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Conselho Editorial Internacional Presidente: Prof. Dr. Rodrigo Horochovski (UFPR – Brasil) Profª. Dra. Anita Leocadia Prestes (ILCP – Brasil) Profª. Dra. Claudia Maria Elisa Romero Vivas (UN – Colômbia) Profª. Dra. Fabiana Queiroz (Ufla – Brasil) Profª. Dra. Hsin-Ying Li (NTU – China) Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet (PUC/RS – Brasil) Prof. Dr. José Antonio González Lavaut (UH – Cuba) Prof. Dr. José Eduardo Souza de Miranda (UniMB – Brasil) Profª. Dra. Marilia Murata (UFPR – Brasil) Prof. Dr. Milton Luiz Horn Vieira (Ufsc – Brasil) Prof. Dr. Ruben Sílvio Varela Santos Martins (UÉ – Portugal) Comitê Científico da área Ciências Humanas Presidente: Prof. Dr. Fabrício R. L. Tomio (UFPR – Sociologia) Prof. Dr. Nilo Ribeiro Júnior (Faje – Filosofia) Prof. Dr. Renee Volpato Viaro (PUC/PR – Psicologia) Prof. Dr. Daniel Delgado Queissada (Ages – Serviço Social) Prof. Dr. Jorge Luiz Bezerra Nóvoa (Ufba – Sociologia) Profª. Dra. Marlene Tamanini (UFPR – Sociologia) Profª. Dra. 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Elisângela Maura Catarino (Unifimes – Educação/Religião) Profª. Dra. Sandra Célia Coelho G. da Silva (Uneb – Sociologia, Gênero, Religião, Saúde, Família e Internacionalização) Thais Campos de Oliveira Freitas Carlos Alberto Moreira dos Santos Clube de Ciências na Escola: um guia para professores, gestores e pesquisadores © Brazil Publishing Autores e Editores Associados Rua Padre Germano Mayer, 407 Cristo Rei - Curitiba, PR - 80050-270 +55 (41) 3022-6005 Associação Brasileira de Editores Científicos Rua Azaleia, 399 - Edifício 3 Office, 7º Andar, Sala 75 Botucatu, SP - 18603-550 +55 (14) 3815-5095 Comitê Editorial Editora-Chefe: Sandra Heck Editor Superintendente: Valdemir Paiva Editor Coordenador: Everson Ciriaco Diagramação e Projeto Gráfico: Rafael Chiarelli Arte da Capa: Paula Zettel Revisão Técnica e Textual: Thais Valentim Revisão de Texto: Caroline Rodrigues dos Anjos DOI: 10.31012/978-65-5861-224-7 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária: Maria Isabel Schiavon Kinasz, CRB9 / 626 Freitas, Thais Campos de Oliveira F866c Clube de Ciências na escola: um guia para professores, gestores e pesquisadores / Thais Campos de Oliveira Freitas, Carlos Alberto Moreira dos Santos – 1.ed. – Curitiba: Brazil Publishing, 2020. [recurso eletrônico] ISBN 978-65-5861-224-7 1. Ciências – Estudo e ensino. 2. Clube de Ciências. I. Santos, Carlos Alberto Moreira dos. II. Título. CDD 507 (22.ed) CDU 50:373 [1ª edição – Ano 2020] www.aeditora.com.br Aos clubistas do ClubMarinos, participantes que vivenciam conosco cada etapa e conquista dessa experiência. Aos familiares que apoiam e incentivam nossos projetos. A Kêmeli Mamud, que com as suas formações inspirou a construção deste livro. Aos professores e alunos do Programa de Pós-Graduação em Projetos Educacionais de Ciências, que qualificam o Ensino de Ciências e nos inspiram a pesquisar e a escrever. “Diga-me eu esquecerei, ensina-me e eu poderei lembrar, envolva-me e eu aprenderei” (Benjamin Franklin). https://www.pensador.com/autor/benjamin_franklin/ Apresentação Este guia é produto da dissertação denominada “Implementação de um Clube de Ciências na Rede Pública de São José dos Campos: etapas, atores e a Alfabetização Científica”. Esta pesquisa foi realizada ao longo de dois anos no Programa de Pós-Graduação em Projetos Educa- cionais de Ciências da Escola de Engenharia de Lorena, da Universidade de São Paulo. A ideia de escrevê-lo surgiu do nosso desejo de oferecer aos interessados um guia de implementação de um Clube de Ciências; que opere com a abordagem inves- tigativa, desenvolva a Alfabetização Científica e que seja transposto para a prática com facilidade. Assim, este guia será uma ferramenta para você, gestor escolar, professor ou aluno de Graduação e Pós-Gra- duação, que quer implementar um Clube de Ciências em uma escola. Nele, você encontrará orientações e sugestões de etapas para nortear a implementação do Clube e a realização de projetos ou de atividades investigativas. O guia também poderá ser utilizado como material didático em cursos na área da Educação Científica e de Ensino de Ciências. Ao longo do texto, são fornecidos modelos de au- torizações, formulários e fichas que poderão ser adaptados ao contexto da sua unidade escolar. Para atingir os fins didáticos, no início de cada capítulo serão apresentados os objetivos e os conteúdos que serão desenvolvidos. Dessa forma, você poderá localizar as informações e as situações- -problema que serão respondidas com agilidade. O livro foi organizado em seis capítulos. O primei- ro apresenta o contexto histórico do Clube de Ciências e dedica-se a conceituá-lo e a caracterizá-lo, apresentando projetos reais como possibilidade de práticas a serem de- senvolvidas nesse espaço. O segundo capítulo explica as etapas de elabo- ração do plano do projeto, documento que formaliza e organiza a implementação do Clube de Ciências. Enfatiza a importância do diagnóstico da realidade escolar e pro- põe estratégias para elaborar os objetivos e selecionar os recursos necessários. O terceiro capítulo aborda o Clube de Ciências já implementado e explicita as etapas de estruturação administrativa e a definição da linha de pesquisa. Sugere procedimentos para realização da primeira reunião de pais e do encontro inaugural. O quarto capítulo traz os pressupostos teóricos que fundamentam o Clube de Ciências, como a Alfabe- tização Científica, o Ensino por Investigação, a teoria de desenvolvimento cognitivo e moral proposto por Piaget (1994, 1999) e a teoria histórico-cultural proposta por Vygotsky (1991, 2001, 2010). O quinto capítulo apresenta os tipos de atividades que poderão ser desenvolvidas no Clube de Ciências. São sugeridas estratégias para o trabalho com projetos, sequência de exercícios e atividades típicas do campo científico, como experiências e visitas de campo. Por fim, o sexto capítulo apresenta ferramentas para a avaliação do Clube de Ciências, tanto como projeto de intervenção quanto para nortear a formação do clubista. Esperamos que este material possa ser uma ferra- menta importante para a implementação e o desenvolvi- mento de muitos Clubes de Ciências e que, a longo prazo, as ações aqui apresentadas possam ser referência para a elaboração de uma política pública de apoio à Alfabetiza- ção Científica na Educação Básica. Os autores Abstract This book is based on a research that was carried out over two years in the Graduate Program of Educational Sciences Projects of the “Escola de Engenharia de Lorena” of the University of São Paulo; the product of the master thesis entitled “Implementation of a Science Club in the Public Network for Education of São José dos Campos: Stages, Actors and the Scientific literacy”. Nowadays, the role of Science is being devalued, poorly understood and even questioned by several political figures and societal members, many people fail to differentiate facts from fake news. In 2018, the Pisa (Programme for InternationalStudent Assessment) demonstrated that, in Brazil, 55% of students are below level 2 in Science, a level established as necessary to young people to be able exercising their citizenship. In order to offer a contribution to improve the currently scenario, this book offers an implementation guide for those whom are interested in setting up a Science Club. Another fact to consider is that this guide aims to develop an investigative approach focus on Scientific literacy using inquisitive activities that lead to an easy way for the basic students (elementary to middle school) to transpose their acquaintance and scientific learning to their lifestyle as responsible and knowledgeable citizens. The following thesis shows strategies to elaborate, monitor, and evaluate the project of implementation, authorization templates, and forms such it can be adapted to the context of each school. We hope that this book is going to be an important resource for you as a school manager, teacher or researcher who wants to implement a Science Club in a school. Also, in a long term, the actions reported in this context can be a reference for the elaboration of a public policy to support Scientific Education in Basic School. Palavras-chave Capítulo 1 História dos Clubes de Ciências. Reflexão sobre os Conceitos. Intencionalidades do Clube de Ciências. Possibilidades de Atividades. Experiências Realizadas. Capítulo 2 Responsáveis pela Implementação. Plano de Implementação. Diagnóstico Escolar. Escopo do Projeto. Planejamento do Projeto. Capítulo 3 Divulgação do Clube. Adesão dos Alunos. Encontro Inaugural. Estatuto, Comissões e Diretoria. Eleição do Nome e Logotipo. Capítulo 4 Alfabetização Científica. Ensino por Investigação. Desenvolvimento Cognitivo e Moral. Teoria Histórico-Cultural. Dimensões Interativas. Capítulo 5 Modalidades Organizativas. Projetos. Experimentos. Vivências Científicas. Estratégias de Comunicação. Capítulo 6 Avaliação do Projeto. Avaliação Formativa. Caderno de Bordo. Autoavaliação. Rubricas. Sumário CAPÍTULO 1 Afinal, o que é um Clube de Ciências? . . . . . . . . . . . . . 14 1.1 Percurso histórico dos Clubes de Ciências . . . . . . . . . . 15 1.2 O que é um Clube de Ciências? . . . . . . . . . . . . . . . 22 1.3 Por que implementar Clubes de Ciências nas escolas? . . . . . 27 1.4 O que possível fazer em um Clube? . . . . . . . . . . . . . 30 CAPÍTULO 2 Plano de projeto: o nascimento do Clube de Ciências . . . . . . . 34 2.1 Quem pode implementar um Clube de Ciências? . . . . . . . 35 2.2 O plano do projeto de implementação . . . . . . . . . . . . 36 2.3 Etapa de inicialização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 2.3.1 O diagnóstico da realidade escolar . . . . . . . . . . . . . 38 2.3.2 O escopo do projeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 2.4 O planejamento da implementação . . . . . . . . . . . . . . 52 CAPÍTULO 3 O Clube de Ciências na prática: adesão e participação dos clubistas 53 3.1 Etapas da estruturação administrativa . . . . . . . . . . . . 54 3.1.1 A divulgação do Clube de Ciências na escola . . . . . . . . 54 3.1.2 Instrumentos necessários para a organização do Clube . . . . 61 3.1.3 Reunião com os responsáveis . . . . . . . . . . . . . . . 62 3.1.4 Encontro inaugural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 3.1.5 Definição da estrutura administrativa . . . . . . . . . . . . 67 3.2 Eleição da linha de pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 3.2.1 Elaboração do nome do Clube e logo . . . . . . . . . . . . 73 CAPÍTULO 4 Pressupostos teóricos para a aprendizagem nos Clubes de Ciências 75 4.1 Os pressupostos teóricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 4.2 A Alfabetização Científica e o Ensino por Investigação . . . . . 78 4.3 O desenvolvimento moral e cognitivo . . . . . . . . . . . . 89 4.4 Contribuições da teoria histórico-cultural e as dimensões interativas . .96 CAPÍTULO 5 O desenvolvimento das atividades . . . . . . . . . . . . . . 102 5.1 Modalidades organizativas . . . . . . . . . . . . . . . . 103 5.1.1 Projetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 5.1.2 As atividades habituais . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 5.1.3 Sequência de atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 5.1.4 Situações independentes . . . . . . . . . . . . . . . . 109 5.2 Atividades científicas, o Ensino por Investigação e as dimensões interativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 5.2.1 Experimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 5.2.2 As vivências científicas . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 5.2.3 Estratégias de comunicação . . . . . . . . . . . . . . . 117 CAPÍTULO 6 Monitoramento, controle e avaliação do Clube de Ciências . . . 122 6.1 A avaliação do projeto Clube de Ciências . . . . . . . . . 123 6.2 A dimensão formativa da avaliação . . . . . . . . . . . . 134 6.2.1 A avaliação formativa . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 6.2.2 Instrumentos para avaliar o ensino e a aprendizagem no Clube de Ciências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 Apêndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152 Índice remissivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167 Sobre os autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169 14 capítulo 1 Afinal, o que é um Clube de Ciências? Objetivos: • Apresentar o contexto histórico do Clube de Ciências. • Definir Clube, Clube Escolar e Clube de Ciências. • Caracterizar o Clube de Ciências. • Salientar as vantagens de implementar Clubes de Ciências nas escolas. • Demonstrar, por meio de exemplos, que atividades e estratégias pedagógicas podem ser utilizadas. Conteúdos: • A história dos Clubes de Ciências. • Definições de Clube de Ciências. • As finalidades da implementação de um Clube de Ciências nas escolas. • Possibilidades de práticas nos Clubes de Ciências. 15 1.1 Percurso histórico dos Clubes de Ciências A história dos Clubes de Ciências nasce ancorada nas concepções educacionais de John Dewey que, em 1910, publicou um artigo afirmando que o futuro da nossa civili- zação dependia do aprofundamento do hábito científico da mente e que um dos maiores problemas educacionais seria descobrir como amadurecer e tornar eficaz esse hábito (DEWEY, 1910). Essa ideia inspirou e norteou o pensamen- to e as tendências educacionais de muitos professores e pesquisadores da educação. Assim, as ideias de promoção de Clubes e Feiras de Ciências começam nos Estados Unidos da América, no auge da Primeira Guerra Mundial. Terzian (2013) relata que Morris Meister, um jovem estudante de doutorado na Universidade de Columbia, professor de Ciências nas escolas públicas de Nova York, inspirado na filosofia educacional liberal de John Dewey (1910), participou de uma conferência sobre Educação Científica de professores e abriu seu discurso com uma declaração ousada: A guerra é o fator mais importante no mundo de hoje. A América é o fator mais importante na guerra. A educação é o fa- tor permanente vital na América. Assim, a Ciência pode e deve tornar-se o fator maisimportante na Educação (TERZIAN, 2013, p. 9, tradução nossa)1. 1 No original: “The war is the most vital factor in the world today. America is the most factor in the war. Education is the most vital permanent fator in America. Science, considered in the larg, can and must become the most vital fator in Education”. 16 Com base nessa convicção, Meister dedicou-se às pesquisas sobre a Educação Científica. Em março de 1923, publicou o artigo “Managing a Science Club”, no qual defendeu que as ações desenvolvidas na escola deveriam relacionar-se com a vida real e com o presente do aluno. Assim, Meister (1923) apresentou o Clube de Ciências como uma atividade extracurricular promissora e des- creveu três aspectos relevantes, a saber: i) a natureza ou caráter do Clube; ii) sua organização; e iii) seu programa de atividades. Dessa forma, Meinster (1923) estabeleceu um dos primeiros descritivos de como implementar e geren- ciar um Clube de Ciências. Esses movimentos de promoção de Feiras e Clubes de Ciências foram intensificados com a chamada Escola Nova, um movimento de renovação do ensino que surgiu no fim do século XIX na Europa e ganhou força na primeira metade do século XX, expandindo-se no Brasil na década de 1920. Nessa época, o sistema educacional brasileiro pas- sava por grandes reformas, e Anísio Teixeira, que ocupava o cargo de Inspetor Geral de Ensino da Bahia (equivalente ao atual cargo de Secretário Estadual da Educação), viajou pela Europa para conhecer novos modelos educacionais e, posteriormente, matriculou-se no curso de Pós-Graduação no Teacher’s College da Universidade de Columbia em Nova York, onde foi aluno de John Dewey. De acordo com San- tos (2016), essas vivências permitiram que Anísio Teixeira construísse suas bases intelectuais ancoradas no método experimental, e esse fato foi de importância decisiva na sua vida, pois despertou o interesse pela observação e experi- 17 ência e o culto da liberdade e das instituições democráticas, características típicas das tendências liberais. Esse pensamento também foi explícito nos denomi- nados “pioneiros da educação”, grupo formado por Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, entre ou- tros, que, impulsionados pelas reformas da década de 1920 e pelos ideais da Escola Nova, publicaram o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. De acordo com Xavier (2007), a Ciência, nesse documento, era vista como a chave para o progresso da humanidade. As atenções da Escola Nova foram voltadas ao Ensi- no Primário e Secundário, mas Abrantes e Azevedo (2010) afirmam que, ao final da Primeira República, a implantação da universidade completou a agenda de debates, que se estendeu pela década de 1930, e contou com a participação ativa dos cientistas que pertenciam à Academia Brasileira de Ciências. Estes vieram para nortear o Ensino Superior e as instituições científicas, rompendo com o pensamento positivista que tinha como ideal a Ciência pura, sem víncu- los imediatos com a aplicação. Nesses ideais liberais, no ponto de vista de Mancuso, Lima e Bandeira (1996), a responsabilidade do professor era minimizada, enquanto que o aluno assumia a responsabi- lidade exclusiva por seu fracasso ou sucesso. Esse posicio- namento desconsiderava as desigualdades sociais e não in- cluía ações equitativas, o que fez com que o escolanovismo, embora tenha deixado heranças, não tenha prosperado. Na década seguinte, foi fundado no Rio de Janei- ro o Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC), como uma Comissão Nacional da Organização 18 das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil, para promover projetos de divulgação científica e do Ensino de Ciências. Lira (2012) diz que o IBECC desenvolveu intensa atividade ligada à renovação do Ensino de Ciências, unindo alunos e professores em um movimento de promoção de atividades extraescolares e cursos de atualização. Esse breve histórico evidencia que a Educação Científica no Brasil sofreu grande influência internacional. Krasilchik (1987) afirma que, na prática educacional, mesmo com os ideais escolanovistas presentes desde a década de 1920, o Ensino de Ciências no Brasil foi livresco, memorísti- co, teórico e sem experimentação até a década de 1950. Lira (2012) salienta que, até essa década, aparelhos complexos e experimentos complicados eram descritos em livros tradu- zidos do francês, sem que professores e alunos tocassem em um termômetro ou em uma lente. Mancuso e Moraes (2015) corroboram com essas informações e suplementam dizendo que os conteúdos das disciplinas ditas científicas (Química, Física e Biologia) continuaram a ter como foco central o produto, e não os processos da Ciências. A partir de 1950, o IBECC iniciou suas atividades em São Paulo e estabeleceu sua sede na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), onde rea- lizava projetos de divulgação científica e de Educação em Ciências e elaboração de material didático, com o apoio do Governo Federal e de Secretarias Estaduais de Educação, bem como de agências internacionais. Em outubro de 1956, uma conferência foi realizada pelo Instituto para a Educação da Unesco, e nela programas de ensino de nível secundário e de Ciências Básicas foram elaborados, bem 19 como realizados programas para a formação de professo- res (KRASILCHIK, 2000; ABRANTES; AZEVEDO 2010). Mancuso, Lima e Bandeira (1996) relatam que, em 1957, com a perda da corrida espacial dos Estados Unidos para a União Soviética, a importância da metodologia científica foi evidenciada, e os planos e projetos de ensino passaram a valorizá-la como forma de ensinar Ciências. Assim, a metodologia científica foi difundida, mas não chegou de fato às salas de aula como uma prática. Mancuso e Moraes (2015) afirmam que, na década de 1960, no Brasil, os Clubes de Ciências surgiram e foram se espalhando pelo país. Neles, estudantes motivados poderiam constituir grupos de estudos e pesquisas sobre assuntos de sua curiosidade. Em muitas regiões, os Clubes cresceram e começaram a exibir sua produção interna nas Feiras de Ciências, inicialmente as escolares e, mais tarde, nas de âmbito mais abrangente. No Rio Grande do Sul, a relação entre Clubes e Feiras foram tão intensas que quase se confundiram na essência, como se todas as pesquisas e trabalhos realizados no Clube tivessem de ser direcionados à Feira para obter divulgação. Santos e Santos (2008) relataram que, nesse perío- do, os Clubes de Ciências escolares se originam por serem considerados locais adequados ao desenvolvimento da “metodologia científica” e para incentivar a repetição do que era produzido nos laboratórios de pesquisa. Buch e Schroeder (2011, p. 4) dizem que essa proposta nasceu desacreditada e justificam essa afirmação dizendo que para a grande maioria dos professores e diretores não era normal realizar saídas a campo, coletar dados, fazer investigações, 20 etc. Muitos pensavam não se tratar de um trabalho sério e honesto. Era complicado convencer as pessoas que fora da sala de aula também poder-se-ia estabelecer um interessante espaço pedagógico (BUCH; SCHROEDER, 2011, p. 4). De acordo com Lira (2012), a atuação do IBECC em 1967 foi limitada aos programas extraescolares, que obje- tivavam corrigir essa visão distorcida trazida pelo ensino escolar, e eram constituídos basicamente pelo Congresso de “Jovens Cientistas”, Concursos “Cientistas do amanhã” e “Clubes de Ciências”. A promulgação da Lei de Diretrizes e Bases na década de 1970 (Lei nº 5692/71) (BRASIL, 1971) pouco con- tribuiu com a evolução do Ensino de Ciências, visto que ela priorizou as disciplinas profissionalizantes, diminuindo as disciplinas científicas. Já os anos 80 são marcados pelo surgimento do modelo construtivista, também fundamen- tado pela tendência liberal renovada-progressista. Santos e Santos (2008) relataram que esse modelo era marcado pela concepção de que o conhecimentonunca está pronto e acabado; os saberes prévios dos alunos são tratados de maneira mais articulada. Nessa tendência, os alunos são construtores dos conhecimentos, corresponsáveis por sua aprendizagem. A autonomia dos alunos dos Clubes de Ci- ências passa a ser valorizada, assim como os processos da Ciência passam a ser tão apreciados quanto seus produtos. Os anos 90 são palco de mudanças na educação bra- sileira, pois ela estava em transição devido à aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996, (Lei nº 9.394) (BRASIL, 1996) e da publicação, em 1998, dos 21 Parâmetros Curriculares Nacionais. Esses dois documen- tos norteadores da educação objetivavam formar cidadãos conscientes e atuantes na sociedade, e a relação entre Ci- ência, Tecnologia e Sociedade passa a ser foco do trabalho docente nas próximas décadas. Em 1996, Mancuso, Lima e Bandeira publicam o Livro “Clube de Ciências: criação, funcionamento, dinamização”, uma obra que buscou in- centivar e orientar a implementação de Clubes de Ciências com base nas experiências vivenciadas ou conhecidas por eles. No livro, relatam o contexto dos Clubes de Ciências, dizendo que: Atualmente contamos com uma grande diversidade de Clubes espalhados por muitas escolas, regiões e países, cada qual vivendo a sua especificidade cultural, produto de seus princípios norteadores, gerando objetivos específicos e metas precisas (MANCUSO; LIMA; BANDEIRA, p. 40, 1996). Duas décadas depois, em um contexto mais recente, a Base Nacional Curricular Comum (BRASIL, 2017) traz à tona a necessidade da Alfabetização Científica e visa ofe- recer aos alunos o acesso à diversidade de conhecimentos científicos produzidos ao longo da história e uma aproxi- mação aos principais processos, práticas e procedimentos da investigação científica. As novas linhas de pensamento e os modismos educacionais, de acordo com Mancuso, Lima e Bandeira (1996), chegam ao Clube de Ciências e ressignificam a prática e as intenções pedagógicas. Corroborando com 22 essa afirmação, verificamos que as metodologias ativas, as práticas investigativas, a desmitificação da Ciência e do Cientista e a Alfabetização Científica passam a permear e a orientar as práticas nos Clubes de Ciências. Hoje, em 2020, ano da pandemia da covid-19, outras formas de desenvolver o Clube de Ciências neces- sitam ser criadas, para que se possa estabelecer inovações para a interação e comunicação entre os clubistas, objeti- vando ampliar os espaços de atuação do Clube, tanto no lócus físico quanto remoto. Depois do contexto histórico e do estabelecimento das relações entre Educação Científica e Clube de Ciências, na seção seguinte nos cabe definir conceitualmente o Clube de Ciências e caracterizá-lo. 1.2 O que é um Clube de Ciências? A palavra Clube pode ser utilizada em vários contextos, com diferentes objetivos; carrega consigo um grande campo semântico e pode ser definida pelo dicioná- rio como: Clube. ETIM ing. club. substantivo masculino 1. Local de reuniões sociais, literárias, recreativas ou políticas. 2. Local que tem edificações, piscinas, quadra de esportes, restaurantes, etc., cujos sócios, para frequentá-lo, devem comprar um título ou pagar mensali- dade. Quadro 1 – Definição da palavra Clube. Fonte: Ferreira (2010, p. 171). 