uma transformação 
imponente e antidemocrática no ensino médio no país. Na perspectiva dessa reforma, se 
tornam claros os interesses políticos e econômicos e diferenças ideológica. Conferindo a 
flexibilização curricular na educação básica, condensando a concepção de qualidade da 
educação no Brasil. Este artigo tem como objetivo analisar e pontuar os diversos aspectos 
acerca do novo modelo educacional, para a melhor compreensão da reforma na educação 
disposta na Lei nº 13.415/2017 e a influência do sistema capitalista na educação. É importante 
analisar e discutir as novas diretrizes que envolvem área da educação, que relaciona uma 
tendência pedagógica tecnicista com o novo formato do ensino médio regular em consonância 
com suas bases legais. Para alcançar o objetivo adotou-se como metodologia a revisão de 
literatura, através de diversos trabalhos acadêmicos e periódicos sobre o tema. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Reforma do Ensino Médio. Impeachment. Política Neoliberal. Ensino 
Tecn 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Nos últimos anos o cenário educacional tem se caracterizado por uma série 
de reformas marcadas pela competição de projetos cujos alicerces possuem 
diferentes visões da sociedade sobre a função social da escola e do currículo. 
Esses conflitos de projeto giram em torno de dois pontos de vista diferentes, 
um que coloque a educação de qualidade para todos no contexto de um país 
com extrema desigualdade social e defenda profundas mudanças sociais e 
econômicas em direção a uma sociedade melhor e igualitária; e outro que 
preconiza a formação profissional segundo a lógica de mercado, vantagens 
para os gestores, competência consolidada e cultura de desempenho. 
O impeachment da presidenta Dilma Rousseff, visto pelo mundo como 
um processo antidemocrático, instituiu a PEC 55 aprovada com reformas 
drásticas no sistema previdenciário e trabalhista. Junto com essas reformas, 
também trouxe mudanças significativas no campo educacional do Brasil. 
Durante o período da ditadura militar no Brasil, duas leis educacionais foram 
impostas pelos militares e pelos tecnocratas (leis n° 5.50/68 e 5.692/71), a 
partir dessa perspectiva, podem-se encontrar similaridades com o governo 
neoliberalista de Michel Temer (2016-2018), e as propostas referentes a 
mudanças educacionais, principalmente no ensino médio e no ensino técnico 
no Brasil. 
Diante do panorama neoliberal e ultraconservador que vem ocorrendo 
no Brasil nos últimos anos, após o impeachment de Dilma Rousseff, assumindo 
medidas que eliminam os direitos e amplia a desigualdade social e a 
concentração de renda no país. No governo do presidente Michel Temer, foram 
aprovados o Projeto de Lei 867/2015, que inclui diretrizes e fundamentos da 
educação nacional como “Programa Escola sem Partido”; Medida provisória 
76/2016 (reforma do Lycée), a emenda constitucional (CE) 95/2016, que 
congelou gastos públicos por 20 anos; a Lei n° 13.415/2017, bastante danosa à 
educação básica pública, que tem impacto direto sobre a formação docente foi 
a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Essas medidas representam um 
grande retrocesso para a educação brasileira e para o país como um todo. 
O impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016 trouxe enormes 
perdas para a classe trabalhadora, principalmente em termos de direitos e 
desmantelamento dos serviços públicos. Uma das propostas pelo então vice-
presidente Temer em 2015 ao meio empresarial, foi o programa “Ponte para o 
futuro”, que se apresenta como um grande túnel para o passado que visa 
desconstruir os avanços constitucionais de 1988 e o acesso aos direitos 
universais (Saúde, educação, segurança e seguridade social) por meio do 
argumento falacioso de que esses direitos foram consagrados dentro da 
constituição "sem orçamento público". Essas recomendações partiram do 
diagnóstico de que a política de ajuste fiscal adotada no governo Dilma era 
insuficiente. 
A seguinte questão norteia este estudo: A partir das reformas 
educacionais anteriores e de seus respectivos resultados, a reforma proposta 
pela Lei nº 13.415/17, será eficaz para resolver de forma definitiva os 
problemas do ensino brasileiro ou apenas uma justificativa para beneficiar o 
setor privado-mercantil? 
Nessa perspectiva, as mais recentes "reformas" educacionais, lembram 
o período da ditadura militar em ambos os governos, a educação brasileira 
passa por dificuldades e as medidas propostas emergem dessa "crise" de 
mudança que visa a profissionalizar o cidadão como força de trabalho que visa 
a satisfação dos interesses do mercado. A linha pedagógica tecnicista passou 
a ter um domínio maior, com o surgimento da necessidade de mão-de-obra 
qualificada, impulsionada pelo desenvolvimento industrial, o que originou um 
sistema educacional adaptado ao novo modelo educacional dando prioridade 
ao ensino técnico, enquanto a educação da sociedade fica em segundo plano, 
intencionalmente reproduzido para atender às necessidades da economia 
capitalista. 
 Sendo assim, após a análise da literatura acerca desse novo modelo 
educacional proposto, é possível concluir que a Lei nº 13.415/17 não poderá 
ser considerada como a ação definitiva para resolução dos problemas no 
sistema de ensino médio no Brasil, sendo que visa priorizar o ensino 
profissionalizante, pois entre os moldes desse novo modelo educacional, está a 
flexibilização dos conteúdos, deixando de ser obrigatório o ensino de várias 
disciplinas. A formação geral passa a se desenvolver em competências 
especificas como: linguagens; matemática; ciências da natureza; ciências 
