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Objetivos do curso 
 
 
 
Estrutura do curso 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 2 
 
 
 
 
 
 
“Os operadores diretos de segurança pública – policiais, bombeiros, guardas municipais, agentes 
penitenciários - são entes de tal importância para a manutenção de culturas democráticas de direito, agentes 
pedagógicos tão impactantes na consciência e também no inconsciente popular, que deles não se pode pedir 
que apenas “respeitem” os direitos humanos. Isso seria reduzir suas missões e diminuir seu sentido social a uma 
dimensão formalmente legalista e passiva. 
Cabe-lhes, muito além, co-protagonizar a promoção dos direitos humanos, cônscios de que são 
agentes proponentes de uma cultura moral (que em muito transcende – sem negar – a mera legalidade), 
balizadores imprescindíveis das condutas coletivas, contendores de desvios individuais e grupais que atacam os 
direitos e garantias do conjunto da sociedade e das pessoas dos cidadãos. (...) precisamos intensificar esforços 
no sentido da construção de uma cultura permanente de direitos humanos, justiça e paz. Não há forma de fazê-
lo a não ser através da educação.” 
 Ricardo Balestreri 
 
Este curso se destina a você, profissional de Segurança Pública, encarregado de aplicar a lei, abordando 
questões fundamentais sobre direitos humanos que devem ser de seu conhecimento, para servir e proteger a 
comunidade, conhecendo o alcance e o limite dos poderes conferidos pelo Estado, bem como os mecanismos 
que existem para sua supervisão, revisão e apuração, caso sejam violados. 
O contato com a temática de direitos humanos servirá para que você possa acercar-se do tema como 
agente do Estado. Para isso, é necessário que você esteja disposto a refletir acerca de seus próprios conceitos e 
valores, percebendo o conteúdo como um instrumento de amparo à sua atuação profissional e de 
aperfeiçoamento da relação entre o Estado e os cidadãos. 
É necessário também, que você, profissional de Segurança Pública, reflita sobre a real dimensão de sua 
profissão e sua missão numa sociedade democrática, reconhecendo-se como a primeira linha do Estado para o 
respeito e a proteção dos direitos humanos e dos direitos fundamentais das pessoas das comunidades onde 
atua. 
Dada a dinamicidade e atualização constante do tema, este curso foi pensado e estruturado para 
permitir que você se aprofunde nos estudos sobre ele, sem esgotá-lo. O curso não é a linha de chegada, mas o 
ponto de partida para os que se interessarem em buscar mais conhecimentos – tão indispensáveis ao exercício 
profissional na área de segurança pública. 
Você estudará os aportes jurídicos, filosóficos e conceituais referentes aos direitos humanos no âmbito 
do direito internacional e do direito brasileiro, relacionando-os com a atividade e a conduta esperada de 
profissional de segurança pública, numa democracia. Ações como a prevenção do crime, a investigação policial, 
a manutenção e a preservação da ordem pública ganham mais importância a cada momento, pois elas permitem 
 3 
que os direitos e obrigações de todas as pessoas possam ser usufruídos nos limites estabelecidos em normas e 
princípios de convivência humana. 
É importante que você saiba que a compatibilidade entre direitos humanos, eficiência policial e a 
compreensão e valorização das diferenças são princípios éticos da Matriz Curricular Nacional (MCN) com os 
quais este curso está alinhado. 
Bom Estudo! 
 
 
Objetivo do curso 
 
Ao final do curso, você será capaz de: 
 
 Identificar e compreender as fontes, conceitos e princípios do direito internacional, particularmente, 
aqueles relacionados aos direitos humanos, bem como sua relação e repercussão no direito interno; 
 Relacionar tais conceitos e princípios com a atividade do profissional de segurança pública; 
 Informar-se sobre a origem e o desenvolvimento histórico do Direito Internacional dos Direitos 
Humanos, as vertentes da proteção internacional da dignidade da pessoa humana, suas características e seus 
instrumentos de proteção em nível nacional e internacional; 
 Enumerar a conduta e as obrigações dos encarregados da aplicação da lei em caso de captura (prisão), 
relacionando-as com a atividade profissional de Segurança Pública; 
 Descrever a conduta correta para com as pessoas detidas, frente ao Direito Internacional dos Direitos 
Humanos (DIDH) e ao Direito Internacional Humanitário (DIH), relacionando-a com a atividade profissional de 
Segurança Pública; 
 Identificar as condições exatas para o uso da força e das armas de fogo, previstas no direito 
internacional, relacionando-as com a atividade profissional de segurança pública; e 
 Reconhecer as responsabilidades decorrentes das funções operacionais na atividade de segurança 
pública, bem como o papel e a importância dessa atividade na promoção e proteção dos direitos humanos. 
 
Estrutura do curso 
 
O conteúdo deste curso está dividido nos seguintes módulos: 
 
 Módulo 1 - Arcabouço jurídico 
 Módulo 2 - Premissas básicas na aplicação da lei 
 Módulo 3 - Responsabilidades básicas da atividade policial 
 Módulo 4 - Poderes básicos na aplicação da lei 
 Módulo 5- Comando, gestão e investigação de violações de direitos humanos. 
 
 
 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentação do módulo 
 
De acordo com Cançado Trindade (1991, p. 1) foi nas últimas décadas do século XX que o processo 
histórico de generalização e expansão da proteção internacional dos direitos humanos foi marcado pelo 
fenômeno da multiplicidade e diversidade dos mecanismos de proteção, acompanhadas pela identidade 
predominante de propósito destes últimos e pela unidade conceitual dos direitos humanos. 
Esses instrumentos de proteção, de natureza e efeitos jurídicos distintos, ao se multiplicarem ao longo 
dos anos, tiveram o propósito e acarretaram a consequência de ampliar o alcance da proteção a ser estendida 
às supostas vítimas. 
Neste módulo, você estudará os conceitos e principais fundamentos jurídicos do direito 
internacional, Direito Internacional Humanitário e Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
 
Objetivo do módulo 
 
Ao final deste módulo, você será capaz de: 
 
• Conceituar o direito internacional enumerando suas fontes e entender a responsabilidade dos 
Estados no âmbito internacional; 
• Conceituar o Direito Internacional Humanitário, identificar suas principais normas, entender seus 
princípios e explicar os âmbitos de sua aplicação; e 
• Conceituar o Direito Internacional dos Direitos Humanos, explicar suas características bem como 
sua relação com o trabalho policial e identificar os principais instrumentos e normas internacionais. 
 
Estrutura do Módulo 
 
Este módulo está dividido nas seguintes aulas: 
 
• Aula 1 – Direito Internacional: conceito, fontes e responsabilidade dos Estados; 
• Aula 2 – Direito Internacional Humanitário; e 
• Aula 3 – Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
 
MÓDULO 
1 
ARCABOUÇO JURÍDICO 
 5 
Aula 1 – Direito Internacional: conceito, fontes e responsabilidade 
dos Estados 
 
1.1 Conceito 
 
A evolução histórica da proteção dos direitos fundamentais da pessoa humana é conquista no 
sentido de limitar e controlar os abusos cometidos pelo Estado e de suas autoridades constituídas em favor 
da pessoa humana. 
É uma ideia bastante antiga e que nos dias de hoje se cristalizam em forma de tratados e instrumentos 
internacionais, e mesmo de legislação nacional. É nesse contexto que se tem feito uso do direito internacional 
de modo a aprimorar e fortalecer o grau de proteção dos direitos consagrados. 
A definição clássica de direito internacional -direito internacional público - consiste no corpo de 
regras que governam as relações entre os Estados, mas compreende também normas relacionadas ao 
funcionamento de instituições ou organizações internacionais, a relação entre elas e a relação delas com o 
Estado e os indivíduos. 
Regula muitos aspectos das relações internacionais e inclui regras sobre os direitos territoriais dos 
Estados (relativas a: terra, mar e espaço aéreo), proteção do meio ambiente, comércio internacional, uso da 
força pelos Estados, o Direito Internacional dos Direitos Humanos e o Direito Internacional Humanitário. 
Como ensina Moraes (2000, p. 35), a necessidade primordial de proteção e efetividade aos direitos 
humanos possibilitou em nível internacional, o surgimento de uma disciplina autônoma ao direito internacional 
público, denominada Direito Internacional dos Direitos Humanos, cuja finalidade precípua consiste na 
concretização da plena eficácia dos direitos humanos fundamentais, por meio de normas gerais tuteladoras 
de bens da vida primordiais (vida, dignidade, segurança, liberdade, honra, moral, entre outros) e previsão de 
instrumentos políticos e jurídicos de implementação dos mesmos. 
Sendo assim, é possível concluir que o Direito Internacional dos Direitos Humanos é um ramo do direito 
internacional público, criado para proteger a vida, a saúde, e a dignidade dos indivíduos, que você estudará 
e compreenderá no decorrer deste curso, bem como entenderá qual sua relação com a atividade policial. 
 