23 Fica evidente que, no geral, os Clubes são espaços nos quais pessoas se reúnem para discutir temas de interesses comuns e compartilhar momentos de lazer, geralmente em um ponto de encontro físico. Entretanto, as definições ante- riormente apresentadas são generalistas e não descrevem de forma ideal o Clube que pretendemos implementar. Neste livro, abordaremos especificamente o Clube de Ciências, que é uma subcategoria do Clube Escolar. O Clube Escolar, de acordo com Schmitz, é um meio de relações com o saber, em que seus participantes, estudantes e professores compartilham, por livre adesão e iniciativa, em um contexto de educação não formal, experiências das três figuras do aprender: a epistêmica, a social e a de identidade, mobili- zados pelo trabalho intelectual, na direção da formação humana (SCHMITZ, 2017, p. 97). O Clube Escolar se diferencia de qualquer outro tipo de Clube por ter explicitamente um objetivo educacional e mobilizar professores e alunos na construção de saberes e atitudes coletivas em torno de interesses compartilhados. Ecuador (2014) salienta que os Clubes Escolares, por sua natureza coletiva, contribuem para o desenvolvimento cognitivo dos estudantes e melhoram suas habilidades so- ciais e emocionais, como trabalho em equipe, perseverança, responsabilidade, autocontrole, respeito pelas diferenças e promoção da autonomia. Por compartilhar de todas essas intenções pedagógicas, o Clube de Ciências é entendido por nós como um tipo de Clube Escolar, que se especializa por unir professores e alunos que almejam discutir, fazer e comunicar Ciência. Nesse sentindo, a figura 1 representa o lócus do Clube de Ciências apresentado neste guia. 24 Figura 1 – Lócus do Clube de Ciências. Fonte: Elaborada pelos autores. Consultando a literatura especializada, pode-se dizer que um Clube de Ciências apresenta as seguintes características: pensado como ambiente de ensino não formal, coletivo e interativo, que trabalha com a investigação científica (COUTO; LARANJEIRAS, 2017, p. 7). [...] um espaço de educação que se constitui de estudantes, livremente associados, que se reúnem no contraturno escolar e se organizam como um grupo que compartilha o interesse pela Ciência e o desejo de estarem juntos. Neste contexto, os clubistas, acompanhados por um professor, desenvolvem atividades investigativas, culturais, de expressão e cooperação, a partir de temas de seus interesses (ROCHA et al., 2015). 25 propicia condições adequadas não só para que o aluno se aproprie das infor- mações científicas e tecnológicas, como também constitui-se em um local para discussão, debate e reflexão envolvendo aspectos éticos e morais que resultam da utilização dessas informações, podendo então interpretá-las e analisá-las, possibilitando o desenvolvimento de uma atitude crítica frente às mesmas (PIRES et al., 2007, p. 4). É um espaço em que não apenas se busca o conhecimento da Ciência e da tecno- logia, mas também o conhecimento sobre eles e seus processos de construção, bem como aspectos relacionados à sua história e ao relacionamento com outros campos (CÓRDOBA, 2012, p. 2, tradução nossa). Quadro 2 – Características de um Clube de Ciências. Fonte: Couto e Laranjeiras (2017, p. 7), ROCHA et al. (2015), PIRES et al. (2007, p. 4) e Córdoba (2012, p. 2). Todas as características presentes nas citações po- dem ser sintetizadas da seguinte maneira: O Clube de Ciências é um espaço de educação não formal, mesmo sendo sediado em escolas. Reúne professores e alunos que desejam explo- rar o universo das Ciências. Nele, os alunos podem fazer Ciência e discutir sobre sua história, processos e produtos. Os aspectos éticos e sociais são importantes objetos de conhecimento nesse espaço, princi- palmente por considerar que os alunos estão se desenvolvendo moralmente. As atividades são diversas, de livre escolha dos estudantes, e as ações coletivas são fundamentais. Quanto à organização, os Clubes de Ciências po- dem ser compostos por um número variável de alunos. Córdoba (2012) salienta que os grupos se reúnem e se orga- nizam com base em suas coincidências de gostos, opiniões 26 ou, simplesmente, nos seus desejos de relacionamento social. Para Couto e Laranjeiras (2017), o Clube de Ciências poderá ser aberto aos estudantes que quiserem participar ou fechado para um grupo específico. Dessa forma, fica a critério do mediador do Clube como esses alunos serão agrupados e selecionados. Os participantes do Clube de Ciências podem ser chamados de sócios, membros ou clubistas. Nesse espa- ço, a palavra aluno deve ser evitada, pois ela, de acordo com Cunha(2010), refere-se àquele que recebe instrução e/ou educação; é uma palavra que se origina do latim, alumnus, que significa “a criança de peito, aquele que é mantido, discípulo, filho” (VIEIRA; HASEGAWA, 2018). Consideramos que no Clube de Ciências o termo aluno seria inapropriado, pois nesse espaço espera-se que os participantes sejam ativos, protagonistas e que suas vozes sejam consideradas nas decisões. Em relação ao conceito de “professor”, que é derivado do latim, professore, e definido pelo dicionário Aurélio (FERREIRA, 2010) como aquele que ensina uma Ciência, arte ou técnica, preferimos também não adotar no Clube, denominando aquele que desempenha o papel de ponte entre o conhecimento e os clubistas de mediador. As relações estabelecidas são horizontais; dessa forma, as responsabilidades e a hierarquia são definidas de acordo com a formação da diretoria. Quando se trata de Clube de Ciências, os clubistas precisam ir além daquilo que já conhecem, assim, o media- dor não é a principal fonte de informação; ele deve atuar como um orientador para auxiliar no acesso a metodologias 27 de pesquisa e a novos meios de obtenção e construção de novos conhecimentos. Cabe a ele, muitas vezes, suscitar dúvidas e fazer perguntas que irão nortear a pesquisa ou a ação do clubista. Mesmo com todas essas características evidencia- das, é pertinente saber que não existe um conceito pronto e acabado quando se trata de Clube de Ciências, pois essa é uma proposta em processo de construção e amadureci- mento. Por isso, o Clube de Ciências desponta como um local de aplicação didática do Ensino por Investigação e para o desenvolvimento da Alfabetização Científica, sendo relevante que ele se torne objeto de estudo de pesquisado- res da Educação Científica. Por que implementar Clubes de Ciências nas escolas, se vários objetivos apresentados são comuns aos preconizados nos documentos curriculares? A próxima seção dedica-se a responder esse questionamento. 1.3 Por que implementar Clubes de Ciências nas escolas? A Educação Científica tem buscado ir além dos conceitos canônicos, das práticas demonstrativas e da mera reprodução sistemática da metodologia científica. Espera-se que o Ensino de Ciências prepare os cidadãos para que sejam capazes de compreender os princípios dos fenômenos cotidianos, identificar a veracidade das infor- mações e mobilizar esses conhecimentos para solucionar problemas pessoais e sociais. 28 Mesmo diante desse ideal de formação, o resultado do Programme for International Student Assessment (Pisa), de 2018, demonstrou que, no Brasil, o processo de Ensino de Ciências formal não está alcançando resultados satisfató- rios, pois 55% dos estudantes estavam abaixo do nível 2 em Ciências – patamar estabelecido como necessário para que os jovens possam exercer plenamente sua cidadania (BRASIL, 2019). Esse resultado evidencia que a maioria dos alunos ainda não é capaz de participar plenamente da vida social, econômica e cívica da sociedade moderna em um mundo globalizado (BRASIL, 2019). O fato é que, ape- sar de o processo de globalização permitir que a sociedade interaja com os produtos da Ciência presentes no cotidia- no, ela ainda apresenta dificuldades para interpretar os princípios, os processos e as responsabilidades intrínsecas ao fazer Ciência. Assim, na tentativa de sanar esse problema, as normatizações curriculares atuais, orientadas pela Base Nacional Comum Curricular, assumiram o compromisso de desenvolver a Alfabetização Científica, que, de acordo com Brasil (2017, p. 321), envolve a capacidade de compre- ender e interpretar o mundo (natural, social e tecnológico) e também de transformá-lo com base nos aportes teóricos e processuais das Ciências. No entanto, a estrutura e o funcionamento da es- cola regular limitam o tempo das disciplinas curriculares e, como consequência, muitas questões e curiosidades típicas dos alunos podem permanecer perdidas na ânsia ou imposição dirigente de cumprir um planejamento. A esse respeito, cabe a seguinte colocação: 29 Falta-nos, portanto, explorar mais em espaços de aprender os processos de sentir e pensar na sustentabilidade, de apostar na criatividade, na capacidade de aprendizagem, de conviver, de socializar, e de cultivar a vida no planeta. Estamos muito ocupados em aprender conteúdos conceituais e desprezamos os conteúdos emocionais, vivenciais e integralizadores do ser, que podem promover vida com qualidade e inteireza (MENEZES; SCHRO- EDER; SILVA, 2012, p. 813). Por isso, é necessário que o conhecimento científi- co não se restrinja ao mínimo preconizado pelo currículo. Rocha (2008, p. 62) relata que a escola tem um papel prioritário no movimento da Alfabetização Científica, “porém, ela não é capaz de fazer isso sozinha, uma vez que o volume de informação é cada vez maior, daí a im- portância de uma parceria desta com outros espaços onde se promove a educação não formal”. A parceria aqui proposta é a implementação dos Clubes de Ciências nas escolas de Educação Básica, que pode alfabetizar cientificamente uma parcela dos alunos e contribuir para a melhoria do cenário educacional. Os Clubes de Ciências, como já visto, são espaços de educação não formal e não são normatizados por um currículo; suas atividades são mais autônomas, necessariamente partici- pativas e oportunizam ao clubista trabalhar seus interesses e responder dúvidas e curiosidades que muitas vezes não são sanadas durante as aulas. Por isso, o Clube de Ciências pode ser um espaço para suplementar as aulas regulares, mas não pode ser considerado apenas uma extensão, um 30 local extra para dar aulas ou um reforço das disciplinas científicas. Ele deve ser um espaço para questionar, pensar, construir e desenvolver projetos, pesquisas e experimentos. Visando ampliar a compreensão do que pode ser feito em um Clube de Ciências, a seção 1.4 apresenta um panorama geral de atividades. 1.4 O que possível fazer em um Clube? Diversas atividades podem ser realizadas em um Clube de Ciências, ficando a cargo do mediador do Clube, individualmente ou em conjunto com os clubistas, definir a estratégia mais adequada ao objetivo pretendido. Córdoba (2012) apresenta lista uma série de atividades, como: • Trabalho em equipe em projetos e estudos científicos/tecnológicos que respondem a pro- blemas da escola e/ou da comunidade. • Atividades laboratoriais: pesquisa, coleta, leitu- ra e análise de informações de diferentes fontes. • Planejamento e participação em acampamentos e passeios científicos. • Design, organização e implementação de cam- panhas. • Organização e participação em atividades culturais e recreativas, como palestras, confe- rências, projeções de vídeos, entre outras. • Organização e participação em atividades de di- vulgação, como feiras, conferências para jovens, exposições, painéis, mesas redondas, jornais 31 de parede, revistas, boletins ou publicações em sites, entre outras. • Atividades de colaboração com instituições comu- nitárias (CÓRDOBA, 2012, p. 9, tradução nossa)2. Dessa maneira, nem todos os Clubes serão iguais, pois cada um será construído em torno de um tema, de- senvolverá diferentes atividades e construirá sua própria identidade. Por isso, Pires et al. (2007) afirmam que não existe uma receita para o funcionamento de um Clube de Ciências, pois cada um atenderá aos anseios e às parti- cularidades de seus participantes e às características da comunidade em que está inserido. Para demonstrar o quanto a atuação do Clube de Ciências pode ser ampla, apresentaremos alguns exemplos de como essas atividades podem ser realizadas nas escolas. Como primeira prática, apresentaremos um Clube desenvolvido em uma escola privada, que escolheu tra- balhar por meio de projetos de aprendizagem em torno de um tema integrador. Essa experiência foi relatada em uma reportagem realizada por Falzetta (2003) para a Re- 2 No original: “• Trabajo de equiposen proyectos y estudios científicos/tecnológicos que respondan a problemáticas escolares y/o comunitarias. • Actividades de laboratorio: Búsqueda, recopilación, lectura y análisis de información en distintas fuentes. • Planificación y participación en campamentos y salidas científicas. • Diseño, organización e implementación de campañas. • Organización y participación en actividades culturales y de recreación como charlas, conferencias, proyecciones de videos, entre otras. • Organización y participación en actividades de divulgación como ferias, congresos juveniles, muestras, exposiciones, paneles, mesas redondas, diarios murales, publicaciones en revista, boletín o página Web, entre otras. • Actividades de colaboración con instituciones de la comunidad”. 32 vista Nova Escola. Participaram do projeto, denominado “Colonizando Marte”, alunos do terceiro ao oitavo ano do Ensino Fundamental, agrupados em cinco grupos a partir da faixa etária. Contaram com apoio de responsáveis, pes- quisadores e professores de diferentes áreas para construir conhecimentos interdisciplinares sobre Astronáutica, Quí- mica, Biologia, Matemática e Sociologia. Foram além dos conceitos científicos, das práticas de laboratório e cálculos matemáticos. Eles puderam discutir sobre a formação de uma nova sociedade por meio de perguntas norteadoras, como quem seriam os primeiros a viajar para Marte e quais deveriam ser as preocupações relativas à preservação do meio ambiente. Essa atividade durou aproximadamente três anos, e uma miniestação meteorológica, um hovercraft (um veículo que se apoia em um colchão de ar), maquetes e cálculos com projeções de lançamentos foram alguns dos produtos desse projeto. Já em Michigan, nos Estados Unidos, Moore-Hart, Liggit e Daisey (2004) elaboraram o Projeto Water Educational Training (WET), que visou promover a Alfabetização Cien- tífica a partir do tema da água. O projeto reuniu crianças de 8 a 11 anos e professores de diversas escolas. O objetivo foi fortalecer os conhecimentos sobre as áreas úmidas e apli- cações da vida real de conceitos científicos relacionados ao elemento. Esse projeto selecionou um problema enfrentado pelos cientistas e pela sociedade atual, que é a manutenção e disponibilidade de alta qualidade de água. Os pesquisadores adaptaram práticas experimentais técnicas similares às utili- zadas pelos cientistas no estudo da temática. Os estudantes foram orientados a fazer observações, formular hipóteses e 33 compartilhar seus resultados com outras pessoas, além de criar discussões e redigir artigos. Como último exemplo, apresentamos a proposta “Cineciência”, de Menezes, Schroeder e Silva (2012), que sugerem que os Clubes de Ciências podem ser também espaços para discutir filmes que exploram aspectos da Ciên- cia. Eles consideram que o cinema é um importante recurso de ensino por trabalhar as linguagens oral, visual, sonora etc. e, com os filmes, torna-se possível discutir sobre as di- mensões da cultura científica e analisar se contribuem para a construção de um imaginário adequado acerca da Ciência. Alegam que temas ligados à Ciência têm sido apresentados nas telenovelas, documentários, noticiários etc. e, portanto, podem ser objetos de exploração nos Clubes. É importante ressaltar que, independentemente da linha de pesquisa adotada e das estratégias utilizadas para guiar os encontros, é imprescindível não perder o foco do objetivo principal: a Alfabetização Científica. Os clubistas que experenciarem as atividades do Clube de Ciências de- vem desenvolver a percepção da Ciência em seu cotidiano e mobilizar seus conhecimentos para exercer plenamente a cidadania. O capítulo 5 dedica-se a explanar sobre as potencialidades e limitações das diversas modalidades organizativas do Clube de Ciências, enquanto o capítulo 4 dedica-se a explorar a promoção da Alfabetização Científica nos Clubes de Ciências. Por hora, apresentaremos o primeiro passo da im- plementação do Clube de Ciências, que é a elaboração do projeto de ensino. 34 capítulo 2 Plano de projeto: o nascimento do Clube de Ciências Objetivos do capítulo: • Auxiliar os profissionais da educação na ela- boração inicial do plano de implementação do Clube de Ciências. • Abordar a importância do diagnóstico da reali- dade escolar. • Ampliar a reflexão sobre os objetivos, recursos materiais necessários e local de implementação. Conteúdo: • Quem pode implementar um Clube de Ciências? • O plano de projeto de implementação. • O planejamento do projeto. 35 2.1 Quem pode implementar um Clube de Ciências? Os Clubes de Ciências ganharam visibilidade no Brasil a partir da década de 1950, e a sua implementação tem sido, há 70 anos, uma tentativa de agregar valor ao Ensino de Ciências e promover uma aprendizagem mais significati- va. No entanto, em pesquisa recente, Schmitz e Tomio (2019) identificaram mais de 500 Clubes de Ciências em funciona- mento nas escolas da América Latina e, de acordo com o site Rede Internacional de Clubes de Ciências3, destes, apenas 50 são sediados no Brasil; isso quer dizer que oficialmente ape- nas 0,03% das escolas brasileiras tem um Clube de Ciências como parte de sua proposta pedagógica (considerando que, em 2018, havia 181.939 instituições de Educação Básica no Brasil) (CRUZ; MONTEIRO, 2019). Tomio e Hermman (2019) dizem o Brasil não tem nenhuma política pública, em nível federal, para nortear ou subsidiar o funcionamento dos Clubes de Ciências no país. Essa falta de institucionalização pode ser um dos fatores limitantes para que os Clubes de Ciências sejam implemen- tados nas escolas, pois não confere ao poder público a res- ponsabilidade de implementá-los nem de colocá-los como uma proposta nas orientações curriculares. Nesse contexto, a implementação dos Clubes fica condicionada a iniciativas voluntárias ou de projetos institucionais. Por essa razão, esta seção do guia visa nortear a elaboração de projetos de implementação que podem ser usados por quem deseja tornar o Clube de Ciências parte dos projetos pedagógicos das escolas. 3 Disponível em: https://www.clubesdeciencias.com/. Acesso em: 3 nov. 2020. https://www.clubesdeciencias.com/ 36 A proposta de implementação de Clubes de Ciên- cias nas escolas pode partir de alguns atores: 1. Gestores que desejam implementar o Clube de Ciências em uma rede de ensino ou em escolas públicas ou privadas. 2. Professores que pretendem desenvolver um projeto para suplementar o Ensino de Ciências. 3. Alunos de Graduação ou Pós-Graduação que queiram implementar o Clube de Ciências como um objeto de estudo. 4. Membros da comunidade escolar com know how que desejam contribuir para o desenvolvi- mento científico. 5. Uma universidade que tenha parcerias com escolas para realizar ações de extensão e ini- ciação científica. Independentemente de quem se responsabiliza por implementar o Clube de Ciências, a sua prática nasce de um plano que deve ser estruturado e organizado. Assim, apresen- taremos quais itens são fundamentais para montar o plano de projeto do Clube de Ciências. Esse documento é fundamental para nortear, organizar e formalizar o Clube de Ciências. 2.2 O plano do projeto de implementação “Projeto” é definido por Vargas (2009) como um empreendimento caracterizado por uma sequência ex- plícita e lógica de eventos, com início, meio e fim, que se 37 destina a atingir um objetivo definido, sendo conduzido por pessoas dentro de limites de tempo, custo, recursos envolvidos e qualidade. Elaborar o projeto é importante pois ele irá apresen- tar os objetivos, definirá o perfil do Clube, o público-alvo e indicará os instrumentos necessários para implementar, gerenciar, monitorar e avaliar todas as suas fases. Moura e Barbosa (2013) explicam que os projetos são estruturados em duas dimensões: i) plano de projeto; e ii) gerencial. Estas duas se organizam em cinco fases, que são: inicialização, planejamento, execução, controle e encer-ramento. A figura 2 apresenta como as fases do projeto se relacionam com as suas dimensões. Figura 2 – Relação entre o ciclo de vida e as duas dimensões do projeto. Fonte: Adaptado de Moura e Barbosa (2013, p. 43, 52). A estruturação do Clube de Ciências alicerçada pela construção de um projeto, além de legitimá-lo insti- tucionalmente, confere a ele credibilidade e visibilidade, o que facilitará as ações subsequentes. Para descomplicar a elaboração do projeto, apresentaremos as atividades neces- sárias por fases, conforme explicitado na figura. 38 2.3 Etapa de inicialização Moura e Barbosa (2013, p. 43) definem como ativi- dades típicas dessa fase: i) reconhecer que um projeto vale a pena ser feito; ii) identificar e definir a situação-problema; iii) determinar o que o projeto vai realizar; iv) definir as fina- lidades do projeto e os resultados; e v) definir a abrangência do projeto. A primeira etapa dessa fase consiste em fornecer uma visão geral do Clube e traçar um diagnóstico para que algumas decisões sejam tomadas com o objetivo de construir o planejamento. 2.3.1 O diagnóstico da realidade escolar Essa fase é necessária para verificar a viabilidade do projeto e, no caso do Clube Ciências, é fundamental iniciar pela seleção da escola que o sediará. Para isso, reflita sobre as questões a seguir: 1. Por que implementar um Clube de Ciências nesta escola? Quais são as vantagens e desvantagens? Quando o responsável por criar o projeto de imple- mentação for funcionário da rede de ensino ou da unidade escolar, saberá essas respostas com facilidade, pois conhece e vivencia a realidade escolar. No entanto, se você é um agente externo, provavelmente não conhece os aspectos relacionados às características socioeconômicas, a partici- pação da comunidade, os resultados de avaliações internas e externas, interesses e a disponibilidade dos alunos em 39 participarem de projetos no contraturno, entre outras espe- cificidades desse espaço. Por isso, busque essas informações, trace o perfil da escola e veja se esse realmente é um local que atenda às suas expectativas. Caso os resultados desse diagnóstico sejam positivos e você perceba que é um local em que va- lem a pena os esforços para a implementação do Clube de Ciências, entre em contato com a equipe gestora da escola. 2 A direção da escola ou a rede que normatiza as atividades é favorável à implementação do Clube? Não adianta escrever projeto extremamente em- basado se ele não for contextualizado e exequível, ou se a implementação não for autorizada pela equipe gestora. Dessa forma, para auxiliar na definição do escopo de seu projeto, marque uma reunião, converse com a equipe de gestão, conte a ela os motivos que levaram à seleção dessa unidade escolar, apresente as suas pretensões, leve um esboço do projeto em que o objetivo esteja claro e as ideias iniciais do projeto presentes, além de escutar muito. O quadro 3 apresenta um roteiro de questões que pode ajudar a nortear a elaboração do escopo do projeto de implementação: 40 Qual é a opinião de vocês sobre a implementação do Clube de Ciências nesta escola? Quais turmas vocês consideram adequadas a participarem desse projeto? Por quê? Com quais parceiros podemos contar internamente? Em que cada um poderia con- tribuir? Onde o Clube ficaria sediado? Qual é o melhor dia e horário para a realização dessa atividade? A escola poderia dispor de algum recurso material e humano? Quais documentos são necessários para autorizar e formalizar a existência do Clube na escola? Quadro 3 – Roteiro de questões para ser realizada com a equipe gestora. Fonte: Elaborado pelos autores. Veja quais são as potencialidades desse espaço e as dificuldades de implementar o Clube de Ciências. Essa conversa pode dar indicadores de situações que impeçam a implementação ou que a justifiquem; ela visa orientar e embasar a construção consciente do escopo do projeto. Se a equipe de gestão da escola apoiar o projeto, peça para que os alunos respondam ao questionário de via- bilidade. As respostas darão indicadores de interesse dos alunos em participar do projeto e dos dias e horários em que o Clube de Ciências terá mais adesão da comunidade escolar (veja o exemplo do questionário no quadro 8). Lembre-se de que, em muitas unidades escolares, a equipe de gestão tem autonomia para deferir sobre a implementação de um projeto, enquanto outras necessitam de autorização das secretarias ou diretorias de educação. Em ambos os casos, é importante formalizar essa parceria. 2.3.2 O escopo do projeto Com o diagnóstico da escola traçado, chegou a hora de construir o escopo do projeto que, de acordo com Moura e Barbosa (2013), deve expressar sua amplitude e definir 41 seus limites. O escopo pode ser considerado a identidade do projeto e, de acordo com os autores, é constituído dos seguintes elementos: a. Definição do problema ou da situação geradora. b. Justificativa. c. Objetivos geral e específicos. d. Resultados esperados. e. Abrangência do projeto. Para estabelecer a situação-problema, aponte os da- dos coletados no diagnóstico, trace um perfil da região e da escola e apresente o problema que deu origem ao projeto, ou seja, contextualize. Para exemplificar, o quadro 4 apresenta a situação- -problema da pesquisa realizada por Silva et al. (2008, p. 63): Percebe-se atualmente uma clara deficiência no aprendizado dos alunos do Ensino Médio, no tocante às chamadas Ciências (Física e Química, principal- mente). Isto se reflete nos resultados das avaliações das escolas básicas do Brasil, nos vestibulares e no Enem. As razões para esse problema são temas de estudos para pesquisadores da área de Ensino de Ciências. Algumas são, po- rém, consenso nessa comunidade. Ensino distante da realidade e do cotidiano do aluno, falta de professores pesquisadores de sua prática, baixos salários, necessidade de os professores atuarem em várias escolas, baixa carga horária para cumprir um programa e as restrições para aplicar novas estratégias de ensino estão entre elas. Apesar do esforço de alguns professores, da com- petição com atividades de lazer e de outras distrações, os estudantes ainda consideram essas disciplinas difíceis e distantes da realidade de seu dia a dia. Hoje se exige que a escola forme alunos cidadãos, conscientes e críticos, pois é preciso prepará-los para agirem com cidadania, interferindo ativamente em sua comunidade. Eles devem ser capazes de se inserir na sociedade, de participar dela e de contribuírem para seu progresso. Quadro 4 – Situação-problema de um projeto de criação de Clubes de Ciências. Fonte: Brasil (1998, 2002) e Paraná (2005). 