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ALUNO: GABRIEL BRUCK MACHADO
Subjetividades jovens contemporâneas e relações digitais.
Quando pensamos em cultura jovem e suas subjetividades, dois eixos principais orientam a compreensão a respeito das transformações vivenciadas por esse grupo: A expansão da lógica de mercado, o neoliberalismo, e as constantes inovações tecnológicas, principalmente dos meios de comunicação. A pós-modernidade, ou utilizando o conceito de Zygmunt Bauman Modernidade Líquida, é marcada pela velocidade da mudança e pela imprevisibilidade dos acontecimentos. Segundo Bauman, essa característica assemelha-se a dos líquidos que adquirem sua forma de acordo com o recipiente que os mantém. Essa dinâmica difere do período anterior, no qual a solidez permite a previsibilidade e é dotado de um ritmo lento. 
O aparecimento da internet, seguido dos smartphones e das redes sociais, foram em grande medida um ponto de virada para a forma como nos relacionamos. Em curto espaço de tempo, os app invadiram nossas vidas e descobriram formas de monetizar a interação. A partir da formulação de Big Data, os algoritmos interpretam os hábitos e com a ajuda de instrumentos pautados na psicologia incitam o consumo, compartilhamento e manutenção do seu tempo na rede. Os aplicativos, como o Instagram, estimulam a constante produção e massificação de conteúdo o que, por consequência, gera uma grande competição no feed de notícias. O excesso de informação é controlado pelas curtidas, quando interagimos atribuímos pontos de prioridade a um conteúdo e ao seu produtor recebendo suas publicações com maior frequência. Essa estrutura permite a formação de bolhas, na qual só chegam as informações que me agradam ou semelhantes a mim. Segundo o filósofo Sul Corenano, Byung Chul Han, nas redes buscamos sempre um “eu” narcísico (inferno do igual) e por conseguinte eliminamos a possibilidade da troca. A facilidade de bloquear, excluir o que é diferente e a procura por um semelhante denotam um grande problema, visto que é no contraditório que há diálogo e o aprendizado.
	A visibilidade é o elemento mais importante quando o assunto é redes sociais, para receber as curtidas é preciso postar a melhor foto, ou seja, a criação de uma narrativa perfeita. Dentro das relações aparece a lógica da performance, há aqui uma interiorização das regras e o indivíduo age como empreendedor de si mesmo. A figura do patrão, a vigilância externa e coercitiva abre espaço para a auto alienação. O desempenho não se limita ao intervalo de trabalho, em todas as dimensões da vida deve ser o melhor e conseguir o máximo possível. Sendo assim, o imperativo da felicidade e o desaparecimento da negatividade (a diferença é um incômodo, imprevisível). As postagem passam pela escolha do melhor ângulo, do momento certo e do recorte mais emocionante do dia. Em contrapartida, há o aumento da pressão para atingir ideais inalcançáveis, como por exemplo o corpo perfeito, o que implica em problemas graves de saúde.				
Os aplicativos de namoro também aproveitaram da mesma lógica de mercado, cada vez mais se consome um relacionamento. O Tinder, por exemplo, fornece aos seus usuários um número limitado de curtidas por dia, um espaço dentro das configurações para editar suas preferências, distâncias, idade… Dentro da plataforma é possível sincronizar sua playlist de música, por fotos e vídeos e criar texto chamado de biografia. Todos esses elementos servem para identificar, traçar um diferencial e uma tentativa de tornar o eu subjetivo mensurável em caracteres. Dada a escassez de curtidas, e a possibilidade de escolher pessoas a partir de um enorme cardápio de opções, a competição para ser notada é enorme, por consequência, poucos perfis concentram maior parte das interações. 