1.2 Fontes do direito internacional 
 
Melo (2002, p. 113) explica que as fontes do Direito Internacional se constituem dos modos pelos quais 
o Direito se manifesta, isto é, as maneiras pelas quais surge a norma jurídica. 
Atualmente, utiliza-se como referência de fonte do Direito Internacional o art. 38 do Estatuto da Corte 
Internacional de Justiça, estabelecida pela Carta das Nações Unidas como o principal órgão judiciário das 
Nações Unidas: 
 
 
 
 
 6 
Artigo 38 
 
A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem 
submetidas, aplicará: 
a. as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente 
reconhecidas pelos Estados litigantes; 
b. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito; 
c. os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; 
d. sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais 
qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito. 
A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex aequo et bono, 
se as partes com isto concordarem. 
 
Verifica-se que o costume e os tratados, para os funcionários encarregados da aplicação da lei são, 
sem dúvida, as fontes mais importantes. Apesar disso, é útil mencionar brevemente fontes subsidiárias de 
direito internacional, sem, contudo entrar em detalhes sobre estas: os princípios gerais do direito reconhecidos 
pelas nações civilizadas; as decisões judiciais de cortes e tribunais internacionais; os ensinamentos dos 
publicistas mais altamente qualificados das várias nações e as resoluções da Assembleia Geral da ONU. 
De acordo com Rover (2005), a importância legal das resoluções da Assembleia Geral da ONU é cada 
vez mais um assunto em debate. No que diz respeito ao funcionamento interno da ONU, essas resoluções 
possuem efeito jurídico pleno. A questão que permanece, no entanto, é até que ponto tais resoluções são 
legalmente obrigatórias aos Estados Membros, principalmente àqueles que votaram contra as mesmas. 
Os critérios importantes para se determinar a obrigatoriedade subsistem no grau de objetividade que 
cerca a adoção das resoluções e, ainda mais importante, até que ponto uma resolução pode ser considerada 
a expressão da consciência legal da humanidade como um todo. Este último aspecto é ainda mais 
importante do que a maioria dos Estados simplesmente adotar a resolução. As resoluções emanadas da 
Assembleia Geral estão recebendo um apoio cada vez maior por parte de escritores e publicistas como um meio 
subsidiário para se determinar estados de direito. 
 
1.3 Responsabilidade dos Estados 
 
Uma vez que um Estado assume obrigações no âmbito da comunidade internacional, por exemplo, 
assinando e ratificando tratados, convenções e protocolos, muitas vezes isso significa que concordou em 
cumprir suas obrigações de maneira específica (assegurando que seu governo, sua constituição e suas leis o 
possibilite a cumprir suas obrigações internacionais). 
Frequentemente é esse o caso na área dos direitos humanos, onde os Estados assumiram a 
responsabilidade de fazer com que certas condutas, como por exemplo a tortura e o genocídio, sejam 
consideradas crimes, e de puni-las por meio de seus sistemas jurídicos nacionais. 
 7 
 
Um Estado não pode alegar disposições em sua Constituição ou legislação nacional como escusa para 
furtar-se a cumprir suas obrigações perante o direito internacional. 
 
Em direito internacional, a responsabilidade surge a partir da violação de qualquer obrigação devida 
às normas internacionais ratificadas. Assim, todo ato ilícito internacional por parte de um Estado resulta na 
responsabilidade internacional daquele Estado. Este é tido como real quando: 
- a conduta resultante de uma ação ou omissão é atribuível (imputável) ao Estado perante o direito 
internacional; e 
- a conduta resulta na violação de uma obrigação internacional daquele Estado. 
 
A responsabilidade existe nos casos onde o próprio Estado - por intermédio dos poderes Legislativo, 
Executivo ou Judiciário, suas normas ou atos de qualquer outra autoridade - é o perpetrador e em situações 
onde a conduta de uma pessoa ou órgão pode ser imputada a esse Estado. O Estado não é responsável perante 
o direito internacional pela conduta de uma pessoa ou grupo de pessoas que não agem em seu nome. 
A responsabilidade existe nos casos onde o próprio Estado - por intermédio dos poderes Legislativo, 
Executivo ou Judiciário, suas normas ou atos de qualquer outra autoridade - é o perpetrador e em situações 
onde a conduta de uma pessoa ou órgão pode ser imputada a esse Estado. O Estado não é responsável perante 
o direito internacional pela conduta de uma pessoa ou grupo de pessoas que não agem em seu nome. 
 
É um princípio do direito internacional que qualquer inobservância ou violação de um compromisso 
resulta na obrigação de fazer uma reparação. 
 
A reparação deve, tanto quanto possível, eliminar todas as consequências do ato ilegal, e restaurar a 
situação que teria existido, com toda a probabilidade, não fosse o ato cometido. 
 
 
Aula 2 – Direito Internacional Humanitário (DIH) 
 
2.1 Definição 
 
O Direito Internacional Humanitário (DIH) é parte importante do Direito Internacional Público e 
também é conhecido pelo nome de Direito dos Conflitos Armados ou Direito da Guerra. É o conjunto de 
normas cuja finalidade, em tempo de conflito armado, é por um lado, proteger as pessoas que não participam, 
ou que deixaram de participar nas hostilidades, e por outro, limitar os meios e métodos de fazer a guerra. 
Existe um conflito armado quando elementos de Forças Armadas adversárias empreendem 
intencionalmente operações militares contra as Forças Armadas do Estado, ou quando são atacados 
intencionalmente objetivos no território ou em águas territoriais de outro Estado. 
 
 8 
O DIH se aplica nas seguintes situações: 
- Em um conflito armado internacional: conflito armado entre Estados (inclusive se não houver sido 
declarada guerra formalmente, ou mesmose não há atividades militares); 
- Quando a totalidade do território de um Estado ou parte desse tenha sido ocupado (inclusive se não 
tiver havido resistência armada a essa ocupação); 
- Quando povos lutam contra a dominação colonial, contra ocupação estrangeira ou contra regimes 
racistas, no exercício de seu direito à livre determinação; 
- Em um conflito armado não internacional: conflito armado que se desenvolve dentro do território de 
um Estado, e se as forças armadas de outro Estado não participam das operações militares. 
 
O DIH não se aplica às situações de violência menor, tais como supressão de motins, reuniões 
violentas, passeatas, manifestações violentas, desordens e atos isolados de violência análogos. Esses podem ser 
caracterizados como distúrbios ou tensões internas. Nesses casos se aplicará a legislação nacional do país em 
questão. 
 
Por que o policial deve conhecer o Direito Internacional Humanitário na Aplicação da Lei? 
 
De acordo com ROVER (2005, p. 149) as situações de conflito armado não eclodem 
espontaneamente. São um produto da deterioração do estado da lei e da ordem em um país, pelos quais as 
organizações de aplicação da lei possuem uma responsabilidade direta. 
Pela verdadeira natureza de seus deveres, o envolvimento prático dos encarregados da aplicação da lei 
em casos de manifestações de violência, distúrbios e tensões, que podem escalar em direção à guerra civil, 
requer deles que sejam cuidadosos – e capazes – de integrar os princípios de direito internacional humanitário 
e direitos humanos em suas operações e treinamento. 
Por essa razão, para o correto desempenho de sua atividade, certo nível de conhecimento do direito 
internacional humanitário é indispensável aos encarregados da aplicação da lei. 
 
 
2.2 Princípios básicos do DIH 
 
São princípios básicos do Direito Humanitário: 
 
 Trato Humano e não discriminação: toda pessoa deve ser tratada com humanidade e sem 
discriminação (sexo, nacionalidade, raça, crença religiosa ou política). Ex: os que estão fora de combate 
(combatentes que se renderam, feridos, enfermos, náufragos, prisioneiros de guerra), detidos, pessoas civis, 
pessoal sanitário e religioso. 
 Necessidade Militar: toda atividade de combate deve justificar-se por motivos militares; estão 
proibidas as atividades que não sejam militarmente necessárias. São aquelas não proibidas pelo Direito 
 9 
Humanitário e necessárias para derrotar o inimigo. Deve ser analisada juntamente com os princípios de 
distinção e proporcionalidade. 
 Limitação: as armas e os métodos de guerra que podem ser utilizados são limitados. Estão 
proibidas as armas que causem sofrimentos desnecessários ou danos supérfluos. Ex: estão proibidas aquelas 
que causem ferimentos de impossível tratamento ou que causem morte lenta e cruel. 
 Distinção: deve-se distinguir entre combatentes e não combatentes. Deve-se também distinguir 
entre objetivos militares (que podem ser atacados) e bens de caráter civil (que não podem ser atacados). 
 Proporcionalidade: quando são atacados objetivos militares, as pessoas civis e os bens de 
caráter civil devem ser preservados o melhor possível de danos colaterais. Não devem ser excessivos os danos 
colaterais com respeito à vantagem militar direta e concreta esperada de qualquer ataque contra um objetivo 
militar. 
 Boa fé: deve prevalecer a boa fé nas negociações entre as partes beligerantes. 
 
Essência do direito de guerra 
A essência do direito da guerra abrange: 
 
 atacar somente alvos militares; 
 poupar pessoas e objetos sujeitos à proteção que não contribuam com o esforço militar; 
 não usar mais força do que o necessário para cumprir sua missão militar. 
 
