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Marcela Barbosa Hércules DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA GOLD 2020 DPOC é uma doença comum, prevenivel e tratável, caracterizada por sintomas respiratórios persistentes e limitação ao fluxo aéreo, devido as alterações nas vias aéreas e nos alvéolos causadas por exposição significativa a partículas e a gases nocivos. A síndrome classicamente é descrita como representada por dois polos raramente observados isoladamente em um mesmo indivíduo. • Enfisema pulmonar: aumento permanente e anormal dos espaços aéreos distais aos bronquíolos terminais, acompanhado de destruição de suas paredes, sem fibrose obvia; ainda que o termo seja muito utilizado no dia a dia, é considerado diagnostico histopatológico. • Bronquite crônica: tosse produtiva por mais de três meses, durante dois anos consecutivos. A tosse é ocasionada por hipersecreção de muco, não necessariamente com obstrução ao fluxo aéreo. 3° causa mundial de morte – estimativa de 2020. Na realidade, o termo DPOC denota a presença de limitação ao fluxo aéreo, com manifestações clinicas de enfisema e/ou bronquite crônica. Classicamente, definia-se fenótipo enfisematoso – chamado “soprador rosado” – e fenótipo bronquitico crônico – chamado “azul pletórico”. A classificação nestes dois polos tem caído em desuso, e hoje tem-se valorizado outros fenótipos que ajudam principalmente na determinação da terapia. Os principais são: overlap asma DPOC – conhecido como ACO -, exacerbador e hiperinsuflador. Porém, diversos outros fenótipos tem sido descritos. PREVALÊNCIA DA DPOC NA AMÉRICA 50 milhões no mundo, no Brasil estima-se 7 milhões 275 mil internações ao ano Prevalência da doença no Brasil de 15,8% - diagnosticados 12% e tratados 25% 5° maior causa de internação no SUS nos últimos 10 anos entre os pacientes com mais de 40 anos (PCDT 2012) 5° causa de morte no Brasil Condição que apresentou o maior aumento percentual de mortalidade no Brasil nos últimos 20 anos. FATORES DE RISCO Tabagismo é o principal fator risco, devido atrais células inflamatórias, estimular a liberação de elastase e inativar a alfa-1-antitripsina. INALAÇÃO DE PARTÍCULAS AMBIENTAIS Dióxido de enxofre, químicos ocupacionais, como o cádmio e partículas associadas ao cozimento em locais fechados. Um estudo demonstrou que a exposição ambiental é responsável por cerca de 19% dos casos de DPOC e 31% dos casos em não fumantes. A exposição à fumaça de fogão de lenha também apresenta relação definida com a DPOC. GENÉTICOS O único fator genético descrito e bem documentado é a deficiência de alfa-1-antitripsina. Os pacientes podem apresentar enfisema precoce. Quando deficiência de alfa- 1antitripsina e tabagismo estão envolvidos, a doença pode se apresentar de forma ainda mais precoce. DPOC POR DEFICIÊNCIA DE ALFA-1- ANTITRIPSINA A alfa-1-AT, uma proteína com atividade antielastase neutrofilica, é produzida pelo fígado – em quantidade muito menor por neutrófilos e monócitos. Concentração sérica maior do que 35% é considerada protetora. Há 75 alelos conhecidos da alta-1-AT, herdados de maneira autossômica dominante. A classificação é em normal (MM), deficiência (ZZ), nulo (null) e disfuncional; Mutação do gene SERPINA1 A forma mais comum associada à deficiencia de alfa-1-AT é o alelo ZZ ou PiZZ fenótipo, que resulta de uma única mutação no aminoácido 342 e se transforma em uma polimerização espontânea do polipeptideos, impedindo a sua liberação na circulação. Essa forma esta associada a cirrose e enfisema pulmonar. Outras possibilidades são