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Infecções do Trato Urinário Infecção do trato urinário (ITU) é um termo que se aplica a uma variedade de condições clínicas, desde a presença assintomática de bactérias na urina, até infecção grave do rim com sepse resultante. É uma patologia extremamente frequente, que ocorre em todas as idades, do neonato ao idoso. A sua prevalência varia de acordo com a faixa etária: durante o primeiro ano de vida, devido ao maior número de malformações congênitas, especialmente válvula de uretra posterior, acomete preferencialmente o sexo masculino. A partir desse período, durante toda a infância e principalmente na fase pré-escolar, as meninas são acometidas por ITU 10 a 20 vezes mais do que os meninos. Na vida adulta, a incidência de ITU se eleva e o predomínio no sexo feminino se mantém, com picos de maior acometimento no início da vida sexual ou relacionado à atividade sexual, durante a gestação ou na menopausa, de forma que 48% das mulheres apresentam pelo menos um episódio de ITU ao longo da vida. Na população idosa, a ITU apresenta-se como uma importante causa de morbi-mortalidade, acometendo homens e mulheres, principalmente naqueles pacientes institucionalizados e portadores de demência e limitações motoras. Fatores de Risco Crianças com menos de 5 anos: associada a anomalias congênitas do trato urinário, como refluxo vesicoureteral ou obstrução. Adolescentes/jovens: não acompanhamento médico (pelo menos 50%). Mulheres de 16 a 35 anos: relação sexual e uso de diafragma. Mulheres e homens dos 36 ao 65 anos: mulheres - cirurgia ginecológica e prolapso da bexiga parecem ser fatores de risco importantes. Em homens do mesmo grupo etário, hipertrofia/ obstrução da próstata, cateterismo e cirurgia são fatores de risco relevantes. Pacientes com mais de 65 anos: Incontinência e uso crônico de sondas urinárias são fatores de risco importantes nesses pacientes. Além da maior presença de comorbidades que aumentam a suscetibilidade a infecções. Obs: Naqueles com menos de 1 ano e mais de 65 anos, a morbidade e a mortalidade por ITU são as mais altas. As taxas de ITU são bem maiores nos homossexuais masculinos, estando relacionadas com a prática mais frequente de sexo anal não protegido, nos indivíduos com prepúcio intacto e em portadores de infecção pelo vírus HIV. Tipos de ITU ITU é definida pela presença de bactéria na urina tendo como limite mínimo definido a existência de 100.000 unidades formadoras de colônias bacterianas por mililitro de urina (ufc/ml). Quanto à localização, é classificada como baixa ou alta. A ITU pode comprometer somente o trato urinário baixo, caracterizando o diagnóstico de cistite, ou afetar simultaneamente o trato urinário inferior e o superior, configurando infecção urinária alta, também denominada de pielonefrite. É de grande utilidade clínica a estratificação da infecção urinária em ITU complicada e não complicada. Os fatores de virulência bacteriana de um lado e a integridade dos mecanismos de defesa do hospedeiro do outro lado são os principais fatores determinantes do curso da infecção. Na ITU não complicada a Escherichia coli é a bactéria responsável pela maioria das infecções enquanto nas ITUs complicadas o espectro de bactérias envolvido é bem mais amplo incluindo bactérias Gram positivas e Gram negativas e com elevada frequência organismos multirresistentes. As infecções do trato urinário podem ser complicadas ou não complicadas, as primeiras têm maior risco de falha terapêutica e são associadas a fatores que favorecem a ocorrência da infecção. A infecção urinária é complicada quando ocorre em um aparelho urinário com alterações estruturais ou funcionais ou quando se desenvolve em ambiente hospitalar. Habitualmente, as cistites são infecções não complicadas enquanto as pielonefrites, ao contrário, são mais frequentemente complicadas, pois em geral resultam da ascensão de microrganismos do trato urinário inferior e estão frequentemente associadas à presença de fatores complicadores. Um paciente é considerado portador de ITU de repetição quando acometido por 3 ou mais episódios de ITU no período de doze meses. Geralmente a ITU será não complicada quando ocorre em pacientes com trato urinário normal e é adquirida fora de ambiente hospitalar. As condições que se associam à ITU complicada incluem as de causa obstrutiva (hipertrofia benigna de próstata, tumores, urolitíase, estenose de junção uretero – piélica, corpos estranhos, etc); anátomo – funcionais (bexiga neurogênica, refluxo vesico – ureteral, nefrocalcinose, divertículos vesicais); metabólicas( insuficiência renal, diabetes mellitus, transplante renal); uso de catéter de demora ou qualquer tipo de instrumentação. Etiologia Os agentes etiológicos mais frequentemente envolvidos com ITU adquirida na comunidade são, em ordem de frequência: a Escherichia coli, o Staphylococcus saprophyticus, espécies de Proteus e de Klebsiella e o Enterococcus faecalis. A E. coli, sozinha, responsabiliza-se por 70% a 85% das infecções do trato urinário adquiridas na