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O sistema de complemento consiste em um conjunto de proteínas séricas que existe no soro de seres humanos e animais, e que tem por função atuar na lise de bactérias que eventualmente entrem no organismo, assim como facilitar o processo de fagocitose e promover a quimiotaxia como algumas quimiocinas fazem. O sistema de complemento é importante principalmente em casos de infecções bacterianas. Como ele é um componente muito vinculado à ação da imunidade inata, ele vai ser extremamente importante nos primeiros momentos logo após a infecção, quando o organismo tenta debelar a colonização por parte dos patógenos. A ausência ou dificuldade na produção do sistema de complemento pode acontecer principalmente em casos de hepatite, pois ele é produzido no fígado. Essa ausência ou dificuldade na produção pode gerar uma predisposição dos organismos em desenvolver infecções bacterianas (imunodeficiência após hepatites). O sistema de complemento foi descoberto em 1896 pelo belga Jules Bordet. Ele observou que o soro era capaz de provocar a morte de bactérias, mas se esse soro fosse aquecido, essa capacidade de causar a lise das bactérias era perdida. Isso porque as proteínas do sistema de complemento são termolábeis, ou seja, não resistem ao aquecimento (diferente dos anticorpos que tem uma maior resistência). A partir dessa observação, Jules Bordet elaborou a ideia de que algum componente do soro complementava sua ação lítica. Em função dessa descoberta, Bordet ganhou o prêmio Nobel de medicina em 1919. Além de atuar na lise celular, na opsonização e na quimiotaxia, o sistema de complemento atua também na remoção de fragmentos apoptóticos, a partir do reconhecimento desses fragmentos pelas proteínas que o compõe. O sistema de complemento é um sistema de zimogênios, ou seja, um conjunto de proteínas que geralmente são inativas e que a partir de um determinado estímulo são ativadas. Esse estímulo é principalmente a presença de patógenos que possuem em sua superfície proteínas características ou componentes característicos como carboidratos ou lipídeos que são reconhecidos pelo sistema imune, particularmente o sistema imune inato, e a partir daí o sistema de complemento é ativado. O sistema de complemento é composto por aproximadamente 30 proteínas, que se organizam em grupos de ativação e em grupos funcionais diferentes. Essas proteínas começam a se desenvolver muito cedo, a partir do final do primeiro trimestre da vida fetal. Cerca de 90% dessas proteínas são produzidas por macrófagos hepáticos, ou seja, pelas células de Kupffer. No entanto, alguns componentes também são produzidos no intestino (C1), nos adipócitos (fator D) e até mesmo nas células derivadas da medula óssea (C7). As 30 proteínas do sistema de complemento são divididas em classes moleculares. Algumas têm a função de ligação, outras são ativadores enzimáticos, outras formam uma estrutura chamada complexo de ataque à membrana (MAC), algumas atuam como opsoninas e outras são mediadores da inflamação, envolvidas no processo de quimiotaxia principalmente. Classes funcionais das proteínas do sistema de complemento: Função Proteína Via Ligação a complexo antígeno anticorpo C1q Via clássica de ativação Ligação a resíduos de manose na superfície de bactérias MBL* Via das lecitinas Ativadores enzimáticos C1r C1s C2b Via clássica Bb D Via de ativação alternativa MASP-1 MASP-2 Via das lecitinas Proteínas de ligação à membrana e opsoninas C4b C3b Via clássica Peptídeos mediadores da inflamação C3a C4a C5b Via clássica, mas também participam da via alternativa Complexo de ataque à membrana (MAC) C5b C6 C7 C8 C9 Presente nas três vias de ativação *Mannose-binding lectin – a manose é um carboidrato muito frequente na superfície de bactérias. A função do MAC é formar poros na membrana dos patógenos, que vai conferir a lise de bactérias. São formados poros em uma quantidade considerável que acaba levando ao desequilíbrio eletrolítico da bactéria, que vem à morte por causa da lise. VIAS DE ATIVAÇÃO O conjunto das proteínas do sistema de complemento se organizam em três vias de ativação, ou seja, podem ser ativados de três formas diferentes, e isso tem a ver principalmente com a forma que essas proteínas se ligam inicialmente na superfície de patógenos, particularmente de bactérias. A via mais conhecida é a chamada via clássica, e essa é uma via que depende de anticorpos. Na verdade, as proteínas do sistema de complemento não se ligam diretamente ao patógeno: primeiro, é necessário que os patógenos sejam ligados por anticorpos, para que a partir daí as proteínas do sistema de complemento se liguem à porção Fc dos anticorpos para serem ativadas. A outra via é a das lecitinas, proteínas da família das lecitinas que se ligam ao carboidrato presente na superfície das bactérias, principalmente a resíduos do carboidrato manose. A outra via é a alternativa, que se liga a qualquer componente molecular que esteja presente na superfície do patógeno, seja carboidrato, lipídeo ou até mesmo proteína. Do ponto de vista evolutivo, a via alternativa e a via das lecitinas são as