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SINDROMES MANIACAS E TRANSTORNO BIPOLAR Foi apenas no século XIX que os alienistas passaram a reconhecer com mais clareza o que chamaram de loucura circular ou loucura maníaca depressiva, que é o nosso atual transtorno bipolar. SINTOMAS DA SÍNDROME MANÍACA A base da síndrome maníaca são sintomas de euforia, alegria exacerbada, elação (expansão do EU), grandiosidade ou irritabilidade marcantes, desproporcionais aos fatos da vida e distintos do estado comum de alegria ou entusiasmo que o indivíduo sadio apresenta em sua vida. Observa-se nos quadros maníacos a aceleração das funções psíquicas (taquipsiquismo); pode haver agitação psicomotora, exaltação, loquacidade e pressão para falar, assim como pensamento acelerado até fuga de ideias. O quadro deve durar pelo menos uma semana, mas a média de duração do episodio maníaco é por volta de três meses. A atitude geral do paciente pode ser alegre, brincalhona, eufórica ou também muito frequentemente irritada, arrogante e ás vezes, agressiva. Além das alterações propriamente do humor (euforia, elação) e do ritmo psíquico (aceleração), na esfera ideativa verifica-se, em geral, pensamento com conteúdo “alegre, grandioso e impreciso”, que tende a ser superficial e inconsequente. No episódio maníaco são frequentes a euforia, que é alegria marcante e desproporcional aos eventos da vida, a elação, que é o sentimento de expansão e engrandecimento do Eu e/ou a irritabilidade, em graus variados, desde leve, passando pela beligerância, até a franca agressividade. Não são raros comportamentos espalhafatosos, como tirar a roupa em ambientes públicos ou ficar cantando e/ou pregando em uma enfermaria psiquiátrica ou em um CAPS. Também ocorrem ideias de grandeza, poder, riqueza e/ou importância social. Podem chegar a configurar verdadeiros delírios humor-congruente, como delírios de grandeza, missão ou poder, ou humor-incongruentes, como delírios de perseguição ou de passividade. Também podem estar presentes alucinações (geralmente auditivas, olfativas ou visuais). O DSM-5, exige para o diagnóstico de episódio maníaco, que estejam presente na maior parte do dia, por pelo menos uma semana (geralmente duram bem mais que isso), além de humor elevado (euforia, elação), pelo menos mais três dos sintomas de mania (quatro, se o humor for apenas irritável) como os a seguir: • Aumento da autoestima; O paciente se sente superior, melhor que os outros, mais potente. • Diminuição da necessidade de sono; Ás vezes, os familiares referem como insônia, mas trata-se de fato, de diminuição do tempo de sono, sem queixas do paciente (que dorme pouco, de 3 a 4 horas por noite, sem que isso o afete) • Loquacidade; Produção verbal rápida, fluente e persistente, ou Logorreia; produção verbal muito rápida, fluente, com perdas das concatenações lógicas, substituídas por associações contingenciais ou por assonância. • Pressão para falar; Tendência irresistível de falar sem parar, de não conseguir interromper a fala. • Alterações formais do pensamento; Expressam-se como fuga de ideias, desorganização do pensamento, superinclusão conceitual, tangencialidade, descarrilhamento, incoerência, ilogicidade, perda dos objetivos e repetição excessiva. • Distraibilidade; Atenção voluntária diminuída e espontânea, aumentada. • Aumento de atividade dirigida a objetivos (no trabalho, na escola, na sexualidade) ou agitação psicomotora. • Envolvimento excessivo em atividades potencialmente perigosas ou danosas, como comprar objetos ou dar seus pertences indiscriminadamente e realizar investimentos financeiros insensatos ou indiscrições sexuais; há comportamentos sexuais aumentados, desinibidos, e o paciente se torna particularmente vulnerável a exposição sexuais de risco (sexo desprotegido). Outros sintomas também podem ser encontrados nos episódios de mania, como: • Labilidade afetiva; Oscilação rápida e fácil entre momentos alegres, eufóricos e momentos de tristeza e choros abruptos. • Agitação psicomotora; Pode ser muito intensa e configurar até quadro de “furor maníaco”. • Arrogância; Em alguns pacientes maníacos, é um sintoma destacável. • Heteroagressividade; Geralmente desorganizada e sem objetivos preciosos. • Desinibição social e sexual; Leva o indivíduo a praticar comportamentos inadequados em seu meio sociocultural, os quais