42 Essa situação-problema evidencia a dificuldade dos alunos em disciplinas específicas, os obstáculos estruturais das escolas e as imposições curriculares; essas observações consideram o contexto da escola. Com a situação-problema definida, justifique seu projeto, diga os motivos de implementar o Clube de Ciências e enfatize a importância dele para aquela escola. Continuaremos referenciando Silva et al. (2008, p. 63-64) para dar o exemplo de uma boa justificativa no quadro 5: A existência de um ambiente de discussão, de estudo e de debate da Ciência, afastado da rigidez da sala de aula, é de fundamental importância, pois o domínio da cultura científica é instrumento indispensável à participação política e cidadã. Não há como participar de uma sociedade, como agente de transformação, sem uma Ciência básica. Trata-se de condição essencial, para formar pessoas criativas e participativas, capazes de atuarem na sociedade. As- sim, um Clube de Ciências tem a finalidade de criar esse ambiente, tendo como base a Ciência, a tecnologia, a sociedade e meio ambiente, já que as questões científicas não estão isoladas do contexto social, político, ambiental e econômico dos estudantes. [...] As atividades desenvolvidas no Clube de Ciências ampliam os horizontes dos alunos no que tange ao mundoexterior à escola e no que tange às inúmeras possibilidades de atuação enquanto cidadão e profissional. Os estudantes passam a conhecer o que está além do âmbito escolar, adquirindo formação humana mais global, não somente baseada em experiências pragmáticas ou tecnicistas, mas é levado a uma realidade repleta de opções, ausentes no microcosmo do saber senso-comum. Quadro 5 – Exemplo de justificativa para a elaboração do escopo. Fonte: Silva et al. (2008). A próxima etapa é a definição dos objetivos geral e específicos; neles, deve ficar evidente os intuitos do pro- jeto. No caso da implementação, o objetivo geral pode ser simples e claro, como: 43 Implementar um Clube de Ciências na escola X como um espaço suplementar para a construção da Alfabetização Científica. Implementar um Clube de Ciências a fim de promover e ampliar oportunidades de apro- fundamento nos estudos de Ciências Naturais e Tecnologia, para os alunos do quinto ano, des- pertando crescente interesse pela construção e produção de conhecimento científico. Implementar um Clube de Astronomia para promover estudos, projetos e experimentações sobre astronomia e reconhecimento do céu. Já os objetivos específicos podem se referir aos necessários para que a implementação se consolide e de- vem indicar as intenções de ensino e de aprendizagem. O quadro 6 apresenta alguns objetivos específicos: O Clube tem, como principais objetivos, desenvolver nos alunos, através da pesquisa e da reflexão, o saber científico, cultural e social; levar o estudante a problematizar temas e a buscar parcerias que o levem à solu- ção dessas questões; oportunizar infraestrutura e espaço físico acolhedor aos participantes para desenvolverem projetos e construírem formas de transmitir; viabilizar troca de experiências entre alunos de diferentes idades e entre níveis de conhecimento; favorecer, ao monitor/graduando e graduado, contato com o ambiente escolar, oportunizar a eles novas experiências, auxiliando-os a serem como futuros professores e a criarem estratégias de produção de conhecimento que integrem os alunos, a Escola e a Sociedade. Quadro 6 – Exemplo de objetivos específicos para a elaboração do escopo. Fonte: Silva et al. (2008, p. 64). O que se espera de resultado final se os objetivos forem alcançados? Quais serão os benefícios esperados e 44 quem será beneficiado? Analise essa etapa com uma visão global; comece pensando no aluno, passe para os profissio- nais envolvidos na escola e na comunidade e, por fim, para a sociedade como um todo. Perceba e estabeleça relação entre os objetivos da implementação do Clube de Ciências e o impacto social dessa ação. Apresentamos como exem- plo o texto do quadro 7: Com base em todos os objetivos propostos, este projeto tem o intuito de ampliar as possibilidades de aprendizagem em sala de aula; existe o compro- misso de formar os jovens para a prática científica e principalmente formar cidadãos com senso crítico e que desenvolvam a capacidade de resolver problemas do seu cotidiano. Espera-se que essa ação desperte na comunidade escolar o interesse pela prática cientifica e que o “fazer Ciência” seja algo real, próximo e possível aos alunos. Por meio da implementação de um Clube de Ciências e da investigação sobre as contribuições do Clube à Enculturação Científica, pretende-se oferecer subsídios para fortalecer práticas que promovam a Enculturação Científica dos cidadãos imediatamente envolvidos, bem como dos demais atores comunitários. Espera-se apoiar e repertoriar professores e redes de ensino que tenham inte- resse em implementar Clubes de Ciências em suas escolas, no que diz respeito a aspectos operacionais de implantação e ao desenvolvimento e sustentação do trabalho na perspectiva da investigação. Espera-se desencadear o reconhecimento da importância da abordagem in- vestigativa como promotora de Enculturação Científica, bem como contribuir para a construção de uma imagem desmitificada de Ciência, por parte dos alunos, que expresse uma relação mais fidedigna entre produtos e processos da Ciência. Quadro 7 – Exemplo de resultados esperados. Fonte: Elaborado pelos autores. A próxima etapa do escopo consiste em delimitar a abrangência do projeto. Essa etapa é importante, pois defi- ne claramente o público-alvo, a caracterização da extensão e a área de atuação do projeto. 45 Nessa etapa, deixe explícitas as seguintes informações: 1. Quem será o mediador e qual é o perfil desse profissional? Muitas pessoas podem mediar e liderar o Clube de Ciências; entre elas, está um professor da própria es- cola, um aluno bolsista de Graduação e Pós-Graduação, um professor universitário que esteja desenvolvendo um projeto ou uma parceria entre essas pessoas etc. Indepen- dentemente de quem seja, é importante que as ações no Clube sejam voltadas para uma mediação que estimule o desenvolvimento do espírito científico do clubista. Assim, o mediador deve buscar formas de: • Entender os meios de construção do conheci- mento e as funções cognitivas para atuar cons- ciente e intencionalmente sobre elas. • Conhecer as estratégias de mediação e reconhe- cer que os clubistas do Clube são sujeitos ativos do seu aprendizado. • Desenvolver os projetos de pesquisa a partir do interesse dos clubistas, estimulando-os a identificar, interpretar e resolver situações- -problema propostas pelas diversas áreas do conhecimento, por meio de estratégias pessoais ou da metodologia científica. • Conhecer e fazer uso de diferentes recursos tecnológicos. 46 2. A quem o Clube de Ciências se destina? Qual é o público-alvo? Explique para qual faixa etária o Clube de Ciências será oferecido, explicite se a participação será por interesse ou obrigatória para um grupo específico de alunos. Defina se membros externos da comunidade terão direito a parti- cipar como clubistas. Caso o Clube tenha dúvidas sobre a seleção do público, faça um diagnóstico por meio de um formulário de viabilidade, nos quais os alunos poderão manifestar interesse e explicitar seus dias e horários disponíveis. O questionário a seguir é um exemplo de como verificar essa informação. 47 Sugestão de questionamentos Responda a todas as questões abaixo. Ao respondê-las, é importante que seus responsáveis estejam juntos, pois, caso tenham dúvidas, poderão anotá-las no final desta folha. Devolva esta folha ao colega ou professor que a entregou a você. Entregue a sua folha até o dia ___/___/____, pois, quanto antes souber suas dúvidas, antes poderemos esclarecê-las. Nome:_______________________________________Ano:____________ 1. Realiza alguma atividade no período contrário ao que estuda na escola? ( ) sim ( ) não. Em caso afirmativo, em quais dias e horários? 2. Você já ouvir falar em Clube de Ciências? ( ) sim ( ) não. Em caso afirmativo, o quê? Se a sua escola tiver um Clube de Ciências que promova atividades como pesquisas, projetos, experimentos, visitas externas à escola relacionadas à área científica, você gostaria de participar? Qual é a área de Ciências que mais desperta seu interesse? Qual é a opinião dos seus responsáveis sobre essa proposta? Quadro 8 – Questionário de viabilidade e interesse da comunidade escolar. Fonte: Adaptado de Santos e Santos (2008, p. 46). 48 3. Quais são os números mínimo e máximo de clubistas que irão compor o Clube de Ciências? Sugerimos que, se houver apenas um mediador para orientar as atividades do Clube de Ciências, o número de clubistas esteja entre 10 a 20 (caso o número de alunos seja maior que o número de vagas, uma seleção pode ser realizada, tendo como instrumento a Carta de Interesse; essa ação será explicada no capítulo 3). 4. Em qual dia e horário as atividades ocorrerão? Essa informação deve levar em conta a organização da escola, do mediador do Clube e dos alunos (que foi veri- ficada por meio do questionário de viabilidade (quadro 8). Para que os projetos possam se tornar parte da rotina dos clubistas,sugerimos um encontro semanal com duração de duas a três horas, mas essa frequência pode se adequar às necessidades dos clubistas e da escola. 5. A linha de pesquisa e as atividades serão inicialmente definidas pelo mediador do Clube ou serão decididas coletivamente pelos clubistas? É importante prever se inicialmente o Clube de Ci- ências já terá um perfil definido, por exemplo, um Clube de Química, de Biologia, de Astronomia etc., ou será aberto e a linha de pesquisa decidida coletivamente com os clubistas. O questionário de viabilidade exposto no quadro 8 poderá dar uma indicação de qual temática teria mais adesão dos alunos. 49 6. Onde o Clube será sediado? Cabe salientar que conhecimento científico pode ser desenvolvido em diferentes locais; não se restringe ao laboratório ou a uma sala, pois a Ciência está em todos os lugares, assim como a sua construção. Uma escola que con- te com uma horta terá a possibilidade de ter um Clube de Ciências que utilize esse espaço como objeto de pesquisa, por exemplo. No entanto, seria adequado uma sala para a análise dos dados, para a discussão e redação das conclu- sões que comporte todos os membros confortavelmente. Se a escola contar com laboratório de Ciências e Informática, ambos podem ser usados para enriquecer as pesquisas e possibilidades de atuação. 7. Quais recursos materiais são necessários para iniciar o Clube? Se na concepção do projeto o Clube de Ciências tem definida uma área de trabalho, como um Clube de Astro- nomia, haverá necessidade de materiais específicos que poderão ser previstos inicialmente. Por isso, liste tudo que é indispensável para o funcionamento e desenvolvimento das atividades básicas da área. No entanto, as linhas de pesquisa serão definidas posteriormente com os clubistas e muitos materiais não poderão ser previstos. Assim, faz-se necessária a criação de uma reserva orçamentária para essa etapa e, se necessário, a captação de recursos pode ser realizada pelos próprios clubistas, visto que a obtenção de financiamento é parte da prática científica. 50 Abrangência do projeto Com o diagnóstico realizado e com a identificação do que faz parte do Clube e o que não faz, descreva a abrangência do projeto. A seguir, será apresentado (qua- dro 9) um exemplo de definição de abrangência relatada no projeto de Silva et al. (2008): O projeto está implantando os Clubes [...] atingindo alunos do Ensino Médio e Fundamental. Os sócios serão inicialmente os estudantes, mas o Clube deve ser aberto a todos os interessados. Os Clubes desenvolverão inicialmente projetos relacionados à área de Ciências exatas, podendo atingir as fronteiras com outras Ciências e, conforme a evolução de sua estrutura, desenvolverá projetos em outras Ciências. O primeiro Clube está sendo implantado na cidade de Ipiranga, usando como base o Colégio Estadual, que conta com aproximadamente 1450 alunos, sendo o único na zona urbana. Foi estabele- cido trabalhar com estudantes do turno matutino, com 480 alunos, a partir da quinta série do Ensino Fundamental até o Ensino Médio. As reuniões do Clube estão ocorrendo às terças e quintas-feiras, à tarde, em uma das salas de laboratório do Colégio. Quadro 9 – Exemplo de definição de abrangência do projeto. Fonte: Silva et al. (2008, p. 64). Com o escopo estruturado, inicie a formalização do Clube de Ciências. Se você faz parte da gestão escolar, incorpore esse projeto ao Projeto Político Pedagógico da escola ou à Pasta de Projetos, para que ele possa ter um marco histórico e uma existência formal. No entanto, se você é um membro externo, forma- lize a execução por meio de um requerimento de autori- zação para a implementação do Clube e anexe o escopo, visto que ele, de acordo com Moura e Barbosa (2013), por transmitir uma visão geral e concisa do projeto e pode ser usado como elemento de negociação e de aprovação inicial do projeto. Essa etapa pode ser demorada, dependendo 51 dos trâmites legais da escola ou rede de ensino. Por essa razão, comece esse processo pelo menos três meses antes da data estimada de início do Clube. O quadro 10 apresenta uma sugestão de requeri- mento de autorização: Ao (A) Senhor (a) secretário (a) da Educação (ou Diretor (a) de escola), Eu, _________ (Nome) ___________________, professor (a) (aluno (a) de Pós- -Graduação, membro da comunidade) orientado (a) pelo (a) __(Nome do (a) orientador (a) se houver), da instituição _(Nome da instituição) venho requerer a autorização para criar na escola _(Nome da escola) um espaço onde os alunos poderão trocar ideias sobre assuntos científicos, pesquisar, ampliar as possi- bilidades de aprendizagem e ressignificar o conceito de Ciências, espaço este denominado Clube de Ciências. (Caso essa implementação seja objeto de pesquisa, adicionar o parágrafo em negrito) Esta ação é parte de um projeto de pesquisa intitulada (título da pesquisa) que visa implantar um Clube de Ciências para (citar o objetivo da pesquisa). Serão selecionados (nº de alunos) alunos da escola _ (Nome da escola) para participar do Clube e (nº de alunos) alunos bolsistas de iniciação científica. O projeto detalhado está anexo a este requerimento. Assim, peço o deferimen- to para a implantação do Clube e para a realização da pesquisa atrelada a ele. Agradeço a atenção. Cidade e data. Responsável pela elaboração do Clube Professor (a) orientador (a) responsável pela elaboração do Clube (se for o caso) Quadro 10 – Requerimento para formalizar a autorização de imple- mentação e pesquisa atrelada ao Clube de Ciências. Fonte: Elaborado pelos autores. 52 2.4 O planejamento da implementação O planejamento é apresentado por Moura e Bar- bosa (2013, p. 43) como a etapa em que são realizadas as seguintes ações: • Listar as tarefas e atividades necessárias para o resultado desejado; • Sequenciar as atividades de maneira mais efi- ciente possível; • Definir um cronograma e atribuir recursos a cada atividade programada; e • Definir procedimentos de acompanhamento e avaliação do projeto. De acordo com os autores, essas ações e os elemen- tos definidos no escopo do projeto serão registrados e cul- minarão no documento denominado “plano de projeto”. As atividades de execução que deverão ser pre- vistas no plano de projeto serão abordadas no capítulo 3, definindo as etapas, os documentos e materiais neces- sários para que o Clube de Ciências possa iniciar suas atividades. As ações evidenciadas neste capítulo serão realizadas pelo mediador do Clube de Ciências, que em muitas ocasiões não será o responsável pela elaboração do projeto de implementação. No capítulo 4, será apresentado o conceito de Alfabetização Científica e as estratégias pedagógicas para desenvolvê-la. Por fim, o capítulo 6 destina-se a discutir estratégias de controle e avaliação do Clube de Ciências. No apêndice, você encontrará o modelo de um projeto de implementação que o ajudará a elaborar seu próprio plano. 53 capítulo 3 O Clube de Ciências na prática: adesão e participação dos clubistas Objetivos do capítulo: • Explicitar as etapas de estruturação administra- tiva do Clube e a definição da linha de pesquisa. • Levantar critérios de seleção dos alunos para a definição de quem poderá participar do Clube de Ciências. • Sugerir estratégias para promover a reunião de pais e a aula inaugural. Conteúdo: • Etapas da estruturação administrativa: ◊ a divulgação do Clube de Ciências na escola; ◊ instrumentos necessários para a organi- zação do Clube; ◊ reunião com os responsáveis pelos clubistas; ◊ encontro inaugural; 54 ◊ definição da estrutura administrativa. • Eleição da linha de pesquisa. 3.1 Etapas da estruturação administrativa A execução do projeto Clube de Ciências não começa diretamente com a realização das atividades cien- tíficas; é importante que os clubistas entendam, por meio da vivência, como esse espaço se diferencia das outras experiências educativas com as quais já tiverem contato.Para isso, é importante que eles participem ativamente da construção do estatuto, formação da diretoria e definição da linha de pesquisa. Essas ações farão com que os clubis- tas compreendam o que caracteriza um Clube e se sintam parte da concepção desse projeto. Dessa forma, essa seção dedica-se a demonstrar como executar o projeto de forma colaborativa, estimulando a atuação autônoma do clubista. 3.1.1 A divulgação do Clube de Ciências na escola Até aqui, o Clube de Ciências é um plano que foi documentado e submetido à aprovação da equipe gestora da escola, mas é a partir da divulgação que ele começa a se tornar real na prática, a envolver os alunos que se tornarão clubistas e a ganhar a visibilidade de toda a comunidade escolar. Com a finalidade de divulgar o Clube de Ciências, prepare um material informativo que aguce a curiosidade dos alunos e deixe no mural da escola. As figuras 3 e 4 podem ser usadas como referência para a construção do material informativo. 55 Figura 3 – Modelo de cartaz de divulgação de Clubes de Ciências. Fonte: A Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).4 4 Disponível em: https://www.facebook.com/clubedecienciasufopa/photos /a.240665432792816/1268542513338431. Acesso em: 13 nov. 2020. 56 Figura 4 – Modelo de cartaz de divulgação de Clubes de Ciências. Fonte: Agrupamento de Escolas de São Pedro da Cova.5 5 Disponível em: http://agrupspc.pt/index.php/90-agrupamento/alunos/272- clube-ciencias-experimentais-inscreve-te. Acesso em: 13 nov. 2020. http://agrupspc.pt/index.php/90-agrupamento/alunos/272-clube-ciencias-experimentais-inscreve-te http://agrupspc.pt/index.php/90-agrupamento/alunos/272-clube-ciencias-experimentais-inscreve-te 57 Também como estratégia de divulgação, prepare uma apresentação oral para convidar os alunos a fazerem parte do Clube. Se for possível, organize slides e/ou distri- bua folders. Explicite o objetivo geral do Clube de Ciências, o dia e horário dos encontros e quais são as vantagens de participar do projeto. No entanto, não iluda o aluno apre- sentando o Clube como local onde apenas experiências serão realizadas ou que as atividades serão todas práticas e divertidas. Lembre-se que é um espaço para desmitificar os processos do fazer Ciência, e que essa prática inclui estudos teóricos, coleta, análise e tratamento de dados, es- tratégias para obtenção de financiamento, diferentes tipos de registros, divulgação dos experimentos etc. Após a apresentação, disponibilize a ficha de ins- crição (quadro 11) para que os alunos interessados possam levá-la para casa e preenchê-la com os responsáveis. Se a quantidade de vagas for limitada, enfatize que os alunos serão selecionados de acordo com a análise de perfil apre- sentado na ficha. Ficha inscrição do Clube de Ciências Leve esta ficha para casa, leia com calma e procure mais informações sobre Clubes de Ciências. Lembre-se que este formulário faz parte de um processo seletivo e que você está concorrendo a uma vaga no projeto. Por essa razão, dedique-se a responder de forma fundamentada e cuidadosa. Converse com seus responsáveis, veja qual é a opinião deles sobre o projeto e verifique se eles realmente deixarão você comparecer todas às quintas-feiras, das 17h30 às 19h00, à escola. Se você tiver a aprovação deles, entregue essa ficha até o dia 28/08/18. O resultado sairá no dia 30/08/18. Os selecionados iniciarão as atividades no encontro inaugural, que ocorrerá no dia 06/09/18. 58 Será um espaço de muito aprendizado, pesquisa e descobertas! Nome: _______________________________________________ ano_____ 1. O que te motiva a participar do Clube de Ciências? 2. Por que você deve ser selecionado para participar do Clube? Pense em quais habilidades suas contribuirão para o projeto. A terceira pergunta deve ser respondida por seus responsáveis: 3. Por que você considera importante a participação do aluno por qual é responsável? Quadro 11 – Modelo de ficha de inscrição. Fonte: Elaborado pelos autores. Nessa ficha, os alunos demonstrarão os fatores que os motivam a participar do Clube de Ciências e relacionarão as suas habilidades pessoais àquelas que eles julgam neces- sárias para a atividade científica. Ficará evidente, também, o que os responsáveis esperam do Clube de Ciências. O mediador do Clube pode usar esse instrumento como um objeto de pesquisa para analisar a percepção inicial que os alunos e responsáveis têm sobre o Clube de Ciências e, se desejar, verificar as mudanças de concepção ao longo do projeto. O Clube de Ciências visa promover a Alfabetização Científica dos clubistas e da comunidade impactada por suas ações. Dessa forma, a curiosidade e o prazer por observar diferentes fenômenos devem ser considerados, assim a admissão no Clube independe das notas escolares e do comportamento do aluno em sala de aula. Acredita- mos que esse espaço, por dar voz aos clubistas e fazer uso de estratégias ativas, possa ser adequado para explorar habilidades que muitas vezes ficam ocultas no trabalho em sala de aula. 59 Mancuso, Lima e Bandeira (1996), a esse respeito, em suas experiências com Clubes de Ciências, contam que geralmente os alunos considerados “chatos” nas aulas ex- perimentais pareciam motivados e interessados no Clube. O autor relata, Pouco a pouco fomos percebendo que tínhamos necessidade daqueles “chatos” e que, se os atraíamos, era porque estáva- mos sintonizando com eles. Ou seja, gos- távamos daquele tipo de aula alegre e ao mesmo tempo compenetrada, instigante porque nos provocava a buscar respostas não premeditadas (MANCUSO; LIMA; BANDEIRA, 1996, p. 26). Os mesmos autores apresentam o relato de um pro- fessor que usou como critério para inscrição em seu Clube de Ciências ter no mínimo nota 5 em todas as disciplinas: Fomos acusados de “elitistas” e tivemos de rever nossa posição. Alguns meses depois, constatamos que muitos alunos com rendi- mento inferior a cinco apresentavam uma grande performance no Clube de Ciências, com entusiasmo e participação (COSTA, 1995, p. 64 apud MANCUSO; LIMA; BAN- DEIRA, 1996, p. 226). Nesse espírito de buscar alunos motivados, curio- sos e interessados, ao ler a ficha de inscrição pretende-se analisar as seguintes características: 60 • O aluno está motivado para participar do projeto? • Demonstrou compreender o que é um Clube de Ciências e as atividades que serão desenvolvi- das nele? • Identifica suas habilidades pessoais e relata como elas podem ser úteis às atividades cien- tíficas? • Os responsáveis estão cientes e autorizam a participação? • O que os responsáveis e alunos esperam do Clube será correspondido? Na pesquisa realizada por nós, por exemplo, rece- bemos a inscrição de um aluno que desejava participar do Clube porque queria melhorar as notas em Ciências nas aulas regulares. Considerando que o Clube não é reforço e que nós não conseguiríamos atender a essa expectativa, isso foi uma das causas que fez com que o aluno não fosse selecionado. Outros, por exemplo, disseram que eram curio- sos, queriam aprender a realizar pesquisas, e esse era um dos nossos objetivos com a implementação, portanto, eles se tornaram clubistas. Recomendamos que todos os alunos inscritos, se- lecionados ou não, recebam uma devolutiva informando as razões do resultado recebido. Essa é uma ação que de- monstra respeito aos interessados em fazer parte do Clube de Ciências e tem uma intenção formativa clara, pois esse é mais um momento para esclarecer a natureza do trabalho realizado no Clube de Ciências. É importante também gerar uma lista de espera, pois, em caso de desistências, poderão ser chamados novos 61 clubistas (depois da elaboração do estatuto pode ser que os clubistas decidam novas formas de ingresso). 3.1.2 Instrumentos necessários para a organização do Clube Antes de se reunir com os responsáveis ou com os clubistas, organize os instrumentos iniciais, como o controle de frequência dos clubistas (tabela 1), o controlede situação cadastral (tabela 2) e um caderno de registro de ata. Esses instrumentos poderão ser usados para moni- torar a frequência, os desligamentos e o processo formativo durante as atividades. O controle de frequência é essencial também por ser um documento no qual é possível constar se o menor estava sobre responsabilidade do mediador naquele momento ou não. Isso confere segurança e proporciona tranquilidade aos responsáveis, que podem acompanhar a assiduidade. Tabela 1 – Controle de frequência. Frequência Nome Nº do sócio __/__/__ __/__/__ __/__/__ Fonte: Elaborado pelos autores. Já o controle de situação cadastral permite iden- tificar os principais motivos que levam um clubista a desistir do Clube de Ciências e mensurar a rotatividade 62 de clubistas. Essa informação é fundamental para avaliar as principais razões de desligamento e controlar as ações quando estas sinalizam a necessidade de replanejamento. Tabela 2 – Controle de situação cadastral. Nome Nº do sócio Data do ingresso Situação (ativo ou inativo) Motivo do desligamento __/__/__ __/__/__ __/__/__ Fonte: Adaptado de Santos e Santos (2008, p. 59). O caderno de registro de ata será utilizado para a descrição da pauta da reunião ou assembleia, acompa- nhadas de um breve relato dos acontecimentos e decisões importantes. É adequado que o mediador faça o primeiro registro e que o compartilhe com os clubistas, para que eles possam compreender as características desse gênero textual. 