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MANEJO DA SÍFILIS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA HISTÓRIA NATURAL DA SÍFILIS • Agente etiológico: Treponema pallidum. • Possui baixa resistência ao meio ambiente. É sensível à ação do sabão e de outros desinfetantes. • Forma de transmissão: sexual e vertical. A transmissão sexual é maior (cerca de 60%) nos estágios iniciais (primária, secundária e latente recente). • Em gestantes não tratadas ou tratadas inadequadamente a taxa de transmissão é de até 80% para o feto, nos estágios iniciais (primária, secundária e latente recente). • Devemos realizar uma abordagem integral realizando diagnóstico precoce e tratamento oportuno, acompanhar os casos, realizar a notificação dos casos, abordar a parceria sexual e realizar a promoção e prevenção em Saúde Sexual e Reprodutiva. PROMOÇÃO E PREVENÇÃO EM SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA • Abordagem nas consultas e sala de espera. • Informação das formas de transmissão. • Acesso facilitado ao preservativo feminino ou masculino. • Abordagem em ações extramuros (populações-chave). • Saúde nas escolas. DIAGNÓSTICO DE SÍFILIS • Devemos saber identificar as manifestações clínicas. • Saber solicitar os testes. • Saber executar o teste rápido. • Saber interpretar os testes. • Devemos suspeitar o tempo todo. APRESENTAÇÃO CLÍNICA DA SÍFILIS PRIMÁRIA • Após o contato sexual infectante, ocorre um período de incubação com duração entre 10 e 90 dias (média de três semanas). • A primeira manifestação é caracterizada por uma erosão ou úlcera no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca ou outros locais do tegumento) – “cancro duro” e é geralmente única, indolor, com base endurecida e fundo limpo, sendo rica em treponemas. • Geralmente, é acompanhada de linfadenopatia inguinal. • Esse estágio pode durar entre duas e seis semanas e desaparecer de forma espontânea, independentemente de tratamento. APRESENTAÇÃO CLÍNICA DA SÍFILIS SECUNDÁRIA • Os sinais e sintomas surgem em média entre seis semanas e seis meses após a infecção inicial e duram em média entre quatro e 12 semanas, porém, as lesões podem recrudescer em surtos por até dois anos. • As lesões secundárias são ricas em treponemas, podendo ocorrer erupções cutâneas em forma de máculas (roséola) e/ou pápulas, principalmente no tronco; lesões eritemato-escamosas palmo-plantares (essa localização sugere fortemente o diagnóstico de sífilis no estágio secundário); placas eritematosas branco- acinzentadas nas mucosas; lesões pápulo-hipertróficas nas mucosas ou pregas cutâneas (condiloma plano ou condiloma lata); alopecia em clareira e madarose (perda da sobrancelha, em especial do terço distal); febre; mal-estar; cefaleia; adinamia e linfadenopatia generalizada. SÍFILIS TERCIÁRIA • Ocorre em aproximadamente 30% dos pacientes não tratados após um longo período de latência, podendo surgir entre 2 e 40 anos depois do início da infecção. • A sífilis terciária é considerada rara, devido ao fato de que a maioria da população recebe indiretamente, ao longo da vida, antibióticos com ação sobre o T. pallidum. • Manifesta-se na forma de inflamação e destruição tecidual. Também é comum o acometimento neurológico e cardiovascular. • Além disso, verifica-se a formação de gomas sifilíticas (tumorações com tendência à liquefação) em pele, mucosas, ossos ou qualquer tecido. TESTES IMUNOLÓGICOS PARA DIAGNÓSTICO DA SÍFILIS • Exames diretos: a pesquisa direta de T. pallidum nas sífilis recente primária e secundária pode ser feita pela microscopia de campo escuro (sensibilidade de 74% a 86%). Quando isso não é possível, a pesquisa do treponema pode ser realizada por imunofluorescência direta e biópsias. • Testes imunológicos: são os mais utilizados na prática diária. Dividem-se em treponêmicos e não treponêmicos. TESTES TREPONÊMICOS • São testes que detectam anticorpos específicos produzidos contra os antígenos do T. pallidum. • São os primeiros a se