não realizaria fora da fase maníaca. SUBTIPOS DE SÍNDROMES MANÍACAS MANIA FRANCA OU GRAVE Trata-se da forma mais intensa de mania, com aceleração grave de todas as funções psíquicas (taquipsiquismo acentuado), agitação psicomotora importante, heteroagressividade, alterações formais do pensamento (como fuga de ideias ou desorganização do pensamento), ideias e delírios de grandeza. Pacientes idosos ou com lesões cerebrais prévias, podem se apresentar confusos, desorientados, com aparente redução do nível de consciência. Designa-se tal apresentação como mania confusa, na qual pode ser difícil diferenciar entre síndrome maníaca e delirium, ou pode mesmo exprimir a coocorrência de duas síndromes (mania e delirium) MANIA IRRITADA OU DISFÓRICA Trata-se de uma forma de mania na qual predomina a irritabilidade, o mau humor, a hostilidade em relação as pessoas; podem ocorrer heteroagressividade e destruição de objetos. MANIA COM SINTOMAS PSICÓTICOS Trata-se de episódios maníaco grave com sintomas psicóticos, como delírio de grandeza ou poder e delírios de perseguição. Também, as vezes, alucinações auditivas, olfativas ou visuais podem ocorrer isoladamente ou acompanhar delírios. A mania psicótica, é de modo geral, um quadro muito grave, com comportamentos bastante alterados, podendo haver agitação psicomotora e comportamentos disfuncionais perigosos para o paciente e seu meio social. MANIA MISTA OU MANIA COM CARACTERÍSTICAS MISTAS Desde o inicio do século XX, são reconhecidos quadros em que sintomas maníacos e depressivos ocorrem conjuntamente ou se alternam no mesmo dia ou semana. Nos chamados quadros mistos, há sintomas maníacos, como por exemplo, elação, agitação, irritabilidade, loquacidade e sintomas depressivos, como por exemplo, ideias de culpa, desânimo, tristeza, ideias de suicídio, ocorrendo ao mesmo tempo ou alternando-se rapidamente. HIPOMANIA (OU EPISÓDIO HIPOMANÍACO) A hipomania é uma forma atenuada de episódio maníaco que muitas vezes passa despercebida, sem receber atenção médica ou psicológica. O individuo está mais disposto que o normal, fala muito, conta piadas, faz muitos planos, não se ressente com as dificuldades e os limites da vida. Pode ter diminuição do sono, mas não se sente cansado após muitas atividades e deseja sempre fazer mais. Para o DSM 5, a hipomania é muito semelhante a mania, com a ressalva de que o episódio não pode ser suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou de necessitar de internação (nesses casos, automaticamente o episódio é considerado de “mania”, e não de “hipomania”). O DSM 5 também exige, para hipomania, um período mínimo de quatro dias, e não de uma semana, como é o caso do episódio de mania. O característico da hipomania é que o individuo e seu meio não são gravemente prejudicados; a hipomania não produz disfunção social importante, e não há sintomas claramente psicóticos. Muitas vezes, a pessoa acometida não busca serviços médicos. CILOTIMIA OU TRANSTORNO CICLOTÍMICO Diversos pacientes apresentam, ao longo de suas vidas, muito e frequente períodos de poucos e leves sintomas depressivos, por exemplo, sentir-se para baixo, com interesse diminuído, cansaço, seguidos em periodicidade variável, de certa elevação dohumor, por exemplo, um tanto eufórica, irritável ou com expansão do Eu e ativação psicomotora. Isso ocorre sem que o indivíduo apresente episódios completos de depressão. O diagnóstico desses indivíduos é de ciclotimia, transtorno ciclotímico ou personalidade ciclotímica. Para o CID 11 e o DSM 5, esses sintomas, com as oscilações de humor, devem durar no mínimo dois anos, mas geralmente acompanham as pessoas acometidas por toda vida. Os períodos depressivos se assemelham á distimia e nas fases de hipomania ou de euforia/irritabilidade, o paciente tem a sensação agradável de autoconfiança, aumento da sociabilidade, da atividade laborativa e da criatividade, entre outras. TRANSTORNO BIPOLAR O Transtorno Bipolar (TB), em seus vários tipos, é marcado por seu caráter fásico, episódico. Os episódios de mania e depressão ocorrem de modo relativamente delimitado no tempo, e com frequência, há períodos de remissão, em que o humor do paciente encontra-se normal, eutímico, e as alterações psicopatológicas mais intensas regridem. O transtorno Bipolar é mais frequente no Brasil. A idade média de inicio gira em torno de 21 