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DIARRÉIA A diarreia é uma síndrome clínica podendo ter diversas etiologias, sendo caracterizada pelo aumento do número de evacuações, do volume e diminuição da consistência das fezes. O número de evacuações consideradas normal varia entre três vezes ao dia a três vezes por semana. Quadro Clínico: A diarreia pode ser classificada segundo: Cronologia: - Aguda: presença de 3 ou mais evacuações de consistência aquosa em período de 24 h; - Persistente: episódios de diarreia com duração maior que 14 dias; - Crônica: episódios de diarreia com duração acima de 30 dias. Presença de sintomas associados: - Disenteria: diarreia sanguinolenta, sangue visível, muco e febre. Em se tratando de casos de diarreia crônica pode-se classificá-las ainda em relação à consistência das fezes em: aquosa, inflamatória ou gordurosa. As diarréias de caráter agudo são habitualmente autolimitadas, sendo necessário a realização de uma boa história clínica, adequada avaliação da sua magnitude principalmente no que se refere ao estado de hidratação do paciente, a presença de febre, vômito, sangue ou muco nas fezes. O tratamento baseia-se na reposição hidroeletrolítica e controle dos sintomas com antieméticos e analgésicos. A febre, frequentemente, está associada a patógenos invasivos. Fezes sanguinolentas indicam a presença de patógenos invasivos produtores de citotoxinas; suspeitar de infecção por Escherichia coli enterohemorrágica. Agentes causais dos episódios agudos: Classificação de gravidade da desidratação segundo parâmetros clínicos: Hidratado ou desidratação mínima: Consciência alerta, sede normal, tem lágrimas, mucosas úmidas; pulsos, perfusão capilar, frequências cardíaca e respiratória normais; extremidades quentes, turgor da pele preservado; débito urinário normal ou diminuído. Desidratação leve ou moderada: Consciência normal, porém apresenta-se mais agitado ou irritado, com sede, há diminuição das lágrimas, as mucosas encontram-se secas, olhos ligeiramente encovados,; o pulso está acelerado, pressão arterial normal ou levemente diminuída, perfusão capilar prolongada; extremidades encontram-se com a pele fria, há diminuição do turgor da pele( <2 segundos); débito urinário diminuído. Desidratação grave: ocorre letargia ou inconsciência, tem dificuldade ou não consegue ingerir líquidos, há ausência de lágrimas, as mucosas estão secas, os olhos encovados e sem brilho; Respiração profunda; hipotensão ou choque, inicialmente há aumento da frequência cardíaca e, posteriormente, diminuição da frequência indicando agravação do quadro; os pulsos são filiformes ou não palpáveis, perfusão capilar prolongada ou mínima; extremidades com pele fria e cianótica; há diminuição do turgor da pele (>2 segundos). Atenção aos sinais de alerta da desidratação, eles indicam um maior risco de progressão para quadro de choque: - Estado geral ruim, alteração do estado de consciência (irritação ou letargia), olhos encovados, taquicardia, taquipnéia ou redução do turgor da pele. Avaliação e conduta do paciente com desidratação utilizando o "método Dhaka": Exames Subsidiários: Deve-se solicitar coprocultura somente em casos de maior gravidade, inflamatórios e com presença de sangue; nos casos onde houver diarreia persistente ou surtos de patologias como o cólera. Tratamento: Plano de Hidratação para Manejo de Pacientes com Diarreia: - Plano A - Para prevenir a desidratação no domicílio; - Plano B - Para prevenir a desidratação por via oral; - Plano C - Para prevenir a desidratação grave; Laboratório: Deve-se solicitar coprocultura somente em casos de maior gravidade, inflamatórios e com presença de sangue; nos casos onde houver diarreia persistente ou surtos de patologias como o cólera. Abordagem Medicamentosa: Após a correta avaliação do paciente, definição do plano de hidratação, deve-se definir se há necessidade de utilização de antibióticos para recuperação do estado do paciente à normalidade A utilização de antibióticos é recomendada nas seguintes situações: - Casos severos de Cólera, shiguelose, febre tifóide e paratifóide; - Casos de disenteria por campilobacter e salmonella não tifóide quando provocarem diarréia persistente ou quando houver comprometimento do estado geral do paciente por desnutrição severa, hepatopatia crônica, transtornos linfoproliferativos; - Amebíase intestinal invasiva; - Giardíase sintomática (anorexia e emagrecimento, diarreia persistente). Agentes antimicrobianos para tratamento de diarreia de causas específicas: Necessário a notificação dos quadros de diarreia aguda, assim como a orientação nos cuidados com a qualidade dos alimentos e água consumidos. Importante fazer a orientação