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1 Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC VI MORFOFISIOLOGIA E GENÉTICA BACTERIANA ▪ Descrever a morfologia bacterina e a caracterização das bactérias ▪ Identificar as bactérias que fazem parte do microbiota dos tratos grastrointestinal, respiratório, urogenital, pele e as bactérias patogênicas ▪ Descrever a fisiologia, o crescimento e a reprodução bacteriana ▪ Descrever as diferentes vias metabólicas do metabolismo das bactérias ▪ Descrever os mecanismos de transferência gênica e sua importância na variabilidade das espécies bacterianas ------------------------------------------------------------------------------- ▪ Descrever a morfologia bacterina e a caracterização das bactérias Células de animais, plantas e fungos são eucariotas (do grego “núcleo verdadeiro”), enquanto as bactérias, arquebactérias (archae) e algas azuis-esverdeadas são procariotas (do grego “núcleo primitivo”). Os procariotos compõem um vasto grupo de organismos unicelulares muito pequenos, que incluem as bactérias e as arqueias. A maioria dos procariotos faz parte do grupo das bactérias. Embora bactérias e arqueias pareçam semelhantes, a sua composição química é diferente. As milhares de espécies de bactérias são diferenciadas por muitos fatores, incluindo a morfologia (forma), composição química, necessidades nutricionais, atividades bioquímicas e fontes de energia. As bactérias podem ser classificadas pelos seus aspectos macro e microscópico, pelas características de crescimento e propriedades metabólicas, pela sua antigenicidade e, finalmente, pelo seu genótipo. Quanto às formas, ou seja, quanto a morfologia, as bactérias são agrupadas em 3 grupos gerais: 1 – Cocos (esféricas): é o grupo de bactérias mais homogêneo em relação ao tamanho. Os cocos tomam denominações diferentes de acordo com o seu arranjo. Os cocos geralmente são redondos, mas podem ser ovais, alongados ou achatados em uma das extremidades. Quando os cocos se dividem para se reproduzir, as células podem permanecer ligadas umas às outras. Os cocos que permanecem em pares após a divisão são chamados de diplococos; aqueles que se dividem e permanecem ligados uns aos outros em forma de cadeia são chamados de estreptococos. Aqueles que se dividem em dois planos e permanecem em grupos de quatro são conhecidos como tétrades. Os que se dividem em três planos e permanecem ligados uns aos outros em grupos de oito, em forma de cubo, são chamados de sarcinas. Aqueles que se dividem em múltiplos planos e formam agrupamentos em formato de cacho de uva ou lâminas amplas são chamados de estafilococos. 2 – Bacilos: se dividem somente ao longo de seu eixo curto; portanto, existe um menor número de agrupamentos de bacilos que de cocos. A maioria dos bacilos se apresenta como bastonetes simples, chamados de bacilo único. Os diplobacilos se apresentam em pares após a divisão, e os estreptobacilos aparecem em cadeias. Alguns bacilos possuem a aparência de “canudinhos”. Outros possuem extremidades cônicas, como charutos. Outros ainda são ovais e tão parecidos com os cocos que são chamados de cocobacilos. O nome “bacilo” tem dois significados em microbiologia. Como acabamos de utilizar, a palavra bacilo se refere a uma forma bacteriana. Quando escrito em latim, em letra maiúscula e em itálico, refere-se a um gênero específico. Por exemplo, a bactéria Bacillus anthracis é o agente do antraz. As células bacilares geralmente formam cadeias longas e emboladas. 2 Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC VI 3 – Espiraladas: as bactérias espirais têm uma ou mais curvaturas; elas nunca são retas. As bactérias que se assemelham a bastões curvos são chamadas de vibriões. Outras, chamadas de espirilos, possuem forma helicoidal, como um saca-rolha, e corpo bastante rígido. Já outro grupo de espirais tem forma helicoidal e flexível; são chamados de espiroquetas. Ao contrário dos espirilos, que utilizam um apêndice externo para se mover, semelhante a uma hélice e chamado de flagelo, as espiroquetas movem-se através de filamentos axiais, os quais lembram um flagelo, mas estão contidos dentro de uma bainha externa flexível. Existem também procariotos em forma de estrela e retangulares. A forma de uma bactéria é determinada