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DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO A DRGE é uma das enfermidades do aparelho digestivo com maior prevalência mundial. A DRGE tem manifestações típicas e atípicas, e evolução benigna na grande maioria dos casos. Sua etiologia é multifatorial, está relacionada com o desequilíbrio entre fatores de proteção e agressão. Todos os indivíduos normais apresentam episódios de refluxo gastroesofágico ao longo do dia. A defesa normal esvazia o esôfago rapidamente e os fatores de defesa protegem a mucosa esofágica. O hábito alimentar, utilização de etanol e tabaco interferem diretamente neste mecanismo. Quadro Clínico: Sintomas de pirose/ azia e regurgitação são muito sugestivos de DRGE. Atualmente o diagnóstico é fechado por um quadro clínico compatível e a presença de sintomas típicos por mais de duas vezes por semana e mais de dois meses de duração. Exames subsidiários: Endoscopia digestiva alta identifica a presença de esofagite em apenas metade dos portadores de DRGE, sendo muito útil para o estadiamento da intensidade desta doença. Guias de conduta americanos sugerem tratamento direto, sem investigação complementar nos casos de sintomas típicos, quando não houverem sinais de complicações ou sinais de alerta: - Anemia Ferropriva - Anorexia - Disfagia/Odinofagia - Sangramento Gastrointestinal - Perda Ponderal - Idade > 50 anos - Icterícia - Massa Abdominal - História de Neoplasia Abdominal O segundo e o terceiro Consensos Brasileiros sugerem a realização de EDA sempre que possível/disponível para definir a gravidade da doença e orientar o tratamento, segundo este mesmo autor. Exames complementares: A pHmetria esofágica prolongada consiste no exame do pH intra-esofágico por 24 horas, realizado por sonda específica para tal dosagem. É indicada principalmente quando há dúvida diagnóstica e para avaliação de sintomas atípicos. Nestes casos, recomenda-se o diagnóstico e tratamento por médicos especialistas. Tratamento: Baseia-se na reeducação alimentar e hábitos de vida Tabela 3 e no bloqueio da secreção ácida gástrica. Deve-se realizar um plano terapêutico individualizado para as necessidades do paciente, abordando questões como hábitos de vida, utilização de drogas lícitas, além de aspectos emocionais. Antiácidos tem o efeito curto e aliviam os sintomas podendo ser prescritos para portadores de sintomas esporádicos, contudo tem baixa capacidade de cicatrização. As medicações que bloqueiam o receptor histamínico (cimetidina, ranitidina e famotidina) representaram uma grande evolução por causarem o bloqueio competitivo deste receptor, causando aumento do pH intragástrico e levando a cicatrização nos casos leves. Estas medicações podem perder o efeito durante o uso prolongado, pelo aumento da secreção de histamina (taquifilaxia). Ranitidina 150 mg duas vezes ao dia, por período de um a dois meses. Após o desenvolvimento dos inibidores da bomba de prótons (IBP), as drogas do grupo anterior estão caindo em desuso. Os IBPs inutilizam permanentemente o receptor mencionado, promovendo uma elevação do pH intragástrico por período prolongado (alguns se aproximam de 24h). Como não há perda deste efeito e têm poucos efeitos adversos, estas drogas podem ser prescritas por períodos prolongados com segurança. O omeprazol e o lansoprazol são os representantes mais utilizados do grupo, nos casos de doença leve recomenda-se o uso em dose plena Tabela 4 por 2 meses, associados às medidas comportamentais Tabela 3. Nos casos de doença intensa não complicada a sugestão é prescrição de dose dobrada por períodos prolongados com redução periódica. Nos casos de DRGE leve, os portadores passam por períodos de atividade de doença e por períodos de remição, quando não será necessário medicações. As medidas listadas na tabela 3 podem ajudar estes pacientes a manterem longos períodos de remissão. Já aqueles com formas mais acentuadas de DRGE podem necessitar de medicação contínua, podendo ser beneficiados pelo tratamento cirúrgico. Portadores de formas graves, nos casos de complicações como úlcera, estenose e esôfago de Barrett, sugere-se o acompanhamento de especialista, assim como portadores de sintomas respiratórios. ÚLCERA PÉPTICA Trata-se de uma doença onde os fatores de proteção da mucosa gastroduodenal são vencidos pelos fatores agressivos. Em cerca de 80% das úlceras gástricas e 95% das duodenais, a bactéria espiralada H. pylori toca o papel central da etiologia. Nos casos H. pylori negativos o uso de drogas anti-inflamatórias não hormonais (AINEs) são o principal fator desencadeante. Outras situações raras, devem ser cuidadosamente examinadas e sugerimos