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Mariana Costa Teixeira CLÍNICA CIRÚRGICA Definição Protrusão anormal de um órgão ou tecido por um defeito em suas paredes circundantes. Embora uma hérnia possa ocorrer em vários locais do corpo, esses defeitos mais comumente envolvem a parede abdominal, em particular a região inguinal. As hérnias da parede abdominal ocorrem apenas em locais onde a aponeurose e a fáscia não são cobertas por músculo estriado. Esses locais incluem mais comumente as áreas inguinal, femoral e umbilical, a linha alba, a porção inferior da linha semilunar e locais de incisões anteriores. O denominado colo ou orifício de uma hérnia é localizado na camada musculoaponeurótica mais interna, enquanto o saco herniário é revestido por peritônio e faz protrusão no colo. Não existe relação consistente entre a área do defeito da hérnia e o tamanho do saco herniário. Hérnia Redutível x Hérnia Irredutível (encarcerada) Redutível: quando seus conteúdos podem ser reposicionados por entre a musculatura circundante. Irredutível ou encarcerada quando não pode ser reduzida. Hérnia Estrangulada Possui o suprimento sanguíneo comprometido para seus conteúdos, o que é uma complicação grave e potencialmente fatal. Ocorre estrangulamento com mais frequência nas hérnias grandes que têm pequenos orifícios. Nessa situação, o pequeno colo da hérnia obstrui o fluxo sanguíneo arterial, a drenagem venosa, ou ambos, para os conteúdos do saco herniário. Um tipo pouco comum de estrangulamento é a hérnia de Richter. Nessa hérnia, uma pequena porção da parede antimesentérica do intestino é aprisionada dentro da hérnia, e pode ocorrer estrangulamento parcial do lúmen sem a presença de obstrução intestinal. Hérnia Externa x Hérnia Interna Uma hérnia externa faz protrusão através de todas as camadas da parede abdominal. Hérnia interna é uma protrusão do intestino através de um defeito no interior da cavidade peritoneal. Hérnia Interparietal Uma hérnia interparietal ocorre quando o saco herniário é contido na camada musculoaponeurótica da parede abdominal. HÉRNIAS INGUINAIS Epidemiologia 75% das hérnias ocorrem na região inguinal, sendo 2/3 do tipo indireta e o restante constituído por hérnias inguinais diretas. Hérnias femorais compreendem apenas 3% das hérnias inguinais. Maior prevalência em homens (25x). Conceitos Fáscia de Camper: superficial, delicada e bem vascularizada Fáscia de Scarpa: mais espessa, facilmente identificada, sobre o oblíquo externo Ligamento inguinal ou de Poupart: é o espessamento aponeurótico do oblíquo externo que segue da espinha ilíacatubérculo púbico. Ligamento lacunar: é formado pela inserção do ligamento inguinal ao púbis Limite anterior: oblíquo externo Limite posterior e superior: Obliquo interno e transverso Profundamente ao obliquo interno: fáscia transversalis Tanto as hérnias inguinais indiretas como as hérnias femorais ocorrem mais comumente no lado direito. Atribui-se isso a uma demora na atrofia do processo vaginal após a descida mais lenta normal do testículo direito para o escroto durante o desenvolvimento fetal. Acredita-se que a predominância de hérnias femorais do lado direito se deva ao efeito de tamponamento do cólon sigmoide no canal femoral esquerdo. A prevalência e risco de complicações aumenta com a idade. A maioria das hérnias estranguladas são hérnias inguinais indiretas; entretanto, as hérnias femorais têm a maior taxa de estrangulamento (15% a 20%) de todas as hérnias e, portanto, se recomenda que todas as hérnias femorais sejam reparadas no momento da descoberta. Hérnias inguinais são classificadas como direta ou indireta. HÉRNIA INGUINAL INDIRETA São as mais frequentes. Secundárias a alterações congênitas decorrentes do não fechamento do conduto peritoneovaginal. O saco herniário inguinal indireto passa do anel inguinal interno obliquamente em direção ao anel inguinal externo e, por fim, para a bolsa escrotal. HÉRNIA INGUINAL DIRETA Não são resultados de alterações congênitas e sim adquiridas. - Fraqueza da parede posterior - Ocorre no triângulo de Hesselbach: quando estruturas abdominais empurram a fáscia transversalis na região do triângulo de Hesselbach e cai no canal inguinal. TRIÂNGULO DE HESSELBACH: área na fáscia transversalis ainda mais vulnerável a ser projetada pelas estruturas peritoneais. Essa área é formada pelos vasos epigástricos inferiores, projeção posterior do lig. Inguinal e pela borda lateral do reto abdominal. É área de maior fraqueza. Limites: - Inferior: lig. Inguinal - Medial: borda reto abdominal - Lateral: vasos epigástricos inferiores. OBS: Essa distinção é de pouca importância, pois o reparo cirúrgico desses tipos de hérnias é semelhante. Quando os dois componentes, hérnia indireta e hérnia direta, encontram-se juntos, temos uma hérnia do tipo em pantalona. DIAGNÓSTICO Uma saliência na região inguinal ainda é o principal achado diagnóstico na maioria das hérnias inguinais. A maior parte dos pacientes terá dor associada ou um vago desconforto na região, mas um terço dos pacientes não terá nenhum sintoma. As hérnias da região inguinal em geral não são muito dolorosas a menos que tenha ocorrido encarceramento ou estrangulamento. Na ausência de achados físicos, causas alternativas de dor precisam ser levadas em consideração. Algumas vezes, os pacientes podem ter a sensação de parestesias relacionadas com compressão ou irritação dos nervos inguinais pela hérnia. Outras massas além de hérnias podem ocorrer na região inguinal. O exame físico isoladamente em geral diferencia a hérnia inguinal e essas massas. A região inguinal é examinada com o paciente em ambas as posições, supina (decúbito dorsal) e em pé (posição ortostática). - Inspecionar - Palpar e avaliar simetria, abaulamento ou presença de massa. - Manobra de Valsava (facilitar identificação) À palpação: - Ponta do dedo no canal inguinal: 1. Uma protuberância movendo-se de lateral para medial no canal inguinal sugere uma hérnia indireta. 