pela hereditariedade. Geneticamente, a maioria das bactérias é monomórfica; ou seja, mantém uma forma única. No entanto, várias condições ambientais podem alterar a sua forma. Se a forma é alterada, a identificação torna-se difícil. Além disso, algumas bactérias, como Rhizobium e Corynebacterium, são geneticamente pleomórficas, ou seja, elas podem apresentar muitas formas, não apenas uma. A estrutura de uma célula procariótica típica é: Ao estudar a estrutura de uma bactéria, didaticamente, vê- se as estruturas externas à parede celular, a parede celular em si e as estruturas internas a ela. ESTRUTURAS EXTERNAS À PAREDE CELULAR Entre as possíveis estruturas externas da parede extracelular dos procariotos estão o glicocálice, os flagelos, os filamentos axiais, as fímbrias e os pili. ✓ Glicocálice: Glicocálice (que significa revestimento de açúcar) é o termo geral usado para as substâncias que envolvem as células. O glicocálice bacteriano é um polímero viscoso e gelatinoso que está situado externamente à parede celular. Em grande parte, ele é produzido dentro da célula e secretado para a superfície celular. Se o glicocálice estiver organizado de maneira definida e acoplado firmemente à parede celular, recebe o nome de cápsula; se estiver desorganizado e sem qualquer forma frouxamente acoplada à parede celular, recebe o nome de camada limosa. O glicocálice pode ser de natureza polissacarídica (um ou vários tipos de açúcares como galactose, ramnose, glicana, etc.) ou polipeptídica (ácido glutâmico). O glicocálice desempenha papel importante na infecção, permitindo que a bactéria patogênica se ligue a tecidos específicos do hospedeiro. Acredita- se que o glicocálice possa proteger as bactérias da dessecação. 3 Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC VI ✓ Flagelos: são longos apêndices filamentosos que realizam a propulsão da bactéria. As bactérias que não possuem flagelos são chamadas de atríquias (sem projeções). Os flagelos podem ser peritríquios (distribuídos ao longo de toda a célula) ou polares (em uma ou ambas as extremidades da célula). No caso de flagelos polares, eles podem ser monotríquios (um único flagelo em um polo da célula), lofotríquios (um tufo de flagelos saindo de um polo da célula) ou anfitríquios (flagelos em ambos os polos da célula). Um flagelo é constituído de três porções básicas: filamento, gancho e corpo basal (que ancora o flagelo à parede celular e à membrana plasmática). ✓ Filamentos Axiais: As espiroquetas são um grupo de bactérias que possuem estrutura e motilidade exclusivas. Uma das espiroquetas mais conhecidas é o Treponema pallidum, o agente causador da sífilis. As espiroquetas se movem através de filamentos axiais, ou endoflagelos, feixes de fibrilas que se originam nas extremidades das células, sob uma bainha externa, e fazem uma espiral em torno da célula. Os filamentos axiais, que estão ancorados em uma extremidade da espiroqueta, possuem uma estrutura similar à dos flagelos. A rotação dos filamentos produz um movimento da bainha externa, que impulsiona as espiroquetas em um movimento espiral. Esse tipo de movimento é semelhante ao modo como um saca-rolhas se move através da rolha. Esse movimento tipo saca-rolhas provavelmente permite que bactérias, como o T. pallidum, movam-se efetivamente pelos fluidos corporais. ✓ Fímbrias e Pili: são estruturassemelhantes a pelos, presentes na superfície externa das bactérias; elas são compostas de subunidades proteicas (pilina). As fímbrias podem ser distinguidas morfologicamente dos flagelos, pois são menores em diâmetro (3 a 8 nm versus 15 a 20 nm) e geralmente não são estruturas enroladas. Em geral, várias centenas de fímbrias são dispostas em arranjos peritríquios (uniformes) sobre toda a superfície da célula bacteriana. Elas podem apresentar um tamanho de até 15 a 20 μm, ou, muitas vezes, o comprimento da própria célula. As fímbrias promovem a adesão a outras bactérias ou ao hospedeiro (denominações alternativas são adesinas, lectinas, evasinas e agressinas). As pontas das fímbrias podem conter proteínas (lectinas) que se ligam a açúcares específicos (p.ex., manose). Como fator de adesão (adesina), as fímbrias são um importante fator de virulência para a colonização e infecção do trato urinário por