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Carcinogênese É um processo complexo, multifásico e depende de fenômenos genéticos e epigenéticos que culminam no surgimento de clones de células imortalizadas que adquirem a capacidade de se multiplicar autonomamente, de invadir os tecidos vizinhos e de dar metástases. O câncer é considerado uma doença genômica de células somáticas resultante de alterações na expressão de certos genes, especialmente daqueles que regulam a proliferação e a diferenciação celulares. As células lábeis são células que durante toda a vida do indivíduo, elas estão em constante multiplicação e renovação. Ex: células da pele, dos epitélios de revestimento. Células estáveis não estão em constante renovação, mas se houver uma demanda para que elas voltem a se multiplicar, elas têm ainda essa capacidade. Ex: células do tecido ósseo. Células perenes são muito mais estáveis, uma vez danificadas, elas não têm mais capacidade de serem renovadas. O câncer é uma doença genética, para que ele se desenvolva, é necessário que haja uma alteração naqueles genes, sobretudo os que controlam o ciclo celular, mas ela não é obrigatoriamente uma doença hereditária, a maioria não é. As causas ambientais são responsáveis por até 65% dos desenvolvimentos dos cânceres, enquanto os fatores hereditários apresentam 26% a 42% para o risco de câncer. O Tabagismo é associado sobretudo aos cânceres dos pulmões, da boca, laringe, esôfago e bexiga. A dieta rica em gorduras, especialmente em relação ao carcinoma colorretal. A obesidade, associada ao adenocarcinomas do esôfago, do endométrio, do pâncreas e da mama. Alimentos processados, em 2015, a OMS incluiu carnes processadas entre os produtos sabidamente carcinogênicos. Alcoolismo, particularmente quanto aos cânceres da laringe, faringe, esôfago e fígado (neste também por causa da associação com cirrose). Infecções, em especial por algum vírus (ex: HPV) Exposição a carcinógenos ambientais, como radiações (UV, ionizantes) e alguns compostos químicos (ex: asbestos) Grupo 1: quando há evidências suficientes de que o agente é carcinogênico (ou seja, cancerígeno) para humanos. Exemplos: tabaco e tabagismo passivo, bebidas alcoólicas, vírus HIV, carnes embutidas e radiação solar. Grupo 2A: quando existem evidências suficientes de que o agente é carcinogênico para animais e evidências limitadas ou insuficientes de que ele é carcinogênico para humanos. Exemplos: anabolizantes, carne vermelha, emissões dos motores a diesel e inseticida Grupo 2B: quando existem evidências limitadas de que o agente é carcinogênico para humanos e evidências suficientes de que ele é carcinogênico para animais ou quando não há evidências suficientes em ambos os casos, mas há dados relevantes de que ele possa ser carcinogênico. Exemplo: cafeína, gasolina e alguns herbicidas. Grupo 3: quando as evidências não são adequadas para afirmar que aquele agente é carcinogênico a humanos e animais ou quando o agente não se encaixa em nenhum outro tipo. Exemplo: ácido acrílico, iluminação fluorescente e mercúrio. O câncer se inicia como um desequilíbrio no mecanismo de proliferação celular. A proliferação das células normais é regulada: - De modo inibitório pelas proteínas codificadas pela expressão dos Genes Supressores de Tumores (controle negativo). - De modo estimulatório pelas proteínas codificadas pela expressão dos proto-oncogenes (controle positivo) - De modo inibitório por genes que condicionam a morte celular programada ou apoptose (controle negativo) - De modo estimulatório por genes que regulam a mobilidade celular e a produção de Fatores do Crescimento (controle positivo) Os primeiros genes que sofrem alteração são os do controle positivo, os proto-oncogenes. Os proto-oncogenes são genes ativos e importantes para as células, em sua forma nativa e quando regulados, atuam no controle da proliferação celular normal. Proto-oncogenes podem tornar-se oncogenes quando: há alteração na estrutura do gene (mutação), resultando em produto anormal (oncoproteína) e quando ocorre aumento da expressão gênica (função exacerbada). Os oncogenes são normalmente encontrados nas células (proto-oncogene), mas quando afetados por mutações (dominantes) ou translocações, codificam proteínas superexpressas que desviarão a cascata de eventos que controlam a proliferação celular, no sentido de uma proliferação incontrolada. Quando uma célula produz o seu próprio fator de crescimento, ela adquire autonomia. Os genes supressores de tumor estão envolvidos no controle da multiplicação e da diferenciação celular, evitando reprodução descontrolada das células (comportam-se como “freios” da divisão celular). Em conjunto, tais genes atuam como um sistema coordenado e eficaz que impede a proliferação celular desordenada após agressões. Genes da Mobilidade Celular: genes normalmente encontrados nas células, mas normalmente somente expressados nas células móveis por natureza. Quando