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PARECER TÉCNICO 2 Elaborado por: Gisele de Oliveira Pinnola Disciplina: Compliance Turma: Turma de Pós-Graduação em Direito Empresarial - Novembro de 2021 3 Cabeçalho Órgão solicitante: Diretor Jurídico do Laboratório Remédios & Medicamentos Ltda. Assunto: Análise da legalidade na aquisição de produtos injetáveis próximos à data de vencimento e do dever de transparencia frente aos princípios do compliance e governança corporativa. 4 Ementa Compra de medicamentos injetáveis próximos à validade. Obrigações do auditor interno que constatou o fato. Atuação da alta direção diante dos princípios do compliance e governança corporativa. Ação devida do Auditor Cláudio ante a ordem dos gestores da organização no caso em epígafe. Breve comparação dos níveis de independência das funções de auditor interno e compliance officer. Relatório O presente relatório objetiva a análise de fato apurado em auditoria interna realizada no Laboratório Remédios & Medicamentos Ltda., no qual foi constadada a aquisição de grande quantidade de medicamentos injetáveis para crianças acima de dois anos, que possuíam data de validade de 3 meses. O auditor responsável, Cláudio, imediatamente comunicou a ocorrência à Diretoria, tendo esta, em resposta, informado estar ciente da aquisição, e que esta se deu em razão do menor custo na negociação com a devida informação ao comprador, determinando que Cláudio não desse prosseguimento mais a este tema. Sendo assim, nos tópicos a seguir serão analisados a legalidade da conduta de aquisição de medicamentos próximo à validade, os deveres do auditor que identificou o fato, bem como a conduta da diretoria que recebeu a comunicação, face os princípios da governança e do compliance. Serão brevemente abordadas, ainda, as principais diferenças da figura do auditor interno e do compliance officer, no que tange à independência, concluindo, ao final, qual a melhor ação que Claudio deve realizar diante do cenário exposto. 5 Fundamentação Conforme exposado supra, fora identificado que a empresa adquiriu medicamentos injetáveis para crianças acima de 2 anos, com validade de 3 meses. A Resolução de Diretoria Colegiada da Anvisa nº. 44/2009 regulamenta, em seu artigo 51, parágrafos 1º e 2º, a comercialização de medicamentos com prazo de validade próximo ao vencimento, in verbis: “Art. 51. A política da empresa em relação aos produtos com o prazo de validade próximo ao vencimento deve estar clara a todos os funcionários, bem como descrita no Procedimento Operacional Padrão (POP) e prevista no manual de Boas Práticas Farmacêuticas (BPF) do estabelecimento. §1º O usuário deve ser alertado quando for dispensado produto com prazo de validade próximo ao seu vencimento. §2º É vedado dispensar medicamentos cuja posologia para o tratamento não possa ser concluída no prazo de validade. Assim, conforme se observa, é permitida a negociação de produtos próximos à validade, desde que atendidos alguns requisitos, dentre eles a obrigatoriedade de alertar o consumidor sobre a proximidade do vencimento, bem como a observância do tempo de duração do tratamento, que deve ser dentro do referido prazo. No caso ora tratado, quando devidamente informado do fato, o Diretor respondeu ter notificado o comprador acerca da proximidade da validade dos produtos, cumprindo, assim, um dos requisitos impostos. Porém, a norma também prevê o dever de transparência, ao determinar, no caput do dispositivo acima transcrito, que a politica da empresa em relação aos produtos próximos ao vencimento deve estar clara a todos os funcionários. 6 Inobstante, ainda que não houvesse tal determinação, para fins de mitigação de riscos, o dever de transparência é imperioso, pois, a comercialização dos produtos nas referidas condições, sem o devido conhecimento dos envolvidos, pode atrair riscos à empresa, tais como: 1) a forma adequada de armazenamento dos medicamentos, que deve ser condizente com seu tempo de vida útil que, se não observado pode prejudicar sua qualidade e causar danos a terceiros com a consequente responsabilização civil e criminal da empresa; 2) Em se tratando de grande quantidade de produtos próximos da validade, a empresa terá menor tempo para fornecê-los no mercado, gerando, desta forma, maior probabilidade de expiração da validade quando ainda em estoque, causando, assim, prejuízos economicos à empresa. Sendo assim, ao solicitar a Cláudio que o tema fosse tratado com sigilo e não mais fosse mencionado, o Diretor infringiu o dever de transparência, que é um dos pilares do compliance, vez que viola a instrução normativa, assim como inviabiliza a possível mitigação de riscos quanto à negociação dos produtos. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC), nas Normas Brasileiras de Contabilidade, conceitua auditoria como: 12.1.1.1 A Auditoria Interna compreende os exames, as análises, as avaliações, os levantamentos e as comprovações, metodologicamente estruturados para a avaliação da integridade, adequação, eficácia e economicidade dos processos, dos sistemas de informações e de controles internos integrados ao ambiente, e de gerenciamento de riscos, com vistas a assistir à administração da entidade no cumprimento de seus objetivos. (CFC, 2006, p. 24) 7 Ainda, a atividade de auditoria interna é regida pelos princípios da integridade, objetividade, confidencialidade e competência. Quando deparado com uma inconformidade normativa e identificados riscos para a organização, é impositivo que o auditor interno providencie o devido apontamento do fato e comunique aos diretores, o que foi feito por Cláudio. Porém, em razão de ser auditor interno, em que pese este tenha larga autonomia e liberdade para atuação e elaboração de sua analise, o mesmo deve subordinação à diretoria, por ser funcionário da empresa, possuindo, assim, independência ilimitada. Já ao contrário do auditor interno, um compliance officer possui independencia, e está em contato com todos os setores da empresa buscando implementar política de conformidade com as leis, normas e estatuto da empresa. O auditor interno avalia riscos, apresentando um plano de ação para que a empresa alcance seus objetivos, nesse sentido: As atividades desenvolvidas por estas áreas não são idênticas mas sim complementares pois enquanto a Auditoria Interna efetua seus trabalhos de forma aleatória e temporal, por meio de amostragens, a fim de certificar o cumprimento das normas e processos instituídos pela Alta Administração, o Compliance executa suas atividades de forma rotineira e permanente, sendo responsável por monitorar e assegurar de maneira corporativa e tempestiva que as diversas unidades da Instituição estejam respeitando as regras aplicáveis a cada negócio, por meio do cumprimento das normas, dos processos internos, da prevenção e do controle de riscos envolvidos em cada atividade. (CARNEIRO, 2017, p. 101). 8 Considerações finais For a verificado que é permitida a aquisiçao e comercialização de produtos próximos à validade, desde que atendidos os requisitos determinados na Resolução nº. 44 da ANVISA, sendo que, um deles é o dever de transparencia que é um dos pilares do compliance. Assim, no caso apresentado, ao ser apurado o fato pelo auditor interno e a diretoria determinado o sigilo da informação, houve afronta nitida ao dever de transparencia, expondo a organizaçao a riscos em suas operações, visto que também prejudica outro principio do compliance, que é a prevenção. Desta forma, resta evidente a necessidade da existencia do programa de compliance na empresa,cuja estrutura deve ser implementada pelo compliance officer, que possui total autonomia e independencia na sua atuação, prevenindo, detectando e corrigindo as falhas existentes. Pelo exposto, considerando o dever de subordinação e confidencialidade do auditor Claudio, no caso em tela, e sua autonomia limitada, entendo que o mesmo deveria, ainda assim, emitir um relatório ao Conselho de Administração, reportando a ordem que recebeu da diretoria, ou denunciar aos setores responsáveis pela correção das falhas e infrações, diante das violações ora expostas, a fim de tornar eficaz o programa de compliance implementado na organização, evitando que este se torne apenas mera formalidade. 9 Referências bibliográficas AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução - RDC – 44. 2009. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2009/rdc0044_17_08_2009.pdf; AUDITORIA E CONTROLADORIA. Disponível em: http://auditoriaecontroladoria.blogspot.com.br. Acesso em: 7 jan. 2022; CARNEIRO, Cláudio e JUNIOR, Milton de Castro Santos. Compliance. Apostila. Material do aluno; LEGIS COMPLIANCE. Guia Boas Práticas de Compliance. Disponível em: https://www.legiscompliance.com.br/; PORTAL DE AUDITORIA.COM. Função e importância da auditoria interna nas corporações. Disponível em: https://portaldeauditoria.com.br/funcao-e-importancia- da-auditoria-interna-nas-corporacoes.
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