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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 3 2 CONCEITUAÇÃO DA DEFICIÊNCIA............................................................... 4 2.1 Abordagens atuais sobre deficiência ......................................................... 7 2.2 Deficiência não é sinônimo de incapacidade ............................................. 9 3 POLÍTICAS PÚBLICAS E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ........................... 11 3.1 Os direitos da pessoa com deficiência .................................................... 13 4 COMPREENDENDO AS EMOÇÕES ............... Erro! Indicador não definido. 4.1 Principais teorias sobre emoções ............... Erro! Indicador não definido. 4.2 A expressão emocional .............................. Erro! Indicador não definido. 5 MANIFESTAÇÕES PSÍQUICAS E COMPORTAMENTAIS ........................... 15 5.1 Imagem corporal e autoconceito ............................................................. 17 6 A CONTRIBUIÇÃO DO PSICÓLOGO NA INCLUSÃO .................................. 26 7 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS ...... Erro! Indicador não definido. 7.1 A relação da psicologia com a deficiência: das velhas práticas para novas alternativas ......................................................... Erro! Indicador não definido. 8 INTERVENÇÃO DO PSICÓLOGO JUNTO À PESSOA COM DEFICIÊNCIA, SUA FAMÍLIA E COMUNIDADE .......................................................................... 31 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 35 3 1 INTRODUÇÃO O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 CONCEITUAÇÃO DA DEFICIÊNCIA Fonte: cgn.inf.br As diferenças nos modos de ser e existir são consideradas, analisadas e ponderadas desde os tempos mais longínquos. Na Grécia Antiga, a deficiência — principalmente a referida na ordem intelectual — chegou a ocupar o status de privilégio, por se caracterizar como certa liberdade presente nos indivíduos que a manifestavam, sob a forma de delírios (PELBART, 1989 apud DUARTE, 2018). Sócrates e Platão ressaltaram aspectos da deficiência em seus discursos. Platão deixou registrada, em seus escritos como Banquete e Fedro, a deficiência manifesta como Manikê, referindo-se ao delirante, para em seguida relacioná-la à arte divinatória Mantikê. Assim, as deficiências e os modos de estar no mundo se manifestavam por meio das diferenças — algo ao mesmo tempo especial e limitador (PELBART, 1989 apud DUARTE, 2018). O filósofo Hipócrates, considerado o “pai da medicina” (460–377 a.C.), conectou o que denominou “loucura” a implicações orgânicas. Nesse sentido, foi pioneiro ao propor uma interpretação conectada a doenças ou deficiências baseadas em origens e manifestações biológicas (PESSOTI, 1997 apud DUARTE, 2018). 5 Nesse sentido, surgiram no século XVI maneiras de tratar os diferentes, os que não se encaixavam no cumprimento das regras, ao mesmo tempo em que eles foram removidos do convívio social. Além de pensões e hospedarias específicas para esse público, cujo intuito era retirá-los da circulação das ruas e ainda usá-los como objetos de estudo, havia a chamada Nau dos Loucos. Tratava-se de uma embarcação que se propunha a navegar pelas águas calmas de rios e canais da Europa como um depósito para “loucos” e “leprosos” (FOUCAULT, 1978, p. 12 apud DUARTE, 2018). Entretanto, foi somente no início do século XIX, depois de muita barbárie no tratamento de pessoas com algum tipo de deficiência, que Philippe Pinel conseguiu inserir uma evolução do conceito de loucura, ao caracterizá-la como doença mental e, em seguida, como deficiência mental. Considerado o fundador da psiquiatria, Pinel estabeleceu a necessidade de permitir que o modo de ser dos sujeitos pudesse se expressar, determinando o desencarceramento dessas pessoas com deficiências intelectuais e indicando a criação de lugares específicos para tratamento com estímulos adequados. Foi assim que Pinel se tornou também um dos fundadores da clínica médica (FRAYZE-PEREIRA, 1993 apud DUARTE, 2018). Apesar de todo o esforço para a condução de um tratamento moral das pessoas com deficiência intelectual, houve, ao longo de todo o século XIX, um alastramento da criação de asilos, os quais acabaram sendo concebidos como manicômios. Nesses locais, os tratamentos visavam à cura e, para isso, não mediam esforços para aplicar métodos que moldassem os comportamentos dos deficientes. Por meio de técnicas, aparelhos e medicações, buscavam a contenção dos sintomas, sem considerar as singularidades e peculiaridades de cada sujeito (DUARTE, 2018). Foi durante a transição do século XIX para o século XX que surgiu uma preocupação com a linearidade das manifestações das deficiências. A partir disso, os fisiatras e estudiosos da época se preocuparam em contabilizar e categorizar as deficiências intelectuais sob o ângulo de suas funcionalidades. Então, estabeleceu-se na América do Norte, em 1880, uma espécie de censo com o primeiro esboço de um manual diagnóstico, no qual as deficiências intelectuais foram organizadas em sete categorias: mania, melancolia, monomania, paresia, demência, dipsomania e epilepsia (BLACK; GRANT, 2015 apud DUARTE, 2018). O primeiro esboço da formulação da declaração 6 dos direitos humanos também ocorreu nos Estados Unidos. O documento alertava para a necessidade de fiscalizar e orientar as instituições que ofereciam tratamento às pessoas com deficiências intelectuais, buscando inibir internações arbitrárias e maus tratos que poderiam estar disfarçados sob a forma de tratamento. Esses movimentos em direção à garantia de direitos e tratamento digno promoveram avanços na psiquiatria enquanto ciência e conduziram inspirações para as ciências naturais. Além disso, auxiliaram no despertar de descobertas médicas e bacteriológicas, da anatomia patológica e da então recente neurologia, que se propunha a conectar os aspectos ligados à organicidade e à funcionalidade da estrutura cerebral aos comportamentos humanos (LAPLANTINE, 2010 apud DUARTE, 2018). Com a demanda por compreensão dos sujeitos com deficiências e das suas especificidades, tornou-se mais viável buscar tratamentos que se ancorassem no desenvolvimento das necessidades específicas de cada um. Despertou-se para a importância de conduzir tratamentos que escapassem de uma lógica que rotula e acaba por aniquilar o princípio individual, enxergando apenas as limitações e os sintomas, e seguindo as suas intervenções somente na direção de uma normatização e um silenciamento das diferenças (FERREIRA, 2000 apud DUARTE, 2018). No Brasil, até a construção da Constituição Federal de 1988, os termos “excepcional” e “deficiente” eram utilizados para definir as pessoas com deficiência. Entretanto, por se tratar de uma definiçãolimitada e por vezes pejorativa, implicava necessidade de mudanças. Assim, a atenção às pessoas com deficiências aparece em momentos bem pontuais da Constituição, como consta nos seguintes artigos (BRASIL, 1988, documento on-line apud DUARTE, 2018): Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: [...] V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: […] III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; […] V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à 7 educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. […] II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. Somente em 1990, com a assinatura na Declaração de Caracas, documento que buscou propor uma reestruturação da assistência psiquiátrica, os direitos das pessoas com deficiência começaram a ser constituídos enquanto política pública (OPAS/OMS, 1990 apud DUARTE, 2018). Esse documento alertou para a necessidade de criação de políticas públicas no Brasil e levou à criação do Estatuto da Pessoa com Deficiência, que se estabeleceu a partir da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU e o seu Protocolo Facultativo, ratificados na forma do Artigo 5º da Constituição Federal. O Estatuto da Pessoa com Deficiência é destinado a estabelecer as diretrizes e normas gerais, bem como os critérios básicos para assegurar, promover e proteger o exercício pleno e em condições de igualdade de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais pelas pessoas com deficiência. Além disso, esse Estatuto visa à inclusão social e cidadania plena e efetiva da pessoa com deficiência, seja por ordem física, sensorial (auditiva e visual) ou intelectual (BRASIL, 2015 apud DUARTE, 2018). Nas discussões mais recentes sobre a caracterização do conceito de deficiência, é possível acompanhar uma transição para o reconhecimento e a expansão das possibilidades de existir de cada pessoa, para além de normas e padrões. Gaudenzi e Ortega (2016 apud DUARTE, 2018) propõem a visualização do conceito de deficiência em conformidade com a normatividade, escapando das lógicas enclausurantes da normalidade. Normatividade refere-se ao desenvolvimento de autonomia em conformidade com a subjetividade e as especificidades de cada sujeito. 