primeiras vias que surgem no desenvolvimento do sistema imune ao longo da evolução dos seres vivos. A via clássica surge bem depois, quando surge o sistema imune adaptativo e os peixes cartilaginosos como os tubarões. Embora sejam três vias diferentes que começam de formas distintas, todas elas confluem para um componente comum chamado C3, e a partir dele, tem-se a porção final das vias de ativação que vai resultar na formação do chamado MAC. Isto é, todas elas vão confluir para a lise dependente da formação do complexo de ataque a membrana. Todas as vias de ativação confluem para a formação de um complexo enzimático ativado que é a C3 convertase. Essa enzima vai clivar o componente do sistema de complemento chamado C3 em C3a e C3b. A partir dessa clivagem, vão ser formados outros componentes ativados do sistema de complemento, que vão ter, por exemplo, função de promover processo inflamatório e quimiotaxia, outros vão ter o papel de opsonizar, facilitando o processo de fagocitose como o C3b, e a formação do MAC envolvido na lise celular. Vias de ativação e subcomponentes da clivagem do componente C3 a partir da C3 convertase. A via clássica começa com a ligação do componente C1q às subunidades “r” e “s”, formando o C1qr2s2, que se liga à porção Fc das moléculas de anticorpo, formando o componente C1qr2s2 ativado. Essa subunidade ativada vai atuar sobre um outro componente do sistema de complemento: o C4, que é clivado em C4a e em C4b. O C4b vai se ligar ao componente C2 e vai clivá-lo, formando o C4b2a e também uma subunidade chamada C2b. O C4b2a é um complexo enzimático chamado de C3 convertase, que vai clivar o C3, dando origem ao C3a e ao C3b. A subunidade C3b vai se ligar à C3 convertase e formar a C4b2a3b, também chamada de C5 convertase. Essa C5 convertase é que dá origem à ativação do chamado complexo de ataque à membrana, atuando sobre a subunidade C5, que quando clivada se liga aos componentes C6, C7, C8 e C9, que formam os poros que vão dar origem à lise nas bactérias. Na via das lecitinas, ao invés de ter o complexo C1qr2s2 se ligando à porção Fc, vai ter a proteína MBL, que se liga diretamente aos resíduos de manose presentes na superfície das bactérias. Essa ligação vai promover uma ativação, e vai ser formado um complexo ativado semelhante ao C1, que vai clivar o componente C4 em C4a e C4b, formando a C3 convertase, que vai atuar sobre o C3 dando origem à C5 convertase, e esta por sua vez ao MAC. A via alternativa vai ser dependente da ligação do C3 diretamente na superfície de patógenos. Essa ligação já é o suficiente para fazer a clivagem desse componente, quese liga à outras subunidades do sistema de complemento, formando uma C3 convertase análoga àquela formada na via clássica, chamada de C3bBb. Essa C3 convertase atua sobre o C3, gerando a C5 convertase a partir da união do C3b à C3 convertase (C3bBb3b), e daí começa a formação do MAC, a partir da clivagem do C5. A ativação da via clássica começa a partir de anticorpos ligados à superfície de patógenos, como demonstrado na figura a seguir: Paratopos de IgM pentamérica ligados aos epítopos de um patógeno, com as porções Fc das subunidades de IgM livres, onde se liga o componente C1qr2s2 do sistema de complemento. Uma outra imunoglobulina que também pode se ligar à superfície de bactérias e ser alvo de ligação das proteínas da via clássica é a IgG. Para ocorrer a ligação do sistema de complemento, ele se liga à duas unidades diferentes de IgG. A IgM pentamérica tem mais pontos de ligação na superfície de um patógeno do que a IgG, então ela é melhor para ativar o sistema de complemento, pois as unidades de IgG devem estar próximas para serem alvo de ligação da C1qr2s2. Componente C1 do sistema de complemento da via clássica. São 6 subunidades de C1q, que servem de suporte para ligação das subunidades C1r e C1s. A proporção é de duas moléculas de C1r e C1s para cada molécula de C1q. Dessa forma, no complexo todo são 6 subunidades de C1q, 12 de C1r e 12 de C1s, então são 6 subunidades idênticas formando o C1qrs. O componente C1qr2s2 se liga à porção Fc dos anticorpos que estão ligados ao patógeno. Quando essa ligação acontece, ocorre uma mudança conformacional no complexo C1qrs, e acaba sendo ativado o sítio catalítico desse complexo. Quando isso acontece, esse complexo pode atuar sobre a subunidade C4, promovendo a clivagem desse componente em C4a, que vai ter outras funções dentro do sistema de complemento, e em C4b, que vai ser ligado à subunidade C2. Essa ligação vai fazer com que o C2 seja clivado em C2b e em C2a. Quando ocorre a ligação do componente C4b ao C2a, é formado o complexo proteico com função enzimática C3 convertase. O C3 vai então se ligar ao complexo C4b2a e vai ser clivado em C3a e em C3b. Esse C3b acaba se ligando à C3 convertase e forma a C5 convertase (complexo C4b2a3b), que vai atuar sobre C5. A C5 convertase cliva a C5 em C5a e em C5b, e quando esta última é formada, ela se liga na superfície do patógeno e serve de suporte para a ligação de outras subunidades do sistema de complemento. O C5b clivado vai ser ligado aos componentes C6 e C7, formando uma estrutura