Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Pediatria Thomás R. Campos INTRODUÇÃO À NEONATOLOGIA A Neonatologia é o ramo da Pediatria que visa à assistência ao Recém-Nascido. Na Pediatria existe uma divisão didática dos períodos de vida da criança. O período neonatal vai do nascimento até o 28º dia de vida. ▪ Embrionário: Da implantação até a 8ª semana de idade gestacional. ▪ Fetal: A partir da 9ª semana de idade gestacional até o nascimento. ▪ Perinatal: 22ª semana de gestação até o 7º dia de vida extrauterina. ▪ *OBS.: há divergências na literatura quanto à duração do período perinatal, outras podem defini-lo como: 20ª semana de gestação até 7º dia de vida extrauterina ou 20ª semana de gestação até o 28º dia de vida extrauterina. ▪ Neonatal: Do nascimento até 28º dia de vida. – Neonatal muito precoce: primeiras 24h de vida. – Neonatal precoce: 0 ao 7º dia de vida. – Neonatal tardio: 8º ao 28º dia de vida ▪ Lactente: 29 dias até 2 anos incompletos ▪ Pré-escolar: 2 anos até 6 anos incompletos ▪ Escolar: 6 anos até 12 anos incompletos. ▪ Adolescência: 10 a 20 anos (OMS). 12 a 18 anos (ECA). TERMOS EM NEONATOLOGIA: ▪ Nascido vivo: É a expulsão ou retirada de um produto de concepção do corpo da mãe, independente da idade gestacional, que apresente qualquer sinal de vida: respiração, batimentos cardíacos, pulsações no cordão umbilical, movimentos efetivos, estando ou não cortado o cordão umbilical e estando ou não desprendida a placenta. ▪ Óbito fetal: É a morte de um produto da concepção antes da expulsão ou extração completa do corpo da mãe, independentemente da idade da gravidez. O óbito fetal é reconhecido pela ausência de qualquer sinal de vida, como aqueles descritos acima. – Aborto (morte fetal precoce): <20 semanas ou peso < 500g ou comprimento < 25cm. – Morte fetal intermediária: ocorre entre a ≥20ª (ou 22ª) e <28ª semana. – Morte fetal tardia: ≥ 28ª semana. *Em caso de morte fetal, é preciso fornecer a declaração de óbito do feto quando a gestação tiver duração ≥20 semanas ou o feto tiver peso corporal ≥500 gramas e / ou comprimento ≥25 cm. EPIDEMIOLOGIA: ▪ O período neonatal é particularmente vulnerável a riscos biológicos, ambientais, socioeconômicos e culturais → 25% dos óbitos infantis acontecem na 1º semana de vida; ▪ A Taxa de Mortalidade Infantil (Óbitos < 1 ano) vem sofrendo queda expressiva no país (redução de 59% de 1990 até 2007), mas ainda é elevada quando comparada aospaíses desenvolvidos. A TMI no Brasil é de 19,3/1.000 nascidos vivos → 70% da mortalidade infantil se deve à mortalidade no período neonatal, algo que reflete a má qualidade de assistência pré-natal, perinatal e ao parto; ▪ As principais causa de morte são a prematuridade e suas complicações, enterocolite necrosante, infecções e asfixia. Pediatria Thomás R. Campos Sempre que um RN nasce, ele é classificado em grupos, de acordo com a idade gestacional, o peso ao nascer e a adequação do peso ao nascer para a idade gestacional. IDADE GESTACIONAL Quanto à idade gestacional, o RN pode ser classificado em: ▪ No Brasil estima-se que 6,7% dos nascimentos sejam prematuros, sendo este um dos fatores de risco mais importantes para a mortalidade infantil. A incidência de parto prematuro é maior em populações de baixa renda socioeconômica e em pacientes que não recebem assistência pré-natal. ▪ Apenas 0,7% dos nascimentos são pós-termo. A idade gestacional pode ser obtida de diversas formas: ▪ Data da última menstruação (DUM): o melhor método para determinar a idade gestacional, quando é conhecida. ▪ Ultrassonografia (USG): Quando a DUM não é conhecida ou existem dúvidas acerca do dia exato, pode-se usar a ultrassonografia como exame complementar para determinar a idade gestacional. No 1º trimestre, o comprimento cabeça-nádega é a medida que melhor se correlaciona com a idade gestacional, e no 2º trimestre costuma-se usar como parâmetro o diâmetro biparietal ou o comprimento do fêmur. Quanto mais se aproxima do termo, menor é a acurácia destas medidas anatômicas em determinar a idade fetal, aumentando sobremaneira o índice de erros. ▪ Exame Clínico do RN: Uma terceira ferramenta para se avaliar a idade gestacional é através do exame físico somático e neurológico do recém-nascido, cujos achados apresentam correspondência com seu grau de maturidade. Ao longo do tempo diversos escores clínicos foram confeccionados com o objetivo