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apostila formação do territorio brasileiro

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FACULDADE ÚNICA 
DE IPATINGA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sidelmar Alves da Silva Kunz 
 
Doutor em Educação pela Universidade de Brasília (UnB) (2019). Mestre em Geografia pela 
mesma instituição (2014). Especialista em Ontologia e Epistemologia pela Faculdade 
Unyleya (2016). Especialista em Supervisão Escolar pela Faculdade do Noroeste de Minas 
Gerais (2009). Graduado em Geografia (licenciatura) e Pedagogia pela Universidade 
Estadual de Goiás (UEG). Professor da UAB/UnB, na modalidade a distância. Possui mais de 
uma centena de publicações científicas (artigos em revistas, Anais, livros, capítulos, dentre 
outros) e de materiais didáticos. Pesquisador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas 
Educacionais Anísio Teixeira (INEP). 
FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO 
 
1ª edição 
Ipatinga – MG 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL 
 
Diretor Geral: Valdir Henrique Valério 
Diretor Executivo: William José Ferreira 
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos 
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira 
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa 
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Bruna Luiza Mendes Leite 
 Carla Jordânia G. de Souza 
 Guilherme Prado Salles 
 Rubens Henrique L. de Oliveira 
Design: Brayan Lazarino Santos 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Maria Luiza Filgueiras 
 Taisser Gustavo de Soares Duarte 
 
 
 
 
 
© 2021, Faculdade Única. 
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem 
Autorização escrita do Editor. 
 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2921 
 
 
 
 
 
NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA 
Rua Salermo, 299 
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG 
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 
www.faculdadeunica.com.br
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
Menu de Ícones 
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo 
aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. 
Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um 
com uma função específica, mostradas a seguir: 
 
 
 
São sugestões de links para vídeos, documentos científi-
co (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou 
links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e 
Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo 
abordado. 
 
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações 
importantes nas quais você deve ter um maior grau de 
atenção! 
 
São exercícios de fixação do conteúdo abordado em 
cada unidade do livro. 
 
São para o esclarecimento do significado de 
determinados termos/palavras mostradas ao longo do 
livro. 
 
Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões 
citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, 
seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
SUMÁRIO 
 
PROJETO COLONIAL DE OCUPAÇÃO TERRITORIAL ................................ 7 
1.1 FEITORIAS ................................................................................................................ 7 
1.2 CAPITANIAS HEREDITÁRIAS ................................................................................. 17 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 30 
SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO TERRITORIAL .............................................. 34 
2.1 PLANTATION .......................................................................................................... 34 
2.2 ENTRADAS E BANDEIRAS ...................................................................................... 41 
2.2.1 As bandeiras de apresamento ................................................................... 45 
2.2.2 As bandeiras de prospecção ..................................................................... 46 
2.2.3 Sertanismo de contrato ............................................................................... 46 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 51 
ESTRATÉGIAS DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO .................. 55 
3.1 A PECUÁRIA .......................................................................................................... 55 
3.2 A MINERAÇÃO ..................................................................................................... 63 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 71 
CONFIGURAÇÕES TERRITORIAIS DO IMPÉRIO E DA PRIMEIRA 
REPÚBLICA ............................................................................................... 75 
4.1 AS ILHAS ECONÔMICAS E O COMÉRCIO EXTERIOR ......................................... 75 
4.2 CONSOLIDAÇÃO DAS FRONTEIRAS .................................................................... 80 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 84 
POLÍTICAS TERRITORIAIS NO SÉCULO XX ............................................... 89 
5.1 INTEGRAÇÃO NACIONAL ................................................................................... 89 
5.2 UNIDADE TERRITORIAL .......................................................................................... 96 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 103 
TERRITÓRIO BRASILEIRO NO SÉCULO XXI ............................................. 107 
6.1 DIVERSIDADE SOCIOESPACIAL ......................................................................... 107 
6.2 DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL ..................................................................... 116 
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 128 
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 132 
REFERÊNCIAS ......................................................................................... 133 
 
 
 
UNIDADE 
01 
UNIDADE 
04 
UNIDADE 
02 
UNIDADE 
03 
UNIDADE 
05 
UNIDADE 
06 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
CONFIRA NO LIVRO 
 
Tem como enfoque uma breve discussão sobre o contexto sócio-
histórico das feitorias que a compreende sua importância para o 
desenvolvimento da vida política local tanto da colônia quanto da 
metrópole. E as capitanias hereditárias como a primeira divisão 
territorial do Brasil na qual os donatários ficam responsáveis pela 
ocupação, colonização e desenvolvimento. 
Discorre sobre a plantation como um fundamento econômico-
social da colonização portuguesa que determinava o foco na 
produção agrícola e proibia qualquer atividades manufatureiras na 
colônia. Enquanto a discussão sobre entradas e bandeiras 
ressaltam que as expedições interioranas contribuíram para o 
poder de Portugal no continente americano e para a sertanização 
do Brasil. 
 
 
O enfoque é a pecuária em vista de lugar secundário na 
economia colonial e com o passar do tempo obtém destaque na 
agenda econômica do país. E a mineração que se destacou no 
cenário internacional e intensificou as iniciativas de adentramento 
no interior do Brasil. 
É abordado sobre as ilhas econômicas e o comércio exterior que 
propiciaram sobretudo o desenvolvimento econômico e a 
ocupação territorial do Brasil. E a consolidação das fronteiras a 
partir do conceito de identidade e diferença que contribuíram 
para a formação de fronteiras geopolíticas. 
 
 
Destaca-se a questão da integração nacional pelo viés do 
processo de urbanização que foram desigualmente alterando de 
natureza e composição. Ao passo que é refletido sobre a unidade 
territorialno Brasil que nos remete aos aspectos socioculturais, 
políticos e econômicos que demarcam esse lugar, assim como seu 
lugar no contexto global. 
Ressalta a temática diversidade socioespacial a partir do contexto 
da globalização que marca a atual expansão do capitalismo. 
Assim sendo, é preciso refletir sobre os deslocamentos das 
populações através das fronteiras internacionais e seus 
enfrentamentos diante das desigualdades sociais ora em busca 
dos mercados tradicionais de emprego, ora na inserção ao tecido 
social dos países que os recebem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
PROJETO COLONIAL DE 
OCUPAÇÃO TERRITORIAL 
 
 
1.1 FEITORIAS 
A partir da visão de Cruz (2015), manifestamos que as feitorias eram 
entrepostos comerciais de origem europeia instalados em territórios estrangeiros. 
Além disso, pontuamos que a sua origem remonta às instalações ocorridas na 
Europa Ocidental durante a Idade Medieval e que o seu uso foi amplo em terras 
dominadas, as quais eram consequências de conquistas coloniais. 
 
 
 
Ao pensarmos na estrutura e no funcionamento desse modelo de 
organização, assinalamos que o seu formato se alterava em função dos objetivos e 
das realidades políticas, econômicas e culturais que estavam inseridos. Nesse 
tocante, podia ser de uma casa com instalações módicas até propostas 
arquitetônicas que comportassem distintos meios de suporte para o atendimento 
de demandas militares ou de oficinas para o trabalho com os navios. 
Aliás, havia situações em que tais feitorias funcionavam como suporte para a 
atividade comercial local, bem como para o desenvolvimento de encontros 
espirituais, a atuação judiciária ou a promoção de acordos diplomáticos. Essas 
organizações tinham, fundamentalmente, o papel de armazéns para os produtos 
(CRUZ, 2015). 
À vista disso, notamos que essas feitorias desempenhavam múltiplos papéis 
na economia colonial. Podemos destacar a sua atuação como ponto estratégico 
para o desenvolvimento da vida política local que via na presença da feitoria o 
único sinal claro da existência de uma estrutura administrativa e de representação 
da figura do rei. 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
A burocracia corporativa instalada tinha como foco central a proteção e 
garantia do cumprimento dos objetivos do rei materializados por intermédio das 
intenções dos mercadores e suas propostas de ampliação de lucros a qualquer 
preço, independentemente do esfacelamento do tecido social. 
Esclarece-se que os feitores supostamente defendiam os interesses da nação, 
ou seja, do rei. Portanto, a compreensão de nação na perspectiva portuguesa 
consistia na realização da vontade do rei que, em si, bastava como o único desejo 
válido na Coroa. 
O movimento de conquista e colonização do Brasil exigiu de Portugal 
projetos, investimentos coletivos e articulações para dar conta dessa empreitada. O 
fato é que a circulação de pessoas de diversas origens pelo Atlântico gerava 
incertezas para os planos de Portugal. 
 
 
 
Muitas nações estiveram presentes na América em virtude do processo de 
colonização, dentre elas, preocupava os Portugueses a circulação de expedições 
realizadas na costa brasileira por parte de espanhóis, franceses, ingleses e 
holandeses. Como exemplo, podemos citar que o espanhol Vicente Yanez Pinzon 
esteve presente na região do atual Amazonas antes da chegada da esquadra de 
Pedro Alvarez Cabral no território de Porto Seguro (SANTOS, 2015). Cabe ressaltar 
que: 
 
[...] a conquista e colonização da América é uma janela do 
deslocamento do eixo comercial que ligava o Mediterrâneo ao Mar 
do Norte e, ao final do século XV a partir do desenvolvimento da 
navegação, se amplia para o Atlântico, circunavegando o Estreito 
de Gibraltar, a Península Ibérica e constituindo um novo equilíbrio 
comercial na Europa (SANTOS, 2015, p. 35). 
 