2. Se a protuberância progredir de profunda para superficial através do assoalho inguinal, suspeita-se de uma hérnia direta. CLASSIFICAÇÃO Exame de Imagem A ultrassonografia também pode ajudar no diagnóstico. Existe um alto grau de sensibilidade e especificidade do ultrassom na detecção de hérnias ocultas, direta, indireta e femoral. A tomografia computadorizada do abdome e pelve pode ser útil para o diagnóstico de hérnias obscuras e incomuns, bem como para massas atípicas da região inguinal. OBS: A hérnia incisional é uma protrusão que acaba sendo formada sobre, ou muito próxima, a uma cirurgia abdominal. A protrusão é o principal sintoma, porém, em casos complicados como a hérnia, pode-se apresentar encarceramento ou estrangulamento do intestino. Diagnóstico Diferencial de TU da Região Inguinal TRATAMENTO Não Cirúrgico - Pacientes com sintomas mínimos ou sem sintomas: deve-se ponderar quanto ao procedimento cirúrgico pelo risco de encarceramento e estrangulamento a longo prazo (aumento progressivo de volume e enfraquecimento da parede). Em geral, aceita-se que o tratamento não operatório não é usado para hérnias femorais em função da alta incidência de complicações associadas, particularmente estrangulamento. Cirúrgico - Reparo Anterior - Reparos de Tecido - Reparo de hérnia inguinal livre de tensão anterior - Reparo pré-peritoneal - Reparo laparoscópico HÉRNIAS INCOMUNS Hérnia de Spiegel Essas hérnias em geral são interparietais, com o saco herniário situando-se posteriormente à aponeurose do oblíquo externo. A maioria das hérnias de Spiegelé de pequeno tamanho (1 a 2 cm de diâmetro) e se desenvolve durante a quarta até a sétima década de vida. Os pacientes em geral apresentam-se com dor localizada na região, sem uma protuberância, porque a hérnia se localiza abaixo da aponeurose do oblíquo externo. O ultrassom ou a TC do abdome podem ser úteis para estabelecer o diagnóstico. A hérnia de Spiegel ocorre através da fáscia de Spiegel, que é composta do folheto aponeurótico entre o músculo reto medialmente e a linha semilunar lateralmente. Quase todas as hérnias de Spiegel ocorrem na linha arqueada ou abaixo dela. A ausência da fáscia na parte posterior do reto pode contribuir para uma fraqueza inerente nessa área. CONDUTA: Uma hérnia de Spiegel é reparada em função do risco de encarceramento associado a seu colo relativamente estreito. Hérnia do Obturador O canal do obturador é formado pela união dos ossos púbis e ísquio. Esse canal é atapetado por uma membrana trespassada na borda medial e superior pelo nervo obturador e vasos. O enfraquecimento da membrana do obturador pode resultar no alargamento do canal e formação de um saco herniário, que pode levar ao encarceramento intestinal e estrangulamento. O paciente pode apresentar evidência de compressão do nervo obturador, que causa dor na face anteromedial da coxa (sinal de Howship-Romberg), que é aliviada pela flexão da coxa. Quase 50% dos pacientes com hérnia do obturador evoluem com obstrução intestinal parcial ou completa. Se necessário, uma tomografia computadorizada do abdome pode estabelecer o diagnóstico. Hérnia Lombar As hérnias lombares podem ser congênitas ou adquiridas após uma operação no flanco e ocorrem na região lombar da parede abdominal posterior. Hérnias através do triângulo lombar superior (triângulo de Grynfeltt) são as mais comuns. O triângulo lombar superior é limitado pela 12ª costela, músculos paraespinais e músculo oblíquo interno. Menos comuns são as hérnias através do triângulo lombar inferior (triângulo de Petit), que é limitado pela crista ilíaca, músculo grande dorsal e músculo oblíquo externo. A fraqueza da fáscia lombodorsal através de quaisquer dessas áreas resulta em protrusão progressiva de gordura extraperitoneal e um saco herniário. As hérnias lombares não são propensas ao encarceramento. Pequenas hérnias lombares são frequentemente assintomáticas. Hérnias maiores podem estar associadas à dor lombar. A TC é útil para o diagnóstico. Hérnia Interparietal As hérnias interparietais são raras e ocorrem quando o saco herniário se localiza entre os músculos da parede abdominal. Essas hérnias ocorrem mais frequentemente após incisões prévias. As hérnias de Spiegel são quase sempre interparietais. O diagnóstico pré-operatório correto da hérnia interparietal pode ser difícil. Muitos pacientes com hérnias interparietais complicadas apresentam-se com obstrução intestinal. A TC abdominal pode ajudar no diagnóstico. Volumosas hérnias interparietais em geral exigem a colocação de uma tela como prótese para sua correção. Quando isso não pode ser realizado, a técnica de separação dos componentes musculares pode ser útil para proporcionar tecidos naturais para obliterar o defeito.
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