3.1.3 Reunião com os responsáveis Com tudo organizado, você já pode encaminhar um bilhete convidando os responsáveis dos clubistas para a primeira reunião do Clube de Ciências (quadro 12), na qual os objetivos e a estrutura organizacional serão apresentados. É comum que, de início, alguns responsáveis pensem que a atividade do Clube de Ciências será um reforço escolar, que irá contribuir diretamente com o con- teúdo visto nas aulas regulares e com as notas de Ciências. Portanto, é preciso enfatizar que ele não é reforço nem irá complementar as atividades realizadas em sala. Espera-se 63 esclarecer, nessa reunião, a natureza da atividade científica e como ela é importante na formação integral do clubista. Assim, os responsáveis poderão ou não validar a ação, e esse esclarecimento evita possíveis desapontamentos futuros. O quadro 12 dá uma sugestão de bilhete para ser enviado aos responsáveis: Senhores responsáveis, A aluna _______________________________ foi selecionada a participar como clubista do Clube de Ciências. Este projeto tem por objetivo implantar um Clube de Ciências na __________________________________________, a fim de despertar a aptidão científica e incentivar habilidades investigativas nos estudantes do Ensino Fundamental. Para apresentar os objetivos do projeto, esclarecer as dúvidas e solicitar a autorização formal para a participação da aluna, convidamos os responsáveis para uma reunião. Sua participação é de extrema importância, pois, sem a documentação assinada, a aluna não poderá iniciar suas atividades no Clube. Onde: ________________________________________________________ Quando: Dia ___/___/20__ às ___:____ Agradecemos a compreensão e a participação, e estamos ansiosos para o início do projeto! Quadro 12 – Modelo de bilhete para convidar os responsáveis para a reunião inicial. Fonte: Elaborado pelos autores. Nessa reunião, os responsáveis preenchem a ficha cadastral. Neste documento, deverá constar os contatos dos clubistas e de seus responsáveis para que informações importantes possam ser comunicadas com facilidade. Essa ficha, exposta no quadro 13, também informa sobre uso de medicamentos e problemas de saúde dos clubistas. 64 FICHA DE CADASTRO Nome: _____________________________________________________________ _______________________________________________________ Nome completo dos responsáveis: ___________________________________ Data de nascimento: ___/___/______ Ano escolar:__________ Endereço:_________________________________________nº__________ Bairro: ________________ Telefone fixo: ( ) _________ Celular pessoal: ( )____________ Celular dos responsáveis: ( )________ Possui alguma doença que deva ser informada? ( ) sim ( ) não Em caso afirmativo, qual: ______________________________________ Faz uso de algum medicamento? ( ) sim ( ) não Em caso afirmativo, qual? _____________________________________________ ________________________________________________________ São José dos Campos, 16 de abril de 2020 ___________________________ Assinatura do clubista ___________________________ Assinatura dos responsáveis Quadro 13 – Modelo de ficha de cadastro. Fonte: Adaptado de Santos e Santos (2008, p. 57). Outro documento que pode ser necessário durante as atividades do Clube de Ciências é a Autorização de Uso de Som e Imagem. Para a divulgação e comunicação das atividades desenvolvidas, frequentemente se faz necessá- rio divulgar fotografias e vídeos dos clubistas. Assim, é importante solicitar aos responsáveis, ainda na reunião, que assinem o termo de autorização. A seguir apresenta- mos um modelo desse documento. 65 Autorização de uso de som e imagem. São José dos Campos, 20 de março de 2020 Projeto: Clube de Ciências sediado na (nome da escola) Eu, _______________________________, autorizo a EMEF ________________ ________________________ a retirar e divulgar fotografias, vídeos e imagens do menor sob minha responsabilidade, no projeto Clube de Ciências. Com- preendo e reconheço que a escola possui os direitos autorais sobre qualquer produção visual por ela produzida e poderá usar, reutilizar, publicar e repu- blicar esses materiais. Tenho Ciência de que a presente autorização abrange os usos acima indicados tanto em mídia impressa como também em mídia eletrônica e internet, po- dendo ser utilizados em todo território nacional e no exterior. Autorizo que o som e a imagem sejam divulgados, desde que as fotografias e/ou vídeos sejam utilizadas para pesquisa ou ilustração não comercial e sem fins lucrativos, para fins educacionais e/ou para a promoção do Clube de Ciências. Declaro que li todas as informações e que concordo com o conteúdo desta autorização. (Assinatura) Nome completo do clubista e número de identidade (Assinatura) Nome completo do responsável e número de identidade Figura 5 – Termo de autorização de uso de som e imagem. Fonte: Elaborado pelos autores. 3.1.4 Encontro inaugural O encontro inaugural é o momento no qual todos os membros do Clube se encontram pela primeira vez. Certa- mente eles estarão ansiosos e curiosos, pois provavelmente esperam realizar alguma “experiência”. Sugerimos que a socialização e a interação entre os clubistas sejam promovidas nesse momento. Sendo assim, se for possível, faça um lanche de boas-vindas, organize um momento para que eles se apresentem, ouça o que eles esperam da vivência como clubistas etc. Entregue as cartei- 66 rinhas personalizadas (modelo apresentado na figura 6) e um caderno, que será o diário de bordo individual. Essas ações visam acolher o clubista e despertar a sensação de pertencimento a esse espaço. Figura 6 – Modelo de carteirinha para sócios. Fonte: Elaborado pelos clubistas do Clube de Ciências “ClubMarinos”. Aproveite para identificar os conhecimentos pré- vios dos clubistas sobre o conceito, os processos e produtos da Ciência. Elabore estratégias para que a imagem que eles têm de um cientista seja evidenciada. Nesse encontro, é importante que o clubista saia motivado e curioso sobre como a Ciência será realizada no Clube. Uma outra sugestão é que esse encontro conte com a presença de uma referência científica, ou seja, um cientis- ta que possa relatar o percurso de construção da carreira. Esse pesquisador não precisa ser ligado à área de Ciências da natureza; é importante que o clubista perceba que a Ciência permeia todas as áreas e que não é inacessível. 67 3.1.5 Definição da estrutura administrativa No segundoencontro, saliente que antes de qual- quer atividade prática é importante que o Clube seja estru- turado administrativamente. Para isso, é fundamental que seja construído um estatuto e que uma diretoria seja eleita. Assim, apresente aos clubistas modelos de estatutos para que eles entendam a organização e função desse documen- to, como no exemplo que segue. Título 1 – Da organização Artigo 1º - O Clube de Ciências ClubMarinos é constituído por clubistas dos anos finais do Ensino Fundamental e bolsistas de iniciação científica do Ensino Médio. Antigo 2º - Qualquer membro do Clube pode exercer funções na diretoria e em comissões, mas a candidatura e a votação deverão ser realizadas em momentos das reuniões e assembleias. Artigo 3º - O cargo de presidente adjunto somente será ocupado pelo (a) professor (a), sendo ele (a) o (a) responsável legal pelo Clube. Artigo 4º - Neste estatuto estão todos direitos e os deveres de cada clubista e de cada cargo da diretoria. Título 2 – Das finalidades e objetivos Artigo 5 - O ClubMarinos tem por finalidade: Despertar o interesse dos clubistas em praticar Ciências; Desenvolver pesquisas científicas reais nas áreas de oceanografia e hidrografia; Organizar saídas de campo e excursões para ampliar as oportunidades de aprendizagem; e 68 Realizar a divulgação do ClubMarinos e fazer com que a comunidade escolar conheça as ações científicas que são realizadas. Título 3 – Dos deveres dos clubistas Artigo 6 - Cumprir as regras do estatuto; Artigo 7 - Comparecer às reuniões e, em caso de faltas emergenciais, apresen- tar justificativas; Artigo 8 - Desenvolver campanhas para divulgação do Clube; Artigo 9 - Ser pontual aos encontros. Título 4 – Da admissão e demissão dos clubistas. Artigo 10 - Os alunos interessados em participar do Clube deverão se inscre- ver por meio de uma carta de intenção. Essa carta será analisada e justificada aos clubistas. Em uma reunião ordinária, haverá o deferimento ou não para a entrada de novos clubistas. Quando o clubista descumprir as regras, o mesmo será primeiro advertido verbalmente, depois por escrito e, se houver reincidência, será desligado. Após três faltas sucessivas e sem justificativa, o sócio será desligado. Caso o sócio que estiver ocupando um cargo na diretoria descumpra as atribuições da função, este será expulso apenas do cargo após a discussão do caso em assembleia. Título 5 – Constituição do patrimônio Artigo 11 - Para constituir nosso patrimônio, serão realizadas rifas, venda de produtos produzidos pelos membros do Clube e cadastro em sites de doações. Artigo 12 - Toda entrada e saída de patrimônio deverá constar em uma planilha. 69 Título 6 – Comissões Artigo 13 - O ClubMarinos é formado por quatro comissões: Comissão de demissão e admissão, Comissão de Marketing, Comissão de Secretaria e Comissão de Finanças. Artigo 14 - A comissão de demissão e admissão se incumbirá de: Cuidar de processos seletivos quando houver vagas disponíveis, Nos processos seletivos, em caso de empate entre os candidatos, estipular uma entrevista para a escolha do melhor candidato. Controlar a frequência dos integrantes e, em caso de faltas injustificadas, encaminhar uma carta de demissão. Receber as cartas de pedido de demissão e deferir os pedidos. Artigo 15 – A comissão de secretaria será responsável por: Fazer os registros das frequências e encaminhar os casos de membros faltan- tes para a comissão de admissão e demissão. Elaborar as atas dos encontros. Registrar a entrada e saída de patrimônio. Artigo 16 – A comissão de Marketing será responsável por: Planejar e divulgar as pesquisas realizadas nas redes sociais. Divulgar as estratégias de arrecadação de verbas propostas pela comissão de finanças. Se comunicar com os agentes externos do Clube, como Diretor da Escola, outros alunos e professores para obter parcerias e autorizações. Artigo 17 – A comissão de finanças será responsável por: 70 Elaborar estratégias para a obtenção de recursos. Fazer a contabilidade do ClubMarinos. Fazer os orçamentos dos materiais e excursões. A presidência do Clube se encarregará de cuidar do dinheiro arrecadado. Disposições gerais Assembleias serão bimestrais, mas, quando necessário, poderão ser solicita- das assembleias emergenciais. Quadro 14 – Modelo de estatuto. Fonte: Estatuto criado pelo Clube de Ciências “ClubMarinos”. Com a leitura e discussão de diferentes estatutos, esperamos que os clubistas consigam entender a estrutura administrativa que precisa ser organizada e percebam a necessidade de definição da linha de pesquisa e do nome do Clube que está se formando. Para isso, a próxima ação é organizar e definir cla- ramente as funções entre os clubistas. Santos e Santos (2008) relatam que o mediador, por praxe, será o presidente-adjunto e cabe a ele organizar as ações iniciais, fazer as mediações das atividades, propor ideias e se responsabilizar pelos clubistas. Taboada (2011) apresenta as possíveis funções administrativas dos clu- bistas do Clube de Ciências, que estão apresentadas no quadro 15: 71 Função Característica Presidente Clubista que preside todas as reuniões e assume a responsabilidade pela administração do Clube de acordo com as disposições administrativas. Vice-presidente Substitui o presidente e está presente como segunda autoridade em todos as reuniões. Secretário Toma nota de todas as reuniões em um livro de atas, escreve e recebe comunicações e fornece informações. Tesoureiro Mantém uma contabilidade simples de receitas e despesas, com os respectivos documentos de supor- te. Apresenta as propostas de orçamento. Bibliotecário Pesquisa fontes de informação; faz o inventário das bibliografias existentes; empréstimos e retornos de controle; coleta os relatórios dos projetos realizados pelo Clube. Assessores por área e nível Tem como função principal aconselhar os trabalhos de pesquisa da área e do nível ao qual eles perten- cem. Podem ser consultores educacionais ou outros profissionais da escola ou de outras instituições. Comissão de Apoio Será uma nucleação de todas as pessoas que não participam ativamente do Clube, constituindo-se de um grupo que apoia, técnica e economicamente, a atividade dos clubistas. Quadro 15 – Característica de cada função dos clubistas. Fonte: Taboada (2011). Como apresentado por Taboada (2011) no quadro 15, cabe considerar a presença de assessores no Clube de Ciências, que podem ser especialistas que atuarão de forma a orientar as pesquisas e dar consultoria em assun- tos específicos. Além disso, a comissão de apoio pode ser formada pelos responsáveis pelos alunos e membros da comunidade escolar. Dessa forma, é possível, a cada definição, admitir clubistas que não participam ativamente das atividades, mas que darão suporte a elas. 72 Quanto à definição dos demais cargos, poderá ser feita por candidatura ou indicação dos clubistas. Quando houver mais de um candidato por vaga, será aberto um espaço para a apresentação das propostas de cada um e uma votação será realizada. Os clubistas que não fizerem parte da diretoria poderão compor as comissões, que são times de trabalho que se organizam em torno de um objetivo comum. Em alguns Clubes de Ciências, as comissões só se formam para a realização de algum evento, por exemplo, uma comissão organiza a divulgação enquanto as outras se responsabili- zam pela captação de recursos financeiros. Outros Clubes, no entanto, mantêm essas comissões dentro da estrutura organizativa, e as funções são atribuídas no estatuto, como foi exemplificado no quadro 15. Com as funções delegadas, inicia-se a discussão sobre a definição da identidade do Clube de Ciências. 3.2 Eleição da linha de pesquisa Com a diretoria formada, tem-se a seguinte questão: estamos em um Clube de Ciências que pode se dedicar a estudar muitas áreas, mas qual será a linha de pesquisa deste Clube? O mediador pode ter definido que este será um Clu- be de Biologia,mas irá se dedicar ao estudo de qual área? Seria Zoologia? Botânica? Microbiologia? Certamente os alunos não conseguirão denominar essas áreas específicas, mas serão capazes de dizer que querem estudar plantas ou saber como ocorre a reprodução de roedores. Envolver os 73 clubistas nesse processo de decisão faz com que o Clube seja feito por eles, que as atividades sejam significativas e interessantes; só assim eles se apropriarão do espaço e conseguirão desenvolver o protagonismo almejado. Essa definição não será aleatória, por isso o mediador deverá fazer com que os clubistas pesquisem sobre qual tema gostariam de investigar e justifiquem a necessidade de estudá-lo. Se for possível, que façam uso do celular, pesquisem em computadores, revistas, jornais e livros ou vejam vídeos. Esse será um momento disparador para conceber as pesquisas que serão realizadas. Disponibilize um espaço para que os clubistas apresentem suas ideias e registre-as em um local visível – como em um brainstorming. Crie um espaço de comunica- ção aberta e de argumentação. Ao final, faça uma votação e eleja três temas que mais chamaram atenção; estes podem ser explorados em maior profundidade. Oportunize uma etapa de investigação para que os clubistas pesquisem mais sobre eles. Com todas as pesquisas, sugestões e análises sobre os temas, faça uma nova eleição para a definição da linha de pesquisa que norteará todo o trabalho. 3.2.1 Elaboração do nome do Clube e logo Com a linha de pesquisa definida, inicie a proposta de criar o nome e o logotipo do Clube de Ciências. Sugira que os clubistas pensem em nomes e proponha que eles apresentem as propostas e expliquem os significados. Faça uma votação! Desse ponto em diante, o foco de estudo e o nome do Clube já estarão definidos. Você pode propor a criação 74 de um logotipo. Os clubistas que forem bons em criar ilustrações ou fazer montagens usando softwares, por exemplo, certamente se prontificarão a fazer. Use o nome e a imagem criada para iniciar a divul- gação das atividades do grupo, colocando-o em um site, rede social ou blog. Toda a estrutura organizacional está pronta, mas o que fazer? É fundamental, antes de planejar qualquer intervenção pedagógica, conhecer os pressupostos teóricos que devem fundamentar a prática no Clube de Ciências. Por essa razão, no capítulo 4 serão abordadas as fases de desenvolvimento moral e cognitivo do clubista, a atuação do mediador na zona de desenvolvimento proximal, o En- sino por Investigação e Alfabetização Científica, por serem teorias fundamentais para repertoriar e orientar as ações do mediador no desenvolvimento das atividades. No capítulo 5, apresentaremos as possiblidades de atividades que podem ser desenvolvidas no Clube de Ciências. 75 capítulo 4 Pressupostos teóricos para a aprendizagem nos Clubes de Ciências Objetivos do capítulo: • Compreender o conceito de Alfabetização Científica. • Apresentar os indicadores de Alfabetização Científica. • Estimular a adoção da abordagem do Ensino por Investigação. • Compreender que a Alfabetização Científica é um processo, que deve considerar as fases de desenvolvimento moral e cognitivo. • Pensar na atuação do monitor na zona de desen- volvimento proximal e considerar as dimensões interativas ao propor atividades. Conteúdo: • A Alfabetização Científica nos Clubes de Ciências. • Indicadores de Alfabetização Científica e as atitudes científicas. • Ensino por Investigação. 76 • Fases de desenvolvimento moral e cognitivo. • Teoria histórico-cultural e dimensões interativas. 4.1 Os pressupostos teóricos A aplicação de teorias educacionais às práticas de ensino e aprendizagem no Clube de Ciências não é uma decisão banal, visto que elas carregam consigo uma longa trajetória de estudos, revisões e adequações e estão im- pregnadas de intenções políticas, que contribuem para um ideal de construção social, muitas vezes implícito, mas que se reflete no tipo de formação cidadã que almejamos. É possível constatar que as teorias educacionais sofrem grande influência dos cenários históricos e políti- cos e, ao mesmo tempo, podem ser uma ferramenta para modificá-los. Conforme abordado no capítulo 1, o Clube de Ciências nasce ancorado nos ideais de John Dewey e, no final da década de 1920, chega ao Brasil por meio de pensadores que lideravam o movimento da Escola Nova. Esse movimento buscou romper com as metodologias tradicionais, trouxe grandes inovações metodológicas, mas não considerou as distâncias existentes entre as classes, o que qualificou a aprendizagem das elites, mas não foi sig- nificativa para as classes populares, acirrando ainda mais as desigualdades sociais. Na contemporaneidade, a necessidade de mi- nimizar as desigualdades sociais é imperativa. Assim, o Ensino de Ciências espera alfabetizar cientificamente as pessoas e formá-las para que exerçam sua cidadania com criticidade. Nesse sentido, o Clube de Ciências que 77 pretendemos desenvolver neste livro é aquele que poten- cializa a Alfabetização Científica, por ela ser alicerçada nas concepções progressistas da educação e buscar ser um elemento de transformação social por meio de resolução de situações-problema, discussões em grupo e pela relação horizontal entre o mediador e o clubista. A Alfabetização Científica permite ao clubista desenvolver sua criticidade e questionar suas relações com a natureza, com a tecnologia, com a sociedade e consigo mesmo. Dessa forma, ele toma consciência de seu papel social e busca meios de transfor- mar sistemas opressores com ética e sensibilidade humana. Outro fator importante é conhecer as teorias de desenvolvimento cognitivo e moral dos clubistas, pois as intenções do Clube de Ciências não seriam alcançadas se, por exemplo, quiséssemos que o clubista analisasse os aspectos éticos de um determinado processo científico quando ele ainda não desenvolveu estruturas cognitivas para abstrair e para questionar as regras sociais estabele- cidas. Por isso, é necessário que o mediador conheça as etapas do desenvolvimento cognitivo e moral do clubista e as estratégias para atuar de forma assertiva na zona de desenvolvimento proximal. Vale ressaltar que o Clube de Ciências, por ser um espaço de educação não formal, não tem a responsabilidade em cumprir os conteúdos determinados nas normatizações curriculares. No entanto, as teorias de aprendizagem que embasam a educação formal são importantes para que o mediador planeje as medições e atividades com mais efi- cácia. Então, para instrumentalizar o mediador, seguem as teorias que são fundamentais para qualificar o trabalho no Clube de Ciências. 78 4.2 A Alfabetização Científica e o Ensino por Investigação Como abordado anteriormente, os Clubes de Ciên- cias buscam metodologias e estratégias não escolarizadas ou tradicionais para desenvolver a Alfabetização Científi- ca. Nesse espaço, é importante entender que o clubista está em formação e que ele faz parte de uma cultura que pode se confrontar, interagir ou integrar os conhecimentos cien- tíficos que serão trabalhados. Por essa razão, Aikenhead (1996) propõe que olhemos para o Ensino de Ciências em termos de cruzamento de fronteiras (border crossing) entre subculturas de seus pares e familiares até as subculturas da Ciência e da Ciência escolar. Nagayoshi (2014) explica que [...] cada um de nós participa de muitos grupos diferentes, que compartilham valo- res, normas e símbolos diversos. Assim, a todo o momento, nós cruzamos fronteiras entre diferentes subculturas. Ao nos movi- mentarmos entre grupos e contextos, deve- mos nos adaptar a diferentes subculturas. A sala de aula não poderia funcionar de outra maneira: objetiva-se fazer com que o aluno transponha a fronteira para a subcul- tura da Ciência (NAGAYOSHI, 2014, p. 24). Da mesma forma, o Clube de Ciências visa a trans- posição para a subcultura científica. Quando ela ocorre de maneira harmoniosa e o alunocruza a fronteira científica, identifica e passeia pelas diferentes subculturas, compre- endendo como se delimitam e atuam uma sobre a outra. Pode-se dizer que ele desenvolveu a “Enculturação Cien- tífica”, expressão esta que, de acordo com Sasseron e Car- 79 valho (2011, p. 60), parte do pressuposto de que o Ensino de Ciências deve promover condições para que os alunos, além das culturas religiosa, social e histórica que conhecem e vivenciam, possam também fazer parte de uma cultura em que as noções, ideias e os conceitos científicos façam parte de seu corpus. Na literatura, os conceitos de Enculturação Cientí- fica, Letramento Científico e Alfabetização Científica fre- quentemente são definidos e discutidos em função de sua etimologia, tradução e aplicação. No entanto, todos eles têm o objetivo de promover a formação cidadã dos estu- dantes para o domínio e uso dos conhecimentos científicos e seus desdobramentos nas mais diferentes esferas de sua vida (SASSERON; CARVALHO, 2011, p. 60). Neste livro, entendemos que o Clube de Ciências objetiva desenvolver a Enculturação Científica dos alu- nos para inseri-los na subcultura científica. No entanto, assim como Sasseron e Carvalho (2011, p. 61), usaremos a expressão “Alfabetização Científica” por almejarmos planejar um ensino que permita ao aluno interagir com uma nova subcultura, que propicie a reconstrução de sua visão de mundo, dando possibilidades para que ele possa modificar a si próprio a partir da prática embasada por saberes de noções e conhecimentos científicos, bem como das habilidades associadas ao fazer científico. Dessa forma, a Alfabetização Científica revela-se como a capacidade de analisar e avaliar situações que permitam a tomada de decisões e o posicionamento (SASSERON, 2015). O Clube de Ciências na Educação Básica, norteado por esses princípios, visa promover o border crossing e a Al- fabetização Científica para romper um padrão recorrente 80 que amplia a exclusão social e impede o pleno exercício da cidadania. Marques e Marandino (2018, p. 6) reforçam essa visão progressista da educação ao afirmarem que a Alfabetização Científica deve promover a construção da “consciência epistemológica” para potencializar a par- ticipação social, enfatizando que projetos que almejam desenvolvê-la devem ter caráter emancipador e de inclusão social, em uma perspectiva de defesa do ser humano, da justiça social e da democracia. Para demonstrar de forma clara as relações entre Ciência, Educação e Sociedade no conceito de Alfabetização Científica, as autoras desenvol- veram o esquema a seguir: Figura 7 – Esquema do conceito de Alfabetização Científica. Fonte: Marques e Marandino (2018). 81 Esse esquema demonstra todas as relações que podem ser desenvolvidas no Clube de Ciências para que os alunos participantes possam ter uma visão global do empreendimento científico e construir, aos poucos, habili- dades que levem a esse objetivo. O esquema explicita que o processo de Alfabetização Científica vai além dos saberes específicos da Ciência, como os conceitos, a natureza da Ciência e suas relações com a tecnologia e sociedade. É fundamental que a cultura do clubista dialogue com a cultura científica, que ele perceba onde estão as fronteiras entre essas duas culturas e quais intercâmbios são possíveis e importantes entre elas. Por fim, que o Clube possa instru- mentalizá-lo para a atuação cidadã. Tudo isso reflete-se em um projeto de sociedade mais justa, solidária e humana. Sasseron e Carvalho (2008) e Penha, Carvalho e Vianna (2009) definiram indicadores da Alfabetização Científica que podem ser usados para nortear a media- ção e a avaliação das habilidades desenvolvidas pelo clubista ao longo de sua participação no Clube de Ciên- cias. Esses indicadores podem se consolidar como um instrumento base para a elaboração de uma avaliação diagnóstica e processual da Alfabetização Científica dos alunos clubistas. Assim, o quadro 16 descreve os quatro indicadores propostos: 82 Indicadores para: Subcategoria de indicador Resumo das ideias 1. Trabalhar com os dados de uma investigação Seriação de informações Indicador que não necessariamente prevê uma ordem a ser estabeleci- da, mas pode ser um rol de dados, uma lista de dados trabalhados. Organização de informações Ocorre nos momentos em que se discute sobre o modo como um trabalho foi realizado. Classificação de informações Ocorre quando se busca conferir hierarquia às informações obtidas. 2. Estruturação do pensamento Raciocínio lógico Compreende o modo como as ideias são desenvolvidas e apresentadas e está diretamente relacionada à forma como o pen- samento é exposto. Raciocínio proporcional Mostra como se estrutura o pensamento e refere-se também à maneira como variáveis têm relações entre si, ilustrando a interdependência que pode existir entre elas. 3. Entendimen- to da situação analisada Levantamento de hipóteses Aponta instantes em que são alçadas suposições acerca de certo tema (pode surgir da forma de uma afirmação ou de uma pergunta). Teste de hipóteses Colocar à prova as suposições anteriormente levantadas (pode ocorrer tanto diante da manipu- lação direta de objetos quanto no nível das ideias). Justificativa Quando em uma afirmação qual- quer proferida lança mão de uma garantia para o que é proposto. 