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Alfabetização e Letramento: Fundamentos Metodológicos W B A 0 5 0 0 _ v1 _ 2 2/249 Alfabetização e Letramento: Fundamentos Metodológicos Autoria: Silvia Cristina Herculano Como citar este documento: HERCULANO, S. C. Alfabetização e Letramento: Fundamentos Metodológi- cos. Valinhos: 2017. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Breve Histórico da Alfabetização 05 Unidade 2: Alfabetização e letramento 35 Unidade 3: A Psicogênese da Língua Escrita 66 Unidade 4: Alfabetização no Brasil 102 2/249 Unidade 5: Conceitos e Práticas de Letramento 127 Unidade 6: Alfabetização, Alfabetismo e Multiletramentos 163 Unidade 7: Métodos de Alfabetização 192 Unidade 8: Perspectiva Construtivista e Alfabetizar letrando 222 3/249 Apresentação da Disciplina Caro Educador, Entre as diversas possibilidades que carac- terizam a presença do indivíduo no mundo, estão aquelas que, direta ou indiretamente, se constituem pela sua capacidade de co- municação e interação. Desde a mais tenra idade, o sujeito intera- ge com os seus, fazendo-se valer de múlti- plas linguagens e elaborando um contexto comunicacional de grande riqueza: lingua- gem, expressões, manifestações culturais e tantas outras. Nas sociedades grafocêntricas, ou seja, em grupos sociais em que, para além da orali- dade, a escrita se faz um relevante elemen- to de comunicação, interação e aprendiza- gem, a constituição da lecto-escrita tem estado presente na dinâmica cultural, social e política de cada povo. A escola, como instituição agregadora dos conhecimentos referendados pela socieda- de, é um importante meio de constituição das aprendizagens em relação aos contex- tos comunicacionais, envolvendo a leitura e a escrita - para além das normativas, for- matos, codificação e decodificação de sinais gráficos – e tratando das funcionalidades e contextos significativos da linguagem. Diante desta abordagem, é primordial a construção de processos formativos docen- tes que favoreçam e validem os aspectos de construção da leitura e da escrita – suas nuances, possibilidades e potencialidades – numa formatação “viva” da língua, a partir de seus usos e reflexões. 4/249 Para tanto, apresentamos a disciplina “Al- fabetização e Letramento: Fundamentos Metodológicos”, cujo objetivo é caracterizar os aspectos envolvidos na alfabetização, ini- ciando por suas especificidades, introduzindo a discussão da relação entre o processo de al- fabetização e a construção dos alfabetismos (capacidades/habilidades de leitura e escri- ta) e buscando mostrar por que esse processo deve se dar tendo em vista as diferentes práti- cas de letramento que permeiam nossa vida. Vamos aprofundar algumas questões que tratam do histórico dos processos de alfa- betização, da construção dos conhecimen- tos sobre a linguagem escrita, do letramen- to e metodologias desenvolvidas. Nessa perspectiva, os temas abordados em cada unidade terão como foco um breve histórico da alfabetização, tratando dos pri- meiros contextos de aprendizagem da leitu- ra e da escrita dos registros, partindo para a construção de significados quanto à evolu- ção do conceito de alfabetização e à intro- dução do conceito e práticas de letramento no Brasil, bem como das suas vertentes que englobam a alfabetização, o alfabetismo e os multiletramentos. Por fim, aprofundaremos algumas questões referentes aos métodos de alfabetização, inclusive na perspectiva construtivista e do “alfabetizar letrando”. Esperamos que você aproveite o estudo e construa conhecimentos e práticas que o auxiliem na composição de perspectivas pedagógicas nos contextos educacionais. Vamos lá?! Bom estudo! 5/249 Unidade 1 Breve Histórico da Alfabetização Objetivos 1. Conceituar alfabetização de acordo com as perspectivas sócio-históricas; 2. Identificar as principais característi- cas dos processos de alfabetização; 3. Conhecer os primórdios da alfabeti- zação no Brasil. Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização6/249 Introdução Esta aula é dedicada à apropriação e com- preensão da condição sócio-histórica da alfabetização, ou seja, se dá a partir de um olhar para a constituição de saberes leitores e escritores frente aos elementos culturais, econômicos, históricos e políticos, num de- terminado âmbito social. Para tanto, historiadores e estudiosos da educação, com a finalidade de compreen- são dos processos de instituição dos con- textos de alfabetização, tratam de dividir a história da alfabetização em períodos, con- forme os diferentes grupos sociais e suas perspectivas, sendo que o primeiro período teve início na Antiguidade, se estendendo até a idade medieval. Nesta época, o méto- do de construção da leitura e escrita esta- va condicionado à soletração, tratando de práticas de aprendizagem da leitura e escri- ta essencialmente através da memorização das letras. Já nos séculos XVI e XVII temos o segundo período de constituição da alfabetização, que se estendeu até a década de 1960, em que métodos conhecidos como sintéticos, analíticos e mistos – característicos da Pe- dagogia Tradicional – foram explorados, com a utilização de cartilhas. O terceiro período teve início na década de 1980, com a ampliação da teoria da Psico- gênese da Língua Escrita, sendo Emília Fer- reiro e Ana Teberosky grandes representan- tes desse movimento conceitual. Por fim, apresentaremos neste estudo o pe- ríodo contemporâneo que se constitui a par- Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização7/249 tir dos indicadores de altos índices de anal- fabetismo funcional no Brasil e que procura problematizar, discutir e buscar formas de organização e sistematização do trabalho pedagógico, a fim de constituir um processo de alfabetização integrado e significativo – numa perspectiva sociolinguística. A organização aqui apresentada tem como cunho didático possibilitar a compreensão de como a alfabetização foi sendo cons- tituída através das dinâmicas históricas e sociais. Consideramos que as temáticas tratadas ao longo deste estudo poderão fa- vorecer a compreensão conceitual e prática pedagógica, constituindo uma relação sig- nificativa no processo de formação conti- nuada do professor. 1. A alfabetização na Antiguida- de e na Idade Média Embora a escrita e os métodos de interna- lização da mesma tenham ocorrido em di- versos locais e tempos, cada povo desenvol- veu métodos diferentes de perpetuação de seus registros, ou seja, elaborou formas de internalização das marcas registradas, cul- minando em diferentes modos de alfabeti- zação. Assim, sumérios, semitas, romanos e gregos foram povos que se destacaram na elaboração de códigos que representassem a fala. Os gregos, em uma adaptação dos registros semitas, modificaram a constituição de sua escrita quando passaram a considerar a vo- gal como um de seus elementos. Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização8/249 Mendonça (2011), baseada em Marrou (1969), trata em seus estudos da constituição dos méto- dos de alfabetização na antiguidade, apresentando a forma como tais processos ocorriam: (...) a alfabetização ocorria por um processo lento e complexo. Iniciava-se pela aprendizagem das 24 letras do alfabeto grego e as crianças tinham que decorar os nomes das letras (alfa, beta, gama etc.), primeiro na ordem alfa- bética, depois em sentido inverso. Somente depois de decorar os nomes é que era apresentada a forma gráfica. A tarefa seguinte era associar o valor sonoro (antes memorizado) à respectiva representação gráfica (escrita). As primeiras letras apresentadas eram as maiúsculas, distribuídas em colunas, depois vinham as minúsculas. Quando os aprendizes haviam memorizado a associação das letras às formas, processos semelhantes eram feitos com as famílias silábicas, iniciando-se pelas sílabas simples (beta-alfa = ba; beta – é = be; beta – eta = bê), decoradas em ordem, até se esgotarem todas as possibilidades combinatórias. (...) Concluído o estudo da sílaba, vinhamos monossílabos, depois os dissílabos, trissílabos e assim sucessivamente, como fazem as cartilhas. (MENDONÇA, 2011, p. 24) Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização9/249 O nosso alfabeto, com 27 letras, tem origem no alfabeto grego, porém, os processos de apren- dizagem da linguagem – a alfabetização – foram sendo modificados, já que nos primórdios dos contextos da escrita alfabética, a base formativa estava em decorar as letras e seu valor fonético – a base do método sintético, implicando em muitas dificuldades de aprendizagem, já que havia a constituição de leitores proficientes na soletração, mas que não interpretavam ou compreen- diam os textos. Tais contextos são apresentados por Araújo (1996, p. 12), que compreende tais dificuldades como grandes incentivadores na busca por novas formas de aprendizagem da leitura e escrita na Idade Média: [...] na Antiguidade e na Idade Média houve muita dificuldade na aprendi- zagem da leitura, particularmente na do alfabeto. Em razão da aridez do método e consequentemente, do desinteresse dos alunos, os pedagogos tentaram criar procedimentos e materiais para remover esses problemas. Essas tentativas, contudo, não conseguiram modificar a natureza do méto- do de soletração, o único usado na antiguidade e em toda a Idade Média, época em que se não foi sequer contestado. (ARAUJO, 1996, p. 12) Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização10/249 Nesta condição, o adulto – sujeito mais experiente –, que possui saberes acumulados, tem o de- ver de transmitir o conhecimento às gerações mais jovens, aqueles considerados imaturos e sem conhecimento. Na Antiguidade, os alunos alfabetizam-se apresentando a ler algo já escri- to e depois copiando. Começavam com palavras e depois passavam para textos famosos, que eram estudados exaustivamente. Finalmente, passa- vam a escrever seu próprios textos. (CAGLIARI, 1998, p. 15) No período medieval, a soletração foi sendo gradativamente modificada por novos elementos incorporados, em que se fazia uso de tabuletas com o alfabeto gravado, pendurada junto ao cor- po dos aprendizes. Esse material é considerado um precursor das cartilhas, que só surgiriam no século XV, após a invenção da imprensa por Gutenberg. Johannes Gutemberg, foi um dos grandes expoentes da esfera cultural, científica e tecnológica da humanidade, sendo o registro, a divulgação e a perpetuação da escrita realizada através da máquina de impressão (livros e panfletos. Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização11/249 Figura 1 - Réplica em tamanho natural da prensa de Gutemberg Fonte: Museu da Imprensa Brasileira (<http://www.riodeja- neiroaqui.com/portugues/museu-imprensa.html>). É importante salientar que, neste período, os grandes clássicos registrados em livros estiveram sob domínio exclusivo da igreja católica na Europa, sendo o conhecimento fonte de poder e hierarquização e a alfabe- tização restrita a uns poucos componentes da nobreza e clero. Os professores eram padres e clérigos que lecionavam as sete artes liberais: Trivium – Conhecimentos sobre Gramática, Retórica e Lógica; Quadrivium – Aritmética, Geografia, Astro- nomia e Música. As aulas eram realizadas em latim e tinham como base a bíblia. Os alunos eram, essen- cialmente, de origem nobre (as famílias da nobreza pleiteavam influência em três po- deres, sendo necessárias três formas de educação: Militar – formação de cavalhei- ros; Nobreza – escola formal; e Religiosa – escolas monásticas). http://www.riodejaneiroaqui.com/portugues/museu-imprensa.htm http://www.riodejaneiroaqui.com/portugues/museu-imprensa.htm Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização12/249 Em 1655, Comenius – educador e liderança religiosa – elabora sua doutrina pedagógica, que consistia em diversos contextos didáti- cos, dentre eles a aprendizagem da leitura e da escrita por meio da apresentação de pa- lavras associadas a uma representação. O latim era o idioma oficial, porém sua adoção causava dificuldades, pois não correspondia à linguagem presente nas diversas regiões europeias. Nessa época, a alfabetização ainda não era de competência da escola, sendo mais um contexto familiar de perpetuação de sabe- res. As crianças eram orientadas pelos pais ou por alguém (um preceptor) para realizar essa tarefa. 2. Método Tradicional O panorama educacional constituído até então começou a ser alterado com o fim da Idade Média e início da Idade Moderna em que, paulatinamente, o latim foi sendo abandonado em favor de línguas nacionais. Nesse contexto, René Descartes (1596- 1650) foi o pioneiro na constituição de no- vas práticas e concepções educacionais, es- crevendo o “Discurso do Método” em fran- cês, no século XVI. Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização13/249 Com a transição da economia agrária para a industrial, a utilização da escrita e, conse- quentemente, a alfabetização foi sendo va- lorizada e, em 1789, com a Revolução Fran- cesa e posteriormente com a Revolução Industrial, a alfabetização passa a ser vista como competência a ser ensinada igual- mente a todos, numa escola laica e gratuita. Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização14/249 Nessa perspectiva, a escola recebe a res- ponsabilidade de ensinar a ler e a escrever. Os diversos métodos de ensino de leitura e escrita se destacam na composição de aprendizagens para a alta sociedade que frequentava as escolas, enquanto a maio- ria da população se direcionava para o tra- balho e sobrevivência, numa condição de analfabetos. Porém, apesar da busca por mudanças por parte de alguns grupos de intelectuais, filó- sofos e educadores, a alfabetização ainda mantém características dos processos de aprendizagem da leitura e escrita presentes na Antiguidade e Idade Média. A alfabetização, embora entendida nes- se momento como atribuição da escola, mantém características dos processos de aprendizagem da leitura e escrita presentes na Antiguidade e Idade Média que, segundo Cagliari (1998, p. 65), tratam de elementos de mecanização e memorização. Para saber mais A Revolução Francesa foi um movimento político e social ocorrido na França em 1789. Fenômeno responsável pela queda do antigo regime abriu espaço para a criação do estado democrático. Possui como prerrogativa os ideais de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Já a Revolução Indus- trial foi um processo articulado por diversas mu- danças ocorridas na Europa de 1760 a 1900, sen- do sua principal característica a substituição do trabalho artesanal pela utilização de máquinas e trabalho assalariado. Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização15/249 Alunos que são submetidos a um processo de alfabetização, seguindo o método das cartilhas (com livros ou não), são alunos que são expostos ex- clusivamente ao processo de ensino. O método ensina tudo, passo a pas- so, numa ordem hierarquicamente estabelecida, do mais fácil para o mais difícil. O aluno, seja ele quem for, parte de um ponto inicial zero, igual para todos, e vai progredindo, através dos elementos já dominados, de maneira lógica e ordenada. A todo instante, são feitos testes de avaliação (ditados, exercícios estruturais, leitura perante a classe), para que o professor avalie se o aluno “acompanha” ou se ficou para trás. Neste último caso, tudo é re- petido de novo, para ver se o aluno, desta vez, aprende. Se ainda assim não aprender, repete-se mais uma vez, remanejam-se os alunos atrasados para uma classe especial, para não atrapalharem os que progrediram, até que o aluno, à força de ficar reprovado, desista de estudar, julgando-se incapaz. E a escola lamenta a chance que a criança teve e que não soube aproveitar. (CAGLIARI, 1998, p. 65) Assim, práticas que valorizassem a memorização, a prática de decorar, o encadeamento de letras, sílabas e palavras – sem relação com os contextos e rotinas dos estudantes – num processo de Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização16/249 pouco significado, sãofatores recorrentes no trabalho pedagógico, que se apresenta em novas versões, porém, com princípios semelhantes. Segundo Cagliari (1998), são: Método Sintético: é organizado hierarqui- camente da assimilação das partes para o todo, ou seja, a criança inicia a alfabetização pelas unidades menores (letras), internali- zando gradativamente as unidades maiores (sílabas, palavras, frases e textos). São divi- didos em métodos de soletração (unidade menor: letra), fônico (unidade menor: fone- ma) e silábico (unidade menor: sílaba). Método Analítico: Parte de uma unida- de que apresenta determinado significado, para se segmentar em unidades menores. São divididos em métodos de palavração (partem da palavra), sentenciação (partem da sentença) e textuais (partem dos textos). Método Misto: é uma composição dos dois métodos, o sintético e o analítico. Nele, o aluno estuda textos e frases, organiza síla- bas para construir palavras e, concomitan- temente, reúne palavras e forma frases. Também chamados de métodos tradicio- nais ou cartilhescos, os métodos sintéti- cos, analíticos e mistos se organizavam por meio de exercícios de fixação, como ditados e cópias, sendo um processo organizado de codificação/decodificação de textos e suas partes por meio de treinamentos, repetições e utilização de modelos, porém com muitas lacunas em relação aos contextos de com- preensão, análise e interpretação. Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização17/249 Nesse contexto, as cartilhas ganham força com uma proposta de silabário, numa pers- pectiva de habilidade caligráfica e ortográfica e que demandava um período preparatório. Tal condição se constitui a partir de uma alfabetização atrelada à prontidão e ma- turação para a leitura e escrita, ou seja, as crianças precisariam passar por uma eta- pa de “treinamento” para a aprendizagem da leitura e escrita. Este treinamento era composto por exercícios de repetição, com a finalidade de condicionar a coordenação motora, considerada pré-requisito para a alfabetização. Para saber mais As cartilhas brasileiras originaram-se em Portugal – Cartilha para Aprender a Ler, de João de Barros, cuja primeira versão data de 1539 –. Na década de 1930, a comercialização das cartilhas torna-se um grande negócio, sendo necessária a elaboração de manuais para professores quanto à utilização des- ses materiais que se fortaleceram, principalmente aqueles adotados em São Paulo, como a cartilha Caminho Suave, Cartilha Sodré e Quem sou eu (dé- cada de 1960); e Cartilha Pipoca, Mundo Mágico e Reino da Alegria (década de 1980). Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização18/249 Segundo Ferreiro e Teberosky (1999), Parte-se do princípio de que existe um a “maturação” para a aprendizagem e que esta consiste numa série de habilidades específicas suscetíveis de mensuração, através de condutas observáveis. Se tomarmos, por exemplo, um dos testes de maior difusão na America Latina, o ABC de Lorenzo Filho, encontramos que para decidir se uma criança pode começar sua aprendi- zagem sistemática, é necessário que possua um mínimo de “maturidade” na coordenação visomotora e auditivo-motora, além de um bom quocien- te intelectual e de um mínimo de linguagem (FILHO, 1960). (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999, p.36) Dessa forma, evidencia-se o caráter propedêutico dos aspectos que antecedem a alfabetização, ou seja, um período destinado ao treino e memorização que visa preparar a criança para a leitura e escrita, desconsiderando seus saberes, experiências e cultura já constituída. Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização19/249 Diante do aprofundamento teórico das pes- quisadoras, verificou-se que a Psicogênese da Língua Escrita trouxe uma significativa contribuição para a compreensão dos per- 3. Psicogênese da Língua Escrita O terceiro período de constituição dos pro- cessos de alfabetização se fortalece na dé- cada de 1980. Os métodos até então utili- zados (sintéticos e analíticos) passam a ser questionados, sendo o pensamento cons- trutivista sobre alfabetização materializa- do na Psicogênese da Língua Escrita, ela- borada e desenvolvida pelas pesquisadoras argentinas Emilia Ferreiro, Ana Teberosky e seus colaboradores, a partir dos estudos piagetianos. Para saber mais Emília Ferreiro e Ana Teberosky tiveram como ponto de partida o pressuposto da teoria piage- tiana de que qualquer conhecimento tem uma origem e, conforme o método clínico de Piaget, observaram 108 crianças e sua relação com a aprendizagem da escrita. Elas tinham como obje- tivo compreender como as crianças internalizam a cultura escrita, sendo a pesquisa documentada na obra “A Psicogênese da Língua escrita”, intro- duzida no Brasil por volta dos anos 1980 (PICOLLI; CAMINI, 2013). Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização20/249 cursos e hipóteses que a criança elabora até dominar os processos de leitura e escrita. São pressupostos do estudo das pesquisa- doras: 1. O sistema de escrita é um objeto de conhecimento; 2. A criança é um sujeito de aprendiza- gem, cognoscente – produtora de co- nhecimento; 3. A aprendizagem é o resultado da pró- pria ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento; 4. Conhecimento se refere como aquisi- ção não-linear e não como um fenô- meno inicial a ser dominado; 5. O erro é construtivo, ou seja, indica como a criança está elaborando suas hipóteses; 6. Conflito cognitivo: favorece o avanço da criança em suas hipóteses. Ferreiro e Teberosky (1999) elaboram fun- damentos propriamente linguísticos da Psi- cogênese da língua escrita quando identifi- cam o sujeito formulando hipóteses a partir do código, realizando um percurso compos- to por níveis. São eles: pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético. Tal entendimento orientou novas perspec- tivas de alfabetização nas escolas, fazendo com que os educadores repensassem a ma- neira como as crianças se relacionam pro- gressivamente com a leitura e a escrita. Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização21/249 Não vamos nos debruçar de forma intensa nesse contexto, pois teremos um momento de estudo específico para esse assunto. 4. Perspectiva Sociolinguística Na década de 1990, a influência de teorias de aprendizagens vinculadas à perspectiva histórico-cultural se amplia, tratando das aprendizagens a partir do meio social em que a criança está inserida. Recebem desta- que as ideias de Vygotsky (1989), que enten- de a linguagem como importante contexto de ensino-aprendizagem, sendo construída nas interações realizadas. Assim, a alfabetização passa a ser pensada sob o prisma da sociolinguística que inves- tiga a língua, tratando da relação entre lin- guagem e sociedade, ou seja, como o meio sociocultural influencia a língua. Numa condição dinâmica e heterogênea, procu- ra-se identificar as variações da forma, as diferenças da utilização da língua, realizan- do análise de tais fenômenos no lócus das interações. Para saber mais A perspectiva histórico-cultural baseia-se na psi- cologia soviética do início do século XX, cujo prin- cípio foi a aplicação do materialismo histórico- -dialético, que compreende a formação da crian- ça a partir da concepção de um sujeito concreto. Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização22/249 O conceito de letramento é difundido, sendo que para Soares (2003), o termo letramento é a forma para o Português da palavra inglesa literacy, que significa “o estado ou condição que assu- me aquele que aprende a ler e a escrever” (p. 17). A estudiosa tem se aprofundado nas questões envolvendo a alfabetização e o letramento, tratando de aspectos de desenvolvimento, de cons- trução social e de participação coletiva. Na perspectiva sociolinguística, torna-se relevante que a ação docente associe os contextos orais da língua materna às práticas escolares, considerando a variabilidade linguística, e a espe- cificidade da alfabetização e do letramento, ou seja, a aprendizagem da leiturae escrita permeia a condição de alfabetizar letrando, recorrendo aos estudos da linguística que abarcam várias Para conhecer um pouco mais dessa autora verifique a reportagem produzida pela Revista da Universi- dade Federal de Minas Gerais: RIGUEIRA JR., I. Perfil Magda Becker Soares. ‘Incumbida e ocupada’. Sempre. DIVERSA - Revista da Univer- sidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, UFMG, v. 12, n. 20, abr. 2013. Para saber mais Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização23/249 áreas: fonética, fonologia, morfologia, sin- taxe, semântica, análise do discurso, socio- linguística e psicolinguística. Em consonância com Soares, Bakhtin (2003) afirma que não basta apenas se apropriar do código alfabético. Os aprendizes precisam mergulhar na linguagem, experimentando e vivenciando os sentidos dos enunciados, da comunicação verbal. Sendo assim, alfabetizar, na perspectiva do letramento, significa alfabetizar imerso nas práticas de linguagem: práticas de orali- dade, leitura e escrita. Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização24/249 Glossário Lecto-escrita: Aprendizagem de habilidades de leitura e escrita a partir de contextos do letra- mento. Letramento: Trata-se dos diferentes usos e funções da escrita, de acordo com a cultural, período e grupo social. Preceptor: Aquele responsável pela educação do sujeito. Desde a Antiguidade, passando pela Idade Média e outros períodos, esse elemento esteve presente nos contextos de aprendizagem que não necessariamente os escolares. Considerado portador de notório saber, tinha como fun- ção a educação e instrução dos sujeitos, de maneira especial, os de origem nobre. Psicogênese: Entendido como origem da aquisição do conhecimento e funções psicológicas de cada sujeito. Na área da aquisição da escrita, se associa aos estudos de Emilia Ferreiro e Ana Te- berosky. Questão reflexão ? para 25/249 Após a leitura deste primeiro tema, elabore uma linha do tempo dos contextos de alfabetização, elencando os principais momentos históricos da construção das aprendizagens de leitura e escrita. 26/249 Considerações Finais • A alfabetização tem seu percurso construído em conjunto com a constitui- ção da escrita. • Sumérios, semitas, romanos e gregos foram povos que se destacaram na elaboração de códigos que representassem a fala. • A partir do século XVI a escola se torna responsável pela aprendizagem da leitura e da escrita. • As práticas de letramento se constituem no olhar apurado para as práticas sociais, variedade linguística e construção de significados. Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização27/249 Referências ARAÚJO, M. C. de C. S. Perspectivas Históricas da Alfabetização. Universidade Federal de Viço- sa, Minas Gerais, 1996. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. CAGLIARI, L. C. Alfabetizando sem o Bá-Bé-Bi-Bó-Bu: Pensamento e Ação no Magistério. 1. ed. São Paulo: Scipione, 1998. DESCARTES, R. O discurso do método. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 102 p. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_ obra=5788>. Acesso em: 15 jul. 2017. FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999. MENDONÇA, O. S. Percurso Histórico dos Métodos de Alfabetização. In: Caderno de Formação: Formação de Professores didática dos conteúdos/ Universidade Estadual Paulista. Pró- Reitoria de Graduação; Universidade Virtual do Estado de São Paulo, v. 2. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, p. 23 a 35. PICOLLI, L; CAMINI, P. Práticas pedagógicas em alfabetização: espaço, tempo e corporeidade. Porto Alegre: Edelbra, 2013. http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=5788 http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=5788 Unidade 1 • Breve Histórico da Alfabetização28/249 RIGUEIRA JR., I. Perfil Magda Becker Soares. ‘Incumbida e ocupada’. Sempre. DIVERSA - Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, UFMG, v. 12, n. 20, abr. 2013. Disponível em: <https://www.ufmg.br/diversa/20/perfil-magda.html>. Acesso em: 15 jul. 2017. SOARES, M. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. 26ª Reunião Anual da ANPED – GT Alfabetização, Leitura e Escrita. Poços de Caldas: 2003. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1989. https://www.ufmg.br/diversa/20/perfil-magda.html 29/249 1. Os métodos de alfabetização classificam-se em sintéticos, analíticos e mistos. Fazem parte da categoria dos métodos analíticos: a) Silabação, soletração, métodos fônicos. b) Palavração, sentenciação, textual. c) Soletilabação, palavração, soletração. d) Métodos fônicos, método de conto, soletração. e) Silabação, método Paulo Freire, sentenciação. Questão 1 30/249 2. Assinale a alternativa que apresenta um dos métodos de alfabetização. a) Método Construtivista. b) Método Criativo. c) Método Simples. d) Método Fônico. e) Método Dinâmico. Questão 2 31/249 3. Indique a definição correta de método sintético e analítico, respectiva- mente: a) O método sintético parte da letra, do fonema, ou da sílaba para formar palavras; o método analítico parte de unidades como o texto, a oração ou a frase. b) O método sintético parte do todo para as partes das unidades, o método analíticos, parte da parte para o todo. c) O método sintético parte de frases, analisando palavras e sílabas. O método analítico tem como ponto de partida as sílabas. d) Os métodos sintéticos associam as letras e palavras aos textos, aos personagens de histó- rias. Os métodos analíticos trabalham com palavras livres, soltas no texto. e) Os métodos sintéticos tratam a compreensão do texto, partindo para as palavras, sílabas e fonemas. Os métodos analíticos tratam de explicar a relação entre fonema-grafema. Questão 3 32/249 4. Após relacionar as colunas, assinale a sequência correta: I – Método sintético II – Método fônico III – Método Analítico ( ) Das unidades maiores para as menores. ( ) O ensino da leitura deveria ser iniciado pelas partes menores, para depois se proceder à aná- lise dos contextos globais. ( ) Parte da relação entre som e letra. a) I, II, III. b) II, III, I. c) III, I, II. d) I, III, II. e) II, I, III. Questão 4 33/249 5. A perspectiva sociolinguística da alfabetização tem como um de seus precursores: a) Piaget. b) Montessori. c) Comenius. d) Locke. e) Vygotsky. Questão 5 34/249 Gabarito 1. Resposta: B. O método analítico parte do todo para as partes: Palavração, sentenciação e textual. 