de se avaliar a idade gestacional, sendo os mais utilizados: – Método Dubowitz; – Método Capurro; – Método New Ballard. Escore de Dubowitz O escore de Dubowitz (1970) utiliza 21 critérios (11 critérios físicos externos e 10 critérios neurológicos) para estimar a idade gestacional ao nascimento. Pode ser realizado até o 5º dia de vida e tem boa acurácia. Entretanto, sua extensão limita seu emprego na prática clínica por ser muito extenso. Pediatria Thomás R. Campos Capurro Capurro e colaboradores criaram outro método a partir da simplificação do método de Dubowitz, utilizando para isso apenas cinco (Capurro Somático) ou seis características clínicas (Capurro Somatoneurológico) que deveriam ser analisadas idealmente nas 4-6 primeiras horas de vida em neonatos a partir de 29 semanas de vida. O método de Capurro é simples, fácil e difusamente empregado na prática clínica neonatal. Entretanto, devemos ressaltar que não é um escore tão fidedigno quanto aquele que o originou, mas, na maioria das vezes, presta- se bem à avaliação geral do bebê a termo. ▪ Deve ser aplicado nas primeiras 6h de vida. ▪ Pode ser usado se o RN tiver >30 semanas de IG. ▪ Não é o método preferido em prematuros. New Ballard Com a mesma intenção de criar uma forma de cálculo mais fácil, Ballard e colaboradores selecionaram apenas seis características somáticas e seis neurológicas do método de Dubowitz para confeccionar outro escore. O Ballard tinha boa precisão e apresentava um grau de simplicidade intermediário. Em 1991 propôs-se uma modificação do Ballard original, através da atribuição de pontuação -1 e -2 para que pudesse ser aplicável em bebês prematuros, daí nasceu o New Ballard, que é bastante preciso quando aplicado até 12-20 horas após o nascimento, pode ser aplicado em prematuro extremo, requer pouca manipulação e sofre pouca influência por depressão neurológica. Atualmente, é o escore de avaliação de idade gestacional mais utilizado em prematuros. ▪ Pode ser aplicado nas primeiras 96h de vida (é mais preciso quando aplicado de 12 a 20h após o nascimento). ▪ Melhor para avaliar prematuros. Pediatria Thomás R. Campos PESO AO NASCER Quanto ao peso ao nascer, o RN pode ser classificado em: ▪ Cerca de 8% dos nascidos vivos no Brasil são baixo peso (< 2.500 g), sendo este um fator de risco para mortalidade infantil. Os maiores percentuais concentram-se na região Sul (8,7%) e Sudeste (9,1%), seguindo a mesma tendência das taxas de prematuridade. ▪ Cerca de 2/3 dos recém-nascidos com peso inferior a 2.500 gramas são prematuros, mas é importante lembrarque prematuridade e baixo peso não são sinônimos (estas duas entidades podem ou não coexistir em um mesmo RN). ▪ Os neonatos de muito baixo peso ao nascer (< 1.500 g) representam 0,9% dos nascimentos na região Norte e 1,4% na região Sudeste. ADEQUAÇÃO DO PESO AO NASCER PARA A IDADE Quanto ao peso ao nascer, o RN pode ser classificado em: Dica prática: toda criança com 37 semanas e menos de 2Kg é PIG. A adequação do peso para a idade gestacional é um importante indicador clínico de morbidade neonatal, além de ser um fator de risco para mortalidade e atrasos do desenvolvimento. Várias curvas de crescimento foram desenvolvidas com dados antropométricos de populações de crianças nascidas com diferentes idades gestacionais. Essas curvas são utilizadas para verificar se o peso do RN está dentro da faixa normal para determinada idade gestacional e, dessa forma, estimar se o crescimento intrauterino foi normal. Atualmente, as curvas de Fenton são muito utilizadas, tendo como vantagens a correlação de peso x idade gestacional, comprimento x idade gestacional e perímetro cefálico x idade gestacional para neonatos a termo, pré-termos e pós-termos, e dos sexos feminino e masculino. A faixa de normalidade é definida como o peso entre os percentis 10 e 90 de determinada curva. ▪ PIG (Pequeno para a Idade Gestacional): abaixo do percentil 10. ▪ AIG (Adequado para a Idade Gestacional): entre os percentis 10 e 90. ▪ GIG (Grandes para a Idade Gestacional): acima do percentil 90. Pediatria Thomás R. Campos A curva de crescimento não é uniforme durante todo o período da gestação. A velocidade de ganho ponderal apresenta quatro períodos, que são: 1. Fase de crescimento lento: até a 16ª semana, com uma média de ganho ponderal de 10 g/semana. 2. Fase de crescimento acelerado: da 17ª até a 27ª semana, com uma média de ganho ponderal de 85 g/semana. 