sobre a correta higienização das mãos na vigência de episódios agudos de diarreia. Diarreia crônica Atenção especial aos pacientes que apresentarem os chamados "sinais de alerta vermelho". - Início dos sintomas após os 50 anos; - Presença de sangue nas fezes; - Perda de peso não intencional; - História familiar de câncer colorretal; - Presença de sintomas noturnos. Na história do paciente caracterizar as seguintes informações: - Caracterização do início dos sintomas de diarreia, se foi gradual ou abrupto; - Frequência das crises de diarreia. - Duração dos sintomas; - Caracterização das fezes: aquosas, gordurosa, ou sanguinolentas; - Presença ou não de incontinência fecal; - Presença ou não de dor abdominal; - Emagrecimento involuntário; - Pesquisar os fatores de agravação e/ou atenuantes; - Investigar as causas iatrogênicas de diarreia: cirurgias, medicações, exposição à radioterapia e diarreia factícia; - Investigar a presença de doenças sistêmicas tais como hipertireoidismo, diabetes, imunodeficiências. Classificação da diarreia crônica e etiologia: Diarreias aquosas. - Diarreia osmótica: Ingestão de Mg²+, PO³4, SO-²4; Má absorção de carboidratos. Doença celíaca, algumas parasitoses. - Diarreia secretória: uso abusivo de laxantes; síndromes congênitas; toxinas bacterianas; má absorção ileal do ácido biliar; doenças inflamatórias intestinais tais como colite ulcerativa, doença de Crohn, diverticulite; vasculites; drogas e venenos; distúrbios da motilidade por neuropatia diabética, hipertireoidismo, síndrome do intestino irritável; tumores neuroendócrinos; neoplasias; doença de Addison. - Diarreia gordurosa: síndromes disabsortivas; insuficiência pancreática. - Diarreia inflamatória: doenças inflamatórias intestinais tais como colite ulcerativa, doença de Crohn, diverticulite; doenças infecciosas; colite isquêmica; neoplasia. Nos quadros de diarreia secretória e inflamatória, as fezes são pastosas associadas a muco ou sangue, enquanto na diarreia gordurosa ou disabsortiva, observa-se esteatorreia, com fezes claras, fétidas e volumosas. A rotina laboratorial e o tratamento devem ser direcionados segundo a suspeita clínica. É importante observar o estado de hidratação e nutrição do paciente. CONSTIPAÇÃO Considerada com queixa frequente na população, estimando-se uma prevalência de até 26,9% na população brasileira, com maior frequência em mulheres, acima dos 60 anos, sedentários e pessoas de baixo nível socioeconômico e cultural. A constipação funcional é definida pelo Critério de Roma, pela seguintes características: - Presença de pelo menos dois dos seguintes sintomas, em 25% das evacuações: - Esforço presente; - Sensação de esvaziamento incompleto; - Manobras manuais para facilitar as evacuações (manobras digitais, apoio pélvico ou vaginal); - Sensação de obstrução ou bloqueio anorretal; - Fezes amolecidas são raras na ausência de uso de laxativos; - Critérios para síndrome do intestino irritável não estão presentes. Frente a um paciente com queixa de constipação é necessário diferenciar se é primária (funcional) ou secundária a alguma patologia ou medicamento. No caso da constipação funcional ela tem como causas os erros alimentares (baixo consumo de fibras), sedentarismo, além dos distúrbios de motilidade intestinal. Causas secundárias: Doenças sistêmicas: Endocrinológicas ou metabólicas:hipotireoidismo, diabetes, hipercalcemia, hipocalemia, uremia; Doenças neurológicas: Parkinson, neuropatia autonômica, esclerose múltipla, hirschsprung, esclerodermia, acidente vascular encefálico, trauma medular. Anormalidades estruturais: Anorretais: fissuras, hemorroidas, fístulas, retocele, abscessos, prolapso retal. Estreitamento colonico, massas no reto, megacólon e megarreto. Condições psicogênicas: ansiedade, depressão, somatização, transtornos alimentares, abuso e violência. Problemas gastrointestinais: câncer de colorretal, doença inflamatória intestinal, doença celíaca. Medicamentos associados à constipação: Opióides, anticolinérgicos, antidepressivos tricíclicos, bloqueadores dos canais de cálcio, antiparkinsonianos, simpaticomiméticos, antipsicóticos, diuréticos, anti-histamínicos, colestiramina, anti-inflamatórios não esteroides. Quadro clínico: Explorar detalhadamente a história do paciente com objetivo de determinar se realmente o paciente tem constipação intestinal, inquirindo sobre início dos sintomas, consistência, tipo e periodicidade das fezes, sintomas associados tais como dor abdominal, distensão abdominal aliviada pela evacuação, flatulência, esforço para evacuar; explorar se existem que indiquem constipação secundária, inquirindo especificamente sobre os sinais de alerta vermelho. O exame físico deve