 
2.3 Divisão do DIH 
 
O DIH está dividido em: 
 o Direito de Genebra, e 
 o Direito de Haia. 
 
Estude sobre cada uma delas a seguir. 
 
2.3.1 O Direito de Genebra 
 
O Direito de Genebra trata da proteção das vítimas de guerra, sejam elas militares ou civis, na água 
ou em terra. Protege todas as pessoas fora de combate, isto é, que não participam ou não estão mais 
participando nas hostilidades: os feridos, os doentes, os náufragos e os prisioneiros de guerra. As quatro 
Convenções de Genebra de 12 de Agosto de 1949 constituem o conjunto dessas normas de proteção. 
 
O Brasil ratificou as quatro Convenções em 29 de junho de 1957. 
A Primeira Convenção de Genebra visa melhorar a situação dos feridos e doentes das Forças Armadas 
em campanha. 
 
 10 
A Segunda Convenção de Genebra visa melhorar a situação dos feridos, doentes e náufragos das 
Forças Armadas no mar. 
A Terceira Convenção de Genebra é relativa ao tratamento dos prisioneiros de guerra. 
A Quarta Convenção de Genebra protege a população civil em tempo de guerra. 
 
 
Importante! 
 
O Artigo 3º - comum a todas as quatro Convenções de 1949 - , tem sido chamado de uma «mini-
convenção» por direito próprio, pois contém regras que são aplicáveis não só a conflitos 
internacionais, mas também a conflitos internos. 
Essas regras são hoje consideradas como sendo regras do direito internacional consuetudinário, isto é, 
uma coisa à qual os beligerantes estão obrigados, independentemente das obrigações que eles possam 
ter em relação a tratados. Elas representam um mínimo que tem de ser observado em todas as 
circunstâncias 
 
 
As convenções foram ampliadas e suplementadas pela adoção de dois Protocolos Adicionais de 10 de 
junho de 1977. O Brasil ratificou os dois Protocolos Adicionais em 05 de maio de 1992. Um terceiro Protocolo 
Adicional foi aprovado no ano de 2005. 
 
O Protocolo Adicional I trata também dos conflitos armados internacionais, incluindo guerras de 
libertação nacional, e destina-se particularmente a assegurar a proteção de civis contra os efeitos das 
hostilidades. 
O Protocolo Adicional II às Convenções de Genebra pode ser considerado como um desenvolvimento 
do Artigo 3. Ele contém regras mais detalhadas, aplicáveis no caso de um conflito armado interno. 
O Protocolo Adicional III complementa as Convenções de Genebra ao permitir o uso de um emblema 
distintivo adicional, conhecido como o cristal vermelho, podendo ser aplicado nas mesmas condições e 
situações da cruz vermelha e o crescente vermelho, emblemas reconhecidos desde o século XIX. 
 
 
2.3.2 O Direito de Haia 
 
O direito de Haia preocupa-se mais com a regulamentação dos métodos e meios de combate, e 
concentra-se na condução das operações militares. O direito de Haia é, portanto, de interesse fundamental ao 
comandante militar em terra, mar e ar. 
São exemplos atuais do direito de Haia, e suas ratificações pelo Brasil: 
 
 11 
 Convenção sobre a proibição do desenvolvimento, produção, e destruição de armas biológicas e 
tóxicas (1972) – Brasil: 27 de fevereiro de 1973. 
 Convenção sobre proibições e restrições do emprego de certas armas convencionais que causam 
danos excessivos (1980) – Brasil: 03 de outubro de 1995. 
 Convenção sobre a proibição do emprego, armazenamento, produção e transferência de minas 
antipessoal e sua destruição (Tratado de Ottawa – 1997) – Brasil: 30 de abril de 1999. 
 
2.4 Aplicação do DIH 
 
Observe que a aplicação do DIH em tempo de conflito armado é necessária pois: 
 
- Obriga juridicamente aos Estados e aos indivíduos nos Estados; 
- As graves violações do DIH são consideradas crimes de guerra que podem ser julgados perante 
tribunais, nacionais ou internacionais; 
- Sua aplicação: 
• Ressalta o profissionalismo dos integrantes das Forças Armadas; 
• Reforça a moral e a disciplina; 
• Tem o apoio da população civil; 
• Permite a reciprocidade, principalmente com relaçãoa feridos, doentes e prisioneiros de guerra; 
• Melhorará as chances de uma paz sem ressentimentos; 
• Logra concentrar o esforço militar somente na derrota das Forças Armadas inimigas; e, 
• É uma escolha política sensata. 
 
Saiba Mais 
 
Você quer conhecer mais sobre o Direito Internacional Humanitário? 
Acesse o site do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. 
 
 
Aula 3 - Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) 
 
 
3.1 Contexto e Definição 
 
De acordo com Rover (2005, p. 72) um direito é um título. É uma reivindicação que uma pessoa pode 
fazer para com outra de maneira que, ao exercitar esse direito, não impeça que outrem possa exercitar o seu. 
Assim sendo, os Direitos Humanos são títulos legais que toda pessoa possui como ser humano. São 
universais e pertencem a todos, ricos ou pobres, homens ou mulheres. 
 
 12 
Atualmente os direitos humanos são direitos legais - isso significa que fazem parte da legislação. 
Estão tanto nos instrumentos internacionais como também são protegidos pelas constituições e legislações 
nacionais da maioria dos países do mundo. 
Os princípios fundamentais que constituem a legislação moderna dos direitos humanos têm existido 
ao longo da história. No entanto, foi somente no século XX que a comunidade internacional se tornou 
consciente da necessidade de desenvolver padrões mínimos para o tratamento de cidadãos pelos governos. 
Conforme ensina Moraes (2000, p. 36) a evolução histórica da proteção dos direitos humanos 
fundamentais em diplomas internacionais é relativamente recente, iniciando-se com importantes declarações 
sem caráter vinculativo, para posteriormente assumirem a forma de tratados internacionais, no intuito de 
obrigarem os países signatários ao cumprimento de suas normas. 
Veja parte do Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada pela 
Organização das Nações Unidas, em 1948: 
 
(...) reconhecimento da dignidade inerente e ... direitos iguais e 
inalienáveis a todos os membros da família humana constituem 
o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo ... o 
desconhecimento e o desprezo dos direitos humanos 
conduziram a atos de barbárie ... é essencial a proteção dos 
direitos do homem através de um estado de direito, para que o 
homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta 
contra a tirania e a opressão (...) 
 
Torna-se necessário contextualizar os direitos humanos para que se possa explicar o papel que os 
encarregados da aplicação da lei devem desempenhar para promover e proteger os direitos humanos. 
Os funcionários encarregados da aplicação da lei devem ser incentivados a compreender como o 
direito internacional dos direitos humanos afeta o desempenho individual de seu serviço. Isso, por sua 
vez, requer explicações adicionais sobre as consequências das obrigações de um Estado perante o direito 
internacional para a lei e prática nacionais. 
O direito conhecido por Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) consiste num conjunto 
de princípios e regras, com base nas quais os indivíduos ou grupos de indivíduos podem esperar certa qualidade 
minimamente desejável de comportamento da parte das autoridades, somente em virtude de serem seres 
humanos. 
 
A Carta Internacional dos Direitos Humanos é o termo utilizado como uma referência coletiva a três 
instrumentos importantes dos Direitos do Homem, a saber: 
 
 Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) (disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D19841.htm) - assinada pelo Brasil em 10 de 
dezembro de 1948; 
 
 13 
 Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP) (disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm) – ratificado pelo Brasil em 24 de janeiro 
de 1992; 
 
 Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) (disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0591.htm) - ratificado pelo Brasil em 24 de abril de 
1992; 
Saiba mais sobre conceitos de Ratificação no endereço: http://dai-
mre.serpro.gov.br/apresentacao/tramitacao-dos-atos-internacionais/. 
 
Os seguintes tratados sobre Direitos do Homem são também importantes: 
 
 Convenção sobre a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (disponível em 
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/1950-1959/decretolegislativo-2-11-abril-1951-351286-
publicacaooriginal-124286-pl.html) – ratificada pelo Brasil em 06 de maio de 1952; 
 
 Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial 
(disponível em http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=94836) – ratificada pelo Brasil 
em 27 de março de 1968; 
 
 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres 
(disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4377.htm) – ratificada pelo Brasil em 01 de 
fevereiro de 1984; 
 
 Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, (disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0040.htm) – ratificada pelo Brasil em 28 de setembro 
de 1989; 
 
 Convenção sobre os Direitos da Criança (disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D99710.htm) – ratificada pelo Brasil em 24 de 
setembro de 1990; 
 
 Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (disponível em 
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-50215-28-janeiro-1961-389887-
publicacaooriginal-1-pe.html ) – ratificada pelo Brasil em 15 de novembro de 1960; 
 
 Protocolo Facultativo ao Estatuto dos Refugiados (disponível em 
http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=96932&norma=121310) - aderido pelo Brasil 
em 07 de abril de 1992. 
 