comunidade e por 50% a 60% em pacientes idosos admitidos em instituições. Quando a ITU é adquirida no ambiente hospitalar, em paciente internado, os agentes etiológicos são bastante diversificados, predominando as enterobactérias, com redução na frequência de E. coli (embora ainda permaneça habitualmente como a primeira causa), e um crescimento de Proteus sp, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella sp., Enterobacter sp., Enterococcus faecalis e de fungos, com destaque para Candida sp. Entre os pacientes com ITU complicada e de repetição tem crescido a incidência de microrganismos produtores de β-lactamase de espectro estendido (ESBL) incluindo a própria E. coli multirresistente o que dificulta o tratamento da infecção urinária e exige a utilização de antibióticos de largo espectro com frequência cada vez maior. Em crianças, o espectro bacteriano causal é levemente diferente daquele dos adultos, com Klebsiella e Enterobacter spp. sendo as causas mais comuns de ITU. Patogênese Há quatro maneiras possíveis de entrada de bactérias no trato geniturinário. 01. É aceito que bactérias periuretrais ascendendo no trato urinário causem a maioria das ITUs. A maior parte dos casos de pielonefrite é causada pela subida de bactérias a partir da bexiga, através do ureter e para dentro do parênquima renal. Consequentemente, a natureza curta da uretra feminina, em combinação com sua proximidade íntima com o vestíbulo vaginal e o reto, provavelmente predispõem as mulheres a ITUs mais frequentes que os homens. 02. A disseminação hematogênica pode ocorrer em pacientes imunocomprometidos e em neonatos. Staphylococcus aureus, espécies de Candida e Mycobacterium tuberculosis são patógenos comuns que viajam pelo sangue para infectar o trato urinário. 03. A disseminação linfática ao longo dos vasos linfáticos retais, colônicos e periuterinos tem sido postulada como uma causa de ITU; contudo, atualmente, há pouco suporte científico para sugerir que a disseminação de bactérias por meio de canais linfáticos desempenhe um papel na patogênese da ITU. 04. Extensão direta de bactérias de órgãos adjacentes para dentro do trato urinário pode ocorrer em pacientes com abscessos intraperitoneais ou fístulas vesicointestinais ou vesicovaginais. Infecção recidivante a partir de um foco tratado inadequadamente na próstata ou no rim pode surgir em outras partes dos tratos urinários. Obs: 02, 03 e 04 são exemplos de penetração bacteriana incomuns de ITU. IT U ALTO PIELONEFRITE BAIXO CISTITE NÃO COMPLICADA COMPLICADA Defesas naturais do organismo Fluxo urinário não obstruído com a consequente lavagem de bactérias ascendentes é fundamental na prevençãode ITU. Além disso, a própria urina tem caraterísticas específicas (osmolalidade, concentração de ureia, concentração de ácidos orgânicos e pH) que inibem o crescimento e a colonização bacteriana. Os microorganismos uropatogênicos colonizam o intestino grosso e a região perianal. Nas mulheres, pode haver colonização do vestíbulo vaginal e do intróito uretral e, posteriormente, ocorre ascensão para a bexiga e/ou rins. Em condições normais, há competição entre os uropatógenos e a flora vaginal, constituída predominantemente por lactobacilos. A colonização da vagina é facilitada, principalmente, pelo uso de antibióticos e pela má higiene perineal. A migração para uretra e bexiga é desencadeada ,principalmente, pela atividade sexual, pelo uso de contraceptivos com espermicida e pela alteração do ph vaginal, que pode ocorrer com alteração da flora pelo uso de antibióticos e pelo hipoestrogenismo que, habitualmente, ocorre na menopausa. Ela também contém fatores que inibem a aderência bacteriana, como a glicoproteína de Tamm- Horsfall - (THG) – pode estar relacionado a liberação de citocinas e outros sinalizadores relacionadas ao recrutamento de fagócitos. Tem sido observado que a gravidade da bacteriúria e o grau de alterações inflamatórias no trato urinário foram muito maiores em camundongos com déficit de THG, sugerindo que a THG ajuda a eliminar a infecção bacteriana do trato urinário e age como um fator geral de defesa do hospedeiro contra ITUs. Retenção urinária, estase ou refluxo de urina para o trato urinário superior podem promover crescimento bacteriano e infecção subsequente. Consequentemente, qualquer anormalidade anatômica ou funcional do trato urinário que impeça o fluxo da urina pode aumentar a suscetibilidade do hospedeiro a ITUs. Essas anormalidades incluem condições obstrutivas em qualquer nível do trato urinário, doenças neurológicas afetando a função do trato urinário inferior, diabetes e gravidez. De modo semelhante, a presença de corpos estranhos (como cálculos, cateteres e stents) permite que as bactérias se escondam das defesas do hospedeiro. O epitélio que reveste o trato urinário não somente provê uma barreira física à infecção, mas também tem a capacidade de reconhecer bactérias, a frm de ativar as defesas do hospedeiro. As células uroteliais expressam receptores toll-like (TLR), que, após o engajamento por componentes bacterianos