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CIRURGIA GERAL 1 Apendicite Apêndice O apêndice é uma derivação embriológica do intestino médio. Está localizado no quadrante inferior direito do abdome, acoplado ao ceco. A sua irrigação é feita pela artéria apendicular, ramo da artéria ileocólica, e a drenagem linfática ocorre para os linfonodos ileocólicos anteriores. O comprimento do apêndice varia de 2 a 20 cm (média de 9 cm). A sua base está ligada na convergência das tênias ao longo da face inferior do ceco. A ponta do apêndice pode estar em vários locais, sendo a mais comum ser retrocecal intraperitoneal; outras posições são: na pelves (30% dos casos) e retroperitoneal (7%). Fisiopatologia A apendicite ocorre, principalmente, com a seguintes etapas: 1. Obstrução do lúmen do apêndice por fecálito, hiperplasia linfoide, matéria vegetal ou sementes, parasitas ou neoplasma. 2. A obstrução contribui para o supercrescimento bacteriano, além disso, secreção de muco no interior do apêndice causa distensão intraluminal e na pressão da parede luminal (causa a dor visceral periumbilical sentido pelo paciente nos estágios iniciais da doença) 3. O da pressão na parede causa dificuldade de drenagem venosa e linfática, o que leva à isquemia mucosa. 4. A isquemia, associada ao aumente de muco, causa ainda mais hiperproliferação bacteriana 5. Tais achados causam um processo inflamatório localizado, que pode evoluir para gangrena e perfuração Geralmente, a perfuração ocorre após pelo menos 48 hrs do início dos sintomas. OBS! As bactérias mais comuns de serem encontradas em apendicite perfuradas são: bacteroides fragilis, eschericia coli e bacteroides thetaiotaomicron Diagnóstico Histórico A apendicite deve ser considerada sempre no diagnóstico diferencial de quase todo paciente com dor abdominal aguda. Essa doença atinge principalmente indivíduos entre a 2ª e 3ª década de vida. A apresentação típica de um paciente com apendicite aguda são as seguintes características: • Dor: inicia-se na região periumbilical (ativação dos neurônios aferentes viscerais), mas depois localiza-se no quadrante inferior direito com a evolução da inflamação do peritônio parietal sobrejacente ao apêndice → essa dor migratória é a característica mais comum da apendicite • Náuseas e vômitos: com o início da dor o paciente pode apresentar náuseas; em alguns casos há uma crise de vômitos (e não acessos repetidos de vômitos com em outras doenças, como obstrução de intestino delgado) • Anorexia: nem sempre presente • Febre e leucocitose • Íleo adinâmico: em algumas situações pode ocorrer diarreia OBS! Em algumas situações, o processo inflamatório da apendicite pode causar uma obstrução de intestino delgado. Exame físico Os principais achados são: • Paciente parece doente e fica deitado no leito • Febre baixa (entre 38°C) • Ruídos intestinais • Dor no ponto de McBurney (localizado a 1/3 da distância ao longo de uma linha traçada da espinha ilíaca superior anterior até o umbigo → número 1 na imagem abaixo): vale lembrar que o apêndice é móvel, logo, o ponto de dor máximo pode estar em qualquer local em um círculo de 360° ao redor da base do ceco. • Sinal de Dunphy: dor ao tossir • Sinal de Rovsing: dor no quadrante inferior direito durante a palpação do quadrante inferior esquerdo CIRURGIA GERAL 2 • Sinal do obturador: dor com a rotação interna do quardril → sugere apêndice pélvico • Sinal do iliopsoas: dor com a extensão do quadril direto. Em caso de um apêndice perfurado, a dor abdominal se torna intensa e difusa, além de ocorrer espasmo da musculatura abdominal. Ocorre também aumento da frequência cardíaca e febre com mais de 39°C. O paciente pode parecer doente e exige um breve período de reposição com líquido e antibióticos antes da indução da anestesia. Estudos laboratoriais • Leucocitose: mais de 75% de neutrófilos (cerca de 10% dos pacientes não apresentam alterações leucocitárias) • Leucocitose > 20000/mL sugere apendicite com gangrena ou perfuração. • Hematúria microscópica: pode ocorrer devido à inflamação do ureter adjacente ao apêndice inflamado Estudos radiográficos Tomografia Computadorizada (TC) A TC é o exame radiográfico mais utilizado para uma apendicite aguda. Em geral, os achados na TC de apendicite aumentam com a gravidade da doença. Achados clássicos incluem: • Apêndice com mais de 7 mm de diâmetro • Espessamento circunferencial da parede e realce → sinal do alvo • Gordura periapendicular retorcida • Presença de fecálitos (também chamados de apendicólitos) detectado pela TC (visto em 50% das pessoas com apendicite) Figura 1 TC do abdome ou da pelve em um paciente com apendicite aguda pode revelar um apendicólito (seta). Figura 2 TC mostra um apêndice distendido (seta) com líquido periapendicular e espessamento difuso da parede (seta). Figura 3 O apêndice pode ser descrito como tendo estratificação mural, referindo-se às camadas de realce e edema dentro da parede (seta); isso também pode ser notado como um sinal. OBS! A TC não deve ser recomendada rotineiramente para a avaliação diagnóstica de pacientes com suspeita de apendicite, apenas uma história clínica condizente é preditiva para o encaminhamento cirúrgico. A TC provou ser mais valiosa em pacientes idosos, nos quais o diagnóstico diferencial é