proteica complexa chamada de C5b67, que serve de suporte para o componente C8, e a partir daí forma-se o início do complexo de ataque à membrana C5b678. Por sua vez, o C5b678 serve de suporte para a subunidade C9. Várias subunidades de C9 se ligam então a esse ponto inicial, formando o poro que vai permitir a entrada e saída de líquidos e de sais minerais de dentro da bactéria, e então está formado o complexo de ataque à membrana. O resultado final é o observado nas imagens acima: as duas primeiras imagens são uma eletromicrografia da parede celular de uma bactéria, com os MAC formando os poros. A última é uma representação do tamanho de um complexo de ataque à membrana em relação ao tamanho da membrana bacteriana. Via alternativa. Representação de todo o processo da via alternativa. É importante lembrar que as três vias não ocorrem de forma separada, mas sim simultaneamente. Primeiro ocorre a ativação da via alternativa, em seguida da via das lecitinas e por último da via clássica. Tanto a via alternativa quanto a via das lecitinas podem ser consideradas como componentes da imunidade inata, elas não precisam de anticorpos e da ativação de linfócitos para serem ativadas. Já a via clássica, para ser mais efetiva, precisa ter uma produção expressiva de anticorpos, e isso vai demorar de 14 a 21 dias após a infecção. As três vias também se relacionam da seguinte forma: como depois que ocorreu a formação dos anticorpos vão ter várias subunidades C3 sendo clivadas, a própria ação da via clássica acaba amplificando a via alternativa, devido à maior disponibilidade de componentes C3b livres para iniciar o processo de formação da C3 convertase pela via alternativa. A via clássica também vai acabar facilitando a ocorrência da via de ativação das lecitinas. FUNÇÕES Existem outras funções decorrentes das clivagens das unidades de proteína do sistema de complemento além da formação do MAC. Vão ser geradas subunidades que têm a função de promover a migração de células (quimiotaxia), outras vão funcionar como opsoninas, facilitando o processo de fagocitose e a remoção de partículas decorrentes da apoptose. A função mais conhecida do sistema de complemento é a formação do complexo de ataque à membrana. Mas ele também realiza as funções citadas acima. A lise da bactéria ocorre basicamente a partir da ação do MAC. Algumas proteínas do sistema de complemento revestem a bactéria, e existem receptores para essas proteínas na superfície de fagócitos, principalmente macrófagos, facilitando o processo de fagocitose. Algumas proteínas do sistema de complemento também se ligam na superfície de mastócitos e promovem a degranulação, e com isso a liberação de mediadores químicos logo após (minutos) a instalação do sítio infeccioso. O sistema de complemento, junto com os anticorpos, ajuda a retirar os imunocomplexos do meio extracelular – se o indivíduo estiver com algum problema hepático e não estiver sintetizando muitas proteínas do sistema de complemento, ele pode ter problemas por deposição de imunocomplexos, principalmente no âmbito dos rins. O componente capaz de ativar mastócitos e promover sua degranulação é o C5a. Então quando ocorre a clivagem do componente C5 é formado o C5b, que vai ajudar na formação do MAC, e o C5a, que se liga na superfície dessas células e promovem sua degranulação. O efeito disso é uma vasodilatação e passagem de líquido para o tecido conjuntivo, e um relaxamento da musculatura lisa dos vasos sanguíneos, também por ação do C5a. Esse extravasamento e o aumento da permeabilidade vascular também vai favorecer a quimiotaxia, tanto por uma ação direta do sistema de complemento - C5a e C3a atuam diretamente no processo de migração - quanto pela ação indireta deles sobre os mastócitos, que também vão liberar fatores quimiotáticos. Aplicação clínica Existem raças caninas, como uma variante do Setter Irlandês, que têm uma predisposição genética para não produzir alguns elementos do sistema de complemento, ou seja, eles possuem uma deficiência na produção de certos componentes. Nas linhagens afetadas, os filhotes vivem até mais ou menos os 3 meses, quando ainda têm a imunidade passiva de origem materna, depois disso, quando o sistema imune desses animais precisam começar a funcionar sozinhos, eles tem infecções bacterianas sucessivas. Esses animais não têm a capacidade de produzir o componente C3 do sistema de complemento. Além das infecções bacterianas sucessivas, eles também tinham um quadro de insuficiência renal, resultado da deposição excessiva de imunocomplexos. Do ponto de vista evolutivo, as proteínas do sistema de complemento são bem antigas, mas as primeiras que surgem são as proteínas da via alternativa. O C3 e o fator B estão presentes quando surgem na evolução os moluscos e os ascídios, e vai sendo mantida a via alternativa até os mamíferos. A via das lecitinas aparece de forma descontínua – a MBL, as MASPs e as ficolinas vão aparecer nos ascídios, sendo essa via mais jovem que a via alternativa, mas mais antiga que a via clássica. Os componentes da via C1q e da via clássica só vão aparecer quando surge o sistema imune adaptativo com os peixes