2.1 Abordagens sobre deficiência A partir dos anos 2000, o conceito de deficiência passou a ser percebido de maneira ampliada, buscando compreender o sujeito de maneira integrada ao seu 8 contexto. Dessa maneira, as políticas que promovem o apoio e o assistencialismo buscam se caracterizar como instrumentos de emancipação da pessoa com deficiência (FONSECA, 2008 apud DUARTE, 2018). Desse modo, faz-se prevalecer o equilíbrio para assegurar condições mínimas à efetiva inclusão social. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi realizada na sede das Nações Unidas, em Nova York, no ano de 2006. Nela, é a palavra respeito que conduz o reconhecimento pleno do direito das pessoas com deficiência de viver de forma autônoma e plena em sociedade — ou seja, nem desprezo, nem indiferença, nem simpatia, mas simplesmente respeito. Essa convenção da ONU não visava à criação de novos direitos, mas especificou os existentes, que preferencialmente deveriam se ater às condições individuais das pessoas com deficiência, para que elas pudessem ter as mesmas oportunidades que a maioria dos seres humanos (FERREIA; OLIVEIRA, 2007 apud DUARTE, 2018). Assim, a Convenção Internacional Sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, assinada em Nova York, em 30 de março de 2007, também refere um conceito de deficiência muito mais adequado à contemporaneidade. Em seu primeiro artigo, descreve que pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir a sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (ARAUJO, 2011 apud DUARTE, 2018). Nesse sentido, consta em documentos como o Estatuto da Pessoa com Deficiência, instituído a partir da Lei 13.146, de 6 de julho de 2015 (BRASIL, 2015 apud DUARTE, 2018), que os direitos das pessoas com deficiência devem ser assegurados em conformidade com as suas singularidades. Além disso, devem estar fundamentados nos princípios da universalidade e da solidariedade. Para isso, o Estado é responsável por propiciar condições mínimas para que as pessoas com deficiência possam de fato se inserir na sociedade, com participação plena e efetiva, em que seja possível viver com independência e dignidade (BRASIL, 2015 apud DUARTE, 2018). As políticas públicas da atualidade utilizam um conceito de deficiência, de forma geral, no qual o sujeito possa conquistar espaço para existir, sem precisar se limitar por barreiras arquitetônicas, estruturais, sociais, culturais ou econômicas que o coloquem em desvantagem em relação a quem não possui deficiência. Conforme o relatório mundial 9 sobre a deficiência (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012 apud DUARTE, 2018), as pessoas com deficiência representam 15% da população mundial, o que significa cerca de um bilhão de sujeitos. Dessa maneira, configura-se na minoria mais presente no planeta, sendo esse fato promovedor de urgências para a criação, priorização e seguridade dos direitos, além do estabelecimento de políticas públicas específicas. Outro ponto desse relatório pode ser relacionado às desigualdades encontradas pelas pessoas com deficiência, como carências no acesso à saúde e à educação, além das constantes exposições a violências e à vulnerabilidade social e econômica, impactando negativamente no desenvolvimento desses sujeitos. As deficiências circulam pelos mais variados aspectos dos sujeitos, no que se refere aos tipos e graus de deficiência. Em outras palavras, o sujeito pode apresentar desde alguma dificuldade ou uma grande dificuldade até incapacidade de locomoção, visual, auditiva ou deficiência intelectual. É possível ainda apresentar deficiências múltiplas, com duas ou mais deficiências associadas, como na paralisia cerebral, na qual é comum que a pessoa apresente deficiência intelectual, dificuldades para locomoção e audição e, em alguns casos, até mesmo na visão (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012 apud DUARTE, 2018). Tais aspectos tornam as pessoas com deficiências um grupo social extremamente heterogêneo e com uma imensa diversidade de manifestações. 2.2 Deficiência não é sinônimo de incapacidade Ainda na primeira metade do século XX, surgiu o modelo biomédico sobre definição de deficiência, interpretando-a como mera barreira ou incapacidade a ser superada pelo individuo que a portava. Logo após, instalou-se a transiçãopara o modelo social do conceito de deficiência, relacionado à inclusão da pessoa com deficiência e à superação das barreiras estruturais. Agora, a referência dos direitos humanos está inserido para garantir a dignidade, autonomia e acesso a todos os direitos sociais das pessoas com deficiência, e para combater as violações de seus direitos. Atualmente, há uma preocupação para além das limitações impostas pela própria deficiência: construir constantemente espaço para a superação de barreiras ao pleno 10 desenvolvimento do sujeito com deficiência. As políticas públicas direcionadas às pessoas com deficiência, da mesma forma como as problematizações do contexto instigados pelas convenções sobre os seus direitos, buscam distanciar o conceito de deficiência do de incapacidade, a fim de não delimitar a definição de deficiência a aspectos médicos. Ao mesmo tempo, também estão incluídos os aspectos sociais, ou seja, as pessoas com deficiência devem ser compreendidas para além dos aspectos físicos, sensoriais, intelectuais e espirituais, destacando o background social e cultural do deficiente.. Portanto, sujeitos que transcendem a deficiência e suas barreiras físicas, mentais, intelectuais ou sensoriais podem pensar em outros cenários para desenvolver plenamente seu potencial. Assim, as políticas públicas garantem à pessoa com deficiência o recebimento de benefício assistencial (quando o indivíduo se encaixa em critérios socioeconômicos), tendo garantia de benefícios como isenção de impostos como o IPI; preenchimento do percentual de funcionários com deficiência em empresas com mais de cem empregados; vagas destinadas às pessoas com deficiência em concursos públicos; participação nas paraolimpíadas e atendimento prioritário. Além disso, as políticas públicas proporcionam a proteção de espaços para que as pessoas com deficiência realizem suas potencialidades e talentos, principalmente nas áreas onde elas têm maior desenvolvimento. Como resultado, as pessoas com deficiência serão capazes de encontrar uma maneira de tratá-las como um sujeito completo, além da deficiência. Ao longo da história, o conceito de deficiência e a visão do deficiente enfrentaram muitos obstáculos. No caso do respeito e da construção da autonomia, nem sempre é possível priorizar o desenvolvimento da pessoa em aspectos gerais. No entanto, todos esses fardos levaram à consideração de aspectos fundamentais e indispensáveis, como a compreensão da totalidade e singularidade do assunto. Nessa perspectiva, um novo conceito de deficiência foi produzido nesta geração, e revela que a cultura e a sociedade estão se desenvolvendo em uma direção que respeita a diferença e a diversidade da existência e do modo de existência. Isso proporciona às pessoas com deficiência a oportunidade de exercer seus direitos livremente e de participar da vida social de maneira igualitária e justa. O papel dessas 11 partes é quebrar barreiras e buscar tomar medidas para apoiar a inclusão geral e totalmente satisfatória de todos. 