avaliação de especialista. Quadro Clínico: A dor epigástrica com ritmo é o sintoma mais típico. No caso da úlcera duodenal o ritmo é dói-come-passa enquanto nos portadores de úlcera gástrica é come-doí-passa. Outro sintoma considerado típico é o “clocking” caracterizado pelo despertar noturno com dor que é aliviada por ingestão de alimentos alcalinos. Muitos pacientes, entretanto, podem não apresentar sintomas, ou mesmo abrir o quadro clínico com complicações como perfuração ou sangramento, que são emergências médicas, necessitando internação. Exames Subsidiários: Frente a suspeita clínica de doença ulcerosa péptica, o diagnóstico é confirmado pelo exame endoscópico da mucosa gastroduodenal, popularmente conhecido como endoscopia digestiva alta (EDA). A sua solicitação deve acompanhar o pedido de pesquisa de H. pylori. Por convenção, o achado de uma úlcera gástrica deve acompanhar-se de biópsia das bordas da lesão para diagnóstico diferencial com câncer em fase inicial. A biópsia deve ser realizada porque os primeiros estudos identificaram até 30% de erro na diferenciação de lesões pépticas e lesões malignas. Acreditamos que este número seja bem menor hoje, com os aparelhos modernos que possibilitam melhor visualização da mucosa. Tratamento: O tratamento da doença ulcerosa péptica consiste em remover o agente causal, AINEs ou erradicar o H. pylori e na cicatrização das lesões. A integralidade deve ser considerada no tratamento do indivíduo. Para erradicar o H. pylori prefere-se o tratamento tríplice com 1 g de amoxacilina, 500 mg de claritromicina e 30 mg de lansoprazol, tomados duas vezes a dia por 7 dias. Este esquema tríplice tem altas taxas de sucesso e está disponível nas medicações disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, separadamente. Para a cicatrização das úlceras o uso de qualquer IBP em dose plena por 8 semanas é eficaz para a grande maioria dos pacientes. Tabela 4 apresenta as doses plenas e equivalente dos IBPs disponíveis no Brasil até o momento da edição deste artigo, nota-se entretanto que o omeprazol pode ser usado na dose de 20 mg/ dia. Não é incomum que complicações sejam a manifestação inicial da doença ulcerosa péptica, entre elas destacam-se a estenose pilórica e duodenal, que pode ser tratada endoscopicamente com dilatação em associação com IBPs. As úlceras perfuradas apresentam-se com abdome agudo e foram abordadas no módulo II. No caso das úlceras hemorrágicas, deve-se garantir o acesso venoso de preferência com duas veias calibrosas permitindo a pronta ressuscitação com volume cristalóide e transfusão, além de usar os IBPs. O procedimento endoscópico deve ser realizado, idealmente, nas primeiras horas e consegue-se controlar o sangramento em aproximadamente 90%. DISPEPSIA FUNCIONAL Trata-se de doença funcional do aparelho digestivo com alta prevalência. Utiliza-se a classificação de Roma III para definir os distúrbios funcionais do aparelho digestivo e o principal para o sistema gastroduodenal é dispepsia funcional, cujos critérios são: - Dor epigástrica; - Queimação epigástrica; - Saciedade precoce; - Plenitude / empanzinamento pós prandial. A presença de pelo menos um dos sintomas acima, por no mínimo três meses, associados a ausência de doença estrutural é suficiente para o diagnóstico de dispepsia funcional. O terceiro consenso brasileiro acrescenta a orientação de excluir ou tratar parasitose intestinal antes deste diagnóstico.Quadro clínico: De forma semelhante à doença do refluxo gastroesofágico, pacientes jovens e sem sinais de alerta podem ser tratados sem investigação clínica. Muita atenção com neoplasia pancreática em pacientes com mais de 50 anos que podem apresentar apenas sintomas vagos. Neste grupo o diagnóstico diferencial é sempre mandatório. A dispepsia funcional pode ser exacerbada por distúrbios emocionais que frequentemente a acompanham, mas não são necessárias para seu diagnóstico. Muitas vezes estes devem ser abordados durante o tratamento. Outra causa frequente são medicações, principalmente o grupo de anti-inflamatórios não hormonais; sempre que possível devem ser descontinuados. Exame subsidiários: Exame endoscópico, sempre que disponível é desejável para diagnóstico diferencial. Tratamento: O tratamento deve ser individualizado com reforço ao estilo de vida saudável, uso de drogas antissecretoras por períodos variados em dose plena ou metade da dose e drogas pró-cinéticas (metoclopramida ou domperidona) 10 mg precedendo cada refeição, até quatro vezes ao dia. A erradicação do Helicobacter pylori, quando presente pode ser indicada, pois este pode estar associado aos sintomas.
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