humanas e sociais aplicadas, e na formação técnica e profissional. 
Assim, este artigo tem como objetivo analisar e pontuar os diversos 
aspectos acerca do novo modelo educacional, para a melhor compreensão da 
reforma na educação (Lei nº 13.415/2017) e a influência do sistema capitalista 
na educação. É importante analisar e discutir as novas diretrizes que envolvem 
área da educação, que relaciona uma tendência pedagógica tecnicista com o 
novo formato do ensino médio regular em consonância com suas bases legais 
como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei 9394/96), a 
BNCC e demais legislações de interesse relacionadas ao tema. 
Para realização deste trabalho, adotou-se como metodologia a revisão 
de literatura, através de diversos trabalhos acadêmicos e periódicos. As 
pesquisas foram realizadas em diversas bases de dados como SciELO e 
Google Acadêmico, e foram escolhidas por serem multidisciplinares e 
contemplarem estudos de diferentes partes do país. Os estudos foram 
selecionados para delinear e esclarecer as posições dos autores sobre o tema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 DESENVOLVIMENTO 
1.1 Reforma do Ensino Médio de 2017 
Em 2016, após a posse Michel Temer propôs uma grande reforma do 
ensino médio no Brasil. Diante do cenário nacional, o ensino médio do país 
deveria passar por uma profunda reforma devido ao seu fraco desempenho e 
ao índice de evasão. No entanto, a forma como as reformas atuais são 
aplicadas e as propostas curriculares são arbitrárias e autocráticas e não 
beneficiam a sociedade brasileira (NETO; LIMA; ROCHA, 2017). Sua 
plataforma de governo denominada "Ponte para o Futuro" do ponto de vista 
político-ideológico contrasta fortemente com a agenda do governo anterior de 
da qual o fazia parte, se encaixando em um cenário político preocupante 
(CAVALCANTI; VENERIO,2017). 
A reforma começou como uma medida provisória e convertida na Lei nº 
13.415 em 16 de fevereiro de 2017, passando a entrar em vigor em 2018. Esta 
lei altera as disposições da lei n° 9.394/9, que dispões sobre as orientação e 
fundamentos da educaçãonacional, conhecida como Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação Nacional (LDB) e a lei nº 1.494/07, que é a Lei do Fundo de 
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos 
Profissionais da Educação (FUNDEB). Da mesma forma introduziu uma 
Política para promover o estabelecimento de escolas de ensino médio em 
tempo integral (SERRÃO, 2016; BALD; FASSINI, 2017). 
De acordo com o novo currículo, o método inovador do ensino 
secundário será dividido entre conteúdos gerais e disciplinas específicas de 
acordo com o percurso formativo escolhido pelo aluno (línguas, matemática, 
ciências naturais e humanas e formação técnica). As disciplinas de português e 
matemática continuam sendo obrigatórias durante os três anos do ensino 
médio, assim como artes e educação física, que também passam a ser 
disciplinas obrigatórias, anteriormente excluídas pelo texto original da Medida 
Provisória. Nas disciplinas de línguas estrangeiras, o espanhol deixará de ser 
obrigatório ao contrário do inglês que continua a ser obrigatório a partir do 6º 
ano do ensino primário. As disciplinas de Filosofia e Sociologia são excluídas 
pelos Poderes Executivos e passarão a ser disciplinas obrigatórias da Linha de 
Base Nacional do Currículo Comum (BNCC) assim como a Educação Física e 
Artística (SENADO,2017). 
Atualmente para a formação técnica no ensino médio, os alunos devem 
completar 2.000 horas de formação continuada em três anos e 12.000 horas de 
formação técnica complementar. A nova lei estipula que esta formação 
aconteça durante o horário escolar normal desde que os alunos continuem a 
estudar português e matemática. No final do ensino secundário os alunos 
recebem um diploma de ensino geral e um certificado de ensino técnico. Os 
professores em formação técnica podem ser especialistas com notórios 
conhecimentos na sua área de atuação ou ter experiência profissional atestada 
por determinado curso ou prática pedagógica. A Medida Provisória foi criticada 
pela oposição, por ocorrer sem debates públicos (SENADO,2017). 
Segundo o Ministério da Educação tais mudanças são necessárias para 
retomar o crescimento econômico do Brasil. A qualificação do trabalho e o 
investimento em recursos humanos poderão ajudar os trabalhadores brasileiros 
a se adaptarem à nova realidade do capitalismo internacional trazendo maior 
produtividade e competitividade ao país. Essa reforma é norteada pelas 
supostas necessidades do mercado e pelas demandas da produção. Também 
tenta justificar o mau desempenho dos alunos, pois muitas matérias 
desestimularia os alunos, o que explica a evasão escolar, tornando a 
flexibilização e a modernização do currículo, uma pauta importante para essa 
reforma, focando nas disciplinas de português e matemática (FERRETI; SILVA, 
2017; MOTA; FRIGOTTO, 2018). 
O Conselho Nacional de Educação (CNE) apresentou em dezembro de 
2017, a RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 2 DE 22 DE DEZEMBRO DE 2017 com o 
objetivo de estabelecer e orientar a implementação da Base Nacional Comum 
Curricular (BNCC). O documento foi homologado em 14 de dezembro de 2018 
e passou a ser a nova base de ensino para a educação básica do Brasil. Dessa 
forma, fica mais compreensível a perspectiva neotecnicista de formação que 
fundamenta as novas diretrizes (GONÇALVES; MOTA; ANADON, 2020). É 
possível direcionar o seu perfil tecnicista ao ponto em que reduzem a formação 
docente a capacitação necessária à aplicação da BNCC, conforme esclarece 
Coimbra (2020, p. 625-626): 
 
