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1 UC6 – Habilidades Clínicas | Maria Clara Cabral – 2º Período Anatomia e Fisiologia A cavidade abdominopélvica está situada entre o diafragma torácico e o diafragma pélvico e é revestida por uma camada de tecido que se dobra sobre as vísceras, o peritônio parietal e peritônio visceral. Aloja a maioria dos órgãos do sistema digestório, o baço e partes do sistema urinário e genital. Marcos ósseos da parede abdominal e da pelve: • Processo xifoide; • Rebordos costais • Crista ilíaca; • Espinha ilíaca anterosuperior; • Sínfise púbica; • Tubérculo púbico. Divisões do abdome Quadrantes O abdome é dividido em 4 quadrantes por linhas imaginárias cruzadas no umbigo. Regiões O abdome é dividido, ainda, em 9 regiões, por linhas imaginárias traçadas: • 2 horizontalmente superiormente (de um rebordo costal a outro) e inferiormente (de uma crista ilíaca a outra); • 2 verticalmente saindo do 9º rebordo costal até a sínfise púbica. Exame Clínico do Abdome 2 UC6 – Habilidades Clínicas | Maria Clara Cabral – 2º Período Estruturas abdominais por quadrante É válido ressaltar que cada quadrante possui estruturas anatômicas abrigadas naquela delimitação. Esse entendimento tem grande importância clínica, no momento do exame físico, pois você irá saber o que procura em cada quadrante e região. Além disso, a principal queixa abdominal é a dor, e essas divisões em regiões irá ajudar a criar suspeitas diagnósticas. Diante disso, o exame físico do abdome deve ser realizado no sentido horário, acompanhando a peristalse. Estruturas abdominais por quadrante QUADRANTE SUPERIOR DIREITO (QSD) Fígado; vesícula biliar; piloro; duodeno; flexura direita do colo (flexura hepática do cólon) e cabeça do pâncreas. QUADRANTE SUPERIOR ESQUERDO (QSE) Baço; flexura esquerda colo (flexura esplênica do cólon); estômago; corpo e cauda do pâncreas e colo transverso. QUADRANTE INFERIOR ESQUERDO (QIE) Colo sigmoide; colo descendente e ovário esquerdo. QUADRANTE INFERIOR DIREITO (QID) Ceco; apêndice; colo ascendente e ovário direito. Estruturas importantes no exame físico: QSD: • Fígado: a margem hepática é frequentemente palpável a nível do último rebordo costal direito. • Aorta abdominal: pode ser vista a sua pulsação, principalmente em crianças e em indivíduos mais magros. QSE: • Baço: protegido pelas 9ª, 10ª e 11ª costelas. Sua borda inferior pode ser palpável, com pouca frequência, em indivíduos adultos abaixo do rebordo costal esquerdo. QIE: • Colo sigmoide: podem ser palpáveis • Útero e ovário esquerdo: nas mulheres. QID: • Os órgãos do quadrante inferior esquerdo não são palpáveis em indivíduos hígidos (saudáveis). Observações a serem consideradas: - Os rins são órgãos retroperitoneais, posteriores. Seus polos superiores são protegidos pelas costelas. O ângulo costovertevral (ACV), traçado na borda inferior da 12ª costela e paralelamente aos processos transversos das vértebras lombares superiores, delimita a região onde é realizada a manobra de Giordano. - A bexiga urinária é um órgão reservatório oco, com capacidade de armazenar até 400- 500 mL de urina. Inervada por nervos sacrais. É possível ser palpada, quando distentida, acima da sínfise púbica. 3 UC6 – Habilidades Clínicas | Maria Clara Cabral – 2º Período Anamnese Sinais e sintomas comuns ou preocupantes: Distúrbios gastrintestinais Distúrbios urinários e renais - Dor abdominal, aguda e crônica; - Indigestão, pi rose - Regurgitação, náuseas - Êmese (vômitos) - Hematêmese (vômito com sangue) - Anorexia (perda de apetite) - Saciedade precoce - Disfagia (dificuldade para engolir) - Odinofagia (dor ao engolir) - Alteração da função intestinal - Diarreia - Constipação (pouca frequência de evacuação < 3 evacuações espontâneas por semana) - Tenesmo (dificuldade para evacuar) - Melena (fezes escurecidas com sangue) - Hematoquezia (sangue nas fezes) - Enterorragia (muito sangue nas fezes) - Esteatorréia (gordura nas fezes) - Dor suprapúbica; - Disúria (dificuldade para urinar) - Polaciúria (necessidade de urinar frequentemente) - Poliúria (aumento do volume urinário - Noctúria (micção em excesso à noite) - Urgência urinária - Incontinência urinária - Hesitação urinária - Gotejamento - Hematúria (sangue na urina) - Dor nos flancos - Cólica uretral Tipos de dor abdominal DOR VISCERAL • Contração, distensão ou estiramento de órgãos abdominais ocos • Órgão sólidos (como o fígado) também podem causar dor de estiramento da sua cápsula. • Localização: é uma dor de localização difícil, ocorre próximo à linha média, em níveis que podem variar de acordo com a estrutura envolvida. • Características da dor: pode ser sentida como corrosão, queimação, dor vaga ou imprecisa. Em quadros de alta intensidade, vem acompanhada de sudorese, palidez, náuseas, vômitos e inquietação. Dor visceral no QSD do abdome sugere distensão da cápsula hepática por diversas causas de hepatite, incluindo hepatite alcóolica, comum em pacientes etilistas. Dor periumbilical do tipo visceral sugere fase inicial de apendicite aguda, por distensão do apêndice inflamado. Gradualmente, ocorre a transição para dor parietal no QIE do abdome, devido à inflamação aguda do peritônio parietal adjacente. 