83 Indicadores para: Subcategoria de indicador Resumo das ideias 4. Entendimen- to da situação analisada Previsão É explicitada quando se afirma uma ação e/ou fenômeno que sucede associado a certos aconte- cimentos. Explicação Quando se busca relacionar infor- mações e hipóteses já levantadas (estão relacionadas à justificativa para o problema). 5. Procedi- mentais (ou de procedimentos) Aquisição de dados Relacionado ao delineamento me- todológico necessário para aquisi- ção dos dados da investigação. Identificação de Variáveis Estão relacionados com a elabo- ração de estratégias, estruturas e procedimentos com o objetivo de identificar, reconhecer e separar as variáveis que estão relaciona- das com a situação em estudo. Análise das relações entre variáveis Desenvolvimento de estratégias que possam explicitar e/ou esta- belecer relações de dependência qualitativas e/ou quantitativas entre as diferentes variáveis iden- tificadas. Quadro 16 – Indicadores de Enculturação Científica. Fonte: Adaptado de Sasseron e Carvalho (2008, p. 138-139) e Penha, Carvalho e Vianna (2009, p. 11). Sendo assim, como desenvolver todas essas habi- lidades necessárias à Alfabetização Científica? É valido salientar, como veremos na próxima seção, que as habili- dades que exigem capacidade de abstração e inferência só serão possíveis em alguns estágios de desenvolvimento cognitivo. No entanto, temos que considerar que a Alfabetização Científica é um processo contínuo e que provavelmente não será completamente desenvolvida em 84 um ano de atividade com o clubista. Sendo assim, temos que encarar o Clube de Ciências como um projeto a longo prazo ou, caso o projeto seja de curto prazo, é fundamen- tal priorizar uma necessidade formativa, desenvolvendo uma habilidade. Sugerimos que, para promover situações nas quais os clubistas possam desenvolver as competências científi- cas, as atividades do Clube de Ciências sejam abordadas pelo viés do Ensino por Investigação, que, de acordo com Carvalho (2018), pode ser definido como aquele no qual o professor cria condições para os alunos: • pensarem, levando em conta a estrutura do conhecimento; • falarem, evidenciando seus argumentos e co- nhecimentos construídos; • lerem, entendendo criticamente o conteúdo lido; • escreverem, mostrando autoria e clareza nas ideias expostas (CARVALHO, 2018, p. 766). Banchi e Bell (2008) relatam que a maioria dos es- tudantes, independentemente da idade, precisa de prática para desenvolver suas habilidades e entendimentos de investigação até um ponto em que eles possam conduzirsua própria investigação do início ao fim. Por isso, as ati- vidades devem ser promovidas como diferentes níveis de pesquisa pelos quais os alunos podem progredir à medida que avançam ao pensamento científico mais profundo. Carvalho (2018) afirma que a diretriz principal de uma atividade investigativa está relacionada ao cuidado 85 que o professor tem com o grau de liberdade intelectual dado ao aluno e com a elaboração do problema. Para a au- tora, é a situação-problema proposta que irá desencadear o raciocínio dos alunos, e sem liberdade intelectual eles não terão coragem de expor seus pensamentos, seus raciocínios e suas argumentações. A esse respeito, Campos e Nigro (1999) apresentam um diagrama (figura 8) que evidencia o ciclo de uma atividade investigativa. 86 Figura 8 – Diagrama de um ciclo de investigação. Fonte: Campos e Nigro (1999). 87 Nesse diagrama, fica evidente que o Ensino por Investigação parte de uma situação-problema e estimula o clubista a levantar uma hipótese, a traçar estratégias para resolver esse problema, a analisar os resultados e, se necessário, replanejar ou comunicar os resultados ob- tidos. Nessa modalidade de ensino, pode existir mais de um caminho para a obtenção do resultado. Nesse sentido, os clubistas têm a liberdade intelectual para criar as estra- tégias da sua pesquisa. Banchi e Bell (2008) classificam as atividades in- vestigativas em quatro níveis, no qual o primeiro nível é denominado “investigação de confirmação” (confirmation inquiry); o segundo nível é de “investigação estruturada” (structured inquiry); o terceiro nível é a “investigação guia- da” (guided inquiry); e o quarto é a “investigação aberta” (open inquiry). A tabela 3 apresenta os quatro níveis de investigação e as informações fornecidas ao aluno em cada um deles: Tabela 3 – Os quatro níveis de investigação e as informações fornecidas ao clubista. Nível de investigação Questão Procedi-mento Solução 1º Investigação de confirmação - Os clubistas confirmam um princípio por meio de uma atividade quando os resultados são previamente conhecidos. X X X 2º Investigação estruturada - Os clubistas investigam uma pergunta apresentada pelo professor por meio da prescrição de uma metodologia. X X 88 Nível de investigação Questão Procedi-mento Solução 3º Investigação guiada - Os clubistas investigam uma pergunta apresentada pelo mediador usando o aluno projetado/ procedimentos selecionados. X 4º Investigação em aberto - Os clubistas investigam perguntas formuladas por eles mesmos e as resolvem com procedi- mentos próprios. Fonte: Adaptado de Banchi e Bell (2008, p. 27). Banchi e Bell (2008) explicam que a “investigação de confirmação” é útil quando o objetivo do mediador for reforçar uma ideia, oportunizar aos clubistas a experiência de conduzir investigações ou para que eles pratiquem uma habilidade específica de investigação, como coletar dados. Nesse nível de investigação, os clubistas serão incentiva- dos a tratar esses dados; assim, desenvolvem habilidades necessárias à Alfabetização Científica à medida que orga- nizam e classificam as informações. No segundo nível, na “investigação estruturada”, a situação-problema e o procedimento são disponibiliza- dos pelo mediador, mas os clubistas geram explicações embasadas nos dados coletados por eles. Nesse sentido, podem desenvolver habilidades relacionadas a explicar e justificar os resultados obtidos, buscando estabelecer relação entre as variáveis. No terceiro nível, “investigação guiada”, Banchi e Bell (2008) relatam que o mediador fornece aos clubistas apenas a pergunta de pesquisa, e eles, com liberdade inte- lectual, projetam o procedimento (método) para testar sua 89 pergunta e as explicações resultantes. Nesse nível, a me- diação é fundamental, visto que cabe ao mediador orientar cada projeto de pesquisa para que, assim, os clubistas comecem a desenvolver as próprias metodologias. Por fim, no quarto nível, os clubistas têm maiores oportunidades de agir como cientistas, tirando dúvidas, projetando e realizando investigações e comunicando seus resultados. Esse nível requer o raciocínio mais científico e maior conhecimento e autonomia. Cabe salientar que, para Munford e Lima (2007), o En- sino por Investigação é muito mais que aulas práticas e reali- zação de experimentos. Para os autores, é preciso “promover um ensino mais interativo, dialógico e baseado em atividades capazes de persuadir os alunos a admitirem as explicações científicas para além dos discursos autoritários, prescritivos e dogmáticos” (MUNFORD; LIMA, 2007, p. 110). O capítulo 5 apresentará algumas sugestões de atividades que poderão ser desenvolvidas no Clube de Ci- ências e abordadas na perspectiva do Ensino por Investiga- ção. Já a próxima seção dedica-se a explicitar as etapas de desenvolvimento cognitivo e moral para que o mediador possa organizar as atividades do Clube, considerando-as como essenciais para a aprendizagem do clubista. 4.3 O desenvolvimento moral e cognitivo Até aqui, não foi estabelecida uma faixa etária para o trabalho com os clubistas, pois acreditamos que o Clube de Ciências pode ser desenvolvido em todos os anos da 90 Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio). No entanto, para que os objetivos sejam alcançados, eles devem ser compatíveis com as fases de de- senvolvimento cognitivo e moral dos clubistas. Conhecer essas fases possibilitará ao mediador elaborar atividades adequadas para desenvolver a Alfabetização Científica em todos as etapas de ensino. Assim, serão apresentadas as ideias de Piaget (1994, 1999) sobre desenvolvimento cognitivo e moral para adequar e ampliar as possibilidades de trabalho no Clube de Ciências em cada faixa etária. A respeito do desenvolvimento psíquico, Piaget (1999) diz que a estrutura mental evolui de um estado de menor equilíbrio para um estado de equilíbrio superior, até chegar a um nível considerado estável na idade adulta. Ele classifica o desenvolvimento cognitivo em seis estágios, nos quais os três primeiros constituem o período de lactância, que vai, aproximadamente, até os 2 anos de idade e antece- de o desenvolvimento da linguagem e do pensamento. Por essa razão, esse período não será abordado. É importante salientar que, embora sejam dividi- dos cronologicamente, a passagem de um estágio para o outro não é abrupta: ela é lenta e gradual, e seu início e fim mudam de indivíduo para indivíduo. Acreditamos ser possível, respeitando as especificidades da idade, iniciar atividades do Clube de Ciências na Educação Infantil. Marques e Marandino (2019) acreditam que a criança pode ser considerada público-alvo da Alfabetização Científica, sem que isso represente uma imposição que descaracterize as especificidades da criança e da infância, promovendo 91 ações que, ao mesmo tempo, desenvolvam as múltiplas linguagens, como o brincar, as interações, a fantasia e as formas próprias de ser e de estar no mundo. Acreditamos ser possível desenvolver essas ativida- des com clubistas que estejam no quarto período, chamado por Piaget (1999) de Inteligência Intuitiva, que vai dos 2 aos 7 anos de idade. Esse período, de acordo com o autor, é marcado pelo egocentrismo e pelo desenvolvimento da linguagem; nele, as crianças começam a imitar os adultos com os quais convive. Por essa razão, passam muito tempo falando sozinhas, brincam imersas em seu imaginário, em um jogo simbólico, no qual recriam situações já observa- das, como dirigir carros e brincar de bonecas. Em relação ao desenvolvimento moral, até os 6 anos, sabe-se que é uma fase marcada pela anomia; nela, as crianças ainda não têm consciência das regras e, por isso, não as seguem. Para conhecer, significar e encontrar sentido em fenômenos cotidianos, as crianças que estão nesse estágio fazem perguntas. Piaget (1999) conta que, nesse período, elas se interessam em saber “o que é” uma determinada coisa,“onde” ela está e evolui para os “por quês”, bus- cando entender a finalidade ou a causa de um fenômeno. Piaget (1999) apresenta o seguinte exemplo: referindo-se a uma bolinha de gude, um menino de 6 anos pergunta à pessoa que toma conta dele: “Por que está rolando?”. A responsável pelos cuidados com o menino apenas res- ponde: “Porque está inclinado”, e a criança, não satisfeita, pergunta novamente: “Ela sabe que você está embaixo?”. Nesse diálogo, Piaget (1999) aponta o animismo infantil, no qual as crianças atribuem características humanas a 92 qualquer objeto que realize uma atividade. Fica então evi- dente, na última questão, que a criança atribui consciência ao movimento da bolinha, como se ele fosse intencional e orientado para um fim. Outros exemplos de animismo são elucidados quando as crianças acreditam que a lâmpada acende intencionalmente ou que a Lua segue o carro. Nesse contexto, a presença de regras e estatutos, assim como a formação da diretoria, não serão necessárias, visto que nessa fase não há o reconhecimento das regras nem de hierarquia entre os clubistas. Como estratégia para desenvolver atividades de Alfabetização Científica nesse estágio de desenvolvimento, utilizamos como refe- rência as sugestões de Almeida e Fachín-Terán (2015), que apresentam como atividades para crianças de 2 a 4 anos os jogos simbólicos, as brincadeiras de faz de conta e as atividades que exigem uma maior habilidade motora das crianças para exploração do ambiente e dos objetos. Os autores sugerem, ainda, que sejam realizadas leituras de cantigas de roda, canções de ninar, parlendas, poesias e trava-línguas, que ampliam o repertório oral e podem aliar a cultura tipicamente infantil à cultura científica. Ainda de acordo os autores, as atividades são importantes por intro- duzir as crianças no mundo da linguagem, como também na assimilação das características de sua própria cultura. Isso significa tomar a criança como ponto de partida e possibilitar sua aproximação a elementos da cultura científica (concei- tos, termos, procedimentos, linguagem, etc.) a partir de vivências que respeitem seus tempos e dialoguem com suas in- fâncias. Trata-se, a nosso ver, de incluir 93 as crianças em ações educativas que potencializem a alfabetização científica, sem que isso signifique desconsiderar as peculiaridades das infâncias (MARQUES; MARANDINO, 2019, p. 7). Outra sugestão de Almeida e Fachín-Terán (2015) é iniciar a aproximação da criança com livros. No caso do Clube de Ciências, os encontros poderiam ser marcados por contações de histórias, fazendo uso de livros que podem explicar, por meio de ilustrações e representações, fenômenos do cotidiano das crianças que respondam questões, por exemplo, sobre como ocorre o dia e a noite, a chuva, o crescimento de uma planta, questões de saúde e autocuidado, entre outros. Almeida e Fachín-Terán (2015) relatam que, por meio dos livros, as crianças perceberão que o mundo que as cerca pode ser representado a partir de outras estruturas, ou seja, compreenderão que o cachor- ro da sua casa ou da casa do vizinho pode ser representado em um papel. Já para crianças de 4 a 5 anos, Almeida e Fachín- -Terán (2015) afirmam ser possível investir nas atividades cooperativas que estimulam as negociações. Eles sugerem a adoção de um bicho de estimação, pois, além de ser uma prática divertida e prazerosa, a observação do animal despertaria o interesse pela investigação científica e pela observação da natureza. Acreditamos, ainda, que essas práticas trazem o vínculo afetivo entre a criança e o espaço do Clube e podem ser estendidas a todas as idades. O quinto estágio é o das operações intelectuais concretas (começo da lógica) e dos sentimentos morais e sociais de cooperação (de 7 a 11 ou 12 anos). Nessa etapa, 94 a criança torna-se capaz de cooperar, pois identificam os limites entre si e os outros. As discussões tornam-se possíveis, pois são capazes de compreender os diferentes pontos de vista e procuram justificativas para as próprias afirmações. Nessa etapa, causa e efeito se confundem, mas as crianças começam a pensar antes de agir. O animismo evolui e dá lugar à causalidade. Para ilustrar essa fase, Piaget (1999) apresenta a seguinte suges- tão de experimento: apresente às crianças dois copos iguais cheios com três quartos de água; em um deles, coloque dois cubos de açúcar. As crianças devem, por meio de questões norteadoras, observar se o nível de água subiu, se após a dissolução do açúcar haverá alguma coisa na água e se o peso ficará maior ou igual ao da água na qual o açúcar não foi adicionado. Crianças menores de 7 anos atribuem ao fato de o açúcar ter sumido a sua total desaparição. Já por volta dos 7 anos de idade, as crianças relatam que o açúcar permanece na água; para elas, o açúcar faz a água se trans- formar em xarope (explicação por transmutação) e, para os alunos acima dessa idade, é possível vê-los concluir que o açúcar vai ficando cada vez menor, formando bolinhas que dão gosto às coisas. Por volta dos 11 ou 12 anos, as crianças são capazes de explicar o conceito de volume, dizendo que o açúcar ocupa espaço e, por essa razão, o nível da água sobe quando ele é acrescentado. Nessa fase do desenvolvimento, é possível propor aos clubistas investigações guiadas e estruturadas, pois eles serão capazes de, por meio de questões norteadoras, levantar hipóteses e propor soluções simples. Vale ressaltar que, nesse período, a necessidade da interação concreta com 95 o material é fundamental, e a capacidade de abstrair ainda está se desenvolvendo. Por essa razão, o mediador deve evitar conceitos que exijam grande grau de abstração. É nessa etapa, também, que as crianças aprendem a classificar e seriar e, por isso, atividades que desenvolvam essas habi- lidades são adequadas. Quanto ao desenvolvimento moral, até os 9 anos as crianças podem estar na segunda fase, denominada fase heterônoma, na qual elas começam a perceber que existem regras e as obedecem, mas não as compreendem. Dependem da orientação e vontade do outro; geralmen- te sua obediência resulta das orientações dos pais e de pessoas mais velhas. Por isso, a construção do estatuto aqui se faz importante, assim como a definição das funções administrativas de cada membro. Mesmo que os clubistas nessa fase ainda não tenham desenvolvido a autonomia, atribuir a eles responsabilidades contribuirá para que a desenvolvam. A última etapa do desenvolvimento moral, que se inicia por volta dos 10 anos, é a autonomia, e concretiza-se na moral adulta. Piaget (1994) relata que nesse estágio a criança deixa de considerar a regra como algo a ser seguido sem reflexões; ela compreende que “a regra é criada como uma lei imposta pelo consentimento mútuo, cujo respeito é obrigatório” (PIAGET, 1994, p. 34). É nessa fase que con- sideramos adequado estimular os alunos a pensarem e dis- cutirem sobre as dimensões éticas da atividade científica. Já o sexto estágio é chamado por Piaget (1999) como das Operações Intelectuais Abstratas, da formação da per- sonalidade e da inserção efetiva e intelectual na sociedade 96 dos adultos (adolescência). Nessa fase, a criança consegue desenvolver as operações abstratas do pensamento, o cha- mado hipotético-dedutivo, no qual ela é capaz de tirar uma conclusão de hipóteses puramente teóricas e se torna capaz de executar ações apenas no pensamento. Aqui atividades investigativas guiadas e abertas são possíveis, desde que orientadas e preparadas adequadamente pelo mediador. Mesmo conhecendo todas as fases de desenvolvi- mento moral e cognitivo proposto por Piaget (1994, 1999), é importante que sejam consideradas as intervenções do mediador e as interações dos clubistas com outras pessoas, outros ambientes e fenômenos. A seção a seguir dedica-se a discutir a importância da teoria histórico-cultural proposta por Vygotsky (1991, 2001, 2010) e as dimensões interativas.4.4 Contribuições da teoria histórico-cultural e as dimensões interativas Vygotsky, Luria e Leontiev (2010) relatam que, quando a obra de Piaget, “A linguagem e o pensamento da criança”, chegou ao conhecimento deles, houve um desacordo fundamental quanto à interpretação da relação entre a linguagem e o pensamento. Os autores acreditavam ser imprescindível caminhar para fora do organismo a fim de entender como a atividade psicológica ocorre. Os autores ainda contam que Vygotsky, influencia- do pelas ideias de Marx, concluiu que as origens das formas superiores de comportamento consciente são construídas nas relações sociais que o indivíduo mantém com o mundo 97 exterior, evidenciando que o homem não é apenas um pro- duto de seu desenvolvimento biológico, cognitivo ou de seu ambiente (embora considerasse esses aspectos relevantes), mas é também um agente ativo no processo de criação desse meio. Vygotsky (2001, p. 70) ressalta que na educação “[...] não existe nada de passivo, de inativo. Até as coisas mortas, quando se incorporam ao círculo da educação, quando se lhes atribui papel educativo, adquirem caráter ativo e se tornam participantes ativos desse processo”. Nessa perspectiva, o ser humano é considerado um ser histórico e social, que vivencia como protagonista sua própria cultura, transformando-se pela interação e ao mesmo tempo provocando mudanças no ambiente e nas pessoas com as quais convive, sendo a linguagem essencial no processo de mediação das interações. Essa concepção de aprendizagem proposta por Vygotsky (2001) está de acordo com o modelo histórico-cultural, que considera que as características individuais, como a capacidade cognitiva e o comportamento humano, estão relacionadas às intera- ções com grupos culturais, às experiências e ao percurso da formação humana desde o nascimento. A concepção histórico-cultural também pode ser percebida ao entender a visão de Bezerra e Marandino (2014), que definem a aprendizagem como um processo em que o indivíduo se apropria de habilidades, informa- ções, valores, atitudes típicas de uma cultura por meio da interação com o mundo. Assim, Marinho, Cordeiro e Ferreira (2020) relatam que a teoria histórico-cultural também é considerada uma teoria sociointeracionista, pois defende que o desenvolvimento humano ocorre com as trocas sociais. 98 Como Piaget (1994, 1999), consideramos importante conhecer as características do desenvolvimento biológico e cognitivo dos clubistas, mas concordamos também com Vygotsky (2001), pois consideramos o papel das relações sociais na aprendizagem e na capacidade de o clubista intervir no meio em que vive. Em um ambiente com objetivos de aprendizagem explícitos, como é o caso do Clube de Ciências, é impor- tante que o mediador entenda como diminuir a distância entre o que o clubista sabe e o que ele deverá desenvolver. Vygotsky (1991) denomina como “nível de desenvolvi- mento real” os processos mentais já concretizados em que a criança realiza tarefas de forma independente, enquan- to a nível potencial estão processos que ainda não estão completos, mas poderão ser concluídos à medida em que se aprende. A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é a distância entre o nível potencial e o real e, portanto, o lócus de atuação do mediador. Para Vygotsky (1991), a ZDP permite identificar as potencialidades presentes e futuras, evidenciando o dina- mismo do desenvolvimento ao identificar aquilo que já foi atingido e o que está em processo de maturação. A figura 9 apresenta essa concepção, ao representar o clubista no cen- tro; conhecimentos prévios e habilidades já estão consolida- das (nível de desenvolvimento real). Na ZDP, está a ação e a interação; são propostas pelo mediador as atividades intera- tivas que promovem a mobilização do pensamento e a sua reorganização, visando a ampliação dos saberes do clubista e o desenvolvimento de novas habilidades, representado pela zona de desenvolvimento potencial. 99 Figura 9 – Representação dos níveis de desenvolvimento propostas por Vygotsky. Fonte: Elaborada pelos autores. Para repertoriar o mediador e ampliar suas possibilida- des de atuação na ZDP, iremos apresentar as possíveis formas de interação do clubista com a cultura científica. Para isso, nos embasaremos nas dimensões interativas propostas por Wagensberg (2005), denominadas hands-on, head-on e heart-on. • hands-on – essa dimensão tem foco na mate- rialidade da interação: objetiva que o clubista coloque a mão na massa e interaja de forma concreta com o objeto de estudo. • heads-on (também pode ser chamada de minds-on) – ocorre quando o clubista dedica a sua atenção e interage mentalmente com um 100 fenômeno. Para isso, faz uso de operações do pensamento como a observação, comparação, dedução, levantamento de hipóteses, entre outros. Essa dimensão pode se iniciar pela in- teração concreta com um objeto, por perguntas norteadoras, por recursos tecnológicos ou esti- mulada pela ação do mediador. • hearts-on – esse tipo de interatividade é marca- do pela ligação emocional e afetiva envolvida durante as atividades práticas. As sensações despertadas por uma interação são essenciais para a construção do conhecimento e dos valores morais em relação à prática científica. Vale ressaltar que, quando o clubista se sente motivado, capaz e feliz ao realizar a prática, ele ficará mais próximo e envolvido com o meio científico. Da mesma forma, se as sensações forem de frustração, incapacidade ou medo, o clubista poderá se distanciar dele. Dessa forma, para que as dimensões interativas sejam desenvolvidas de forma intencional e consciente, a intervenção do mediador por meio da linguagem desem- penha um papel relevante. Pavão e Leitão (2007) dizem que ele é o responsável por estimular a interação entre as pessoas e com o objeto do conhecimento (hands-on/heads-on/ hearts-on); chamam essa dimensão de social-on. Os autores afirmam que, ao estimular essas trocas, o mediador favo- rece a criação de um espaço de comunicação e interlocução de saberes. 101 Sendo assim, cada atividade prática apresenta um potencial interativo. Por essa razão, deve ser selecionada pelo mediador de acordo com a habilidade que pretende desenvolver e, com responsabilidade, adequá-la à etapa de desenvolvimento cognitivo do clubista, bem como para despertar boas sensações para que estes não se sintam incapazes e desmotivados. A esse respeito, Borges (2002) diz que: Sem dúvida que as atividades práticas podem propiciar ao estudante imagens vividas e memoráveis de fenômenos inte- ressantes e importantes para a compreen- são dos conceitos científicos. Através delas, ele pode ser educado para fazer medições corretamente e procurar relações entre variáveis (BORGES, 2002, p. 15). O próximo capítulo dedica-se a apresentar com mais detalhes as atividades que poderão ser desenvolvidas no Clube de Ciências. 102 capítulo 5 O desenvolvimento das atividades Objetivos do capítulo: • Apresentar possibilidades de atividades que po- derão ser desenvolvidas no Clube de Ciências. • Caracterizar as modalidades organizativas e apresentar situações nas quais elas poderão ser utilizadas. • Apresentar as atividades científicas que carac- terizam o Clube de Ciências. Conteúdo: • Modalidades organizativas: ◊ projetos; ◊ atividades habituais; ◊ sequências de atividades; ◊ situações independentes. • Atividades científicas: ◊ experimentos; ◊ vivências; ◊ comunicação das atividades realizadas. 