o fenótipo null-null, com níveis indetectáveis de alfa-1-AT, e o fenótipo null-heterozigoto, que resulta em quantidades intermediarias de alfa-1-AT. QUANDO SUSPEITAR? Enfisema em paciente com menos de 45 anos; Enfisema sem fator de risco evidente; Enfisema com predomínio nos lobos inferiores; Marcela Barbosa Hércules Doença hepática inexplicada; Vasculite com ANCA positivo; História famílias de enfisema, doença hepática, paniculite ou bronquectasia; O tabagismo é um cofator especial. A perda media do VEF1 na deficiência grave de alfa-1-AT é de 50 a 80 mL ao ano, mas, se o indivíduo fuma, essa perda aumenta para 100 a 130 mL ao ano; Além do tratamento da DPOC, em alguns casos está indicada a reposição da enzima – a depender do nível sérico e fenótipo da pessoa – que pode reduzir a progressão da doença. FISIOPATOLOGIA A perda de volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) é de 15 a 30 ml ao ano em pessoas normais. No paciente com DPOC, essa perda anual é aumentada em duas a cinco vezes. Curiosamente, tal perda excessiva de VEF1 só acontecem em torno de 15% dos indivíduos que fumam, indicando componentes genéticos envolvidos. Hipersecreção de muco, contração de musculo liso, inflamação e hiperplasia glandular são sintomas reversíveis. Perda da conexão alveolar (enfisema) é irreversível. Geralmente, VEF1 acima de 40% do predito implica dispneia aos pequenos esforços, e abaixo de 25% dispneia em repouso, retenção de CO2 e cor polmonale. Além da diminuição do VEF1, há outras alterações presentes no paciente com doença pulmonar obstrutiva crônica, conforme a seguir: • Aumento do volume residual e da capacidade residual funcional; • Progressiva disfunção diafragmática devido à retificação da cúpula, o que pode levar a uma desvantagem mecânica na ventilação; • Aumento da capacidade pulmonar total e, frequentemente, redução da capacidade vital; • Vasoconstricção arterial pulmonar devido à hipoxemia, com aumento na pressão da artéria pulmonar. O endotélio de paciente com DPOC apresenta síntese diminuída de oxido nítrico – deficiência da NO-sintase; • A hipoxia, junto à hipercapnia, ocasiona o aumento dos níveis de catecolaminas, renina e aldosterona, o que pode levar à retenção de sal e água; • Hipoxia, aumento do trabalho respiratório e níveis aumentados de citocinas e TNF-beta podem levar à significativa perda de peso – caquexia. SINTOMAS Geralmente, acontecem pela manhã. Dispneia: progressiva, persistente e piora com esforço. Tosse crônica: pode ser intermitente ou seca. Catarro: pode estar presente com variações. EXAME FÍSICO TÓRAX Pode ser normal Tórax em tonel = formas avançadas Sibilos e roncos, principalmente nas exacerbações Expiração forçada, diminuição do MV, taquipneia, taquicardia, crepitações, bulhas cardíacas abafadas Achados de COR PULMONALE, como edema de MMII, hepatomegalia dolorosa, bulha pulmonar (P2) hiperfonética e palpável, sopro de insuficiência tricuspide Hipertimpanismo à percussão Expansibilidade reduzida ESTERTORES AUSENTES O baqueteamento digital não é causado pela DPOC, e sim pelo tabagismo RADIOGRAFIA DE TÓRAX Marcela Barbosa Hércules Pode ser normal em formas leves de DPOC, de maneira que não é útil para definir ou afastar diagnostico. É importante em paciente com exacerbação. Na deficiência de alfa-1-AT essas zonas de enfisema predominam nos lobos inferiores. Retificação do diafragma, aumento do espaço retroesternal e retrocardíaco, aumento de espaço entre as costelas e sinais de hipertensão pulmonar também podem estabelecer o diagnostico de DPOC. ESPIROMETRIA A presença de