Embora se cultue a ideia de que Portugal não deu o devido valor para as 
terras conquistadas na América, a realidade apresenta uma outra nuance porque 
nos primeiros trinta anos da colonização foram realizadas expedições com navios e 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
armadas portuguesas que tinham o propósito claro de aprofundar os seus 
conhecimentos geográficos e assegurar o domínio do território conquistado no 
litoral brasileiro (América portuguesa). Essas movimentações representaram 
importantes feitos náuticos e cartográficos para o contexto histórico daquela 
época (DOMINGUES, 2012). 
 
Figura 1: Perspectiva portuguesa 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/2RU22qE. 
Acesso em: 26 mar. 2021 
 
Entendemos que essa atuação foi crucial para o projeto português de 
conquista do território, haja vista que deu a conformação necessária para o seu 
posicionamento estratégico na América. 
 
Figura 2: Expedições para exploração (período pré-colonial) 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3fZsS8K. 
Acesso em: 26 mar. 2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
As habilidades de negociação comercial e de aprendizagem de outras 
línguas foram nevrálgicas para a manutenção dos negócios portugueses no 
território brasileiro, por mais que essa dinâmica não deve ser romantizada de modo 
que venha a sufocar ou silenciar a luta dos indígenas em face da incursão 
portuguesa em seus territórios. Assinala-se que essas habilidades foram de grande 
relevância ao longo de todo o período colonial, entretanto, quando a diplomacia 
(negociação) e a cruz (igreja) não funcionavam o recurso mais utilizado foi a 
espada (guerra). 
 
Devemos lembrar, em primeiro lugar, que o regime do Padroado da 
Ordem de Cristo foi passado para a Coroa portuguesa em 1515. 
Como as terras brasileiras estavam sob a jurisdição da Ordem de 
Cristo e sendo o Rei de Portugal o seu representante, a cobrança de 
dízimos ficou sob a administração da Coroa, que ao mesmo tempo 
era responsável pela manutenção da Igreja e do clero secular na 
colônia (VASCONCELOS, 2016, p. 51). 
 
O pau-brasil foi o primeiro produto de grande valor a ser comercializado 
pelos europeus na costa brasileira. A Europa já conhecia esse produto: uma 
madeira corante de gênero distinto da asiática. A expedição de Duarte Coelho, 
em 1501, reconheceu a madeira e enviou algumas amostras para Portugal. 
 
Figura 3: Pau-brasil 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3cbSP3P. 
Acesso em: 04 mar. 2021 
 
Essa madeira se concentrava em porções no litoral do Rio de Janeiro, no sul 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
da Bahia, no Recife, no Rio Grande do Norte, na Baía de Todos os Santos 
(Recôncavo Baiano) e no litoral norte da Bahia. Veja o relato de um religioso 
francês da época acerca do significado do pau-brasil: 
 
[...] tal árvore, tendo sido descoberta em nosso tempo, serviu de 
grande alívio aos mercadores, e meio de novas buscas para os que 
tinham o costume de navegar, os quais, chegando a este país, e 
vendo os selvagens adornados com tão belas plumagens de cores 
diversas, e também que esse povo tinha o corpo pintado 
diversificadamente, indagaram qual o meio dessa tintura, e alguns 
lhe mostraram a árvore que chamamos brasil, e os selvagens, 
Orabutan/Araboutã. Essa árvore é muito bela de se olhar e grande, 
com uma casca superficialmente de cor acinzentada, e a madeira 
vermelha por dentro, principalmente o cerne, que é a parte mais 
importante, e que é a carga maior dos mercadores. E direi de 
passagem que, de uma árvore tão grossa que só pode ser abraçada 
por três homens, tira-se somente do cerne e da medula vermelha 
uma porção que corresponde à largura da coxa de um homem 
(THEVET, 2009, p. 173). 
 
 
 
A identificação de selvagens se aproxima da noção cultivada de um 
imaginário de “bárbaros” que se edificou na Europa. Nesse sentido, remonta à 
perspectiva de costumes e valores que demandam alterações para que se possa 
converter essas pessoas ao estágio que se inclui na noção de civilização, a julgar 
pela ideia de que os indígenas estavam em uma etapa anteriorde 
desenvolvimento cultural. 
No período pré-colonial, os portugueses não tinham o conhecimento da 
geografia local, nem sabiam como retirar o pau-brasil das matas: uma árvore que 
chegava a ter 15 metros de altura e seus galhos possuíam espinhos. Diante dessa 
situação de dependência da mão de obra e dos conhecimentos dos indígenas no 
que se refere à execução do corte, preparação e carregamento. Os portugueses 
se viam impulsionados a realizar negociações com os indígenas para viabilizar o 
comércio do pau-brasil, também conhecido pelos tupis como ibirapitanga. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
 
 
Em sintonia com o debate que nos propomos a pensar a formação territorial 
brasileira e assim lançar luz nas feitorias, ponderamos que, no Brasil, foram 
construídas estrategicamente em pontos comerciais ao longo do litoral sobretudo 
como estocagem da madeira pau-brasil para que os navios levassem tais produtos 
à Europa. 
O principal responsável pela feitoria era o feitor: um funcionário designado 
como representante do rei. Dentre as suas responsabilidades estavam a de 
representar o rei nas relações comerciais, comprar mercadorias, fazer negociações 
com os nativos, proteger as mercadorias, cuidar da preservação da qualidade dos 
materiais obtidos, garantir o embarque dos produtos para Portugal, dentre outras. 
Tais movimentações que ocorriam na feitoria eram registradas pelo escrivão e isso 
tornou possível parte considerável do conhecimento que temos na atualidade 
sobre esses mecanismos do período inicial da colonização no Brasil (FERNANDES, 
2008). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
 
 
No litoral brasileiro as feitorias eram construídas, em geral, em ilhas para 
garantir a segurança e tais empreendimentos eram resultantes do conhecimento 
acumulado por Portugal em suas empreitadas na construção de feitorias na África. 
 
Figura 4: Feitorias portuguesas na África 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3fXIny0. 
Acesso em: 26 mar. 2021 
 
Ainda em 1448, foi edificado a primeira feitoria no território africano, no atual 
Senegal. E, em 1482, construído o Castelo de São Jorge da Mina, atual Sudão. 
 
A “descoberta” do Brasil em 1500 levou ao debate da 
intencionalidade ou não da viagem de Cabral e sua frota, que se 
dirigia para as Índias. No ano seguinte, uma expedição exploratória 
foi enviada ao litoral brasileiro e o comércio do pau-brasil foi 
contratado com Fernão de Loronha, com a obrigação de implantar 
feitorias no litoral, ou seja, uma sessão de território a ser administrado 
por particular (VASCONCELOS, 2016, p. 40). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
As feitorias não eram apenas armazéns de produtos, mas também tinham a 
função militar como forte de resistência e de marcação de posição em local 
estratégico. Além disso, era a sede da representatividade do rei em uma 
perspectiva diplomática e as feitorias apresentavam a conotação de cidade. 
 
O mapeamento levado a cabo por Jacques de Vau de Claye, 
durante a expedição francesa capitaneada por Felipe de Strozzi, no 
reconhecimento do litoral brasileiro, traçou um interessante esboço 
do que chamou le vrai pourtraict de Genèvre et du Cap Frie. Datado 
por referência a 1576, tem a descritiva enquadrada pela ótica militar 
de sua finalidade (FERNANDES, 2008, p. 174). 
 
A primeira feitoria construída pelos portugueses foi a de Cabo Frio. Tal 
empreendimento foi fundado por Américo Vespúcio no ano de 1504 e teve como 
primeiro feitor o colono João de Braga. Quando Américo Vespúcio retornou a 
Portugal manteve na localidade o contingente de 24 homens que guarneciam a 
casa construída em barro e telhado de palha. 
Muitos embates aconteceram ao longo da história na área de Cabo Frio, 
inclusive a invasão francesa e a sua consequente criação do Forte de São Mateus. 
A expulsão francesa somente foi efetivada no ano de 1615 por intermédio da ajuda 
de Mém de Sá e do indígena Araribóia. Essa ação vitoriosa foi muito significativa 
historicamente porque reafirmou a presença e os interesses portugueses na região 
(ASSOCIAÇÃO ESTADUAL DE MUNICÍPIOS DO RIO DE JANEIRO , 2017). 
 
Figura 5: Forte de São Mateus, em Cabo Frio-RJ 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3ySnooM. 
Acesso em: 09 fev. 2021 
 