103 5.1 Modalidades organizativas A pesquisadora argentina Delia Lerner, em 2002, ao dissertar sobre a alfabetização na Educação Básica, classificou as atividades didáticas em quatro grupos: i) projetos; ii) atividades habituais; iii) sequências didáticas; e iv) atividades ocasionais. Hoje essa classificação é conhe- cida como “modalidades organizativas” e dizem respeito à organização didática do trabalho do mediador. Consi- derando que o Clube de Ciênciasobjetiva à Alfabetização Científica, propor um paralelo entre as práticas propostas por Lerner (2002) e as atividades realizadas em Clubes de Ciências nos parece coerente. Assim, iremos aqui apresen- tar as potencialidades e limitações dessas modalidades, a fim de embasar o mediador para que ele possa escolher com coerência a estratégia de ensino mais adequada. 5.1.1 Projetos Depois de definir a linha de pesquisa do Clube, o mediador pode optar por utilizar a metodologia de projetos para alcançar os objetivos propostos. Na literatura, essa modalidade pode ser encontrada como: pedagogia de projetos; projetos de trabalho; projetos de aprendizagem; ou aprendizagem baseada em projetos. Esses conceitos se diferenciam quanto às concepções pedagógicas, mas têm em comum a valorização da aprendizagem ativa e as etapas de desenvolvimento. De acordo com Moura e Barbosa (2013), independentemen- te das variações conceituais, os trabalhos com projetos são ancorados por quatro pilares: 104 1. Liberdade de escolha do tema por parte dos alunos. 2. Trabalho em equipe para desenvolvimento das atividades. 3. Visão de um laboratório aberto, sem fronteiras, com a utilização de recursos variados, provi- denciados inclusive pelos alunos. 4. Socialização do resultado do projeto (MOURA; BARBOSA, 2013, p. 233). Lerner (2002) ressalta que o trabalho com projetos não é simples, pois ele se caracteriza por permitir que, em nosso caso, os clubistas compartilhem do planejamento das tarefas e da gestão do cronograma, estabelecendo como objetivo um prazo e a definição de um produto. Hernández e Ventura (1998) apresentam os projetos como uma moda- lidade que favorece a criação de novas formas de organizar os conhecimentos, porque ele ressignifica as relações entre ensino e aprendizagem, nas quais os conhecimentos não são ordenados, lineares e homogêneos. Nessa metodologia, listamos cinco responsabi- lidades do mediador, de acordo com Ventura (2002), e relacionamos cada uma delas com as demandas do Clube de Ciências. a) Conjuntamente criar situações-problema a serem resolvidas – no Clube de Ciências, essas situações podem ser justamente as questões de pesquisa propostas pelos clubistas e pelo mediador, partindo de uma curiosi- dade latente no grupo ou de uma situação-problema real. 105 b) Montar um contrato pedagógico explícito para a resolução dos problemas com um calendário a ser se- guido – esse contrato pode ser montado com os clubistas, incorporado ao estatuto, e um cronograma de ações pode ser previamente estabelecido, contemplando os responsá- veis pelas ações e os recursos necessários. c) Fazer reuniões regulares para situar os avanços dos projetos – essas discussões podem ocorrer em dois ní- veis, administrativo e de pesquisa; ambos os casos podem ser debatidos nas assembleias e nas reuniões extraordinárias. d) Realizar reuniões de encorajamento, ou de reinício das ações, assim que a dinâmica inicial sofra uma queda ou que surja um problema importante – os processos da Ciência não são imediatos, e lidar com a frustração de não alcançar o resultado almejado, de encon- trar dificuldade em implementar um projeto ou de obter recursos financeiros podem ocorrer no percurso, portanto, ações de motivação são extremamente importantes. e) Fazer, em cogestão, o relatório final dos projetos – para que este relatório tenha qualidade e evidencie o pro- cesso, é importante que o diário de bordo esteja atualizado, com os dados da pesquisa e com as observações do clubis- ta. Valorizar o registro é fundamental para que entendam a importância da construção processual do fazer Ciência. Essa atividade destaca-se por envolver os clubistas em projetos de longa duração. Apresenta como vantagem a possibilidade de desenvolver projetos reais, fazendo com que eles percebam a Ciência como um processo que pode resultar em produto teórico ou concreto. Essa metodologia 106 estimula o protagonismo do clubista e tem como foco principal o desenvolvimento de habilidades, como as ati- tudes científicas, o trabalho em equipe, a argumentação e o registro, além de ensinar como plano de fundo as etapas básicas de desenvolvimento de um projeto. Por outro lado, essa metodologia exige encontros frequentes e a elaboração de um plano de ação e crono- grama extremamente alinhados aos objetivos do Clube e do projeto, que seja executado etapa por etapa. Então, uma situação-problema pode se estender por semanas, deixan- do os clubistas mais imediatistas frustrados. 5.1.2 As atividades habituais Lerner (2002) define como “atividades habituais” aquelas que se repetem sistematicamente e possibilitam interagir com um determinado gênero textual; esse tipo de atividade favorece a aproximação das crianças a textos que não abordariam por si mesmas. Os Clubes de Ciências devem promover o contato do clubista com diversos gêneros que são fundamentais para a divulgação e comunicação científica. Assim, esti- mular a leitura e a produção de artigos científicos, roteiros de experimentos, relatórios e registros de reuniões são fundamentais para a compreensão das características que permeiam os textos de cunho científico. Assim, a análise da estrutura desses gêneros deve ser habitual para que o clubista possa identificar a espe- cificidade do vocabulário, as características dos textos e a função das figuras, quadros e tabelas que compõem os textos produzidos pelo meio acadêmico. 107 5.1.3 Sequência de atividades A sequência de atividade, ou sequência didática, é definida por Lerner (2002) como uma tarefa de duração limitada, que se diferencia do projeto por não necessitar de um produto. Nessa modalidade, são previstas atividades coletivas, grupais e individuais. Para Zabala (1998), as sequências didáticas são uma maneira de ordenar, encadear e articular as diferentes atividades, dirigindo-as para a realização de determinados objetivos educativos. Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) afirmam que essa modalidade organizativa serve para dar acesso aos alunos às práticas de linguagens novas ou que são de difícil domínio. Nessa modalidade, as atividades são planejadas previamente pelo mediador e consolidadas em um plano de ensino que reúne todas as tarefas que serão desenvol- vidas ao longo de um período pré-definido. Zabala (1998) diz ser adequado apresentar nesse plano a função que tem cada uma das atividades planejadas na construção do conhecimento. Isso significa que, diferentemente do projeto, o clu- bista não participará das fases de planejamento. No entanto, isso não o impede de desenvolver autonomia; ao contrário, a sequência de atividades deve promover intencionalmente momentos e situações nas quais haverá a elaboração, comu- nicação e discussão de suas ideias. Assim, a participação ativa do clubista ainda deverá ser oportunizada. Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) utilizam as sequências didáticas para explorar as características dos gêneros textuais que não são espontaneamente vivencia- 108 dos por seus alunos. Assim, o uso de sequências didáticas pode ser significativo quando a intenção for tornar familiar a leitura e a escrita de gêneros textuais que circulam no meio científico, como na elaboração de relatórios de ex- periências, no qual o clubista deverá ter a capacidade de expor seus aprendizados e conclusões, ou na leitura e/ou escrita de roteiros de experimentos, em que ele deve ter a capacidade de entender ou elaborar a descrição da meto- dologia utilizada para a obtenção dos dados e resultados. Zabala (1998, p. 63-64) afirma que, para avaliar a qualidade da sequência didática, é importante questionar se ela contempla atividades: a. que nos permitam determinar os conhecimentos prévios que cada aluno tem em relação aos novos conteúdos de aprendizagem. b. cujos conteúdos são propostos de forma que sejam significativos e funcio- nais para os meninos e as meninas. c. que possamos inferir que são adequadas ao nível de desenvolvimento decada aluno. d. que representem um desafio alcançável para o aluno, quer dizer, que levam em conta suas competências atuais e as façam avançar com a ajuda necessária; portanto, que permitam criar zonas de desenvolvimento proximal e intervir. e. que provoquem um conflito cognitivo e promovam a atividade mental do aluno, necessária para que estabeleça relações entre os novos conteúdos e os conhecimentos prévios. f. que promovam uma atitude favorável, quer dizer, que sejam motivadoras em relação à aprendizagem dos novos conteúdos. g. que estimulem a autoestima e o autoconceito em relação às aprendizagens que se propõem, quer dizer, que o aluno possa sentir que em certo grau aprendeu, que seu esforço valeu a pena. h. que ajudem o aluno a adquirir habilidades relacionadas com o aprender a aprender, que lhe permitam ser cada vez mais autônomo em suas aprendizagens. Quadro 17 – Questionamentos para avaliação da qualidade da sequência didática. Fonte: Zabala (1998, p. 63-64). 109 As questões propostas por Zabala (1998) evidenciam que, para se construir uma sequência didática alinhada e coerente, é necessário conhecer as fases de desenvolvimento cognitivo e moral propostos por Piaget (1994, 1999) e as inte- rações sociais e zonas de desenvolvimento apresentadas por Vygotsky (1991, 2001, 2010) para que as ações do mediador sejam intencionais e focadas no desenvolvimento de opera- ções do pensamento. Operações estas que, no caso do Clube de Ciências, desenvolvam as competências necessárias para se alfabetizar cientificamente. 5.1.4 Situações independentes As situações independentes são explicadas por Ler- ner (2002) como aquelas que não contribuem para cumprir os propósitos apresentados em relação à ação imediata (como a construção do produto do projeto ou uma ativi- dade prevista na sequência didática), mas guarda relação direta com os objetivos didáticos e com os conteúdos que estão sendo trabalhados. A autora classificou essas atividades em dois subgru- pos: i) atividades ocasionais e ii) atividades independentes. Ocasionais – no Clube de Ciências, seria quando o mediador encontrar algo valioso, que seja pertinente compartilhar, mas que esse conteúdo não se relacione aos objetivos que estão sendo desenvolvidos. Lerner (2002) afirma que não é necessário criar ou inventar uma relação existente. Se esse conteúdo for significativo e enriquecedor, a organização da situação ocasional estará justificada. Se, por exemplo, surgir uma inovação científica que chamou a atenção durante a semana, o advento de 110 uma pandemia que influenciou o cotidiano dos clubis- tas, algum animal que apareceu no Clube e dominou o pensamento de todos ou alguma curiosidade que mereça ser explorada, não perca a oportunidade, flexibilize o cronograma e explore a situação. Sistematização – essas atividades são realizadas ao final de uma sequência didática ou projeto. Lerner (2002) explica que essa sistematização visa propor uma situação para a reflexão e elaboração de uma conclusão, fazendo uso de comparações e argumentação. 5.2 Atividades científicas, o Ensino por Investigação e as dimensões interativas As atividades que denominamos como “ativida- des científicas” podem ser propostas em qualquer uma das modalidades organizativas e caracterizam o Clube escolar como um Clube de Ciências. Elas são usadas como estratégias de ensino e como ferramentas para desmitificar a Ciência, a atividade científica e para alfabetizar cientifi- camente os clubistas. Nessa categoria, estão as atividades práticas, como experimentos, expedições, comunicações científicas, iniciação científica e parcerias com cientistas e instituições de pesquisa. Para Andrade e Massabni (2011), as atividades prá- ticas têm como principal característica a interação do estu- dante com a experiência física, com o fenômeno e/ou com dados brutos de uma pesquisa. Assim, para esses autores, atividades como debate, leitura, aula expositiva e outras 111 de natureza teórica não são classificadas nessa categoria. Mesmo concordando com a definição de “atividade práti- ca” exposta pelos autores, consideramos que elas podem propiciar interações que transcendem a dimensão física. 5.2.1 Experimentos Experimentos demonstrativos – os experimentos demonstrativos, também chamados de “demonstrações práticas”, são aqueles realizados pelo mediador com o objetivo de apresentar uma observação, suscitar uma dis- cussão e ilustrar uma explicação. Esse tipo de atividade é vantajosa quando o mediador deseja tornar mais concreto um conceito que estava abstrato ou fazer uma prática que não seria possível pela insuficiência de materiais. Esse tipo de atividade não apresenta nenhuma das dimensões interativas inicialmente; o clubista apenas observa o fenômeno sem estabelecer nenhuma relação com ele. Essa prática pode chamar a atenção do clubista (hea- ds-on) ou despertar alguma emoção (hearts-on), mas esses fatores só serão possíveis de constatar após uma avaliação cuidadosa do mediador. Experimentos ilustrativos – de acordo com Bassoli (2014), experimentos ilustrativos são atividades que os alu- nos têm autonomia para realizar e colocar a mão na massa e, se esse experimento for proposto para ser realizado em grupos, pode promover a interatividade social. Esses expe- rimentos são roteirizados pelo mediador; no entanto, as fi- nalidades são as mesmas dos experimentos demonstrativos. Experimentos descritivos – Bassoli (2014) explica que, nesse experimento, a interatividade física e intelectual 112 são estimuladas, pois, além envolver a manipulação de materiais, o experimento é orientado por uma situação-pro- blema aberta e, assim, o clubista busca respostas. Nesse tipo de atividade, é possível a obtenção de mais de um resultado. Ela se diferencia das atividades investigativas por não exigir testes de hipóteses que foram previamente elaboradas. Experimentos investigativos – já nos experimentos investigativos, os clubistas têm a liberdade de participar desde o levantamento da situação-problema até a sua conclusão. Bassoli (2014) afirma que esse tipo de atividade tem como potencial a capacidade de envolver discussão de ideias, elaboração de hipóteses explicativas e experimentos para testá-las. Os experimentos investigativos podem mo- bilizar todas as dimensões interativas. Os experimentos investigativos são estratégias eficientes que podem fazer parte de um projeto de aprendi- zagem ou ser uma ação isolada no Clube de Ciências, mas que é complexa o suficiente para desenvolver habilidades científicas necessárias à Enculturação Científica. Bassoli (2014) ainda diz que é importante distin- guir o “Ensino por Investigação” das “atividades práticas investigativas”, pois a primeira é uma concepção de ensi- no que pode ou não envolver as atividades práticas, mas é alicerçada na problematização, elaboração de hipóteses e teste de hipóteses, mesmo quando estas se dão apenas no campo teórico. Já as práticas investigativas baseiam-se na experimentação seguindo os pressupostos do Ensino por Investigação. Muitos experimentos são impossibilitados dentro da escola por falta de recursos materiais ou por serem 113 demasiadamente perigosos para que os clubistas possam manipular. Assim, sugerimos a seguir alguns sites que possibilitam a interação virtual e que atuarão de forma significativa para o Ensino por Investigação: • O Relle (do inglês, Remote Labs Learning Environ- ment) é um ambiente que permite a manipulação e o gerenciamento de experimentos remotos. Foi desenvolvido pelo Grupo de Trabalho em Experimentação Remota (GT-MRE) do Labora- tório de Experimentação Remota (RExLab), da Universidade Federal de Santa Catarina.6 • Simulações Phet permitem que as pessoas fa- çam experimentos, interagindo com diferentes ferramentas, e possibilitam a investigação das relações de causa e efeito, além de responderem perguntas científicas de diferentes fenômenos por meio da exploração de simulações.7• Laboratório de Biologia Celular e do Desen- volvimento (Labid) – Universidade Federal da Paraíba.8 • Observatório Abraão de Morais – Telescópio Argus – Aqui é possível obter as imagens dos astros em tempo real e realizar as observações astronômicas. Os Clubes de Ciências podem solicitar o uso.9 6 Disponível em: http://relle.ufsc.br/. Acesso em: 3 nov. 2020. 7 Disponível em: https://phet.colorado.edu/pt_BR/. Acesso em: 3 nov. 2020. 8 Disponível em: http://eadcampus.spo.ifsp.edu.br/mod/url/view.php?id=1986. Acesso em: 3 nov. 2020. 9 Disponível em: http://www.telescopiosnaescola.pro.br/argus/comoobservar. php. Acesso em: 3 nov. 2020. 114 5.2.2 As vivências científicas É preciso relembrar um dos principais objetivos da implementação do Clube de Ciências, o border crossing, uma ação necessária para que o clubista entenda e reco- nheça as características da sua cultura e, ao mesmo tempo, a relacione com as singularidades da cultura científica, tra- çando e transpondo as fronteiras entre essas duas culturas. Para isso, atividades que extrapolem o espaço do Clube de Ciências são importantes por permitirem a ampliação da visão do empreendimento científico e a construção de uma imagem não mitificada sobre a Ciência e sobre o cientista. Assim, encontramos a necessidade de atividades de campo, como sugerido por Viveiro e Diniz (2009), que expressam a ideia de uma metodologia de ensino na qual substitui o espaço físico do Clube de Ciências por outro ambiente, que pode ser natural ou não, mas que dê con- dições para estudar as relações entre homem, sociedade, cultura e os seres vivos ali presentes. Essas atividades são exploradas interdisciplinarmente e permitirão que, dentro do contexto de estudo, o mediador trace uma rota pela qual o clubista deverá passar para vivenciar verda- deiramente a cultura científica, ou seja, poderá identificar o potencial científico e tecnológico de sua região e explo- rá-lo por meio de visitas orientadas. Sugerimos como atividades as visitas a universida- des, museus e centros de Ciências, bate-papo com cientis- tas e saídas para observação e coletas de dados. Se houver dificuldades para que os clubistas possam sair fisicamente, pode-se pensar em fazer visitas e conversas usando ferra- mentas da tecnologia de informação e comunicação. 115 É importante salientar que Viveiro e Diniz (2009) alertam que uma atividade de campo envolve as fases de planejamento, execução, exploração dos resultados e avaliação. Oportunizar essa vivência e não a explorar cons- titui-se em um desperdício. Outro aspecto apresentado pelas autoras é a importância de manter o clubista como centro do processo, pois corre-se o risco de apenas mudar o cenário do encontro e reproduzir práticas tradicionais. Museus e centros de Ciências dedicam-se à divul- gação dos conhecimentos científicos e à popularização de leis e princípios das Ciências; esses espaços permitem que o conhecimento científico seja significativo, ajudando os clubistas a interpretarem seu mundo e suas vidas por meio de interação. Nem sempre essa visita precisa ter relação direta com as pesquisas desenvolvidas no Clube; o objetivo e as intervenções planejadas podem objetivar despertar o envolvimento emocional do aluno com essa aproximação com o acervo científico (heart-on). Se não houver museus de Ciências próximos, é possível que o mediador propicie essas visitas virtualmente. A seguir, seguem algumas sugestões de visitas gratuitas. • Museu de Ciência e Técnica de Ouro Preto. Disponível em: www.eravirtual.org/museu-de- -ciencia-e-tecnica. Acesso em: 3 nov. 2020. • Science Museum de Londres. Disponível em: https://360tour.sciencemuseum.org.uk/. Acesso em: 3 nov. 2020, • Museu Nacional de História Natural e da Ciên- cia de Lisboa. Disponível em: https://museus. http://www.eravirtual.org/museu-de-ciencia-e-tecnica http://www.eravirtual.org/museu-de-ciencia-e-tecnica https://360tour.sciencemuseum.org.uk/ https://museus.ulisboa.pt/pt-pt/visita-virtual 116 ulisboa.pt/pt-pt/visita-virtual. Acesso em: 3 nov. 2020. • Museu Nacional de Ciências – Coreia do Sul. Disponível em: https://artsandculture.google. com/partner/gwacheon-national-science-mu- seum. Acesso em: 3 nov. 2020. • MUSE – The Science Museum – Trento, Itália. Disponível em: https://artsandculture.google. com/partner/museo-delle-scienze-trento. Aces- so em: 3 nov. 2020. • Museu de Zooologia da USP – São Paulo. Disponível em: https://vila360.com.br/tour/ mzusp/. Acesso em: 3 nov. 2020. As pesquisas de campo também são importantes; planejar uma saída para que os alunos façam pesquisas com as pessoas da comunidade, para que observem e coletem dados da fauna e da flora local ou para que se envolvam em projetos de intervenção social e ambiental são essenciais. Por fim, com o objetivo de descontruir a imagem mitificada do cientista, engajar pesquisadores ao Clubes de Ciências e aproximar de fato a Ciência escolar à re- alizada nos grandes centros de pesquisa, cabe ao gestor do sistema de ensino, ao gestor da escola e ao mediador construir pontes, atraindo a atenção desses profissionais para que incluam o Clube de Ciências em projetos de extensão e iniciação científica. Feldman e Pirog (2011) apresentam um estudo de caso no qual mediadores e clubistas trabalharam com https://museus.ulisboa.pt/pt-pt/visita-virtual https://artsandculture.google.com/partner/gwacheon-national-science-museum https://artsandculture.google.com/partner/gwacheon-national-science-museum https://artsandculture.google.com/partner/gwacheon-national-science-museum https://artsandculture.google.com/partner/museo-delle-scienze-trento https://artsandculture.google.com/partner/museo-delle-scienze-trento https://vila360.com.br/tour/mzusp/ https://vila360.com.br/tour/mzusp/ 117 um químico analítico em uma grande universidade, cujo campo de pesquisa era o arsênio ambiental. Concluíram que, em menos de um ano, os mediadores construíram os conhecimentos e as habilidades para facilitar a participação legítima das crianças em pesquisas científicas autênticas e que estas adquiriram a proficiência metodológica e inte- lectual necessária para contribuir com dados e descobertas úteis para o programa de pesquisa do cientista. Esse seria um ideal de parceria entre universidade e pesquisador, mas nem sempre isso é possível, no entanto, convide pesquisadores e pesquisadoras de diferentes campos da Ciências para inspirar os clubistas e mostrar que as carrei- ras científicas são possíveis para todas as raças e gêneros. 5.2.3 Estratégias de comunicação A comunicação no Clube de Ciências ocorre em duas perspectivas: a primeira refere-se à comunicação das etapas de desenvolvimento do Clube, enquanto insti- tuição escolar; a segunda refere-se à divulgação científica, na qual os clubistas, de fato, socializam os conhecimentos científicos produzidos. A primeira etapa pode ocorrer em dois espaços: o escolar e o virtual. Na escola, é importante que toda a comunidade escolar possa ter acesso ao que tem sido produzido no Clube. Para isso, mantenha um mural atuali- zado e/ou uma página em uma rede social na qual possam estar explícitos uma síntese do estatuto, a composição da diretoria, o cronograma e as ações executadas. Menezes, Schroeder e Silva (2012) sugerem a imple- mentação de boletins informativos, como o explicitado na figura 10: 118 Figura 10 – Modelo de boletim informativo. Fonte: Menezes, Schroeder e Silva (2012). Os autores justificam a elaboração de boletins infor- mativos pois relacionam-se com: [...] a divulgação das ações de um Clube de Ciências para a comunidade escolar em 119 que o Clube está inserido. O planejamento, organização, construção e manutenção, em nosso entendimento, também contribuem para o desenvolvimento de atitudes cientí- ficas como a responsabilidade, a persistên- cia e o senso de investigação. Além disto, a organização e a cooperação, além de incentivar a leitura e a escrita (capacidadede síntese), uma vez que os estudantes deverão escrever diferentes textos (divul- gações científicas, divulgação e o relato de uma atividade do Clube, avaliação crítica, pontos de vista dos estudantes, análises de atividades, entre outros) (MENEZES; SCHROEDER; SILVA, 2012, p. 827). Esse tipo de divulgação também pode ser feito pelos clubistas responsáveis pela divulgação por meio de posts ou stories nas redes sociais. A segunda etapa refere-se de fato à participação dos clubistas em eventos científicos, tais como Congressos, Simpósios, Mostras e Feiras Científicas. Geralmente os Congressos e Simpósios apresentam um tema específico, e o objeto de estudo do Clube de Ciências deve estar enquadrado nesse tema. Isso requer atenção do mediador para verificar a coerência da linha de pesquisa, as datas e os critérios para a inscrição. Nesse tipo de evento, os clubistas poderão fazer um relato oral ou apresentar um pôster que evidencie o percurso e o resultado das pesquisas. Nesses eventos, é exigido que os clubistas apresentem as suas pesquisas para pessoas que entendem sobre a área de conhecimento e eles também são submetidos a uma avaliação. Diferente desses eventos, Mancuso e Moraes (2015) explicam que uma Feira ou Mostra Escolar é aberta ao pú- 120 blico em geral e, por isso, predomina a comunidade escolar e visitantes que desejam conhecer o processo educativo ou a divulgação dos avanços das Ciências, por meio das reali- zações dos clubistas. Mancuso e Moraes (2015) consideram a Feira um eficiente meio de popularização da Ciência e da tecnologia, por promover o diálogo com os apresentadores e ser uma ferramenta de inclusão social no processo de Alfabetização Científica. Já as Feiras de Ciências municipais, estaduais e nacionais selecionam uma grande variedade de trabalhos de diferentes escolas e Clubes; nelas, os clubistas poderão interagir com realidades distintas e vivenciar uma expe- riência de troca de informações, até mesmo a vivência de uma viagem a um lugar desconhecido. Tanto nas Feiras quanto nos Congressos e Sim- pósios, os clubistas deverão ter clareza do problema de pesquisa, das metodologias adotadas para obtenção e tratamento de dados e usar da oralidade para sistematizar essas informações e comunicá-las. Tanto os museus interativos quanto as Feiras ou Mostras, para Mancuso e Moraes (2015), apresentam a ideia de Ciência como processo, como modo de pensar e solucionar de problemas, rompendo a visão da Ciência como produto. Outra estratégia de comunicação importante, e talvez a mais complexa, é a que ocorre entre os Clubes de Ci- ências. Esse tipo de iniciativa pode criar uma rede de apoio entre gestores, clubistas e mediadores, pois ela consiste em conhecer outras práticas e objetos de estudo para inspirar e identificar semelhanças e diferenças na atuação que poderão enriquecer e agregar ao trabalho do Clube de Ciências. 