Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
São chamados diuréticos os fármacos que, atuando sobre os rins, induzem o aumento do volume de urina. São utilizados na terapêutica como um dos meios de evi- tar ou remover o excesso de água e de produtos tóxicos dos tecidos e da circulação, especialmente nos edemas, inclusive naqueles provocados pelas nefropatias. Em mui- tas moléstias, a quantidade dos ions Na+ e c1- reabsorvidos nos túbulos renais é anormalmente elevada, causando o transporte da água do filtrado para o sangue capilar, o aumento da volemia e a expansão do líquido extravascular, provocando o edema. As principais causas do edema são: a) Insuficiência cardíaca congestiva: a diminuição da ca- pacidade do coração, insuficiente para manter o débi- to cardíaco adequado, faz com que o rim responda como se houvesse a redução na volemia. O órgão, in- tegrante do mecanismo compensatório, retém mais cloreto de sódio e água como meio de aumentar a volemia, aumentando a quantidade de sangue que retorna ao coração. Entretanto, o coração alterado não pode aumentar a sua capacidade de trabalho, repre- sentada pelo volume de sangue ejetado em cada sístole, provocando o edema. b) Ascite hepática: a ascite é o acúmulo de líquido no in- terior da cavidade abdominal, em conseqüência da cir- rose hepática. Normalmente, na cirrose, ocorre a obs- trução do fluxo de sangue no sistema porta, com con- seqüente aumento na pressão portal. Além disso, a pressão osmótica coloidal do sangue está diminuída como resultado do decréscimo da síntese de proteínas plasmáticas pelo fígado lesado. Assim, o aumento da pressão portal e a baixa osmolaridade do sangue pro- movem a saída de líquido vascular e seu depósito no abdome. A retenção de líquido é também conseqüên- cia da elevação dos níveis de aldosterona circulante, decorrente da diminuição da capacidade do fígado para inativar os hormônios esteroidais. Nessa situação, ocor- re aumento na reabsorção do sódio e da água e exa- cerbação no acúmulo de líquido. c) Síndrome nefrótica: em situações patológicas diversas, as membranas glomerulares permitem a passagem de proteínas para o ultrafiltrado glomerular. A diminui- ção da concentração protéica no plasma reduz a sua Fármacos diuréticos pressão osmótica, provocando o edema. Já o baixo vo- lume plasmático estimula a secreção de aldosterona pelo sistema renina-angiotensina II-aldosterona, com retenção de Na+ e líquido, favorecendo ainda mais o edema, pela perfusão de líquido através das fendas das células endoteliais dos capilares. d) Edema pré-menstrual: o edema associado à menstrua- ção é conseqüência da alteração do balanço de hor- mônios, como o excesso de estrogênio, que facilita a passagem de líquido para o espaço extracelular. Os fármacos diuréticos são também utilizados, iso- ladamente ou em associações terapêuticas, no tratamen- to de diversas patologias, incluindo o controle dos esta- dos hipertensivos, da hipercalemia (níveis séricos de po- tássio aumentados), do diabete e do glaucoma. Os fárma- cos diuréticos são também utilizados para alterar o pH da urina e, com isso, modificar a excreção de compostos xenobióticos (ácidos ou bases orgânicas fracas). A principal função dos rins é a excreção dos chama- dos "produtos de desgaste", como a uréia, a creatinina e o ácido úrico, entre outros. Durante o desempenho dessa função, os rins executam outra, de igual importância, a regulação do conteúdo de eletrólitos e do volume do lí- quido extracelular. Os fármacos diuréticos são inibidores do transporte iônico, diminuindo a reabsorção de Na+ em diferentes locais do néfron. Como conseqüência, o Na+, o c1- e ou- tros íons permanecem no filtrado em concentrações maiores do que aquelas consideradas fisiologicamente nor- mais, causando o aumento do volume de água no local para manter o equilíbrio osmótico. A eficácia dos diferen- tes grupos de fármacos diuréticos está relacionada, fun- damentalmente, com o aumento na secreção de Na+, os- cilando desde 2o/o, para os menos potentes, como os pou- padores de potássio, até mais de 20%, para os diuréticos de alça. CARACTERÍSTICAS MACROANATÔMICAS E FUNCIONAIS DO NÉFRON As unidades funcionais dos rins são os néfrons, sen- do cada rim constituído de, aproximadamente, um mi- 194 Lourival Larini lhão de néfrons. O néfron é formado por um glomérulo e seu túbulo renal. O glomérulo é urna rede capilar em for- ma de novelo que emerge de urna arteríola aferente. Os capilares glornerulares são revestidos pela cápsula de Bowrnan. A partir da cápsula de Bowrnan, o néfron é cons- tituído dos seguintes segmentos: o túbulo contorcido (ou convoluto) proximal; a alça de Henle, com um ramo des- cendente fino e um ramo ascendente grosso; o túbulo contorcido (ou convoluto) distal; os túbulos conectores, ou coletores; e os dutos coletores (cortical medular exter- no e medular interno). Esses elementos estão representa- dos na Figura 9 .1. O sangue chega a cada um dos rins pela artéria re- nal, que se ramifica nas artérias interlobulares, artérias arqueadas e, em seguida, nas artérias radiais corticais. Os menores ramos arteriais se subdividem no primeiro gru- po de arteríolas, as arteríolas aferentes. ( @ 3 FIGURA 9.1 Representação esquemática dos segmentos do néfron. 1) Cápsula de Bowman; 2) túbulo contorcido proximal; 3) túbulo reto proximal; 4) ramo descendente fino; 5) ramo ascendente; 6) mácula densa; 7) túbulo contorcido distal; 8) túbulo conector; 9) duto coletor; 1 O) excreção da urina. As arteríolas aferentes levam o sangue para a primeira rede capilar, os capilares glornerulares, que correspondem ao território onde ocorre a ultrafiltração. O sangue sai dos capilares glornerulares através das arteríolas eferentes, que o conduzem para os capilares peritubulares que circundam os néfrons. Dos capilares peritubulares, o sangue flui para pequenas veias que o drenam para a veia renal. O suprimento sangüíneo para os néfrons corticais superficiais difere daquele que serve os néfrons justa- rnedulares. Nos néfrons superficiais, os capilares peritu- bulares se ramificam a partir das arteríolas eferentes, le- vando nutrientes para as células epiteliais tubulares. Es- ses capilares também atuam corno suprimento sangüíneo para a reabsorção e para a secreção. Nos néfrons justa- rnedulares, os capilares peritubulares apresentam urna es- trutura especializada, a vasa recta, ou vasos retos, que são longos vasos sangüíneos em forma de grampo, em U, com trajeto semelhante ao da alça de Henle. O sangue proveniente dos capilares é filtrado meca- nicamente nos glomérulos, passando a água e os crista- lóides do plasma, com retenção de proteínas e de outras substâncias essenciais. O volume filtrado médio diário é de 180 litros, o que corresponde a urna filtração glornerular de 125 mililitros por minuto (125 rnL x 60 minutos x 24 horas = 180.000 rnL). O líquido é lançado dos capilares para dentro da cápsula tubular (cápsula de Bowrnan) pela força hidrodinâmica, atravessando as três camadas que compõem o filtro: o endotélio capilar, a membrana basal e a camada de células epiteliais da cápsula (ver Figura 9.2). O filtrado glornerular, denominado ultrafiltrado, é constituído por componentes sangüíneos com peso mole- cular inferior a 20.000 e não ligados às proteínas plasmá- ticas. A albumina plasmática apresenta um peso molecular de aproximadamente 68.000. , E óbvio que o organismo humano não pode perder 125 rnL de água com substâncias essenciais a cada minu- to. Em condições normais, a reabsorção tubular é de 178,5 L ao dia, e a excreção de urina, de 1,5 L ao dia. Portanto, quando o ultrafiltrado entra no túbulo contorcido pro- ximal, é iniciado o processo de reabsorção dessas subs- tâncias essenciais, juntamente com a água, por meio de um mecanismo de transporte celular, ativo e passivo. O transporte ativo é responsável pela reabsorção da glicose, dos aminoácidos e dos sais no túbulo contorcido proximal, pela reabsorção