2. Resposta: D. Um dos exemplos da alfabetização através de métodos é o fônico. 3. Resposta: A. Os métodos que partem das unidades me- nores são os sintéticos, enquanto aqueles que partem das unidades maiores são os analíticos. 4. Resposta: C. O Método sintético corresponde à alfabeti- zação a partir das partes menores; O méto- do fônico parte da relação entre o som e a letra, ou seja, fonema e grafema; O Método analítico elabora os contextos alfabetizado- res das unidades maiores para as menores. 5. Resposta: E. A perspectiva sociolinguística se valeu das ideias vygotskyanas para a composição de seus conceitos e possibilidades. 35/249 Unidade 2 Alfabetização e letramento Objetivos 1. Conhecer os fundamentos teóricos e metodológicos do processo de alfa- betização e letramento; 2. Desenvolver competências para inter- venções e planejamentos na condu- ção dos processos de leitura e escrita; 3. Refletir sobre a dimensão cultural da linguagem. Unidade 2 • Alfabetização e letramento36/249 Introdução Num exercício de compreensão dos proces- sos de alfabetização no Brasil, percebemos que a partir da década de 1980, um novo direcionamento se estabelece, sendo um contexto de inúmeras discussões ao longo dos últimos trinta anos. Atualmente, com a divulgação de resultados obtidos por meio das avaliações institucionaisde leitura e es- crita, as discussões se elaboram a partir dos altos índices de analfabetismo e analfabe- tismo funcional, caracterizando a retoma- da das reflexões à luz das últimas constru- ções educacionais realizadas. Dentre eles, destacamos a introdução do conceito de letramento no campo educacional e a utili- zação do texto como unidade de ensino da língua. Com a incorporação do letramento nas prá- ticas escolares, num contexto em que a al- fabetização sofreu fusões, certamente sua especificidade foi desarticulada, sendo os dois processos – a alfabetização e o letra- Unidade 2 • Alfabetização e letramento37/249 mento –, por vezes, confundidos ou aborda- dos de forma equivocada. Nessa perspectiva, é importante o aprofun- damento de questões relativas ao processo de aquisição da leitura e escrita, sendo que neste estudo, procuraremos responder al- gumas questões, como: o que se entende por alfabetização na contemporaneidade? O que são contextos de letramento? Quais as diferenças e aproximações entre os dois fenômenos? Vamos lá! 1. A Escrita como Função Cultu- ralmente Mediada Figura 1– Lista de BrinquedosTítulo Fonte: acervo pessoal da autora. 2009 Na imagem acima, a criança organiza uma lista de brinquedos, demonstrando a condi- Unidade 2 • Alfabetização e letramento38/249 ção funcional da escrita, de modo a compre- ender, para além das condições estruturais da composição das palavras, da codificação e decodificação, das regras gramaticais e pontuação, a possibilidade de construção de significados para a escrita. Tais constru- ções se consolidam no cotidiano do sujeito, em suas necessidades comunicativas e na relação com o seu grupo social. Nesta vivência – elaboração de uma lista de brinquedos – parece-nos que a professora procurou utilizar um gênero textual que os alunos já tivessem contato, ou seja, que pu- dessem acionar seus conhecimentos pré- vios, bem como sua capacidade de produzir hipóteses, inferências e intervenções a par- tir das experiências já realizadas e interna- lizadas. Tal condição perpassa a necessidade do re- gistro escrito enquanto processo de iden- tidade e composição social. Conforme nos indica Klein (2002), Unidade 2 • Alfabetização e letramento39/249 Se considerarmos as situações de uso da escrita, verificaremos que na base de todas elas, está a necessidade de um registro que transcenda os limites do espaço e do tempo. Foi esta característica, durante muito tempo, praticamen- te exclusiva da língua escrita, que a manteve como uma forma privilegiada de registro, determinando o seu aprendizado como uma forma de responder a uma necessidade humana [...] a escrita, embora sendo uma função, ou seja, uma prática necessária no interior de uma sociedade, não é contudo, uma prática comum a todos os indivíduos [...]. (KLEIN, 2002, p. 105) Ou seja, para além dos contextos escolares, a escrita se formata como condição social, articulada às mais diversas instâncias de interação do sujeito. Assim como a criança da imagem, as deman- das sociais são desencadeadoras de processos de organização do pensamento, materializadas, por vezes, em textos estruturados conforme a necessidade do sujeito. Unidade 2 • Alfabetização e letramento40/249 De acordo com Vygotsky (1994), O ensino tem de ser organizado de forma que a leitura e escrita se tornem necessárias às crianças. Se forem usadas apenas para escrever congratula- ções oficiais para os membros da diretoria da escola ou para qualquer pessoa que o professor julgar interessante (e sugerir claramente para as crianças) então o exercício da escrita passará a ser puramente mecânico e logo pode- rá entediar as crianças, suas atividades na escrita e suas personalidades não desabrocharão. A leitura e a escrita devem ser algo que a criança necessite [...] uma necessidade intrínseca deve ser despertada nelas e a escrita deve ser incorporada a uma tarefa necessária e relevante para a vida [...] Dessa forma, uma criança passa a ver a escrita como um momento natural no seu desenvolvimento e não como um treinamento imposto de fora para dentro. (VYGOTSKY, 1994, p. 155-156). Dessa forma, Vygotsky nos alerta para a constituição da escrita como forma legítima de autoria do discurso que, além de registrar a fala, formata ideias, conceitos e concepções, que represen- tam os pensamentos das pessoas. Unidade 2 • Alfabetização e letramento41/249 Nessa perspectiva, compreendemos o re- gistro (da escrita, de símbolos, de mensa- gens pictóricas) como fenômeno cultural- mente mediado, elaborado de acordo com as interações e múltiplos fenômenos socio- culturais. Paulo Freire (1988, p. 11) acolhe tal condi- ção quando indica que “A leitura do mun- do precede a leitura da palavra”, tratando da transcendência do ato de ler e escrever de forma mecânica, para a constituição de compreensões leitoras a partir das vivências pessoais e coletivas. O educador entende que a escola, quando não considera as ex- periências do sujeito, está alheia à cultura, ao saberes e aos contextos verdadeiramen- te relacionados com a vida. Mas o que Paulo Freire indica quando faz essa afirmação? O que é “leitura de mundo”? De qual a maneira o mundo pode ser “lido”? A leitura de mundo diz respeito aos dife- rentes sinais, aos variados significados e às muitas possibilidades linguísticas e contex- tuais presentes em cada grupo social. Para saber mais Sobre as considerações de Paulo Freire a respei- to da “leitura de mundo” e as possibilidades de constituição leitora, sugerimos o livro “A impor- tância do ato de ler”: FREIRE, P. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22. ed. São Paulo: Cor- tez, 1988. 80 p. Unidade 2 • Alfabetização e letramento42/249 A escola, durante muito tempo, classificou a proficiência leitora a partir das habilidades de codificação/decodificação de letras e pa- lavras, sendo que termos como “alfabetiza- dos” e “analfabetos” se construíram diante desse único prisma. Mas, como o educador Paulo Freire nos orienta, a competência leitora e escritora constituem outras vertentes para além da codificação/decodificação, sendo verifica- dos outros contextos leitores, a partir dos significados e funcionalidades presentes em cada relação. A reflexão e encadeamentos em relação às questões sociais constitutivas da leitura e escrita têm fomentado o aprofundamento sobre o significado e as possibilidades do conceito de letramento, que trata da com- petência leitora e escritora a partir de ver- tentes sociais. Nesse mesmo contexto, Vygotsky (1936 apud COLE; SCRIBNER 1991; CASTORINA, 1988) defende o movimento de aprendi- zagem como o resultado das interações do indivíduo com o meio, ou seja, numa rela- ção mediada. Essa relação não se constrói de maneira mecanizada, mas sim de acor- do com as operações mentais que se for- matam a partir das relações com o meio, sendo o indivíduo considerado resultado das suas interações, experiências, história e linguagem. De acordo com Oliveira (1995, p. 26), me- diação é “o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a re- lação deixa então de ser direta e passa a ser Unidade 2 • Alfabetização e letramento43/249 mediada por esse elemento”. Compreen- dem-se por relação direta os processos re- lacionais entre o sujeito e o objeto real, en- quanto que a relação mediada refere-se ao conhecimento através de significantes, ou seja, de recursos que possibilitam a com- preensão do objeto de forma indireta. Nessa perspectiva são considerados dois ti- pos de mediação: • Instrumentais: Técnicas que instru- mentalizam o sujeito em sua atuação sobre o meio • Signos e Palavras: Recursos cogniti- vos/linguísticos que atuam interna- mente no sujeito: pensamento, lin- guagem, memória, palavras, símbolos etc. Unidade 2 • Alfabetização e letramento44/249 