4 UC6 – Habilidades Clínicas | Maria Clara Cabral – 2º Período DOR PARIETAL • Origina-se de inflamação no peritônio, chamada de peritonite. É uma dor na parede interna do abdome. • Localização: mais precisa sobre a estrutura envolvida. • Características da dor: dor constante e, geralmente, vaga. Mais intensa que a visceral. Piora com movimentos ou tosse, caracterizando os pacientes com essa dor que preferem ficar deitados ou imóveis. DOR REFERIDA • É percebida em locais distantes dos órgãos acometidos pela dor, isso porque geralmente ambos os locais possuem mesma inervação ou mesma origem germinativa. • É frequente e tende a aumentar sua intensidade, parecendo irradiar-se ou disseminar-se a partir do seu ponto de origem. Pense como se a dor estivesse caminhando, é essa a sensação. • Pode ser referida para o abdome, a partir do tórax, da coluna vertebral ou da pelve. Exemplo: dor de origem duodenal ou pancreática, pode ser referida para o dorso; Exemplo: dor originada nas vias biliares por colelitíase (pedra na vesícula) pode ser referida para a região escapular direita ou tórax posterior direito. Exemplo: dor de infarto agudo da parede inferior do miocárdio pode ser referida para a região epigástrica. DIFERENÇAS Paciente com Peritonite Fica deitado ou imóvel Paciente com cólica renal (devido litíase renal). Fica inquieto para encontrar posição confortável Anamnese para dor abdominal superior Dor ou desconforto na parte alta do abdome: 1. Determinar a cronologia da dor: - Dor aguda ou crônica? - Surgiu de modo gradual ou súbito? - Quando começou? - Quanto tempo dura? - Qual é o seu padrão em um período de 24 horas? - Em semanas ou meses? - A doença é aguda ou crônica e recorrente? 2. Solicite que o paciente descreva a dor com suas próprias palavras: - Onde começa a dor? - Ela se irradia ou se espalha para outro lugar? - Como é a dor? • Caso o paciente tenha dificuldade para descrever, use a alternativa de múltipla escolha: ela é imprecisa; em queimação; em corrosão, ou de que tipo...? • Solicite ao paciente que aponte o local da dor, e caso ela se espalhe, peça para ele mostrar o caminho da dor em seu corpo. • É importante pedir ao paciente para avaliar a escala da dor (1 à 10), mas não deve ser a única coisa para se basear, é algo complementar.3. Fatores de melhora ou piora da dor: - A dor ou desconforto está relacionada ao esforço físico? - Melhora com o repouso? São exemplos de desconforto na parte alta do abdome: 1. Distensão abdominal; 2. Náuseas; 3. Pirose 4. Regurgitação 5 UC6 – Habilidades Clínicas | Maria Clara Cabral – 2º Período 5. Disfagia Desconforto é algo subjetivo, não é necessariamente uma dor, mas pode vir a ser. É chamado de dispepsia o desconforto crônico ou recorrente da dor centralizada na parte superior do abdome, e que pode incluir sintomas diversos, como esses citados acima. Vale lembrar também que esses sintomas são inespecíficos, e podem também ser associados a outras patologias. Exemplo: Distensão abdominal pode ser causa de: intolerância à lactose, doença inflamatória intestinal, câncer de ovário ou deglutição de ar. Anamnese para dor abdominal inferior Dor ou desconforto na parte baixa do abdome: 1. Para dor aguda localizada no QID: - É intensa e contínua ou intermitente? - Tem caráter de cólica? - Te faz querer se curvar para frente? Dor que migra da região periumbilical para o QID, com parede abdominal dolor e rígida à palpação, é sugestiva de apendicite. Em mulheres têm a possibilidade de ser também a doença inflamatória pélvica. 2. Para dor aguda no QIE, ou dor abdominal difusa: - Teve febre associada? - Teve perda de apetite associada? Caso haja dor crônica nos QI do abdome, pergunte sobre alterações dos hábitos intestinais e sobre diarreia e constipação intestinal alternadas. Dor abdominal e sinais/sintomas gastrintestinais associados É comum a apresentação de outros sintomas associados a dor abdominal, mais associados ao sistema urinário. • Dor no flanco, febre e calafrios são indícios de pielonefrite aguda. REFERÊNCIAS: BATES. Propedêutica Médica. 12ª ed., cap. 11. Anotações 6 UC6 – Habilidades Clínicas | Maria Clara Cabral – 2º Período
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