de cloreto no ramo ascendenteda alça de Henle e pela reabsorção do sódio no túbulo contorci- do distal. A reabsorção passiva da água ocorre em todas as regiões do néfron, com exceção do ramo ascendente da alça de Henle, cujas paredes são impermeáveis à água. A reabsorção passiva do sódio acompanha o transporte ativo do cloreto no ramo ascendente da alça de Henle. Nos capilares glornerulares, existe urna pressão de cerca de 25 rnrnHg, que favorece a saída do líquido do interior dos capilares para o interior da cápsula de Bowrnan, processo que constitui o primeiro passo na for- Plasma Janela Membrana de base Células Células endoteliais epiteliais ... • • -. - . • • Fíltrado Poro (glomérulo) FIGURA 9.2 Processo de filtração glomerular. mação da urina, a denominada urina primária, ou ultra- filtrado, que será, subseqüentemente, modificada na sua composição ao longo dos túbulos renais até a produção da urina final, que será excretada. A água e muitos solutos (sódio, cloreto, bicarbona- to, aminoácidos, glicose, uréia, fosfato, cálcio, magnésio, lactato e citrato) são reabsorvidos, a partir do filtrado glomerular, para o sangue capilar peritubular. Por sua vez, algumas substâncias presentes no sangue capilar peritu- bular, como o potássio, os ácidos orgânicos e as bases or- gânicas, são secretadas para o líquido tubular. Em condições normais, de 70 a 750/o do volume do filtrado é novamente absorvido para o sangue no túbulo contorcido proximal sem qualquer modificação na con- centração osmótica de sódio, nem da pressão osmótica do líquido tubular restante. Também em condições normais, de 60 a 70°/o (mé- dia de 67º/o) do sódio presente no filtrado é reabsorvido passivamente no túbulo convoluto proximal, acompanha- do de outros solutos através de um sistema de co-trans- porte (ver Figura 9.3). Após a passagem através do túbulo proximal, o vo- lume restante do filtrado (25 a 30%), ainda isosmótico, penetra na alça de Henle, que desempenha importa.nte papel na regulação da osmolaridade da urina e, conse- qüentemente, na regulação do equilíbrio osmótico do or- • ganISmo. Na+= 67o/o K+ = 67°/o Fármacos e medicamentos 195 ~ o o N 11 li + ro z Na+= 5% K+ = Ajuste final Excreção do Na+ < 1,0°/o FIGURA 9.3 Locais de reabsorção do sódio e do potássio no néfron. No segmento espesso do ramo ascendente, ocorre a reabsorção ativa do cloreto de sódio, que não é acompa- nhado pela água, reduzindo, assim, a osmolaridade do líquido tubular. O Na+ e o Cl-penetram na célula por um sistema de co-transporte, acionado pelo gradiente eletro- químico para o Na+, produzido pela Na+K+ATPase na membrana basolateral. A maior parte do potássio levado para o interior da célula por esse sistema é reciclada no- vamente para a luz, porém, algum K+ é reabsorvido, jun- tamente com o magnésio e o cálcio. O ramo ascendente grosso é o local de ação dos diuréticos de maior potência, os diuréticos de alça, como a furosemida, a bumetanida e o ácido etacrínico. Em suas doses máximas, os diuréticos de alça inibem totalmente a reabsorção de NaCl no ramo ascendente grosso e, teori- camente, podem provocar a excreção de até 25% do Na+ filtrado (Figura 9.3). As células do ramo ascendente grosso são nitidamente impermeáveis à água. Em conseqüência dessa impermeabilidade e da reabsorção do Na+, o ramo ascendente grosso é também chamado de segmento diluidor. O ramo ascendente espesso passa entre as arteríolas aferentes e eferentes. Nas arteríolas aferentes ocorre a conexão com um grupo de células especializadas, consti- tuintes da chamada mácula densa, uma estrutura capaz de perceber as concentrações de eletrólitos que deixam a alça de Henle. Quando essas concentrações estão eleva- 196 Lourival Larini das, ocorre a transmissão de um sinal químico para a arteríola aferente, causando a sua contração e a redução na taxa de filtração glomerular, pela redução da pressão hidrostática nos capilares glomerulares e do fluxo san- güíneo local. Assim, esse mecanismo atua como sistema responsável por evitar as perdas de eletrólitos e de água pelo organismo. Além dessa função, a mácula densa, quan- do acionada, promove a inibição na liberação da renina pelas células justaglomerulares adjacentes à parede da arteríola aferente. No indivíduo normal, quando a ingestão de sódio é maior que o valor de normalidade, ocorre a diminuição da secreção de renina, com conseqüente diminuição na formação da angiotensina II. A redução nos níveis de angiotensina II provoca a diminuição na reabsorção tu- bular de sódio e de água, aumentando a excreção renal de ambos. O resultado final consiste em minimizar o au- mento do volume de líquido extracelular e da pressão ar- terial que, de outro modo, ocorreria com a ingestão au- mentada do sódio. Já quando a ingestão de sódio está situada abaixo do valor de normalidade, os níveis aumen- tados de angiotensina II, pelo aumento da renina, cau- sam o aumento da reabsorção do sódio e de água, opon- do-se à redução da pressão arterial que, de outro modo, ocorreria. Portanto, o sistema renina-angiotensina II de- termina a estabilidade da pressão arterial e do volume dos líquidos corporais. No túbulo distal e no duto coletor, que formam o néfron terminal, ocorre a reabsorção de cerca de Bo/o do Na+ filtrado (ver Figura 9.3). Na parte inicial do túbulo distal ocorre a reabsorção de 5% do Na+ filtrado e tam- bém do c1-. O túbulo distal final e o duto coletor repre- sentam os segmentos do néfron capazes de influenciar na quantidade do Na+ a ser excretada. Por isso, essa reabsor- ção final do Na+ é hormonalmente regulada. A aldostero- na, secretada pelo córtex supra-renal (adrenal), é o hor- mônio esteróide que atua diretamente sobre as células principais, para regular os ajustes finos da reabsorção do Na+. As células epiteliais existentes na porção final do tú- bulo distal e no tubo coletor contém receptores com alta afinidade para a aldosterona produzida pela supra-renal. A interação da aldosterona nesses receptores promove o aumento da condutância do Na+ na membrana luminal e da atividade da bomba de sódio na membrana basolateral. Assim, o transporte transepitelial do cloreto de sódio é aumentado, favorecendo a secreção do potássio e do íon hidrogênio para a luz tubular. Dessa forma, o efeito final da aldosterona consiste na retenção do sódio e de água pelos rins e aumento da excreção do potássio na urina. O potássio não se fixa às proteínas plasmáticas, sen- do livremente filtrado pelos capilares glomerulares. O túbulo convoluto proximal reabsorve cerca de 67% da carga filtrada de potássio, como parte da reabsorção isosmótica de líquido (ver Figura 9.3). O ramo ascenden- te grosso reabsorve 20% adicionais da carga filtrada de potássio, enquanto o túbulo distal e o duto coletor são os responsáveis pelos ajustes da sua excreção em função da sua ingestão na dieta normal (entre 50 e 150 mEq/24 horas) (ver Figura 9.3). A reabsorção de água pelo túbulo distal final e pelo duto coletor é variável. A permeabilidade à água é con- trolada pelo hormônio antidiurético (ADH), também de- nominado vasopressina, liberado pelo lobo posterior da hipófise. O nível de ADH constitui o sinal indicativo aos rins da necessidade de excretar urina mais diluída ou mais concentrada. Quando a osmolaridade dos líquidos corpo- rais aumenta acima da faixa de normalidade, quando os solutos nos líquidos corporais tomam-se muito concen- trados, a hipófise posterior secreta mais ADH, que aumenta a permeabilidade dos túbulos distais e dutos coletores, facilitando a passagem de água. Esse processo permite a reabsorção de grandes quantidades de água e a diminui- ção do volume final de urina, sem alterar a excreção re- nal dos solutos. Quando a osmolaridade do líquido ex- tracelular encontra-se reduzida pelo excesso de água no corpo, a secreção de ADH pela hipófise diminui, reduzin- do a permeabilidade nos túbulos distais e dutos coletores. Por conseguinte,o aumento ou a redução da concentra- ção