 14 
 
 
Vários corpos estabelecidos sob os auspícios da Carta das Nações Unidas ou dos principais tratados 
internacionais sobre Direitos Humanos constituem no seu conjunto um sistema internacional de supervisão 
dos Direitos Humanos. 
Os funcionários encarregados de aplicar as leis devem estar familiarizados com os relevantes sistemas 
de tratados regionais sobre Direitos Humanos, a saber: 
 
 A Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (disponível em http://www.gddc.pt/direitos-
humanos/textos-internacionais-dh/tidhregionais/carta-africa.html); 
 
 A Convenção Americana dos Direitos Humanos (disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm) - aderida pelo Brasil em 25 de setembro de 1992; 
 
 A Convenção Europeia sobre a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais 
(disponível em http://www.echr.coe.int/Documents/Convention_POR.pdf) 
 
 
Saiba mais 
 
Para aprofundar seus estudos, você pode acessar esses e outros instrumentos internacionais nas 
páginas eletrônicas dos seguintes órgãos internacionais e nacionais: ONU, ACNUR e MRE 
 
 
 
Finalizando... 
 
Neste módulo do curso, você estudou: 
 
• O Direito Internacional, o Direito Internacional Humanitário (DIH) e o Direito Internacional dos 
Direitos Humanos (DIDH). Os estudos desse conteúdo possibilitaram a compreensão da relação existente, e não 
excludente, entre Direitos Humanos e as atividades realizadas para os profissionais da área de segurança pública. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 15 
 
 
 
Exercícios 
 
1. Quanto à responsabilidade dos Estados no âmbito internacional, ela surge em decorrência 
de que fatores? 
a. Pressão dos outros Estados pela imposição de condutas de acordo com os interesses dos países 
colonialistas.b. Pela assinatura, ratificação de tratados, convenções e outros textos internacionais de caráter 
vinculante, demonstrando sua vontade de cumprir as obrigações assumidas. 
c. Devido às declarações à imprensa pelos Ministros de Estado em questões controversas da atividade 
de relações internacionais. 
d. Pela declaração do Chefe de Estado e Chefe de governo de que a constituição do país é soberana e 
por isso mesmo não são necessários, acordos, convenções, tratados e protocolos internacionais. 
 
2. Considerando as quatro Convenções de Genebra de 12 de agosto de 1949, relacione a segunda 
coluna de acordo com a primeira: 
(1) Primeira Convenção de Genebra 
(2) Segunda Convenção de Genebra 
(3) Terceira Convenção de Genebra 
(4) Quarta Convenção de Genebra 
 
( ) Relativa ao tratamento dos Prisioneiros de Guerra. 
( ) Melhorar a situação dos feridos e doentes das forças armadas em campanha. 
( ) Relativa ao tratamento da população civil em tempo de guerra. 
( ) Melhorar a situação dos doentes, feridos e náufragos das forças armadas no mar. 
 
3. Relacione a primeira coluna, referente aos artigos da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos com as afirmações expostas na segunda coluna: 
(1) Artigo 1º 
(2) Artigo 3º 
(3) Artigo 5º 
(4) Artigo 29 
 
( ) Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de 
sua personalidade é possível. 
( ) Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. 
( ) Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. 
 
 16 
( ) Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e 
consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. 
 
 17 
Gabarito 
 
1. Resposta Correta: Letra B 
2. Resposta Correta: 3-1-4-2 
3. Resposta Correta: 4-3-2-1 
 
 
 
 18 
 
 
 
 
 
 
Apresentação do módulo 
 
Olá, seja bem-vindo(a) ao segundo módulo deste curso. No módulo 1 você estudou os conceitos e os 
principais fundamentos jurídicos relacionados aos direitos humanos. 
Neste módulo você estudará o contexto do Estado Democrático de Direito e a conduta legal, moral e 
ética esperada do profissional de Segurança Pública. 
 
Objetivo do módulo 
 
Ao final deste módulo, você será capaz de: 
 
 Compreender o significado de “Estado de direito”; 
 Apontar as funções e os deveres dos encarregados da aplicação da lei; 
 Compreender a importância do código de conduta para os encarregados pela aplicação da lei; e 
 Compreender a importância de adotar padrões de policiamento que sejam condizentes com a 
ordem democrática, bem como com a promoção e proteção dos direitos humanos. 
 
 
Estrutura do Módulo 
 
O conteúdo deste módulo está dividido nas seguintes aulas: 
 
 Aula 1 – Aplicação da lei nos Estados democráticos; e 
 Aula 2 – Conduta ética e legal da aplicação da lei. 
 
 
 
 
 
MÓDULO 
2 
PREMISSAS BÁSICAS NA APLICAÇÃO DA LEI 
 19 
Aula 1 – Aplicação da lei nos Estados democráticos 
 
1.1 Democracia e Estado de Direito 
O termo “democracia” tem muitos significados e existem várias formas de governos democráticos. 
 De acordo com Rover (1998, p. 142) é difícil chegar a uma definição satisfatória de "democracia". A 
tentativa de definir democracia, provavelmente, levará ao estabelecimento de características de um regime 
democrático que possam ser consideradas denominadores comuns, independentemente do sistema vigente 
em determinado Estado. 
 
Tais características incluem: 
• um governo democraticamente eleito que represente o povo - e seja responsável perante ele; 
• a existência do estado de direito - e o respeito por ele; e 
• o respeito pelos direitos humanos e liberdades. 
 
O Instituto Interamericano de Direitos Humanos (IIDH) estabelece que o Estado de Direito é um sistema 
jurídico-político, no qual o poder é subordinado ao direito (leis), e que existe amplo respeito aos direitos 
humanos de todas as pessoas. Cita as seguintes características de um Estado de Direito: 
• o império da lei para governantes e governados; 
• o controle judicial dos atos de governo; 
• o respeito absoluto pela liberdade de todas as pessoas na jurisdição do Estado; 
• a eleição dos governantes pelo voto popular; 
• a divisão de poderes; 
• a responsabilidade dos governantes; 
• o pluralismo político. 
 
Importante! 
O Estado de Direito e a democracia são pilares fundamentais da vigência dos direitos humanos, 
tornando esses dois conceitos indissolúveis e interdependentes. 
 
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 1°, estabelece que o Estado 
Brasileiro constitui-se em Estado Democrático de Direito, tendo como fundamentos: 
I. a soberania; 
II. a cidadania; 
III. a dignidade da pessoa humana; 
IV. os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V. o pluralismo político. 
 
Acrescenta, ainda, em seu Parágrafo único que: 
 
 20 
“Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou 
diretamente, nos termos desta Constituição”. 
 
Da mesma forma, o artigo 21 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), estipula que: “A 
vontade do povo é o fundamento da autoridade do governo”, e complementa: 
“(...); esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto 
secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.” 
“1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio 
de representantes livremente escolhidos. 
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.” 
 
A existência do estado de direito e o respeito por ele origina uma situação onde os direitos, liberdades, 
obrigações e deveres estão incorporados na lei para todos, em plena igualdade, e com a garantia de que as 
pessoas serão tratadas equitativamente em circunstâncias similares (ROVER 1998, p. 143) 
Esse aspecto fundamental pode ser encontrado no artigo 26 do Pacto Internacional dos Direitos Civis 
e Políticos, que estipula que Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem discriminação, à 
igual proteção da lei ..., bem como no caput do artigo 5º de nossa Constituição Federal: 
 
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, 
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes. (Grifo nosso) 
 
Você pode perceber que esses ideais são interdependentes e fundamentais para que os direitos 
humanos sejam melhor protegidos pelo processo democrático e pela aplicação da lei. 
 
PARA REFLETIR... 
Democracia e direitos humanos caminham juntos. “Não há democracia sem direitos humanos e não há 
direitos humanos sem democracia” (PIOVESAN, 2003). 
 
 
1.2 Aplicação da lei 
 
Ao Estado incumbe promover o bem comum, sendo essencial, para isso, a ordem pública, que se dá 
por meio dos seus aspectos de salubridade, tranquilidade e segurança. Este último aspecto objetiva a não 
ocorrência de delitos. 
Para a manutenção dessa situação antidelitual, o Estado confere investidura pública aos órgãos 
encarregados de aplicar a lei e a seus agentes, para agir em seu nome. 
 21 
 
A principal missão dos órgãos encarregados de aplicar a lei é para servir à comunidade, protegendo as 
pessoas contra atos ilegais, sendo suas responsabilidades básicas: 
 prevenir e detectar o crime; 
 manter a ordem pública e a segurança;e 
 proporcionar assistência a pessoas em situações de emergência. 
 