3 POLÍTICAS PÚBLICAS E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA Fonte: amurc-sc.org.br O direito à integração social das pessoas com deficiência é fruto de lutas, principalmente de movimentos sociais relacionados, pesquisadores, pessoas com deficiência e seus familiares. Nesse processo de mobilização, a Lei da Deficiência de 2015 promoveu ainda mais o processo de busca por uma sociedade inclusiva. A Lei 10.098 / 00 foi promulgada em 23 de março de 1994. Estabelece regras gerais e padrões básicos para promover a acessibilidade para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Para tanto, determina a construção e reforma de vias e espaços públicos, mobiliário urbano, edificações e remoção de obstáculos nos meios de transporte e comunicação. De acordo com a Lei de Inclusão Brasileira - Lei nº 13.146 de 6 de julho de 2015: Pessoas com deficiência são as pessoas que têm deficiências físicas, mentais, intelectuais ou sensoriais de longa duração. A interação com um ou mais obstáculos 12 poderá dificultar a participação total na sociedade se comparado à pessoas sem deficiências. Nesse sentido, é importante ressaltar que, de acordo com a legislação em vigor, o público-alvo da educação especial é o seguinte: deficientes físicos, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Além disso, de acordo com a Lei de Inclusão Brasileira, pessoas com deficiência motora referem-se a pessoas que apresentam dificuldades de mobilidade permanente ou temporária por qualquer motivo, resultando em redução efetiva da mobilidade, flexibilidade, coordenação motora ou percepção, incluindo idosos, gestantes, mulheres que estão amamentando e obesos. Acessibilidade é toda possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida. Barreira é qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento e a circulação com segurança das pessoas. Elas podem ser classificadas em arquitetônicas urbanísticas, arquitetônicas na edificação, arquitetônicas nos transportes e nas comunicações. Ajuda técnica é qualquer elemento que facilite a autonomia pessoal ou possibilite o acesso e o uso de meio físico (SILVA, 2019 apud SILVA, 2019). A publicação do Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei Federal nº. 13.146/2015 (BRASIL, 2015 apud CHEQUIM, 2018), trouxe avanços importantes. Além disso, vários pesquisadores, familiares e segmentos da população têm lutado para que a sociedade seja inclusiva não apenas na lei, mas na prática. É necessário que as necessidades das pessoas com deficiência sejam percebidas para que a inclusão ocorra de fato na educação, na saúde, na locomoção, no esporte, cultura, lazer, religião e muitas outras áreas. No entanto, observa-se que as pessoas não incluíam pessoas diferentes, mas as excluíam por não fornecerem acesso a prédios, cursos, ferramentas e comunicação. Portanto, como podemos reconhecer os direitos das pessoas com deficiência na sociedade e como eles devem ser incluídos? Essa e muitas outras perguntas são importantes para que a inclusão aconteça por completo. Isso só acontecerá se escolas, instituições de ensino, empresas, ONGs, etc. se comprometerem a compreender as limitações de cada deficiência e seja capaz de fazer os ajustes necessários para a inclusão. 13 Segundo Chequim (2018), a inclusão ocorre não apenas nas placas indicativas em filas preferenciais, mas por meio de ações que contribuem de fato para o reconhecimento das pessoas com deficiência. Entre essas ações, você pode considerar: 1. O ensino de Libras para todos, independentemente do curso ou da vivência, para que essa língua seja disseminada no Brasil, tendo em vista que é a segunda língua oficial do País; 2. O uso de piso tátil e de placas indicativas, de semáforo sonoro, materiais e móveis em Braille para os cegos; 3. O uso da comunicação alternativa para todas as pessoas com deficiência intelectual e TEA; 4. A adaptação da arquitetura dos imóveis, dos carros, dos transportes públicos e das calçadas para os deficientes físicos. Assim, com respeito a todos e prezando pela igualdade, a sociedade, de fato, caminhará para a inclusão. 3.1 Os direitos da pessoa com deficiência A Constituição Federativa do Brasil, promulgada em 1988 (BRASIL, 1988 apud CHEQUIM, 2018), garante o direito de todos à educação, à saúde, à segurança e à vida. Contudo, para que exista a equalização de direitos e deveres, bem como o cumprimento das leis de acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência, são necessárias mudanças nos hábitos e costumes da população. Em relação ao transporte, é necessário que existagratuidade ou desconto em passagens no transporte público, intermunicipal e interestadual. Com isso, a adequação e a acessibilidade devem ser garantidas pelas empresas para que a mobilidade seja atendida. Há também a necessidade de reserva de vagas para as pessoas com deficiência, que têm prioridade para ocupar os assentos. Além disso, devem ser reservadas vagas em estacionamentos públicos e privados (desde que o automóvel esteja cadastrado para o transporte de pessoas com deficiência, seguindo a legislação de trânsito). Já no campo trabalhista, os concursos devem garantir a reserva de no mínimo 5% das vagas para as pessoas com deficiência. Muitas pessoas não sabem, mas a Lei de Cotas garante horário de serviço reduzido a essa população, dependendo de suas 14 limitações, sem prejuízo salarial, desde que a deficiência seja comprovada com laudo médico. A recusa de empregar pessoas com deficiência sem uma justificativa plausível ou aceitável pelo Ministério do Trabalho é motivo para que a empresa seja denunciada e processada com multa. No que se refere à educação, as pessoas com deficiência têm o direto de ocupar 5% do total de vagas nas universidades públicas; em instituições privadas, devem existir programas para atender a esses estudantes (CHEQUIM, 2018) Na educação básica, é fundamental que a lei seja cumprida, ou seja, todos devem ter a escolarização garantida. Todavia, para que os direitos das pessoas com deficiência sejam garantidos, é necessário que o preconceito e a discriminação sejam continuadamente descontruídos e combatidos. As pessoas com deficiência também estão isentas de tributos previstos na Constituição Federativa do Brasil (BRASIL, 1988 apud CHEQUIM, 2018), tais como: IPVA e IPI em automóveis utilitários. Para que isso ocorra, o Código Nacional de Trânsito Brasileiro regulamentou que não há necessidade de o carro ser adaptado, mas o comprador deve apresentar os documentos necessários para a aquisição do veículo. No caso de pessoas com deficiência física e mobilidade reduzida, os carros devem ser adaptados. Vale destacar que os automóveis das pessoas com deficiência devem manter o selo de identificação no vidro dianteiro. A Lei nº. 9.394/1996 (BRASIL, 1996 apud CHEQUIM, 2018) se refere à importância do uso do cão-guia, o que se relaciona ao direito dos deficientes visuais de transitar e se locomover em todo o território brasileiro, inclusive em viagens nacionais e internacionais. De acordo com o art. 8º da Lei nº. 7.853/1989 (BRASIL, 1989 apud CHEQUIM, 2018), será punido com pena de reclusão de 1 a 4 anos e multa: a) quem recusar, suspender, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a matrícula de aluno com deficiência; b) impedir o acesso de pessoa com deficiência a qualquer cargo público; c) negar trabalho ou emprego ao deficiente; d) recusar, retardar, diminuir ou dificultar a internação hospitalar ou deixar de prestar assistência médico-hospitalar ou ambulatorial, quando possível à pessoa com deficiência (CHEQUIM, 2018). 15 Ao longo dos séculos, os deficientes foram adquirindo seus direitos e também deveres para a convivência em uma sociedade justa e igualitária. Em resumo, a Constituição Federal regulamenta o direito à igualdade de todos, bem como o direito ao acesso e à permanência das pessoas com e sem deficiência em espaços públicos e privados, além do direito à vida e à segurança. Para tanto, é importante a colaboração, a participação e o envolvimento do Estado e dos cidadãos. Assim, de fato, é possível construir uma sociedade justa, igualitária e sem discriminação (CHEQUIM, 2018). 