de ADH determina em grande parte o volume final de urina excretada. O filtrado glomerular apresenta osmolaridade de 300 müsm/L, semelhante à do plasma. O líquido tubular tor- na-se mais diluído à medida que flui pela alça descenden- te de Henle em direção à parte inicial do túbulo distal, com diminuição progressiva da osmolaridade para cerca de 100 müsm/L. No duto coletor, o líquido tubular é ain- da mais diluído, sendo a sua osmolaridade reduzida para 50 müsm/L. BALANÇO HÍDRICO O balanço hídrico é controlado por mecanismos res- ponsivos à tonicidade e ao volume do líquido extracelular. São eles: a) o efeito do hormônio antidiurético sobre os túbulos coletores; b) o sistema renina-angiotensina 11-aldosterona; e c) o centro da sede. Quando a perda hídrica ultrapassa a reposição, ocor- re o desenvolvimento de desidratação com hipovolemia. O sódio é usualmente eliminado com a água, sendo essa excreção dependente do tipo de líquido perdido pelo organismo. As causas mais comuns de depleção de volu- me são os vômitos, as diarréias, a drenagem cirúrgica, o depósito interno (terceiro espaço) de líquidos, a febre, a insuficiência renal, a transpiração excessiva e a adminis- tração de diuréticos. A água corpórea representa um valor médio de 60% para um homem adulto com cerca de 70 kg, com o volu- me de 42 L, e está distribuída entre dois compartimentos principais: os líquidos intracelular (LIC) e extracelular (LEC). O LlC corresponde à água no interior das células, na qual todos os solutos estão dissolvidos, representando um volume médio de 28 L. O LEC é a água que banha as células, distribuindo-se entre dois subcompartimentos, o plasma (3 L) e o líquido intersticial (11 L). O plasma é o líquido que circula pelos vasos sangüíneos, enquanto o líquido intersticial está localizado entre as células. O plas- ma é o componente aquoso do sangue, no qual as células sangüíneas estão contidas em suspensão. Ele representa 55o/o do volume sangüíneo, enquanto as células (hemácias, leucócitos e plaquetas) representam os 45% restantes. Esse valor é denominado hematócrito, oscilando de 36 a 4 7º/o nas mulheres e de 38 a 54% nos homens. Aproximadamente dois terços da água corpórea to- tal está no LIC, e o terço restante, no LEC. Esses dois com- partimentos são separados pelas membranas celulares. Um terceiro compartimento líquido do organismo, o trans- celular, representado pelos líquidos cerebroespinal, pleu- ral, peritoneal e digestivo, é considerado pequeno, em ter- mos quantitativos. Os principais constituintes do LIC são o potássio, o magnésio, as proteínas e os fosfatos orgânicos (ATP, ADP e AMP). O principal cátion do LEC é o sódio (Na+), e os principais ânions são o cloreto (Cl-), o bicarbonato (HC03), o fosfato, o lactato e o citrato. O sódio é o principal cátion do líquido extracelular e a principal partícula osmótica fora da célula. Em indiví- duos saudáveis, a concentração sérica de sódio oscila en- tre 136e145 mmoVL (ou mEq/L). Normalmente, a quan- tidade excretada de sódio é equilibrada pela ingestão diá- ria (100 a 250 mmol, média 150 mmol) de 2,3 a 5,8 g de sódio. O nível de excreção usual varia de 30 a 280 mmoV 24 horas. A concentração do Na+ no LEC determina o seu vo- lume, que, por sua vez, determina o volume sangüíneo e a pressão sangüínea (pressão arterial). Portanto, os mecanismos renais que participam na reabsorção do Na+ são essenciais para a manutenção do volume do LEC, do volume do sangue e da pressão arte- rial nos seus limites fisiológicos normais. Os rins são responsáveis pela manutenção do con- teúdo corpóreo de Na+, assegurando que a excreção do cátion seja precisamente igual à sua ingestão, em um pro- cesso de ajuste denominado balanço do sódio. Quando o conteúdo de Na+ no LEC é aumentado, ocorre também o aumento do volume deste. Com o au- mento do volume do LEC, há o aumento do volume sangüíneo e, como conseqüência, o aumento da pressão arterial. Com isso, pode ocorrer o edema. Por sua vez, quando o organismo perde Na+ em excesso, ocorre a re- dução do volume do LEC, a diminuição do volume sangüíneo e da pressão arterial. A hiponatremia (diminuição do sódio sérico) é um distúrbio eletrolítico freqüentemente observado na clíni- ca médica. Pode ocorrer por perda de sódio (soluto) ou por excesso de água (solvente), duas situações geradoras da diminuição da osmolaridade sérica. Fármacos e medicamentos 197 A perda excessiva de sódio em relação à perda de água ocorre por via renal ou extra-renal. As etiologias re- nais mais comuns da hiponatremia são: a) hiper-hidratação, como a polidipsia psicogênica; b) terapia com diuréticos; c) nefropatias depletoras de sódio; d) insuficiência adrenal; e) bicarbonatúria; e f) cetonúria. A concentração urinária de sódio geralmente está acima de 20 mmol/L apesar da presença de hiponatremia. As etiologias extra-renais mais comuns são: a) hiper-hidratação; b) vômitos; c) diarréia; d) perdas para o terceiro espaço; e e) queimaduras. O Na+ é livremente filtrado, valendo-se dos capilares glomerulares, e, em seguida, reabsorvido ao longo dos di- versos segmentos do néfron, em diferentes percentuais, con- forme indicado na Figura 9.3. A excreção final do Na+ re- presenta menos de 1 o/o da carga filtrada, o que correspon- de à reabsorção efetiva de mais de 99% da carga filtrada. No túbulo proximal, a reabsorção da água está sem- pre ligada à reabsorção do Na+ por um mecanismo isosmótico. Entretanto, o ramo ascendente grosso da alça de Henle e a parte inicial do túbulo convoluto distal são . , . ' , nnpermeave1s a agua. A parte final do túbulo convoluto e o duto coletor reabsorvem os 3% finais da carga filtrada e são responsá- veis pelo ajuste fino na excreção do sódio. Essas duas re- giões constituem-se como os locais de ação do hormônio regulador da excreção do Na+, a aldosterona. O potássio é o principal cátion intracelular, apenas cerca de 2% do potássio corpóreo total é extracelular. A Tabela 9.1 VALORES DE NORMALIDADE PARA OS ELETRÓLITOS PLASMÁTICOS Eletrólitos mg 0/o mEq/L Cátions: Sódio 313 a 333 136 a 145 Potássio 14 a 20 3,5 a 5,5 Cálcio 9 a 10,5 4,5 a 5,3 Magnésio 1,4 a 2,4 1a2 A Anions: Cloreto 349 a 371 98 a 106 Bicarbonato 58a 62 26 a 28 Fosfato 3 a 4,5 2a3 Sulfato 1,6 a 2,4 1 a 1,5 198 Lourival Larini oscilação do potássio sérico é de 3,5 a 5,5 mmol/L. Níveis séricos de potássio abaixo de 3,5 mmol/L ou de 14 mg/ dL caracterizam a hipocalemia. Uma dieta padrão diária contém de 50 a 150 mmol de potássio, dos quais os rins em geral excretam de 80 a 90%. Em indivíduos normais, isso representa uma excreção diária de 25 a 125 mmol. Os locais de reabsorção do potássio estão indicados na Figura 9.2. Essa reabsorção ocorre na proporção de 67% no túbulo convoluto pro- ximal, 20o/o no ramo ascendente grosso. O túbulo distal e o duto coletor são responsáveis pelo ajuste final na reab- sorção do potássio. A depleção dos depósitos de potássio corpóreo total e a hipocalemia ocorrem como resultado das causas indica- das a seguir: 1. Causas gastrintestinais: Ingestão insuficiente na dieta. Perdas provocadas por vômitos, diarréia, bulimia nervosa, fístulas e uso inadequado de laxativos. 2. Causas renais: Uso de diuréticos (de alça, tiazídicos e aminos- sulfônicos); Glicosúria Distúrbios tubulares: Acidose tubular distal; Síndrome de Liddle; Síndrome de Bartter. 