tornarem reagentes, sendo importantes para a confirmação do diagnóstico. Na maioria das vezes, mesmo após o tratamento, permanecem positivos pelo resto da vida do paciente. Por isso, não são indicados para o monitoramento da resposta ao tratamento. • Exemplos de testes treponêmicos: o Testes de hemaglutinação e aglutinação passiva (TPHA, do inglês T. pallidum Haemagglutination Test). o Teste de imunofluorescência indireta (FTA-Abs, do inglês Fluorescent Treponemal Antibody- Absorption). o Quimioluminescência (EQL, do inglês Electrochemiluminescence). o Ensaio imunoenzimático indireto (ELISA, do inglês Enzyme-Linked Immunosorbent Assay). o Testes rápidos (imunocromatográficos): são práticos e de fácil execução, podendo ser realizados com amostras de sangue total colhidas por punção venosa ou por punção digital. TESTES NÃO TREPONÊMICOS • São aqueles que detectam anticorpos não específicos (anticorpos anticardiolipina) para os antígenos do T. pallidum e podem ser qualitativos ou quantitativos. • Tornam-se reagentes cerca de uma a três semanas após o aparecimento do cancro duro. • O teste qualitativo indica a presença ou ausência de anticorpos na amostra. • Já o teste quantitativo permite a titulação de anticorpos. O resultado vem expresso em títulos (1:2, 1:4, 1:8, 1:16, 1:32, 1:64, e assim por diante), sendo importante para o diagnóstico e monitoramento da resposta ao tratamento, já que a queda do título é indicativa de sucesso terapêutico. • Exemplos de testes não treponêmicos: o VDRL (do inglês Veneral Disease Research Laboratory). o RPR (do inglês Rapid Test Reagin). o TRUST (do inglês Toluidine Red Unheated Serum Test). • O teste não treponêmico mais comumente utilizado é o VDRL. Se a infecção for detectada nas fazes tardias da doença, são esperados títulos baixos (< 1:4), que podem persistir por meses ou anos. • Para a confirmação do diagnóstico da sífilis, é necessária também a realização de um teste treponêmico.* DIAGNÓSTICO • Para o diagnóstico da sífilis, devem ser utilizados um dos testes treponêmicos (ex: teste rápido, FTA-Abs, TPHA, EQL ou ELISA) + um dos testes não treponêmicos (ex: VDRL, RPR ou TRUST). • A ordem de realização fica a critério do serviço de saúde. Quando o teste rápido for utilizado como triagem, nos casos reagentes, uma amostra de sangue deverá ser coletada e encaminhada para realização de um teste não treponêmico. • Em caso de gestante, o tratamento deve ser iniciado com apenas um teste reagente, treponêmico ou não treponêmico, sem aguardar o resultado do segundo teste. TRATAMENTO PARA SÍFILIS • Prescrever adequadamente para o estágio clínico. • Administrar penicilina na Atenção Básica. • A penicilina é a única opção de tratamento da sífilis na gestação. • A possibilidade de reação anafilática à administração de penicilina benzatina é de 0,002%. • Diversos medicamentos (ex: AINE, lidocaína, etc.), e alimentos (ex: nozes, frutos do mar, corantes, etc.) apresentam mais riscos de anafilaxia. • O receio de ocorrência de reação anafilática NÃO deve ser impeditivo para a administração de penicilina na prevenção da sífilis congênita. • A adrenalina é a droga de escolha para tratamento dessas reações (ALERGIA À PENICILINA), caso ocorram. A pessoa deverá ser referenciada à unidade especializada, conforme preconiza o Caderno da Atenção Básica n°28, V 11. • Após o tratamento devemos realizar o seguimento clínico sorológico. Ressalta-se que caso o intervalo entre as doses ultrapasse a 14 dias, o esquema deverá ser reiniciado. REAÇÃO DE JARISCH-HERXHEIMER • Após a primeira dose de penicilina, o paciente pode apresentar exacerbação das lesões cutâneas – com eritema, dor ou prurido –, as quais regridem espontaneamente após 12 a 24 horas, sem a necessidade da descontinuidade do tratamento. • Essa reação não configura alergia à penicilina e ocorreem resposta ao derrame de proteínas e de outras estruturas dos treponemas mortos pela penicilina na corrente sanguínea. • É mais comum em pacientes que recebem