E. coli, Neisseria gonorrhoeae e outras bactérias. Os pili F (pili sexuais) se ligam a outras bactérias e são um canal de transferência de grandes segmentos de cromossomos bacterianos entre bactérias. Esses pili são codificados por um plasmídeo (F). PAREDE CELULAR A parede celular é uma estrutura rígida que está presente em quase todas as bactérias e localiza-se acima da membrana citoplasmática. Ela contém polímeros complexos conhecidos como peptidioglicanos, que são responsáveis pela sua forma e rigidez. A parede celular impede que a célula estoure em decorrência do grande turgor, atua como uma barreira de proteção contra determinados agentes químicos e físicos externos e funciona como suporte de antígenos somáticos bacterianos. Ela também serve como ponto de ancoragem para os flagelos. Clinicamente, a parede celular é importante, pois contribui para a capacidade de algumas espécies causarem doenças e também por ser o local de ação de alguns antibióticos. Além disso, a composição química da parede celular é usada para diferenciar os principais tipos de bactérias. As bactérias podem ser divididas em dois grandes grupos, com base na capacidade de suas paredes celulares fixarem o corante violeta cristal: as Gram-positivas (que coram em roxo) e as Gram-negativas (que coram em vermelho). A parede celular de bactérias Gram-positivas é espessa, de múltiplas camadas, que consiste principalmente em peptidoglicano. Outros polímeros, tais como ácidos lipoteicóicos e polissacarídeos, também podem estar presentes nessa camada. Nas bactérias Gram-negativas o peptideoglicano constitui uma camada basal delgada, sobre a qual se encontra outra camada, denominada membrana externa que é composta por lipoproteínas, fosfolipídios, proteínas e lipopolissacarídeos. 4 Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC VI O processo de coloração de Gram consiste basicamente em tratar bactérias sucessivamente com cristal violeta, lugol, álcool e fucsina. O cristal violeta e o lugol penetram tanto nas bactérias Gram-positivas quanto nas Gram-negativas, formando um complexo de cor roxa. O tratamento com álcool é a etapa diferencial; nas Gram-positivas, o álcool não retira o complexo cristal violeta + lugol, pois a sua ação desidratante faz com que a espessa camada de peptideoglicano torne-se menos permeável, retendo o corante. Nas Gram- -negativas, devido à pequena espessura da camada de peptideoglicano, o complexo corado é extraído pelo álcool, deixando as células descoradas. O tratamento com fucsina não altera a cor roxa das Gram- positivas, ao passo que as Gram-negativas descoradas pelo álcool tornam-se avermelhadas. O processo de coloração de Gram é usado para classificar as bactérias em Gram-positivas ou Gram-negativas, conforme fixam ou não o corante. Essa classificação é importante, pois as bactérias Gram-positivas são mais sensíveis à penicilina e à sulfa. Este processo de coloração é um dos mais importantes métodos realizados em laboratório de microbiologia. MEMBRANA PLASMÁTICA A membrana plasmática (citoplasmática) é uma estrutura fina, situada no interior da parede celular, revestindo o citoplasma da célula. A membrana plasmática dos procariotos consiste principalmente em fosfolipídeos, que são as substâncias químicas mais abundantes na membrana, e proteínas. Sua espessura é da ordem de 7,5 nanômetros e é composta principalmente por uma bicamada de fosfolipídeos (20 a 30%) e proteínas (50 a 70%); desempenha importante papel na permeabilidade seletiva da célula. A membrana é o sítio da atividade enzimática específica e do transporte de moléculas para dentro e para fora da célula. Ela difere da membrana plasmática das células eucarióticas por: • Não apresentar esteróides em sua composição; • Ser sede de numerosas enzimas do metabolismo respiratório das bactérias (mesmas funções das cristas mitocondriais); • Controlar a divisão bacteriana através dos mesossomos. Os mesossomos são invaginações da membrana plasmática que podem ser simples dobras ou estruturas tubulares ou vesiculares. Alguns autores associam ainda aos mesossomos o valor funcional das mitocôndrias, atribuindo a eles o papel na respiração bacteriana. As membranas plasmáticas também são importantes na digestão de nutrientes e na produção de energia. As membranas