Evidencia-se que a “grande tarefa” desta Resolução é a de reduzir a 
formação de professores/as e colocá-la a serviço de uma formação 
neotecnicista para “a necessária aplicação” da BNCC – Base 
Nacional Comum Curricular. Assim, questionamos: Como visar uma 
formação integral de estudantes, se na formação de professores/as 
não compreendemos o/a profissional em uma visão integral? O que 
seria a Educação Integral nos termos desta legislação? Perguntas 
sem respostas, por enquanto... (COIMBRA, 2020, p. 625-626). 
 
 
Estas questões levantadas por Coimbra (2020) são interessantes na 
medida em que mostram que esta tentativa de justificar a necessidade da 
reforma na formação de professores é bastante frágil e ignora questões 
importantes sobre a complexidade envolvida no fenômeno educacional. Visto 
que por meio de competências a associação das orientações ao BNCC é mais 
organicamente estabelecida (COSTA; MATTOS; CAETANO, 2021). 
O Art. 4º da Lei 13.415/2017, dispõe que a formação técnica será 
realizada na própria instituição de ensino ou em parcerias com outras 
instituições: 
§8° - A oferta de formação técnica e profissional a que se refere o 
inciso V do caput, realizada na própria instituição ou em parceria com 
outras instituições, deverá ser aprovada previamente pelo Conselho 
Estadual de Educação, homologada pelo Secretário Estadual de 
Educação e certificada pelos sistemas de ensino (BRASIL, 2017). 
 
