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PROJETO DELTA – CADERNO DE RESUMO – CRIMINOLOGIA Conceito, objeto e método da criminologia Considerações preliminares Criminologia é um nome genérico designado a um grupo de temas estreitamente ligados; o estudo e a explicação da infração legal; os meios formais e informais de que a sociedade se utiliza para lidar com o crime e com atos desviantes; a natureza das posturas com que as vítimas desses crimes serão atendidas pela sociedade; e, por derradeiro, o enforque sobre autor desses fatos desviantes. Foi mérito de Franz von Lizst ter criado entre os vários pensamentos do crime uma relação que poderia ser denominada de modelo tripartido da ciência conjunta do direito penal. Uma ciência conjunta, esta que compreenderia como ciências autônomas: a ciência estrita do direito penal, ou dogmática jurídico-penal, concebida, ao sabor do tempo como o conjunto dos princípios que subjazem ao ordenamento jurídico-penal e devem ser explicitados dogmática e sistematicamente; a criminologia, como ciência das causas do crime e da criminalidade; e a política criminal, como conjunto sistemático dos princípios fundados na investigação científica das causas do crime e dos efeitos da pena, segundo os quais o Estado deve levar a cabo a luta contra o crime por meio da pena e das instituições com esta relacionada. Conceito Alvino Augusto de Sá classifica em três as representações acerca da criminologia. A primeira via a criminologia como uma ramificação de outra ciência; este era o pensamento tanto de Ferri como de Lombroso. O segundo pensamento acerca do tema, vê na criminologia uma ciência autônoma, com natureza interdisciplinar; é a linha seguida por Hermam Manhein, Garcia Pablos, Seelig. A terceira posição apresenta a criminologia como uma espécie de campo de estudo, sendo a opinião de Álvaro Pires. Nesse entender, a criminologia não é uma ciência autônoma, pois não atende a dois quesitos básicos exigíveis para tal: ter um objeto próprio de estudo e ter suas próprias teorias. Tal como a criminologia geral, ela é um campo de conhecimentos; não conhecimentos esparsos, e sim conhecimentos interligados, interdependentes, constituindo uma verdadeira atividade interdisciplinar, a qual, conforme o próprio autor reconhece, viria substituir a ideia de ciência autônoma. A noção de atividade (de conhecimento) supõe um caminhar, um projeto especial de conhecimento, aspecto esse que não está presente na ideia de campo de conhecimento, se considerando isoladamente. Tal atividade científica interdisciplinar e de ligar a teoria da prática. Ocupa-se a criminologia do estudo do delito, do delinquente, da vítima e do controle social do delito e, para tanto, lança mão de um objeto empírico e interdisciplinar. Diferentemente do direito penal, a criminologia pretende conhecer a realidade para explica-la, enquanto aquela ciência valora, ordena e orienta a realidade, com o apoio de uma série de critérios axiológicos. A criminologia aproxima-se do fenômeno delitivo sem prejuízos, sem mediações, procurando obter uma informação direta deste fenômeno. Já o direito limita interessadamente a realidade criminal, mediante os princípios da fragmentariedade e seletividade, observando a realidade sempre sob o prisma do modelo típico. O direito penal versa sobre normas que interpretam em suas conexões internas, sistematicamente. Interpretar a norma e aplica-la ao caso concreto, a partir de seu sistema, são os momentos centrais da tarefa jurídica. O direito penal tem natureza formal e normativa. Ele isola um fragmento parcial da realidade, com critérios axiológicos, e a intervenção estatal tem por imperativo o princípio da legalidade. A criminologia reclama do investigador uma análise totalizadora do delito, sem mediações formais ou valorativas que relativizem ou obstaculizem seu diagnóstico. Interessa a criminologia não tanto a qualificação formal correta de um acontecimento penalmente relevante, senão a imagem global do fato e de seu autor: a etiologia do fato real, sua estrutura interna e dinâmica, formas de manifestação, técnicas de prevenção e programas de intervenção junto ao infrator. A ciência do direito é valorativa e normativa, ao passo que a criminologia é empírica e