4 MANIFESTAÇÕES PSÍQUICAS E COMPORTAMENTAIS Aceitar a situação frustradora é um processo penoso. O sujeito utiliza-se de modos primitivos para lidar com a angústia. Afasta-se da realidade, como forma de não sofrer, refugiando-se, inicialmente, no mundo da fantasia, seja no todo ou em parte (FREUD, 1911 apud ALVIM; RODRIGUES, 2015). A religião apresenta-se também como uma forma de proteção contra esta realidade. É uma barganha, uma forma de lidar com o sofrimento. Neste sentido, ocorre muitas vezes a crença do sujeito em acreditar no poder do destino, que aparece como uma entidade julgadora, punitiva. O sujeito considera que cometeu um pecado e será punido pelas forças do Destino ou dos Deuses. Dessa forma pode ocorrer uma resignação por parte do indivíduo que, por acreditar ser merecedor desta “Punição Divina”, nada faz para ressignificar a perda. Apesar das reações frente a uma perda não serem padronizadas e sim de acordo com a singularidade de cada um, do modo como o indivíduo constituiu a sua existência, há algumas características psíquicas comuns possíveis de pontuar. É possível observar no sujeito estados frequentes de depressão, insatisfação, insegurança, reações de agressividade vinculadas à frustração, bem como reações substitutivas de ansiedade, impaciência, hiperatividade, inveja, vulnerabilidade, mau humor e sentimentos de menos- valia (ALVIM; RODRIGUES, 2015 ). Ele busca algumas vezes isolamento, retirando-se do convívio social. Defesas presentes como a negação, compensação, projeção, regressão, formação reativa, evidenciam o excesso de angústia que o ego apresenta, buscando nas defesas uma forma de aliviar a tensão, amenizando o conflito interno (ANGEROMI-CAMOM, 2003, apud ALVIM; RODRIGUES, 2015). 16 De acordo com Alvim e Rodrigues (2015), definir enfermidade não significa simplesmente identificar as modificações dos sinais físicos, as sequelas, prognósticos, etc. Implica também, e principalmente, uma reflexão sobre a mudança de sua identidade e as questões emocionais. Sabe-se que um indivíduo, diante de uma enfermidade incapacitante, tem que modificar estilos de vida, porém não é tão simples assim, pois nesta troca está a constituição de uma personalidade que estará deixando para o resto da vida. A crise da identidade é uma das principais dificuldades que o indivíduo enfrenta. Há perdas de referenciais significativos para o sujeito, como sua rotina de vida, autonomia, etc. Essa dificuldade de autonomia, de ter que depender do outro para concluir determinadas tarefas, pode suscitar no sujeito sentimentos de desconfiança em relação ao meio externo, as pessoas que o cercam. Seu espaço vital não é algo que depende apenas de si, de sua escolha e isso pode afastá-lo das oportunidades normais de realização, uma vez que a incapacidade representa limites de ação e de expansão pessoal (ALVIM; RODRIGUES, 2015) Como a convivência social torna-se difícil para este indivíduo, o mesmo acaba restringindo-se à família, como uma forma de se sentir protegido deste mundo que agora lhe parece tão diferente. A família, neste processo, desempenha um papel fundamental, uma vez que ela pode ser tanto um facilitador para a reabilitação, a reintegração social e para o reconhecimento de sua limitação, como também um agente de doença à medida que não aceita a situação e desencadeia um processo que vai da culpabilização à superproteção, dificultando ainda mais para o indivíduo o seu novo estado físico (ALVIM; RODRIGUES, 2015). De acordo com Alvim e Rodrigues (2015), para os referidos autores é importante salientar que os aspectos emocionais descritos até aqui variam de indivíduo para indivíduo. As reações às perdas vão depender do significado, da representação que o sujeito atribui à parte afetada. Assim não é a incapacidade o aspecto mais significativo numa frustração, e sim o que ela representa. 17 4.1 Imagem corporal e autoconceito Ao longo da história, a relações sociais das pessoas com o deficiente eram determinadas de acordo com as características econômicas, sociais e culturais de cada época, refletindo crenças, valores e ideologias (FRANCO; DIAS, 2005. apud ALVIM; RODRIGUES, 2015). A estrutura das sociedades marginalizava-os, privando-os dequalquer tipo de liberdade. Nas últimas décadas, movimentos nacionais e internacionais têm promovido e implementado a inclusão nas escolas regulares com motivos fundamentados em critérios de justiça e igualdade. A maior conquista para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) foi a Conferência Mundial de Educação Especial, em Salamanca, na Espanha, em 1994, estabelecendo que as crianças com deficiência devam ser incluídas em uma Educação para Todos, em seu âmbito mais amplo (MACIEL, 2000, apud ALVIM; RODRIGUES, 2015). Porém, mesmo com a ampliação da atitude de inclusão, fortalecida pela Declaração de Salamanca, na Espanha, em 1994, não foi suficiente para determinar o fim da marginalização dos indivíduos com deficiência. Como em toda mudança, há resistências. Portanto, o processo exige a reavaliação de antigas crenças e uma reflexão profunda sobre o papel da educação e da sociedade em geral, enquanto formadora de cidadãos (ALVIM; RODRIGUES, 2015). A construção da imagem corporal compreende processos psicológicos, emocionais, fisiológicos, cognitivos e sociais na relação do indivíduo com o meio, sendo um aspecto importante da identidade pessoal (TAVARES, 2003, apud ALVIM; RODRIGUES, 2015). É um processo único, subjetivo porque envolve fatores como o ambiente em que ele está inserido, seus valores, suas crenças, suas marcas singulares. A imagem corporal é um dos aspectos psicológicos associados à aceitação do próprio corpo, resultando em uma autoestima positiva ou negativa, dependendo da forma como o indivíduo se vê. O autoconceito é influenciado por muitas variáveis, segundo Sisto e Martinelli (2004, apud ALVIM; RODRIGUES, 2015) como a família, idade, meio social, raça, gênero e aspectos físicos. As bases que mais predominam são as sociais e as relacionais. O autoconceito social é a percepção que o indivíduo tem sobre o quanto as pessoas gostam 18 dele, da própria percepção acerca da aceitação social. Desta forma, é de suma importância considerar o complexo universo de influências que o indivíduo recebe e as interações que ele estabelece com o meio ambiente, seja o social, familiar ou escolar. 5 ASPECTOS PSICOLOGICOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: AUTOESTIMA, AUTONOMIA E PROCESSOS SUBJETIVOS Fonte: universal.org De acordo com Maia (2010), a autoestima constitui a forma de como cada pessoa se aceita, seus pensamentos e sentimentos sobre sua imagem corporal, emoções e sociedade, enquanto a autonomia corresponde ao desempenho de atividades. O processo subjetivo consiste em determinar os principais aspectos afetados pelas deficiências físicas adquiridas, como identidade, autoimagem, emoção, autoestima e motivação. Adquirir uma deficiência física na idade adulta pode levar à redução da autoestima, pois mudanças na aparência física são inicialmente. A nova situação proporciona uma sensação de impotência, que é reforçada pela falta de autonomia completa que já existia antes desta situação. A pesquisa de Maia (2010) enfatiza que tanto homens quanto mulheres possuem estereótipos e papéis sociais e, quando os indivíduos não cumprirem esses padrões, acabam sendo discriminados. Portanto, os 19 adultos com deficiência física podem sentir a própria inadequação e baixa autoestima, formando uma autoimagem negativa. Mudanças na autoimagem podem levar à diminuição da autoestima, o que pode levar a sentimentos de incompletude e impotência, além de preocupações quanto à exposição pública para Maia (2010) as mulheres, a questão da autoestima ainda é mais complexa, porque já existe uma cultura de “corpos perfeitos” que impõem padrões nos quais as mulheres são fortemente impostas Portanto, as mulheres com deficiência física na idade adulta mostram-se mais preocupadas com a aparência física, enquanto os homens que vivenciaram essa situação mostram-se mais preocupados com as atitudes e questões relacionadas ao desempenho. Ressalta-se que a autoestima é inerente às reações positivas dos pares, atribuindo a importância às relações sociais, familiares e afetivas. Portanto, uma sociedade baseada na tolerância pode ajudar esses sujeitos a desenvolverem sua autonomia. Alguns dos aspectos psicológicos vivenciados por adultos com deficiência física são: dificuldades de aceitação; culpa; sentir-se envergonhado por não poder se cuidar ou controlar suas necessidades físicas; sintomas de depressão e ansiedade; constrangimento por uma nova aparência; sentir-se dependente na ajuda de outras pessoas, falta de controle. A deficiência física pode fazer com que o sujeito precise da ajuda de outras pessoas para realizar determinadas atividades, o que pode interferir no bem-estar subjetivo e aumentar a demanda de familiares e amigos para tentarem realizar atividades com maior autonomia. O reconhecimento de si mesmo como pessoa com deficiência está relacionado à interpretação subjetiva do indivíduo sobre a própria condição. Alguns fatores associados a esse reconhecimento são o grau de restrição imposto pela deficiência no desempenho de papéis sociais e atividades diárias. Dessa forma, desenvolver a autonomia tanto quanto possível pode promover ativamente a reconstrução da autoestima da pessoa. 