121 As ações de comunicação são importantes porque legitima e registra o trabalho desenvolvido no Clube de Ciências, populariza a Ciência e oportuniza aos clubistas vivências típicas do universo científico, fazendo compreen- der os aspectos inerentes a essa cultura. 122 capítulo 6 Monitoramento, controle e avaliação do Clube de Ciências Objetivos do capítulo: • Perceber a importância do controle, monitora- mento e da avaliação dos Clubes de Ciências enquanto um projeto institucional da escola. • Compreender a dimensão formativa da avalia- ção dos clubistas. • Ampliar as possibilidades de avaliação formati- va, sugerindo o uso de indicadores e de rubricas. Conteúdo: • Controle, monitoramento e avaliação do projeto. • Avaliação formativa do clubista. • Instrumentos para a avaliação formativa. 123 O Clube de Ciências será avaliado sob duas pers- pectivas: a primeira diz respeito à avaliação do projeto institucional do Clube de Ciências, que dará aos gestores indicadores do seu desempenho de forma macro; nela, serão abordados aspectos como custos, recursos humanos e materiais, número de alunos atendidos, entre outros. A segunda perspectiva refere-se à formação do clubista enquanto sujeito da aprendizagem; nela, serão exploradas as estratégias de avaliação formativa e os instrumentos que poderão evidenciar o desenvolvimento da Alfabetização Científica e das habilidades específicas do tema trabalhado. As próximas seções dedicam-se a abordar esses dois vieses de modo mais detalhado. 6.1 A avaliação do projeto Clube de Ciências O projeto do Clube de Ciências nasce de um plano teórico, estruturado, que em sua concepção deve prever um plano de monitoramento, controle e avaliação para que os resultados possam ser quantificados. Os dados coletados e analisados fornecerão informações sobre as melhores estratégias para a gestão do projeto. Esse plano, de acordo com Vale (2014), possibilita acompanhar e regu- lar o desempenho do projeto, por meio da avaliação dos resultados obtidos durante sua execução, subsidiando o gestor a recomendar, coibir ou controlar mudanças para que os objetivos sejam alcançados. O Project Management Institute (PMI, 2013) explica que os projetos são temporários em natureza e que seu su- 124 cesso deve ser medido em termos da sua conclusão dentro do tempo, do custo, da qualidade e dos recursos previstos, conforme aprovado pelos gestores. Nesse contexto, o monitoramento, o controle e a avaliação devem considerar a complexidade da imple- mentação e gestão do Clube de Ciências e ter como objetos de análise o cumprimento do orçamento, as estratégias de implementação, a formação de mediadores, o nível de adesão dos alunos ao projeto, a permeabilidade do projeto na comunidade escolar, a melhoria de aprendizagem e a relação custo-benefício. Isso requer que o plano de ação forneça indicadores efetivos aos responsáveis pelo Clube de Ciências. Para iniciar esse processo. Moura e Barbosa (2013) sugerem perguntas que podem ser feitas para nor- tear essas ações de controle. As adaptamos ao contexto do Clube de Ciências, como seguem: • Análise do escopo: são questões que promo- vem a reflexão sobre a resolução da situa- ção-problema, do alcance dos objetivos e dos resultados esperados. ◊ O Clube de Ciências mantém o foco na situação geradora ou situação-problema que busca resolver? ◊ Existem evidências de que os objetivos específicos estão sendo cumpridos? ◊ O número de alunos previsto está sendo atendido ou houve alguma alteração? ◊ Foi possível identificar alguma ação exter- na que coloque em risco e exija mudanças e adequações no escopo do projeto? 125 • Acompanhamento do desempenho: são questões que visam verificar se as etapas de desenvolvimento do projeto, das tarefas e dos produtos são adequadas. ◊ Existem entradas no projeto, como recur- sos financeiros, materiais de pesquisa, materiais de consumo, entre outros, que estão limitados ou com problemas na execução? ◊ As propostas estão sendo implementadas de acordo com o esperado? ◊ Os clubistas estão progredindo nos indi- cadores de Alfabetização Científica? ◊ Houve a participação em eventos cien- tíficos? ◊ Os registros como o diário de bordo, os relatórios dos encontros, as atas de as- sembleias e os relatórios de experimentos estão sendo realizados com frequência adequadamente? ◊ Existem ações para captação de recursos e financiamento de pesquisas suficientes para a manutenção do Clube de Ciências? • Ocupação do tempo: são questões referentes ao cumprimento dos prazos, do cronograma e das datas estipuladas pelos próprios clubistas durante o projeto. ◊ As datas importantes, como a aula inau- gural, a formação da diretoria, a entrega 126 do estatuto e dos produtos estão sendo cumpridas? ◊ Houve alterações no cronograma apre- senvtado inicialmente para a escola ou rede de ensino? ◊ As ações de captação de recursos atende- ram as necessidades no prazo esperado? • Disponibilização de recursos: visam o monito- ramento e avaliação da utilização do orçamentoe da captação de recursos. ◊ Os recursos planejados e disponibilizados são suficientes? ◊ Será necessária uma complementação financeira? ◊ As ações para o financiamento das pes- quisas tiveram o êxito esperado? Essas reflexões alicerçadas em instrumentos de avaliação e monitoramento claros darão indicadores sobre a eficácia do projeto. Os instrumentos devem estar intimamente ligados ao escopo e ao plano de ação, expli- cado no capítulo 2. A figura 11 demonstra essas relações: Figura 11 – Interrelações entre elementos do escopo, plano de ação, instâncias do projeto e plano de monitoramento e avaliação – PMA. Fonte: Moura e Barbosa (2013). 128 Isso significa que o monitoramento e a avaliação se distinguem, pois atuam em duas dimensões do projeto. Enquanto a avaliação objetiva verificar o cumprimento dos objetivos gerais e específicos por meio da análise dos resultados finais e dos impactos destes, o monitoramento acompanha a ação, ou seja, as tarefas e atividades que estão em processo durante o desenvolvimento do projeto. Em ambos os casos, a elaboração de documentos que registrem e que deixem claros os indicadores são fundamentais. Em relação à avaliação, é importante que o foco dos critérios e os instrumentos de avaliação estabeleçam conexão com os objetivos gerais e específicos do projeto. O quadro a seguir exemplifica como aliar os critérios e os instrumentos avaliativos: Objetivo geral Objetivo específico Critérios de avaliação Instrumentos avaliativos Implantar um Clube de Ciên- cias na E.E Prof.ª “Celina das Graças”, a fim de alfabetizar cientificamente os estudantes do Ensino Médio e Fundamental. • Estabelecer um espaço físico e virtual com qualidade para a instalação do Clube de Ciências. • O espaço físico do projeto foi criado? • Existe um espaço virtual? • Os espaços apresentam infraestru- tura para oportunizar as pesquisas? Matriz de refe- rência com as características necessárias do espaço físico. Quadro com as redes sociais e espaços virtuais criados. 129 Objetivo geral Objetivo específico Critérios de avaliação Instrumentos avaliativos Implantar um Clube de Ciên- cias na E.E Prof.ª “Celina das Graças”, a fim de alfabetizar cientificamente os estudantes do Ensino Médio e Fundamental. • Analisar a demanda do projeto e atender no mínimo 15 e no máximo 20 clubistas do 6º ano do Ensino Fundamen- tal ao 3º ano do Ensino Médio. • O número de alunos interes- sados em participar do projeto corresponde a pelo me- nos 15% dos alunos ma- triculados na escola? Tabela com o número de alunos matriculados e interessados em participar do Clube. Implantar um Clube de Ciên- cias na E.E Prof.ª “Celina das Graças”, a fim de alfabetizar cientificamente os estudantes do Ensino Médio e Fundamental. • Manter a assiduidade dos clubis- tas durante todo o projeto. • Pelo menos 60% dos alunos que ingressaram no projeto foram assíduos e permane- ceram até o final das atividades? Lista de presença dos clubistas. Implantar um Clube de Ciên- cias na E.E Prof.ª “Celina das Graças”, a fim de alfabetizar cientificamente os estudantes do Ensino Médio e Fundamental. • Alfabetizar cientifica- mente os clubistas, promovendo atividades investigati- vas. • Pelo menos 60% dos alunos que ingressaram no projeto foram assíduos e permane- ceram até o final das atividades? Atividades avaliativas dos alunos (esses instrumentos serão apresenta- dos na próxima seção). Quadro 18 – Relação entre os objetivos, critérios e instrumentos avaliativos. Fonte: Elaborado pelos autores baseado no modelo de Moura e Barbosa (2013). É possível verificar que a avaliação visa aferir os resultados efetivos da implementação do projeto (MOU- RA; BARBOSA, 2013). Já o monitoramento oportuniza aos 130 gestores e ao mediador acompanhar o desenvolvimento do projeto e controlar as ações. O quadro a seguir de- monstra alguns exemplos de como esse monitoramento pode ser realizado: Insumos Caracte-rística Especifici- dade Critério de avaliação Instrumento avaliativo Insumos (entradas Infraes- trutura Espaço físico para os encontros Apresenta as características básicas para oportunizar encontros e pesquisas? Matriz de in- dicadores com as instalações necessárias ao funcionamento. Recursos tecnológicos É oportu- nizado aos clubistas o contato com tecnologias para que ele possa pesqui- sar ou criar novas soluções tecnológicas? Registro em planilhas das tecnologias disponíveis e utilizadas durante o projeto. Materiais para pesquisas Existem materiais de consumo ne- cessários para experimentos, observações e desenvol- vimento de pesquisas? Planilha de controle de suprimentos. 131 Insumos Caracte-rística Especifici- dade Critério de avaliação Instrumento avaliativo Insumos (entradas) Recursos humanos Mediador Apresenta o perfil desejado para desen- volver um processo ativo e autônomo de construção da Alfabetização Científica? Carta de inten- ção para adesão ao projeto. Avaliação de desempenho. Caso o mediador seja o proponente, é necessária uma autoavaliação. Insumos (entradas) Recursos humanos Clubistas Apresentam interesse e motivação nas atividades propostas? Em qual medida avançam nos indicadores de Alfabetização Científica? Ficha de inscri- ção, caderno de bordo, rubricas, projetos, ex- posições, entre outros. Insumos (entradas) Canais de comu- nicação Redes sociais O Clube divulga as suas ações e mantém um relacionamento próximo com a comunidade escolar? Dados de adesão e interação nas redes sociais. 132 Insumos Caracte-rística Especifici- dade Critério de avaliação Instrumento avaliativo Processo (ativida- des) Formação da diretoria A diretoria foi formada no prazo adequado? A diretoria é atuante e promove as assembleias periodicamen- te? Ata de assem- bleia Montagem do estatuto O estatuto regulamenta com clareza as atividades do Clube de Ciências? Ata de assem- bleia Seleção e desenvolvi- mento das atividades As atividades educacionais têm clareza e coerência nos objetivos? Atividades desenvolvidas. Processo (ativida- des) Avaliação da aprendi- zagem Foram criados instrumentos de avaliação da aprendizagem? Os instrumen- tos avaliativos da aprendiza- gem. 133 Insumos Caracte-rística Especifici- dade Critério de avaliação Instrumento avaliativo Saídas (produ- tos) Projetos de pesquisas As pesquisas realizadas contribuíram para o desen- volvimento da Alfabetização Científica? Pesquisas realizadas. Número de projetos científicos desenvolvidos. Eventos científicos Os clubistas participaram de eventos científicos? Número de inscrições e participações em eventos. Consolidação do Clube de Ciências Ao final do ano, o projeto cumpriu os objetivos pro- postos e pode ser reiniciado? Tabulação dos dados coletados. Quadro 19 – O monitoramento do plano de ação. Fonte: Elaborado pelos autores. Tanto para o monitoramento quanto para a ava- liação, os instrumentos de avaliação precisam ser cons- truídos, organizados e gerenciados. Os relatórios também são ferramentas importantes. O PMI (2013) diz que eles constituem um conjunto de informações sobre o desempe- nho e progresso do projeto e pode ser usado para facilitar discussões e ampliar as possibilidade de comunicações. Para otimizar esse processo, é importante que os relatórios estejam à disposição e sejam abrangentes e exatos. 134 O processo apresentado é importante, mas ele não contempla a profundidade necessária dos instrumentos e indicadores da Alfabetização Científica dos clubistas e de seus desenvolvimentos cognitivo e moral. Para isso, a próxima seção se dedica a explorar a avaliação formativa. 6.2 A dimensão formativa da avaliação 6.2.1 A avaliação formativa Hadji (2001)afirma que a ideia de avaliação forma- tiva corresponde a um modelo ideal de avaliação, que atua como reguladora das aprendizagens. Em nosso caso, ela possibilita que o clubista se torne capaz de identificar suas dificuldades, reflita sobre elas e faça uso de estratégias de estudos para progredir. Esse modelo de avaliação consi- dera o clubista como sujeito em formação, que pode errar, levando em conta não apenas os aspectos cognitivos, mas também os aspectos mais subjetivos da aprendizagem. Perrenoud et al. (2007) defendem que, para que esse tipo de avaliação aconteça, é necessária uma concep- ção ampla: • Da observação (relativa às aquisições, aos processos e estilos de aprendizagem, às con- dições, ao projeto, à relação com o saber, ao ambiente, etc.); • Da intervenção (na sala de aula ou fora dela, de forma imprevista ou planejada, sobre o funcio- namento cognitivo, bem como sobre a relação 135 com o saber, o sentido do trabalho, a relação, a integração, com a classe ou com a família); e • Da própria regulação (relativa às condições de trabalho, às atividades, aos processos de apren- dizagem ou mesmo ao desenvolvimento global do aprendiz) (PERRENOUD et al., 2007, p. 52). As ideias de Perrenoud et al. (2007) corroboram com as concepções do Clube de Ciências por permitirem que os clubistas trabalhem com o erro, que eles tenham liberdade intelectual para criar estratégias de estudos, métodos de pesquisa e exercitar a colaboração e a lide- rança. Para os autores, a avaliação formativa permite regular as aprendizagens para que elas possam realmente acontecer, de forma consciente. Nesse sentido, a avaliação formativa explicita instrumentos capazes de regular a ação pedagógica e estabelecer e socializar os critérios de observação qualitativos. O resultado da avaliação é o que norteará a intervenção do mediador e o planejamento de novos encaminhamentos. Para que esse tipo de avaliação ocorra, torna-se imperativo que o mediador faça uso de instrumentos avaliativos que tenham como foco a análise do processo de construção de habilidades e competências relacionadas ao tema de estudo e às necessárias à Alfabetização Cien- tífica. Apresentaremos alguns exemplos de instrumentos avaliativos que poderão ser utilizados em cada etapa de desenvolvimento como ferramenta de avaliação formativa no Clube de Ciências 136 6.2.2 Instrumentos para avaliar o ensino e a aprendizagem no Clube de Ciências Como forma de identificar os conhecimentos prévios sobre o tema de trabalho, Bender (2014) sugere a utilização do quadro “Sei, Quero e Preciso Saber” (SQP), por ser um instrumento que promove a liberdade intelectual, a autono- mia e que dá início ao exercício da metacognitivo que, de acordo Chiaro e Aquino (2017), é um processo no qual os indivíduos monitoram e controlam seu próprio funciona- mento cognitivo. O quadro 20 apresenta esse instrumento: S – O que eu sei Q – O que eu quero saber P – O que eu preciso saber Quadro 20 – Quadro SQP. Fonte: Bender (2014). Para preencher esse instrumento, os clubistas deverão fazer uma lista de tudo que sabem sobre o tema de trabalho, assim ficará evidente quais são os conheci- mentos construídos, quais são equivocados e o que eles trazem de mitos, preconceitos e erros conceituais. Serão estimulados a falar o que gostariam de saber sobre o tema e as dúvidas e curiosidades poderão se tornar objeto de pesquisa. Esse indicador demonstrará se os clubistas sabem fazer perguntas e identificar situações-problema (habilidades necessárias à Alfabetização Científica). Na coluna “o que eu preciso saber”, poderão identificar os conceitos e procedimentos essenciais ao tema. Esse instrumento pode ser constantemente revisitado pelos 137 clubistas para que identifiquem o que já foi aprendido e o que ainda deverá ser sanado. Ainda como ferramenta metacognitiva, sugerimos ao mediador e aos clubistas que registrem seu percurso formativo em diários de bordo. Córdoba (2012) sugere que o mediador use esse documento para compilar as experiências relevantes de toda a execução do Clube com a ajuda de memórias, fotos e vídeos, que servirão de evidência para a socialização dos resultados dentro e fora da instituição. Para o mediador, esse documento poderá ser também um espaço para o registro reflexivo, que o ajudará a entender como o percurso forma- tivo está evoluindo e atuar de forma intencional para regular os processos de ensino e aprendizagem. O diário de bordo, de acordo com Oliveira, Mocellin e Strohschoen (2017), é um instrumento de estudo construído durante o desenvolvimen- to das atividades de aprendizagem dos estudantes. Pode ser utilizado com o objetivo de acompanhar a proposta de alfa- betizar cientificamente. O conteúdo do diário de bordo é de cunho pessoal; nele, os clubistas podem registrar o plano de pesquisa, suas dúvidas, formular seus métodos e descrever o mundo sob sua ótica, suas indagações. 138 Figura 12 – Modelo de diário de bordo. Fonte: Diário de bordo criado pelo Clube de Ciências “ClubMarinos”. De acordo com Bender (2014), rubricas são guias de pontuação que são úteis na estruturação de tarefas por explicitar indicadores de desempenho dos clubis- tas. Bacich e Holanda (2020) explicam que elas são um conjunto de critérios claros que favorecem a análise de desempenho de uma tarefa ou atividade. De acordo com esses autores, elas podem ser construídas pelo mediador, mas seria melhor que ela fosse construída coletivamente com os clubistas, para deixar evidente a expectativa de uma determinada tarefa. Sugerimos que, inicialmente, o mediador faça as rubricas e apresente aos clubistas esse formato de avaliação, deixando que eles se apropriem e entendam a função desse tipo de instrumento avaliativo e depois iniciem a construção colaborativa. As rubricas podem ser holísticas ou analíticas. Bender (2014) explica que a rubrica holística geralmente é elaborada 139 para fornecer uma classificação geral, que, associada a crité- rios em conjunto, resulta em uma nota. Já a analítica permite identificar habilidades específicas dentro de uma mesma ati- vidade. Elas poderão ser usadas para avaliar uma diversida- de de atividades como exposições, apresentações, atividades em grupo, realização de experimentos e desenvolvimento de projetos. Poderão ser preenchidas pelo mediador, por outros clubistas e pelo próprio avaliado, ou ambos. Nas aulas regu- lares, geralmente há um valor atribuído para cada questão da rubrica, o que é necessário para o Clube de Ciências. O modelo apresentado no quadro 21 é uma adaptação de uma rubrica analítica sugerida por Bender (2014): Descrição da tarefa: os clubistas irão desenvolver uma apresentação para a Feira de Ciências com o tema de pesquisa que descreva seu projeto de pesquisa sobre as transformações físicas dos materiais. As apresentações deverão ter aproximadamente 5 minutos. Questão Indicadores Comentários avaliativos Questões conceituais sobre transformações físicas. • Demonstra conhecimento sobre a transformação física apresentada. Questões sobre o projeto de pesquisa. • Apresenta a situação – problema do projeto. • Explica com clareza a metodologia de pesquisa. • Apresenta os resultados. • Conclui embasado em evidências. Impacto da apresentação. • Mantém a postura no momento da apresentação. • Tem segurança ao descrever as ações. Quadro 21 – Exemplo de avaliação utilizando uma rubrica analítica. Fonte: Modelo proposto por Bender (2014, p. 135) e adaptado pelos autores. 140 É importante que esses indicadores sejam do conhecimento dos clubistas antes da avaliação, para que eles possam se preparar e desenvolver habilidades que serão evidenciadas. A última sugestão é autoavaliação, que pode ser incorporada como parte da rotina de atividades, construin- do um processo no qual os membros do Clube identificam suas realizações, dificuldades, seus níveis de participação e cumprimento de suas responsabilidadesno projeto. Essa ação pode ser realizada no início de cada encontro e ao final de uma atividade ou exposição. Hadji (2001) salienta que esse instrumento deve promover a tomada de consciência, oportunizando ao clubista uma comparação entre o estado inicial e o estado atual de aprendizagem, que seria o alcance ou não do objetivo explícito. A proposta de autoavaliação, realizada de maneira planejada e explícita ao clubista, pode promover uma autorregulação metacognitiva. Bender (2014) apresenta um modelo de autoavaliação utilizando a escala Likert, conforme indicado no quadro 22: Avalie seu desempenho nas questões abaixo, com 5 significando excelente, ou “não poderia ter feito melhor”, e 1 significando “precisa de melhoria consider- avelmente”. Clubista:_____________________________________ Data da autoavaliação: _____/___/_____ Nome da tarefa avaliada: Indicador Em que medida alcancei o objetivo Pesquisei este tópico completamente 1 2 3 4 5 Entreguei no prazo estipulado 1 2 3 4 5 Esta tarefa possui muitas fontes de pesquisa 1 2 3 4 5 141 Apresento um conjunto razoável de resumo de infor- mações 1 2 3 4 5 No geral avalio meu trabalho como 1 2 3 4 5 Quadro 22 – Uma autoavaliação de escala numérica Likert. Fonte: Adaptado de Bender (2014, p. 137). Essas são apenas algumas possibilidades de ava- liação no Clube de Ciências. No entanto, o mediador tem total autonomia para decidir quais são as estratégias que mais se adequam a sua realidade. Independentemente da avaliação, do tema e linha de pesquisa escolhidos, que terão de forma inerente indicadores específicos, é imprescindível considerar os indicadores de Enculturação Científica. No quarto capítulo, apresentamos os propostos por Sasseron e Carvalho (2008) e Penha, Carvalho e Vianna (2009). No entanto, há uma vasta literatura sobre indicadores de alfa- betização, enculturação ou Letramento Científico. Concluímos, assim, que, como em qualquer outra atividade do Clube de Ciências, a avaliação da aprendi- zagem é responsabilidade tanto do mediador quanto do clubista; ela visa contribuir para o desenvolvimento da metacognição, e são os resultados dessas avaliações que fundamentarão a organização das atividades. 142 Considerações finais Desde 2017, a Base Nacional Curricular Comum, documento norteador de toda a Educação Básica brasi- leira, defende como fundamental o desenvolvimento do Letramento Científico e do espírito investigativo dos estudantes. Aliados a esse objetivo, defendemos a neces- sidade dos Clubes de Ciências nas escolas, pois acredi- tamos que eles suplementam o que é desenvolvido nas aulas, trazendo novas perspectivas do empreendimento científico para o aluno. Assim, compreendemos o Clube de Ciências não apenas como um espaço para a reprodução acrítica de experimentos; entendemos que este é um espaço que o clubista pode se desenvolver enquanto ser humano, onde pode crescer, exercer seus direitos de falar, criar, questio- nar, pensar e se divertir, mas também é um espaço voltado para o desenvolvimento moral, buscando a autonomia, o cumprimento das responsabilidades, o bom convívio social e a atuação cidadã. As experiências vivenciadas no Clube de Ciências trarão benefícios também ao mediador, que poderá tra- balhar sem as amarras curriculares, sem a necessidade atribuir nota e classificar os clubistas; perceberá como as relações afetivas se dão com maior intensidade e como a aprendizagem ocorre mesmo quando as relações são lineares e as responsabilidades são compartilhadas. Essa experiência certamente causará impactos positivos nas 143 ações docentes, mesmo quando o mediador estiver nas salas de aulas regulares. O Clube de Ciências para os alunos de Graduação e Pós-Graduação poderá se estabelecer como um objeto de estudo, para que eles possam entender como as relações de aprendizagem ocorrem, que concepções e estratégias de ensino são mais adequadas a esse espaço e quais são os im- pactos na Alfabetização Científica e na formação docente. Os gestores de redes de ensino e de escolas, ao implementarem um Clube de Ciências, estarão inovando e promovendo a melhoria do ensino e da aprendizagem na sua comunidade escolar, pois espera-se que o Clube de Ciências promova ações que envolvam toda a comunidade escolar. Certamente, as escolas com esse tipo de projeto te- rão alunos mais engajados e autônomos, o que qualificará as relações entre ensino e aprendizagem. Quem sabe o su- cesso do Clube de Ciências possa motivar a implementação de outros Clubes escolares, como de pintura, de fotografia, de leitura, entre outros. Nossa motivação ao escrever este livro é saber que muitos Clubes de Ciências são desenvolvidos no interior das salas de aula, ou no contraturno, fruto de ações isola- das de professores que objetivam promover uma vivência significativa para os alunos. No entanto, muitos Clubes de Ciências assim criados não são percebidos, avaliados e divulgados, e quando o professor não pode dar continui- dade, o projeto se encerra. Planejar e gerenciar o Clube de Ciências fazendo uso de metodologias de projeto fará com que ele seja visto, avaliado e registrado e, quem sabe, essas ações, que embora para muitos pareçam burocráticas, 144 façam com que o Clube de Ciências seja visto aos olhos dos gestores, podendo se consolidar como projeto da escola, um programa ou uma política pública, que tenha continui- dade mesmo na ausência de seu idealizador. Cabe a nós, autores, explorar um pouco dos concei- tos e sugerir práticas possíveis. A partir delas, desejamos que você compartilhe conosco o intenso desejo de imple- mentar Clubes de Ciências que se tornem projetos institu- cionais, e que juntos possamos criar uma rede de troca de experiências, formação de mediadores e intercâmbio entre os clubistas. Estamos longe de esgotar as possibilidades de estudos, mas de forma singela pretendemos compartilhar nossa experiência com você e esperamos que este livro seja de fato uma ferramenta útil para que os Clubes de Ciências se tornem uma realidade transformadora em muitas uni- dades escolares. 