causal-explicativa. Tem como objeto de estudo – o delito -, o direito se ocupa de suas características normativas-sistemáticas, de suas consequências jurídicas e dos sujeitos que participam dessa relação substancial, todos como componentes do conjunto de normas que constituem o direito positivo. A criminologia tem como objetos de estudo o delito, o PROJETO DELTA – CADERNO DE RESUMO – CRIMINOLOGIA delinquente, a vítima e o controle social. Quanto ao método, tem no lógico-dedutivo, o dogmático para o direito e o empírico, indutivo e interdisciplinar para a criminologia. Antonio García-Pablos de Molina define criminologia como “uma ciência (ou uma área de saber, conforme o entendimento) empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplado este como problema individual e como problema social -, assim como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente. A política criminal é uma disciplina que oferece aos poderes públicos as opções cientificas concretas mais adequadas para controle do crime, de tal forma a servir de ponte eficaz entre o direito penal e a criminologia, facilitando a recepção das investigações empíricas e sua eventual transformação em preceitos normativos. Assim a criminologia fornece o substrato empírico do sistema, seu fundamento cientifico. A política criminal, por seu turno, incumbe-se de transformar a experiência criminológica em opções e estratégias concretas assumíveis pelo legislador e pelos poderes públicos. O direito penal deve se encarregar de converter em proposições jurídicas, gerais e obrigatórias o saber criminológico esgrimido pela política criminal. A política criminal não pode ser considerada uma ciência igual à criminologia e ao direito penal. É uma disciplina que não tem um método próprio e que está disseminada pelos diversos poderes da União, bem como pelas diferentes esferas de atuação do próprio estado. Objeto da criminologia: delito, o delinquente, a vítima e o controle social I. Delito Para criminologia, o crime deve ser encarado como um fenômeno comunitário e como um problema social, tal conceituação é insuficiente. Garofalo criou um conceito de delito natural como: uma lesão daquela parte do sentido moral, que consiste nos sentimentos altruístas fundamentais (piedade e probidade) segundo o padrão médio em que se encontram as raças humanas superiores, cuja medida é necessária para adaptação do indivíduo em sociedade. Encarado como um problema social e tendo como referência os atos humanos pré-penais, alguns critérios são necessários para que se reconheçam nesses fatos condições para serem compreendidos coletivamente como crimes, são eles: incidência massiva na população. incidência aflitiva do fato praticado; persistência espaço-temporal do fato que se quer imputar como delituoso; e inequívoco consenso a respeito de sua etiologia e de quais técnicas de investigação seriam as mais eficazes para o seu combate. II. Criminoso Desde os teóricos do pensamento clássico, o centro dos interesses investigativos estava no estudo do crime, definido por aqueles pensadores como um ente jurídico. Na realidade, o foco não se voltava ao estudo do criminoso, até que surge a perspectiva da escola positiva. A partir daí nasce uma espécie de dicotomia: crime/criminoso. Escola Clássica - entendiam ser o criminoso um pecador que optou pelo mal, embora pudesse e devesse respeitar a lei. Como a premissanatural de todos quantos fizeram aquela avença era a capacidade de compreender e de querer, supunha-se que qualquer um que quebrasse o pacto fá-lo-ia por seu livre arbítrio. Assim, se uma pessoa cometesse um crime – o cometimento do crime é, evidentemente, uma quebra do pacto – deveria ser punida pelo deliberado mal causado à comunidade. A punição deveria ser proporcional ao mal causado, a partir da lógica formulação dialética hegeliana segundo a qual a pena era a negação da negação do direito; PROJETO DELTA – CADERNO DE RESUMO – CRIMINOLOGIA Escola Positiva - tinham o livre arbítrio como uma ilusão subjetiva, algo que pertencia à metafisica. O infrator era um prisioneiro de sua própria patologia (determinismo biológico), ou de processos causais alheios (determinismo social). Era ele um escravo de sua carga hereditária: tinha uma regressão atávica e que em muitas