3. Níveis elevados de aldosterona (tumor secretor de aldosterona) 4. Efeito da insulina. A suplementação de potássio no organismo é nor- malmente feita com a padronização de uma dieta ade- quada (ver adiante relação de alimentos ricos em potás- sio, na Tabela 9.2) e pela administração oral de cloreto de potássio em drágeas (Slow-K®), xaropes (Kloren®) e em soluções a 10% (p/v), 15% (p/v) ou 20% (p/v). O em- prego de suplementos orais de potássio não é aconselhá- vel em situações de insuficiênciarenal e quando o con- teúdo de potássio no soro for maior que o seu valor de normalidade de 5,5 mmol/L. A hipercalemia pode ser resultado da transferência do potássio do líquido intracelular para o extracelular e da elevação do potássio corpóreo total. O efluxo celular do potássio ocorre na acidemia e na lesão celular (febre, hemólise e rabdomiólise). O potássio corpóreo total au- mentado e a hipercalemia ocorrem tipicamente na insufi- ciência renal aguda e crônica grave e na deficiência mineralocorticóide (p. ex., doença de Addison). O cloreto é o principal ânion extracelular. A maior parte do cloreto é absorvida, e o excesso excretado na uri- na. A concentração sérica normal é de 98 a 106 mmol/L. O processamento renal do cálcio é bastante seme- lhante ao do sódio, ocorrendo no túbulo proximal com cerca de 6 7%, no ramo ascendente da alça de Henle com cerca de 20% e no túbulo distal com cerca de 8%. Tabela 9.2 ALIMENTOS FORNECEDORES DE POTÁSSIO Alimentos Quantidade em gramas para fornecer de 1 O a 12 mmol de potássio elementar 1. Frutas frescas: Bananas Damasco Ameixa Pêssego Laranja 2. Legumes e vegetais: Espinafre Batata Chicória Brócolis Aspargos Alface Tomate Vagem Nabo Beringela 3. Grãos: Feijão Lentilha Ervilha (verde) FÁRMACOS DIURÉTICOS 150 160 170 200 200 100 110 150 160 190 200 200 200 220 300 50 70 260 Os fármacos diuréticos podem ser incluídos em três grupos distintos, conforme o local e o mecanismo de ação: 1. Aqueles que promovem a perda global de Na+ e Cl- pela ação sobre as células do néfron, nas quais se processa a maior parte da reabsorção ativa e seletiva dos solutos. Podem atuar: a) no túbulo proximal; b) no ramo ascendente espesso da alça de Henle; c) no início do túbulo distal. 2. Os compostos que antagonizam os efeitos da aldos- terona no túbulo distal terminal. 3. Aqueles que modificam a osmolaridade do filtrado ao longo dos túbulos renais. Diuréticos que promovem a perda global de sódio e cloro Diuréticos que atuam na alça de Henle São fármacos que atuam primariamente sobre o segmento ascendente espesso da alça de Henle, inibindo o transporte de cloreto de sódio para o interior do teci- do intersticial por um sistema de co-transporte na mem- brana. São os diuréticos de maior eficácia, sendo capazes de promover a excreção de 15 a 25% do Na+ presente no filtrado. Os principais representantes dessa classe de diu- réticos apresentam em comum a estrutura do ácido 5- (aminosulfonil) benzóico, com radicais c1- ou fenoxi- benzóicos ligados ao anel aromático principal na posição 4 (Figura 9.4), incluindo a furosemida, a bumetanida, a piretanida. Também pode ser incluído nesse grupo de diuréticos o ácido etacrínico, desprovido do grupamento aminossulfonil. A furosemida (ou frusemida) corresponde ao ácido 4-cloro-N-furfuril-5-sulfamoil- antranílico ou ácido 5-(arni- nosulfonil)-4-cloro-2-(2-furanilmetil) amino benzóico. Apresenta um pK de 3, 9 e forma sais alcalinos solúveis em água. A furosernida foi lançada no mercado em 1964 com a designação comercial de Lasix®, pela qual é conheci- da até hoje. E também comercializada com os nomes Furosemida®, Furosem® e Rovelan®. Está disponível em comprimidos de 40 mg, cápsulas de 60 mg, solução com 1 O mg/mL e na forma injetável, contendo 20 mg/2 mL. A furosemida é indicada na crise hipertensiva, no edema pulmonar agudo, no edema devido a distúrbio cardíaco, hepático ou renal e na hipertensão arterial (leve ou mo- derada). Deve ser administrada diariamente, em dose única, sempre à mesma hora, de preferência nunca ao entardecer. A dose diária inicial em adultos oscila de 20 a 80 mg, e a dose de manutenção, de 20 a 40 mg. Em prin-, cípio, a furosemida deve ser administrada por via oral. E facilmente absorvida pelo trato gastrintestinal; entretanto, a sua biodisponibilidade é bastante variável, oscilando de 20 a 90o/o, sendo alterada na insuficiência renal e hepática. A administração parenteral, por infusão gota a gota, é indicada somente em casos de absoluta necessidade. A furosemida apresenta elevada ligação com a al- bumina (cerca de 99%). Assim, nos pacientes com insufi- ciência renal e hepática, ocorre aumento aparente do vo- lume de distribuição, pela diminuição de sua ligação com as proteínas plasmáticas, presentes no sangue circulante em concentração reduzida. Os pacientes com síndrome COOH Furosemida Bumetanida 1 o COOH FIGURA 9.4 Diuréticos que atuam na alça de Henle. Fármacos e medicamentos 199 nefrótica apresentam significativa proteinúria e hipoalbu- rninemia secundária. A meia-vida da furosemida, em indivíduos normais, é de 30 a 120 minutos. Entretanto, em pacientes com disfunção hepática, é significativamente aumentada. Em pacientes com disfunção múltipla de órgãos, sua meia- vida plasmática é de 20 a 24 horas. O mecanismo da ação diurética da furosernida ainda não está perfeitamente esclarecido. O composto promove aumento da excreção urinária de sódio, cloreto, potássio, cálcio, magnésio, amônia, íon bicarbonato, íon hidrogênio e, provavelmente, íon fosfato. A excreção do c1- excede à , do Na+, favorecendo, assim, a excreção do K+. E possível também que a furosernida atue no túbulo proximal. O emprego constante da furosemida pode provocar tolerância, sendo tal fato atribuído ao aumento na ativi- dade do sistema renina-angiotensina II-aldosterona. Ocor- re acréscimo na excreção de ca+2 e de Mg+2, com excreção diminuída de ácido úrico. O ácido etacrínico corresponde ao ácido 2,3-dicloro- 4-(2-metilen-butiril) fenoxiacético. Foi obtido em 1960, , por E. M. Schultz. E conhecido pelos nomes comerciais de Edecrin® e Hydromedin®. O ácido etacrínico é muito pouco solúvel na água, sendo mais solúvel em solventes orgânicos. Forma um complexo com a cisteína, e esse com- plexo é a forma ativa do fármaco diurético. O ácido etacrínico inibe oco-transporte do Na+, do K+ e do CI- no ramo ascendente da alça de Henle, promovendo a diurese. A sua administração oral resulta no efeito diurético de- pois de 1 hora, com duração de ação de 6 a 8 horas. O uso do ácido etacrínico é bastante restrito, por causar grande incidência de efeitos adversos durante o tratamento, sem- pre mais graves que os provocados pela furosemida ou pela bumetanida. A bumetanida (ácido 3-butilamino-4-fenoxi-5-sulfa- moil-benzóico) é conhecida pelos nomes comerciais Burinax®, Burinex® e Bumex®, disponível em comprimi- CI o 1 1 cH3cH2-R-c-- CH2 CI Ácido etacrinico 1 N o H2N02S Piretanida COOH 200 Lourival Larini dos de 1 mi e na forma injetável, na concentração de 0,5 mg/2 mL. E indicada na insuficiência cardíaca congestiva, no edema decorrente de cirrose hepática, no edema pro-, vocado por doença renal e na hipertensão arterial. E ad- ministrada em dose única para adultos, de 0,5 a 2 mg ao dia, também, a exemplo de todos os compostos diuréticos, de preferência nunca ao entardecer, para evitar que o paciente tenha de acordar para urinar. A bumetanida é absorvida de maneira rápida e efi- caz pelo trato gastrintestinal, apresentando biodisponibili- dade de 80 a 95o/o, pouco alterada pela presença de ali- mentos. Tem elevada ligação com as proteínas plasmáticas (cerca de 95%). Depois da absorção oral, é excretada na urina de forma inalterada, na proporção de cerca de 80% e, nas fezes, na proporção de 1 O a 20%. A piretanida (ácido 4-fenoxi-3-(pirrolidin-1-il)-5- sulfamoil-benzóico) é encontrada em cápsulas de 6 mg, , com o nome comercial de Arelix®. E indicada para o tra- tamento da hipertensão arterial leve ou moderada, para realizar a excreção de acúmulos anormais de líquidos no organismo, para aliviar o trabalho do coração em pacien- tes com insuficiência cardíaca e para o tratamento de edemas conseqüentes de doenças hepáticas ou renais. A dose usual em adultos é de 6 a 12 mg ao dia, pela via oral, Tabela 9.3 AÇÃO DIURÉTICA DOS DERIVADOS DA HIDROCLOROTIAZIDA(EM HORAS) Compostos Início Hidroclorotiazida 2 Hidroflumetiazida 1-2 Bendroflumetiazida 1-2 Politiazida 2 Ciclopentiazida 6 Triclormetiazida 2 ' Tabela 9.4 FÁRMACOS DIURÉTICOS: LOCAIS E MECANISMOS DA AÇÃO DIURÉTICA devendo ser administrada após a