anos, e a chance de recorrência, após um primeiro episódio de mania ou depressão bipolar, é de 37% no primeiro ano, chegando a 87% nos próximos cinco anos. O TB é um transtorno mental grave, com importantes implicações em termos de prejuízo na qualidade de vida, na produtividade e sociabilidade das pessoas acometidas, bem como prejuízo neuropsicológico e risco aumentado de doenças físicas e suicídio. O risco de suicídio aumenta para indivíduos que apresentam episódios mistos, ciclagem rápida e mais sintomas ansiosos, que estão no período inicial do TB, tem quadros refratários ou recebem tratamentos inadequados para o transtorno. O risco aumenta de forma marcante se há comorbidade com transtorno de personalidade do grupo B (Borderline, histriônica ou narcisista) e uso de substâncias como álcool, cocaína ou maconha. TRANSTORNO BIPOLAR TIPO I E TIPO II No caso do TB tipo I, deve haver episódios depressivos intercalados com fases de normalidade e pelo menos uma (geralmente várias) fase maníaca bem caracterizada. No TB tipo II, ocorrem episódios depressivos intercalados com períodos de normalidade e seguidos de fases hipomaníacas (aqui o paciente não deve apresentar fases evidentemente maníacas, mas apenas hipomaníacas) TRANSTORNO BIPOLAR, TIPO CICLAGEM RÁPIDA Para o diagnóstico do tipo ciclagem rápida, é necessário que o paciente tenha apresentado nos últimos 12 meses, pelo menos quatro episódios bem caracterizados e distintos de transtorno de humor, mania ou hipomania e/ou depressão. Os episódios podem ocorrer em qualquer combinação ou ordem. Para dois episódios da mesma polaridade, deve-se verificar intervalos de pelo menos dois meses de remissão parcial ou total dos sintomas ou no caso de episódios de polaridade oposta (depressão para mania ou o inverso, sem necessidade de períodos intermediários de normalidade do humor). O TB do tipo ciclagem rápida tem surgimento mais precoce, curso mais longo, mais uso de álcool e substâncias ilícitas e aumento do risco de suicídio. Ela parece ser mais um fenômeno transitório do que um padrão estável que caracteriza um grupo de pacientes. BASES GENÉTICAS E NEUROBIOLÓGICAS DO TRANSTORNO BIPOLAR O TB tem uma base genética que embora muito heterogênea, é indubitavelmente relevante. Em relação ao componente cerebral do TB, há certo consenso de que haveria uma combinação de comprometimento do controle cognitivo-emocional, implicando estruturas com ação deficitária como o córtex do cíngulo anterior dorsal, e os córtices pré-frontais dorsolaterais e dorsomediais, assim como, em contraste , haveria desregulação por hiper- responsividade de áreas límbicas e paralímbicas, como a amígdala, o córtex frontal ventri-lateral e o córtex do cíngulo anterior ventral. TRANSTORNO BIPOLAR EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES É importante para o diagnóstico de episódio de mania antes da puberdade, a presença de sintomas como euforia, grandiosidade, fuga de ideias ou pensamento acelerado, diminuição da necessidade de sono e hipersexualidade. Entretanto, alguns psiquiatras tendem a expandir a noção de mania, sobretudo nos Estados Unidos, sugerindo que ela se expressa na infância por sintomas comportamentais comuns, como irritabilidade, impulsividade, raiva e ataques de birra, concentração ruim, hiperatividade e dificuldades comportamentais. O diagnóstico de TB na infância se apresenta de forma mais frequente e se aproxima conceitualmente do transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade (TDAH) e do transtorno disruptivo da desregulação do humor, tornando-se na verdade, sobrerrepresentando artificialmente na infância. Crianças em estado de mania podem se apresentar particularmente alegres, engraçadas além da medida, mostrar comportamentos imaturos para a idade e ser difíceis de conter pelos pais, colegas ou cuidadores. Podem ser também extremamente autoconfiantes, iniciando projetos irrealistas e desafiando os adultos em níveis que podem chegar ao extremo. Em casos graves, podem também se apresentar destrutivas, abusivas fisicamente e perigosas para si e para os outros. A irritabilidade, embora seja um sintoma muito inespecífico, tende a ser frequente nos quadros de mania infantil. TIPOS DE ESTADOS MISTOS (MANIA E DEPRESSÃO JUNTAS) SEGUNDO EMIL KRAPELIN TIPOS DE QUADRO MISTO HUMOR E AFETOS ALTERAÇÕES DO PENSAMENTO ATIVIDADE