plasmáticas das bactérias contêm enzimas capazes de catalisar as reações químicas que degradam os nutrientes e produzem ATP. ESTRUTURAS INTERNAS À MEMBRANA PLASMÁTICA Citoplasma → É composto pela porção fluida e contém substâncias dissolvidas e partículas, tais como ribossomos, e material nuclear ou nucleóide, rico em DNA. Inclusões citoplasmáticas. Inclusões → são formações não vivas existentes no citoplasma, como grãos de amido, gotas de óleo, chamadas de grânulos, e podem servir como fonte de material de reserva ou energia Nucleóide e plasmídeos → As células bacterianas não contêm o núcleo típico das células animais e vegetais. O cromossomo bacteriano consiste em um cromossomo único e circular e ocupa uma posição próxima ao centro da célula. Pode ser chamado de nucleóide. Várias bactérias apresentam também moléculas de DNA extracromossomal, Destruição da membrana plasmática por agentes antimicrobianos Uma vez que a membrana plasmática é vital para a célula bacteriana, não é surpreendente que muitos agentes antimicrobianos exerçam seus efeitos neste sítio. Além das substâncias químicas que danificam a parede celular e, assim, expõem indiretamente a membrana à lesão, muitos compostos danificam especificamente as membranas plasmáticas. Esses compostos incluem certos alcoóis e compostos de amônio quaternário, usados como desinfetantes. Através da degradação dos fosfolipídeos de membrana, um grupo de antibióticos, conhecido como polimixinas, produz o vazamento do conteúdo intracelular e a posterior morte celular. 5 Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC VI denominadas plasmídeos, as quais são geralmente circulares, contendo muitas vezes genes que conferem características adaptativas vantajosas ao microrganismo. Ribossomos → Todas as células eucarióticas e procarióticas contêm ribossomos, onde ocorre a síntese de proteínas. As células com altas taxas de síntese proteica, como aquelas que estão crescendo ativamente, possuem um grande número de ribossomos. O citoplasma de uma célula procariótica contém dezenas de milhares de ribossomos, o que confere ao citoplasma uma aparência granular. Os ribossomos são compostos de duas subunidades, cada qual consistindo em proteína e de um tipo de RNA, denominado RNA ribossomal (rRNA). Os ribossomos procarióticos diferem dos ribossomos eucarióticos no número de proteínas e de moléculas de rRNA que eles contêm; eles também são um pouco menores e menos densos que os ribossomos das células eucarióticas. Vários antibióticos atuaminibindo a síntese proteica nos ribossomos procarióticos. Antibióticos, como a estreptomicina e a gentamicina, fixam-se à subunidade 30S e interferem com a síntese proteica. Outros antibióticos, como a eritromicina e o cloranfenicol, interferem na síntese proteica pela fixação à subunidade 50S. Devido às diferenças nos ribossomos procarióticos e eucarióticos, a célula microbiana pode ser destruída pelo antibiótico, ao passo que a célula do hospedeiro eucariótico permanece intacta. ▪ Identificar as bactérias que fazem parte do microbiota dos tratos grastrointestinal, respiratório, urogenital, pele e as bactérias patogênicas A expressão “microbiota normal” refere-se à população de microrganismos que habita a pele e as mucosas dos indivíduos normais e sadios. Esses microrganismos, referidos como microbiota normal, que vivem dentro e sobre os seres humanos superam em cerca de 10 vezes o número de células somáticas e germinativas humanas somadas. Os genomas desses microrganismos simbiontes são coletivamente definidos como microbioma. Pesquisas têm mostrado que a “microbiota normal”, fornece a primeira linha de defesa contra patógenos microbianos, auxilia na digestão, desempenha um papel na degradação das toxinas e contribui para a maturação do sistema imunológico. Mudanças na microbiota normal ou na estimulação da inflamação por esses comensais podem causar doenças, tais como as doenças intestinais inflamatórias. A pele e as membranas mucosas sempre abrigam uma variedade de microrganismos que podem ser classificados em dois grupos: •Microbiota residente, que consiste em tipos relativamente fixos de microrganismos encontrados com regularidade em determinadas áreas e em certa idade, e que, quando perturbada, recompõe-se prontamente; e •Microbiota