relação VEF1-CVF abaixo de 0,7 pós- broncodilatador, associada aos dados clínicos e epidemiológicos, praticamente define o diagnóstico. Em fases precoces, o VEF1 pode ser preservado, com seu valor reduzido conforme a progressão clínica. VEF1 – marcador de mortalidade, usado para classificar gravidade, razoável correlação com sintomas. ECG Pode mostrar sinais de hipertensão pulmonar – onde P apiculada em DII, desvio do eixo para a direita -, que pode ser indicio de DPOC muito grave. Durante a exacerbação, podem ser observadas arritmias atriais, sendo a taquicardia atrialmultifocal a mais característica. TC DE TÓRAX Desnecessária para o diagnóstico e não deve ser solicitada de rotina. O achado de enfisema não define o DPOC. • Enfisema parasseptal: observado na região subpleural, sem relação com tabagismo e sem significado patológico. • Enfisema centrolobular: associado ao habito de fumar; Marcela Barbosa Hércules • Enfisema panlobular: muito comum em deficiencia de alfa-1-AT. GASOMETRIAL ARTERIAL Dispensável na maioria das vezes. Indicado para avaliar gravidade em pacientes que tenham a saturação de oxigênio inferior a 92%, a fim de avaliar indicação de oxigênio domiciliar. A hipercapnia surge em fases avançadas. Pacientes enfisematosos tem centro respiratório mais sensível ao CO2, e não permitem o aparecimento de hipoventilação com hipoxemia e retenção de CO2, mesmo com dispneia. Os bronquiticos tem centro respiratório pouco sensível ao CO2, permitindo hipoventilação, retenção de CO2, hipoxemia e elevação da pressão arterial pulmonar – cor pulmonale. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS CLASSIFICAÇÃO DO PACIENTE GOLD 2020 Existem duas etapas para o diagnóstico e tratamento da DPOC. ETAPA 1 Espirometria – diagnosticar a DPOC e determinar a gravidade da obstrução do fluxo aéreo (escala GOLD 1 a 4) Marcela Barbosa Hércules ETAPA 2 Determinar a classificação GOLD A-D e subsequente tratamento farmacológico mais apropriado, através da avaliação dos sintomas e histórico de exarcebações (incluindo hospitalizações). Essas hospitalizações são nos últimos 12 meses. MMRC – ESCALA DE DISPNEIA TRATAMENTO INICIAL MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS Abandonar o tabagismo Indicação da vacinação anual de influenza e a cada 5 anos pneumococo (reduziu os quadros de pneumonia em DPOC com menos de 65 anos com VEF1 abaixo de 40% e naqueles com comorbidades); Indicar reabilitação pulmonar para os pacientes com sintomas persistentes, de classificação B, C e D; Ensinar o paciente a utilizar e a se familiarizar com o dispositivo inalatório indicado; Suplementação nutricional; Atividade física regular; FARMACOLÓGICOS XANTINAS não fazem mais parte do tratamento (ASMA = CORTICOIDE / DPOC = BRONCODILATADOR) LABA (B-2-AGONISTA DE LONGA AÇÃO) Long-acting-beta-agonists 12 horas – formoterol e salmeterol (2x/dia) 24 horas – indacaterol, vilanterol e olodaterol (1x/dia) Efeitos colaterais: taquicardia e tremores. B-2-AGONISTA DE CURTA DURAÇÃO Normalmente usados na terapia de resgate. Broncodilatadores mais efetivos no controle da hiperinsuflação dinâmica da DPOC. Salbutamol: atua ativando a adenilciclase e aumantando o AMP clinico. Esse aumento causa relaxamento da musculatura brônquica e inibição da liberação de mediadores inflamatórios nos mastócitos. Marcela Barbosa Hércules Fenoterol: possui mais efeitos adversos. Anticolinérgico – brometo de ipratrópio: diminui a ação da acetilcolina nas fibras pós-gangliônicas muscarínicas (M1 e M3) que terminam no epitélio, glândulas submucosas e musculatura lisa das vias