Também ganharam relevância as feitorias de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, 
bem como as das ilhas de Igaraçu e de Itamaracá em Pernambuco. As feitorias 
brasileiras eram rudes e modestas em função dos valores comerciais dos produtos, 
apesar do valor do pau-brasil não se comparar com o valor das especiarias 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
asiáticas. 
Dito isso, assinalamos que entre 1502 e 1504 são construídas as primeiras 
feitorias no Brasil: no litoral de Pernambuco, em Cabo Frio e no atual Rio de Janeiro. 
A feitoria de Cabo Frio foi longeva e ainda em 1526 se noticiava a presença dos 
portugueses. É salutar registrar que a feitoria do Rio de Janeiro foi destruída pelos 
indígenas. Essa afirmação desmistifica a ideia de passividade dos povos indígenas 
em relação ao processo de colonização portuguesa. 
Tais feitorias eram bases de sustentação do império português que se 
expandia e em cada porção anexada ao seu domínio demandava delimitação 
por meio dessas fortalezas. Tal organização garantia a presença do feitor como 
representante do rei, cuja representação exerceu papel relevante nesses anos 
iniciais da colonização do Brasil. 
Portugal foi o pioneiro da expansão marítima europeia dos séculos XV e XVI e 
o que possibilitou isso foi a precoce unificação política, ainda no século XIV, por 
meio da Revolução de Avis. A orientação econômica da época era o 
mercantilismo. O mercantilismo pregava a acumulação de metais diferente do 
feudalismo que a riqueza estava preponderantemente associada à terra (SANTOS; 
MOURA, 2017). 
Cabe ressaltar que a Revolução de Avis se constituiu como fundamental 
para a formação do Estado nacional português. Trata-se de uma revolução crucial 
porque edificou Portugal como o primeiro Estado nacional da história ocidental. 
Teve como antecedente o fato que no século VIII houve a invasão dos muçulmanos 
na Península Ibérica que vieram do norte da África e a ocupação forçou os cristãos 
para o norte da península ibérica. E os reinos cristãos lutaram pela reconquista até o 
século XV, quando os cristãos expulsaram definitivamente os muçulmanos. 
O reino de Portugal nasce no âmago das Guerras de Reconquista da 
Península Ibérica e aí surge uma burguesia crescente. O Mestre de Avis comandou 
a Revolução de Avis que aliado ao povo e a burguesia lutou contra a nobreza do 
reino de Portugal e do reino de Castela. A vitória dos burgueses baseada em 
estratégias defensivas e usos de emboscadas levaram Dom João, Mestre de Avis, 
ao posto de rei do reino de Portugal (SANTOS; MOURA, 2017). 
Tal formação do Estado nacional português marcou uma aliança entre o rei 
e a burguesia, a qual tinha grande valor para as relações comerciais e econômicas 
resultando no financiamento da indústria náutica importante passo para as 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
empreitadas de navegações portuguesas e, por conseguinte, repercutiu na 
colonização do Brasil, de Calicute nas Índias e no domínio da costa africana. Sendo 
assim, essa Revolução de Avis foi nevrálgica para o desenho do projeto de 
colonização portuguesa na América. 
Virgulamos que o capitalismo comercial incorporado por Portugal defendia a 
acumulação de metais como forma de expressão da riqueza. Dessa forma, os 
portugueses estavam ligados ao comércio de especiarias (pimenta, gengibre, 
cardamomo, ervas aromáticas, açafrão, canela, cravo, noz moscada, etc.), cujo 
foco era a promoção de rotas comerciais para chegar às Índias a fim de obter as 
famosas especiarias que encontravam dificuldade para serem cultivadas na Europa 
em razão da não adaptação ao clima. Também alimentavam o ideário de 
conseguir acumular o máximo de metais preciososque tivessem acesso como meio 
de expressão de riqueza e posicionamento privilegiado no cenário internacional 
perante as demais potências europeias. 
Na costa brasileira no início da colonização não se obteve as especiarias 
nem os metais, então, o pau-brasil dava menos lucro que as especiarias indianas. O 
pau-brasil era utilizado para extrair corante vermelho que se utilizava em 
manufaturas têxteis na Inglaterra, além de servir como madeira para a produção 
de móveis. 
A mão de obra para a extração do pau-brasil era indígena e o escambo era 
a relação principal nos 30 primeiros anos da colonização (1500 a 1530). Os 
indígenas retiravam o pau Brasil e levava para as feitorias e depois os portugueses 
embarcavam essa madeira em direção à Europa. Em troca, os indígenas recebiam 
dos portugueses produtos como machado, espelho, vestimentas, dentre outros 
objetos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
Figura 6: Costa do pau-brasil 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3fV2YTu. 
Acesso em: 09 fev. 2021 
 
Nessa época o Brasil tinha entre dois e quatro milhões de indígenas 
distribuídos em mais de mil nações e que falavam mais de 150 idiomas, os quais 
podem ser divididos em dois troncos linguísticos (Tupi no litoral e Macro-Jê no 
Planalto Central). Muitas tribos conheciam a agricultura, no entanto, muitas dessas 
organizações sociais se baseavam na caça e na pesca. 
Essas sociedades não tinham classes, nem se estruturavam na ideia de 
propriedade privada. Pondera-se que na atualidade a população indígena é de 
aproximadamente 0,5% (aproximadamente 900 mil pessoas) da população 
brasileira. Desse modo, as feitorias exerceram um papel fundamental até o ano de 
1532, data da instauração das capitanias hereditárias (CRUZ, 2015). 
 
1.2 CAPITANIAS HEREDITÁRIAS 
Em 1530 se inicia efetivamente a colonização portuguesa no Brasil. É o 
processo de consolidação da conquista territorial. Além disso, a mudança de visão 
acerca do Brasil e, diante das possibilidades de ganhos, Portugal resolve avançar 
em relação a sua presença na colônia. 
As expedições exploradoras e as expedições guarda-costas nos trinta 
primeiros anos, assim como a exploração do pau-brasil e o estabelecimento do 
regime das feitorias que faziam frente à presença de piratas e corsários, motivaram 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
a colonização efetiva por meio do envio do nobre e militar português: Martim 
Afonso de Sousa. 
 
Só entre 1530 e 1533 a expedição comandada por Martim de Souza 
foi enviada ao litoral brasileiro e a primeira vila, São Vicente, foi 
fundada em 1532, quando foram implantados os primeiros engenhos 
de açúcar. Em 1534 foram criadas as capitanias hereditárias no Brasil, 
seguindo o modelo das ilhas do Atlântico, porém em uma escala 
territorial bem mais ampla. A elevação de vice-reinado na Índia e a 
implantação no período dos bispados de Funchal, de Goa, de Cabo 
Verde e de São Tomé, mostram a pouca importância inicial dada ao 
território brasileiro pelos portugueses (VASCONCELOS, 2016, p. 42). 
 
Martim Afonso de Sousa começou a produção de cana-de-açúcar porque 
era um produto com grande aceitação no mercado europeu com geração de 
grandes oportunidades de ganhos. Esse produto contava com o apoio dos 
holandeses, banqueiros e comerciantes. Além disso, fez se relevante as 
possibilidades resultantes de condições climáticas (clima tropical) e edáficas (solo 
de massapê). 
O comércio das especiarias das índias (tapetes, perfumes, pimenta do reino, 
cravo, canela, gengibre, cânfora, noz-moscada...) geraram muitas riquezas para 
Portugal, no entanto, a entrada de concorrentes reduziram os lucros. Ademais, os 
franceses ameaçavam as ações de Portugal no Brasil. Para fazer frente a isso, o rei 
enviou a expedição de Martim Afonso de Sousa e em seguida instituiu o sistema de 
Capitanias Hereditárias em que o governo entrava com as terras e a iniciativa 
precisava injetar dinheiro no projeto. 
 
A primeira divisão territorial do Brasil foi experimentada pelas 
capitanias hereditárias, a partir de uma divisão do litoral em faixas de 
cerca de 50 léguas de comprimento que ficaram a cargo dos 
donatários, que foram responsáveis pela sua ocupação, colonização 
e desenvolvimento (VASCONCELOS, 2016, p. 48). 
 
As capitanias hereditárias eram divisões do território em grandes faixas de 
terra em que se nomeavam representantes da nobreza de Portugal. Dom João III 
promoveu essa organização político-administrativa do território brasileiro, tomando 
como referência o Tratado de Tordesilhas. Em suas posses atlânticas os portugueses 
já haviam implantado o sistema de capitanias e lá o projeto se apresentou como 
bem sucedido. Contudo essa realidade não se repetiu no caso brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
 
 
Figura 7: Projeto Capitanias Hereditárias 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3i8bSzG. 
Acesso em: 27 mar. 2021 
 
Os donatários enfrentaram dificuldades nesse processo porque tinham que 
dar conta de sobreviver diante de ataques dos indígenas e de estrangeiros e com 
recursos escassos. Haviam também grandes distâncias entre uma capitania e outra, 
faltava uma relação ou intercâmbio de experiências entre as capitanias, não havia 
órgãos que coordenasse o trabalho dos donatários, escassez de recursos financeiros 
por parte da Coroa (na maioria dos casos), muitos donatários não vieram ao Brasil 
(como é o caso do donatário da Capitania de Ilhéus), dentre outros aspectos que 
se apresentaram como desafio. 
 
Assim, o conceito-chave para entender a construção do espaço 
geográfico das capitanias não foi o de um território, uma região 
fechada definida pelas cartas de doação. Foram os acima 
apresentados e, mais do que eles, o conceito de termo das vilas. A 
capitania se define territorialmente não pela geometria de um 
polígono, mas por uma linha na costa onde se criavam vilas, às quais 
se associavam os seus fundos e sertões, áreas agregadas que vão ser 
definidas e ampliadas pelos termos das novas vilas criadas na 
dependência jurisdicional das anteriores, em sucessivas levas 
(CINTRA, 2017, p. 218-219). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
As capitanias hereditárias resultaram de interesses políticos e econômicos 
que envolvem estratégias para administrar o território brasileiro colonial para não 
sair do controle de Portugal. A falta de recursos suficientes fez com que Portugal se 
valesse de investimentos de particulares para dar continuidade em sua empreitada 
no território brasileiro. Então, Dom João III, em 1534, realizou a divisão da colônia em 
15 lotes que foram passados aos capitães ou donatários. No entanto, eram 14 
capitanias hereditárias repassadas para 12 capitães. Pondera-se que, conforme 
Mello (1999), ocorreram muitos embates entre a Coroa e os capitães donatários. 
O mapa disponibilizado, a seguir, das capitanias hereditárias é resultado dos 
estudos recentes que materializam na representação cartográfica as possibilidades 
mais plausíveis em função das fontes históricas disponíveis e trabalhadas na 
pesquisa de Cintra (2013) que refaz as principais propostas disseminadas nos livros 
acerca desse tema. 
 
