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Kawanny Arruda, Etapa 5. FITS, 2022. Introdução Todo quadro clínico de início súbito e progressivo que necessita de de�nição diagnóstica e conduta terapêutica urgente. O peritônio está muito associado a dor, ele possui dois folhetos (parietal e visceral) com inervação independente. ★ Dor visceral: insidiosa, mal de�nida, com localização imprecisa→ mão espalmada sem delimitação; Processo in�amatório/infeccioso atinge peritônio visceral → ocorre paralisia da musculatura lisa envolvida ⇒ gera íleo paralítico⇒ ocorre inervação por �bras autonômicas⇒ gera distensão e contração das vísceras ⇒ dor difusa e mal localizada. ★ Dor parietal: bem localizada, com evolução rápida → paciente aponta o dedo no ponto mais dolorido. A in�amação gera contratura muscular abdominal localizada ou difusa ⇒ ocorre contratura abdominal localizada ou difusa⇒ inervação acontece pelas �bras somáticas cerebrospinais⇒ dor localizada, contínua e intensa. Primeira abordagem ● Idade, sexo, pro�ssão, naturalidade e procedência; ● Poucas perguntas - descrever livremente seu quadro de dor; ● Observação da atitude, da condição geral; ● Exame físico sumário - condições gerais; ● Iniciar controle clínico (não utilizar analgésicos até a elucidação). Segunda abordagem ● História – Avaliação pormenorizada (paciente mais calmo); ● Con�rmação de dados da história (pode haver contradições); ● Clareza nas características do início da dor: Caráter da dor + Função intestinal + Relações com a função urinária + Fases do ciclo menstrual + Interrogatório complementar; ● Exame físico. Exame físico ● Aspecto geral do paciente: temperatura axilar; ● Cabeça e pescoço: lesões orais, icterícia, adenopatia, estase jugular; ● Tórax: inspeção, ausculta, percussão e FR; ● Abdome: inspeção (equimoses, herpes, peristalse, abaulamentos anormais) + ausculta (ruídos hidroaéreos - 3 minutos) + palpação (massas anormais, dor e dor à descompressão, tensão muscular - inclui avaliação dos anéis inguinais) + percussão (macicez, timpanismo, sinal de Jobert); ● Períneo: bolsa escrotal e testículos; ● Toque retal; ● Exame ginecológico. SINAIS QUE DEVEM SER INVESTIGADOS DURANTE O EXAME FÍSICO: ● Sinal de Blumberg: Dor a compressão com piora a descompressão do quadrante inferior direito do abdome, relacionado com apendicite aguda; ● Sinal de descompressão brusca: Dor à descompressão brusca do abdome, relacionado com peritonite no local da dor. ● Sinal de Giordano: Dor a punho percussão lombar à direita ou esquerda, indicativo de processo in�amatório renal. ● Sinal de Jobert: Timpanismo à percussão em toda região hepática, indicativo de pneumoperitônio. ● Sinal de Muphy: Consiste na dor à palpação do bordo inferior do fígado durante uma inspiração forçada, indicativo de colecistite aguda. ● Sinal do Psoas: Dor em quadrante inferior do abdome direito a elevação contra resistência da coxa ipsilateral, relacionado com apendicite, pielonefrite e abscesso em quadrante inferior do abdome. ● Sinal de Rovsing: Compressão do quadrante inferior esquerdo do abdome com dor no quadrante inferior direito, indicativo de apendicite aguda. ● Sinal de Torres-Lemos: percussão dolorosa em região hepática, relacionado com abscesso hepático. Kawanny Arruda, Etapa 5. FITS, 2022. Síndromes 1. In�amatório/infeccioso; 2. Perfurativo; 3. Obstrutivo; 4. Vascular isquêmico; 5. Hemorrágico. ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO Patologias mais frequentes: apendicite aguda, colecistite aguda, pancreatite aguda, diverticulite, doença in�amatória pélvica, anexite. ➔ Dor insidiosa com agravamento e localização; ➔ Sinais sistêmicos: febre, taquicardia, taquipnéia Apendicite aguda ★ É a emergência mais comum em cirurgia geral do abdome; ★ Frequência na faixa etária de 10 a 19 anos; ★ Complicação mais comum: perfuração (contida e localizada OU não restrita à cavidade peritoneal). Ocorre uma obstrução do lúmen apendiceal → ela provoca proliferação bacteriana excessiva e distensão do lúmen intestinal, aumentando a pressão intraluminal ⇒ isso impede �uxo de linfa e sangue ⇒ pode ocorrer, por isso: trombose vascular e necrose isquêmica com perfuração. Manifestações clínicas: ➔ Primeiro tem queixas inespecí�cas: alterações do hábito intestinal ou mal-estar; ➔ As dores abdominais são difusas, intermitentes ou em cólicas no epigástrio ou região periumbilical; ➔ Náusea e vômitos (se presente) depois de começar a dor abdominal; ➔ Anorexia; ➔ Febre baixa a moderada; ➔ Pode