cartilaginosos como o tubarão, permanecendo ao longo da evolução. COMPLEXOPRINCIPAL DE HISTOCOMPATIBILIDADE Consiste em um conjunto de moléculas envolvidas na ativação do sistema imune, que são responsáveis diretas pela diferença na capacidade de responder a antígenos. Membros de uma mesma família, por exemplo, respondem de forma distinta a um patógeno, e isso pode ser explicado pela diferença na composição do MHC de cada indivíduo. O complexo principal de histocompatibilidade é uma molécula que ajuda a fazer a comunicação entre as células da imunidade inata e as células da imunidade adaptativa. Muito mais do que isso, ela torna os antígenos visíveis para os linfócitos T. Os linfócitos T não conseguem enxergar antígenos íntegros, eles conseguem enxergar apenas pedaços, que só são visualizados quando ligados às moléculas de MHC, ou seja, às moléculas do complexo principal de histocompatibilidade. As moléculas de MHC (major histocompatibility complex) são importantes, portanto, para a comunicação entre a imunidade inata e a imunidade adaptativa, mas elas não foram descobertas no estudo dessa função. Na verdade, o entendimento da molécula de MHC passou por experiências relacionadas aos transplantes, às transfusões sanguíneas, e à epidemiologia veterinária, tentando responder o porquê de alguns indivíduos responderem bem à doença e outros não. Dessa forma, o estudo dessas moléculas não se deu de uma forma linear e contínua, ele recebeu várias contribuições em diferentes momentos da história da ciência e da imunologia. Para entender melhor a história do MHC, é preciso lembrar que os linfócitos T ativam outras células, particularmente os linfócitos T auxiliares, mas também os linfócitos T citotóxicos, importantes para induzir a apoptose em células infectadas por vírus ou células neoplásicas. Para que essa ativação ocorra, é necessário que os linfócitos T sejam ativados por células apresentadoras de antígeno, e essa ativação ocorre através da exposição de pedaços dos antígenos na superfície de moléculas de MHC que estão na membrana plasmática das APCs. Essa primeira situação ocorre em um órgão linfoide secundário. Em uma segunda situação, tem-se a atuação dos macrófagos. Nesse caso, isso ocorre no sítio de infecção. Na terceira situação estão os linfócitos B, situação que poderia estar ocorrendo na região cortical de um linfonodo. Nessas três figuras, de ativação celular, é importante notar a importância da comunicação entre as células apresentadoras de antígenos com os linfócitos T auxiliares. Essa comunicação ocorre mediante a interação da molécula de MHC das APCs com os receptores de linfócitos T localizados nos linfócitos T auxiliares. A descoberta da molécula de MHC foi quase que uma consequência do estudo de três aspectos do sistema imune. O primeiro aspecto é em relação à genética envolvida na resposta imune – por que alguns organismos respondiam bem a alguns antígenos e outros não? Ou por que alguns organismos resistiam bem às infecções e outros não? - teve uma época, principalmente na segunda metade do século XX (entre os anos 1950 e 1970), em que os geneticistas se ocuparam dos problemas da imunologia, e eles começaram a identificar os genes que controlavam a resposta imune, descobrindo que esses genes eram polimórficos, ou seja, genes que têm mais de dois alelos possíveis para o mesmo locus. Isso significa que é possível ter mais do que duas características (uma dominante e uma recessiva). No caso dos genes de MHC, são identificados mais do que 100 alelos possíveis. O resultado disso é que, dentro de uma população, dificilmente vão existir pares de alelos se repetindo, e com isso frequências distintas de pares de alelos – por isso os indivíduos acabam respondendo de uma forma distinta. Essa característica dificultou muito o estudo a respeito desses genes e do controle genético da resposta imune. A solução para esse problema só foi conseguida quando os imunologistas, especialmente os que também eram geneticistas, começaram a usar uma ferramenta que foi desenvolvida no início do século XX, que eram os animais isogênicos (animais exatamente iguais do ponto de vista genético, mas não são gêmeos univitelinos). Esses animais são obtidos a partir de cruzamentos, e os primeiros isogênicos obtidos foram ratos, e logo em seguida foram desenvolvidos os camundongos isogênicos. Em uma ninhada, pegam-se dois irmãos e os cruzam, em uma série de cruzamentos durante 20 gerações. Após essas 20 gerações, todos os locus gênicos de toda a progênie possuem genes iguais. A partir do momento em que se tinham as linhagens isogênicas, seria possível estudar a forma como cada linhagem respondia a um determinado antígeno. Existem duas linhagens de camundongos, os Balb/c e os C57BL/6. Esses dois tipos de camundongos podem ser infectados por leishmania, sendo essa infecção letal no Balb, mas não nos C57, que resistem a ela. Sabia-se que existia um controle genético, mas não exatamente a bioquímica e o papel do gene. Só depois foi descoberto que o gene codificava um tipo de molécula chamada de MHC. E só depois se descobriu que o produto desse gene era uma proteína que estava