refeição matinal ou após o almoço, quando a sua absorção é quase completa. A piretanida liga-se extensivamente às proteínas plasmáticas. A furosemida e o ácido etacrínico competem com o ácido úrico pelos sistemas secretores renal e biliar. Os dois compostos bloqueiam a secreção do ácido úrico, exacer- bando as crises de gota. Os efeitos adversos dos diuréticos de alça estão dire- tamente relacionados com suas ações renais, destacando- se a hipocalemia e a alcalose metabólica pela excreção de H+. A hipocalemia pode ser contornada pela administra- ção simultânea de diuréticos poupadores de potássio ou de alimentos ricos em potássio (ver Tabela 9.2). Diuréticos que atuam no túbulo distal São compostos tiazídicos que atuam no túbulo distal, com igual efeito diurético máximo, diferindo somente em potência, expressa em miligramas. Estão incluídos nessa classe de diuréticos diversos compostos estruturalmente semelhantes, que são incluí- dos em dois grupos principais, conforme indicação nas Figuras 9.5 e 9.6. Máximo Duração 4 6-12 3-4 18-24 6-12 18-24 6 24-36 7-12 18-24 6 24-36 Fármacos Locais de ação Mecanismo de ação Acido aminossulfonilbenzóico: furosemida, Alça de Henle e túbulo proximal bumetanida, piretanida, ácido etacrínico Compostos tiazídicos: clorotiazida, Túbulo distal inicial benzotiazida, hidroclorotiazida Compostos amídicos: acetazolamida, Túbulo proximal metazolamida, diclofenamida Antagonistas da aldosterona: Túbulo distal terminal espironolactona, amilorida, triantereno Compostos osmóticos: manitol e sorbitol Túbulo proximal, alça de Henle e tubo coletor Inibição do transporte (reabsorção) do cloreto de sódio A excreção do c 1- excede a do Na+, favore- cendo a excreção do potássio Redução na reabsorção ativa de Na+ e c1- por mecanismo de co-transporte com perda de potássio Inibição da anidrase carbônica Inibição na reabsorção do íon bicarbonato Inibição da reabsorção dos íons sódio e cloreto São compostos poupadores de potássio Efeito osmótico, com diminuição na reabsorção do sódio e da água Os compostos tiazídicos apresentam em comum a estrutura 1,2,4-benzotiazidina, um grupo eletronegativo na posição 6, geralmente o átomo de cloro ou o grupo trifluorrnetil, e o grupamento sulfonarnida na posição 7. Os compostos 6-trifluorrnetil são altamente lipossolúveis e apresentam longa duração de ação, sempre maior que os compostos com grupamento 6-cloro. A substituição dos grupos trifluorrnetil ou cloro na posição 6 por grupos rnetílicos ou rnetoxílicos provoca redução acentuada na atividade diurética. O grupamento 7-sulfonarnida também é essencial para a atividade diurética. Os compostos tiazídicos são ácidos fracos, formando sais hidrossolúveis pela reação com álcalis (ver Figura 9.5). A clorotiazida (l,2,4-benzotiadiazino-7-sulfonarnida- 6-cloro-1, 1-dióxido) é um pó cristalino branco, inodoro, muito pouco solúvel em água e solúvel em soluções de hidróxidos alcalinos. O composto é pouco utilizado corno diurético. 4 6 N ~3 7 ~ /NH s 2 8 1 Nome oficial e comercial Clorotiazida Flumetiazida Benzotiazida (fórmula geral) Substituintes R1 R2 -CI -H -CF 3 -H -CI -CH 2 SCH 2 C 6 H 5 FIGURA 9.5 Diuréticos derivados da 1,2,4-benzotiadiazino. (fórmula geral) H 1 H R1 N R3 N H2N02S S/ '-....R 0 2 2 Nome oficial R1 Hidroclorotiazida -CI Hidroflumetiazida -CF 3 Bendroflumetiazida -CF 3 Politiazida -CI Ciclopentiazida -CI Triclormetiazida -CI FIGURA 9.6 Diuréticos derivados da hidroclorotiazida. Fármacos e medicamentos 201 A benzotiazida corresponde ao 1,2,4-benzotiadia- zino-7-sulfonarnida-6-cloro-3-(fenil-rnetiltio-rnetil)-1, 1-, dióxido. E um pó cristalino branco, praticamente insolúvel em água e solúvel em hidróxidos alcalinos. A benzotiazida foi introduzida na terapêutica em 1964, sendo considera- da cerca de 10 vezes mais potente que a clorotiazida. A saturação da dupla ligação com formação de com- postos 3,4-diidro é suficiente para produzir compostos diuréticos 1 O vezes mais ativos que os correspondentes insaturados. A introdução de um radical lipofi1ico na po- sição 3 aumenta muito a potência diurética. A introdução de grupos alquila em N2 diminui a polaridade e aumenta a duração da ação diurética. Em função da duração de ação, os compostos deri- vados da hidroclorotiazida são administrados urna única vez ao dia, por via oral. Os compostos derivados da hidroclorotiazida são sólidos, sendo todos praticamente insolúveis ou muito pouco solúveis em água. Esses compostos reduzem a reabsorção ativa do Na+ e c1- no túbulo distal inicial, atuando por um mecanismo de co-transporte. Por essa razão, em alguns compêndios, são referidos corno saluréticos. Geram significativa perda de potássio. A excreção do ácido úrico, de cálcio e de mag- nésio é aumentada. Sendo que a ação desses compostos está localizada na luz da membrana do túbulo distal, esses fármacos pre- cisam ser excretados para a luz tubular para exercerem a sua ação diurética. Nessas condições, com a diminuição da função renal na insuficiência renal, os diuréticos tia- zídicos perdem a sua eficácia. Além disso, o uso prolongado dos fármacos tiazídicos causa perda contínua de K+ pelo organismo, determinan- do um controle dos níveis séricos desse elemento. Duran- te o tratamento, os níveis de K+ no organismo podem ser H 1 H F3C N 1 /NH H2N02S s º2 Bendroflumetiazida R2 R3 -CI -H -H -H -H -CH 2 C 6 H 5 -CH 3 -CH 2 SCH 2 CF 3 -H -CH 2- -H -CHCl 2 202 Lourival Larini N ~ + Na OH / NH H2N02S s 0 2 FIGURA 9.7 Reação da clorotiazida com o hidróxido de sódio. suplementados somente com a dieta de consumo de frutas cítricas, bananas, pêssego, damasco, ameixas, beringela, tomate (ver Tabela 9.2) e, quando necessário, pelo uso de sais de potássio, especialmente o cloreto de potássio. Os compostos tiazídicos atravessam a barreira pla- centária e são excretados pelo leite materno. A hidroclorotiazida (2,6-dicloro-3,4-diidro-2H-l ,2,4- benzotiadiazino-7-sulfono-arnínico) está disponível em comprimidos de 25 e 50 rng, para utilização no tratamen- to do edema e da hipertensão arterial. O medicamento deve ser tornado pela manhã, com um pouco de leite ou alguma alimentação, sempre no mesmo horário. A hi- droclorotiazida sofre rápida absorção no trato gastrintes- tinal, com biodisponibilidade de 65 a 70%, sendo excre- tada principalmente na urina, de forma inalterada, e em proporção reduzida no leite materno. A hidroclorotiazida, a exemplo de outros diuréticos tiazídicos, pode causar diversos distúrbios metabólicos, especialmente quando administrada em doses elevadas. Assim, é comum a ocorrência de hiperglicemia e glicosúria em pacientes diabéticos e em outros pacientes suscetíveis. Também pode ocorrer hiperuricemia, com crises de gota, hiponatrernia e hipopotassemia. A excreção urinária do cálcio é reduzida. O risco da hipopotassemia é mais acen- tuado em pacientes com cirrose. A redução da taxa de sódio no sangue ocorre em pacientes com insuficiência cardíaca grave, particularmente em situações em que há restrição na ingestão de cloreto de sódio. Os distúrbios hidreletrolíticos citados têm corno manifestação boca seca, sede, fadiga, letargia, dores musculares, hipotensão postural e distúrbios gastrintestinais. Também podem ocor- • ••"" r • r A• • rer anorexia, 1rntaçao gastr1ca, nauseas, vorn1tos e 1rnpo-, tência. E sempre recomendável, durante o tratamento com a hidroclorotiazida, a restrição de sal na alimentação, bem corno cuidado especial com exercícios extenuantes ao sol ou sob forte calor. A hidroclorotiazida pode ser considerada cornoo re-, presentante mais importante do grupo. E comercializada em comprimidos de 25 e 50 rng (Clorana®, Diurepina®, Diurezin®, Diurix®, Hidroclorotiazida®). Também pode ser encontrada em associação com outros diuréticos, corno a espironolactona (Aldazida 50®), a arnilorida (Modu- retic®) e o triantereno (Iguassina®). No tratamento da hipertensão arterial, está em associação com a rnetildopa (Hydrornet®), o propranolol (Tenadren®), o