20 6 ASPECTOS PSICOLOGICOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: SEXUALIDADE Fonte: adcweb.webnode.com.br Quanto a sexualidade do indivíduo com deficiência, a distorção da autoimagem, redução da autoestima e dificuldade de aceitação afetam diretamente na sexualidade. Deficiências físicas adquiridas podem afetar a ejaculação e a fertilidade, o que pode interferir no orgulho, criar problemas emocionais e dificultar os relacionamentos íntimos. A influência direta da deficiência na autoestima e na autoimagem altera a relação do sujeito com seu comportamento sexual. Nesse processo, parece que a falta de autoestima afeta a negação do sexo porque faz com que as pessoas se sintam incapazes de exercê-lo. A falta de uma estrutura emocional segura, pela “perda da beleza” e da independência, fará com que o sujeito negue sua orientação sexual e acabe negando parte de sua identidade (Lima, 2014). De acordo com Lima, (2014), a libido se dá através de meios psicológicos, desta forma, mesmo depois de adquirir uma deficiência física, ele tende a continuar existindo. Porém, muitas vezes, em seu relacionamento emocional, o indivíduo passa a ignorar esse desejo e se concentrar apenas nos aspectos físicos prejudicados. Adultos com deficiência física podem buscar a adaptação para encontrar novas formas de sentir prazer e vivenciar o comportamento sexual, sendo que o processo de reabilitação é fundamental para isso e para a restauração da autoestima e da autoimagem. Por meio 21 da adaptação, o indivíduo pode encontrar novas formas de se sentir prazer, pois algumas pessoas com deficiência física perdem a sensibilidade de seus órgãos e genitais. Enquanto algumas pessoas podem perder o interesse pelo sexo devido à falta de sensibilidade, outras podem descobrir que sua vida sexual melhorou depois de encontrar estratégias para vivenciá-la. Portanto, o processo de reabilitação é muito importante para reduzir danos psicológicos e buscar experiência adaptativa. Além do desempenho do comportamento sexual tornar-se mais complicado, o que pode ser seguido por uma sensação de solidão e inadequação, o preconceito e o estigma sobre a deficiência podem afetar a vida sexual, as relações sociais e a autoestima das pessoas com deficiência por considerarem que as experiências sexuais dessas pessoas são anormais, e uma manifestação sutil desses estigmas pode ser vista nos sentimentos de consternação, pena, porque os deficientes os interpretam como incompetência. A frustração, o sofrimento das pessoas com deficiência está relacionado aos constantes questionamentos sobre como vivenciam o comportamento sexual, quaissão seus desejos e se estão sexualmente satisfeitas. É importante que o indivíduo não se prive de suas relações afetivas e sexuais para reconstruir sua autoestima, e ressaltar que as relações familiares e sociais também podem contribuir nesse sentido, ajudando-o a perceber que é uma pessoa digna de felicidade. 22 7 ASPECTOS PSICOLOGICOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E AS RELAÇÕES SOCIAIS, FAMILIARES E AFETIVAS Fonte: semprefamilia.com.br Os relacionamentos sociais, familiares e emocionais incluem a importância dos relacionamentos para as pessoas com deficiências físicas. A autoestima e a autoimagem são importantes para a construção de laços sociais e emocionais. Para os adultos, a deficiência física restringe o convívio social, o que pode levar à fragilidade emocional, portanto, as relações familiares podem ajudar a reconstruir a autoconfiança. Após a deficiência, ocorre o dano social, pois o sujeito tem seu potencial alterado em vários aspectos de forma repentina, e as relações familiares e sociais servem como uma espécie de suporte social, para que o indivíduo possa perceber que é amado e que pertence a um grupo. Portanto, o suporte social é essencial para o bem-estar subjetivo e a qualidade de vida, pois são promovidos por um ambiente com suporte emocional, estratégias de enfrentamento e capacidades de adaptações. O preconceito e o estigma contra as deficiências físicas tornaram-se barreiras para a aceitação social e têm um impacto negativo no estabelecimento e manutenção dos vínculos das pessoas com deficiência. Além disso, o preconceito pode causar sofrimento psíquico. Portanto, tornar-se e permanecer convertido em público torna-se um desafio pessoal preocupante. Como a exposição pode gerar vergonha, as pessoas tentam 23 esconder sua deficiência para evitar serem desaprovadas. O preconceito muitas vezes se camufla na forma de pena e compadecimento pelos deficientes, atribuindo-o a pensamentos de incompetência e inutilidade. As pessoas sempre expressaram compaixão, pena ao se depararem com pessoas com deficiência, antes de adquirirem tal condição, ao verem o deficiente, os próprios indivíduos atribuíam as mesmas expressões, e hoje percebem os quão esses sentimentos são perturbadores. Isso reforça a própria vivência da deficiência e faz com que a pessoa resulte em seus valores e na forma como lidam com as diferenças físicas. Na sociedade, a deficiência é vista como uma limitação, que faz com que o indivíduo se sinta triste, lento para se locomover e difícil para se cuidar, por isso precisa da ajuda e da compaixão dos outros. Essa é uma ideia equivocada, pois as pessoas com deficiência têm ideias e necessidades diferentes umas das outras (Martins e Barsaglini, 2010). Em consonância com Martins e Barsaglini (2010), correspondendo às expectativas do grupo na realização das atividades, está também relacionado ao conceito de reconhecer-se como deficiente, pois, no processo de busca da inclusão social, as pessoas se empenham em realizar essas expectativas para suprir a “carência” apresentada pelas limitações físicas. Daí a importância da família nesse quesito, pois o processo de reabilitação também é dirigido aos familiares, no sentido de cuidar e auxiliar no desenvolvimento da autonomia e promover as mudanças que devem ocorrer no seio familiar para uma adaptação com sucesso. As relações familiares podem ser benéficas para os indivíduos, mas também podem ser prejudiciais, uma vez que a superproteção pode eventualmente interferir na reintegração na sociedade. Ainda de acordo com Martins e Barsaglini (2010), as tecnologias assistivas (como próteses, cadeiras de rodas e adaptadores) geram descréditos social. Estudos descobriram que muitas pessoas não usam esses itens com frequência por diversos motivos, como dificuldade de adaptação, constrangimento em usá-los em público e, geralmente, porque ficam desapontadas com o uso do dispositivo. Portanto, o sucesso da tecnologia assistiva não está apenas relacionado à função de atender às necessidades estabelecidas, mas também à conformidade individual. 