A reforma do ensino médio pode ser entendida como sendo parte 
integrante de um programa global de educação e os motivos utilizados pelos 
defensores dessas mudanças são tênues, porém mantêm padrões da 
governança internacional, cujo propósito da modernização, é reduzir a 
educação e o conhecimento, visando capacitar mão-de-obra com funções 
mínimas adequadas às necessidades imediatas da sociedade capitalista 
contemporânea, tarefa essa, que deve ser realizada pelo sistema educacional 
(FERREIRA, 2017). 
Numa época em que a informação é mais acessível, o conhecimento e a 
compreensão estão cada vez mais afastados das populações que mais 
precisam. Mesmo que a globalização afete a todos, não é igual para todos pelo 
contrário existe um abismo ainda maior entre ricos e pobres. Conforme Fraisoli 
(2019) esclarece, que se cria a ideia de uma cultura global única, mas 
construída por e para a elite enquanto ignora as comunidades e culturas locais 
quando cita Santos (1998, p. 7-8): 
 
O ensino na globalização exige, também, redobrada cautela. 
Vivemos, neste fim de século, uma forte tendência para o 
totalitarismo, o que, inclusive, aparece no discurso de certos 
governantes, quando, por exemplo, nos dizem: "penso assim, se você 
pensa diferente, você está contra a nação". Então, o desejável papel 
pedagógico dos homens de governo é substituído por um discurso 
autoritário, que frequentemente vai buscar fundamento na chamada 
"globalização" - a globalização perversa atual - apresentada como um 
caminho único, quando, na realidade é apenas uma maneira de fazer 
a história (SANTOS, 1998, p. 7-8). 
 
 
E no contexto histórico do Brasil essa reforma reversa não melhorará a 
qualidade do ensino médio, pelo contrário, tenderá a piorar o desempenho e 
aumentar a desigualdades escolar dos alunos, ou seja, é a porta para o 
retrocesso em face da crescente globalização (FERRETI; SILVA, 2017). 
 