ser completo a fim de detectar possíveis sinais que indiquem uma patologia secundária, no abdome pode ser encontrada dor à palpação e distensão abdominal. Sendo detectado emagrecimento, palidez mucosa ou massas abdominais, é imprescindível a investigação para detecção de constipação por causas secundárias. Deve-se realizar o exame anorretal, paciente posicionado em decúbito lateral esquerdo: - Inspeção em repouso e com manobra de valsalva: verificar a presença de fissuras, escoriações, hemorroidas externas, prolapso retal, herpes genital, fístulas ou abscessos perianais. - Solicitar que o paciente realize a contração anal, se ocorrer assimetria na abertura do anus ou abertura excessiva indicam distúrbio neurológico que altera a função do esfíncter. - Toque retal: verificar a existência de massas, úlceras ou fecalomas, assim como aumento do volume prostático. - Retocele é evidenciada durante o exame ginecológico, evidenciada por protuberância na parede posterior da vagina ao se solicitar que a paciente faça a contração pélvica. Exames complementares: Serão realizados somente quando houver evidências de causas secundárias, ou a presença dos alertas vermelhos! Na presença destes, deve-se solicitar colonoscopia ou retossigmoidoscopia. Recomenda-se a realização da colonoscopia (maior sensibilidade para detecção de câncer colorretal e lesões que levem a estreitamento do colón) para rastreamento universal de câncer colorretal. Tratamento: Inicialmente deve-se orientar o paciente em relação à necessidade de mudança de hábitos alimentares e atividade física. Estimular o paciente a sentar-se no vaso sanitário diariamente, aproveitando o reflexo gastro-cólico, após as refeições ou no período da manhã. Os pacientes devem receber orientações claras sobre a necessidade de se ingerir maior quantidade de fibras e líquidos. Deve-se ingerir de 25 a 35 gramas de fibra ao dia, pode-se utilizar farelos de trigo, aveia ou linhaça (2 a 6 colheres de sopa por refeição), seguidas da ingestão de 1 a 2 copos de líquido. Devido aos efeitos colaterais (distensão, flatulência e dor) causados pela maior ingestão de fibras, orientar o paciente a implementar este tipo de dieta gradualmente. Os efeitos esperados podem ser avaliados somente após 7 a 10 dias do início deste tipo de dieta. Reavaliação do paciente após 1 mês, se não ocorrer melhora dos sintomas, introduzir laxativos formadores de bolo fecal, tipo psyllium e reavaliação posterior. Não havendo melhora dos sintomas recorrer aos laxantes osmóticos. Caso não haja melhora com reeducação alimentar, atividade física, uso de laxantes, considerar encaminhar ao especialista. Pacientes idosos acamados ou pacientes neurológicos que apresentarem desconforto abdominal em consequência a constipação intestinal poderão se beneficiar do uso de supositórios de glicerina ou enemas para facilitar o ato de evacuação. Formadores de massa: são polissacarídeos orgânicos que atual promovendo o aumento de quantidade de líquido no bolo fecal, tendo como exemplos o farelo de trigo, o psyllium e a metilcelulose. Como são adsorventes de água, há necessidade de incremento da ingestão de líquidos. Diminuidores da consistência fecal: são surfactantes com poder emulsificante, são bem tolerados, pode ser associado aos agentes formadores de massa. O exemplo é o docussato de sódio. É comum o uso de fribras naturais ou sintéticas para esta função. Laxantes estimulantes: atuam estimulando os movimentos peristálticos, porém, segundo Barbutti (2011) há poucas evidências científicas comprovando sua utilização. Nesta categoria encontram-se os produtos naturais (Senne e Cascara sagrada) e os análogos da fenolftaleína. Como efeito colateral podem desencadear cólicas abdominais e tolerância. Laxantes osmóticos: representados pelos sais inorgânicos (compostos à base de magnésio), alcoóis ou açucares orgânicos (lactulose, polietilenoglicos, macrogol, lactilol). Atuam aumentando a absorção de água para a luz intestinal. Como efeito colateral, podem desencadear alterações hidroeletrolíticas, flatulência e distensão abdominal. SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL A síndrome do intestino irritável é caracterizada por um distúrbio funcional do trato digestivo de evolução crônica. Quadro clínico: Clinicamente, manifesta-se por dor ou desconforto abdominal, associado a alterações do hábito intestinal –constipação, diarreia ou alternância de uma ou outra. Outros sintomas frequentes podem ocorrer dentre eles a fibromialgia, presença de muco nas fezes, urgência retal, distensão abdominal, dor pélvica crônica, flatulência. Essa síndrome é, extremamente, comum, segundo as pesquisas, ela corresponde a metade dos atendimentos