Figura 8: Capitanias hereditárias 
 
Fonte: Cintra (2013, p. 39) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
 
 
O desejo do rei D. João III ao financiar expedições como a de Martin Afonso 
de Sousa era de encontrar pedras preciosas na colônia Brasil. Além dessa realidade, 
cabe ressaltar que 
 
O fato de que os portugueses seguiam encontrando diversos navios 
franceses com pau brasil, e até ocupando áreas que de acordo com 
o Tratado de Tordesilhas pertenciam a Portugal, ajudou a pressionar 
D. João na sua decisão por dividir o Brasil em CH’s [Capitanias 
Hereditárias] e começar a povoá-lo para acabar com o risco de 
perder as terras para a França. Este se tornou, assim, outro objetivo 
da expedição (INNOCENTINI, 2009, p. 14). 
 
Cabe ressaltar, de acordocom Moreira (1994) que o Tratado de Tordesilhas 
foi assinado por Dom João II de Portugal e o seu significado ultrapassa a 
demarcação de limites territoriais entre a Espanha e Portugal. 
 
Figura 9: Tratado de Tordesilhas assinado por Portugal e Espanha (1494) 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3vIMXqv. 
Acesso em: 23 fev. 2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
O debate alcançava questões comerciais que envolviam os mercadores 
andaluzes e as suas relações comerciais clandestinas na Guiné. Em 1479, momento 
do Tratado de Alcáçovas que teve sua ratificação com o Tratado de Toledo se 
nota o reconhecimento das conquistas portuguesas na costa africana e nas ilhas 
atlânticas, no entanto, não incluía as ilhas canárias resultantes de embates 
históricos. 
Com a viagem de Colombo o Atlântico Ocidental começa a ganhar a cena 
dos debates e exige melhores definições geopolíticas. E, em 1494, o Tratado de 
Tordesilhas é assinado com definições das esferas de influência. Dessa forma, o 
Tratado de Tordesilhas se tornou um “[...] marco fundamental no desenvolvimento 
de várias linhas políticas” (MOREIRA, 1994, p. 12). 
 
Figura 10: Delimitação resultante do Tratado de Tordesilhas 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3vGisS5. 
Acesso em: 23 fev. 2021 
 
Entre 1500 e 1530, no período pré-colonial, Portugal não se preocupava em 
defender as terras porque havia acordo com a outra nação que se embrenhava 
nas grandes navegações: a Espanha. Com o lançamento da França, Inglaterra e 
Holanda ao mar a preocupação dos portugueses se ampliou e Portugal se vê 
obrigado a defender para não perder a posse das terras. O custo da colonização 
de Portugal foi transferido para a iniciativa privada e se realiza a doação de lotes 
para donatários que deveriam empreender a colonização no Brasil. O território 
brasileiro foi dividido em 15 lotes denominados capitanias hereditárias que 
custeariam a colonização. 
Com base nos documentos da Carta de Doação e dos Forais sedimentava-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
se que o donatário detinha a posse e não a propriedade, portanto, não se podia 
vender uma parte da capitania. Os capitães donatários eram as autoridades 
máximas na sua capitania e após a sua morte a capitania era transferida para seus 
herdeiros. Em função disso, recebeu o nome de capitanias hereditárias. Nada 
obstante, poderia distribuir sesmarias (partes da capitania) para outros colonos. 
Todos os bens das matas, do subsolo e dos mares eram de propriedade da Coroa 
portuguesa. Caberia ao donatário plantar e colher. 
 
Figura 11: Carta de doação à Fernão de Noronha concedendo a capitania e o governo 
das Ilhas de São João 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/34DsBTu. 
Acesso em: 26 fev. 2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
Figura 12: Carta de foral doando a Capitania de Pernambuco a Duarte Coelho 
1. 
Um dos requisitos para obter as capitanias era ser uma pessoa abastada na 
sociedade portuguesa. Dois eram os documentos: a carta de doação e o foral que 
consistia na declaração dos direitos e dos deveres dos capitães donatários. Além 
disso, tinha direito de fazer uso da escravidão indígena. O capitão poderia doar 
sesmarias para explorar e povoar as terras. A base econômica era pautada em 
latifúndios. As sesmarias eram latifúndios e se davam por meio de 
 
[...] doações de sesmarias aos colonos importantes, sobretudo 
membros da nobreza com algumas exigências para a implantação 
de engenhos de açúcar. Na produção de açúcar, portanto, os 
maiores investimentos eram voltados para a construção de 
engenhos e a compra de escravos, pois as terras eram recebidas em 
sesmarias. Em seguida as sesmarias começaram a ser subdivididas 
sendo arrendadas aos pequenos colonos (VASCONCELOS, 2016, p. 
49). 
 
Era dever do capitão donatário passar parte do lucro para Portugal, explorar 
as terras, combater invasões estrangeiras, povoar as capitanias hereditárias. Os 
capitães donatários e os sesmeiros perceberam que a vida no Brasil deveria ser 
duradoura porque não vislumbravam nitidamente a volta para Portugal. 
Os que vieram solteiros precisavam formar famílias. Entretanto, a relação 
formalizada com as nativas não era bem vista. Então, começam a trazer mulheres 
solteiras de Portugal para o Brasil: no geral, crianças e adolescentes órfãs de 
Portugal que vinham para casar de maneira forçada com os homens que estavam 
fazendo as primeiras construções brasileiras. 
Portugal também enviava homens pobres e existem relatos de envio de 
criminosos como alternativa de vida. Portugal queria diminuir a sua população 
carcerária e garantir a mão de obra no Brasil. O fidalgo que nasceu com poder e 
dinheiro e o plebeu não tinha nada. Os fidalgos vinham como administradores e os 
plebeus como trabalhadores, conquanto essa distância foi reduzindo em função da 
noção de que os demais estavam abaixo das suas posições. Uma concepção 
cultural de inferiorização que colaborou para tal configuração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
 
 
As capitanias não deram conta de defender os territórios em razão das 
dificuldades de sua efetivação para obtenção de lucros. A Capitania de São 
Vicente foi doada a Martim Afonso de Souza e pode contar com o suporte da 
Coroa portuguesa. 
Uma expressão do sucesso desse empreendimento foi o surgimento do 
povoado de Santos, fundado por Brás Cubas. O desenvolvimento significativo da 
produção de cana-de-açúcar nessa capitania foi fundamental para seu sucesso. 
Ao tempo que a Capitania de Pernambuco doada para Duarte Coelho se tornou o 
maior centro de produção de cana-de-açúcar durante o período colonial. 
A Capitania hereditária de Pernambuco, também conhecida como Nova 
Lusitânia, sob o governo descentralizado da iniciativa privada com o objetivo de 
implementar a colonização, ou seja, fazer o Brasil gerar lucro esteve inicialmente 
sob a direção de Duarte Coelho. A sua prosperidade se estabeleceu em função do 
cultivo da cana-de-açúcar que combinou financiamento e propensão geográfica 
para tal empreendimento. 
Havia demanda crescente para o consumo de açúcar e as capitanias de 
Pernambuco, São Vicente e Bahia foram os principais locais de produção na 
América Portuguesa. A produção econômica se sustentou inicialmente na mão de 
obra indígena e, posteriormente, foi substituída pela mão de obra escrava 
africana. 
Duarte Coelho recebeu degredados em sua capitania que lhe rendeu muitos 
conflitos, também cabe ressaltar os conflitos encampados contra os indígenas. A 
cana-de-açúcar se estabeleceu como empresa agrícola açucareira e contou com 
a crucial participação holandesa. 
Portugal desde o empreendimento náutico contou com capitais de uma 
burguesia comercial financeira holandesa. A maioria do capital do 
empreendimento náutico português contou com esse capital. A Capitania de 
Pernambuco ou Nova Lusitânia teve a sua prosperidade impulsionada em função 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
de recursos holandeses na produção açucareira que participava do 
financiamento, transporte, refino e distribuição do açúcar na Europa. 
No caso da empresa agrícola açucareira tornou-se expressivo o 
financiamento da implantação da produção, o transporte e o refino que era feito 
na Holanda. Além disso, os holandeses distribuíram o açúcar e o lucro ficava de 
forma massiva sob o seu poder. Portugal recebia impostos dos navios e da 
comercialização em uma estrutura de monopolização dessa atividade. A 
esperança de Portugal era conseguir instituir uma empresa mineradora das terras 
brasileiras, sonho esse que foi perseguido desde o início da colonização. 
Também a Capitania de São Vicente, sob os auspícios de Martim Afonso de 
Sousa, conseguiu prosperidade em seu segundo lote em razão da produção de 
açúcar. Ressaltamos que no total eram 14 capitanias distribuídas em 15 lotes de 
terra, os quais foram doados para 12 donatários portugueses. 
 