RESUMO Mania ansiosa ou depressiva Ansiedade, angústia desesperante Distraibilidade, pensamentos brotam sem parar, fuga de ideias Muita atividade, inquieto, pressão para agir Humor: deprimido Atividade: maníaca Pensamento: maníaco Mania com pobreza de pensamento Euforia, satisfeito, incontido Inibição e pobreza de pensamentos, delírios Muita atividade, dança, muda de roupa, violento Humor: maníaco Atividade: maníaca Pensamento: deprimido Mania inibida Euforia, exultante, irritável Facilidade para iniciar conversas tolas, fuga de ideias Retardo motor, quieto, grande tensão interna, ás vezes violento Humor: maníaco Atividade: deprimida Pensamento: maníaco Estupor maníaco Euforia, sorri sem motivo, bem- humorado Inibição de pensamentos, delírios, isolados Retardo motor grave, fica quieto, deitado na cama Humor: maníaco Atividade: deprimida Pensamento: deprimido Depressão excitada Ansiedade, desanimado, choroso Inibição de pensamento, delírios, monótono Atividade excessiva, anda, torce as mãos, lamentação monótona Humor: deprimido Atividade: maníaca Pensamento: deprimido Depressão com fuga de ideias Desanimado, cabisbaixo, ansioso e triste Fuga de ideias, delírios, ideias de pecado Retardo motor, fica mudo e rígido em sua conduta Humor: deprimido Atividade: deprimida Pensamento: maníaco CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA OS TRANSTORNOS MANÍACOS SEGUNDO O DSM 5 E A CID 11 (PERÍODO DE PELO MENOS UMA SEMANA COM SINTOMAS BEM DEMARCADOS DE HUMOR PERSISTENTEMENTE ELEVADO, IRRITADO OU EXPANSIVO DIAGNÓSTICO DE EPISÓDIO MANÍACO E HIPOMANIACO SUBTIPOS DE TRANSTORNO BIPOLAR Episódio maníaco Humor anormal e persistente elevado, expansivo ou irritável e pelo menos mais três dos sintomas abaixo (quatro se o humor for apenas irritado) durante pelo menos uma semana: • Autoestima elevada ou grandiosidade • Muito falante, loquaz ou logorreico • Fuga de ideias • Distraibilidade • Menos necessidade de sono • Aceleração psicomotora • Desinibição social e/ousexual ou maior gasto de dinheiro • Maior envolvimento em atividades prazerosas de risco Episódio hipomaníaco Por pelo menos quatro dias, deve haver três ou mais sintomas bem demarcados de humor persistentemente elevado, irritado ou expansivo. Não pode haver sintomas psicóticos; os sintomas não perturbam claramente o funcionamento profissional ou social, e não há necessidade de hospitalização TB tipo I com pelo menos um episódio maníaco: Especificar: se o episódio atual ou mais recente for do tipo hipomaníaco, maníaco, misto, depressivo TB tipo II com pelo menos um episódio hipomaníaco Transtorno ciclotímico: por pelo menos dois anos, deve haver numerosos períodos com sintomas hipomaníacos e sintomas depressivos (que não satisfazem os critérios para episódio depressivo) SINTOMAS E COMPORTAMENTOS PARA DIFERENCIAR MANIA, TDAH E TRANSTORNO DISRUPTIVO DA DESREGULAÇÃO DO HUMOR NA INFÂNCIA SINTOMAS E COMPORTAMENTOS MANIA NA INFÂNCIA TDAH TRANSTORNO DISRUPTIVO DA DESREGULAÇÃO DO HUMOR Grandiosidade Muito Frequente Rara Rara Humor elevado, euforia Muito frequente Rara Raro Redução da necessidade de sono Frequente Raro Raro Pensamento acelerado Frequente Muito Raro Raro Fuga de ideias Frequente Pouco Frequente Raro Comportamento de risco Frequente Frequentes Muitíssimo Frequente Procura desinibida por pessoas Frequente Pouco Frequente Rara Tolices, palhaçadas Frequente Pouco Frequente Rara Hipersexualidade Bem Frequente Pouco Frequente Frequente Aumento de atividades dirigidas a objetivos Bem Frequente Pouco Frequente Frequente Fala acelerada Muitissimo Frequente Frequente Rara Humor irritável Muitíssimo Frequente Muito Frequente Muitíssimo Frequente Hiperenérgetico Muitíssimo Frequente Muitíssimo Frequente Frequente Distraibilidade Muito Frequente Muitíssimo Frequente Frequente Padrão de evolução temporal Ocorre em episódios relativamente bem delimitados Contínuo, tende a ser transtorno crônico (distraibilidade e hiperatividade persistentes) Contínuo, tende a ser transtorno crônico (irritabilidade persistente, explosões frequentes) Comorbidades mais frequentes TDAH, transtornos disruptivos, sobretudo TOD e TC e transtornos de ansiedade Transtornos disruptivos, sobretudo TOD e transtornos específicos da aprendizagem Transtornos disruptivos, sobretudo TOD e transtornos de ansiedade
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