ambulatoriais em gastroenterologia, sendo muito comum nos atendimentos de clínica médica. Por ser muito comum é de suma importância a atualização contínua pelos médicos generalistas assim como gastroenterologistas. De acordo com os critérios de Roma III, a síndrome do intestino irritável pode ser definida como a presença de dor abdominal ou desconforto, contínua ou recorrente, geralmente localizada no abdome inferior, com ocorrência de no mínimo 3 dias por mês nos últimos três meses e devem apresentar pelo menos duas das características abaixo. - Dor que alivia após defecar - Alteração do hábito intestinal - Início da dor associado à alteração na forma ou aparência das fezes Critérios de Roma: Esses pacientes devem ser classificados de acordo com a característica das fezes e a frequência defecatória, o consenso de Roma III, subdividiu essas características em quatro subgrupos. SII associado a constipação: fezes sólidas fragmentadas em 25% ou mais e fezes pastosas ou líquidas em pelo menos 25% dos movimentos intestinais. SII associado com diarreia: fezes pastosas ou líquidas em 25% dos casos ou mais e fezes sólidas ou fragmentadas em 25% dos movimentos intestinais. SII misto: fezes sólidas ou fragmentadas em 25% ou mais e fezes pastosas ou líquidas e 25% ou mais dos movimentos intestinais. SII indeterminado. Tabela de Bristol: A síndrome do intestino irritável pode estar associada a outras doenças tal como a doença celíaca e a intolerância a lactose, sendo que essas situações não são infrequentes Tratamento na SII/ Diarreia: Diarreia: Loperamida e alosetron. Dor abdominal: Relaxantes muscular. Antidepressivo tricíclico. Inibidores seletivos de serotonina. Como cloridrato de fluoxetina 20 mg, uma vez ao dia. Os sinais de alerta são situações em que devemos estar atentos e que podem excluir SII, tais como: - Idade superior a 50 anos - Perda de peso - Sintomas noturnos - Sangramento retal - Anemia - Uso recente de antibióticos - História familiar de câncer de cólon Diagnósticodiferencial de SII/ Diarreia: - Colites microscópicas - Doença celíaca - Intolerância a lactose - Espru Tropical - Síndrome do intestino irritável com super crescimento bacteriano - Má absorção de sal biliar - Câncer de cólon - Complicações da SII Diminuição da qualidade de vida têm demonstrado ser a maior complicação. DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL As doenças inflamatórias intestinais (retocolite ulcerativa e Crohn), são doenças de curso crônico e recorrente. É sabido que embora sua etiologia seja desconhecida o fator genético associado ao meio (intestino), contribuem para uma resposta inflamatória exacerbada que é traduzida pela própria doença com seus sinais e sintomas. Exames complementares: Doença de Crohn: em casos de negatividade dessas provas deve ser solicitado também o anticorpo anti sacharomices, quando positivo ele confirma a doença de Crohn, embora sua negatividade não afaste a doença. O anticorpo p-Anca pode ser altamente positivo em casos de retocolite. Anticorpos: Quadro clínico: Para ambas as doenças os sinais e sintomas dependerão inclusive da extensão da doença, de modo geral poderíamos chamar atenção para: Dor abdominal, alteração dos hábitos intestinais, perda de peso, sangramento, tenesmo, artralgia , eritema nodoso, acne severa (é importante biópsias dessas lesões , pois, há condições que a doença pode estar fora do intestino e isso não tem sido raro, é a chamada de doença de Crohn metastática) Outras manifestações podem ser encontradas tais como artralgia, cálculo renal, aftas orais, osteopenia e osteoporose, olho seco, uveíte. Complicações: Para doença de Crohn: Fístulas, abscessos, perfuração e obstrução. Câncer de cólon: Para ambas as doenças esses por sua vez tem relação direta com o tempo de doença , com a severidade e com história familiar e a concomitância com colangite esclerosante. Tratamento: O paciente deve ser encaminhado para especialista experiente. E, como medidas gerais: - Mesalasinas: Para a doença de Crohn, esse medicamento têm demonstrado ser efetivo em evitar as recorrências cirúrgicas e o câncer de cólon. Deve-se levar em conta a localização da doença, pois há liberação desse medicamento e sua porção ativa tem íntima relação com o local da mesma. - Antibióticos: Para doença de Crohn moderada (Ciprofloxacina 500 mg 2xdia e metronidazol 400 mg 8/8). - Corticóides: Medicação apenas utilizada nas fases ativas, não deve ser utilizado por tempo prolongado , devido aos seus efeitos colaterais. - Azatioprina e 6 mercaptopurinas - Anti – TNFS - Metrotrexate apenas para doença de Crohn. - Ciclosporina , apenas é útil na retocolite ulcerativa.
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