Essas funções integradas devem garantir a segurança das pessoas que vivem no território do Estado. 
O processo de fazer cumprir as leis é levado a cabo pelos funcionários encarregados pela aplicação da 
lei (FEAL), que podem ser agentes da polícia, gendarmeria, guarda municipal ou outras denominações 
equivalentes. No entanto, em situações específicas, as forças militares também podem ser chamadas para 
cumprir com tais obrigações. 
Como ensina Osse (2007, pg. 49), para garantir a segurança, os FEAL - que para fins deste curso são 
agentes de segurança pública - podem legitimamente restringir os direitos dos indivíduos, o que é chamado 
de obrigações negativas; mas os agentes de segurança pública também têm a obrigação positiva de contribuir 
com um ambiente no qual as pessoas se sentem livres e seguras. Para cumprir essa missão, são outorgados aos 
agentes de segurança pública os seguintes poderes básicos: de prisão, de detenção, de uso da força e armas de 
fogo. 
No entanto, esses poderes não são ilimitados. No cumprimento da sua missão, agentes de segurança 
pública devem agir de acordo com os parâmetros da lei do Estado, que deve ser coerente com as normas 
internacionais estabelecidas em instrumentos internacionais de direitos humanos. 
Conforme Vianna (2001, pg.16), os poderes de prisão, de detenção, de uso de força e armas de fogo 
são meios poderosos na missão de aplicação da lei. Paradoxalmente esses poderes também podem acarretar 
grandes riscos, uma vez que seu uso indevido pelos agentes de segurança pública pode violar os direitos que 
devem manter e defender. 
Infelizmente, muitas vezes ocorre o uso indevido desses poderes em todo o mundo. Como as práticas 
ilegais ou inaceitáveis de aplicação da lei, pode-se citar: prisão ou detenção arbitrária ou ilícita, manipulação de 
provas, uso excessivo da força e maus-tratos e tortura de pessoas detidas. 
Independentemente do nível que ocupam na estrutura de suas instituições, os FEAL devem assumir a 
responsabilidade pela sua ala, ações e entender que são pessoalmente responsáveis por elas. Os FEAL com 
responsabilidade, comando e gestão – tema que será abordado adiante – podem realizar mudanças estruturais, 
como mecanismos de controle e vigilância, e têm a responsabilidade adicional de evitar que outros funcionários 
violem os direitos humanos. 
Nos estados democráticos de direito, os organismos encarregados de aplicação da lei devem agir em 
conformidade com o marco legal, de forma ética e render contas à sociedade que servem. 
 
 
 
 22 
Aula 2 – Conduta ética e legal da aplicação da lei 
 
Nesta aula, você aprenderá a conduta ética e legal que deverá adotar para bem cumprir seu papel de 
profissional encarregado de aplicar a lei. 
 
2.1 Funcionários encarregados de aplicar a lei (FEAL) 
O ambiente social global está em constante mutação e exige cada vez mais dos Estados, de suas 
Instituições e de seus funcionários. As pessoas não esperam apenas que o Estado disponibilize os melhores 
serviços, mas espera também que a conduta de suas Instituições e seus funcionários seja ética e responsável. 
Não basta fazer as coisas bem, é fundamental fazê-las da forma correta. A forma como os Funcionários 
efetuam o seu trabalho é tão importante como o trabalho em si. É fundamental que sua conduta seja íntegra e 
em conformidade com as leis e os regulamentos que regem as suas atividades. 
Na atividade dos órgãos encarregados de aplicar a lei, esta questão deve ser tratada com especial 
distinção, pois seus Funcionários Encarregados de Aplicar a Lei (FEAL) possuem a faculdade legal para privar 
uma pessoa de liberdade, a exclusividade no uso da força e, em casos extremos, de emprego de arma de fogo 
contra um cidadão. 
O emprego desses poderes deve ajustar-se aos princípios de legalidade, necessidade e 
proporcionalidade. Porém, esses três conceitos podem ser interpretados subjetivamente, por exemplo: 
• No caso da legalidade, não é só importante o cumprimento estrito da lei, mas também saber seu 
espírito, cabendo ao FEAL aplicar o poder discricionário. 
• Na hipótese de recorrer à força, o grau a ser empregado (proporcionalidade) em uma 
determinada situação depende de uma avaliação subjetiva dessa necessidade (outras opções disponíveis). 
 
Essa avaliação subjetiva, por sua vez, não pode depender somente de uma noção pessoal de ética, mas 
sim de uma ética profissional. Quando se busca um médico ou um advogado, está se manifestando confiança 
nessa pessoa. O mesmo acontece quando os cidadãos necessitam da ajuda de um FEAL. Esperam entre outras 
coisas, que se guarde a confidencialidade da informação e proteção. 
Para auxiliar nessa tarefa é que existem códigos, princípios, guias e manuais que orientam a conduta 
desses profissionais. Alguns deles você estudará a seguir. 
 
 
2.2 Código de Conduta das Nações Unidas para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da 
Lei 
 
Este instrumento, o Código de Conduta das Nações Unidas para os Funcionários Responsáveis pela 
Aplicação da Lei, foi adotado por intermédio da resolução 34/169, de 17 de dezembro de 1979, da Assembleia 
Geral das Nações Unidas. 
 23 
Por meio dessa resolução, o Código de Conduta foi transmitido aos Governos com a recomendação de 
que, uma consideração favorável fosse dada no que se refere à sua utilização dentro da estrutura da legislação 
ou prática nacional, como um conjunto de princípios a serem observados pelos Funcionários Responsáveis pela 
Aplicação da Lei. Não é um tratado, mas pertence à categoria dos instrumentos que proporcionam normas 
orientadoras aos Governos sobre questões relacionadas com direitos humanos e justiça criminal. 
É importante notar que, como foi reconhecido por aqueles que elaboraram o código, esses padrões de 
conduta deixam de ter valor prático, a não ser que o seu conteúdo e significado - através de educação, 
treinamento e acompanhamento - passem a fazer parte da crença de cada indivíduo encarregado da aplicação 
da lei. 
O Código consiste em oito artigos, acompanhados por seus respectivos comentários explicativos. 
O artigo 1o estipula que “os encarregados da aplicação da lei devem sempre cumprir o dever que 
a lei lhes impõe (...)” 
Nos parágrafos a. e b. dos comentários do Artigo 1, a seguinte definição é fornecida: 
a. O termo ‘Funcionários Encarregados pela Aplicação da Lei’ inclui todas as autoridades legais, tanto 
nomeadas quanto eleitas, que exercem poderes policiais, especialmente poderes de prisão e de detenção. 
b. Nos países onde os poderes policiais são exercidos por autoridades militares, quer estejam 
uniformizadas ou quer não, ou por forças de segurança do Estado, a definição de Funcionários Encarregados 
pela Aplicação da Lei deve ser considerada incluindo as autoridades desses tais serviços. 
 
O Artigo 2o requer que os encarregados da aplicação da lei, no cumprimento do dever, respeitem e 
protejam a dignidade humana, mantenham e defendam os direitos humanos de todas as pessoas. 
O Artigo 3º fornece normas relacionadas ao uso da força, nos seguintes termos: 
Os Funcionários Encarregados pela Aplicação da Lei podem fazer uso da força quando estritamente 
necessário e até a extensão requerida para o cumprimento de seu dever. 
 
O Parágrafo a. dos Comentários ao artigo estabelece que o uso da força policial deveria ser excepcional, 
e que, enquanto a polícia faz uso de uma tal força dentro do razoavelmente necessário para a prevenção do 
crime ou para a realização ou para a assistência à detenção legítima de delinquentes ou de cidadãos suspeitos, 
nenhuma outra força além dessa pode ser usada. 
O Parágrafo b. destaca que a lei nacional normalmenterestringe o uso da força policial de acordo com 
o princípio da proporcionalidade, e afirma que deve ser entendido que tais princípios nacionais de 
proporcionalidade devem ser respeitados na interpretação daquele artigo. 
O parágrafo c. dá ênfase ao uso de armas de fogo, o qual é considerado como sendo uma medida 
extrema e que qualquer esforço deveria ser feito para proibir seu uso, especialmente contra crianças. Ele 
estabelece que, em geral, as armas de fogo não deveriam ser usadas, a não ser quando um cidadão suspeito 
oferece uma resistência armada ou, ainda, coloca em risco a vida de outras pessoas, e que medidas menos 
extremas não são suficientes para detê-lo ou apreendê-lo. O mesmo parágrafo obriga à rápida apresentação de 
um relatório às autoridades competentes cada vez que uma arma de fogo é utilizada pela polícia. 
 