24 8 ASPECTOS PSICOLOGICOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: PROFISSÃO Fonte: asidbrasil.org.br Quando o assunto é profissão, trata-se de manter-se ocupado e sentir-se útil, envolve bem-estar e satisfação no trabalho. A profissão não é aplicável apenas ao ambiente de trabalho, mas envolve também a identificação pessoal, e as atividades passam a abranger quem é a pessoa. Fato é que, adquirir uma deficiência pode mudar a história de vida de uma pessoa, pois altera as condições de vida. Embora tenha um significado negativo no início, existem alguns fatores que podem afetar de forma positiva na superação com relação a sociedade. De modo geral, quando as pessoas com deficiência buscam retornar ao mercado de trabalho, esse retorno normalmente ocorre em agências terceirizadas com atividades ocupacionais semelhantes, mas com menor remuneração econômica, ou em instituições informais. A perda das atividades profissionais após a deficiência pode afetar o aspecto psicológico, pois limitam e dificultam os sonhos profissionais, e aqueles que apresentam limitações financeiras costumam ter menos oportunidades de inserção no mercado de trabalho. Isso pode ser devido às limitações físicas da deficiência e, geralmente, porque eles têm baixa qualificação profissional e, portanto, raramente recebem oportunidades de emprego. Acontece que as pessoas com deficiência geralmente são colocadas em cargos operacionais, o que acaba restringindo ainda mais o retorno ao trabalho. 25 O trabalho ajuda as pessoas com deficiência a sentirem o seu valor e a promover o bem-estar, melhorando assim a qualidade de vida. No processo de adaptação à nova situação, algumas pessoas relutam em retornar ao trabalho por motivos físicos e se sentem impotentes. Ter uma ocupação, fará com que esse indivíduo se sinta profissional e útil, ocupação traz distração, consciência de existência, independência financeira, felicidade e satisfação, realização de vida e valor pessoal. O trabalho evita que as pessoas se sintam ociosas, permite que tenham uma atividade planejada, é recompensado financeiramente e pode se sentir motivado. Além de tudo isso, o emprego contribui para o desenvolvimento da autonomia e melhora a autoestima. Em muitos casos, ter um emprego não tem nada a ver com a necessidade de se sentir útil, mas com a necessidade de melhorar as suas condições de vida e de sua família. Quando o trabalho é visto como um lugar onde os indivíduos se realizam e se identificam com seus próprios interesses e valores, as funções desempenhadas podem produzir felicidade, e também trazer sentido à vida das pessoas. Adquirir uma deficiência física pode fazer com que uma pessoa deixe o trabalho por um período de tempo, o que pode criar uma importante sensação de perda. Algumas pessoas se preocupam com as reações de outros funcionários da empresa, às dificuldades de adaptação e à redução da produtividade pessoal. A deficiência não deve ser vista como um obstáculo para o desempenho das atividades laborais e deve ser avaliada e ajustada de acordo com cada necessidade (Carvalho-Freitas, 2018). Nesse caso, ter uma carreira pode ser vista como uma oportunidade de recomeçar e dar um novo significado à experiência. O trabalho faz parte do projeto de vida das pessoas, em alguns casos de deficiência física adquirida permanece inalterado após a aquisição, enquanto em outros casos, a relação com a ocupação pode ser alterada devido ao seu impacto. O desempenho da função laboral também está relacionado à identificação como pessoa com deficiência. Algumas pessoas são legalmente reconhecidas como deficientes, por exemplo, quando recebem uma pensão, mas não se sentem deficientes; aqui se verifica a vivência dessa situação, na qual a pessoa transformaa experiência em vivencia, e identifica-se como deficiente ou não. 26 9 A CONTRIBUIÇÃO DO PSICÓLOGO NA INCLUSÃO Da antiguidade à modernidade, houve um processo do abandono, da institucionalização e da integração à tolerância, que ampliou o público-alvo e passou a incluir não só os deficientes, mas também outros públicos-alvo da educação especial no âmbito escolar. Os avanços nas relações entre a sociedade e a deficiência têm contribuído para conquistas no campo da educação, em quatro momentos característicos desse processo: extinção, isolamento / institucionalização, integração e tolerância. Os dois primeiros correspondem ao período pré-científico, onde a dimensão mental é considerada uma explicação de condições médicas e psicológicas diferentes das condições normais assumidas. A partir do século XIX, durante o período científico, outros dois momentos foram identificados como marcos na defesa e promoção integral dos direitos humanos. De acordo com Mendes (2006), A característica da inclusão é a proposta de aplicar ao campo da educação um movimento global denominada inclusão social, o que significa construir um processo bilateral em que os excluídos e a sociedade busquem cooperação para a igualdade de oportunidades para todos, ou seja, construir uma sociedade democrática em que cada um conquiste a própria cidadania, respeite a diversidade e aceite e reconheça politicamente as diferenças O ambiente político do Brasil é propício à tolerância, mas as regulamentações legais não são suficientes para garantir o sucesso da educação escolar, pois isso requer mudanças de atitudes e melhor orientação para o desenvolvimento de novas práticas. A escola desenvolve práticas que contribuem para a inclusão e devem se adequar à sociedade para acolher a todos, o que é considerado relevante. Para que todos possam aprender, interagir e ter oportunidades iguais no ambiente escolar, mudanças estruturais, incluindo a remoção de barreiras físicas e organização de suporte humano e de ferramentas são essenciais. A inclusão amplia o público-alvo da educação especial, antes restrito às pessoas com deficiência, e promove importantes discussões sobre como a sociedade pode melhor organizar-se para oferecer um processo de ensino-aprendizagem que atenda às necessidades de todos os alunos. As escolas inclusivas têm como 27 foco a flexibilidade curricular e metodológica visando à aceitação das diferenças dos alunos (MAGALHÃES, CARDOSO, 2011 apud FONSECA et al, 2018). No entanto, a educação dos alunos que constituem o público-alvo da educação especial deve ter o mesmo significado e objetivo. Para eles, os espaços interativos estão relacionados à promoção do conhecimento escolar e ao desenvolvimento pessoal. Portanto, a escola deve estar atenta aos conhecimentos escolares, às habilidades sociais e à formação de indivíduos sensíveis à diversidade. O processo inclusivo escolar enfatiza a importância de criar condições para um processo de ensino que beneficie todos os alunos. Nesse caso, escolas e psicólogos educacionais passaram a atuar sobre os requisitos de inclusão e projetos voltados para esse novo ambiente. No entanto, a educação de alunos que são inclusos ou não como público-alvo da educação especial devem possuir os mesmos significados e sentidos. Para ambos, os espaços de interação são relevantes para promoção do conhecimento escolar e do desenvolvimento pessoal. A escola deve atentar-se, assim, para os conhecimentos escolares, para a sociabilidade e para a formação de indivíduos sensíveis à diversidade. O processo de inclusão escolar enfatizou a relevância da promoção de condições de um processo de ensino-aprendizagem que beneficie a todos os alunos. Diante desse cenário, o psicólogo escolar e educacional passou a atuar em demandas oriundas da inclusão e em projetos que focalizem esse novo contexto. Atualmente segundo Barroso (2017), a Psicologia figura como um dos campos teóricos que mais enunciam saberes sobre o desenvolvimento humano. Na perspectiva do desenvolvimento encontramos Piaget, que com seu arcabouço teórico defendia, dentre outras coisas, a primazia do desenvolvimento para a construção da aprendizagem. Em sua compreensão, a criança evolui respeitando fases do desenvolvimento, a partir de um trajeto maturacionista e evolucionista, ainda nesse sentido é possível salientar que, o processo de assimilação, acomodação e equilibração compõe uma estrutura para o desenvolvimento centrado no conhecimento. Com um entendimento um pouco diferenciado, a perspectiva de Henri Wallon, traz para a teorização sobre o desenvolvimento, a importância da motricidade, bem como dos elementos afetivos, em sua teorização mais ampla destaca fundamentos do humanismo, quando propõe para educação a teoria da pessoa completa. Em sua teoria, que