haver sinais de irritação peritoneal: contratura da musculatura abdominal + dor à descompressão brusca (sinal de blumberg); ➔ Dor máxima no quadrante inferior direito no ponto de McBurney; ➔ A compressão que no QIE que gera dor no QID→ Sinal de Rovsing. Exames complementares: Hemograma - Urina rotina - Rx simples de abdome - US de abdome - CT abdome. OBS: fazer o toque retal em todos os pacientes. Exames laboratoriais não identi�cam pacientes com apendicite. Radiogra�as raramente são úteis, não solicitar como rotina. Colecistite aguda Dor em cólica, sobretudo após ingestão de alimentos que estimulam a secreção de colecistocinina, ocasionando a contração da vesícula biliar. ★ A dor começa no hipocôndrio direito ⇒ irradiando posteriormente para epigástrio⇒ depois para o dorso; ★ Náuseas e vômitos frequentemente são observados; ★ O estado geral costuma estar preservado, podendo apresentar comprometimento na dependência da intensidade do processo in�amatório; ★ Febre superior a 38°C pode estar presente; ★ Hipersensibilidade em hipocôndrio direito com presença do sinal de Murphy – interrupção brusca da inspiração profunda à palpação nessa topogra�a; ★ Pode haver icterícia quando há impactação de cálculo no infundíbulo ocasionando edema, obstrução do ducto hepático comum (Síndrome de Mirizzi) e, consequentemente, colestase; ★ Exames complementares: - Hemograma - Bilirrubinas - Enzimas hepáticas - Rx simples de abdomen - US de abdome - CT abdome Pancreatite aguda ★ Dor intensa em região epigástrica com irradiação para dorso (“em faixa”); ★ Náuseas e vômitos; Kawanny Arruda, Etapa 5. FITS, 2022. ★ Íleo paralítico com parada de eliminação de fezes e �atos e redução dos ruídos hidroaéreos; ★ Abdome doloroso difusamente à palpação profunda, sobretudo no abdome superior. ★ Vômitos precoces e volumosos. ★ 80 a 90% dos casos tratam-se de casos leves com a presença de um estado geral regular e posição antálgica, sinais de desidratação e hipovolemia; ★ Em casos severos hematomas periumbilical (sinal de Cu�en) e/ou em �ancos (Grey Turner) podem ser vistos, evidenciando hemorragia retroperitoneal; ★ Exames laboratoriais: - Amilase / Lipase - Hemograma - Glicemia - Eletrólitos - Uréia / Creatinina - Gasometria arterial Diverticulite aguda Dor abdominal é o sintoma predominante, geralmente localizada em fossa ilíaca esquerda (divertículo do sigmóide) ou região suprapúbica; ★ Há alteração do ritmo intestinal culminando com obstipação ou diarreia; ★ Distensão abdominal com redução dos ruídos hidroaéreos; ABDOME AGUDO PERFURATIVO Patologias mais frequentes: Perfurações gastroduodenais (úlceras gastroduodenal, tumores) e intestinais (diverticulite, tumores, sofrimento vascular). Ocorre um derrame do conteúdo de víscera oca no peritônio. ➔ Dor súbita e intensa (intervalo curto entre início da dor e chegada na emergência); ➔ Sinais de sepse, hipotensão ou choque são comuns; ➔ Desconforto respiratório: o acúmulo de gás pode comprometer a musculatura diafragmática ➔ Contratura muscular. No estômago e duodeno: úlceras agudas e crônicas são as etiologias mais comuns. ➔ A perfuração nestes casos geralmente está associada a ingestão de álcool,corticoides e AINES. Outras causas importantes são neoplasias e corpos estranhos. No exame físico: ★ Sinais de peritonite; ★ Pode ser focal nos casos de perfuração contida; ★ “Abdome em tábua”: devido contratura involuntária generalizada da parede abdominal por peritonite difusa; ★ Distensão abdominal; ★ Ausência de macicez hepática: Sinal de Jobert; ★ Ausência de ruídos hidroaéreos.Diagnóstico: ★ História clínica minuciosa, exame físico criterioso e exame de imagem (radiogra�a simples é o primeiro). ★ Por imagem: presença de ar e/ou líquido na cavidade peritoneal, retroperitônio ou na parede dos órgãos. Sinal de Kudelec: junto com sinal de Jobert é indicativo de perfuração de víscera oca. Ângulo de Treitz (entre a 4º porção do duodeno e): ● Acima dele: sangramento digestivo alto; ● Abaixo dele: sangramento digestivo baixo. Úlcera péptica perfurada São úlceras perfuradas que se estendem através da parede muscular serosa, permitindo a comunicação entre a luz da víscera e a cavidade abdominal, com extravasamento de conteúdo. ★ As perfurações geralmente ocorrem por desequilíbrio entre secreção de ácidos e a barreira mucosa gástrica. ★ Tríade clássica: Dor abdominal + Taquicardia + Rigidez abdominal. ★ Dor epigástrica súbita, intensa, tipo “facada”, que pode rapidamente migrar para o quadrante inferior D e