 
 
Conforme ditoanteriormente, os capitães donatários eram representantes da 
burocracia ou da nobreza de Portugal e eram chamados de fidalgos. Recebiam a 
carta de doação que atribuía a concessão para a exploração da capitania. A 
terra continuava a pertencer ao Estado português. Em caso de descumprimento de 
regras o donatário poderia perder o seu direito à concessão. A concessão era 
passada de pai para filho, ou seja, vitalícia. No foral estabeleciam os direitos e os 
deveres dos capitães donatários. As sesmarias eram lotes grandes de terras que 
eram doados a colonos para a exploração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
 
 
Portugal teve que agir em defesa do território e optou em trazer para o Brasil 
o Governo Geral com a finalidade de controlar as áreas das capitanias. Os 
objetivos eram defender o território, dinamizar a economia e fiscalizar as capitanias. 
Com as capitanias pode-se assinalar que trouxeram muitas vantagens para Portugal 
como a instalação de uma base territorial que sustentou a colonização 
portuguesa. 
Os povoamentos de destaque podemos citar Santos, Olinda, Ilhéus e São 
Vicente. A posse das terras em face dos riscos de invasões estrangeiras também é 
de grande significado para a empreitada portuguesa. Outro aspecto notável foi a 
viabilidade da exploração da cana-de-açúcar. 
O sistema de capitanias não funcionou na prática como se previa 
inicialmente. Em caso de guerra as capitanias não se ajudavam. Existiam muitos 
contrabandos dos franceses e outras nações que dificultavam o crescimento das 
capitanias. Os capitães donatários, em muitos casos, abandonaram as suas 
capitanias e não foi construída a estrutura necessária para o seu funcionamento. 
Muitos capitães não acreditaram que o projeto das capitanias hereditárias 
daria certo. A figura do capitão donatário assumiu outra noção a partir de 1549 até 
1572, período a partir do qual Portugal adota outro esquema: o Governo Geral. O 
Brasil passa a ter um governador geral que o administra. Portanto, se trata da 
centralização administrativa do território. A falta de condições de administração fez 
com que o Governador Geral nomeasse o Ouvidor Mor (justiça), o Provedor Mor 
(finanças) e Capitão Mor (defesa territorial). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
Figura 13: Projeto Governador Geral 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/2S0qKFH. 
Acesso em: 27 mar. 2021 
 
Veio para o Brasil o Governador Geral, Tomé de Souza, com sede em 
Salvador, que estava no centro da produção açucareira. Salvador era a capital do 
Brasil e teve o início de sua construção em 1º de maio de 1549 em uma área 
elevada de frente para o mar e com arquitetura que viabilizava a defesa militar. 
Portugal teve gastos e se sentia obrigado a transformar a colônia em um 
empreendimento lucrativo. A lógica do Governo Geral era promover a 
centralização da administração da colônia. Esse sistema não significou o fim das 
capitanias hereditárias, dessa forma, coexistiram até o ano de 1759. 
 
O que podemos destacar depois da complexidade de eventos em 
diferentes contextos históricos e geográficos, é a transformação de 
um império mercantil implantado por uma série de feitorias, fortes e 
cidades portuárias, em um império cuja base principal é o imenso 
território brasileiro, que só foi possível consolidá-lo com a implantação 
da produção de açúcar voltada para a exportação, em grandes 
propriedades, baseada no trabalho escravo, cujas repercussões 
sobre a sociedade e economia brasileiras foram fundamentais até o 
momento presente (VASCONCELOS, 2016, p. 47). 
 
O regimento do Governo Geral tinha como propósito fazer a defesa das 
terras contra os ataques estrangeiros, promover ações em busca de metais 
preciosos, apoiar a disseminação da igreja católica e fazer frente à resistência 
indígena. O regime teve que enfrentar problemas como a dificuldade de 
comunicação e a oposição com os interesses locais. 
Os jesuítas surgiram no Concílio de Trento, o concílio da contrarreforma. A 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
Companhia de Jesus tinha a missão de catequizar povos recém descobertos - a 
cristianização dos povos. São os responsáveis pela educação dos índios e dos 
colonos em uma forma mais ampla. Esse grupo de religiosos chegaram juntamente 
com o Governador Geral representados por seis jesuítas sob a chefia do padre 
português Manuel da Nóbrega e tinham a incumbência de catequizar os 
indígenas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (Cesgranrio) O início da colonização portuguesa no Brasil, no chamado período 
“pré-colonial” (1500-1530), foi marcado pelo(a): 
 
a) Envio de expedições exploratórias do litoral e pelo escambo do pau-brasil. 
b) Plantio e exploração do pau-brasil, associado ao tráfico africano. 
c) Deslocamento, para a américa, da estrutura administrativa e militar já 
experimentada no oriente. 
d) Fixação de grupos missionários de várias ordens religiosas para catequizar os 
indígenas. 
e) Implantação da lavoura canavieira, apoiada em capitais holandeses. 
 
2. (USS) Assinale a alternativa correta a respeito do período pré-colonial brasileiro: 
 
a) Os franceses não reconheciam o domínio português, tanto que chegaram a se 
estabelecer no Rio de Janeiro e no Maranhão. 
b) O trabalho intenso de Anchieta e Nóbrega na catequese dos índios tinha o 
objetivo de impedir a escravização do gentio. 
c) A ocupação temporária europeia, por meio de feitorias, deveu-se à inexistência 
de organização social produtora de excedentes negociáveis. 
d) A cordialidade dos indígenas contrastava com a hostilidade europeia dos 
portugueses, cujo objetivo metalista conduzia sempre à prática da violência. 
e) A cordialidade inicial entre europeus e índios deveu-se ao fato de que o objetivo 
catequético superava os fins materiais da expansão marítima. 
 
3. (Fuvest) No Brasil colonial, a escravidão caracterizou-se essencialmente: 
 
a) Por sua vinculação exclusiva ao sistema agrário exportador. 
b) Pelo incentivo da igreja e da coroa à escravidão de índios e negros. 
c) Por estar amplamente distribuída entre a população livre, constituindo a base 
econômica da sociedade. 
d) Por destinar os trabalhos mais penosos aos negros e mais leves aos índios. 
e) Por impedir a emigração em massa de trabalhadores livres para o brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
 
4. (UEL) No Brasil colônia, a pecuária teve um papel decisivo na: 
 
a) Ocupação das áreas litorâneas. 
b) Expulsão do assalariado do campo. 
c) Formação e exploração dos minifúndios. 
d) Fixação do escravo na agricultura. 
e) Expansão para o interior. 
 
5. (Unesp-2015) A constatação de que “Essa aliança refletiu-se numa política de 
terras que incorporou concepções rurais tanto feudais como mercantis” justifica-
se, pois a política de terras desenvolvida por Portugal durante a colonização 
brasileira 
 
a) Permitiu tanto o surgimento de uma ampla camada de pequenos proprietários, 
cuja produção se voltava para o mercado interno, quanto a implementação de 
sólidas parcerias comerciais com o restante da América. 
b) Determinou tanto uma rigorosa hierarquia nobiliárquica nas terras coloniais, 
quanto o confisco total e imediato das terras comunais cultivadas por grupos 
indígenas ao longo do litoral brasileiro. 
c) Envolveu tanto a cessão vitalícia do usufruto de terras que continuavam a ser 
propriedades da Coroa, quanto a orientação principal do uso da terra para a 
monocultura exportadora. 
d) Garantiu tanto a prevalência da agricultura de subsistência, quanto a difusão, na 
região amazônica e nas áreas centrais da colônia, das práticas da pecuária e 
da agricultura de exportação. 
e) Assegurou tanto o predomínio do minifúndio no Nordeste brasileiro, quanto uma 
regular distribuição de terras entre camponeses no Centro-Sul, com o objetivo de 
estimular a agricultura de exportação. 
 
6. (UNIP) Após a restauração Portuguesa, ocorrida em 1640:a) As relações entre Portugal e o Brasil tornaram-se mais liberais. 
b) A autonomia administrativa do Brasil foi ampliada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
c) O Pacto Colonial luso enrijeceu-se. 
d) Os capitães-donatários forma substituídos pelos vice-reis. 
e) A justiça colonial passou a ser exercida pelos “homens novos”. 
 
7. (PUC-RIO) "Isto é claro - diziam os mareantes - que depois deste Cabo não há aí 
gente nem povoação alguma (...) e as correntes são tamanhas, que navio que 
lá passe, jamais nunca poderá tornar." 
Gomes Eanes de Zurara, ca. 1430 
 
A despeito de todos os temores e incertezas que marcaram a aventura da 
expansão marítima portuguesa, os aventureiros que nela se lançaram 
conseguiram desbravar a costa oeste africana, até o seu extremo sul, durante o 
século XV. Com relação a esses acontecimentos, podemos afirmar que: 
 
I. A ultrapassagem do Cabo Bojador, em 1434, pela expedição comandada por 
Gil Eanes, concretizou uma das primeiras das intenções do infante D. Henrique: a 
de firmar controle sobre o litoral da África subsaariana. 
II. A expansão portuguesa no litoral ocidental africano levou ao estabelecimento 
de feitorias e ao início, em pequena escala, do tráfico de escravos africanos. 
III. A crença na existência do reino cristão de Preste João, situado em algum lugar 
para além dos domínios muçulmanos, foi um dos elementos do imaginário 
coletivo da época que estimulou a participação de muitos nas expedições 
direcionadas para o litoral africano. 
 
Assinale a alternativa: 
 
a) Se somente a afirmativa II estiver correta. 
b) Se somente as afirmativa I e II estiverem corretas. 
c) Se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. 
d) Se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. 
e) Se todas as afirmativas estiverem corretas. 
 