As descrições do perfil , e as primeiras mensagens no chat de aplicativos ou sites de relacionamento apresentam uma relação paradoxal: ao mesmo tempo que deveriam ser expressão da subjetividade acabam por serem padronizados seguindo lógica de eficiência. Segundo Eva Illouz, “O volume das interações faz os atores dependerem de um repertório limitado de gestos e palavras, o qual, habitualmente repetido, logo passa a ser visto com uma ironia cansada e constrangida. É que grande parte do encanto tradicionalmente associado à experiência do amor romântico está relacionada com uma economia de escassez, a qual, por seu turno, permite a novidade e a empolgação. Em contraste, o espírito que rege a internet é o de uma economia de abundância, na qual o eu deve escolher e maximizar suas opções, sendo forçado a usar técnicas de custo-benefício e de eficiência”
A dimensão dos relacionamentos virtuais permite uma nova interpretação do corpo, dentro dos perfis a destaque para as fotos versões estáticas e pré selecionadas em comparação com o movimento não planejado do presencial. A comunicação por mensagens é mais simples, compreensiva e segura frente às oscilações do encontro real.
Os primeiros encontros assemelham-se a entrevistas de emprego, troca de perguntas e respostas sistemáticas dentro de um planejamento. A regra é evitar o polêmico, o diferente, constrangimento para conseguir manter o encontro. Ainda no texto Eva Illouz, Amor nos tempos de capitalismo “ A internet estrutura a busca do parceiro como um mercado, ou, mais exatamente, formaliza a busca de um parceiro sob a forma de uma transação econômica: transforma o eu num produto embalado, que compete com outros num mercado aberto, regulado pela lei da oferta e da procura; transforma o encontro no resultado de um conjunto mais ou menos estável de preferências; faz com que o processo de busca seja cerceado pelo problema da eficiência; estrutura os contatos como nichos de mercado; atribui um valor econômico (mais ou menos) fixo a perfis (isto é, a pessoas) e deixa as pessoas nervosas quanto a seu valor nesse mercado estruturado, e ansiosas por melhorar de posição nesse mercado. Por último, deixa-as sumamente cônscias dos aspectos de custo-benefício de sua busca, seja em termos de tempo, seja no sentido de que elas querem maximizar os atributos da pessoa encontrada”
Em paralelo com a realidade, o episódio Hang the DJ, da quarta temporada de Black Mirror na Netflix, conta a história de um app de relacionamento que marca inclusive a validade do tempo com o parceiro. Os candidatos se sujeitam ao sistema e acreditam na sua eficiência ao ponto de não questionar a relação que passam. A partir disso, conta-se o tempo desde horas ou anos para acabar e partir para o próximo até que o aviso do par ideal apareça. Presos nessa dinâmica, os protagonistas convencidos que se amam mesmo com a separação forçada pelo app se propõem a fugir do experimento. É então que somos informados de que tudo é uma armação e o fato de escolherem um a outro que marca compatibilidade como casal. A ficção promovida pelo episódio leva à reflexão sobre como acreditamos nos algoritmos ( racionalização do amor) , liquidez dos relacionamentos e ao mesmo tempo provoca uma possível solução para o amor, dentro do campo da revolta contra lógica de mercado perante aos relacionamentos.
Na dimensão do trabalho a formação deve ser contínua (nunca se termina nada), criando a ideia do empreendedor de si mesmo marcando a transição da sociedade disciplinar para a sociedade do desempenho como menciona Chul Han. 
O indivíduo do desempenho está livre da figura do chefe, do chicote, já que o estímulo para produzir serve como controle melhor do que a figura da punição. Dentro dessa lógica, o movimento é valorizado enquanto a estabilidade é vista como sinônimo de inação corroborando para um sentimento de culpa e angústia por não estar constantemente produzindo. É um processo de auto alienação, tendo como consequência a manifestação de problemas psicológicos, físicos e privação do sono.
Nada escapa do campo de visão das tecnologias ( panóptico digital) , os app entram na nossa vida e funcionam no ritmo 24/7. Não há uma fronteira entre a hora de trabalhar e a de descansar, os celulares carregam o trabalho de forma móvel e a qualquermomento você pode ser acionado. O capitalismo busca homogeneizar tudo, segundo Jonathan Crary “ O planeta é repensado como um local de trabalho ininterrupto ou um shopping center de escolhas,tarefas, seleções e digressões infinitas, aberto o tempo todo.” 
 A pandemia trouxe novas dinâmicas para os relacionamentos, os eventos sociais deslocaram-se do presencial para o virtual. O isolamento obrigatório nos fez observar com outros olhos o ambiente de casa, a relação com os objetos e construção e ambiente chamado de lar.

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