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Alan Turing(criptografia)

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A História de Alan Turing no filme "o jogo da imitação"
O matemático britânico, protagonista do filme, foi decisivo para a derrota do nazismo e
precursor dos computadores e da inteligência artificial.
DRAMA E INTELECTO
O ator Benedict Cumberbatch como Alan Turing, em cena de O jogo da imitação, e uma foto
do verdadeiro matemático (abaixo). Ele quebrou a criptografia do Exército alemão (Fotos:
divulgação e AFP)
Estima-se que a Segunda Guerra Mundial tenha causado mais de 50 milhões de mortes.
Esse panorama poderia ser ainda mais trágico não fosse a atuação de um personagem que
pouco aparece nos verbetes sobre o conflito. Ninguém fora da política ou sem patente
militar foi tão decisivo para o fim dos combates quanto o matemático britânico Alan Turing. A
própria dinâmica de sua atividade, altamente sigilosa, e a morte precoce, em 1954, o
deixaram, injustamente, na penumbra da história. Lançado há pouco no Brasil, o filme O
jogo da imitação devolve o protagonismo a Turing. Ele comandou um seletíssimo grupo de
superdotados que buscava decifrar o código do Enigma, sistema criptográfico usado pelas
forças alemãs para transmitir mensagens a seus homens no campo de batalha. Além desse
feito inestimável, Turing legou outras contribuições importantes para a humanidade. Uma
máquina criada por ele nos anos 1930 é tida como precursora do computador. Turing
também foi pioneiro nas formulações sobre inteligência artificial, um tema em voga até hoje
e que inspirou cineastas como Stanley Kubrick e Steven Spielberg.
A trama de O jogo da imitação, que concorre a oito Oscars, desenvolve-se em três fases da
vida de Turing. Quando garoto, ele é interpretado por Alex Lawther, que tem atuação
destacada. Nas demais etapas, durante a guerra e alguns anos depois, quem dá vida ao
personagem é Benedict Cumberbatch, intérprete de Sherlock Holmes numa série de TV. O
conflito tomava o mundo quando Turing foi chamado pelo comando de guerra britânico para
participar de uma missão confidencial. Passou a integrar uma equipe de decodificadores
que trabalhava diuturnamente em Bletchley Park, mansão a pouco mais de 70 quilômetros
de Londres que abrigava uma instalação militar secreta. Turing tinha dificuldade no trato
social. Seu diálogo inicial com o comandante Denniston (Charles Dance, em ótima atuação)
deixa claro o desdém pela hierarquia – e pelos seres humanos em geral. Arrogante, tirânico
e introvertido, Turing é um homem de convívio difícil, traço acentuado pela pressão extrema
da missão que lhe fora incumbida. Apesar de não contar com a simpatia de ninguém, ele é
alçado a chefe do grupo. Não parece movido por razões humanitárias ou patrióticas, mas
pelo desafio matemático. Obstinado em decifrar o Enigma, tem uma ideia extraordinária: só
uma máquina poderia decodificar um sistema tão complexo. Dessa forma, consegue
convencer o alto comando britânico de fabricar um equipamento ao custo de 100 mil libras,
uma fortuna à época. Visto com descrédito, o aparelho se mostrou decisivo para o sucesso
da missão. Os aliados tiveram acesso a todo movimento das tropas, frotas e esquadras
inimigas, o que possibilitou ataques supresas em série, quase sempre fatais ao adversário
desprevenido.
Na Segunda Guerra Mundial, a comunicação militar era feita por meio de ondas
radiofônicas e cabos telefônicos, ambos facilmente interceptáveis. Daí a necessidade de
usar a criptografia, que é o embaralhamento de símbolos para tornar incompreensível a
mensagem que venha a ser interceptada. No século XX, antes mesmo da eclosão da
Segunda Guerra Mundial, a criptografia já era um recurso muito usado por instituições
bancárias, a fim de transmitir com segurança mensagens confidenciais. No episódio que
ficou conhecido como Telegrama Zimmermann, ocorrido na Primeira Guerra Mundial,
espiões interceptaram um comunicado que o ministro alemão das Relações Exteriores
mandara para sua representação diplomática no México. O telegrama orientava o
embaixador a atrair os mexicanos para seu lado, o que acabou incentivando a entrada dos
Estados Unidos no conflito. Da mesma maneira, o almirante Yamamoto, comandante
japonês que foi o artífice do ataque a Pearl Harbor, foi abatido em pleno voo, em 1943,
depois que a rota de seu avião foi decodificada pelos americanos.
São episódios que dão a exata dimensão da importância da quebra dos códigos adversários
em um enfrentamento militar. Tomado apenas por esse aspecto, o feito de Turing já seria
histórico. Mas ele brilhou também em outros terrenos da ciência, algo pelo qual O jogo da
imitação, dirigido pelo norueguês Morten Tyldum, trata apenas de raspão. Antes de
ingressar em Bletchley Park, Turing já era um matemático altamente reconhecido por seus
pares. Na década de 1930, após a constatação de que a matemática não seria capaz de
resolver todos os problemas, a comunidade científica tentava delimitar uma fronteira para
aquilo que poderia ou não ser resolvido. Turing propôs um modelo formal para fazer essa
separação, chamado de máquina de Turing. Consistia de um sistema abstrato em que, em
vez dos nove dígitos que empregamos para calcular, ele usava apenas 0 e 1 combinados
em cifras. “Essa máquina hipotética deu origem a nosso computador”, diz a matemática
Isabel Cafezeiro. Fascinada pelo matemático, ela apresentou um trabalho sobre ele na
Computability in Europe de 2012, encontro anual que, naquela ocasião, homenageou Turing
em seu centenário de nascimento. “Enquanto a maior parte de seus colegas optou por
caminhos abstratos, Turing fez o oposto. Investigou os processos mentais efetuados ao
calcular um número e tentou imitar o jeito humano de computar”, diz Isabel. Em artigo
publicado em 1950, ele apresentou à comunidade acadêmica o que ficou conhecido como
teste de Turing, também chamado de jogo da imitação. Uma pessoa teclava perguntas para
um ser humano e um computador, sem saber a qual deles estava se dirigindo. A ideia era
diferenciar um do outro. Se não conseguisse identificar a máquina por suas respostas, a
conclusão seria que a máquina podia pensar. “Acredito que até o fim do século XX será
possível falar de máquinas pensantes sem chances de ser contestado”, escreveu Turing há
mais de 60 anos. Em junho do ano passado, cientistas britânicos fizeram um teste.
Conversaram, numa sala de bate-papo, com um suposto garoto ucraniano de 13 anos, que
era, na verdade, um computador. Mas um terço dos cientistas acreditou que se tratava de
um ser humano de verdade. Talvez a utopia de Turing esteja próxima de se tornar real.
Na infância, Turing foi vítima contumaz de bullying. A exceção foi seu colega de turma
Christopher Morcom (Jack Bannon, no filme), por quem ele nutriu uma paixão jamais
revelada, como o filme descreve em minúcias. O fato de ser homossexual numa época em
que isso era considerado crime foi crucial para apartá-lo da sociedade. Condenado por
prática de “indecência”, Turing teve de se submeter a uma castração química. Numa
escalada de desalento, cometeu suicídio por envenenamento pouco antes de completar 42
anos. O gênio que salvou tantas vidas na guerra não conseguiu salvar a si mesmo.

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