8. (FGV) Sobre a conquista holandesa do Nordeste brasileiro, no período colonial, é 
correto afirmar: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
a) Os conflitos entre portugueses e holandeses devem ser compreendidos no 
contexto da União Ibérica (1580-1640) e da separação das Províncias Unidas do 
Império Habsburgo. 
b) A ocupação das áreas de plantio de cana obrigou os holandeses a 
intensificarem a escravização dos indígenas, uma vez que não possuíam bases 
no continente africano. 
c) Estabelecidos em Pernambuco, os holandeses empreenderam uma forte 
perseguição aos judeus e católicos ali residentes e fortaleceram a difusão do 
protestantismo no Brasil colonial. 
d) A administração de Maurício de Nassau foi caracterizada pelo pragmatismo e 
pela desmontagem do grande centro de artistas e letrados organizado pelas 
autoridades portuguesas em Olinda. 
e) Os holandeses implementaram uma nova e eficiente estrutura produtiva 
baseada em pequenas e médias propriedades familiares, que se diferenciava 
das antigas plantations escravistas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO 
TERRITORIAL 
 
 
 
2.1 PLANTATION 
O Brasil tendia a ser uma colônia britânica “oculta”, pois, em consonância 
com Velho (2009), uma grande parte do que era extraído enviava-se para a Grã-
Bretanha, com quem Portugal, sobretudo após 1703, possuía uma relação de 
dependência semicolonial. Ressalta-se que “[...] no Brasil, com um imenso território, 
com fronteiras imprecisas, e com o estabelecimento do sistema escravista, além da 
gestão das outras partes do Império, era necessário controlar e colonizar a colônia” 
(VASCONCELOS, 2016, p. 48). Ainda, Velho (2009, p. 103) destaca que 
 
Exatamente por ser uma colônia “oculta”, os cientistas sociais 
britânicos em geral não dão muita atenção ao papel do Brasil para 
a acumulação primitiva através da economia de plantation e o 
comércio de escravos. No caso das exportações de ouro, no 
entanto, as coisas foram mais maciças e óbvias (VELHO, 2009, p. 103). 
 
Tinha-se o exclusivismo colonial ou o pacto colonial. Na verdade, não houve 
pacto e sim a imposição das regras para a colônia, uma imposição colonial. Nessa 
perspectiva o Brasil tinha o papel de fornecedor de matérias primas e gêneros 
tropicais para a metrópole, então havia a transformação na metrópole que 
revendia para a colônia. Lembrando que o Brasil só poderia estabelecer relação 
econômica com Portugal. A compra exclusiva de produtos manufaturados gerava 
uma desvantagem comercial avassaladora para o território brasileiro. 
Para pensarmos a economia do Brasil colonial faz-se relevante que algumas 
características gerais sejam compreendidas porque se alteram os produtos gerados, 
mas as bases econômicas são as mesmas. A economia açucareira entra nos 
aspectos do sistema colonial que tem início com a lógica das monarquias europeias 
sustentadas na exploração mercantilista que visava acumular riquezas nas colônias. 
O sistema administrativo de controle do Estado português permitia 
vinculações locais, mas a dependência externa era extrema. A cana de açúcar era 
uma especiaria de grande valor na Europa e os portugueses já tinham experiência 
nesse comércio em suas ilhas no Atlântico. Então, tendo como alvo o comércio 
UNIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
exterior, a cana-de-açúcar foi escolhida para levantar lucros na colônia e a 
economia açucareira teve seu apogeu nos séculos XVI e XVII. 
 
 
 
O seu cultivo predominou na zona da mata nordestina que tinha como 
vantagem a qualidade do solo e condições favoráveis para o cultivo. Os maiores 
produtores de cana-de-açúcar eram a Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e São 
Vicente e se tinha um projeto de colonização alicerçada na plantation. Segundo 
Tanezini (1994, p. 117-118): 
 
A faixa litorânea de Pernambuco e capitanias anexas e o recôncavo 
da Bahia tornaram-se regiões por excelência para o 
desenvolvimento da "plantation" canavieira, colocando o Brasil-
Colônia na posição de maior produtor mundial de açúcar nos 
séculos XVI e XVII. 
 
Havia financiamento holandês para a produção e essa colaboração gerava 
lucros exorbitantes porque faziam empréstimos a juros e com o refino tornando-o 
mais valioso, e se distribuía na Europa. 
A produção do açúcar ganhou tanto destaque que os portugueses tiveram 
que criar uma nova organização social e territorial, como mostra Vasconcelos (2016, 
p. 47): 
 
Os portugueses deram origem a uma nova forma de organização 
social e territorial: uma colônia voltada para produzir e exportar 
mercadorias de interesse dos mercados europeus, como o açúcar. 
Essa orientação foi agravada pela concentração da propriedade 
fundiária e, sobretudo, pela utilização sistemática, em todo o 
território, do trabalho escravo (VASCONCELOS, 2016, p. 47). 
 
O Brasil era uma grande fazenda para Portugal. Predominava-se o modelo 
monocultor da grande produção agrícola nos latifúndios, as plantations. Tinham 
como objetivo explorar a colônia, haja vista que a “instalação de grandes unidades 
produtivas na maioria das vezes já era prevista no momento de doação das 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
sesmarias, e mais que isso, justificavam a própria requisição da concessão de terras” 
(TANEZINI 1994, p. 50). 
Onde as plantations eram implementadas se proibia o fomento de atividades 
manufatureiras, a colônia era proibida de competir com a metrópole. Além disso, o 
Brasil era obrigado a consumir os produtos manufaturados da Europa e isso teve 
como implicação a industrialização tardia, bem como reforçou as mentalidades 
colonizadas, monopolizadoras e conservadoras que pouco se preocupavam com a 
necessidade de industrialização do Brasil. 
Para pensar o sistema da plantation, também chamado de plantação ou 
plantagem, é necessário ter a clareza de que se trata de um termo datado e que 
reporta a concepções polissêmicas. Ele pode ser pensado na dimensão física do 
espaço, assim como é razoável expor que uma fazenda se distingue de uma 
plantation. A dimensão cultural deve ser considerada, bem como a compreensão 
de que há um recorte daburocracia que está envolvida nessas dinâmicas. 
Precisamos olhar para a plantation e entender as relações culturais 
envolvidas, as quais não podem ser desconectadas da territorialidade. A terra, o 
capital e o trabalho devem ser vistos em suas interações. A respeito do seu 
conceito: 
 
O conceito de "plantation" foi sendo construído a partir da 
abordagem dos clássicos das diversas ciências sociais. Na Economia 
Política essa forma econômica foi mencionada por mercantilistas, 
fisiocratas e economistas clássicos, como Adam Smith no século XVlll, 
por seus críticos, Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX e Vladimir I. 
Lênin e Karl Kautsky no início do século XX. Na Geografia Humana e 
Agrária foi analisada por Ritz e Edward Hahn (que a definiu 
conceitual mente como "plantation" em ISSO) e em especial por Leo 
Waibel em I932. Dentre as escolas sociológicas, foi objeto de estudo 
de Max Weber, além do próprio Marx . Na Ciência Histórica esse 
tema foi abordado particularmente pela História Económica da qual 
destacamos a análise de Maurice Dobb na década de quarenta. 
Finalmente constituiu-se numa problemática para a Antropologia nos 
anos cinquenta e sessenta, quando os estudiosos procuraram 
distinguir, nem sempre claramente, "haciendas" e "plantations" no 
Novo Mundo, estabelecendo situações-tipo que as exemplificasse 
(TANEZINI, 1994, p. 46) 
 
Na realidade a plantation é todo um processo em interligação que remonta 
a um sistema de sistemas espaciais que demanda a decomposição do território e 
das paisagens, de modo a considerar as formas, as estruturas, as funções e os 
processos. Como pontua Tanezini (1994, p.112), 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
A "plantation" se constituiu como o fundamento econômico-social da 
colonização portuguesa, depois adotada por outras nações 
europeias nas Antilhas. Como processo produtivo agroindustrial 
instalado nas colônias, representava uma contra tendência à divisão 
internacional do trabalho (TANEZINI, 1994, p. 112). 
 
A ideia de espaço e território é um elemento central para o entendimento 
da plantation, haja vista que o espaço se apresenta como essencial para o 
aprofundamento da dinâmica das relações sociais. Tais relações se desenrolam no 
plano espacial, ou seja, no corpo territorial. Isso é nítido em razão de que as 
relações humanas não acontecem sem uma base territorial. Cada lugar ou 
configuração espacial reporta a uma multiplicidade de tempos que consolidam 
mosaicos de uma realidade concreta. 
 
[...] existência da "plantation" açucareira como um empreendimento 
agroindustrial capitalista no século XVI, como parte da nova 
tendência de apropriação da esfera produtiva pelo capital, 
permitindo a reprodução e acumulação do capital industrial 
propriamente dito, no bojo da chamada acumulação primitiva, 
como duas "faces da mesma moeda", como duas fases do mesmo 
movimento contraditório da evolução histórica (TANEZINI, 1994, p. 
83). 
 
Não se pode desconsiderar o papel da plantation para a formação do 
território e da sociedade brasileira. Território é tradução de tempos diversos que 
fazem alusão às dimensões que atribuem a densidade das funções assumidas pelas 
formas espaciais que ocorrem em consonância a uma estrutura específica, a qual 
determina articulações que podem ou não se perenizar ao longo da história. 
 
 
 
O monopólio comercial e as plantations atuavam de modo articulado para a 
promoção de altos lucros para as coroas europeias. De acordo com Tanezini (1994, 
p.112): 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
 
Não faltou a mão-de-obra, porque desde o século XV portugueses e 
espanhóis e depois ingleses, franceses, holandeses, dinamarqueses 
organizaram o lucrativo tráfico de escravos. Com a "Plantation" 
americana generalizou-se a escravidão sistemática moderna em 
função do suprimento da força de trabalho para a atividade 
produtiva, como instituição para garantir a compulsão ao trabalho 
(e não por guerras etc), para uma indústria que demandava enorme 
dispêndio de energia física e que operava em regiões tórridas e 
úmidas, em clima exaustivo (TANEZINI, 1994, p. 112). 
 