diretamente envolvida na comunicação entre células da imunidade inata e adaptativa. Uma outra contribuição para a descoberta do MHC foi a questão dos transplantes. Usando uma observação de animais de fazenda e fazendo-se transplantes em gêmeos bovinos de sexos diferentes, ou seja, falsos gêmeos, foi descoberto que havia um controle genético também na questão da aceitação ou rejeição dos transplantes. Ao se investigar, descobriu-se também que eram os genes e as moléculas de MHC que estavam por trás desses fenômenos. O pesquisador que deu o pontapé inicial nessa história foi Ray Owen, um cientista norte-americano que começou a fazer estudos de transplante de pele em gêmeos bovinos não idênticos em 1945. Ele utilizava um fenômeno da criação animal que era os gêmeos freemartin* para identificar os gêmeos não idênticos. *Quando se tem uma gestação gemelar bovina, mas um é macho e a outra é fêmea, e durante o período de vida fetal eles trocam sangue e células, e nesse processo ocorre uma adaptação dentro do sistema imune, em que um animal não vai rejeitar um transplante de pele do outro em um futuro mesmo eles sendo geneticamente diferentes. Placenta bovina com a circulação fetal e anastomose. Troca de componentes sanguíneos a partir da circulação placentária, logo antes do parto, quando o sistema imune está aprendendo a conviver com seus próprios componentes. Um bezerro vai ter células do seu gêmeo não idêntico e vai ser uma quimera, ou seja, vai viver com células de outro indivíduo dentro do seu organismo. Os ratos Wistar (isogênicos) são utilizados até hoje, principalmente em estudos para o desenvolvimento de novos fármacos. O pesquisador James F. Crow foi o que desenvolveu as primeiras linhagens de camundongos e foi um dos criadores do laboratório Jackson no final dos anos 30, que até hoje contém a patente e o nohall de desenvolvimento de linhagens isogênicas. Embora algumas linhagens sejam desenvolvidas em universidades e em institutos de pesquisas, a estrutura para manter a criação desses animais e manter estável a base genética pura deles é muito difícil e exige um custo operacional bem elevado. O primeiro camundongo isogênico desenvolvido pelo laboratório foi o CBA, e a partir dele foram desenvolvidas várias outras linhagens (Balb, Balb/c, DBA, DBA2, C57, BLACK/6, C57-BLACK6). CBA. Quando se quer estudar uma determinada característica de resposta imune, são utilizadas linhagens isogênicas de camundongo. Outro braço histórico da molécula de MHC é o médico britânico Peter Medawar. Ele nasceu na cidade de Petrópolis em 1915 e foi um médico da Segunda Guerra Mundial, atendendo vítimas de queimadura. Ele tentava salvá-las com o transplante de pele, percebendo que a pele ficava íntegradurante as duas primeiras semanas, mas depois havia uma rejeição. Em 1960 ele foi um dos agraciados com o prêmio Nobel de medicina por seus estudos com transplantes de pele em camundongos. Experimento de Peter Medawar. Ele pegou células do baço de uma linhagem A e as aplicou em uma outra linhagem de neonatos CBA. Ele esperou essa linhagem se desenvolver até a idade adulta, e realizou um transplante de um pedaço de pele da linhagem A para essa outra CBA. O resultado disso foi a aceitação desse transplante. Se fosse utilizada a pele de uma outra linhagem para a qual eles não foram sensibilizados previamente quando neonatos, o transplante seria mal sucedido e rejeitado. Embora Medawar tenha descoberto que havia uma base genética nos transplantes, quem extrapolou isso para o ponto de vista do MHC foi o cientista George Davis Snell, que ganhou o prêmio Nobel de medicina em 1980. Snell ampliou os estudos de Medawar, fazendo-os com diferentes linhagens, e com isso ele conseguiu elucidar os detalhes da genética de transplantes (tolerância). APRESENTAÇÃO DE ANTÍGENOS Os linfócitos T só reconhecem pedaços pequenos dos antígenos: peptídeos, sequências de pouco mais do que 10 resíduos de aminoácidos que são capazes de se ligar à molécula de MHC. Os linfócitos T CD4+ só reconhecem antígenos apresentados por moléculas de MHC de classe II. E os linfócitos T CD8+ só reconhecem antígenos apresentados nas moléculas de MHC de classe I. Então, há uma relação direta entre o tipo de linfócito T e o tipo de molécula de MHC que vai apresentar antígenos, no caso, peptídeos para esses respectivos linfócitos T. A interação entre molécula de MHC e molécula de linfócito T tem uma determinada possibilidade de ligação. Mas, também faz parte desse acoplamento a presença do peptídeo do antígeno. O receptor do linfócito T não reconhece o peptídeo do antígeno sozinho, e nem a molécula de MHC da célula apresentadora de antígeno sozinha. O MHC deve estar ligado ao peptídeo para que o linfócito T o reconheça através do seu receptor. Diferentes contextos em que vai ocorrer a apresentação de antígenos via molécula de MHC ao receptor de célula T. Nas três situações representadas acima, a molécula de MHC que está apresentando o antígeno é de classe II, porque nessa representação são linfócitos T auxiliares que estão sendo ativados por essa apresentação. Qualquer célula do organismo é uma célula apresentadora de antígeno