aéreas, reduzindo assim o tônus broncoconstritor. LAMA (ANTICOLINÉRGICO OU ANTAGONISTA MUSCARINICO DE LONGA DURAÇÃO) Long-acting miscarinic antagonists Tiotrópio, glicopirrônio e umeclidínio Por via inalatório e possuem ação por 24 horas. São fármacos de manutenção. Efeitos colaterais: boca seca, retenção urinaria, glaucoma agudo. CORTICOIDE INALATÓRIO Tem o uso restrito no manejo do DPOC. Recentemente foi demonstrado risco aumentado de pneumonia nos pacientes com DPOC e uso prolongado de corticoide inalado, o que restringiu ainda mais sua recomendação. Deve ser considerado em pacientes com tratamento já otimizado – LAMA e LABA – e que ainda mantem instabilidade clínica. Prescrito em pacientes assintomáticos, VEF1 abaixo de 50% e história de exacerbação. < 100 eosinofilos/mcL possuem pouca resposta. ≥ 300 eosinofilos/mcL apresentam boa resposta. Usa-se o eosinófilo como biomarcador. Budesonida, mometasona e fluticasona. Efeitos colaterais: moniliase oral, rouquidão e PNM. VIAS DE AÇÃO DA BRONCOCONSTRIÇÃO NA DPOC Controle colinérgico da musculatura lisa das vias aéreas e controle adrenérgico da musculatura lisa das vias aéreas. Broncoconstrição mediada por acetilcolina (ACh) ligando aos receptores muscarínicos M3 – LAMA Broncodilatação mediada por noradrenalina ligando aos receptores B2 – LABA EXACERBAÇÃO CRITÉRIOS CARDINAIS Piora da dispneia Aumento da produção de escarro Escarro que se torna purulento CLASSIFICAÇÃO Leve: um dos critérios cardinais e um achado adicional, como IVAS, febre, sibilos, aumento da tosse, aumento da FR. Moderada: dois dos três critérios cardinais. Grave: presença dos três critérios cardinais. É necessário solicitar gasometria, pode ser notado hipercapnia, mas não necessariamente indica maior gravidade. Naqueles com pCO2 elevada e pH baixo deve ser classificado com gravidade extrema e medidas devem ser adotadas para correção da Pco2 como a ventilação não invasiva. CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO IR grave: aumento da dispneia, distúrbios de conduta ou hipersonolência, incapacidade para alimentar, dormir ou deambular; Hipoxemia refrataria ou hipercapnia com acidose; Complicações; ICC descompensada ou descompensação de outra condição clinica; TRATAMENTO O2: 88-92% e usar VNI se preciso. B2 agonista E/OU anticolinérgico = fenoterol 10 gotas e ipatrópio 40 gotas até de 4/4horas Marcela Barbosa Hércules Nos pacientes com DPOC exacerbado, devemos dar ABÇO: antibiótico, broncodilatadores, corticoide e oxigênio/VNI. As bactérias mais associadas são Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae e Moraxella catarrhalis. ATB PRECOCE 5-7 dias VO ou IV – a maioria quinolonas Quando VEF1 < 50% + bronquiectasia = presença de pseudomonas – usar quinolonas (Levofloxacino) 750mg 5 dias. CORTICOIDES SISTÊMICOS Diminuem o tempo de recuperação Melhoram a função pulmonar (VEF1) e hipoxemia Reduzir o risco: recaída precoce, falha do tratamento, duração de internação. Prednisona 40mg 5 a 7 dias OXIGÊNIO Dispneia moderada á grave pH < 7,35 e/ou PaCO2 > 45 mmHg FR > 25 irpm FATORES DE RISCO PARA EVOLUÇÃO DESFAVORÁVEL Idade acima de 65 anos Dispneia grave Comorbidades Mais de 4 exacerbações nos últimos 12 meses Hospitalização por exacerbação no ano prévio Uso de corticoide sistêmico nos últimos 3 meses Uso de ATB nos últimos 15 dias Desnutrição OXIGÊNIO Melhora a sobrevida!! PaO2 ≤ 55 mmHg ou SatO2 ≤ 88% com ou sem hipercapnia Ou PaO2 entre 55 e 60 mmHg, SatO2 de 88% a 90% HP, edema periférico ou Policitemia (ht maior que 55%)
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