2. Alfabetização e Letramento Segundo Soares (2007), o termo alfabeti- zação possui uma base etimológicacujo significado é “levar à aquisição do alfabeto” – ler e escrever. Dessa forma, a alfabetiza- ção tem como função a aquisição do código alfabético, por meio da leitura e da escrita. Como já tratamos no tema anterior, a al- fabetização no Brasil se intensifica após a Proclamação da República e Mortatti (2006) indica que a alfabetização, após a institu- cionalização da escola, se tornou uma fer- ramenta de internalização do conhecimen- to, de progresso e modernização. Para saber mais Silva (1998, p. 23) apresenta a condição histórica prometida na República, perfazendo os interesses e concepções em relação à alfabetização quando escreve: Unidade 2 • Alfabetização e letramento45/249 Com o decorrer dos anos, o campo de alfabetização recebeu muitas contribuições (conceituais, metodológicas, teóricas etc.), mas mesmo num constante crescimento, muitos países, dentre eles o Brasil, tiveram amplas dificuldades no que se refere à qualidade da educação básica, de forma especial, nos anos iniciais do ensino fundamental. Para saber mais Com a República, vinha o anúncio de um novo tempo, um tempo em que os brasileiros podiam falar e serem falados do lugar de cidadão, daquele que tem e exerce direitos e deveres decorrentes de sua condição social e política, de seu estatuto público de homem livre e igual perante as leis (es- critas) de uma sociedade. Ao significar, nos significávamos - analfabetos e alfabetizados -, a partir de então, em relação a um Estado, a uma prática política, a direitos e deveres, a uma qualidade distintiva de indivíduos que vivem em regime contratual, a uma língua nacional, pois todos são iguais perante a lei, está dito na Constituição de 1891”. Unidade 2 • Alfabetização e letramento46/249 A reprovação e evasão escolar foram se configurando de forma intensa e se tornaram indica- dores da baixa qualidade da educação e do fracasso escolar, conforme dados apresentados pelo INEP, sendo que, muitos estudiosos e pesquisadores educacionais, ao se debruçar sobre o assun- to, apontam diversos motivos para o fracasso ao longo do tempo, como: formação do professor, métodos utilizados, políticas públicas, condições sociais, entre outras causas. No contexto atual, um motivo que interfere na qualidade da educação está ligado à especifi- cidade da alfabetização, devido ao entendimento equivocado e generalização das práticas de letramento. Unidade 2 • Alfabetização e letramento47/249 Magda Soares (2003) indica que a expansão do significado de alfabetização em direção ao con- ceito de letramento, levou à perda de sua especificidade. [...] no Brasil a discussão do letramento surge enraizada no conceito de alfabetização, o que tem levado, apesar da diferenciação sempre propos- ta na produção acadêmica, a uma inadequada e inconveniente fusão dos dois processos, com prevalência do conceito de letramento, [...] o que tem conduzido a um certo apagamento da alfabetização que, talvez com algum exagero, denomino desinvenção da alfabetização. (SOARES, 2003, p. 8) Dessa forma, é preciso retomar o verdadeiro significado da alfabetização e compreender o con- ceito de letramento, de maneira que eles não se confundam, mas sim sejam processos integra- dos. Com uma prática educativa que traga um elo entre alfabetização e letramento, que pontue a especificidade de cada contexto, busca-se a melhoria na formação do aluno. O letramento ainda é um termo recente e tem como significado o processo de interação dos sujeitos com a língua escrita. Desta forma, está em desacordo o termo iletrado já que todas as pessoas, de alguma forma, estabelecem relação com o mundo escrito. Porém, se reconhece que Unidade 2 • Alfabetização e letramento48/249 há diversos níveis de letramento, que se di- ferenciam conforme os grupos sociais nos quais os sujeitos estão inseridos. Mas o que significa “trabalho específico com Sistema de Escrita Alfabética inserido em práticas de letramento”? É preciso considerar que as crianças parti- cipam de diversos eventos de letramento antes da alfabetização, ligados a diferentes práticas sociais mediadas pela escrita e a va- riados gêneros textuais. Sendo assim, atividades que envolvam, além da compreensão do funcionamento do nos- so sistema de escrita, a leitura e a produção de textos com autonomia são essenciais na incorporação da leitura e escrita como ele- mento funcional e significativo nas práticas sociais. Para tanto, é preciso que as crianças “(...) vivenciem atividades envolvendo dife- rentes gêneros desde o 1º ano, e que no final do 3º ano possam ler e produzir textos diver- sos com autonomia” (BRASIL, 2012a, p. 15). Para saber mais Soares (2016) indica que o conceito de “letramen- to” se apresenta no discurso de especialistas das áreas de Educação e Linguagem, como Mary Kato (1986), a partir da década de 1980 e trata-se da versão importada do inglês – “literacy”, que se in- terpreta como a habilidade daquele que sabe ler e escrever, numa perspectiva cognitiva, política e sociocultural, ou seja, o letramento se elabora como a potencialidade daqueles que se valem da leitura e da escrita nos mais diversos âmbitos e práticas sociais. Unidade 2 • Alfabetização e letramento49/249 Nessa perspectiva, o documento intitulado Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (2012) nos auxilia a compreender a dinâmica de construção de experiências significativas de lei- tura e escrita quando nos alerta: Alfabetizar crianças, jovens ou adultos é uma tarefa complexa, mas pode, e esperamos que seja, prazerosa. É possível, sim, aprender a escrever e ler por meio de brincadeiras, por meio de reflexão, por meio de um trabalho solidário. Há que se perceber, no entanto, que isso não significa dizer que as aprendizagens são simples ou que são fáceis, ou que não exigem esfor- ço do aprendiz. (BRASIL, 2012a, p.13) Nas palavras de Kleiman e Moraes (1999), com base em Bakhtin (1997), todo texto remete a outro anterior e sempre remeterá a um próximo. Quan- do o professor explora junto a seus alunos os aspectos que constituem cada texto, pode fazer uso da intertextualidade para favorecer o processo de seu entendimento. A leitura de um texto, portanto, se caracteriza por um processo de integração de conhecimentos. (KLEIMAN; MORAES, 1999). Unidade 2 • Alfabetização e letramento50/249 Dessa forma, apresentada a especificidade de cada conceito, é preciso buscar meios para a efetiva conciliação de ambos os pro- cessos, produzindo contextos de aprendiza- gem funcionais e significativos, numa ótica em que a relevância da indissociabilidade e simultaneidade da alfabetização e do letra- mento sejam práticas recorrentes no con- texto escolar. Assim, pleiteamos nesta formação a pos- sibilidade de uma prática pedagógica que os estudiosos e pesquisadores contempo- râneos denominam de “alfabetizar letran- do”, ou seja, um contexto de aprendizagem que oportunize aos alunos a constituição de competências leitoras e escritoras a par- tir de contextos significativos, que estejam conectados aos seus interesses, às suas ne- cessidades e às variáveis presentes em seu cotidiano. Por fim, para encerrarmos este estudo e ini- ciarmos o próximo sobre a Psicogênese da Língua Escrita, indicamos o vídeo “Alfabeti- zação e Letramento: Caminhos e Descami- nhos”. Unidade 2 • Alfabetização e letramento51/249 Glossário Etimológica: De etimologia. Refere-se ao estudo e origem das palavras. Gênero textual: Estruturas padronizadas de oralidade e escrita, de cunho funcional a partir das necessidades e características de cada grupo social. Iletrado: Segundo o dicionário Priberam (2008): 1 - “Que ou quem tem pouca instrução ou pou- cos conhecimentos literários” ≠ LETRADO 2. Que ou quem não sabe ler nem escrever. = ANAL- FABETO Questão reflexão ? para 52/249 Após a leitura do Tema 2, reflita sobre os principais con- ceitos envolvendo a alfabetização e o letramento, de- pois, escreva como tais conceitospodem ser aplicados e realizados na prática pedagógica. 53/249 Considerações Finais • A cultura escrita é constituída por múltiplos contextos em que aspectos so- ciais, políticos, culturais se encadeiam e perfazem o modo de registro de um determinado grupo social. • O analfabetismo é um processo que se perpetua no contexto da educação brasileira. • Os estudos vygotskyanos contribuíram para a formulação dos contextos de letramento, já que entendem a relação mediada como fenômeno de apren- dizagem. • Alfabetização e letramento, embora devessem ocorrer de forma integrada, são processos diferentes. Enquanto o primeiro trata das habilidades de co- dificação/decodificação da leitura e escrita, o segundo trata dos processos sociais, de interação e funcionalidade da língua. Unidade 2 • Alfabetização e letramento54/249 Referências BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997 BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto/Secretaria de Educação do Ensino Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa, vol. 2. Brasília, 1997. _______. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Ano 2, Unidade. 1. -- Brasília: MEC, SEB, 2012a. ________. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: currículo no ciclo de alfabetização: perspectiva para uma educação do campo: educação do campo: unidade 01. -- Brasília: MEC, SEB, 2012b. CASTORINA, J. A. O debate Piaget-Vygotsky: a busca de um critério para sua avaliação. In: CAS- TORINA, J. A., LERNER, E. F. D.; OLIVEIRA, M. K. (Org.).. Piaget-Vygotsky: novas contribuições para o debate. São Paulo: Ática, 1988. p.7-50. COLE, M.; SCRIBNER, S. Introdução. In: VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. FREIRE, P. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22. ed. São Paulo: Cortez, 1988. 