em potencial. Mas, apenas algumas células do organismo são células apresentadoras de antígenos profissionais. Elas apresentam complexos de peptídeo-MHC para células T. Além disso, elas fornecem estímulos adicionais às células T, como as citocinas, mas também existem outras moléculas nas células apresentadoras que se ligam às moléculas dos linfócitos T: são moléculas auxiliares ou co-estimulatórias. A capacidade de apresentar antígenos é intensificada quando elas são estimuladas pelo contato com o patógeno (com a manose, por exemplo, no caso dos macrófagos). As APCs que apresentam antígenos às células T também recebem sinais desses linfócitos quando esse processo está ocorrendo, que intensificam a sua função de apresentação. É o que acontece principalmente quando os macrófagos e os linfócitos B estão apresentando antígenos para linfócitos T efetores. Três principais vias pelas quais os antígenos entram no organismo: pelo contato direto com a pele, através do trato gastrointestinal, e pelo trato respiratório. Em qualquer uma dessas três vias, existe na porta de entrada a presença de células apresentadoras de antígenos. Uma APC muito comum é a chamada célula dendrítica. As APCs têm a capacidade de migrar do sítio de infecção para o órgão linfoide mais próximo, que geralmente é um linfonodo drenante da região onde está o sítio de infecção. Às vezes, em qualquer uma das três vias, os antígenos caem na corrente sanguínea, e nesse caso, as células dendríticas e eles podem parar no baço. Hoje se sabe que existe mais de um tipo de células dendríticas: as convencionais e as mieloides. As DCs convencionas estão envolvidas principalmente no reconhecimento, processamento e apresentação de antígenos proteicos de origem bacteriana, enquanto as mieloides reconhecem principalmente vírus, conseguindo apresentar esses antígenos principalmente para linfócitos T CD8+. As DCs mieloides também estão intimamente relacionadas com a capacidade de o organismo produzir interferon, citocina extremamente importante para lidar com as infecções virais. As células dendríticas são boas para capturar antígenos proteicos, e não de outra natureza, os apresentando principalmente para linfócitos T do tipo alfa beta (CD4+ e CD8+). DCs na pele (epiderme): células de Langerhans, e no linfonodo. As células dendríticas se colocam em duas condições: uma imatura e outra com uma DC ativada. Em que a DC imatura difere da ativada: a principal característica é a quantidade de moléculas de MHC por área da membrana celular – a célula imatura tem, no máximo, dezenas de moléculas de MHC por unidade de área, enquanto a ativada pode expressar centenas e até milhares de moléculas de MHC por unidade de área de membrana. Na região da paracortical dos linfonodos, as DCs vão ativar linfócitos T VIRGENS. Diferenças entre as células dendríticas imaturas e maturas: As DCs imaturas são muito boas para fazer fagocitose, então elas expressam receptores para a porção Fc dos anticorpos e também receptores de manose. Já nas DCs maturas, praticamente não há a expressão desses receptores, pois ela é apresentadora, não vai fazer fagocitose. A expressão de moléculas co-estimulatórias e de adesão (B7, ICAM-1 e IL-12) é negativa ou muito baixa nas DCs imaturas, e muito alta nas maduras. O tempo de duração de moléculas de MHC de classe II na superfície da membrana das DCs é de aproximadamente 10 horas para as DCs imaturas e de mais de 100 horas para as maduras, isso para aumentar a probabilidade de contato com os receptores de linfócitos T. O número total de moléculas na superfície das DCs ativadas aumenta 7 vezes em relação às imaturas (7 x 106 e 106 respectivamente). ESTRUTURA A molécula de MHC tem duas cadeias polipeptídicas que se arranjam para ter uma estrutura de fenda na parte mais externa, onde se aloja o peptídeo que vai ser apresentado ao linfócito T. Do ponto de vista estrutural, essa molécula tem domínios semelhantes à imunoglobulina, além de domínios transmembrana e citoplasmático, que são associados às moléculas que fazem a transdução de sinal. Representação da molécula de MHC de classe II. A molécula de MHC de classe II possui duas cadeias polipeptídicas, uma alfa e uma beta. Assim como nas imunoglobulinas, a porção carboxiterminal fica associada à membrana, e a porção aminoterminal fica voltada para o meio extracelular. Na porção aminoterminal da cadeia alfa e da cadeia beta, nos seus domínios 1 e 1, é formada a fenda de ligação ao peptídeo. Dentro da estrutura da molécula tem os domínios 2 e 2, semelhantes às imunoglobulinas. O MHC possui resíduos de aminoácidos polimórficos localizados na fenda de ligação aos peptídeos e adjacentes a ela, ou seja, vai haver uma variação, mas em decorrência de um polimorfismo. Os genes polimórficos vão influenciar principalmente na composição do domínio 1 e 1. Os domínios não polimórficos das moléculas de MHC contêm sítios de ligação para as moléculas CD4 (no MHC de classe II) e CD8 (no MHC de classe I). A ativação dos linfócitos T é restrita às moléculas de MHC, isto é, as células T de um indivíduo só vão reconhecer antígenos que sejam apresentados por MHC do próprio indivíduo