generalizar-se por todo abdome; ★ Exame físico: - Fácies angustiada, sudorese e imobilidade no leito - Taquicardia - Dor abdominal à palpação - Dor à descompressão brusca - Rigidez da parede abdominal (“abdome em tábua”) - Sinal de Jobert - Ausência de ruídos . Kawanny Arruda, Etapa 5. FITS, 2022. Caso clínico ➔ Dor de início súbito e de forte intensidade em região de epigástrio; ➔ Sem febre, vômitos ou náuseas, hábitos intestinais normais; ➔ Fezes estavam pouco escurecidas, ela achava que era o café que gosta de tomar antes de fumar durante o dia; ➔ Ao exame REG, ansiosa, taquipneica, descorada, desidratada, anictérica, movimentando membros. PA 140 x 100 mmHg FC 110 BPM ➔ AD: Globoso, doloroso a palpação difusa, com sinais de irritação peritoneal, sinal de jobert presente. ABDOME AGUDO VASCULAR Patologias mais frequentes: Oclusões arteriais (trombose, embolia, vasculites), venosas (trombose) nos vasos do mesentéricos, ruptura de aneurismas, isquemia não oclusiva. ★ Dor difusa, mal de�nida; ★ Desproporção entre a dor e os sinais; ★ Representado pela isquemia mesentérica (artéria mesentérica é a mais �na) ou intestinal resultante de um fornecimento inadequado de oxigênio para o intestino, que necessita de intervenção médica imediata por ser potencialmente fatal. Na imagem: alças distendidas ⇒ edema de alças. Isquemia mesentérica ★ Dor abdominal difusa, súbita e de forte intensidade, que se apresenta de início desproporcional aos achados de exame físico, que são inespecí�co; ★ Com a evolução do quadro e necrose instalada de segmentos intestinais, surgem: - Sinais de irritação peritoneal - Distensão abdominal - Náuseas e vômitos - Sangramento intestinal - Sinais de toxemia (dispnéia, hipotensão, cianose) Caso clínico ➔ Dor abdominal intensa, calafrios, vômitos com dois dias de evolução; ➔ Não evacuar havia dois dias e com diminuição da eliminação de �atos ; ➔ Abdome doloroso difusamente à palpação com sinais de irritação peritoneal. Toque retal com luva pouco suja de sangue vivo; ABDOME AGUDO HEMORRÁGICO Patologias mais frequentes: ruptura de aneurismas, gravidez ectópica rota, ruptura de folículo ovariano com sangramento, ruptura hepática espontânea. ★ Dor intensa; ★ Sinais de hipovolemia: hipotensão, taquicardia, palidez, sudorese; ★ Dor à descompressão, rigidez Gravidez ectópica rota Quadro clínico: Dor abdominal no andar inferior ou difusa, que costuma ser insidiosa + sinais de choque hemorrágico e distensão abdominal ★ Con�rmação diagnóstica: - Hemoglobina e hematócrito - Teste de gravidez - US de abdome ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO Situação de emergência na qual se encontra um fator obstrutivo em trato gastrointestinal (TGI) responsável pelo quadro clínico. ★ É a segunda síndrome abdominal aguda mais frequente; ★ O megacólon chagásico con�gura uma frequente causa de obstrução intestinal no Brasil; Principais patologias: Aderências e bridas, hérnias, neoplasias, oclusão mecânica, tumores, volvo, intussuscepção, estenoses in�amatórias, íleo biliar e infestações por vermes ★ Dor em cólica periumbilical; Kawanny Arruda, Etapa 5. FITS, 2022. ★ Náuseas e vômitos; ★ Distensão abdominal; ★ Parada da eliminação de �atos; Obstruções intestinais Bridas (pós-cirúrgicas ou congênitas); ★ Hérnias (internas ou de parede abdominal); ★ Invaginação intestinal; ★ Neoplasias; ★ Má-rotação intestinal; Quadro clínico: -Vômitos mais tardios (biliosos ou fecalóides) - Distensão abdominal em graus variados - Parada de eliminação de gases e fezes - Dores abdominais tipo cólica - Desidratação e distúrbios eletrolíticos * Avaliar presença de hérnias e cicatrizes de cirurgias abdominais prévias Caso clínico ➔ Distensão abdominal há cerca de 4 dias, cursando nesse período com náuseas e 4 episódios de vômitos de pouco volume e com restos alimentares, cada vez mais frequentes, após ingerir qualquer alimento; ➔ Diarreia explosiva, com consequente diminuição progressiva do número e volume das dejeções, acompanhada de dor tipo cólica ; ➔ sem eliminação de gases e fezes há 24 horas; ➔ TOQUE RETAL SEM FEZES, ABDOME GLOBOSO E TIMPÂNICO DIFUSAMENTE E DOLOROSO Exames subsidiários 1. Afastar alguma hipótese diagnóstica formulada; 2. Con�rmar a existência de uma doença e estadiar sua evolução; 3. Avaliar o paciente para uma possível operação; 4. Permitir a terapêutica não invasiva da afecção. Exames complementares ● Hemograma ● Amilasemia ● Bilirrubinas ● Urina rotina ● Função renal
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