80 p. Unidade 2 • Alfabetização e letramento55/249 “Iletrado”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013, <https://www.priberam. pt/dlpo/iletrado. Disponível em https://www.priberam.pt/dlpo/iletrado>. Acesso em 25 set. 2017. KLEIMAN, A.; MORAES, S. Leitura e interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1999. KLEIN, L. R. Alfabetização: quem tem medo de ensinar? 4. ed. São Paulo: Cortez, 2002. MONROE, C. Vygotsky e o conceito de aprendizagem mediada. Revista Nova Escola. 31 ago. 2016. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/274/vygotsky-e-o-conceito-de-aprendiza- gem-mediada>. Acesso em: 25 abr. 2017. MORTATTI, M. R. L. História dos métodos de alfabetização no Brasil. Conferência proferida du- rante o Seminário “Alfabetização e letramento em debate”, promovido pelo Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental da Secretaria de Educação Básica do Mi- nistério da Educação. Brasília: 27 abr. 2006. Disponível em: <http://smec.salvador.ba.gov.br/site/ documentos/espaco-virtual/espaco-alfabetizar-letrar/lecto-escrita/artigos/historia%20dos%20 metodos%20de%20alfabetizacao%20no%20brasil.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2017. OLIVEIRA, M. K. et al. Pensar a educação: contribuições de Vygotsky. In: CASTORINA, J. A., LERNER, E. F. D.; OLIVEIRA, M. K. (Org.) Piaget – Vygotsky: novas contribuições para o debate. 6. ed. São Paulo. Editora Ática, 1988. https://www.priberam.pt/dlpo/iletrado https://www.priberam.pt/dlpo/iletrado https://www.priberam.pt/dlpo/iletrado https://novaescola.org.br/conteudo/274/vygotsky-e-o-conceito-de-aprendizagem-mediada https://novaescola.org.br/conteudo/274/vygotsky-e-o-conceito-de-aprendizagem-mediada http://smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-alfabetizar-letrar/lecto-escrita/artigos/historia%20dos%20metodos%20de%20alfabetizacao%20no%20brasil.pdf http://smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-alfabetizar-letrar/lecto-escrita/artigos/historia%20dos%20metodos%20de%20alfabetizacao%20no%20brasil.pdf http://smec.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espaco-alfabetizar-letrar/lecto-escrita/artigos/historia%20dos%20metodos%20de%20alfabetizacao%20no%20brasil.pdf Unidade 2 • Alfabetização e letramento56/249 QEDU. Taxas de rendimento. Fundação Lemann e Meritt, 2012. Disponível em: <http://www. qedu.org.br/brasil/taxas-rendimento>. Acesso em: 20 jul. 2017. SILVA, M.V. História da alfabetização no Brasil: a constituição de sentidos e do sujeito da escola- rização,1998.Tese (Doutorado) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. Disponível em: <http/www.capes.br>. Acesso em: 25 set. 2017. SOARES, M. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Trabalho apresentado na 26° Reu- nião Anual da ANPED, Minas Gerais, 2003. ______. Alfabetização e letramento. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2007. ______. Letramento: um tema em três gêneros. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2016. UNIVESP. O desafio do analfabetismo no Brasil. Entrevista com A Profa Dra Silvia M. Gasparian Colello. 16’57”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=B1PQDJ5xeR0>. Acesso em: 23 maio 2017. VYGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994. http://www.qedu.org.br/brasil/taxas-rendimento http://www.qedu.org.br/brasil/taxas-rendimento http://www.capes.br/ https://www.youtube.com/watch?v=B1PQDJ5xeR0 57/249 1. O aprofundamento teórico sobre a aquisição de contextos leitores e escri- tores vem modificando a ideia de que a alfabetização seja realizada através de um único processo, com princípios de caráter normativo. Indicam que tais processos, embora distintos, devem ser articulados e complementares. São eles: a) Ortografia e Acentuação. b) Alfabetização e Letramento. c) Construtivismo e Métodos tradicionais. d) Didática e Metodologia de Pesquisa. e) Formação pedagógica e práxis educativa. Questão 1 58/249 2. “[...] um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos” (BRASIL, 1997, p. 21). Questão 2 De acordo com a concepção de letramento, analise as assertivas abaixo: I - As características específicas de cada região ou grupo social devem ser consideradas no mo- mento de planejamento das vivências escolares. II – É dever que a escola trate da linguagem formal, porém sem desmerecer os contextos culturais que a criança traz de casa. III - Para deter a competência leitora, faz-se necessário somente conhecer as palavras e as regras que regem a combinação das mesmas. 59/249 Questão 2 As afirmações corretas estão em: a) I, apenas; b) I, II e III; c) II e III, apenas; d) I e II, apenas; e) II apenas. 60/249 3. Marque a alternativa correta em relação ao letramento: Questão 3 a) Para o desenvolvimento das práticas de letramento, não é preciso o trabalho com a função social da escrita. b) O letramento deve ser trabalhado somente nos anos iniciais, que corresponde ao período de alfabetização. c) Para a formação de sujeitos letrados, ao professor cabe utilizar textos diversificados, que possibilitem a reflexão sobre a função social da escrita. d) Nos contextos de letramento só podemos considerar as aprendizagens de cultura escolar. e) Os gêneros textuais, como notícia, lista, carta devem ser trabalhados fora do contexto social. 61/249 4. Na alfabetização, é necessário que o docente promova algumas formas de envolvimento do aluno em relação à internalização dos processos de escrita, tais como: Questão 4 I. A partir do momento em que a criança já ler e escrever convencionalmente, possibilitar um am- biente letrado, no qual as vivências leitoras e escritoras estejam presentes. II. Levar em consideração as experiências e conhecimentos já internalizados pela criança. III. Se valer de textos significativos, favorecendo a construção de interesses, num contexto praze- roso de aprendizagem.IV. Aplicar exercícios de interpretação a partir de diferentes textos didáticos, exclusivamente. V. Favorecer momentos de leitura e escrita como forma de interação e funcionalidades como: emocionar, instruir, informar etc. 62/249 Questão 4 Estão corretas apenas as alternativas: a) I, II e V. b) II e IV. c) I, II, III e IV. d) I, III e V. e) II, III e V. 63/249 5. O processo de desenvolvimento das competências leitora e escritora não ocorre de forma espontânea, ao contrário, elas precisam ser ensinadas sis- tematicamente, desde os anos iniciais. Os elementos necessários para a in- ternalização da leitura e escrita são: Questão 5 a) Valorização e trabalho com a oralidade; fomento à cultura escrita; construção da lecto-es- crita; leitura e produção de textos significativos. b) Trabalho com regras gramaticais; novas tecnologias; textos que se sabe de cor; vivências com gêneros textuais. c) Negação da cultura escrita; apropriação do sistema de escrita; leitura compartilhada e de- senvolvimento da oralidade. d) Compreensão e valorização da cultura escrita; trabalho com regras gramaticais; produção de textos escritos e descarte da oralidade. e) Novas tecnologias; desvalorização da oralidade; treino ortográfico; construção da lecto-es- crita. 64/249 Gabarito 1. Resposta: B. Alfabetização e letramento são processos distintos, porém complementares. Tratam da aquisição de habilidades sobre o sistema de escrita, para além de um caráter formati- vo, considerando os contextos de interação do sujeito com o meio. 2. Resposta: D. A partir do letramento, a variedade linguís- tica e demais características devem ser con- sideradas, sendo a escola responsável pelo fomento à linguagem formal/culta, mas sempre levando em conta os contextos cul- turais das crianças. 3. Resposta: C. A utilização de textos diversificados pelo professor possibilita a construção e análise da escrita, favorecendo a articulação com a função social da mesma. 4. Resposta: E. O docente, quando considera as experiên- cias e conhecimentos do aluno, valendo- -se de texto significativos e funcionais (de emocionar, instruir, informar...) favorece a aprendizagem da escrita. 5. Resposta: A. Os elementos necessários para a internali- zação da leitura e escrita são: Valorização e 65/249 Gabarito trabalho com a oralidade; fomento à cultura escrita; construção da lecto-escrita; leitura e produção de textos significativos. 66/249 Unidade 3 A Psicogênese da Língua Escrita Objetivos 1. Compreender a funcionalidade da es- crita para além da associação fone- ma/grafema, mas sim como processo de construção de representação da linguagem; 2. Identificar as etapas descritas por Emília Ferreiro, ancoradas na teoria da Psicogênese da Língua Escrita; 3. Compreender o conceito de alfabeti- zação na perspectiva da Psicogênese da Língua Escrita. Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita67/249 Introdução Neste estudo, teremos como foco a discus- são sobre alfabetização numa perspectiva centrada naquele que aprende. Diferente- mente de convicções educacionais predomi- nantes até alguns anos atrás, em que a dis- cussão sobre alfabetização estava ancorada no método de ensino, a proposta de reflexão aqui trata do deslocamento da discussão so- bre o método para como o aluno aprende. Nesta linha, a teoria psicogenética (que possui como principais representantes Jean Piaget, Lev Vygotsky e Henri Wallon) se con- solida em contraposição ao método tradi- cional sobre a internalização da linguagem, tratando de outros aspectos até então não considerados ou valorizados. Na perspec- tiva da psicogenética, a criança tem como princípio compreender a natureza da lin- guagem, suas regulações e possibilidades, ou seja, segundo Ferreiro e Teberosky (1999, p. 24), “formula hipóteses, busca regulari- dades, coloca à prova suas antecipações e cria sua própria gramática (que não é sim- ples cópia deformada do modelo adulto, mas sim criação original)”. Instaura-se aqui uma criança que, por si mesma, reconstrói sua linguagem, internalizando as informa- ções advindas do meio, a partir da relação com este, com seus pares e a partir da re- construção de experiências – a Psicogênese da Língua Escrita. Sendo assim, sob a ótica desta teoria, re- alizaremos nossas reflexões, tratando das condições exploradas até então sobre a al- fabetização. Bom estudo! Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita68/249 1. A Psicogênese da Língua Es- crita: Contribuições Teóricas de Emília Ferreiro e Ana Teberosky No período anterior à década de 1980 e à inserção do construtivismo no contexto educacional brasileiro, as práticas docentes alfabetizadoras eram, em sua maioria, ba- seadas na memorização e no exercício de corresponder sons e letras. A alfabetização, num âmbito geral (somente com algumas vertentes que se contrapunham a esse mo- delo), se apresentava como simples siste- matização da junção de letras (F + A = FA), ou seja, como aquisição de um código rela- cional de fonemas e grafemas. Como já mencionado anteriormente, na década de 1980 percebe-se um importan- te movimento de reestruturação das con- cepções relativas aos processos de alfabe- tização. Tal reestruturação se concebe a partir da crítica e progressivo desinteresse por parte de educadores e estudiosos em relação aos processos de ensino embasados em méto- dos (sintéticos, analíticos e mistos), carac- terizando o que se chamou de “desmeto- dização da alfabetização”, ou seja, a busca por alternativas diversas daquelas até en- tão existentes. Nesse contexto são apresentadas publica- ções, pesquisas, discussões e estudos sobre a teoria construtivista de Jean Piaget, as te- orias sociointeracionistas de Lev Vygotsky Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita69/249 e Henri Wallon, e as pesquisas de Emília Ferreiro e Ana Teberosky sobre a Psicogênese da Língua Escrita. Estes estudiosos defendem que o conhecimento não está no sujeito (perspectiva racionalista) e nem no objeto (perspectiva empirista), mas sim na interação dos sujeitos com os objetos (pers- pectiva interacionista), em que os dois elementos da relação se transformam. Desta forma, a internalização de conhecimentos está relacionada com as estruturas cognitivas do indivíduo e das interações realizadas com o meio. Para que possamos compreender melhor as práticas de linguagem, em um contexto sociointeracionista, sugerimos a leitura do artigo “Concepção sociointeracionista de linguagem: percurso histórico e contri- buições para um novo olhar sobre o texto” de Sueli Gedoz e Terezinha da Conceição Costa-Hubes. GEDOZ, S.; COSTA-HUBES, T. Concepção sociointeracionista de linguagem: percurso histórico e contri- buições para um novo olhar sobre o texto. Revista Trama, v. 8, n. 16, p. 125-138, 2012. Para saber mais Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita70/249 Para saber mais Ao longo da história, diferentes teorias procuraram explicar os conceitos e fundamentos da humanidade. Tais estudos se baseiam em concepções construídas de acordo com a história, o local, os contextos e os grupos sociais. Entre eles, destacamos: Empirismo – Refere-se a um posicionamento filosófico que tem a experiência sensorial (dos sentidos) como base do conhecimento que, só terá validade se comprovado através da experiência. Nesse contexto, a priori, a criança não detém conhecimentos, sendo que o apren- dido vem dos diversos estímulos externos com os quais deve entrar em contato. O papel do professor é transmitir o saber. Racionalismo – o conhecimento não provém da experiência, mas sim por meio das ideias e da análise racional. Parte do pressuposto de que as características, modos de pensar, aptidões etc., são elementos já pertencentes ao indivíduo (condição inata), sendo despertados ou potencializados pela razão, a partir de sua maturação biológica (prontidão – estar pronto para), como resultado da capa- cidade interna da criança, sendo valorizados os contextosde meritocracia e incentivo aos conhecimentos já existentes. Interacionismo – Nesta perspectiva, busca-se compreender os fenômenos para além do olhar empirista e racionalista. Compreende a aquisição do conhecimento por meio da interação entre o objeto e o meio, sendo que tais elementos, embora distintos, não sejam passíveis de separação ou sejam considerados isoladamente. O aluno é o sujeito de sua aprendizagem, na interação com o meio. Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita71/249 Com os estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, a escrita recebe um novo significado – passa a ser encarada como um sistema de representação. Tais estudos demonstram o percurso que as crianças realizam no aprendizado da língua, sendo definido pelas estudiosas como a gênese (origem) ou psicogênese da aprendizagem da escrita, que, por sua vez, foi estruturada a partir da epistemologia genética de Jean Piaget (1988). Esta trajetória pode ser vista no material “Psicogênese da Língua Escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização”, de MENDONÇA & MENDONÇA (2011), de, que indicamos no link abaixo: MENDONÇA, Onaide Schwartz; MENDONÇA, Olympio Correa de. Psicogênese da Língua Escrita: con- tribuições, equívocos e consequências para a alfabetização. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULIS- TA. Pró-Reitoria de Graduação. Caderno de formação: formação de professores: Bloco 02: Didática dos conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. v. 2. p. 36-57. Para saber mais Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita72/249 Para Magda Soares (2003), a perspectiva construtivista proporcionou diversas e relevantes con- tribuições para a fundamentação e prática alfabetizadora: [...] Alterou profundamente a concepção do processo de construção da representa- ção da língua escrita, pela criança, que deixa de ser considerada como dependente de estímulos externos para aprender o sistema de escrita, concepção presente nos métodos de alfabetização até então em uso, hoje designados tradicionais, e passa a sujeito ativo capaz de progressivamente (re)construir esse sistema de representação, interagindo com a língua escrita em seus usos e práticas sociais, isto é, interagindo com material para ler, não com material artificialmente produzido para aprender a ler; os chamados para a aprendizagem pré-requisitos da escrita, que caracteriza- riam a criança pronta ou madura para ser alfabetizada - pressuposto dos métodos tradicionais de alfabetização - são negados por uma visão interacionista, que rejeita uma ordem hierárquica de habilidades, afirmando que a aprendizagem se dá por uma progressiva construção do conhecimento, na relação da criança com o objeto língua escrita; as dificuldades da criança, no processo de construção do sistema de representação que é a língua escrita – consideradas deficiências ou disfunções, na perspectiva dos métodos tradicionais - passam a ser vistas como erros construtivos, resultado de constantes reestruturações. (SOARES, 2003, p. 89) Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita73/249 Na Psicogênese da Língua Escrita, o apren- dizado da escrita não se reduz à habilidade de corresponder fonemas e grafemas, mas sim de tratar da condição processual de construção e reconstrução de hipóteses so- bre o funcionamento do código escrito. A valorização de tais condições reflexivas sobre a criança se pautam na concepção de que a mesma possui um papel social cen- tral. Kramer (1992) tem evidenciado em seus estudos e pesquisas uma concepção de infância que valoriza a imaginação e fan- tasias, compreendendo que as crianças são produtoras de cultura, sentindo e pensando o mundo de um jeito próprio. Defende que, nas interações estabelecidas desde a mais tenra idade com o mundo ao seu redor, as crianças procuram compreendê-lo através das brincadeiras. Assim, a aprendizagem da criança perfaz a integração entre os aspec- tos físicos, cognitivos e afetivos, conside- rando ser ela um ser completo e integral. A alfabetização, numa visão construtivis- ta, é entendida como um processo de ela- boração conceitual, que tem início antes da criança ingressar no contexto escolar e que se constitui concomitantemente fora e den- tro da escola após sua inserção neste am- biente. Sendo assim, para Cagliari (2010, p. 61), “o aprendiz, como um ser racional, vai juntando conhecimentos adquiridos pela vida toda, a partir do momento em que nas- ce. Para isso, usa sua capacidade de refletir sobre todas as coisas.” Alfabetizar é proporcionar que as crianças construam seus conhecimentos, sendo que, Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita74/249 para ensinar a leitura e escrita é preciso compreender que os sujeitos vão tratar de dois proces- sos que caminham juntos: as características da escrita e o uso funcional da linguagem. 