145 Referências ABRANTES, Antonio Carlos Souza de; AZEVEDO, Nara. O Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura e a institucionalização da Ciência no Brasil, 1946- 1966. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 5, n. 2, p. 469-492, 2010. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s1981-81222010000200016. Acesso em: 25 jun. 2020. AIKENHEAD, Glen S. Science education: Border crossing into the subculture of science. Studies in Science Education, v. 27, 1996. Disponível em: https://doi. org/10.1080/03057269608560077. Acesso em: 12 set. 2019. ALMEIDA, E. S. A.; FACHÍN-TERÁN, A. A alfabetização científica na educa- ção infantil: Possibilidades de integração. 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Prá e Tomio (2014) dizem que ela tem um papel significativo na cultura dos sujeitos, pois contribuem para que as pessoas consigam elaborar e expressar seus pensamentos e explicações, e isso permite que elas façam uso dos signos e instrumentos ne- cessários à participação de uma sociedade tecnocientífica. Nagayoshi (2014) explica que, durante a vida so- cial, as pessoas convivem com diferentes meios culturais, os quais denomina como “subculturas”, como a escolar, a familiar e a religiosa, e que a todo o tempo transitam entre elas. Assim, mais que conhecer métodos e práticas relativas à Ciência, Aikenhead (1996) propõe que olhemos para o Ensino de Ciências em termos de cruzamento de fronteiras (border crossing) entre subculturas. 153 Quando essa transposição ocorre de maneira har- moniosa e o aluno cruza a fronteira científica, identifica e passeia pelas diferentes culturas, pode-se dizer que ele desenvolveu a “Enculturação Científica”, termo este que, de acordo com Sasseron e Carvalho (2011), parte do pres- suposto de que o Ensino de Ciências pode e deve promover condições para que os alunos, além das culturas religiosa, social e histórica que conhecem e vivenciam, possam tam- bém fazer parte de uma cultura em que as noções, ideias e conceitos científicos são parte de seu corpus. Desse modo, seriam capazes de participar das discussões dessa cultura, obtendo informações e fazendo-se comunicar. As Ciências como linguagens proporcionam a organização e produção de significados na história, e a interface objetiva dessas linguagens nos dão uma condição de interpretação da existência humana. O Ensino de Ciências, pela própria estrutura e pelo funcionamento da escola regular atual, é limitado pelo tempo destinado às aulas, pelo espaço físico e pelo currículo que fragmenta as competências científicas. As práticas in- vestigativas são pouco exploradas, assim como muitas ques- tões e curiosidades típicas dos alunos podem permanecer perdidas na ânsia e/ou imposição dirigente de cumprir um planejamento ajustado aos parâmetros curriculares públi- cos. Uma maneira de contribuir para mudar esse cenário é apontada por Pires et al. (2007), que propõem a implantação de Clubes de Ciências nas escolas por propiciarem condi- ções adequadas para o estudante aprender, discutir, debater e refletir sobre aspectos éticos e morais na utilização das informações, desenvolvendo, assim, senso e atitudes críticas com relação à Ciência. 154 1. Justificativa São José dos Campos, segundo Medeiros (1990), é um polo tecnológico de projeção internacional e exibe produtos com tecnologia de ponta, como aviões, foguetes e satélites, os quais são fruto de pesquisas científicas iniciadas nos anos 50. Seguindo essa tendência, as escolas da Rede de Ensino Municipal (REM) de São José dos Campos contam com lousa interativa em todas as salas de aula, computado- res conectados à internet e laboratórios de Ciências. No entanto, nessa cidade também encontramos outra realidade, pois na Rede Estadual as escolas ainda ca- recem de infraestrutura e recursos tecnológicos. No entanto, em ambas as redes, mesmo com a diferença estrutural, os alunos da cidade ainda veem a prática científica como ina- cessível, sempre relacionada a um laboratório e ao uso de jalecos; os cientistas são endeusados e ser um deles parece algo distante e irreal. A implementação de Clubes de Ciências possibi- litará a continuidade e comunicação entre o processo de aprendizagem nas duas redes, integrará as vivências do Ensino Fundamental ao Ensino Médio e pretenderá des- mistificar o que é Ciência e seus processos, aproximando, como diz Munford e Lima (2007 apud BASSOLI, 2014), a “Ciência dos cientistas” e a “Ciência escolar”, de modo a trazer para a escola aspectos inerentes à prática dos cien- tistas, demarcando as diferenças entre essas duas Ciências. A Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017) diz que a área de Ciências da Natureza tem um compromis- so com o desenvolvimento do Letramento Científico, pois 155 tem como finalidade não somente apreender os conceitos e processos da Ciência, mas, também, a mobilização desses conhecimentos para a atuação cidadã e para transformação do mundo e de si mesmo. Nesse contexto, pode-se afirmar que um Clube de Ciências será uma possibilidade transformadora na forma de ensinar e aprender Ciências, contribuirá para a desmiti- ficação da imagem da Ciência e do cientista e oportunizará práticas sociais, atendendo ao pressuposto curricular. 2. Objetivos 2.1 Objetivo geral Implementar um Clube de Ciências na EMEF Prof.ª Celina das Graças, em parceria com um Escola Estadual Pedro Paulo, a fim de alfabetizar cientificamente os estu- dantes do Ensino Médio e Fundamental. 2.2 Objetivos específicos de aprendizagem • Criar um espaço para grupos de interesse dentro da escola, onde os alunos possam trocar ideias sobre assuntos científicos, pesquisar, ampliar as possibilidades de aprendizagem e ressignificar o conceito de Ciências. • Interpretar e resolver situações-problema propostas pelas diversas áreas do conheci- mento, por meio de estratégias pessoais ou da metodologia científica, utilizando-se de racio- cínio lógico, conhecimentos prévios, coleta de dados, análise e validação.156 • Criar e fazer uso de tecnologias em seus projetos. • Aguçar a curiosidade do aluno para os fatos científicos do cotidiano, fazendo-o perceber a presença da Ciência em sua vida. • Propiciar o acesso a fontes científicas simplifi- cadas e tornar acessível e estimulante o conhe- cimento científico. • Incentivar a prática investigativa, visão inter- disciplinar e a responsabilidade social e ética para a elaboração dos projetos. • Analisar produções científicas, adequadas ao seu nível de escolaridade, com senso crítico, identificando as influências políticas, sociais e econômicas. • Criar um meio de divulgação científica dos conhecimentos construídos. 3. Fundamentação teórica Tradicionalmente, a Ciência tem sido ensinada como produto, focada nos conceitos canônicos, nas práticas demonstrativas, nos experimentos com procedi- mentos limitados e resultados previsíveis. Cobern (1996 apud TAUCEDA; NUNES; PINO, 2013) destaca que essa prática leva os envolvidos a um “apartheid cognitivo”, no qual o aluno não se apropria realmente do conhecimento científico e coloca-o isolado na sua estrutura cognitiva, mobilizando-o nas avaliações, por exemplo, sem chegar a utilizá-lo em seu dia a dia. 157 Esse tipo de instrução demonstra que as concepções de ensino de muitos professores não se alicerçam em estu- dos e, muitas vezes, o fazer pedagógico baseia-se na mera reprodução de modelos que foram vivenciados por eles. Isso afasta os alunos da Ciência, limita sua curiosidade e os faz perder o encanto pela descoberta. Ausubel (1973) contribui com essa discussão ao explicar que a aprendizagem significativa é um processo no qual a nova informação ancora-se em conceitos relevantes (subsunçores) pré-existentes, de forma significativa, com o novo conhecimento que lhe é apresentado, provocando mu- danças em sua estrutura cognitiva. Furman (2009) diz que estabelecer as bases do pensamento científico é em suma utilizar esse desejo natural de conhecer o mundo que todos os alunos trazem para a escola como plataforma sobre a qual pos- sam construir ferramentas de pensamento que lhes permitam compreender como as coisas funcionam, e pensar por eles mesmos. E, também, de que o prazer que se obtém ao compreender melhor o mundo alimente a chama de sua curiosidade e a mantenha viva (FURMAN, 2009, p. 7). Fundamentada por todos esses pensadores, os Clubes de Ciências despontam como locais de aplicação didática dessas teorias, e Mancuso, Lima e Bandeira (1996) dizem que esse é um espaço onde os jovens se reúnem, no contraturno, em torno de temas, atividades ou problemas específicos. Nele, o interesse pela Ciência é valorizado e seus processos vivenciados continuamente. As ações são mediadas por professores que se interessam pelo desenvol- 158 vimento científico e que atuarão promovendo o confronto de ideias, a interação entre os membros e a efetivação de uma Educação Científica muito mais significativa. Baseados em Furman (2009), esse projeto defende o Ensino por Investigação por se basear na integração das di- mensões do produto, do processo e na implementação do método investigativo, ou seja, ele não leva em consideração apenas aquilo que se conhece, mas, fundamentalmente, o percurso de como chegamos a conhecer algo. 4. Metodologia 4.1 Coleta, análise e interpretação dos dados A avaliação do projeto utilizará como instrumentos: • o diário de bordo preenchido pelos próprios membros; • o caderno de registro da mediadora constando as observações diretas dos participantes e os discursos transcritos; • a análise dos produtos finais (projetos de pes- quisa elaborados pelos alunos). Esses instrumentos serão avaliados utilizando os indicadores de Enculturação Científica propostos por Sas- seron e Carvalho (2008) e Penha, Carvalho e Vianna (2009) (expostos no quadro 16). 159 4.2 Estruturação do Clube 4.2.1 Organização das horas-aula e número de alunos O grupo será conduzido por um(a) professor(a) mediador(a), monitorados por três bolsistas de pré-inicia- ção científica e por 20 alunos dos Anos Finais da EMEF Prof.ª Celina das Graças. A adesão dos alunos ao projeto será por interesse e poderá contar com alunos de diferentes faixas etárias (6º ao 9º ano). O limite de alunos inscritos no Clube não deverá exceder a 20 (caso o número de alunos seja maior que o número de vagas, será realizada uma seleção, tendo como instrumento a análise da carta de interesse). O grupo se reunirá uma vez por semana, às quintas-feiras, das 18h às 20h, com início em agosto de 2018. 4.2.2 Implementação do Clube 1ª etapa: Autorização para a implementação – apresentação do projeto para a equipe gestora da escola e pedido de autorização para a implementação do Clube. 2ª etapa: Seleção dos alunos bolsistas do Ensino Médio que serão os monitores do projeto – a Escola Esta- dual Pedro Paulo apresenta em sua matriz curricular uma disciplina eletiva de iniciação científica. Os alunos inscritos serão selecionados, a partir de uma carta de interesse, pe- los professores da disciplina para participar como alunos bolsistas de pré-iniciação científica. 160 Os escolhidos visitarão a universidade para que in- terajam com pesquisadores, compreendam as habilidades esperadas em projetos científicos e tenham referências para desenvolver os projetos no Clube de Ciências e dar suporte e monitoria para os alunos do Ensino Fundamental. 3ª etapa: Divulgação do Clube de Ciências na EMEF Prof.ª Celina das Graças e coleta da autorização dos responsáveis – o primeiro passo consistirá na divulgação do Clube nas salas dos Anos Finais, com explicação sobre os objetivos, informações sobre o dia e horário de funcio- namento e coleta dos nomes dos alunos interessados. Para que a inscrição seja consolidada, os alunos deverão escre- ver uma carta de interesse, demonstrando o porquê de eles serem importantes para o projeto (esta será utilizada para seleção caso o número de inscritos seja superior ao número de vagas). Com a lista de membros fechada, será encaminhado um bilhete para que os pais participem de uma reunião de esclarecimento sobre objetivos e funcionamento do projeto. Nessa reunião, os pais deverão, caso estejam acordo, assinar as autorizações de participação e uso de som e imagem. 4ª etapa: Início das atividades na escola • Primeiro encontro dos membros para a dis- cussão das normas e estatuto que regem um Clube e início de sua montagem, discussão sobre a função de cada membro (previamente orientadas das funções a serem desempenha- 161 das) e coleta dos candidatos a cada cargo para a formação da diretoria. • Início da discussão e orientação sobre os temas a serem desenvolvidos; definição se a pesquisa vai ser individual ou coletiva. Orientação para que os alunos possam dar um nome ao Clube. • Encaminhamento das pesquisas e do desenvol- vimento. • Divulgação do processo e resultados dos proje- tos obtidos (meio de divulgação a ser combina- do e escolhido pelos membros). 4.2.3 Metodologia dos encontros Os encontros serão mediados por um(a) professor(a) de Ciências, que atuará de forma a orientar e questionar para promover a construção do conhecimento. O uso das etapas da metodologia científica será estimulado. No en- tanto, o(a) mediador(a) dará autonomia para que os alunos desenvolvam estratégias próprias para a resolução das situações-problema. A gestão dos encontros será democrática, e as deci- sões serão coletivas e baseadas em discussões e argumentos. Para ampliar uma pesquisa, o(a) professor(a)-pes- quisador(a) deverá buscar parcerias com colaboradores, como os pesquisadores da universidade, e planejar en- contros investigativos. No entanto, os alunos deverão se corresponsabilizar por todas as decisões, visto que, em um Clube, os alunos serão membros, e sua participação deverá ser ativa. 162 4.2.4 Recursos humanos Para uma mediação voltada ao desenvolvimento do espírito científico, o(a) professor(a), assim como os eventuais colaboradores,deverá atender ao perfil esperado para as peculiaridades desse tipo de projeto, que são: • Entender os meios de construção do conheci- mento e as funções cognitivas para atuar cons- ciente e intencionalmente sobre elas. • Ser mediador do conhecimento e reconhecer que os membros do Clube são sujeitos ativos do seu aprendizado. • Desenvolver os projetos de pesquisa a partir do interesse dos alunos, estimulando-os a identifi- car, interpretar e resolver situações-problema propostas pelas diversas áreas do conhecimento por meio de estratégias pessoais ou da metodo- logia científica. • Conhecer e fazer uso de diferentes recursos tecnológicos. Outro aspecto relevante é que o(a) profes- sor(a)-pesquisador(a) deve estabelecer parcerias com universidades da região, ou cientistas locais, para que estes possam apadrinhar e contribuir com o Clube, sendo referência para os membros envolvidos. 4.2.5 Recursos materiais O Clube terá sua sede na EMEF Prof.ª Celina das Graças, especificamente no Laboratório de Ciências, mas 163 a sala de informática poderá ser usada mediante agenda- mento e a horta poderá ser reativada como parte do objeto de estudo. No entanto, o conhecimento científico pode ser desenvolvido em diferentes locais, não se restringindo ao laboratório ou a uma sala; a Ciência está em todos os lugares, assim como sua construção. Como os projetos serão definidos juntamente com os alunos, os materiais necessários ainda não são previstos, assim, a viabilidade financeira do projeto também deverá ser pensada e, se necessário, sanada por ações dos próprios membros do Clube, visto que a obtenção de financiamento é parte da prática científica. No entanto, o(a) professor(a)- -pesquisador(a) e o orientador do projeto tentarão buscar outras fontes de financiamento para custear e ampliar as oportunidades de pesquisas. 5. Cronograma Total de encontros no ano: 30 164 Agosto/setembro – 2018 / Estruturação administrativa do Clube 23 30 06 13 Primeiro encon- tro: Levantamento das expectativas dos membros. Explicação do que é um Clube e seu estatuto. Mostrar exem- plos de estatuto e iniciar sua construção. Levantamento dos candidatos à diretoria do Clube. Apresentação do caderno de registro (registro realizado pelo(a) mediador(a)). Segundo encontro: Ouvir a proposta dos candidatos à diretoria. Eleição e formação da diretoria do Clube. Dar um nome ao Clube com base em pesquisas na sala de informática. Sugestões e eleição do nome do Clube. Pedir para que os alunos pensem em um nome para o Clube e argu- mentem sobre a inspiração que o nome traz. A partir desse mo- mento, a secretária será responsável pelo registro em ata. Terceiro encon- tro: Apresentação das propostas de nomes e escolha por argumenta- ção do melhor nome. Levantamento de situações- -problema que originarão os projetos de pesquisa. Levantamento dos objetivos relacionados a cada situação problema. Os membros de- verão pensar nas propostas para a escolha do pro- jeto no próximo encontro. Quarto encontro: Definição se o projeto será indi- vidual ou coletivo. Organização coletiva das próximas ações do projeto e estrutura- ção de um roteiro de trabalho. Setembro/outubro – 2018/ Desenvolvimento dos projetos escolhidos e avalia- ção constante Dezembro – 2018 06 Apresentação dos resultados obtidos até o momento. A forma de apresenta- ção ainda será decidida coletivamente. Fevereiro – 2019 Se houver vagas, novos membros poderão fazer parte do Clube. Reavaliação do estatuto e reestruturação. Análise da atuação dos membros da diretoria e, se necessário, novas elei- ções. Escolha de novos projetos de pesquisa. Quadro 1– Cronograma de atividades nos encontros. Fonte: Elaborado pelos autores 165 7. Contribuições para a melhoria do ensino Com todos os objetivos propostos aqui, este projeto tem o intuito de ir além da aprendizagem da sala de aula; existe o compromisso de formar os jovens alfabetizados cientificamente, que atuem como cidadãos com senso crí- tico e que possam ter a capacidade de resolver problemas do seu cotidiano. Pretende-se oferecer subsídios para fortalecer práti- cas que promovam a Alfabetização Científica dos clubistas imediatamente envolvidos, bem como dos demais atores comunitários. Espera-se apoiar e repertoriar professores e redes de ensino que tenham interesse em implementar Clubes de Ciências em suas escolas, no que diz respeito a aspectos operacionais de implantação e ao desenvolvimen- to e sustentação do trabalho na perspectiva da investigação. Por fim, espera-se o reconhecimento da importância da abordagem investigativa como promotora da Alfabeti- zação Científica, bem como contribuir para a construção de uma imagem desmitificada de Ciência, por parte dos alunos, que expresse uma relação mais fidedigna entre produtos e processos da Ciência. Referências AIKENHEAD, Glen S. Science education: Border crossing into the sub- culture of science. Studies in Science Education, v. 27, 1996. Disponível em: https://doi.org/10.1080/03057269608560077. Acesso em: 12 set. 2019. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação, s.d. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/ BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 26 maio 2018. https://doi.org/10.1080/03057269608560077 166 DE PRÁ, Grazieli; TOMIO, Daniela. Clube de Ciências: condições de produção da pesquisa em educação científica no Brasil. Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v. 7, n. 1, p. 179-207, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/alexandria/article/ view/38208/0. Acesso em: 13 nov. 2020. FURMAN, Melina. O ensino de Ciências no Ensino Fundamental: colocando as pedras fundacionais do pensamento científico. [S. l.]: Sangari Brasil, 2009. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov. br/download/texto/is000002.pdf. Acesso em: 3 nov. 2020. MANCUSO, Ronaldo; LIMA, Valderez Marina do R.; BANDEIRA, Vera Alfama. Clubes de Ciências: Criação, funcionamento, dinamização. Porto Alegre: SE/CEIRS, 1996. NAGAYOSHI, Caio Seiji. A concepção de natureza no ensino de Ciên- cias: um estudo da visão de mundo de estudantes de licenciatura em Ciências biológicas. 2014. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível em: https:// www.teses.usp.br/teses/disponiveis/81/81133/tde-27042015-152439/ publico/Caio_Seiji_Nagayoshi.pdf. Acesso em: 27 abr. 2020. SASSERON, Lúcia Helena; CARVALHO, Anna Maria Pessoa De. Alfabetização Científica: uma revisão bibliográfica. Investigações em Ensino de Ciências, Porto Alegre, v. 16, p. 59-77, 2011. Disponível em: https://www.if.ufrgs.br/cref/ojs/index.php/ienci/article/view/246. Acesso em: 15 abr. 2020. TAUCEDA, Karen Cavalcanti; NUNES, Vladimir Magdaleno; PINO, José Cláudio Del. O desenvolvimento de possíveis indicadores de invariantes operatórios por estudantes do ensino médio na disciplina de Biologia. Experiências em Ensino de Ciências, v. 8, n. 1, p. 98-110, 2013. Disponível em: https://if.ufmt.br/eenci/artigos/Artigo_ID193/ v8_n1_a2013.pdf. Acesso em: 16 set. 2020. https://periodicos.ufsc.br/index.php/alexandria/article/view/38208/0 https://periodicos.ufsc.br/index.php/alexandria/article/view/38208/0 167 Índice remissivo A Alfabetização Científica 7, 8, 9, 11, 22, 28, 29, 30, 33, 34, 43, 52, 58, 74, 75, 77, 78, 79, 80, 81, 83, 88, 90, 92, 104, 121, 124, 126, 132, 134, 135, 136, 137, 144, 152, 168, 169 Atividades científicas 103, 111 atividades habituais 103, 104, 107 avaliação 9, 52, 81, 109, 112, 116, 120, 123, 124, 125, 127, 128, 129, 131, 133, 134, 135, 136, 139, 140, 141, 142, 148, 151, 161, 167 Avaliação Formativa 11 C controle 38, 52, 61, 71, 123, 124, 125, 131 D Desenvolvimento Cognitivo 11 desenvolvimento moral 74, 75, 76, 89, 91, 95, 96, 143 diagnóstico 8, 35, 39, 40, 41, 42, 46, 50 dimensões interativas 75, 76, 96, 99, 100, 111, 112, 113 divulgação 18, 19,20, 32, 53, 54, 55, 56, 57, 64, 68, 72, 74, 107, 116, 118, 119, 120, 121, 159, 163, 164 E Encontro Inaugural 11 Ensino por Investigação 8, 11, 28, 74, 75, 76, 78, 84, 87, 89, 111, 113, 114, 148, 161 escopo do projeto 40, 41, 52, 125 Estratégias de comunicação 118 Estruturação administrativa 167 Etapa de inicialização 39 experimento 94, 112, 113 I implementação 7, 8, 9, 15, 22, 30, 31, 34, 35, 36, 37, 39, 40, 41, 43, 44, 45, 50, 51, 52, 60, 115, 118, 125, 131, 144, 152, 155, 157, 161, 162 168 L linha de pesquisa 8, 34, 48, 53, 54, 70, 72, 73, 104, 120, 141 M modalidades organizativas 34, 103, 104, 111 Monitoramento 123 P Percurso histórico 16 Plano de projeto 35 projeto 8, 9, 33, 34, 35, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 45, 49, 50, 51, 52, 54, 57, 58, 60, 63, 65, 81, 84, 88, 105, 106, 107, 108, 110, 111, 113, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 134, 135, 140, 144, 155, 161, 162, 163, 165, 166, 167, 168, 173 R reunião 8, 40, 53, 62, 63, 64, 68, 163 S Sequência de atividades 108 Situações independentes 110 T teoria histórico-cultural 8, 96, 97, 147, 150 V Vivências Científicas 11 169 sobre os autores Thais Campos de Oliveira Freitas Possui Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade do Vale do Paraíba (2008), Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão Pública Municipal pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (2011), Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Projetos Educacionais de Ciências da Escola de Engenharia de Lorena-USP. É professora da Educação Básica na Rede de Ensino Municipal de São José dos Campos há 11 anos. Atua como Orientadora de Ensino do Museu Interativo de Ciências na mesma cidade. Pesquisa e desenvolve projetos no Ensino de Ciências em espaço formal e não formal de educação, como Clubes e Museus de Ciências. Carlos Alberto Moreira dos Santos É docente da USP de Lorena. Possui Graduação em Engenharia Quí- mica, Mestrado em Física e Doutorado em Engenharia de Materiais. Realizou Pós-Doutorado entre 2005 e 2007 nos EUA. É bolsista de pro- dutividade do CNPq desde 2008. É livre-docente desde 2010. Em 2010 e 2015, recebeu os prêmios Capes e USP de Teses por ter orientado na área de Materiais. Devido a sua formação multi e interdisciplinar, dedica-se à motivação de estudantes da Educação Básica para continuidade de estudos no Ensino Superior. Em função disso, acabou idealizando e colaborando com a criação do Programa de Pós-Graduação em Projetos Educacionais de Ciências, do qual é docente permanente. Coordena projeto ligado ao Programa USP Municípios voltado para a gestão educacional descentralizada. _Hlk36145114 _Hlk38102811 _Hlk36908775 _Hlk55475581 _Hlk46730784 _Hlk49889019 Afinal, o que é um Clube de Ciências? 2.2 O plano do projeto de implementação 2.1 Quem pode implementar um Clube de Ciências? 1.4 O que possível fazer em um Clube? capítulo 2 Plano de projeto: o nascimento do Clube de Ciências 1.3 Por que implementar Clubes de Ciências nas escolas? 1.2 O que é um Clube de Ciências? 1.1 Percurso histórico dos Clubes de Ciências capítulo 1 2.3 Etapa de inicialização 2.3.1 O diagnóstico da realidade escolar 2.3.2 O escopo do projeto 3.1 Etapas da estruturação administrativa 2.4 O planejamento da implementação capítulo 3 O Clube de Ciências na prática: adesão e participação dos clubistas 3.1.1 A divulgação do Clube de Ciências na escola 3.1.2 Instrumentos necessários para a organização do Clube 3.1.3 Reunião com os responsáveis 3.1.4 Encontro inaugural 3.1.5 Definição da estrutura administrativa 3.2 Eleição da linha de pesquisa 3.2.1 Elaboração do nome do Clube e logo capítulo 4 Pressupostos teóricos para a aprendizagem nos Clubes de Ciências 4.1 Os pressupostos teóricos 4.2 A Alfabetização Científica e o Ensino por Investigação 4.3 O desenvolvimento moral e cognitivo 4.4 Contribuições da teoria histórico-cultural e as dimensões interativas capítulo 5 O desenvolvimento das atividades 5.1 Modalidades organizativas 5.1.1 Projetos 5.1.2 As atividades habituais 5.1.3 Sequência de atividades 5.1.4 Situações independentes 5.2 Atividades científicas, o Ensino por Investigação e as dimensões interativas 5.2.1 Experimentos 5.2.2 As vivências científicas 5.2.3 Estratégias de comunicação capítulo 6 Monitoramento, controle e avaliação do Clube de Ciências 6.1 A avaliação do projeto Clube de Ciências 6.2 A dimensão formativa da avaliação 6.2.1 A avaliação formativa 6.2.2 Instrumentos para avaliar o ensino e a aprendizagem no Clube de Ciências Considerações finais Referências Apêndice sobre os autores Índice remissivo