Tais características de produção se inserem em uma sociedade peculiar 
colonial com características marcadas pela economia do açúcar, tipicamente 
patriarcal (centrada no homem e a mulher sufocada em sua condição de sujeito e 
tinham o papel engessado que se baseava em se casar e ter filhos), escravista 
(adotou a mão de obra escravizada como elemento de lucro), estamental (a 
posição social do indivíduo está de acordo com o seu nascimento, sem mobilidade 
social), rural (desenvolvida no campo) e da relação entre senhores e escravos 
(conflitos como a gênese dessa sociedade). Muitos dos desafios contemporâneos 
estão assentados nesse quadro cultural. 
A unidade econômica que se produzia a cana de açúcar era denominada 
engenho que no plano local era vista como autossuficiente, entretanto, havia uma 
profunda dependência das tecnologias oriundas da Europa. No engenho se tinha a 
senzala, a casa grande, a utilização da força motriz da água ou de animais. 
Conforme Tanezini (1994, p. 212) 
 
O engenho colonial era compreendido de modo geral em dois 
sentidos: a propriedade rural canavieira, sede da unidade de 
transformação da cana em açúcar e a fábrica propriamente dita. O 
engenho no seu sentido restrito constituía o coração da propriedade 
rural à qual dava o nome e esta, por sua vez o coração da 
"plantation" canavieira (TANEZINI, 1994, p. 212). 
 
Nesse contexto, a produção ocorria no engenho constituído por casa 
grande, senzala, capela e casa de engenho. Tal estrutura básica em que a casa 
grande era a moradia do senhor de engenho e lugar de administração do 
engenho; a senzala era o local de alojamento, uma espécie de prisão 
extremamente insalubre e precária destinada aos escravos; a capela católica 
refletia a riqueza do engenho; a casa de engenho onde se produzia o açúcar e era 
formada pela moenda (existiam as movidas por força d´água e os que usavam 
força humana ou animal), caldeira (o caldo de cana sob o processo de fervura), 
casa de purgar (retirar as impurezas) e galpões (armazenagem em formato de 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
pães/formas de açúcar). 
A arquitetura materializava a lógica de discriminação social. Nas capelas, no 
geral, se tinham os alpendres na frente onde muitos assistiam à missa fora da igreja 
porque não eram batizados (catecúmenos, às vezes escravos). Assistir à missa 
dentro da igreja era um privilégio de poucos. 
 
 
 
Os senhores de engenho eram os pais absolutos, um administrador dos seus 
bens, de sua mulher, dos seus filhos e dos escravos. A lógica dessas leis instituídas sob 
seus auspícios se estruturava, basicamente, o primeiro filho ficava no engenho, o 
segundo iria se formar em direito, o terceiro padre, o quarto médico e assim 
sucessivamente. 
O envio dos filhos para a Europa gerava incontáveis desconfortos porque 
desconectava as nossas elites da realidade do país. As meninas eram preparadas 
para casar por isso não aprendiam a ler e nem a escrever para não escrever carta 
para namorado, além disso, viviam submissas aos maridos e aos filhos. Os 
casamentos eram, no geral, com os parentes como uma forma de proteção do 
patrimônio das terras e dos engenhos. 
A aristocracia do açúcar tinha um horror ao trabalho braçal e, em muitos 
casos, se emitia cédulas com valores variados que tinham caracterizava como uma 
economia fechada e que gerava dependência à mercearia do senhor de 
engenho que recebia tais cédulas. 
Nos engenhos além dos escravos, indígenas no começo e africanos depois, 
os escravos viviam nas senzalas sob o controle dos feitores. Além dos escravos 
haviam os técnicos formados por mestre de açúcar, fazedor de aguardente, 
geralmente portugueses e mestiços contratados na fazenda. 
O trabalho nas regiões dos engenhos foi marcado pela herança da 
escravidão que se manifesta na reproduçãomaterial e nunca no valor do ser 
humano que trabalha. E o trabalhador descendente dos escravos se transformou 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
em morador dos engenhos em função da dependência do proprietário das terras 
que era dono de tudo e a sua dominação do tempo de trabalho do morador fez 
com que a lógica escravocrata se ampliasse ou se renovasse em novos formatos. 
A mulher não tinha direito de ter a fazenda em seu nome e em boa parte dos 
casos as escravas eram abusadas pelos senhores e as esposas socialmente não 
podiam se levantar contra a dominação masculina na época. 
Acentua-se que a rede comercial relacionada à colônia compusera 
camadas sociais que não se reduziam a senhores e escravos, mas também uma 
rede média que integravam roceiros, caixeiros, produtores de alimentos, dentre 
outros, que abasteciam as plantations. 
 
 
 
Até hoje esse modelo de plantation nos permeia e nos fazem ter um legado 
que colabora para sermos considerados grandes produtores de laranja, café, soja, 
frango, linguiça, carne, dentre outros. E, conforme pontua Tanezini (1994, p.179): 
 
A "plantation" causou a destruição da Mata Atlântica original, não 
por causa do atraso do seu processo de produção agrícola, ao 
contrário, pelo seu caráter moderno de possuir uma fábrica instalada 
no meio rural. O período manufatureiro na Europa caracterizou-se 
justamente pela instalação das indústrias no campo, junto às fontes 
de matéria prima e de energia, tendo como consequência a 
destruição florestal. 
 
Acrescenta-se que a produção de pecuária extensiva em que o gado é 
criado solto no pasto, um gado leiteiro de mistura de raças, com localização 
principal no sertão nordestino era utilizada no mercado interno para auxiliar na 
produção canavieira. O gado brasileiro inicial servia para transporte, 
abastecimento de carne, couro e leite nas fazendas de cana-de- açúcar. É uma 
pequena economia em face da grande economia açucareira e não se estruturou 
com mão de obra escrava e o pasto era socializado por criadores de gado e aqui 
está a origem do sertanejo ou vaqueiro nordestino. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
No que tange a mão de obra escrava utilizada nas plantations, registramos 
que a escravidão africana, a partir de 1550 começam a chegar os primeiros navios 
negreiros que eram vistos como tumbas navegantes, eram priorizadas porque 
espécies parecidas com a cana que era produzida no Brasil já eram conhecidas 
por eles. Os africanos por terem um maior conhecimento eram mais lucrativos e 
geravam dinheiro para a Coroa com o tráfico negreiro. 
Colocamos em relevo o fato de que não houve a passividade, nem pactos 
de conciliação de classes, o que tivemos foi uma atuação abominável por parte 
dos portugueses que trouxeram africanos de línguas e dialetos distintos com 
formações mais plural possível nas fazendas. 
A busca dos fazendeiros também passava pela tentativa de colocarem 
numa mesma fazenda negros oriundos de etnias rivais. Essas estratégias buscavam 
evitar revoltas, fugas resultantes de diálogos e uniões entre os negros. 
 
2.2 ENTRADAS E BANDEIRAS 
Como se percebe, no Brasil colonial a atuação de Portugal se deu 
inicialmente de modo periférico e litorâneo, haja vista que a colonização visava 
levantar riquezas para Portugal em uma política claramente voltada para o 
mercantilismo (COSTA; FARIAS, 2009). 
 
Assim, o litoral apresentava certas vantagens, estava mais próximo 
da Europa, era, portanto, o acesso mais fácil à metrópole e ao 
comércio europeu. O fator geográfico da proximidade era de 
extrema importância em um período no qual a navegação era o 
único meio usado para deslocar, a longa distância, pessoas e 
mercadorias entre os espaços na escala do mundo. A proximidade 
relativa entre o litoral da colônia com a metrópole portuguesa e com 
a Europa em geral, evitava grandes dispêndios financeiros com os 
transportes das mercadorias. É importante também lembrar para 
você que, além da localização, o litoral apresentava outras 
vantagens geográficas, nele se encontravam as condições 
edafoclimáticas (solos aluviais férteis e clima quente e úmido) 
essenciais para a opção econômica que Portugal escolheu para 
ocupar produtivamente o seu espaço colonial no Novo Mundo – a 
cana-de-açúcar (COSTA; FARIAS, 2009, p. 01). 
 
As expedições interioranas contribuíram para a expansão portuguesa na 
América e para a sertanização do Brasil. É salutar ressaltar as contribuições da União 
Ibérica que colaborou para a noção de litoraneidade e interiorização. Avançar 
para o interior do Brasil era algo muito complicado em função do desconhecimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
da geografia brasileira e a presença de serras ao longo do litoral contribuiu para 
ampliar os desafios dos portugueses nos séculos XVI e XVII. 
 
Contudo, esse caráter litorâneo e periférico da territorialidade 
portuguesa no Brasil colonial não deve ser considerado em absoluto. 
Mesmo no século XVI e, fundamentalmente, nos séculos 
subseqüentes, a ocupação colonial portuguesa, embora de forma 
rarefeita e dispersa, estendeu-se para o interior, movida pelos 
deslocamentos das entradas, das bandeiras e das missões. Esses 
deslocamentos para o interior do espaço colonial tinham como 
objetivos: aprisionar os indígenas para vendê-los como escravos, 
procurar os metais preciosos e as drogas do sertão, estabelecer 
currais, para a prática da pecuária, e roçados, para a agricultura 
acessória, fundar aldeias para evangelizar os índios etc. (COSTA; 
FARIAS, 2009, p. 01). 
 
O ponto mais ao interior durante o século XVI foi a Vila de São Paulo que se 
localizava 65 quilômetros de São Vicente. No caso dos espanhóis, conseguiram 
explorar o interior bem antes dos portugueses e isso viabilizou a exploração mais 
precoce de metais preciosos. 
Ressalta-se que por decreto do rei Dom João III a pecuária extensiva foi 
levada para o interior e a sua execução era realizada por mão de obra livre. No sul 
do país, as missões jesuíticas encamparam produções relevantes no que se refere a 
dimensão agropastoril e o gado da região passou a ser chamado de missioneiro. 
O Brasil na virada do século XVI para o XVII estava com suas atividades 
econômicas concentradas na região nordeste em razão da pujança da produção 
açucareira. A busca por outras atividades lucrativas foi materializada por meio da 
atuação de expedições denominadas de entradas e bandeiras. 
 