oportunidades, havia nascido criminoso. Muitos se dividiram entre a pena proporcional ao mal causado (proposta pelos clássicos) e a medida de segurança com finalidade curativa, por tempo indeterminado, enquanto persistisse a patologia (proposta pelos positivistas); e Escola Correcionalista – via o criminoso como um ser inferior, deficiente, incapaz de dirigir por si mesmo – livremente – sua vida, cuja débil vontade requer uma eficaz e desinteressada intervenção tutelar do Estado; sendo que este deve adotar em face do crime uma postura pedagógica e de piedade. O criminoso é um ser débil, cujo ato precisa ser compreendido e cuja vontade necessita ser direcionada; e Marxismo – considera a responsabilidade pelo crime como uma decorrência natural de certas estruturas econômicas, de maneira que o infrator se torna mera vítima inocente e fungível daquelas. Quem é culpável é a sociedade. Dada as diferentes perspectivas, e em face de todas as discussões posteriores às concepções originais acima formuladas, entende-se que o criminoso é um ser histórico, real, complexo e enigmático. III. Vítima Edgard de Moura Bitencourt pondera haver “o sentido originário, com que se designa a pessoa ou animal sacrificado à divindade; o geral, significando a pessoa que sofre os resultados infelizes dos próprios atos, dos de outrem ou do acaso; o jurídico-geral, representando aquele que sofre diariamente a ofensa ou ameaça ao bem tutelado pelo direito; o jurídico-penal- restritivo, designando o indivíduo que sofre diariamente as consequências da violação da norma penal; e, por fim, o sentido jurídico-penal-amplo, que abrange o indivíduo e a comunidade que sofrem diretamente as consequências do crime. Tem se convencionado dividir os tempos em três grandes momentos, no que concerne ao protagonismo das vítimas nos estudos penais: Idade do ouro – aquele compreendido desde os primórdios da civilização até o fim da Alta Idade Média. Com a adoção do processo penal inquisitivo, a vítima perde seu papel de protagonista do processo, passando a ter uma função acessória; Neutralização da vítima – ela deixa de ter o poder de reação ao fato delituoso, que é assumido pelos poderes públicos. A pena passa a ser uma garantia de ordem coletiva e não vitimaria. A partir do momento em que o Estado monopoliza a reação penal, quer dizer, desde que proíbe às vítimas castigar as lesões de seus interesses, seu papel vai diminuindo, até quase desaparecer. Revalorização da vítima – desde a escola clássica, já se tem a intuição da relevância desse processo. A questão da vítima só tem um contorno sistemático em sua abordagem pela criminologia, algo que é muito mais recente. Seu estudo, feito de maneira mais pronunciada, aparece logo após a 2ª Guerra Mundial, especialmente em face do martírio sofrido pelos judeus nos campos de concentração comandados por Adolf Hitler. É considerado como fundador do movimento criminológico Benjamin Mendelsohn. Também merece destaque o primeiro trabalho de fôlego a falar de forma sistemática sobre o tema. Trata-se do livro de Hans Von Heting, de 1948, intitulado “O criminoso e sua vítima”, em que esboçou o autor conjugar uma ajuda da psicologia com o estudo do binômio ofensor/vítima. Os estudos vitimológicos são muito importantes, pois permitem o exame do papel desempenhado pelas vítimas no desencadeamento do fato criminal. Propiciam estudar a problemática da assistência jurídica, moral, psicológica e terapêutica, especialmente naqueles casos em que há violência ou grave ameaça à pessoa, permitem estudar a criminalidade real, mediante os informes facilitados pelas vítimas de delitos não averiguados (cifra negra da criminalidade). Diferenças entre vitimização primária, secundária e terciária: Vitimização primária – quando um sujeito é diretamente atingido pela prática de ato delituoso; Vitimização secundária – é um derivado das relações existentes entre as vítimas primárias e o estado e face do aparato repressivo (polícia, burocratização do sistema, falta de sensibilidade dos operadores do direito envolvidos com alguns processos bastante delicados, etc); PROJETO DELTA – CADERNO DE RESUMO – CRIMINOLOGIA Vitimização terciária – é aquela que, mesmo possuindo um envolvimento com o fato delituoso, tem um sofrimento