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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA- UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO ESPORTE- CEFID CURSO DE FISIOTERAPIA COLONIALISMO CULTURAL: UMA RESENHA CRÍTICA FLORIANÓPOLIS 2022 2 JHON ALEFE ABREU DOS SANTOS COLONIALISMO CULTURAL: UMA RESENHA CRÍTICA Atividade Avaliativa, realizada para obtenção de nota parcial na disciplina Antropologia e Sociologia na Saúde, ministrada pelo prof. Alexandre de Paula Aguiar, na primeira fase do curso de Fisioterapia, na Universidade do Estado de Santa Catarina. FLORIANÓPOLIS 2022 3 IBARBURU, Estela. Colonialismo Cultural. In: Simposio de extensión universitaria: “Las culturas”. 2014, Montevidéu. Anais eletrônicos [...]Montevidéu : Centro de Estudos Adlerianos - IAIP Uruguai, 2014. Disponível em: http://centroadleriano.org/wp-content/uploads/2016/04/Estela_2014.pdf. O artigo em questão tem como título “Colonialismo Cultural” e possui 8 páginas e fez parte da programação de um simpósio de extensão universitária realizado em Montevidéu, Uruguai, no ano de 2014. Foi escrito por Estela Ibarburu, que é professora de História e licenciada em Ciências Históricas e Ciências da Educação. É professora efetiva de História da Educação na Formação Docente do Instituto de Professores Artigas em Montevidéu, Uruguai. A obra inicia-se com uma definição ampla de colonialismo, na qual a autora liga com fatos marcantes da idade moderna, cujas causas, de ordem econômica, se utilizaram de uma ideologia racista que justificasse as ações colonialistas. Logo após é retratada a definição e a conseguinte construção histórica dessa ideologia racista através dos séculos. Desde as ideias de hereditariedade de habilidades e características físicas, superioridade biológica e cultural de cada etnia, à miscigenação como processo de degeneração de etnias consideradas superiores, até uma interpretação racista dos escritos bíblicos. A historiógrafa segue seu escrito apresentando o Estatuto de purificação do sangue, que seria um marco legal para exclusão de descendentes muçulmanos, judeus, ciganos ou penitentes da santa inquisição. Esse estatuto, segundo a autora legitimaria a apropriação de bens da população infiel e herética, segundo cristãos. Sobre a expansão colonial no século XIX, a autora cita que diversas teorias racistas eram utilizadas para justificar eticamente a partilha das colônias. Que havia uma unanimidade na academia sobre desigualdades raciais e, para legitimar essa visão racista, a antropologia, a física, a química e a biologia eram procuradas para dar um embasamento a essas ideias. Surgiram teorias de origem das raças , na qual Adão e Eva eram brancos, feitos à imagem de Deus e a pele escura seria uma degeneração causada por fatores ambientais. Outras teorias defendiam o poligenismo, no qual Adão daria origem apenas a raças evoluídas. Essas teorias embasariam as ideias de que as características de inferioridade física, moral e intelectual eram ligadas diretamente aos não-brancos. 4 Segundo Ibarburu, a dominação colonial deveria ir para além do plano político e econômico e atingir o patamar cultural para que houvesse a consolidação de todos os âmbitos dessa dominação. Citando o pensador antilhano de origem africana Franzt Fanon, a autora evidencia uma provável irrealização da ontologia, segundo a visão hegeliana, para o preto em uma sociedade colonizada, para posteriormente concluir que aos olhos do branco, preto não tem resistência ontológica. O texto então apresenta o surgimento de outros autores como J. Wellerstein, que iniciariam uma revisão da corrente historiográfica e que, com a criação das ciências sociais, se preocupariam em ter outras localidades e nichos como objeto de estudo. Esses autores romperiam com o interesse historiográfico apenas pela Europa e Estados Unidos e passariam a propor a analisar o mundo a partir da perspectiva do racismo, das relações de gênero e poder assimétrico na economia mundial. O trabalho da professora Ibarburu segue evidenciando que esses autores apontaram que o processo ao qual contribuiu para a construção da visão de mundo eurocêntrica está intimamente ligado ao colonialismo. Segundo a autora o eurocentrismo é herdeiro do centrismo helênico e que, existem contradições nessa construção do discurso colonialista cultural visto que a cultura helênica já era uma junção de diversos costumes e tradições dos mais diversos povos e que, desde Grécia, Roma até à Europa moderna essa visão eurocêntrica fecha-se e torna invisível a contribuição de quaisquer povos em todos os campos do conhecimento. Evidenciando a crítica ao imperialismo europeu, o texto cita Edward Said, autor que defende que essa colonização cultural retroalimenta diversos aspectos dessa dominação e que os colonizados e subordinados não conhecem sua situação. Para a autora, os colonialistas configuram o conhecimento como algo deslocado, para que eles estabeleçam a necessidade de que o mundo inteiro alcance a epistemologia da modernidade. A professora então conclui defendendo uma descolonização cultural, para que os colonizados tornem-se sujeitos da história e façam um reordenamento nas relações de poder que regem a ordem mundial e que as populações colonizadas reconheçam-se umas às outras como sujeitos epistemológicos que contribuíram para o patrimônio cultural da humanidade e que sejam minados os pressupostos de superioridade baseados em raça ou etnia. A autora também cita o fato de a educação ser um instrumento de consolidação exercido por alguns povos sobre 5 outros na medida em que internaliza a inferioridade de um lado e à naturalização de estruturas econômicas, políticas, sociais e culturais que permitem ao outro lado subjulgar e alienar. O desafio segundo o texto seria romper com a visão homogeneizadora da globalização por meio da diversidade cultural e apoderar-se da linguagem para recodificá-la e desenvolver nova representações da realidade segundo categorias construídas a partir da experiência histórica de cada povo. Neste artigo, a professora Estela Ibarburu traz ideias pautadas nessa ruptura historiográfica eurocêntrica racista e que tem ganhado muitos estudiosos nesse campo e que cada vez mais tem dado voz e visibilidade aos povos colonizados. A conclusão da autora é muito válida em suas proposições de ressignificar a linguagem, que carrega em si o cerne de toda uma cultura. Ressignificar a linguagem é reconstruir a escrita da própria história. A leitura é válida para todos estudantes da área das ciências humanas e da saúde e para todos os profissionais que desejam aprofundar seus conhecimentos em uma visão crítica sobre o que é cultura e historiografia eurocêntrica. A obra contribui bastante para o debate acerca do multiculturalismo e o abandono da visão de mundo padrão, único e hegemônico.
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