Nessa epopéia, entradistas, bandeirantes e missionários transpuseram 
os limites territoriais portugueses na América e foram muito além dos 
marcos definidos para eles pelo Tratado de Tordesilhas. Essa 
expansão para além desse tratado obrigou a Portugal e a Espanha 
renegociarem os limites das suas possessões coloniais na América do 
Sul. Isso foi concretizado através da assinatura de novos tratados, a 
exemplo do Tratado de Madri (1750) e do Tratado de Santo Ildefonso 
(1777), que expandiram os domínios portugueses em detrimento dos 
espanhóis no subcontinente sul-americano (COSTA; FARIAS, 2009, p. 
01). 
 
A palavra sertão tinha a conotação de região selvagem, distante das 
cidades e também do litoral. Nesse sentido, o termo sertão é “[...] utilizado para 
designar as regiões distantes da costa, é o Brasil interiorano. Não tem o mesmo 
significado que se emprega no Nordeste do Brasil onde o termo Sertão refere-se a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
 
uma região natural específica, o semi-árido nordestino” (COSTA; FARIAS, 2009, p. 4). 
Em linhas gerais, compreendida como interior do país. 
Com o propósito de explorar o interior do país foram promovidas expedições 
pela administração portuguesa ou por iniciativas particulares. Oliveira (1998, p. 8) 
nos esclarece que “Um dos desdobramentos do mito do sertão é o do bandeirante, 
responsável pelo aumento do espaço territorial da colônia portuguesa nos séculos 
XVII e XVIII”. Tendo em vista as entradas: 
 
[...] Hélio Viana considera como entradasas que partiram das várias 
capitanias do Brasil [colônia], com exceção de São Vicente, e, como 
bandeiras, as que partiram desta capitania. Assim, poderíamos dizer 
que as bandeiras foram paulistas, enquanto as entradas foram 
maranhenses, pernambucanas, baianas, espírito-santenses e 
fluminenses. Outros autores distinguem os dois movimentos, 
considerando como entradas as expedições organizadas e dirigidas 
pelo poder público, enquanto as bandeiras seriam as expedições 
particulares (ANDRADE, 2003, p. 61). 
 
Nesse sentido, é possível entender que as entradas eram originadas de 
qualquer localidade no território pertencente ao rei de Portugal, enquanto as 
bandeiras são designadas como as originárias da região da Vila de São Paulo de 
Piratininga: exclusivamente paulistas. 
 
Algumas expedições pernambucanas também devassaram o interior 
do atual Nordeste visando aprisionar índios para escravizar. Entre 
essas expedições consta a organizada no governo Duarte Coelho de 
Albuquerque. Esse donatário, com o auxílio do padre do Ouro, 
reduziu muitos indígenas à escravidão. Contudo, essas expedições 
pernambucanas não obtiveram muito sucesso. As mais famosas 
entradas tiveram como ponto de partida a Bahia, entre elas 
podemos destacar: a de Antônio Dias Adorno, que explorou o norte 
de Minas; a de Gabriel de Sousa, que explorou a Chapada 
Diamantina; e a de Belchior Dias, que percorreu o sertão do São 
Francisco. Todas elas buscavam encontrar os metais e as pedras 
preciosos. Outras entradas partiram de Porto Seguro, promovidas 
pelos donatários do Espírito Santos e do Rio de Janeiro. Essas não 
foram bem-sucedidas, ou seja, não encontraram os metais e as 
pedras preciosos, limitando-se a trazer alguns escravos índios para os 
entornos das suas capitanias (COSTA; FARIAS, 2009, p. 04). 
 
De acordo com Costa e Farias (2009), a atuação das entradas teve a sua 
relevância garantida na consolidação do território brasileiro, haja vista que instituiu 
propostas de ocupação territorial e fixação cada vez maior para o interior do Brasil. 
Além disso, foi fundamental para a sustentação econômica do modelo de 
exploração adotado por Portugal para sua colônia Brasil. As atividades ligadas à 
atuação da plantation foram cruciais e as entradas tornaram viáveis essas atuações 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
de suporte produtivo. Também é pertinente assinalar que as entradas tiveram uma 
importância geopolítica ímpar porque colaboraram para o domínio português em 
face das constantes ameaças estrangeiras. No entanto, resultou ainda no quadro 
de avanço para além dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas. 
 
Os corpos de ordenanças, existentes em Portugal já no século XVI, 
representaram um desdobramento da organização militar 
portuguesa mais antiga, na qual existiam as bandeiras. Essas 
bandeiras medievais constituíam-se como organizações militares 
espontâneas e tumultuárias a que o Regimento das Ordenanças 
procurou disciplinar ainda naquele século. No Brasil, foi através desse 
regimento que se vulgarizou a definição de bandeira. As 
adaptações do instituto das bandeiras por aqui não se fizeram 
esperar. Primeiramente, de emprego defensivo e estático na 
metrópole, a bandeira passou a exercer diversas outras funções. Seus 
comandantes eram, em geral, também comandantes das milícias e 
ordenanças nomeados pelas autoridades coloniais ou reinóis 
(FONSECA, 2017, p. 41). 
 
As bandeiras ficaram conhecidas também como aquelas feitas pelos 
bandeirantes paulistas. São expedições organizadas e financiadas por particulares 
que adentravam o interior da colônia e buscavam lucros eram compostos por 
brancos, mestiços e índios. Sendo que o líder da expedição era denominado 
armador. Cabe ressaltar que o: 
 
[...] caráter expansionista atribuído às bandeiras foi mais praticado 
nas áreas periféricas aos centros políticos e econômicos coloniais. 
São Paulo e Belém do Pará foram os núcleos irradiadores das ações 
que vieram a romper com os limites de Tordesilhas. É por essa via de 
entendimento que podemos considerar que a ação de indivíduos 
como Raposo Tavares e Francisco de Melo Palheta, 
assim como de Ricardo Franco de Almeida Serra, revestiam-
se do caráter militar, embora os dois primeiros não integrassem 
o exército regular da época, como foi o caso do último 
(FONSECA, 2017, p. 41) 
 
Não respeitar o Tratado de Tordesilhas foi uma marca forte e importante para 
a configuração do território brasileiro, pois “Sem a constituição de núcleos de 
colonização portuguesa a oeste de Tordesilhas, não haveria consolidação da 
expansão da fronteira que seria legitimada pelos tratados de limites” (FONSECA, 
2017, p. 47). Podemos fazer o registro de tipos distintos de bandeirismo. A seguir é 
apresentado um breve panorama de cada um dos três tipos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
2.2.1 As bandeiras de apresamento 
Captura de índios para vendê-los como escravos, com destaque para as 
atuações de Manuel Preto e Raposo Tavares. Os indígenas eram comprados por um 
valor inferior ao escravo africano. A rigor, a escravidão indígena não era legalizada 
pela Coroa portuguesa, pois não se tratava da configuração de guerra justa que a 
lei prescrevia, ou seja, quando o índio ataca primeiro. 
 
 
 
Figura 14: Bandeiras de preação 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/2RcCXqt. 
Acesso em: 26 mar. 2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
 
2.2.2 As bandeiras de prospecção 
Atividade importante devido à procura de metais preciosos, com destaque 
para Fernão Dias e Antônio Rodrigo de Arzão. 
 
Figura 15: Bandeiras de prospecção 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3pcf2nB. 
Acesso em: 26 mar. 2021 
 
A busca de ouro e diamante deu origem a atividade lucrativa em Minas 
Gerais. 
 
2.2.3 Sertanismo de contrato 
A serviço dos grandes latifundiários para combater índios e para capturar 
escravos fugitivos, assim como para a destruição de quilombos, nesse sentido, 
Domingos Jorge Velho (que não falava português, apenas tupi guarani) foi o mais 
significativo com a destruição de Palmares. Os quilombos eram lugares de refúgio 
dos fugitivos e a destruição desses espaços eram financiados pelos fazendeiros para 
desestimular as fugas dos escravos. Em muitos casos contavam com o apoio do 
governo. Eram, de fato, um bando armado que cometiam crimes no território 
brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
 
Figura 16: A Guerra dos Palmares, Óleo de Manuel Vítor de 1955 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3i5Y7BH. 
Acesso em: 26 mar. 2021 
 
As monções são expedições fluviais paulistas sobretudo no rio Tietê que se 
encontra no interior com o Rio Paraná. Era uma viagem que ligava São Paulo a 
Cuiabá. Em razão das dificuldades de abastecimento na exploração de ouro, as 
monções realizavam o transporte do comércio nas áreas de São Paulo, Mato 
Grosso e Goiás. São expedições de comércio que estabeleciam a comunicação na 
região. 
 
Figura 17: Principais bandeiras - séculos XVII e XVIII 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3yXQDqu. 
Acesso em: 26 mar. 2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
48 
 
 
O bandeirantismo trouxe consequências para a nossa história como o 
alargamento da fronteira colonial, a descoberta do ouro, o desenvolvimento da 
pecuária do sul, dentre outros aspectos. O propósito dessas expedições era 
proporcionar a exploração das terras do interior do Brasil e assumiu a importância 
de expandir o território e dominar novas áreas, inclusive serviram de pressão em 
face da pressão que Portugal vinha sofrendo em razão da presença de espanhóis. 
Assevera-se que: 
 
[...] as fronteiras portuguesas na América do Sul foram expandidas a 
partir de duas frentes de colonização: pioneiramente, a frente 
amazônica e, após o início do Ciclo do Ouro, a frente paulista. Essas 
frentes se encontraram no rio Madeira, fechando o périplo da 
ocupação da fronteira oeste e ligaram uma região à outra

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