3. Fase de crescimento máximo: da 28ª até a 37ª semana, alcançado uma média de 200 g/semana. 4. Fase de desaceleração: a partir da 37ª semana, com um ganho ponderal reduzido para 70 g/semana. PIG ≠ CIUR Nem todo PIG é um CIUR! PIG é uma medida estática (leva em consideração apenas o peso para uma determinada idade gestacional após o nascimento). Indica apenas que o RN que nasceu com peso abaixo do percentil 10 para uma determinada idade gestacional, mas não necessariamente causado por alguma doença (existem PIGs constitucionais). – PIG constitucional é um bebê “constitucionalmente” pequeno, sem qualquer anormalidade orgânica cujo peso de nascimento é determinado pela influência genética, em que não há nenhum aumento da morbimortalidade em relação aos neonatos AIG. O PIG constitucional é mais comum na prole de pais de baixa estatura, mães primíparas ou com história prévia de PIG em outras gestações. CIUR (Crescimento Intrauterino Restrito) é uma medida evolutiva (apresenta uma curva de peso abaixo do percentil 10). Indica que o RN que apresentou curva de peso abaixo do percentil 10, decorrente de um processo patológico intraútero que prejudica o ganho ponderal fetal, seja de origem materna (ex.: doença hipertensiva específica da gravidez), placentária (ex.: placenta prévia) ou do próprio feto (ex.: anomalias cromossômicas). A maioria dos RNs com CIUR é PIG, mas nem todo PIG é um CIUR Os neonatos com CIUR apresentam maior incidência de problemas fetais, como: ▪ Morte fetal: causada por hipóxia prolongada, acidose metabólica, infecção ou anomalias congênitas. ▪ Asfixia perinatal: a hipóxia crônica ligada à redução do fluxo uteroplacentário no momento do parto predispõe à síndrome de aspiração meconial e à asfixia perinatal. ▪ Hipoglicemia: os fetos com CIUR possuem estoques reduzidos de glicogênio, reduzida gliconeogênese, hiperinsulinismo e aumento do consumo tissular de glicose pela hipóxia crônica, todos fatores que predispõe à ocorrência de hipoglicemia no pós-parto. ▪ Policitemia – hiperviscosidade: a hipóxia prolongada leva ao aumento dos níveis de eritropoetina, que por sua vez estimula a proliferação do setor eritroide da medula óssea. ▪ Hipotermia: os neonatos com CIUR têm menor gordura subcutânea, fato que associado à hipoglicemia e à hipóxia predispõe à hipotermia. O CIUR pode ser classificado de acordo com a etiopatogenia em simétrico, assimétrico ou intermediário. TIPO I – SIMÉTRICO: o processo patológico atua sobre o feto desde o início da gravidez. Geralmente o agente agressor está intrinsecamente relacionado ao bebê, interferindo sobre ele desde a embriogênese. A multiplicação celular (hiperplasia) fica comprometida, resultando em um feto que cresce proporcionalmente pouco desde o início da gestação, com peso, comprimento e perímetro cefálico abaixo do percentil 10. As principais causas são as síndromes genéticas, malformações, infecções congênitas, radiação e drogas. O CIUR tipo simétrico responde por 10% a 20% dos casos e geralmente tem prognóstico ruim pela alta incidência de malformações associadas. Pediatria Thomás R. Campos TIPO II – ASSIMÉTRICO: aquele em que o processo de doença atua a partir do 3º trimestre de gravidez, na fase de aumento de volume celular (hipertrofia). Resulta em fetos que apresentam uma restrição desproporcionada do crescimento, com a cabeça e os membros relativamente poupados (acima do percentil 10) e tronco de tamanho comprometido (abaixo do percentil 10). As principais causas implicadas no desenvolvimento do CIUR assimétrico são as doenças que cursam com insuficiência placentária (ex.: cardiopatia, nefropatia, pneumopatia maternas, hipertensão, colagenoses, diabetes, tabagismo, cocaína) e, em menor grau, doenças intrínsecas fetais. É o tipo mais frequente de CIUR, sendo responsável por mais de 75% dos casos. Possui um prognóstico melhor que o tipo simétrico . Existe ainda um subtipo chamado Intermediário: é aquele em que o agente agressor age no 2º trimestre de gravidez, afetando tanto a fase de hiperplasia quanto de hipertrofia. Assim, produz- se um feto com tamanho desproporcionado, mas de modo menos marcante que no tipo II. Sua identificação clínica é bastante difícil. As principais causas são o álcool, tabagismo e determinados fármacos. O tipo intermediário corresponde a 10% de todos os casos.
Compartilhar