rnetoprolol (Selopress®), o captopril (Lopril D®) e o enalapril (Atens- H®, Eupressin H®). A dose usual oscila de 25 a 50 rng, em adultos, 1 a 2 vezes ao dia. A ação diurética dura entre 6 e 12 horas. .. N ~ H20 + - + / NNa H2N02S s 0 2 A hidroflurnetiazida ( 6-trifl uormetil-3, 4-diidro-2H- l ,2, 4-benzotiadiazino-7-sulfono arnínico-1, 1-dióxido) é rápida, porém incompletamente, absorvida no trato gas-, trintestinal. E indicada no tratamento de edema associa- do com insuficiência cardíaca e com a hipertensão, sendo utilizadas, na fase inicial da terapia, doses orais de 50 a 100 rng ao dia, reduzidas na manutenção para 25 a 50 rng em dias alternados. A politiazida (2-rnetil-6-cloro-3,4-diidro-3-(2,2,2- trifluoroetiltiornetil)-2H-l,2, 4-benzotiadiazino-7-sulfona- rnida-1, 1-dióxido) é indicada no tratamento do edema, em doses orais diárias de 1 a 4 rng, e da hipertensão, em doses orais diárias de 2 a 4 rng. Quando estiver associada a outros fármacos anti-hipertensivos, são adequadas ao tratamento doses de apenas 0,5 a 1 rng. A triclorrnetiazida ( 6-cloro-3-diclorornetil-3,4-diidro- 2H-l ,2,4-benzotiadiazino-7-sulfonoamida-1, 1-dióxido) é administrada por via oral, em doses diárias de 1 a 4 rng, no tratamento de edema, e de 2 a 4 rng, isoladamente ou em associação com fármacos anti-hipertensivos, no trata- mento da hipertensão. Em alguns pacientes, são suficien- tes doses de apenas 1 rng para controlar os estados hipertensivos. A bendroflurnetiazida, ou bendrofluazida (6-trifluor- rnetil-3-benzil-3,4-diidro-2H-l,2,4-benzotiadiazino-7- sulfonarnida-1, 1-dióxido, é rapidamente absorvida no tra- to gastrintestinal, sendo excretada de forma inalterada na urina na proporção de 30%. Apresenta alta afinidade com a albumina plasmática. O seu efeito diurético ocorre cerca de duas horas após a administração oral e tem du- ração de 12 a 18 horas. No tratamento do edema, a dose indicada é de 5 a 10 rng diários ou em dias alternados. Na hipertensão, quando associada com fármacos anti- hipertensivos, doses diárias de 2,5 rng são recomenda-, das. E também indicada na supressão da lactação, deven- do ser administrada duas vezes ao dia, em doses de 5 rng, durante cinco dias. Outros compostos com ação diurética no túbulo distal incluem a clortalidona e a indaparnida (Figura 9.8). A molécula da clortalidona existe em equilíbrio nas formas ftalimidina e benzofenona. Apresenta duração de ação de 48 a 72 horas, podendo, por isso, ser administra- da, em doses de 25 a 100 rng, três vezes durante a semana. A clortalidona está disponível no mercado em compri- midos de 12,5, 25 e 50 rng com os nomes comerciais de Clortalil®, Higroton®, Regroton®, Tenoret® e Tenoretic®, entre outros. A clortalidona é utilizada no tratamento da hipertensão arterial e do edema, em doses orais de 25 a 50 rng. Deve ser administrada pela manhã, com algum CI OH HN o Clortalidona /; FIGURA 9.8 Compostos com ação diurética no túbulo distal. OH 1 NH o Fármacos e medicamentos 203 CI CONH N lndapamida NH2 CI o- 1 H2N02S o FIGURA 9.9 Formação do derivado benzofenona (anel aberto) da clortalidona. alimento, sempre na menor dose possível. A clortalidona também está disponível em associação com o cloridrato de amilorida (5 mg), com o nome de Diupress®, e com a reser- pina (0,25 mg), com o nome Higroton-Reserpina®. Essas associações são indicadas no tratamento de hipertensão. Em doses baixas, apresenta ação anti-hipertensiva signifi- cativa, com efeitos diuréticos mínimos. O efeito diurético da clortalidona tem início cerca de duas horas após a ad- ministração oral, persistindo durante 48 a 72 horas. A indapamida é absorvida de forma rápida e eficaz no trato digestório. A concentração máxima no sangue é alcançada depois de 12 horas. A sua ligação com proteí- nas plasmáticas é de 79o/o. A meia-vida de eliminação está entre 14 e 24 horas. A sua excreção ocorre através da urina (70% da dose) e das fezes (22% da dose), na forma de metabólitos inativos. A indapamida contém um grupamento polar cloro- benzamida e um grupamento não-polar metilindolina. A indapamida está disponível no mercado com o no- me de Natrilix®, em drágeas de 2,5 mg e comprimidos de , 1,5 mg (Natrilix SR®). E indicada no tratamento da hiper- tensão e do edema provocado por insuficiência cardíaca congestiva. A dose usual diária, em adultos, é de 2,5 mg diários pela manhã, podendo ser aumentada para 5 mg, se houver necessidade. A indapamida reduz a pressão arte- rial em doses subdiuréticas. A ingestão de alimentos ricos em potássio é sempre aconselhável (ver Tabela 9.2). Du- rante o tratamento, é necessária também a diminuição drás- tica na ingestão de sal e a abstinência de bebidas alcoólicas. Entre os principais efeitos indesejados provocados pelo uso desses compostos pode-se citar queda no potás- sio plasmático, alcalose metabólica, aumento do ácido úrico urinário, hiperglicemia, aumento do colesterol plas- mático, quando há uso prolongado, e impotência sexual masculina (reversível com a interrupção da administra- ção do medicamento). Nessas circunstâncias, é importan- te a monitoração do paciente por meio de: a) determinação da taxa glicêmica; b) determinação do nitrogênio uréico no sangue (BUN); c) determinação do ácido úrico plasmático; d) determinação dos eletrólitos no sangue; e e) medida da pressão arterial. Diuréticos que atuam no túbu/o proximal São compostos que atuam por meio de um mecanis- mo de inibição da anidrase carbônica. Nas células do túbulo proximal, a anidrase carbônica catalisa a formação do ácido carbônico, a partir de C02 e H20. O ácido carbô- nico dissocia-se para formar íons hidrogênio (H+) e bi- carbonato (HC03-). O íon bicarbonato penetra no plas- ma, e o íon hidrogênio é secretado para dentro da luz, sendo a secreção balanceada eletricamente pelo transporte oposto do sódio, envolvendo um mecanismo de antiporte. Na luz, os íons hidrogênio combinam-se com os íons HC03- filtrados, formando o ácido carbônico, que é dissociado para formar o C02 e H20. Esta última reação é também catalisada pela anidrase carbônica. O dióxido de carbono difunde-se de volta para o interior da célula. O efeito global desses processos faz com que grande parte do bicarbonato filtrado seja reabsorvido pelo túbulo proximal. Os fármacos que inibem a anidrase carbônica aumentam o volume do fluxo urinário por impedirem a reabsorção do bicarbonato. Eles causam também a de- pleção do bicarbonato celular. O efeito é autolimitante, na medida em que reduz o bicarbonato no sangue. Os diuréticos inibidores da anidrase carbônica são de uso limitado, porquanto a tolerância se desenvolve ra- 204 Lourival Larini pidarnente quando administrados por mais de 48 horas. Hoje em dia são usados principalmente corno adjuvantes no tratamento do glaucoma. Os principais compostos diuréticos com ação no túbulo proximal são a acetazolarnida, a rnetazolamida e a diclofenarnida, indicados na Figura 9.10. A acetazolarnida (5-acetarnido-1,3,4-tiadiazol-2-sul- famida) é um pó cristalino branco ou ligeiramente amare- lado, pouco solúvel em água. Esse fármaco foi sintetizado em 1950, sendo comercializado com o nome de Diarnox®. A acetazolarnida é usada mais cornurnente para reduzir a elevação da pressão intra-ocular no glaucoma de ângulo aberto. A acetazolarnida diminui a produção do humor aquoso, provavelmente bloqueando a anidrase carbônica no corpo ciliar do olho. Também pode ser utilizada corno antiedernatosa, bem cornona insuficiência cardíaca congestiva. Está disponível em comprimidos de 25 rng. As suas soluções injetáveis são alcalinas, sendo dolorosa a aplicação intrarnuscular. O composto é rapidamente ab- sorvido no trato gastrintestinal. A sua ligação com as pro- teínas plasmáticas é muito elevada. A excreção na urina ocorre de forma inalterada. Durante o tratamento, a acetazolarnida é detectada no leite matemo. Durante o tratamento com a acetazolarnida, ocor- rem efeitos adversos, incluindo fadiga, sonolência, indis- posição