1.2 Influência do Capitalismo no Ensino 
 
Ao longo dos anos, o sistema educacional brasileiro tem enfrentado 
alguns desafios, incluindo proporcionar educação de qualidade para todos e 
atender às novas exigências da educação cívica devido às mudanças 
econômicas, políticas e tecnológicas presentes em nossa sociedade. No século 
XX o Brasil entrou em um período de crise e buscou mudanças políticas, 
portanto, sociais, onde os países mais desenvolvidos sentiram uma grande 
necessidade de uma estruturação educacional e a confiaram ao Estado para 
essa tarefa (MOTA; FRIGOTTO, 2018). 
 Com o surgimento de uma nova economia, devido ao processo de 
industrialização dos grandes centros urbanos, a onda de migração do campo 
aumentou exponencialmente, e cada vez mais surge a necessidade de 
preparar a sociedade para o trabalho industrial. Portanto, a educação sendo de 
responsabilidade do Estado, de acesso público universal e gratuito terá a 
função de preparar as pessoas para ingressar no mercado de trabalho e se 
adaptar ao sentido capitalista (COSTA; MATTOS; CAETANO, 2021).E no contexto histórico do Brasil essa reforma educacional não 
melhorará a qualidade do ensino médio, ao contrário, tenderá a piorar o 
rendimento dos alunos e aumentar a desigualdade de aprendizado entre eles. 
No campo econômico os empresários se reasseguraram logo após a 
aprovação da Lei 13.415/2017, que estará totalmente implementada até 2022. 
Nesse aspecto, as empresas do setor da educação buscam criar um 
novo mercado altamente lucrativo, investindo fortemente em escolas privadas, 
enquanto as escolas públicas encontram dificuldades em se adaptarem ao 
novo currículo, propiciando o uso do orçamento do Fundo de Manutenção e 
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da 
Educação - FUNDEB, em vias de contratos com parceiros Públicos e Privados 
(PPPs), para se enquadrarem ao novo formado educacional (FERRETI; SILVA, 
2017; RAMOS; FRIGOTTO, 2016). 
Segundo Borges (2017), o FUNDEB teve orçamento de R$ 136,9 bilhões 
de reais no ano de 2016; montante que representou cerca de 80% do total do 
capital de investimento público na educação básica em todo o país. Para poder 
acessar os recursos públicos sem incorrer aos pesados custos de infraestrutura 
exigidos pelas redes públicas, a estratégia do negócio é investir na gestão da 
educação e de outros serviços com parcerias privadas, para capacitar e 
ensinar os gestores da rede pública de ensino, o desenho de estratégias para a 
adaptação ao novo ensino médio baseado na lógica da produtividade 
empresarial 
Portanto, Borges (2017) reitera que o novo formato de ensino moderno é 
bastante atraente para a rede particular, porém é impraticável na rede pública, 
tornando-se difícil a implementação dessa nova estrutura proposta com o 
financiamento disponível para a rede pública, pois exige um maior número de 
professores e maior especialização por parte dos mesmos, o que repercutiria 
em um aumento significativo no investimento da educação 
O quadro de professores é deficitário dentro de um contexto de 
congelamento de gastos aplicado pelo governo. Para conseguir implementar o 
novo ensino médio a solução prática mais próxima da realidade seria dividir as 
escolas públicas nas cinco vertentes de conhecimento (Linguagens, 
Matemática, Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Formação Técnica) o 
que levaria à criação de ilhas de referência e à limitação do acesso à 
educação. No final os alunos da escola pública não terão a mesma escolha e 
qualidade de ensino em relação aos alunos da rede privada (FERRETI; SILVA, 
2017). 
Nesse aspecto, observamos a ascensão do sistema social dualista, pois 
enquanto o ensino médio prepara os pobres para ingressar no mercado de 
trabalho, prepara a elite para ingressar no ensino superior, sem a promoção de 
reformas estruturais que poderia realmente representar a democratização da 
educação, justificada pelo fato de menos de 17% dos alunos que concluem o 
ensino médio ingressarem no ensino superior e em torno de 10% dos alunos 
buscarem o aprendizado profissional, se tornando um bom motivo para a 
implantação do ensino tecnicista ou neotecnicista (NETO; LIMA; ROCHA, 
2017). 
De acordo com Manacorda (2007, p. 67): “a relação entre o trabalhador 
e sua atividade que não é de modo algum natural, mas que contém em si uma 
específica determinação econômica”, apresenta a proposta educacional atual 
como um retrocesso ao ensino tecnicista da década de 70. Nesse contexto, 
pode-se ainda observar o modelo taylorista-fordista, fruto do processo industrial 
das fábricas e caracterizado pela formalização, racionalização, mecanização, 
planejamento, centralização, divisão do trabalho e produção em massa, entre 
outros, influenciando na gestão educacional do país (RAMOS; FRIGOTTO, 
2016). 
Educação e trabalho sempre estiveram ligados e os padrões de 
produção, por sua vez, influenciam as atividades pedagógicas no campo da 
educação. Para Aranha (1996), a própria escola é um local de trabalho e como 
tal presta serviços à comunidade; nesse sentido pertence ao setor terciário e é 
influenciado pela sociedade a que pertence. Tal afirmação mostra que as 
mudanças que ocorrem na forma de organização das condições e relações de 
trabalho da produção, também necessitam para formar um novo tipo de 
trabalhador (SAVIANI, 2010). 
Outro modelo de trabalho que podemos citar nesse mesmo ensejo, 
ocorrido depois do Fordismo e do Taylorismo, foi o Toyotismo, também 
conhecido como "modelo flexível", rompeu com o método de produção em 
massa, pois não valorizava quantidade, mas a eficiência. A produção nesse 
modelo é paralela à demanda, o que pode causar uma alta taxa de 
desemprego devido a flexibilidade e proporciona a expansão do setor terciário 
(prestação de serviços), pois requer trabalhadores multifuncionais com 
capacidade de produção e solução de problemas (RAMOS; FRIGOTTO, 2016). 
Os modelos de trabalho citados acima tiveram êxito, contribuindo 
fortemente para o desenvolvimento do capitalismo no mundo, porém também 
contribuiu para uma carga de trabalho exaustiva aos trabalhadores em busca 
de produção e lucro por parte das empresas. Sendo assim, os modelos de 
trabalho, possuem uma relação direta com a educação, que sempre foi e é 
refletida para acompanhar os direcionamentos provenientes do capitalismo, 
visando a manutenção da ordem que se mantêm e sempre se manterá 
(GALUCH; SFORNI, 2011). 
Segundo Neves (2005) devido as mudanças na organização do trabalho 
e nos modos de estruturação de poder, diretrizes e práticas, surge a 
necessidade de adequar os métodos educacionais às necessidades dos 
indivíduos e da sociedade para se adaptarem às novas demandas do 
desenvolvimento do capitalismo monopolista, desenvolvendo, para tal 
finalidade uma educação hegemônica que se opõe, tendo em conta o carácter 
contraditório e conflituoso de classes, de uma educação do anti-hegemonismo 
por parte das classes dominadas 
A reforma do ensino médio é uma manifestação do pensamento 
conservador, usando a lógica econômica e o pragmatismo para representar 
nosso capitalismo dependente da era da hegemonia neoliberal e da cultura 
pós-moderna. Trata-se de uma política de congelamento da educação básica, 
eliminando o conteúdo científico e ético-político esperado em uma sociedade 
que tem como fundamento de política pública as pessoas e não o mercado 
(GONÇALVES; MOTA; ANADON, 2020). 
 