em 28 muitos aspectos pode ser compreendida como uma teoria humanista, Wallon dá indícios de aspectos sociais relativos a acolhida e a empatia, ainda que não os destaquem sobremaneira. O pressuposto de Vygotsky, do mesmo modo, assevera um caráter evolucionista no desenvolvimento humano. Este, entretanto, traz elementos diferentes e importantes para o contexto da teorização sobre o desenvolvimento. Nessa perspectiva, o desenvolver-se se dá por meio da aprendizagem, ocorrendo uma importante inversão nos pressupostos piagetianos, da interação qualificada e da mediação simbólica (BARROSO, 2017). A psicologia escolar caracteriza-se pela atuação do psicólogo nas instituições educacionais. Este profissional tem o papel de analisar e intervir nas relações escolares, sobretudo na relação professor-aluno, de maneira a combater dificuldades e entraves ao processo de ensino-aprendizagem e possibilitar um melhor rendimento acadêmico do aluno (CASSIN et al., 2007 apud SILVA et al, 2018). Conforme SILVA et al (2018), sua prática deve ser orientada, portanto, principalmente para a relação de ensino-aprendizagem do aluno, isto é, sua escolarização, de maneira a possibilitar o seu desenvolvimento cognitivo, humano e social. Sua atuação, no entanto, em grande parte é ainda ambígua, pois foi importado do contexto clínico, o que resultou em uma atuação centralizada no “fracasso escolar” dos alunos, em suas dificuldades, não potencialidades, o que dificultou uma maior compreensão da mesma área, a qual poderia possibilitar uma atuação mais ampla que poderia levar a um desenvolvimento constante dos alunos em suas peculiaridades, não fechá-los em um laudo isolado. A partir do início do século XX a inserção da psicologia escolar no Brasil torna-se mais concreta, embora seja ligada ao movimento higienista e as escolas normalistas e, assim, a uma prática médico-educacional (PEREIRA; NETO, 2003; MENDES, 2010; CASSIN et al., 2007 apud SILVA et al, 2018). Portanto, até a primeira guerra a educação servia apenas para uma elite brasileira e uma pequena parte da classe média; até a década de vinte a taxa de analfabetismo chegava a 80% da população brasileira (MENDES, 2010 apud SILVA et al, 2018). Deste modo, até o começo do século XX a prática educacional era pautada por uma restrição sendo direcionada apenas para parte da população. A Psicologia, ligada à 29 aplicação de testes psicológicos e a classificação do aluno como apto ou não a inserção na escola, ficava conivente com práticas excludentes de parte da população, como a oriunda de classes populares. Esses alunos, quando entravam finalmente na escola tinham seu caráter cultural e social negado, deixando-se aos problemas de aprendizagens explicações de etiologias de cunho orgânico ou sociocultural. Assim, o social era reduzido ao individual (SILVA et al, 2018). Como destaca Souza (2010, p. 4 apud SILVA et al, 2018): A análise do fracasso escolar tem como um de seus principais argumentos, o fato de que os problemas de aprendizagemincidem maciçamente sobre as crianças das classes populares e é sobre elas que durante décadas recaem as explicações a respeito dos chamados problemas de aprendizagem: ou porque apresentam problemas psicológicos, ou biológicos, ou orgânicos ou mais recentemente, sócioculturais; bem como analisando o caráter ideológico e repleto de equívocos presentes nessas explicações, resultado de concepções preconceituosas a respeito do pobre e da pobreza no Brasil. E em segundo lugar, ao conviver durante um longo período numa escola pública e analisar os processos que constituem o cotidiano escolar, pôde demonstrar que existe um complexo universo de questões institucionais, políticas, individuais, estruturais e de funcionamento presentes na vida diária escolar que conduzem ao seu fracasso, mantendo os altos índices de exclusão, principalmente das crianças e adolescentes das camadas mais pobres de nossa sociedade. Portanto, a prática histórica da própria Psicologia fez com que seus processos, quando feitos, fossem ligados a uma Psicologia acrítica e medicalizante. A prática da Psicologia só ganha aspecto legal, como propriamente dito, a partir de 1962 (SILVA et al, 2018). Na ditadura militar a Psicologia fica omissa e grande parte de sua atuação e seu papel se reduz principalmente à prática clínica. Somente a partir da década de 1980, sobretudo com trabalhos da Maria Helena Souza Patto e outros psicólogos é que a psicologia escolar passa por uma autocrítica (CASSIN et al., 2007; SOUZA, 2010 apud SILVA et al, 2018). Em comum, os trabalhos dessa época se focalizaram no fato de que a psicologia escolar pouco contribuía até o momento para a qualidade do ensino- aprendizagem, além de ser conivente com a segregação e a prática discriminatória presentes nos colégios, sobretudo das crianças das classes populares. Por conseguinte, depois dessa autocrítica, a psicologia escolar passa a mudar seu objeto de estudo e procura destacar o seu papel social e os pressupostos teóricos que norteiam a área. Esse novo objeto de estudo, segundo Souza (2010), se referiria ao 30 processo de escolarização, não os problemas de aprendizagem, tal como era. Juntamente com o início da crítica na psicologia Escolar a categoria nasce junto a um movimento da década de 80 que é a Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial (ABPEE), que publica periodicamente ensaios e artigos que fomentam a discussão da Educação Especial e, portanto, nasce dentro de uma mudança de paradigma já presente inclusive na educação. Entre os outros contribuintes para essa mudança de paradigma, se tem a Constituição de 1988 e a aprovação das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996. Em comum, ambas as leis permitiram que o conceito de pluralidade e diversidade fosse introduzido, além dos avanços nos direitos sociais e humanos, da descentralização do poder e a autonomização da educação (SILVA et al, 2018). Para Silva et al (2018), incluir uma criança no contexto escolar representa, mais que receber uma criança em um determinado espaço físico, significa possibilitar o acolhimento, bem como experiências de mediação qualificada para que a pessoa possa de fato ter garantido seu direito ao aprender, e assim, desenvolver-se. Para Gomes e Souza (2011 apud SILVA et al, 2018), a figura de um profissional psicólogo escolar, é de grande importância nesta dificuldade de inclusão de crianças especiais, sendo que ser psicólogo no Brasil é apreciar as obrigações psicológicas de todos os sujeitos envolvidos, independente de classes sociais, habilidades físicas ou mentais, em soluções de risco ou situação abastadas, e proteger os direitos ao atendimento de suas necessidades e à promoção de seu desenvolvimento, sem discriminação ou intolerância de qualquer tipo e grau. Segundo Silva et al (2018), a perspectiva em questão postula que a aprendizagem propicia o desenvolvimento, portanto, garantir o direito à aprendizagem passa a ser uma das formas de garantir o desenvolvimento da criança. Entretanto, embora pareça uma questão de fácil resolução, para que a aprendizagem ocorra, torna-se necessário que haja um ambiente propício, condições externas que mobilizem o envolvimento, o diálogo e a mediação. Entendemos que, nesse entendimento, muitos estudos, sobre o desenvolvimento ou não, acabam por militar em torno da questão do acesso e da qualidade do ambiente. 31 A inclusão escolar é algo amplo, isso pois, toda a escolarização já é em si uma forma de inclusão para a inclusão social, nesse sentido, o processo de incluir crianças independente de sua especificidade é uma demanda importante a ser focalizada. Há nesse contexto uma série de disputas que evocam uma compreensão acerca das mudanças sociais necessárias para que a inclusão possa se tornar uma realidade e outra que, frente as pessoas e as garantias da dignidade humana que se mostram necessárias, opta por não adiar para um outro tempo o enfrentamento urgente das desigualdades vivenciadas por minorias. No campo educacional, muitas divergências são notadas quando os termos inclusão e integração são enunciados (SILVA et al, 2018). 