gastrintestinal, depressão, cefaléia e reações dér- micas, como o eriterna multiforme. Além disso, ela favo- rece a formação de cálculos renais. A rnetazolamida corresponde ao composto (N-(4- rnetil-2-sulfarnoil-delta-2-1,3,4-tiazo-lidina-5-ilideno)- acetarnida), patenteado com o nome de Naptazane® e o N H o \ introduzido na terapêutica em 1960. Age corno inibidor da anidrase carbônica. Corresponde à acetazolamida rnetilada na posição 4, tendo ação similar à mesma. Apre- senta meia-vida plasmática em tomo de 14 horas, deven- do ser administrada em doses de 50 a 100 rng, por via oral, duas vezes ao dia. A diclofenarnida ( 4,5-dicloro-1,3-benzeno-dissulfo- namida) foi sintetizada em 1954-1956 e patenteada com o nome de Daramide®. Esse diurético também recebe os , nomes de Fenamide® e Glaucol®. E indicado para reduzir a pressão intra-ocular no glaucoma, sendo a dose usual para adultos de 100 a 200 rng, por via oral, no início do tratamento, reduzida para 25 a 50 rng durante a rnanu-- ,.. . tençao terapeutica. Diuréticos antagonistas da aldosterona Os membros deste grupo antagonizam os efeitos da aldosterona no túbulo distal terminal. Essa ação ocorre por antagonismo farmacológico direto nos receptores da aldosterona (p. ex., espironolactona), ou por inibição do transporte de Na+ pelos canais da membrana lurninal (p. ex., triantereno e amilorida). A absorção do Na+ propor- ciona um potencial elétrico negativo na luz tubular que aumenta a secreção do K+. Portanto, ao interferirem nes- se processo, esses diuréticos diminuem a secreção do K+, atuando como compostos que poupam potássio. A aldosterona (Figura 9.11) é o principal corticóide endógeno, sendo produzida na zona glornerulosa da glân- dula supra-renal. A sua principal ação consiste em aurnen- CI N- CI 4 6 s Acetazolamida Metazolamida FIGURA 9.10 Diuréticos com ação no túbulo proximal. /, o FIGURA 9.11 Aldosterona. HO OHC Aldol OH /, o Diclofenamida o Hemiacetal tar a reabsorção dos íons sódio e cloreto, com o aumento concomitante na excreção dos íons K+ e H+. Quando os níveis de aldosterona são elevados, tem-se o aumento da reabsorção de sódio, cloro e água, com o aumento da volemia, favorecendo a ocorrência do edema. A espironolactona, corresponde à lactona do ácido 3-(3-oxo-7-alfa-acetiltio-17-beta-hidroxi-4-androsten-17al- fa-il) propiônico (Figura 9.12). Exerce ação diurética li- mitada. A espironolactona atua como antagonista da aldosterona, competindo com os receptores intracelulares nas células dos túbulos distais. Quando a espironolactona é administrada a pacientes com elevados níveis circulantes de aldosterona, o fármaco antagoniza a atividade desse hormônio, resultando na excreção de Na+ e água e redu- ção na excreção do K+. A espironolactona é bem-absorvida a partir do trato gastrintestinal. Atualmente, existem formulações no mer- cado que proporcionam biodisponibilidade de cerca de 90%. A sua ligação com as proteínas plasmáticas é eleva- da, sendo calculada em torno de 90%. A sua meia-vida plasmática é de apenas 10 minutos; porém, o seu meta- bólito ativo, a canrenona (ver Figura 9.12), apresenta meia-vida plasmática de 16 horas. Por essa razão, o efeito diurético máximo da espironolactona ocorre somente de- pois de 2 ou 3 dias da administração da primeira dose. Esse metabólito está disponível no mercado na forma de sal potássico, em formulações injetáveis. Um outro metabólito também ativo é o composto 7-alfa-tiometil- espironolactona. Os dois produtos de biotransforrnação da espironolactona são excretados, em grande proporção, na urina e, em pequena proporção, nas fezes e no leite materno. Os dois metabólitos atravessam a barreira placentária. A espironolactona não deve ser administrada em pacientes com hiperpotassemia e com insuficiência renal grave. Pode ser utilizada, com as devidas precauções, em pacientes idosos, naqueles com diabete melito e nos que apresentam diminuição da função hepática e da função renal. Em todas as situações, durante o seu uso, é sempre necessário o controle periódico dos eletrólitos plasmáticos, especialmente o potássio e o BUN. O risco de ocorrência de hiperpotassemia é maior quando há administração da o o ...... ""s Espironolactona FIGURA 9.12 Biotransformação da espironolactona. Fármacos e medicamentos 205 espironolactona em associação com fármacos antiinfla- matórios não-esteróides e com inibidores da ECA (capto- pril, p. ex.). A espironolactona é indicada no tratamento do edema associado com insuficiência cardíaca congestiva, da síndrome nefrótica e da ascite associada à cirrose. Na insuficiência cardíaca e na síndrome nefrótica, é habi- tualmente utilizada em associação com um diurético tiazídico ou de alça, ou urna associação de ambos. O seu uso é também aconselhado no tratamento da acne, em aplicação tópica. A exemplo do que ocorre com os diu- réticos antagonistas da aldosterona, durante o uso da espironolactona é necessário evitar a ingestão de suple- mentos energéticos e de alimentos ricos em potássio. O uso da espironolactona está associado à ocorrên- cia de efeitos adversos de origem metabólica, gastrin- testinal e neurológica. A prevalência de efeitos adversos é alta, oscilando de 75 a 90%, embora a gravidade dos mes- mos possa ser considerada de intensidade leve e somente alguns poucos pacientes requeiram conduta terapêutica alternativa. O aumento das mamas ocorre em menos de 10% dos pacientes com doses diárias de 50 mg, sendo mais freqüente (cerca de 50%) em doses diárias de 150 mg. Outros efeitos possíveis são diminuição da libido, im- potência, diarréia, vômitos, coceira, sonolência e pertur- bação dos movimentos. A espironolactona deve ser administrada em doses iniciais, pela via oral, de 100 mg diários, depois ajustadas conforme as necessidades do paciente. Em algumas situa- ções, são necessários até 400 mg ao dia. Em crianças, a dose é calculada na proporção de 1,5 a 3 mg por quilo de peso corpóreo. Os nomes comuns mais usuais da espi- ronolactona são Aldactone®, Aldopur®, Laractona® e Spirolona®. A espironolactona pode ser utilizada em as- sociação com a hidroclorotiazida (Aldazida®) e furosemida (Lasilactona ®) A amilorida e o triantereno agem nos túbulos distais e nos tubos coletores, inibindo a reabsorção do sódio e reduzindo a excreção do íon potássio, causando hiper- potassemia. Os dois compostos promovem um certo grau de alcalinização da urina por inibirem a excreção de H+ e são levemente uricosúricos. São administrados em asso- o o Canrenona 206 Lourival Larini ciação com os diuréticos responsáveis pela perda do K+, como as tiazidas, especialmente a hidroclorotiazida, para manter o equilíbrio deste eletrólito. Outros efeitos adver- sos que ocorrem durante o tratamento com o triantereno são náuseas, vômitos e cefaléias. A terapia com o trian- tereno pode resultar em insuficiência renal, nefrite in- tersticial e ocorrência de cálculos renais, especialmente quando a dose empregada for acima de 100 mg e em as- sociação com os antiinflamatórios não-esteróides. A ane- mia megaloblástica tem sido relatada em pacientes com cirrose alcoólica, motivada, provavelmente, pela inibição da diidrofolatoredutase, provocada pelo álcool ou pela ingestão dietética inadequada de folatos. Existem tam- bém evidências experimentais de que o álcool interfere na absorção dos folatos. A amilorida corresponde ao compostoN-amidino- 3,5-diamino-6-cloropirazina-2-carboxamida (Figura 9 .13). , E utilizada na forma de cloridrato hidrossolúvel, em com- primidos e soluções com os nomes comerciais Amilamont®, Amidol®, Amilospare® e Midamor®, entre outros. Está também disponível em associação com outros diuréticos, como a furosemida e a hidroclorotiazida, e especialmen- te nos tratamentos de longa duração para compensar os estados de hipopotassemia, com os nomes Amilorida®, , Lasoride®, Moduret®, Moduretic®, etc. E indicada no tra- tamento do edema associado à cirrose hepática, incluin- do a ascite e a insuficiência