 
 
 
 
 
 
2 CONCLUSÃO 
Conforme exposto, conclui-se que a construção de um sistema público 
educacional sempre enfrentará problemas difíceis e complexos relacionados 
com a dimensão do território nacional, falta de investimento público, falta de 
preparação da formação profissional, fragilidade política, imposição por parte 
das classes dominantes e ações de agentes privados. A reforma educacional 
de 2017 é apenas mais um capítulo dessa história, mas apresenta 
peculiaridades ainda mais graves do que as observadas em períodos 
anteriores. 
A reforma do ensino médio, terá graves consequências para as escolas 
públicas, afetando ainda mais a qualidade da educação pública do país, e 
consequentemente promovendo a descentralização da educação e a isenção 
do Estado da responsabilidade pela gestão escolar gerando graves 
desigualdades; o declínio nas habilidades de pensamento crítico e raciocínio 
dos alunos, especialmente em escolas públicas; a segregação dos alunos das 
séries iniciais, porque ao eliminar as disciplinas do ensino médio enfatizando a 
especialização profissional, o governo determina que os alunos das escolas 
públicas não frequentem as universidades, porque pouca ou nenhuma proposta 
foi introduzida para a promoção do processo do vestibular, e muitas outras 
consequências preocupantes. 
Essa reforma traz à luz o interesse do governo pela elite, criando um 
exército de reserva de muitos indivíduos que ao final de sua formação inicial, 
não se tornaram profissionais e não terão acesso ao ensino superior,transformando a educação em um mercado, que disponibiliza mão-de-obra 
barata, ampliando ainda mais o distanciamento entre as classes sociais. 
Desse modo, a escola torna-se um instrumento e uma experiência 
empírica do neoliberalismo, na manipulação social econômica e política. 
Portanto, há uma grande necessidade de mudanças no programa educacional 
do país e novamente, é claro que, não há proposta de mudança nas condições 
de trabalho dos professores muito menos na estrutura física das escolas. 
Precisamos esclarecer qual é o projeto educacional que estamos 
ajudando a construir, e qual é o seu embasamento teórico. Por conta da 
hegemonia das ideias neoliberais que buscam se confundir com discursos mais 
progressistas vêm gerando uma série de confusões conceituais que afetam 
sobremaneira nossa prática escolar. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ANTUNES, Ricardo e PINTO, Geraldo Augusto. A fábrica da educação: da 
especialização taylorista à flexibilização toyotista. São Paulo: Cortez, 2017. 
 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 2. ed. São Paulo: 
Moderna, 1996. 
 
BALD, Volnei André; FASSINI, Edí. Reforma do ensino médio: resgate 
histórico e análise de posicionamentos a respeito da lei nº 13.415/17 por 
meio de revisão de literatura, ed. [S.l.: s.n.], 2017. 19 p. Disponível em: 
https://www.univates.br/bdu/bitstream/10737/1868/1/2017VolneiAndreBald.pdf. 
Acesso em: 27 dez. 2021. 
 
BORGES, Helena. Sob aplausos do mercado financeiro, empresários já 
lucram com reforma do ensino médio. Disponível em: 
https://theintercept.com/2017/10/20/sob-aplausos-do-mercado-financeiro-
empresarios-ja-lucram-com-reforma-do-ensino-medio/. Acesso em: 04 jan. 
2022. 
 
BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm. 
Acesso em: 29 dez. 2021. 
 
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