demorado, os achados clínicos podem ser confusos e a apendicectomia acarreta maior risco. Em pacientes com sintomas atípicos, a TC pode reduzir a taxa de apendicectomia negativa. Ultrassonografia (USG) A ultrassonografia tem uma sensibilidade de cerca de 85% e uma especificidade de mais de 90% para o diagnóstico de apendicite aguda. Os achados são: CIRURGIA GERAL 3 • Apêndice de 7 mm ou mais no diâmetro anteroposterior • Presença de apendicolito • Líquido periapendicular (em casos mais avançados) A ultrassonografia tem as vantagens de ser uma modalidade não invasiva que não exige preparação do paciente e evita exposição à radiação ionizante. Figura 4 Ultrassom de um apêndice normal (topo) ilustrando a parede delgada em planos coronal (esquerda) e longitudinal (direita). Na apendicite, há distensão e espessamento da parede (inferior, direita), e o fluxo sanguíneo é aumentado, levando ao chamado anel de aparência de fogo. A, Apêndice. Radiografia A radiografia não é muito importante para a apendicite e apresenta baixa sensibilidade. OBS! Em poucos casos, mesmo com a história, exame físico, achados laboratorias e exames de imagem, o diagnóstico de apendicite não é conclusivo; sendo assim, pode-se fazer uma laparoscopia diagnóstica e procurar também outras possíveis causas para dor. Usamos essa técnica primariamente para mulheres em idade reprodutiva nas quais o ultrassom ou a TC pélvica pré-operatória falharam em estabelecer um diagnóstico. Populações de pacientes especiais O diagnóstico de apendicite é mais difícil em crianças e idosos. Nesses casos, os estudos por imagem são importantes. Algoritmo diagnóstico da apendicite Tratamento A apendicite aguda é tratada por remoção cirúrgica imediata do apêndice. Para pacientes com o apêndice não perfurado, apenas uma dose pré-operatória de antibióticos reduz infecções pós-operatórias da ferida e a formação de acesso intra-abdominal. Já os com apêndice perfurado ou gangrenoso, continua com antibióticos intravenosos no período pós-operatório até o paciente estar afebril. A apendicectomia videolaparoscópica vem apresentando algumas vantagens comparada a à aberta, como: melhor qualidade de vida, taxas mais baixas de readmissão e menor chance de infecção. O ideal é realizar apendicectomias laparoscópica para a maioria dos pacientes, mulheres particularmente férteis, pacientes obesos e casos de dúvida diagnóstica. A única contraindicação absoluta para uma videolaparoscopia é instabilidade hemodinâmica. No caso da apendicectomiaaberta, as incisões mais realizadas (e mais fáceis) são a de Davis-Rockey (incisão transversa do quadrante inferior direito) e a de McBurney (incisão oblíquoa). Na vigência de um grande fleimão ou dúvida diagnóstica, uma incisão de linha média subumbilical pode ser utilizada. Veja a próxima imagem para localizar os pontos de incisão. CIRURGIA GERAL 4 Apendicectomia aberta 1. Abertura do peritônio e identificação do apêndice inflamado. 2. Mesoapêndice é ligado e seccionado entre pinças (imagem A) 3. Um fio absorvível é colocado em torno da base do apêndice, e o mesmo é clampeado, seccionado e ressecado. (imagem B) 4. Faz-se, então, uma sutura em bolsa de tabaco com fio absorvível ou uma sutura em Z em torno da parede cecal (imagem C) 5. Coto apendicular é sepultado no fundo do ceco. Apendicectomia laparoscópica 1. Após a injeção do anestésico local, coloca-se uma porta de 10 mm no umbigo, seguida de uma porta de 5 mm na região suprapúbica na linha média e uma porta de 5 mm a meio caminho do trajeto entre as duas primeiras portas e à esquerda do músculo reto do abdome 2. O laparoscópio de 5 mm e óptica de 30 graus é orientado para a porta central com o cirurgião e o assistente à esquerda do paciente. Com o paciente na posição de Trendelenburg e inclinado para o lado esquerdo, investigando delicadamente o íleo terminal medialmente e seguindo a tênia do ceco caudalmente para localizar o apêndice, que é, então, pinçado CIRURGIA GERAL 5 3. O mesoapêndice é seccionado usando-se um bisturi harmônico de 5 mm ou Liga-Sure, ou entre clipes, dependendo da espessura do tecido. (Imagem A) 4. Envolve-se a base do apêndice com um ou dois Endoloops absorvíveis e coloca-se um outro Endoloop cerca de 1cm distalmente dos colocados na base. No local entre os Endoloops, faz-se a secção do apêndice (Imagem B e C) 5. O apêndice é colocado em uma bolsa e removido pela porta cicatriz umbilical (Imagem D) Aos pacientes, prescreve-se uma dieta sem restrições e medicamento oral após a intervenção cirúrgica. A maioria dos pacientes com apendicite não perfurada recebe alta 24 horas após o procedimento. Apendicite perfurada Pacientes com perfuração de apêndice estão geralmente muito doentes e necessitam muita reposição hidroeletrolítica antes da anestesia geral. É necessário a administração de antibióticos de amplo espectro do intestino. Em seguida, realiza-se a apendicectomia, aberta ou laparoscópica, e, se apresentar secreção purulenta, é necessário a sua aspiração e colocar em cultura para avaliação bacteriana. O abdome e a pelve são irrigados e o líquido aspirado. Coloca-se no local um dreno de sucção fechado apenas se existir uma cavidade de abscesso residual bem-definida distante do leito apendicular
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