onde os linfócitos T foram maturados, não sendo possível ativar os linfócitos T de um outro indivíduo. Isso acontece porque durante o processo de maturação dos linfócitos T, há um direcionamento para que apenassejam reconhecidos os MHCs do próprio organismo. Para isso, inoculou-se o citomegalovírus em um rato de uma linhagem A (vírus responsável por uma coriomeningite viral linfocítica). Os linfócitos T citotóxicos foram então colocados juntamente com células apresentadoras de antígenos da linhagem A e da linhagem B apresentando peptídeos desse vírus. O resultado foi que as únicas células ativadas e que, nesse caso, sofreram apoptose, foram as células apresentadoras da linhagem A. As células da linhagem B não sofreram apoptose porque não há reconhecimento de um MHC de outro indivíduo que não aquele onde ocorreu a maturação dos linfócitos T. Quando o linfócito T estava reconhecendo uma célula do próprio organismo, ocorria a apoptose, pelo efeito citotóxico do linfócito T. Quando uma célula apresentadora não infectada tentasse ativar o linfócito T citotóxico, a apoptose não ocorria. Se fosse utilizada uma célula da linhagem B, também nada aconteceria, pois o MHC não é reconhecido. Fenômeno que demonstra a restrição pelo MHC. Um aspecto importante que regula o aumento da expressão de MHC é o aumento da produção de interferon gamma, uma das citocinas que marcam o início da atividade da imunidade adaptativa. As células NK, no sítio de infecção, são capazes de aumentar a expressão de moléculas de MHC de classe II, e também MHC de classe I nas células apresentadoras de antígenos. Elas entram em contato com o micróbio e passam a produzir uma maior quantidade de IFN- gamma, o que estimula as células dendríticas a produzirem mais moléculas de MHC em sua superfície. A célula dendrítica que se encontra em um órgão linfoide secundário vai estimular linfócito T auxiliar a se tornar efetor, que por sua vez vai para a corrente sanguínea, chegando no sítio de infecção (ele também é capaz de produzir interferon gamma). A primeira situação ocorre em questão de poucos minutos/horas após a infecção, e a segunda ocorre de 7 a 14 dias após. O efeito é aumentar a capacidade das células dendríticas de expressar moléculas de MHC, aumentando o número de APCs apresentando antígenos para os linfócitos Th. Representação do MHC de classe I: No MHC de classe I também existem duas cadeias polipeptídicas, mas não é uma alfa e uma beta, e sim uma alfa e uma beta 2 microglobulina. A cadeia alfa possui três domínios (alfa 1, 2 e 3). A fenda para ligação do peptídeo também é formada, mas com um domínio 1 e um 2. "Top view" das fendas formadas em cada uma das moléculas de MHC. Ressonância magnética nuclear MHC I e II. Na fenda do MHC de classe 1, geralmente se alojam peptídeos com cerca de 10 a 12 resíduos de aminoácidos. Já na fenda do MHC de classe II, alojam-se peptídeos com 14 a 17 resíduos de aminoácidos. Quando o peptídeo se aloja na fenda, alguns resíduos de aminoácidos se aderem mais firmemente, se alojando nos chamados bolsos do assoalho da fenda que se liga ao peptídeo, conferindo uma estabilidade ao complexo peptídeo-MHC. PROCESSAMENTO DE ANTÍGENOS Para que um antígeno seja apresentado via MHC de classe I, ele tem que ser sintetizado dentro da célula que vai apresentá-lo. Isso pode acontecer de duas formas: um vírus injeta seu material genético dentro da célula e passa a utilizar toda a maquinaria de síntese de proteína da célula infectada, e começa a produzir as proteínas virais, que são quebradas dentro da célula e se ligam às moléculas de MHC de classe I; OU, quando uma célula neoplásica passa a sintetizar proteínas não comuns, proteínas fetais, e aí essas proteínas vão ser clivadas e apresentadas na molécula de MHC I. Existem algumas situações em que as moléculas também podem ser fagocitadas por células dendríticas mieloides e apresentadas via MHC de classe I. Todas essas proteínas são clivadas em peptídeos por uma estrutura chamada proteassoma, um complexo enzimático que reconhece proteínas anormais no interior da célula e as cliva em peptídeos, que são jogados na fenda do MHC I. Depois que ocorre a clivagem, os peptídeos são transportados do citosol para o retículo endoplasmático e se ligam ao MHC I que está sendo montado no retículo, que é então ancorado à membrana. Processamento de antígenos via MHC de classe I. Uma proteína citosólica de origem viral ou neoplásica é clivada pelo proteassoma em pequenos peptídeos, que são transportados para dentro do retículo endoplasmático pela proteína TAP (transportador de peptídeos antigênicos) e pelas chaperones. Processamento dos antígenos que vão se ligar ao MHC de classe II: A proteína deve ter sido fruto do processo de endocitose ou fagocitose, ou seja, ela deve ter obrigatoriamente uma origem extracelular. Ela vai então ser clivada no lisossomo/fagossomo em peptídeos, e diferentemente da situação anterior, eles não vão para o retículo endoplasmático, pois o MHC de classe II já está montado no retículo. Nesse caso, a fenda é preenchida por uma estrutura proteica chamada de cadeia invariante. Quando o MHC de classe II é secretado