excessivo, além daquele determinado pela lei do país. IV. Controle social do delito No âmbito da sociologia de origem norte-americana a expressão controle social é familiar desde o início do século XX, com o advento de alguns artigos escritos por Edward A. Ross. Toda sociedade (ou grupo social) necessita de mecanismos disciplinares que assegurem a convivência interna de seus membros, razão pela qual se vê obrigada a criar uma gama de instrumentos que garantam a conformidade dos objetivos eleitos no plano social. Este processo irá pautar as condutas humanas, orientando posturas pessoais e sociais. Podemos definir o controle social como o conjunto de mecanismos e sanções sociais que pretendem submeter o indivíduo aos modelos e normas comunitários. As organizações sociais lançam mão de dois sistemas articulados entre si: Controle social informal: passa pela instância da sociedade civil: família, escola, profissão, opinião pública, grupos de pressão, clubes de serviço etc. As instâncias de controle social informal operam educando, socializando o indivíduo. São mais sutis que as agências formais e atuam ao longo de toda a existência da pessoa. Por fazer assimilar nos destinatários valores e normas de uma dada sociedade sem recorrer à coerção estatal, o controle social informal possui mais força em ambientes reduzidos, sendo, então típico de sociedades pouco complexas; Controle social formal: identificada com a atuação do aparelho estatal político do estado. São controles realizados por intermédio da Polícia, da Justiça, do Exército, do MP, da Administração Penitenciaria e de tosos os consectários de tais agências, como controle legal, penal etc. Quando as instanciais informais de controle social falham ou são ausentes, entram em ação as agências de controle formal, que atuarão de maneira coercitiva, impondo sanções qualitativamente distintas das existentes na esfera informal. Este controle social formal é seletivo e discriminatório, pois, o status prima sobre o merecimento. Ademais, é ele estigmatizante, desencadeando desviações secundárias e carreiras criminais. A efetividade do controle social formal é muito menor do que aquela exercida pelas instanciais informais. É isso que explica, por exemplo, ser a criminalidade muito maior nos grandes centros urbanos do que nas pequenas comunidades (onde o controle social informal é mais efetivo e presente). De outra parte, nas grandes cidades, onde os mecanismos de controle informal não são tão presentes, há de se buscar uma melhor integração das duas esferas de controle. Método da criminologia À semelhança do que ocorre com as demais ciências, particularmente as ciências humanas, a investigação criminológica não obedece a um únicoprincípio nem se atém a métodos que possam ser enclausurados em uma única perspectiva. Na realidade nas ciências humanas – e, em particular, na criminologia – tem o saber um valor intimamente ligado ao jogo do poder. Na criminologia, ao contrário do que acontece com o direito, ter-se-ão a interdisciplinaridade e a visão indutiva da realidade. A análise, a observação e a indução substituíram a especulação e o silogismo, distanciando-se, pois, no método abstrato, formal e dedutivo dos pensadores iluministas, chamados de clássicos. Tal método – observe- se – ainda hoje é utilizada pelos operadores do direito. A abordagem criminológica é empírica, o que significa dizer que seu objeto se insere no mundo real, do verificável, do mensurável, e não no mundo axiológico (como o saber normativo). Interdisciplinaridade, em que pese se acomodam sob a mesma investigação psiquiátrica, psicólogos, assistentes sociais, estatísticos, juristas etc. Investigando em faixa própria, as ciências que subsidiam a criminologia inter- relacionam-se, interpretam-se, integram-se e completam-se, e é desse rico contexto que a criminologia sorverá suas conclusões. Dentre os métodos empíricos consagrados, é necessário um sentido de réplica para dar ao trabalho a possibilidade de cotejo. Duas são as formas básicas: estudos diacrônico e sincrônico. Pelo primeiro, o projeto tende a investigar até que ponto tal pesquisa difere, no seu escopo, de elementos, técnicas e conclusões das dos seus predecessores.
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