tratamento na fase secundária da sífilis. Tipicamente, vem acompanhada de febre, artralgia e mal-estar. ACOMPANHAMENTO DOS CASOS • Avaliar possível reinfecção. • Avaliar possível falha no tratamento. • Avaliar possível foco não tratado. • É necessário registrar na caderneta de pré-natal da gestante todas as medidas que compõem as ações para prevenir a sífilis congênita, evitando que a criança exposta seja submetida a intervenções desnecessárias no pós-parto. CRITÉRIOS PARA RETRATAMENTO DA SÍFILIS • Não redução da titulação em duas diluições no intervalo de seis meses (sífilis primária, secundária e sífilis latente recente) ou 12 meses (sífilis tardia) após o tratamento adequado (ex: de 1:32 para 1:8, ou de 1:128 para 1:32); ou • Aumento da titulação em duas diluições (ex: de 1:16 para 1:64 ou de 1:4 para 1:16) em qualquer momento do seguimento; ou • Persistência ou recorrência de sinais e sintomas de sífilis em qualquer momento do seguimento. ABORDAGEM DA PARCERIA SEXUAL • Esforço para a testagem e tratamento das parcerias sexuais. • Interromper a cadeia de transmissão e reinfecção. • Busca ativa. • SIGILO. • Contextualiza-se a importância do envolvimento consciente e ativo dos homens em todas as ações voltadas ao planejamento reprodutivo (pré-natal, durante o parto, período pós-parto, cuidados no desenvolvimento da criança, etc). Reforçar sobre a testagem e o tratamento do parceiro para sífilis. NOTIFICAÇÃO DOS CASOS • OBRIGATÓRIA para sífilis adquirida, sífilis em gestante (pré-natal, parto e puerpério), sífilis congênita. • Acionar a vigilância epidemiológica e receber auxílio no manejo do caso e parcerias sexuais. • Programação e planejamento de enfrentamento da epidemia de sífilis. NOVOS CRITÉRIOS DE DEFINIÇÃO DE CASO PARA NOTIFICAÇÃO • Considera-se tratamento adequado da gestante na ficha de sífilis congênita: o Tratamento completo para estágio clínico da sífilis com penicilina benzatina, e iniciado até 30 dias antes do parto, e; o Desconsidera-se a informação do tratamento concomitante da parceria sexual das gestantes. • Sífilis adquirida: o Indivíduo assintomático com teste não treponêmico reagente com qualquer titulação e teste treponêmico reagente sem registro de tratamento prévio. o Indivíduo sintomático para sífilis com pelo menos um teste reagente – treponêmico ou não treponêmico com qualquer titulação. • Sífilis em gestantes: o Mulher assintomática para sífilis, que durante o pré-natal, parto e/ou puerpério apresente pelo menos um teste reagente – treponêmico e/ou não treponêmico com qualquer titulação – e sem registro de tratamento prévio. o Mulher sintomática para sífilis, que durante o pré-natal, parto e/ou puerpério apresente pelo menos um teste reagente – treponêmico e/ou não treponêmico com qualquer titulação. o Mulher que durante o pré-natal, parto e/ou puerpério apresente teste não treponêmico reagente com qualquer titulação + , independentemente de sintomatologia da sífilis e de tratamento prévio. • Sífilis congênita: o Todo recém-nascido, natimorto ou aborto de gestante com sífilis não tratada ou tratada de forma inadequada. o Toda criança com menos de 13 anos de idade com pelo menos uma das seguintes situações: ▪ Manifestação clínica, alteração liquórica ou radiológica de sífilis congênita e teste não treponêmico reagente. ▪ Títulos de teste não treponêmico do lactente maiores do que os da mãe, em pelo menos duas diluições de amostras de sangue periférico, coletadas simultaneamente no momento do parto. ▪ Títulos de testes não treponêmicos ascendentes em pelo menos duas diluições no seguimento da criança exposta. ▪ Títulos de testes não treponêmicos ainda reagentes após 6 meses de idade, em crianças adequadamente tratadas no período neonatal. ▪ Testes não treponêmicos reagentes após os 18 meses de idade sem diagnóstico prévio de sífilis congênita. o OBS: Sempre devemos afastar a possibilidade de sífilis adquirida por violência sexual.
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