expressos nos oncócitos, permite que estes produzam substâncias (Ex: hialuronidase, TAF) que irão dissolver as barreiras tissulares e permitir invasão de outros tecidos e vasos sanguíneos (invisibilidade). Todo esse processo é dividido em etapas: Iniciação: a célula precisa sofrer as primeiras alterações genéticas, que de cara não a transforma em uma célula maligna, precisa haver um certo acúmulo de mutações para que essa célula se transforme. Então essa primeira etapa resulta da exposição das células a uma dose suficiente de agentes carcinogênicos (iniciadores); a célula iniciada torna-se potencialmente capaz de dar origem a um tumor; isoladamente não é suficiente para a formação do tumor; provoca dano permanente ao DNA (mutações); rápida e irreversível, possuindo “memória”. Exemplos de agentes químicos iniciadores: benzopirenos (fumaça do cigarro); vírus oncogênicos; hidrocarbonetos policíclicos e heterocíclicos aromáticos. Promoção: podem induzir os tumores nas células iniciadas, mas eles não são tumorigênicos por si mesmos. Não há formação de tumores quando o agente promotor é aplicado antes, ao invés de depois, do agente iniciador. Ex: exposição prolongada a certos hormônios, tabaco. Progressão: multiplicação descontrolada e irreversível das células alteradas. Nesse estágio o câncer já está instalado, evoluindo até o surgimento das primeiras manifestações clínicas da doença. Ex: tabaco. Esses agentes externos são divididos segundo a sua origem, podem ser carcinógenos: químicos, físicos e biológicos. As substâncias químicas que podem causar a iniciação da carcinogênese podem ser classificadas em duas categorias: de ação direta e ação indireta. Os de ação direta não requerem a conversão metabólica para se tornarem carcinogênicos. Ex: Agentes alquilantes (ciclofosfamida). Os de ação indireta requerem a conversão metabólica para um carcinógeno em sua forma final antes que eles se tornem ativos. Ex: benzopirenos, hidrocarbonetos policíclicos, anilina. Na carcinogênese química, a maioria dos carcinógenos requer ativação metabólica para a conversão em carcinógenos em sua forma final. Outras vias metabólicas podem levar à inativação (destoxificação) dos pró-carcinógenos ou de seus derivados. Assim, a potência carcinogênica de uma substância química é determinada não somente pela atividade inerente de seu derivado eletrofílico, mas também pelo equilíbrio entre ativação metabólica e reações de inativação. Nesse tipo de carcinogênese, existem alvos moleculares que são o gene RAS e o p53, que são genes supressores de tumor. Quando o gene RAS está desativado, ele vai aumentar a proliferação e a angiogênese. A p53 detecta dano no DNA e anormalidades cromossômicas, levando a célula a apoptose ou barrando o ciclo celular, então se há uma alteração nesse gene ela perde essa capacidade. Na carcinogênese física, a energia de radiação, quer seja na forma de raio UV da luz solar ou sob a forma de ionização eletromagnética e radiação particulada, é um carcinógeno bem estabelecido. A radiação solar em relação ao câncer de pele, câncer de boca/lábio e as radiaçõesionizantes relacionado a vários tipos de cânceres. A porção UV do espectro solar pode ser divida em três grandes gamas de comprimento de onda: UVA (320-400 nm), UVB (280-320 nm) e UVC (200 a 280 nm). Acredita-se que entre eles, o UVB seja responsável pela indução dos cânceres de pele. O UVC, apesar de ser um potente mutagênico, não é considerado significativo porque é filtrado pela camada de ozônio ao redor da Terra. Carcinogênese biológica: poucos vírus foram associados à carcinogênese humana. O vírus da Leucemia de Células T Humanas Tipo 1: linfomas e leucemias HPV: câncer de colo de útero EBV: linfomas HBV: hepatocarcinoma Herpes vírus B: sarcoma de Kaposi Foram identificados pelo menos 70 tipos geneticamente distintos de HPV. Os tipos 1, 2 ,4 e 7 provocam papiloma escamoso benigno (verrugas em humanos) e o 16 e 18 foram envolvidos na gênese de diversos cânceres, principalmente do carcinoma de células escamosas do colo do útero e da região anogenital. Pelo menos 20% dos cânceres de orofaringe estão associados ao HPV. O potencial oncogênico do HPV pode estar relacionado ao produto de dois genes virais, E6 e E7. Juntos, eles interagem com uma variedade de proteínas reguladoras do crescimento codificadas por proto-oncogenes e por genes supressores de tumor. Os tipos de HPV de alto risco expressam proteínas oncogênicas que inativam os supressores de tumor, ativam ciclinas, inibem a apoptose e combatem a senescência celular. O vírus Epstein-Barr é membro da família herpes, ele está envolvido na patogenia de diversos tumores humanos: a forma africana do linfoma de Burkitt; os linfomas de células B em indivíduos imunossuprimidos; linfoma de Hodgkin; carcinoma nasofaríngeo e alguns carcinomas gástricos e formas raras de linfomas de células T e linfomas de células natural killers.
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