 24 
As normas sobre o uso da força pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei, incorporadas no 
artigo e nos comentários, reiteram a importância dos princípios de proporcionalidade (a força sendo usada 
somente até a necessária extensão) e da necessidade (a força sendo usada somente quando é estritamente 
necessária). 
O primeiro parágrafo dos comentários do artigo põe em evidência as razões para as quais o uso da 
força é considerado necessário – na prevenção do crime e no exercício dos poderes legais de apreensão; porém, 
o termo “razoavelmente necessário”, utilizado no parágrafo, parece abrandar um pouco o termo “estritamente 
necessário”, utilizado no próprio Artigo (e, da mesma maneira, o termo “absolutamente necessário”, utilizado 
no artigo 2.2 da Convenção Europeia sobre os Direitos Humanos). A diferença é provavelmente atribuída à falta 
de cuidado na redação do instrumento legal, pois é claro que a norma se apoia na noção de “estrita” ou 
“absoluta” necessidade. 
O terceiro parágrafo dos Comentários exclui a utilização das armas de fogo por qualquer outra razão 
que não seja a legítima defesa. O significado da exigência, como expressa naquele parágrafo, pela qual um 
relatório deve ser apresentado quando uma arma de fogo é disparada por um policial, é parte do processo para 
assegurar uma responsabilidade efetiva da polícia para com seus atos. Não se trata de uma mera formalidade. 
É de fato um elemento importante na investigação obrigatória que segue uma morte causada por uma 
autoridade policial, e pode agir como uma dissuasão contra o uso ilegítimo de armas de fogo pela polícia. 
Como se verifica, o poder do uso da força e emprego de armas de fogo pelos FEAL têm implicações de 
grande alcance e profundidade e, por essa razão, foi elaborado um instrumento internacional específico que 
estabelece princípios para seu emprego. Este documento, denominado Princípios Básicos sobre o Uso da 
Força e Armas de Fogo foi adotado pelo Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e 
o Tratamento de Infratores em 07 de setembro de 1990. 
O artigo 4o estipula que os assuntos de natureza confidencial em poder dos encarregados da aplicação 
da lei devem ser mantidos confidenciais, a não ser que o cumprimento do dever ou a necessidade de justiça 
exijam estritamente o contrário. 
Em relação a esse artigo, é importante reconhecer o fato de que, devido à natureza das suas funções, 
os encarregados da aplicação da lei se veem em uma posição na qual podem obter informações relacionadas à 
vida particular de outras pessoas, que podem ser prejudiciais aos interesses ou reputação dessas. A divulgação 
dessas informações só pode ser feita com o fim de suprir as necessidades da justiça ou o cumprimento do dever. 
Fora disso, é imprópria, e os encarregados da aplicação da lei devem abster-se de fazê-lo. 
O artigo 5o reitera a proibição da tortura ou outro tratamento ou pena cruel, desumano ou degradante. 
O artigo 6o diz respeito ao dever que os encarregados da aplicação da lei têm de cuidar e proteger a 
saúde das pessoas privadas da sua liberdade, que estão sob sua tutela. 
O artigo 7o proíbe os encarregados da aplicação da lei de cometer qualquer ato de corrupção, Também 
devem opor-se e combater rigorosamente esses atos. 
O artigo 8o trata da disposição final exortando os encarregados da aplicação da lei a respeitar a lei e a 
este Código. Os encarregados da aplicação da lei são incitados a prevenir e se opor a quaisquer violações da lei 
e do código. Em casos onde a violação do código é (ou está para ser) cometida, os encarregados da aplicação 
 25 
da lei devem comunicar o fato aos seus superiores e, se necessário, a outras autoridades apropriadas ou 
organismos com poderes de revisão ou reparação. 
 
2.3 Princípios Orientadores para a Aplicação Efetiva do Código de Conduta para os Funcionários 
Responsáveis pela Aplicação da Lei 
 
Com o objetivo de promover a aplicação do citado Código de Conduta, o Conselho Econômico e Social 
das Nações Unidas, em 24 de maio de 1989, por ocasião de sua 15a sessão plenária, adotou os Princípios 
Orientadores para a Aplicação Efetiva do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela 
Aplicação da Lei, que prevê uma série de providências, dentre as quais se destacam: 
 
I. APLICAÇÃO DO CÓDIGO 
A. Princípios Gerais 
1. Os princípios consagrados no Código deverão ser incorporados na legislação e práticas nacionais[...] 
4. Os Governos devem adotar as medidas necessárias para que os funcionários responsáveis pela 
aplicação da lei recebam instrução, no âmbito da formação de base e de todos os cursos posteriores de formação 
e de aperfeiçoamento, sobre disposições da legislação nacional relativas ao Código assim como outros textos 
básicos sobre a questão dos direitos do homem[...] 
 
B. Questões Específicas 
2. Remuneração e condições de trabalho. Todos funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem 
ser satisfatoriamente remunerados e beneficiar de condições de trabalho adequadas[...] 
3. Disciplina e supervisão. Devem ser estabelecidos mecanismos eficazes para assegurar a disciplina 
interna e o controle externo assim como a supervisão dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei[...] 
 
II. IMPLEMENTAÇÃO DO CÓDIGO 
A. A nível nacional 
1. O Código deve estar à disposição de todos os funcionários responsáveis pela aplicação da lei e 
das autoridades competentes na sua própria língua[...] 
 
B. A nível internacional 
1. Os Governos devem informar o Secretário-Geral, em intervalos apropriados de, pelo menos, cinco 
anos, sobre os progressos na implementação do Código[...] 
 
Importante! 
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha tem contribuído significativamente com a difusão dessas 
normas, através da capacitação de profissionais de várias Forças Policiais e de Segurança pelo Mundo e 
mais recentemente com o trabalho de Integração das Normas Internacionais de Direitos Humanos 
aplicáveis às Funções Policiais, nas matrizes curriculares de Cursos de Formação, na área de 
 
 26 
Treinamento e na área de Doutrina Policial de algumas Polícias no Brasil e outros Países Latino-
Americanos, com os quais firmou convênio para esse fim. 
 
 
Finalizando... 
 
Nesse módulo do curso, você estudou: 
• Os aspectos legais, morais e éticos da profissão que devem sempre ser observados e seguidos, 
sob pena de se cometerem desvios de conduta ou abusos de poder. Para os Profissionais de Segurança Pública 
os poderes que lhes foram conferidos são para atuarem em defesa da sociedade. 
• Verificou ainda, que existem normas internacionais e legislação nacional própria que diz respeito 
ao tema e dão uma excelente orientação para a conduta a ser adotada. Entretanto, não basta somente ter a base 
legal para que isso automaticamente se reflita em comportamentos na linha de frente operacional. É necessárioter sob constante avaliação e prioridade os aspectos de conhecimentos, habilidades e atitudes nas práticas 
cotidianas dos policiais. 
 
 
Exercícios 
 
1. Com relação a prática de tortura é possível afirmar que: 
a. Está permitida em tempo de guerra. 
b. Pode ser aplicada para a manutenção da ordem pública. 
c. Pode ser usada para extrair confissão de terrorista. 
d. Nunca está permitida. 
 
2. Considerando os princípios do Uso da Força, relacione a segunda coluna de acordo com a 
primeira: 
(1) Legalidade 
(2) Proporcionalidade 
(3) Necessidade 
 
( ) A força usada no limite para atingir o objetivo. 
( ) A força usada somente quando não há outra alternativa. 
( ) A força usada em conformidade com os parâmetros legais. 
 
3. De acordo com Rover são características de um regime democrático: 
a. Um governo democraticamente eleito, que represente o povo e seja responsável perante ele; a 
existência de um Estado de Direito e o respeito por ele; o respeito pelos Direitos Humanos e liberdades. 
 27 
b. Um governo eleito, que represente apenas a parcela majoritária da comunidade e seja 
responsável por ela; a existência de um Estado permanente de exceção e o respeito por ele; o respeito 
emanado pelas autoridades constituídas. 
c. Eleições periódicas a gosto e vontade dos governantes, pois em democracia o que vale é a 
vontade livre de se fazer o que bem se entende. 
d. Não devem existir regras num regime democrático, pois todo poder emana do povo e o povo é 
soberano para sozinho decidir seu destino, não necessitando de qualquer modelo de governo ou instituições 
para que funcione bem. 
 
 
 28 
Gabarito 
 
1. Resposta Correta: Letra D 
2. Resposta Correta: 2-3-1 
3. Resposta Correta: Letra A 
 
 
 29 
 
 
 
 
Apresentação do módulo 
 
O foco de estudo deste módulo está nas tarefas da polícia para a prevenção do crime e a 
manutenção da ordem, alinhadas ao respeito aos direitos humanos. Esse alinhamento exigirá a compreensão 
de definições, normas e recomendações relacionadas às atividades policiais. 
 
Objetivo do módulo 
 
Ao final deste módulo, você será capaz de: 
 
• Identificar as principais normas internacionais de direitos humanos relativas à atividade de 
prevenção e detecção do crime e explicar sua relevância para a atividade policial; 
• Identificar os princípios do direito internacional de direitos humanos que delimitam as práticas de 
aplicação da lei, tais como: a presunção da inocência; o direito de todas as pessoas a um julgamento 
justo, e o respeito pela dignidade, honra e privacidade; 
• Conceituar ordem pública e identificar os poderes da administração pública, em especial o Poder 
de Polícia; 
• Citar as principais normas e instrumentos nacionais e internacionais que são referência de aplicação 
em caso de distúrbios e tensões internas; 
• Relacionar os Princípios Básicos do Uso da Força e Armas de Fogo com as situações de distúrbios e 
tensões internas; 
 
Estrutura do Módulo 
 
Este módulo está dividido nas seguintes aulas: 
 
• Aula 1 – Prevenção de detecção do crime; 
• Aula 2 – A manutenção da ordem pública; 
• Aula 3 – Princípios Básicos do Uso da Força e da Arma de Fogo X distúrbios e tensões internas; 
 
 
MÓDULO 
3 
RESPONSABILIDADES BÁSICAS DA ATIVIDADE 
POLICIAL 
 
 30 
Aula 1 – Prevenção e detecção do crime 
 
1.1 O crime 
De acordo com Rover (2005), a prevenção e detecção do crime estão entre as áreas de interesse 
imediato das organizações de aplicação da lei em todo o mundo. 
O crime é inerente à vida quotidiana e as organizações de aplicação da lei fazem o máximo para 
erradicar sua ocorrência. Entretanto, o número de crimes solucionados pela polícia é menor que o número 
de crimes praticados. 
A responsabilidade pela prevenção e detecção do crime é atribuída primariamente às 
organizações policiais, mas a prevenção e detecção efetivas do crime também dependem muito dos níveis 
existentes e da qualidade da cooperação entre a organização de aplicação da lei e a comunidade (políticos, 
membros do judiciário, grupos comunitários, corporações públicas e privadas, bem como indivíduos) a que essa 
serve. 
Esse ponto é bastante claro na Constituição brasileira de 1988: 
 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e 
responsabilidade de todos, é exercida para a prevenção da 
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do 
patrimônio(...) 
 