transitória, que consiste em microrganismos não patogênicos ou potencialmente patogênicos, os quais permanecem na pele ou nas mucosas por horas, dias ou semanas, vindos do meio ambiente, não causando doença e nem se estabelecendo permanentemente na superfície. Em geral, os membros da microbiota transitória são de pouca importância, enquanto a microbiota residente normal permanece intacta. Entretanto, se a microbiota residente for perturbada, os microrganismos transitórios poderão colonizar e proliferar-se, ocasionando doença. No corpo humano encontra-se grande quantidade de microrganismos, os quais se distribuem em diferentes órgãos e tecidos, podendo-se encontrar dez vezes mais células microbianas que células humanas. A distribuição dos microrganismos depende de vários fatores, tais como: umidade, acidez, temperatura e disponibilidade de nutrientes. Esses microrganismos influenciam o sistema imunológico, a resistência aos patógenos e o aproveitamento dos alimentos. Na microbiota humana os microrganismos podem ser mutualistas, comensais e oportunistas. •Mutualistas são os microrganismos que protegem o hospedeiro, pois produzem nutrientes importantes e colaboram para o crescimento e desenvolvimento do sistema imunológico. •Comensais são os microrganismos que mantêm associações sem benefícios ou malefícios detectáveis, sendo estas associações neutras. •Oportunistas são os microrganismos que causam doenças em indivíduos com o sistema imune comprometido devido a vários fatores, tais como nos casos de: infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida humana, terapia imunossupressora de transplantados, radioterapia, quimioterapia anticâncer, queimaduras extensas ou perfurações das mucosas. O organismo humano dispõe de mecanismos de defesa contra a patogênese bacteriana decorrente da microbiota humana. Porém, alguns microrganismos podem agir como oportunistas, sendo assim, a microbiota constitui-se em reservatório de bactérias patogênicas e estas podem invadir os tecidos do hospedeiro causando doenças graves, mas apenas no caso de imunodeficiência transitória ou persistente. Ver Pgs 27 a 46 do SANAR 6 Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC VI ▪ Descrever a fisiologia, o crescimento e a reprodução bacteriana - Fisiologia: é composta pelos mecanismos do metabolismo das bactérias. Todas as células necessitam de um suprimento constante de energia para sobreviver. Essa energia é derivada da degradação controlada de vários substratos orgânicos (carboidratos, lipídios e proteínas). Esse processo de quebra de um substrato e sua conversão em uma forma utilizável de energia é conhecido como catabolismo. A energia produzida pode então ser utilizada na síntese dos constituintes celulares (paredes celulares, proteínas, ácidos graxos, ácidos nucleicos), um processo conhecido como anabolismo. Juntos, esses dois processos, que são correlacionados e intimamente integrados, são denominados metabolismo intermediário. Em vez de liberar toda a energia da glicose na forma de calor (como para combustão), as bactérias degradam a glicose em passos discretos e capturam a energia em formas químicas e eletroquímicas utilizáveis. A energia química ocorre tipicamente na forma de uma ligação de fosfato de alta energia, no trifosfato de adenosina (ATP) ou trifosfato de guanosina (GTP), ao passo que a energia eletroquímica é armazenada por redução (adição de elétrons) da nicotinamida- adenina dinucleotídeo (NAD) ao NADH ou da flavina-adenina dinucleotídeo (FAD) para FADH2 . O NADH pode ser convertido por uma série de reações de oxidação-redução em gradientes de potencial elétrico (Eh) e químico (pH) através da membrana citoplasmática. A energia eletroquímica pode ser utilizada pela ATP sintase para propulsionar a fosforilação do ADP em ATP e também mover a rotação de flagelos e o transporte de moléculas através da membrana. Bactérias podem produzir energia a partir da glicose por — em ordem de aumento de eficiência — fermentação, respiração anaeróbica (ambas ocorrem na ausência de oxigênio) ou respiração aeróbica. A respiração aeróbica é capaz de converter completamente os seis carbonos da glicose em CO2 e água (H2O) mais energia, enquanto os produtos da fermentação são compostos de dois ou três carbonos. Para