2. Os Níveis de Escrita Segundo a Psicogênese da Língua Escrita Para Ferreiro (2001), a criança, num contexto educacional tradicional, não é vista como um sujei- to que possui conhecimentos provenientes de suas experiências e interações, sendo que nestas condições, [...] temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumen- to para marcar e um aparelho fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu. (FERREIRO, 2001 p.41) Ao contrário, Ferreiro (2001) compreende a constituição da leitura e escrita sob o aspecto cole- tivo, ou seja, as relações favorecem a construção de significados, sendo que “a escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade (FER- Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita75/249 REIRO, 2001). Nesse sentido, outros documentos edu- cacionais, como a Orientação Normativa 01/2013, tratam da condição marginal das crianças em relação aos contextos de par- ticipação social em que, por muito tempo as crianças foram vistas como coadjuvan- tes na sociedade, incapazes e incompletas; tratando-se, nesse momento, de uma nova perspectiva que “defende-se uma concep- ção de criança contextualizada em sua con- cretude de existência social, cultural e his- tórica, participante da sociedade e da cul- tura de seu tempo e espaço, modificando e sendo modificada por elas” (SÃO PAULO, 2013, p.13). A partir desse olhar, o conhecimento se ela- bora considerando a complexidade de sua aquisição (diversas vertentes, contextos, percursos), sendo que a ideia de se apren- der as vogais A-E-I-O-U ou as consoantes, ou as sílabas rigorosamente na mesma or- dem não tratam de tal complexidade. Dessa forma, buscamos novamente em Ferreiro e Teberosky (1999), a construção de hipóte- ses como um processo de avanços e retro- cessos, encadeamentos de ideias, transi- ção. Para as autoras, as crianças constroem conhecimentos sobre a leitura e a escrita, percorrendo diversas hipóteses – provisó- rias e espontâneas – até o momento em que se apropriam da língua escrita. Essas hipó- teses, sustentadas pelos conhecimentos já internalizados pelas crianças por meio de suas assimilações, se consolidam a partir das interações com as outras pessoas e por Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita76/249 meio dos exemplos de escrita que estão ao seu alcance, conforme seu grupo social. Segundo a Psicogênese da Língua Escrita (1999), no processo de aquisição da língua escrita, a criança percorre níveis estruturais de compreensão do sistema alfabético até o momento em que se apropria da comple- xidade do mesmo. Esses níveis são identi- ficados como: pré-silábico, silábico, silábi- co-alfabético e alfabético, sendo formados por esquemas conceituais diferentes das informações reproduzidas do ambiente, numa incorporação de parte dos elemen- tos oferecidos pelo meio em consonância com as formulações cognitivas elaboradas pelas crianças. A passagem de um nível para o outro é gradual e tem comoprin- cipal incentivo as intervenções realizadas pelo professor. O professor precisa considerar que mais do que intervir diretamente sobre o erro “mo- mentâneo” da criança é preciso fomentar possibilidades para que a criança perceba que está em erro acerca da hipótese. Deve- -se criar estratégias para que a criança re- flita sobre o erro, oferecendo-lhe diferentes portadores textuais, como leitura de livros, gibis, revistas, jornais, indo à biblioteca, ob- Para saber mais Segundo Piaget, a assimilação é um conceito re- ferente a uma parte do processo de adaptação do indivíduo, em que o mesmo tem a capacidade de captar novas informações e incorporá-las aos co- nhecimentos já existentes. Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita77/249 servando como se escreve. Nessa perspectiva, o erro é considera- do como uma etapa para chegar ao acer- to. Num contexto de criação de hipóteses, o erro favorece o pensar sobre o objeto de conhecimento, fazendo com que a criança, a partir de intervenções pedagógicas sig- nificativas, revise, questione e perceba que algo precisa ser revisto. Sendo assim, é importante que nos debru- cemos sobre cada um desses níveis a fim de compreender os processos de aquisição da língua escrita. Para tanto, apresentare- mos cada um deles, sua conceituação e um exemplo da escrita correspondente. NÍVEL PRÉ-SILÁBICO: A criança ainda não entende a natureza do sistema alfabético, sendo que realiza a sua escrita a partir das seguintes representações: REPRESENTAÇÃO ICÔNICA: a criança se ex- pressa utilizando desenhos. Para ela, escre- ver e desenhar referem-se à mesma ação. Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita78/249 Figura 1 – Nível Pré-Silábico Fonte: <http://www.plataformadoletramento.org.br/hotsite/aprendizado-inicial-da-escrita/#>. No traçado de Luana, podemos perceber a condição similar entre o desenho e a escrita de Luana. REPRESENTAÇÃO NÃO ICÔNICA: Utiliza desenhos e garatujas. Embora ainda não reconheça as letras, já percebe que há diferença entre o desenho e a escrita. http://www.plataformadoletramento.org.br/hotsite/aprendizado-inicial-da-escrita/# Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita79/249 Figura 2 – Representação não-icônica Fonte: Ferreiro (2001). Neste exemplo, é demonstrada a diferenciação que a criança já é capaz de fazer entre o desenho e o que considera escrita. LETRAS ALEATÓRIAS: já detém a forma de algumas letras e, por vezes, utiliza as mesmas aleato- riamente. Neste período é comum a ideia de que para escrever é preciso muitas letras. Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita80/249 Figura 3 – Letras aleatórias Fonte: <http://www.plataformadoletramento.org.br/hotsite/aprendizado-inicial-da-escrita/#>. No caso aqui elucidado, podemos perceber a utilização de letras aleatoriamente. REALISMO NOMINAL: A criança pode ter como hipótese que os nomes das pessoas e objetos têm relação com o seu tamanho. http://www.plataformadoletramento.org.br/hotsite/aprendizado-inicial-da-escrita/ Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita81/249 Figura 4 – Realismo Nominal Fonte: <http://www.plataformadoletramento.org.br/hotsite/aprendizado-inicial-da-escrita/#>. Neste exemplo: LEÃO, para a criança, necessita de muitas letras para escrever, pois o animal é grande. A palavra JOANINHA deve possuir poucas letras, pois o animal é pequeno. A superação do realismo nominal se apresenta no final do nível pré-silábico. http://www.plataformadoletramento.org.br/hotsite/aprendizado-inicial-da-escrita/# Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita82/249 ESCRITA SILÁBICA: Nesta fase, a criança tem como hipótese a ideia de que a escrita representa a fala, tentando dar valor sonoro para cada letra. Cada sílaba passa a ser representada por uma letra, por vezes, com valor sonoro, por vezes, sem. Nas frases, pode escrever uma letra que cor- responda a cada palavra e já começa a desvincular o objeto da escrita. ESCRITA SILÁBICA SEM VALOR SONORO: escreve uma letra para representar uma sílaba, sem preocupação com o valor sonoro. No exemplo a seguir, a hipótese refere-se à palavra BAILARINA. Figura 5 – Escrita silábica sem valor sonoro Fonte: <http://www.plataformadoletramento.org.br>. http://www.plataformadoletramento.org.br Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita83/249 Nesta escrita, cada fonema é representado por uma letra. ESCRITA SILÁBICA COM VALOR SONORO: Utiliza uma letra, por vezes duas, para representar uma sílaba, considerando o som da sílaba. Pode utilizar vogal ou consoante. A hipótese refere-se a palavra BAILARINA. Figura 6 – Escrita silábica com valor sonoro Fonte: <http://www.plataformadoletramento.org.br>. Nesta escrita, inicia-se a correspondência entre fonemas e grafemas. http://www.plataformadoletramento.org.br Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita84/249 ESCRITA SILÁBICO-ALFABÉTICA: Num período de transição, a criança se vale de uma escrita que pode possuir sílabas completas ou incompletas, ou seja, vai alternando entre escrita silábica e alfabética. A hipótese refere-se a palavra BAILARINA. Figura 7 – Escrita silábico-alfabética Fonte: <http://www.plataformadoletramento.org.br>. Transição entre a utilização de letras para a constituição de sílabas. http://www.plataformadoletramento.org.br Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita85/249 ESCRITA ALFABÉTICA: Nesta fase, a criança consegue corresponder fonemas (som) e grafemas (letras), compreendendo que as letras podem ser organizadas para a formação de palavras. Ge- ralmente, escreve como se expressa, ou seja, entende a escrita como transcrição do que se fala, sem considerar os elementos ortográficos. Figura 8 – Escrita alfabética Fonte: <http://www.plataformadoletramento.org.br>. Utilização de letras combinadas na formação de palavras. http://www.plataformadoletramento.org.br Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita86/249 Figura 9 – Escrita Alfabética Fonte: <http://www.plataformadoletramento.org.br>. http://www.plataformadoletramento.org.br Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita87/249 Utilização de letras combinadas na forma- ção de palavras e pequenos textos. Sendo assim, podemos concluir que os es- tudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky fo- ram uma grande contribuição para a com- posição de novos olhares sobre a aprendi- zagem da leitura e escrita. Concluímos, neste tema, a relevância dos processos de alfabetização e letramento na constituição das competências leitoras e escritoras das crianças, levando em consi- deração três aspectos destacados por Mag- da Soares: o desenvolvimento psicogenéti- co (capacidade do sujeito de refletir, inferir e supor sobre a construção de um sistema de representação), a consciência fonológi- ca (ouvir e representar os sons pelas letras) e o conhecimento das letras (baseados nos fundamentos linguísticos e sociolinguísti- cos, tratando das variedades e identidades linguísticas). Para cada um destes elemen- tos, são constituídos práticas e recursos di- dáticos que podem favorecer seu aprendi- zado. Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita88/249 Quadro 1 - Principais características e funcionalidades da alfabetização e do letramen- to, bem como possibilidades didáticas em relação às suas aprendizagens Fonte: <http://alfaletrar.org.br/aprendizagem-inicial-da-escrita>. http://alfaletrar.org.br/aprendizagem-inicial-da-escrita Unidade 3 • A Psicogênese da Língua Escrita89/249 Encerramos este tema com a contribuição inserida na Orientação Normativa nº 01, de dezembro de 2013, que defende a “criança contextualizada em sua concretude de exis- tência social, cultural e histórica, participan- te da sociedade e da cultura de seu tempo e espaço, modificando e sendo modificada por elas” (SÃO PAULO, 2013, p. 13) e ainda suge- rimos, a fim de complementar o nosso estu- do, o vídeo “Psicogênese da Língua Escrita”. Para saber mais Projeto Alfaletrar/CENPEC – “O Alfaletrar nasceu em 2007, da parceria entre a professora emé- rita da Faculdade de
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