É claro que nas suas tarefas de prevenir e detectar crimes, a polícia deve respeitar os Direitos 
Humanos em todas as ocasiões. Por isso uma prevenção e detecção de crimes devem basear-se em práticas e 
tácticas legais e não arbitrárias. 
 
1.2 Princípios de DIDH e as práticas de aplicação da lei 
 
Dentre os princípios do Direito Internacional de Direitos Humanos que delimitam as práticas de 
aplicação da lei com esse intuito, é possível ressaltar os seguintes: 
- a presunção da inocência; 
- o direito de todas as pessoas a um julgamento justo; 
- o respeito pela dignidade, honra e privacidade. 
 
A seguir estude cada um deles. 
 
 
1.2.1 A presunção da inocência 
 
Esse direito está consagrado em vários instrumentos e normas internacionais das quais destacamos: 
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O artigo 11 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: 
 
Artigo XI. 
1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito 
de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha 
sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no 
qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias 
à sua defesa. 
 
O artigo 14 (2) do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos 
 
2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se 
presuma sua inocência enquanto não for legalmente 
comprovada sua culpa. 
 
O artigo 7 (1.b) da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos 
 
1. Toda a pessoa tem direito a que a sua causa seja apreciada. 
Esse direito compreende: 
b) O direito de presunção de inocência, até que a sua 
culpabilidade seja estabelecida por um tribunal competente; 
 
O artigo 8 (2) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos 
 
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma 
sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. 
 
O artigo 6 (2) da Convenção Europeia dos Direitos do Homem 
 
2. Everyone charged with a criminal offence shall be presumed 
innocent until proved guilty according to law. (Qualquer pessoa 
acusada de um crime deve presumir-se inocente até que seja 
legalmente considerada culpada) 
 
Também a Constituição brasileira faz esta previsão em seu artigo 5º, LVII: 
 
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em 
julgado de sentença penal condenatória; 
 
Como é possível verificar, o direito da presunção da inocência está contido em vários instrumentos 
e normas internacionais e nacionais, do que se entende: 
 
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• a culpabilidade ou a inocência só podem ser determinadas por um tribunal regularmente constituído, 
com base em um processo regular no âmbito do qual tenham sido concedidas ao acusado todas as 
garantias necessárias para a sua defesa; 
• o direito à presunção de inocência, até prova em contrário, é essencial para garantir um julgamento 
justo. 
 
Importante! 
Rover (2005) reforça esse entendimento enfatizando que uma das tarefas primárias na aplicação da lei 
é a de trazer os infratores à justiça e não compete aos encarregados da aplicação da lei decidir sobre a 
culpa ou inocência de uma pessoa capturada por um delito. Sua responsabilidade é registrar, de forma 
correta e objetiva,todos os fatos relacionados a um crime cometido. Os encarregados da aplicação da 
lei são responsáveis pela busca de fatos, ao passo que o judiciário é o responsável pela apuração da 
verdade (analisando esses fatos com o propósito de determinar a culpa ou inocência da(s) pessoa(s) 
acusada(s)). 
 
 
1.2.2 O direito de todas as pessoas a um julgamento justo 
 
Em relação ao direito a um julgamento justo, tem-se que ter em mente que essa garantia se aplica 
tanto aos processos civis, como aos criminais e administrativos. 
É imprescindível oferecer às partes do processo o direito à ampla defesa e ao contraditório, ou seja, 
dar às partes a chance de contra argumentar e expor os argumentos de sua defesa. 
Esse direito está consagrado no artigo 10 da Declaração Universal dos Direitos do Homem: 
 
10. Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma 
justa e pública audiência por parte de um tribunal independente 
e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do 
fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. 
 
O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos em seu artigo 14 estabelece disposições e uma 
série de garantias mínimas consideradas necessárias para assegurar o direito a um processo justo. Essas 
garantias mínimas foram incorporadas na legislação da maioria dos países do mundo. 
 
1.2.3 O Respeito pela Dignidade, Honra e Privacidade 
 
De acordo com Rover (2005), as ações e investigações conduzidas por policiais na prevenção ou 
detecção do crime conduzirão a situações em que muitas das ações tomadas resultarão na invasão da 
esfera privada de indivíduos. 
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Há que se ter em conta que todos os países têm um código do processo penal ou orientações que 
definirão os poderes de investigação e as competências dos policiais e seu alcance prático. 
Veja a seguir alguns dispositivos internacionais que preveem a proteção da privacidade, a honra e a 
reputação dos indivíduos. 
Declaração Universal dos Direitos do Homem: 
 
Artigo 12: Ninguém será sujeito à interferência em sua vida 
privada, em sua família, em seu lar ou em sua correspondência, 
nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem 
direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques. 
 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos: 
 
ARTIGO 11: Proteção da Honra e da Dignidade 
1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao 
reconhecimento de sua dignidade. 
2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou 
abusivas em sua vida privada, na de sua família, em seu domicílio 
ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra 
ou reputação. 
3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais 
ingerências ou tais ofensas. 
 
 
Você já deve ter percebido que essas normas têm repercussões óbvias sobre as ações e investigações 
policiais. Como exemplo, podemos citar as revistas e buscas de pessoas, instalações, veículos e outros bens, 
bem como a interceptação de correspondência, mensagens telefônicas e outras comunicações. Todas essas 
ações deverão respeitar escrupulosamente a lei e ser absolutamente necessárias para fins legítimos de 
aplicação da lei. 
Outro instrumento internacional que você estudou no módulo 2 é o Código de Conduta para os 
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei onde a proteção da intimidade é reforçada pelas 
disposições do artigo 4º que estabelece: 
 
ARTIGO 4.º 
As informações de natureza confidencial em poder dos 
funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem ser 
mantidas em segredo, a não ser que o cumprimento do dever 
ou as necessidades da justiça estritamente exijam outro 
comportamento. 
 
Comentário: 
 
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Devido à natureza dos seus deveres, os funcionários 
responsáveis pela aplicação da lei obtêm informações que 
podem relacionar-se com a vida particular de outras pessoas 
ou ser potencialmente prejudiciais aos seus interesses, e 
especialmente à sua reputação. Deve-se ter a máxima cautela na 
salvaguarda e utilização dessas informações, as quais só devem 
ser divulgadas no desempenho do dever ou no interesse. 
Qualquer divulgação dessas informações para outros fins é 
totalmente abusiva. 
 
As responsabilidades dos policiais e suas práticas de aplicação da lei nessa área requerem supervisão 
estrita, tanto internamente na organização (superiores hierárquicos e corregedoria) como um controle externo 
(ouvidorias de polícia, Ministério Público entre outros). O registro e controle das ações é fundamental, pois 
permitirão que um juízo justo e imparcial seja feito a respeito de sua legitimidade e não arbitrariedade, quando 
um caso em particular vier a julgamento. 
Rover (2005) ressalta que a prevenção e detecção do crime são áreas da aplicação da lei que exigem 
padrões altos de moralidade e ética dos policiais, pois é justamente na condução de investigações que se 
verificam grande parte das violações dos direitos e liberdades individuais das pessoas capturadas e/ou detidas. 
Cita como exemplos: o preconceito por parte dos encarregados das investigações, o uso de provas obtidas por 
meio de práticas ilícitas, a pressão sutil sobre a pessoa acusada para obter testemunho. 
Nesse viés, o modo como você e seus colegas desempenham sua atividade profissional é que dará a 
exata noção do que significará a presunção da inocência, um julgamento justo e o respeito pela dignidade 
da pessoa humana. O modo profissional de se trabalhar resultará na contribuição individual para os resultados 
coletivos e a imagem da sua corporação como um todo. 
É possível concluir que a polícia e outros profissionais encarregados pela aplicação da lei são, muitas 
vezes, a primeira linha de defesa dos direitos fundamentais da pessoa humana e, agindo assim, reforçam a 
noção de Estado Democrático de Direito. 
 