uma discussão mais completa do metabolismo, é recomendado consultar um livro de bioquímica. Respiração Aeróbica Respiração Anaeróbica Via das Pentoses Fosfato: A via final de metabolismo da glicose aqui apresentada é conhecida como via das pentoses fosfato, ou desvio de hexose monofosfato. A função dessa via é gerar precursores dos ácidos nucleicos e poder redutor na forma de nicotinamida- adenina dinucleotídeo fosfato (forma reduzida) (NADPH) para uso na biossíntese. - Crescimento - Reprodução Bacteriana ▪ Descrever as diferentes vias metabólicas do metabolismo das bactérias O crescimento bacteriano exige uma fonte de energia e as matérias-primas para a produção de proteínas, estruturas e membranas que compõem e fornecem energia para a célula. As bactérias devem obter ou sintetizar os aminoácidos, carboidratos e lipídios utilizados como componentes básicos da célula. Os requisitos mínimos para o crescimento são: uma fonte de carbono e nitrogênio, uma fonte de energia, água e vários íons. Os elementos essenciais incluem os componentes das proteínas, dos lipídios e dos ácidos nucleicos (C, O, H, N, S, P), íons importantes (K, Na, Mg, Ca, Cl), e componentes de enzimas (Fe, Zn, Mn, Mo, Se, Co, Cu, Ni). O ferro é tão importante que muitas bactérias excretam proteínas especiais (sideróforos) para concentrar ferro a partir de soluções diluídas, e, por outro lado, nossos corpos sequestram o ferro para reduzir sua disponibilidade como uma forma de proteção. Alguns micro-organismos (p.ex., Clostridium perfringens, que causa gangrena gasosa) não são capazes de crescer em presença de oxigênio. Tais bactérias são denominadas anaeróbios obrigatórios. Outros organismos (p.ex., Mycobacteriumtuberculosis, que causa tuberculose) necessitam da presença de oxigênio molecular para seu metabolismo e crescimento, sendo, portanto, denominados aeróbios obrigatórios. A maioria das bactérias, no entanto, cresce tanto na presença quanto na ausência de oxigênio. Essas bactérias são denominadas anaeróbios facultativos. Bactérias aeróbicas produzem as enzimas superóxido dismutase e catalase, que são capazes de destoxificar o peróxido de hidrogênio e os radicais superóxido, subprodutos tóxicos do metabolismo aeróbico. Bactérias que dependem exclusivamente de moléculas inorgânicas como fonte de energia e carbono (dióxido de carbono [CO2] são denominadas autotróficas (litotróficas), enquanto muitas bactérias e células animais que necessitam de fontes orgânicas de carbono são conhecidas como heterotróficas (organotróficas). Laboratórios de microbiologia clínica distinguem bactérias a partir da sua capacidade de crescer frente a diferentes fontes de carbono (p.ex., lactose) e dos produtos finais de seu metabolismo (p.ex., etanol, ácido lático, ácido succínico). O metabolismo das bactérias da flora normal é otimizado para o pH, concentração iônica, e tipos de alimento presentes no seu meio ambiente, dentro do corpo. Tal como 7 Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC VI no rúmen de uma vaca, as bactérias do trato gastrintestinal (GI) decompõem os hidratos de carbono complexos em compostos simples e produzem ácidos graxos de cadeia curta (p.ex., butirato, propionato, lactato, acetato) como subprodutos da fermentação. O ácido lático e os ácidos graxos de cadeia curta que são produzidos podem diminuir o pH luminal e são absorvidos e metabolizados mais rapidamente. As alterações na dieta, água, ou saúde, antibióticos e certas drogas podem alterar o ambiente e influenciar o metabolismo e composição dos micróbios no trato GI. Os probióticos são bactérias que podem melhorar a função da flora normal. ▪ Descrever os mecanismos de transferência gênica e sua importância na variabilidade das espécies bacterianas A genética é a ciência da hereditariedade. Ela inclui o estudo dos genes: como eles são replicados, expressos e TRANSFERIDOS de uma geração a outra. A expressão gênica bacterina pode ser regulada por óperons, os quais podem ser indutíveis ou repressíveis. A alteração de genes bacterianos e/ou da expressão gênica pode causar doenças, impedir o tratamento de doenças ou ser manipulada para o benefício humano. Muitas doenças bacterianas são causadas pela presença de proteínas tóxicas que danificam os tecidos humanos. Essas proteínas