10 INTERVENÇÃO DO PSICÓLOGO JUNTO À PESSOA COM DEFICIÊNCIA, SUA FAMÍLIA E COMUNIDADE Sabe-se que o primeiro grupo do qual os seres humanos fazem parte é a família, ou seja, será pela e na família que o sujeito começará a ter seu primeiro convívio social e, além disso, dará início a sua aprendizagem e consequentemente começará a se desenvolver (VYGOTSKY, 2010 apud SILVA et al, 2018). Essa primeira socialização leva à produção de muitos elementos da personalidade do indivíduo, abrindo possibilidade para a formação de uma consciência individual e autônoma (CHEROGLU; MAGALHÃES, 2016 apud SILVA et al, 2018). Desde o início, a pessoa é atravessada pelo olhar, pelas expectativas, intenções e significações do outro e isso diz muito de nós, dos sentidos particulares que temos (dimensão intrapsicológica) que é possível a partir dos significados compartilhados socialmente (dimensão interpsicológica) (apud SILVA et al, 2018). Para a pessoa com deficiência não é diferente, pois elas não nascem sabendo que são deficientes ou que têm alguma dificuldade, seja em qual dimensão for. Ela se reconhecerá assim na medida em que se insere na cultura e apreende os referenciais de normalidade soberanos. Assim, podemos compreender que em nossa sociedade há um “padrão” de normalidade culturalmente estabelecido, o que pode levar à estigmatização, discriminação e exclusão. As famílias que têm um membro com algum tipo de deficiência, seja ela física ou de outra ordem, sofrem, junto com seu familiar deficiente, os efeitos do 32 processo de estigmatização, discriminação e exclusão. Diante disso, autores definem algumas etapas atravessadas pelos pais desde a descoberta de que o filho apresenta uma deficiência até a possível adaptação familiar: Choque inicial de descoberta; Negação do diagnóstico; Busca por “curas milagrosas”; Luto; Depressão; Aceitação e Adaptação (GLAT, 2004 apud SILVA et al, 2018). A vivência de cada uma dessas fases é atravessada por conflitos, contradições, sentimentos ambivalentes e dificuldades nos pais, evidenciando obstáculos que se interpõem ao atendimento das necessidades especiais da criança com deficiência no que concerne ao seu desenvolvimento físico, psicológico, afetivo e social (SILVA et al, 2018). Vygotsky parte da ideia que o desenvolvimento se dá com a aproximação entre o homem e a cultura, sendo através da relação com o outro que acontece a conversão do processo da dimensão social em dimensão individual (MOLLON, 1995 apud SILVA et al, 2018). Segundo Vygotsky (2008 apud SILVA et al, 2018), o sujeito é construído pelo outro, pela linguagem, pelas relações dialéticas nas dimensões intrapsicológica e interpsicológica. Destarte, não tem como acontecero desenvolvimento se não houver o outro nesta mediação, este outro que tem a função de realizar uma atividade/ação colaborativa para a promoção do desenvolvimento. Dessa maneira, a constituição do homem e as funções psicológicas superiores, eminentemente humanas, somente são possíveis por conta da interação que é estabelecida com o outro (TULESKI; EIDT, 2016 apud SILVA et al, 2018). Também é resultante do outro o que Vygotsky (1997 apud SILVA et al, 2018) chama de deficiência secundária, esta entendida como uma produção social que inferioriza, estigmatiza, marginaliza, exclui e, portanto, gera impedimentos para a promoção do desenvolvimento. Encontramos, no âmbito social, ações que podem incapacitar, de diversas maneiras, aqueles que já trazem em seu organismo biológico certa deficiência, de modo que os aspectos sociais podem ser mais limitantes do que os aspectos genéticos e fisiológicos. Nos estudos da defectologia, Vygotsky (1997 apud SILVA et al, 2018) dá ênfase às possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento, ainda que haja uma deficiência primária. Trabalha a ideia de compensação, conceito importante e que expressa a 33 reorganização da pessoa frente a uma dada limitação, de maneira que o seu desenvolvimento continue sendo possível e que ela tenha garantida a sua constituição como sujeito atuante no mundo. Essa reorganização interna se produz a partir dos estímulos sociais. Há diversos casos em que a família contribui para a instalação de deficiências secundárias, não oportunizando que o mecanismo de compensação aconteça. Para isso, é importante uma abordagem que não negue o quadro do paciente, mas possibilite o desenvolvimento de suas potencialidades, ainda que as deficiências existam. Dá-se ênfase ao esclarecimento de que os pais rompam com condutas de superproteção, pois isso poderá prejudicar o desenvolvimento, como também limitar a criança em certas vivências. Dessa forma, destacam-se algumas formas de atuação do psicólogo no acolhimento e orientação familiar: entendimento de como os familiares significam a deficiência; Pádua (2013 apud SILVA et al, 2018) alerta para que o profissional da Psicologia compreenda a dinâmica familiar. Também sendo relevante ter sensibilidade de perceber os sentidos atribuídos para cada um em particular do que é conviver com uma pessoa com deficiência, pois dirá das angústias e potencialidades que os familiares terão enquanto consciência, dar atenção a esse tipo de percepção dos familiares é necessário por ser um processo que influenciará na convivência familiar, assim como nos vínculos. É importante também que o psicólogo identifique suas histórias de vida, principalmente a história da relação familiar, pois cada família é única assim como cada sujeito, dessa maneira nestes casos o suporte psicológico tem como essência a compreensão do profissional para com a história de cada família, considerando o ambiente, a cultura, os afetos, a motivação, dentre outros (PADUA, 2013 apud SILVA et al, 2018). O suporte psicológico irá ajudar no esclarecimento de dúvidas acerca das limitações e possibilidades de desenvolvimento da criança com deficiência; ajudar na ressignificação da família quanto à possível estigmatização; na orientação das condutas com vistas a promover o desenvolvimento da autonomia, autoconfiança e a independência da criança para que possa desenvolver suas capacidades e será pautado na responsabilidade de promover uma visão transformadora acerca das condições objetivas da criança (SILVA et al, 2018). 34 Glat (1999 apud SILVA et al, 2018) considera importante que: O profissional também oriente as famílias sobre outras alternativas de atendimentos adequados a depender da queixa do sujeito. Deve ressaltar também a relevância da inclusão da criança, principalmente nos âmbitos sociais, escola e família, pois são as instituições que contribuem para o desenvolvimento global saudável. De acordo com Silva et al (2018), compreende-se que o âmbito social apresenta fortes limitações para o desenvolvimento das pessoas que possuem algum tipo de deficiência, o que constitui a deficiência secundária. Esse fator leva a pensar no quanto a sociedade precisa ser repensada e transformada de modo a garantir o desenvolvimento de todos, sem discriminação. Se a deficiência secundária for ressaltada, é provável que a compensação das limitações não aconteça. Portanto, a orientação familiar é importante para facilitar o enfrentamento das angústias e medos parentais que emergem no processo de significação da deficiência da criança, a fim de que a família não produza barreiras, simbólicas e reais, para o desenvolvimento do sujeito. A formação acadêmica do psicólogo deve habilitá-lo para intervir nesses casos, oferecendo um atendimento humanizado aos pais e familiares, visando fortalecê-los para oferecer proteção integral às crianças com deficiência (SILVA et al, 2018). 35 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVIM, J. L; RODRIGUES, V. C. A relevância dos aspectos emocionais do deficiente físico para a inclusão no ambiente de trabalho. [S. l.], p. 153-162, out. 2015. BARROS, L. de O. Avaliação psicológica de pessoas com deficiência: Reflexões para práticas Inclusivas. [S. l.], p. 34-48, maio 2019. BARROSO, A. I; et al. As contribuições da psicologia educacional para a inclusão escolar. [S. l.], p. 21, maio 2019. BRASIL. Decreto n. 3298 (20 de dezembro). Regulamenta a Lei n. 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Brasília-DF. 1999. BRASIL. Lei n. 13.146 (6 de julho). 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