cardíaca, em doses de 5 a 1 O mg diárias, com a dose máxima de 20 mg. Durante o tra- tamento com a amilorida, deve-se evitar as dietas ricas em potássio e a administração de cloreto de potássio. A amilorida é incompletamente absorvida no trato gastrintestinal. Quando administrada antes das refeições, , a sua biodisponibilidade aproxima-se de 50%. E excretada inalterada na urina. O seu efeito diurético ocorre duas horas após a administração oral, com pico máximo entre 6 a 1 O horas e duração de aproximadamente 24 horas. A sua ação diurética pode estender-se por quatro dias em pacientes com insuficiência renal grave. Durante o emprego da amilorida, há possibilidade de ocorrência de vários efeitos adversos, mais comuns em idosos, em diabéticos e em pacientes com insuficiência renal, como náuseas, vômitos, dores abdominais, diarréia, sede, prurido, tontura, cansaço e cefaléia. A hiperpotas- semia é comum quando a amilorida é administrada em associação com diuréticos poupadores de potássio, e par- ticularmente em pacientes com insuficiência renal. Essa retenção do potássio é mais acentuada quando há uso concomitante de fármacos inibidores da enzima conver- o HN CI N NH2 H H2N NH2 A FIGURA 9.13 Amilorida (A) e triantereno (B). sora de angiotensina (ECA) e antiinflamatórios não-este- róides, de modo que essas associações devem ser evita- das. Portanto, durante o emprego da amilorida deve-se evitar as dietas ricas em potássio e a ingestão de cloreto de potássio e de bebidas energizantes. O triantereno é pouco absorvido após a adminis- tração oral, com biodisponibilidade de cerca de 50%. A sua ligação com as proteínas plasmáticas é moderada (67o/o). O triantereno é extensivamente biotransformado, sendo excretado na urina de forma inalterada e como , metabólitos conjugados. E também excretado no leite materno e atravessa a barreira placentária. O seu efeito diurético máximo ocorre em cerca de duas horas após a administração oral, com duração de ação de 7 a 9 horas. A administração inicial é de doses de 100 a 250 mg após o desjejum. Essas doses iniciais devem ser ajustadas con- forme as necessidades do paciente. Quando utilizado em associação com o diurético hidroclorotiazida (Iguassina®) ou com a furosemida (Diurana®), no tratamento da hi- pertensão, a dose diária de triantereno deve ser reduzi- da para 50 mg. Diuréticos osmóticos São substâncias farmacologicamente inertes, filtra- das nos glomérulos, reabsorvidas incompletamente ou não-reabsorvidas no néfron. Assim, a reabsorção passiva de água é reduzida pela presença do soluto não-reabsor- vido no túbulo renal, mais especialmente na região proximal ao glomérulo. Esse fato causa um efeito secun- dário que é reduzir a reabsorção do sódio, pois a sua con- centração dentro do túbulo proximal é mais baixa do que deveria ser, alterando o gradiente eletroquímico para a reabsorção. Portanto, o principal efeito dos diuréticos osmóticos consiste em aumentar o volume de água excretada, com aumento relativamente menor da excreção urinária do sódio. Em conseqüência, esses compostos não são úteis no tratamento de condições associadas à retenção de sódio, mas apresentam aplicações terapêuticas muito mais limitadas, como a elevação aguda da pressão intracraniana ou intra-ocular e a prevenção da insuficiência renal agu- da. Nesta última condição, a taxa de filtração glomerular é reduzida e a absorção de sal e água no túbulo proximal torna-se quase completa, de forma que as partes mais distais do néfron praticamente secam e o fluxo de urina cessa. H2N N NH2 ~ ~ N ~N NH2 B Tabela 9.5 DOSES POSOLÓGICAS (DP) E DIÁRIAS (DO) DOS DIURÉTICOS Fármacos Acetazolamida Amilorida Bendroflumetiazida Blumetanida Clortalidona Diclofenamida Espironolactona H id roclorotiazid a Hidroflumetiazida lndapamida Metazolamida Piretanida Politiazida Triantereno Triclormetiazida DP 25 5 a 10 2,5 a 5 0,5 a 1 25 a 50 100 a 200 25 a 100 25 a 50 50 a 100 2,5 a 5 50 a 100 6 1a4 100 a 250 1a4 DD 25 10 a 20 5 a 10 0,5 a 2 25 a 100 100 a 200 50 a 200 50 a 100 100 2,5 a 5 100 a 200 6 a 12 1a4 250 1a4 a 20 O tratamento da elevação aguda da pressão intra- craniana (edema cerebral) e da pressão intra-ocular (glau- coma) baseia-se no aumento da osmolaridade plasmática induzida por solutos que não penetram no cérebro e no olho. Assim, ocorre o extravasamento de água nesses com- partimentos. O manitol e o sorbitol são os principais diuréticos osmóticos disponíveis no mercado (ver fórmulas estrutu- rais na Figura 9.14). O manitol não deve ser administrado em pacientes com edema ou congestão pulmonar e com insuficiência cardíaca. Deve ser associado com a reidratação para au- mentar o fluxo urinário em pessoas com insuficiência re- nal e para reduzir a pressão intracraniana e no tratamen-, to do edema cerebral. E também usado para reduzir a pressão intra-ocular nos procedimentos pré-cirúrgicos of- tálmicos e para facilitar a excreção de produtos tóxicos nos envenenamentos agudos. O manitol é usado em solu- ção parenteral, em frascos de 250 e 500 mL, na concen- tração de 20%. O emprego do manitol é permitido so- HO--+--H H---+--OH HO--+--H HO---+--H H OH H OH H OH H OH Manitol Sorbitol FIGURA 9.14 Diuréticos osmóticos. Fármacos e medicamentos 207 mente em hospitais. Deve ser administrado por via endo- venosa, em doses de 0,5 a 2 g por quilo de peso, por infu- são contínua, durante o período de 30 a 60 minutos. A dose usual é de 1 g por quilo de peso corpóreo. Os efeitos adversos mais comuns que surgem duran- te o emprego do manitol incluem náuseas, vômitos, sede, cefaléia, taquicardia, hipotensão ou hipertensão, hipo- natremia e visão borrada. Têm sido relatados casos de intoxicação grave por uso prolongado em pacientes com insuficiência renal. O manitol pode potencializar os efeitos diuréticos dos compostos inibidores da anidrase carbônica e pode aumentar a possibilidade de ocorrência de efeitos tóxicos dos glicosídeos digitálicos. O manitol é pouco absorvido no trato gastrintestinal. Depois da administração endovenosa, é rapidamente excretado pelos rins. A sua duração de ação é de 3 a 8 horas. O sorbitol está disponível em associação com o lau- rilsulfato de sódio na especialidade farmacêutica Minilax®, indicada como laxante osmótico. O sorbitol, na concen- tração de 70%, é considerado o agente catártico preferi- do para acelerar a remoção de compostos tóxicos do tra- to gastrintestinal, especialmente nas intoxicações exó- genas. Para a catarse em adultos, é administrado no volu- me de 50 a 100 mL, e, em crianças, de 1a2 mL por quilo de peso. REFERÊNCIAS CONSTANZO, L. S. Fisiologi.a. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. p. 192-228. GUYfON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologi.a méd.ica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. p. 291-322. GUYfON, A. C.; HALL, J. E. Fisiologi.a humana e mecanismos das doenças. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. p 191- 227. IVES, H. E.; WARNOCK; D. G. Drogas diuréticas. ln: KATZUNG, B. G. Farmacologi.a básica e clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. p. 180-194. KARIM, A Spironolactone: disposition, rnetabolisrn, pharrnadynarnics and bioavailability. Drug Metabolism Reviews, v. 8, n. 1, p. 151-188, 1978. KOROLKOVAS, A.; FRANÇA, F. F. A. C. DicionárioTerapêutico Guanabara. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. p. 14.1-14.5 RANG, H. P. et al. Farmacologi.a. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 402-418. RANKlN, G. O. Diuretics. ln: FOYE, W. O.; LEMKE, T. L.; WILLIAMS, D. A. Medicinal chemistry. 4. ed. Baltimore: William & Wikins, 1995. p. 405-415. SAGGAR-MALIK, A. K.; CAPPUCCIO, E P. Potassiurn supplernents and potassiurn sparing diuretics A review and guide to appropriate use. Drugs, v. 46, n. 6, p. 986-1008, 1993. UNITED STATES PHARMACOPOEIA DISPENSING INFORMATION - USP-DI. Organización Panarnericana de la Salud. Publicación Cientifica OPS n. 525, p. 947-974, 1989.
Compartilhar