tóxicas são codificadas por genes bacterianos. TRANSFERÊNCIA GENÉTICA E RECOMBINAÇÃO Ao falar-se de transferência genética é necessário falar, também, de recombinação genética, a qual consiste na troca de genes entre duas moléculas de DNA para formar novas combinações de genes em um cromossomo. Assim como a mutação, a recombinação genética contribui para a diversidade genética de uma população, que é a fonte da variação evolutiva. Nos organismos altamente evoluídos, como nos micróbios atuais, a recombinação provavelmente é mais benéfica do que a mutação, já que a recombinação apresenta uma menor probabilidade de destruir a função de um gene e pode reunir combinações de genes que permitem ao organismo realizar uma nova função importante. A transferência genética pode ser vertical ou horizontal: A transferência vertical de genes ocorre quando os genes são passados de um organismo para seus descendentes. As plantas e os animais transmitem seus genes por essa forma de transmissão. As bactérias podem passar seus genes não somente para seus descendentes, mas também lateralmente, para outros micróbios da mesma geração. Esse fenômeno é conhecido como transferência horizontal de genes. A transferência horizontal de genes entre bactérias ocorre de diversas formas. Em todos os mecanismos, a transferência envolve uma célula doadora, que doa parte de seu DNA total a uma célula receptora. Uma vez transferida, parte do DNA do doador geralmente é incorporada ao DNA do receptor; o restante é degradado por enzimas celulares. A célula receptora que incorpora o DNA doador em seu próprio DNA é denominada recombinante. A transferência de material genético entre as bactérias não é um evento frequente, podendo ocorrer em apenas 1% ou menos de toda uma população. - Transformação em bactérias: os genes são transferidos de uma bactéria para outra como DNA “nu” em solução. A transformação ocorre naturalmente entre poucos gêneros de bactérias, incluindo Bacillus, Haemophilus, Neisseria, Acinetobacter e determinadas linhagens dos gêneros Streptococcus e Staphylococcus. Mesmo que só uma pequena porção do DNA de uma célula seja transferida ao receptor, a molécula que deve atravessar a parede e a membrana celular do receptor ainda é muito grande. Quando uma célula receptora se encontra em um estado fisiológico em que pode captar o DNA doador, é descrita como competente. A competência resulta de alterações na parede celular que a tornam permeável a moléculas grandes de DNA. 8 Iôgo P. Torres, Med FAP | 2° Período, UC VI - Conjugação em bactérias: a conjugação é mediada por um tipo de plasmídeo, um fragmento circular de DNA que se replica de modo independente do cromossomo da célula. Entretanto, os plasmídeos diferem dos cromossomos bacterianos, pois os genes que eles transportam normalmente não são essenciais para o crescimento da célula sob condições normais. Os plasmídeos responsáveis pela conjugação são transmissíveis entre as células durante a conjugação. A conjugação difere da transformação em dois aspectos principais. Primeiro, a conjugação requer o contato direto célula a célula. Segundo, as células em conjugação geralmente devem ser de tipos opostos de acasalamento; as células doadoras devem transportar o plasmídeo, e as células receptoras normalmente não. Em bactérias gram- negativas, o plasmídeo transporta genes que codificam a síntese de pili sexuais. As células bacterianas gram-positivas produzem moléculas aderentes de superfície que fazem as células entrarem em contato direto umas com as outras. No processo de conjugação, o plasmídeo é replicado durante a transferência de uma cópia do filamento simples do DNA plasmidial para o receptor, onde o filamento complementar é sintetizado. A conjugação é utilizada para mapear a localização de genes em um cromossomo bacteriano. - Transdução em bactérias: um terceiro mecanismo de transferência genética entre bactérias é a transdução. Nesse processo, o DNA bacteriano é transferido de uma célula doadora a uma célula receptora dentro de um vírus que infecta bactérias, denominado bacteriófago, ou fago. A transdução pode ser generalizada ou, também, pode ser especializada – quando apenas determinados genes bacterianos são transferidos.
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