em uma vesícula para fora do retículo endoplasmático, há uma fusão entre essas duas vesículas (uma contendo peptídeo e a outra MHC II). Nessa fusão, a cadeia invariante é perdida e ocorre a ligação do peptídeo oriundo do meio extracelular à fenda do MHC II, que é então ancorado à superfície celular. Resumo do processamento via MHC II. O quadro a seguir faz uma comparação entre as duas vias de processamento de antígenos (MHC de classe I e MHC de classe II): As células apresentadoras de antígenos que fazem a apresentação via MHC de classe I são todas as células nucleadas de um organismo que tenha sistema imune. No caso do MHC de classe II, as células que vão fazer a apresentação são somente as células dendríticas, os macrófagos, os linfócitos B, as células endoteliais e o epitélio tímico (células apresentadoras de antígenos profissionais). No MHC de classe II, são as chaperones e, principalmente a cadeia invariante, as moléculas envolvidas no transporte e carregamento do MHC. Três ensaios laboratoriais demonstrando o que foi dito até agora. No primeiro ensaio, insere-se um gene de ovalbumina dentro de uma célula apresentadora de antígeno, que vai expressar pedaços do antígeno de ovalbumina na superfície de MHC de classe I, ativando os linfócitos T CD8+. Não há expressão via MHC de classe II, e não há a ativação de linfócitos T auxiliares. No segundo ensaio, foi introduzida uma proteína no interior da célula apresentadora artificialmente, de modo que que não fizesse a fagocitose, e sim uma clivagem dentro do proteassoma. Resultado: novamente a apresentação de antígenos via MHC de classe I, só o linfócito T CD8+ é ativado. No terceiro ensaio, a proteína ovalbumina fica disponível para a célula realizar a endocitose e clivá-la. Os peptídeos dessa proteína são apresentados via MHC de classe II, ativando somente linfócitos T CD4+. MHC I. As células dendríticas mieloides podem formar uma estrutura semelhante ao fagossomo, mas elas conseguem direcioná-lo para as proteassomas via adição de ubiquitinas, molécula que o proteassoma reconhece para saber se deve clivar ou não uma proteína no interior da célula. MHC II. Existe uma situação de ativação de linfócitos T citotóxicos por células dendríticas chamada de apresentação cruzada de antígenos para células T citotóxicas. Uma célula infectada por vírus pode ser reconhecida por uma célula dendrítica como sendo um corpo estranho a ser removido, e ao fazer isso, a célula dendrítica acaba expressando moléculas de MHC de classe I na sua superfície, mas não porque ela foi infectada com o vírus, e sim porque ela fagocitou a célula que estava infectada pelo vírus. Daí, a célula dendrítica estimula o linfócito T citotóxico a proliferar. Quando uma célula apresenta antígenos para linfócitos T citotóxicos, e as moléculas de MHC de classe I começam ainteragir com os TCRs da célula CD8+, a célula infectada pelo vírus vai sofrer apoptose, porque o linfócito T vai começar a mandar sinais através de proteínas, citocinas e enzimas, induzindo a célula infectada a entrar em uma morte celular programada. Ela vai então ser fagocitada por macrófagos ou células dendríticas, que vão expressar mais antígenos virais que estão dentro dos corpúsculos apoptóticos. Apresentação de antígenos para linfócitos T CD4+: Os macrófagos possuem receptores de PAMP, fazem a fagocitose e expressam pedaços da proteína extracelular na sua superfície, ativando os linfócitos T auxiliares, que vão, em resposta, produzir citocinas. Já os linfócitos B vão capturar os antígenos muito bem, porque eles têm imunoglobulinas na sua superfície, receptores, fazendo a fagocitose e também expressando MHC de classe II contendo pedaços do antígeno. A apresentação por macrófagos ocorre no sítio de infecção, e a apresentação por linfócitos B ocorre na zona de fronteira entre o folículo (cortical) e a paracortical, na zona intermediária (órgão linfoide secundário). O efeito comum entre os dois é que vai ocorrer a produção de citocinas, mas nos linfócitos B elas vão estimular a produção de anticorpos, que vão se ligar e vão facilitar ainda mais o processo de fagocitose, e nos macrófagos vão estimular sua ativação, para que eles aumentem sua eficiência no processo de fagocitose de antígenos. Não basta ter apenas um peptídeo para gerar a ativação de linfócitos T. Pois não é apenas uma molécula de MHC interagindo com apenas uma molécula de TCR, e sim centenas e milhares de moléculas interagindo entre as duas membranas das células envolvidas, em uma estrutura chamada de sinapse imunológica. Na figura a seguir, se tem uma proteína antigênica com vários epítopos possíveis, entretanto, nem todo epítopo se aloja muito bem à fenda da molécula de MHC de classe II. O epítopo que estiver em maior frequência e se ligar melhor à molécula de MHC de classe II é o que vai ter mais chances de levar à apresentação e posterior proliferação de linfócitos T. Os linfócitos T que vão proliferar são exatamente aqueles que conseguem reconhecer esse epítopo de maior frequência e de maior afinidade à molécula de MHC, chamado de epítopo imunodominante.
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