 
Aula 2 - A manutenção da ordem pública 
 
2.1 A Ordem Pública 
 
Entre os princípios mais importantes da vida em sociedade está o de "Ordem Pública". 
Rover (2005) explica que a paz, a estabilidade e a segurança de um país dependem, em larga escala, da 
capacidade de suas organizações de aplicação da lei em fazer cumprir a legislação nacional e de forma 
eficaz. Ressalta que policiar ocorrências de vulto, inclusive reuniões e manifestações, requer mais do que a 
compreensão das responsabilidades legais dos participantes de tais eventos. Requer, também, a compreensão 
simultânea dos direitos, obrigações e liberdades perante a lei daquelas pessoas que deles não participam. 
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Conclui o autor afirmando que uma das descrições da essência da manutenção da ordem pública é 
permitir a reunião de um grupo de pessoas que exercitam seus direitos e liberdades legais sem infringir os 
direitos de outros, enquanto, ao mesmo tempo, assegurar a observância da lei por todas as partes. 
Lazzarini (2001) escreve que o homem é o cidadão que vive em uma determinada sociedade, certo 
que o fato de ser cidadão propicia a cidadania, ou seja, condição jurídica que podem ostentar as pessoas físicas 
e morais, que, por expressar o vínculo entre o Estado e seus membros, implica, de um lado, submissão à 
autoridade e, de outro, o exercício de direito, porque, o cidadão é membro ativo de uma sociedade política 
independente. 
O vínculo entre o Estado e seus cidadãos, com submissão destes à autoridade do Estado, há de estar 
disciplinado por princípios jurídicos que informam, em especial, as atividades administrativas, inclusive as 
desenvolvidas no Poder Legislativo e no Poder Judiciário e as do Poder Executivo. 
No conjunto do ordenamento jurídico de um Estado, é muito comum falar-se em leis de ordem pública. 
As leis são os preceitos escritos, formulados pelasautoridades constituídas com poder de legislar. As 
leis de ordem pública são as que vão estabelecer princípios indispensáveis à vida e manutenção e preservação 
do próprio Estado. Ao contrário, as leis de ordem privada são, principalmente, concernentes aos interesses de 
ordem particular, regulando as relações dos indivíduos entre si ou deles com o Estado. 
As ideias que surgem do conceito de ordem pública são as de vida em paz, bem-estar social, 
cooperação dos membros de uma sociedade para o convívio harmonioso e que todos possam se 
desenvolver plenamente em suas potencialidades, exercerem seus direitos, tendo a garantia de poder invocar a 
proteção de um órgão superior do Estado no caso de violações dos mesmos. 
 
 Es el estado de paz y armonía de una sociedad cuando se somete al respeto de las normas 
establecidas por el estado, entre las libertades y derechos individuales y el interés general y 
cuya ruptura haría imposible la convivencia y el cumplimento de los fines del estado y de sus 
instituciones. (RAMIREZ, p. 12). (O estado de paz e harmonia de uma sociedade quando se 
submete ao respeito das normas estabelecidas pelo estado, entre as liberdades e direitos 
individuais e o interesse geral, cuja ruptura impossibilite a convivência e o cumprimento dos 
fins do estado e de suas instituições.) 
 
 É a situação e o estado de legalidade normal, em que as autoridades exercem suas precípuas 
atribuições, os cidadãos estão em harmonia, respeitando as regras formais de coexistência. A 
ordem pública não se confunde com a ordem jurídica, embora tenha a sua existência dela 
derivada. (KLINGER, 1983). 
 
 Ordem Pública: conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da Nação, 
tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse público, 
estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo Poder de Polícia, 
e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum. (R-200). 
 
 
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Entretanto, existem situações em que pessoas ou coletividades não se submetem ou não querem 
submeter-se à autoridade estatal, podendo ocorrer, dessa forma, uma ruptura no cumprimento e na 
obediência das normas legais e sociais. Neste momento, o Estado tem a incumbência de manter e preservar esta 
ordem social, em favor da coletividade. Um dos meios mais comumente utilizados para restaurar essa ordem 
violada na administração pública é a Polícia, e, em casos extremos onde a instituição policial é deficitária ou 
insuficiente, atribui-se essas funções às forças militares (Forças Armadas). 
Nesse caso, as forças militares desempenham funções na comunidade civil que habitualmente 
são incumbência dos funcionários responsáveis pelo cumprimento da lei (polícia). As forças militares 
devem aplicar as normas legais que regem a atuação dos funcionários responsáveis pelo cumprimento da lei, 
especialmente com relação ao uso da força e das armas de fogo. 
Deve-se prestar atenção especial à instrução dos militares antes de empreender uma operação de 
segurança interna. Contudo, apesar de realizarem tarefas relacionadas com o fato de fazer cumprir a lei, perdura 
a essencialidade da força militar. Os membros das Forças Armadas não são policiais quando realizam uma 
operação de segurança interna; eles apenas ajudam a polícia a manter a ordem pública. 
As forças militares que participam de operações de segurança interna não necessitam receber 
instruções a respeito de toda a gama de capacidades e poderes relacionados com a polícia, tal como a 
investigação do delito. Contudo, devem receber instrução efetiva a respeito dos poderes fundamentais 
relacionados com o fato de cumprir a lei: uso da força, prisão e detenção. 
Surge, assim, a necessidade da intervenção do Estado para realizar a manutenção da ordem pública 
violada e assegurar o estado de legalidade impedindo a ruptura dessa mesma ordem, velando para que as 
leis e normas decorrentes sejam observadas. 
 
A manutenção é ação; manutenção da ordem pública é ação inerente a órgão policial no campo 
da Segurança Pública. 
 
Verifica-se que o tema da manutenção da ordem pública é abordado em vários manuais policiais 
como sinônimo de controle da ordem pública e operações de controle de distúrbios civis. Já em manuais 
militares aparece como sinônimo de operações de segurança interna [operaciones de seguridad interna / 
Internal security operations], Operações de garantia da lei e da ordem, Low intensity Operations [operações 
de baixa intensidade], Operations other than war [operações – militares – distintas da guerra], Military 
operations other than war (MOOTW) [outras operações militares que não sejam a guerra] – muito utilizada 
pelas fontes norte-americanas, entre outras. 
 Não existe uma definição padrão para as operações de segurança interna. Utilizaremos a 
seguinte: Operações que impliquem o emprego de forças armadas em apoio às autoridades civis com a 
finalidade principal de manter e restabelecer a ordem. (ROBERTS, 2002) 
 Manutenção da Ordem Pública: é o exercício dinâmico do Poder de Polícia, no campo da 
segurança pública, manifestado por atuações predominantemente ostensivas, visando a prevenir, dissuadir, 
coibir ou reprimir eventos que violem a ordem pública. 
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 Perturbação da Ordem: abrange todos os tipos de ação, inclusive as decorrentes de calamidade 
pública que, por sua natureza, origem, amplitude e potencial possam vir a comprometer na esfera estadual, o 
exercício dos poderes constituídos, o cumprimento das leis e a manutenção da ordem pública, ameaçando a 
população e propriedades públicas e privadas. (R-200) 
 
No conceito de Lazzarini (2001), o ramo do Direito que deve instrumentalizar tudo isso em termos de 
Administração Pública é o Direito Administrativo. Este como principal ramo do Direito Público, 
infraconstitucional, relaciona-se com os denominados “Direitos Humanos Fundamentais”, considerados por 
Moraes (2000) como sendo: 
 
O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser 
humano que tem por finalidade básica o respeito à sua 
dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder 
estatal e o estabelecimento de condições humanas de vida e 
desenvolvimento da personalidade humana. 
 
2.2 Poderes da Administração Pública 
 
Como poderes instrumentais da Administração Pública têm-se o poder vinculado, discricionário, 
hierárquico, disciplinar, regulamentar e o de polícia, não se podendo considerar como poder o arbítrio, 
porque este significa extrapolar os limites da legalidade na manifestação da vontade do órgão 
administrativo, no que se diferencia do discricionário que, nos critérios de conveniência e oportunidade, 
sujeita-se aos princípios da legalidade, da realidade e da razoabilidade. 
Embora não se possa dizer da prevalência de um sobre outro poder instrumental, é forçoso reconhecer 
que o Poder de Polícia – do qual decorre o poder da polícia e a própria razão da existência da polícia, como 
força pública do Estado – é um dos mais importantes desses poderes administrativos, como se examinará 
em especial na realização plena dos direitos de cidadania, que envolve o exercício efetivo e amplo dos direitos 
humanos, nacional e internacionalmente assegurados. 
É o poder que exerce a administração pública sobre todas as atividades e bens que afetam ou possam 
afetar a coletividade. 
O Estado, por intermédio de suas polícias, deve zelar e velar pelo bem-estar coletivo e dos cidadãos 
em particular, cabendo-lhe, como consequência, o direito-dever ou, até mesmo, o dever-poder de tudo fazer 
na defesa desses direitos. (MAGALHÃES, 1987, p. 61). 
 
2.2.1 O Poder de Polícia 
 
Poder de polícia é a competência institucional que

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