de copos. Essa brincadeira consiste em empilhar copos de três maneiras diferentes no menor tempo possível. Se pensamos que as pessoas que fazem essa atividade competindo e com tempos extraordinariamente pequenos estão consumindo maior quantidade de energia no cérebro, estamos enganados, pois o processo repetitivo da ação já tornou conhecidos a novidade, as diversidades e todos os atalhos, então o cérebro desses competidores utiliza menos energia para processar as informações do meio e do caminho a ser percorrido para a finalização da brincadeira. Contrariamente, nós, não competidores, demoramos muito tempo para realizar as três tarefas de empilhamento de copos pois não estamos habituados a realizá-las. Assim, nosso cérebro gasta mais tempo e energia processando as informações e transmitindo as sinapses para que você faça o empilhamento. 2.4 Funcionalidade Quando determinamos a funcionalidade de algo, na verdade estamos querendo que o produto ou serviço nos seja de fácil manipulação ou compreensão e que tenha o menor gasto energético possível na sua utilização. Também visamos, inconscientemente, ao processo de funcionalidade em função direta à comodidade. A comodidade nos permite entender que, segundo Eagleman (2017), “existe um capricho que costuma atrapalhar a boa tomada de decisão: as opções que estão diante de nós tendem a receber valor mais alto do que aquelas que meramente simulamos”, ou seja, o processo de comodismo nos impulsiona a tomar decisões baseadas mais no presente do que num futuro projetado. Uma aplicação disto é a questão de empréstimos financeiros a juros extremamente altos. As pessoas que contraem esses empréstimos normalmente acabam por não processar racionalmente todas as informações e não realizam, 16 de forma automática, o planejamento futuro de pagamento, tampouco entendem as possíveis consequências do não pagamento dessa nova dívida (tecnicamente, com juros maiores). Porém, elas estão decidindo pela funcionalidade de aplicação desse dinheiro, seja para comprar um carro, para pagar uma cirurgia, para comprar uma casa, para realizar uma viagem ou qualquer outra coisa. O processo de decisão foi baseado na funcionalidade, na aplicação imediata – no presente, e não num planejamento a longo prazo. 2.5 Exclusividade Ser ou ter algo único é tão almejado quanto substancial no mundo corporativo, visto que nos é cobrado, o tempo todo, que tenhamos um desempenho superior ao dos demais pares de trabalho. Esse processo de exclusividade permite que tenhamos comportamentos e tomadas de decisão únicas, pois a realidade de cada pessoa é específica a ela. Nosso inconsciente busca padrões comportamentais, o que denota uma forte tendência a mantermos as mesmas linhas de decisão para diferentes situações devido ao conforto cognitivo (já mencionado anteriormente). Todavia, a busca pela exclusividade permite que tenhamos comportamentos distintos e maneiras difusas de tomar decisão. Por exemplo, as mulheres inconscientemente buscam estar vestidas com algo que ainda ninguém usou, sentindo-se únicas, especiais e exclusivas. A exclusividade gera também a percepção de valor agregado, refletindo-se em produtos e serviços com preços mais altos a serem cobrados de seus consumidores. TEMA 3 – MEMÓRIAS: CURTO E LONGO PRAZOS O cérebro possui uma limitação inicial de memorização de coisas, números, endereços etc., pois não possuímos o hábito de estar sempre em contato com as mesmas coisas. Porém, é possível melhorar o desempenho da memória trabalhando de forma ordenada e tendo um contato mais constante com aquilo que se quer memorizar. As nossas memórias são tão voláteis que precisamos repetir para lembrar. É comum para algumas pessoas memorizar números ou nomes de pessoas. Para elas é possível codificar esse processo de memorização por meio de associações comuns e de impacto emocional. Em sala de aula, com uma 17 quantidade grande de alunos, normalmente não conseguiremos decorar o nome de todos os nossos colegas, caso sejamos novos naquela turma. Porém, para melhorar o desempenho nesse ponto, podemos repetir o nome da pessoa e fazer uma referência ao visual dela, por exemplo: “David está com camiseta preta com estampa de rock e eu gosto de rock”. Essa é uma ação simples que permite uma melhoria contínua no processo de memorização, conforme denota Medina (2018). A memória possui duas divisões básicas, as quais são estudadas com mais veemência: memória de curto prazo e memória de longo prazo. Mesmo diferentes, as memórias não são exclusivamente armazenadas num único local no cérebro. As diferentes tipologias de memória estão associadas a conexões cerebrais distintas, então ativam diferentes áreas para diferentes recordações. Uma mesma memória pode ativar a área da ínsula – responsável, entre outros fatores, pela associação à dor e à sensação de injustiça –, e também pode ativar o sistema de recompensa positiva. 3.1 Memória de curto prazo Apesar de termos a capacidade de recordação de fatos extremamente antigos que vivenciamos, uma parte da memória – de curto prazo – está diretamente ligada à retenção da informação ou de dados de caráter temporário, especificadamente para conseguirmos finalizar uma tarefa que aciona diversas áreas cerebrais, mais proeminentemente o córtex pré-frontal, como se pode observar na figura a seguir: 18 Figura 7 – Memória de curto prazo e córtex pré-frontal Crédito: Alila Medical Media/Shutterstock. A região do córtex pré-frontal é altamente desenvolvida nos seres humanos, com estrutura fisicamente maior nas mulheres, segundo Schlaepfer et al. (1995). Então, estreitamente relacionado à memória de "trabalho", a memória de curto prazo é o tempo muito curto que alguém mantém algo em mente antes de descartá-lo ou transferi-lo para a memória de longo prazo. 3.2 Memória de longo prazo É o registro de informações ou dados em nossa memória de forma que tenhamos acesso àquilo que foi armazenado num período maior do que a memória de curto prazo, podendo ser uma memória que dura dias, meses, anos ou para o resto de sua vida. Todavia, as memórias de longo prazo surgem das memórias de curto prazo, ou seja, o cérebro transfere as informações de curto prazo para a área do hipocampo, e ali se cristaliza a memória de longo prazo. A memória de longo prazo pode ser dividida em: • Memória explícita: a memória explícita (ou memória declarativa) é um tipo de memória de longo prazo que requer um pensamento consciente. É o que a maioria das pessoas tem em mente quando pensa em uma memória. • Memória implícita: a memória implícita é uma forma importante de memória de longo prazo que não requer pensamento consciente. Isso 19 permite que você faça as coisas de cada vez. As memórias implícitas dependem dos gânglios da base e do cerebelo. Para que a memória se torne cristalizada, uma estratégia é torná-la um hábito contínuo, uma rotina. Segundo Duhigg (2012), o processo de criação da rotina torna a ação um hábito de custo energético baixo. Com a ativação da área de recompensa, o processo torna-se emocional e a cristalização desse hábito vira memória emocional, ativando também outras regiões cerebrais, como o sistema límbico. Então é possível compreender que as memórias de curto e longo prazo determinam nossos registros de vida de tal forma que influenciam nosso comportamento cotidiano. TEMA 4 – GENÉTICA COMO FATOR DE COMPORTAMENTO Quando falamos de genética, normalmente nos lembramos das ervilhas de Mendel e o processo de hereditariedade das ervilhas amarelas e verdes. Todavia, para entendermos com melhor acuracidade o processo da genética como fator de comportamento, temos que lembrar que somos compostos por cerca de 10 milhões de SNPS (polimorfismo de nucleotídeo único, em inglês single nucleotide polymorphism), que são pequenas variações