específicos, levam à produção de mediadores inflamatórios. Em resposta à presença de bactérias, as células de revestimento do trato urinário secretam atraidores químicos, como a interleucina, para recrutar neutrófilos à área e limitar a invasão tecidual. Anticorpos específicos séricos e urinários são produzidos pelo rim para aumentar a opsonização bacteriana e a fagocitose, e para inibir a aderência bacteriana. Entretanto, deve-se notar que os mesmos mecanismos de defesa do hospedeiro que ajudam a prevenir/limitar a infecção (como as respostas inflamatórias) podem levar a dano celular e tecidual. Nos rins, a lesão celular e o desenvolvimento subsequente de retração cicatricial podem levar a condições patológicas como hipertensão, pré- eclâmpsia durante a gravidez e disfunção e insuficiência renal. Entre outros fatores do hospedeiro importantes estão incluídas a flora normal da área periuretral ou da próstata, e a presença de refluxo vesicoureteral. Nas mulheres, a flora normal da área periuretral, composta de microrganismos como os lactobacilos, fornece uma defesa contra a colonização por bactérias uropatogênicas. Alterações no ambiente periuretral (como mudanças no pH ou nos níveis de estrogênios, ou o uso de antibióticos) podem danificar a flora periuretral, permitindo que uropatógenos colonizem e, subsequentemente, infectem o trato urinário. Nos homens, a próstata secreta líquido contendo zinco, que tem atividade antimicrobiana potente. Finalmente, em crianças, a presença de refluxo vesicoureteral não aumenta sua suscetibilidade à ITU, mas possibilita que bactérias sejam inoculadas no trato superior e que a infecção progrida. O envelhecimento está associado a uma suscetibilidade aumentada à ITU, em parte devido à maior incidência de uropatia obstrutiva nos homens e à alteração da flora vaginal e periuretral a partir da menopausa nas mulheres. Outras causas incluem contaminação do períneo por incontinência fecal, doenças neuromusculares, instrumentação aumentada e cateterismo vesical. Nem todas as bactérias são capazes de aderir ao trato urinário e infectá-lo. Das muitas cepas de Escherichia coli, as uropatogênicas pertencem a um número muito limitado de sorogrupos O, K e H. Elas têm propriedades de aderência aumentada a células uroepiteliais, resistência à atividade bactericida do soro humano, produção de hemolisina e a expressão aumentada do antígeno capsular K. A capacidade da E. coli de aderir a células epiteliais é mediada por ligantes localizados nas pontas das fímbrias bacterianas (pilosidades). Os ligantes prendem-se a receptores de glicolipídeos ou glicoproteínas na membrana superficial das células uroepiteliais. As fímbrias são classificadas por sua capacidade de causar hemaglutinação e pelo tipo de açúcar que pode bloquear esse processo. As fímbrias P, que podem aglutinar sangue humano, ligam-se a receptores de glicolipídeos nas células uroepiteliais, eritrócitos (antígenos P de grupo sanguíneo) e células tubulares renais. Fímbrias P são observadas em> 90% das cepas de E. coli que causam pielonefrite, mas em menos de 20% das cepas que causam ITUs baixas. Em contrapartida, as fímbrias tipo 1 podem ajudar bactérias a aderir à mucosa da bexiga. A maioria das E. coli uropatogênicas tem ambos os tipos de fímbrias. Uma vez que ocorra ligação às células uroepiteliais, outros fatores patogênicos bacterianos tornam-se importantes. A maioria das cepas uropatogênicas de E. coli produz hemolisina, que inicia a invasão tecidual e torna o ferro disponível para os patógenos infectantes. A presença do antígeno K nas bactérias invasoras protege-as da fagocitose por neutrófilos. Esses fatores permitem que os patógenos infectantes escapem das várias defesas do hospedeiro. Tem sido observado que muitas bactérias, como a E. coli, têm a capacidade de invadir as células do hospedeiro, atuando como patógenos intracelulares oportunistas. As bactérias intracelulares amadurecem em bioftlmes, criando protuberâncias semelhantes a vagens sobre a superfície do urotélio. As vagens contêm bactérias enclausuradas em uma matriz rica em polissacarídeos circundada por uma casca protetora de uroplaquina. A capacidade das bactérias uropatogênicas de invadir transitoriamente, sobreviver e se multiplicar dentro das células do hospedeiro pode proporcionar um mecanismo para a persistência e a recorrência das ITUs. Manifestações Clínicas Os pacientes com cistite aguda apresentam sintomas irritativos à micção, como disúria, polaciúria e urgência. Dor lombar e suprapúbica, hematúria e urina turva/fétida também são sintomas comuns. Febre e sintomas sistêmicos são raros. Nos casos típicos, o sumário de urina mostra leucócitos e pode haver hematúria. Já os antecedentes prévios de cistite devem sempre ser valorizados na anamnese. A ITU alta inicia-se habitualmente com quadro de cistite e contaminação via ascendente, sendo frequentemente acompanhada de febre elevada (>38ºC), associada à calafrios e dor lombar uni ou bilateral e sinal de Giordano positivo. Febre, calafrios e dor lombar formam a tríade de sintomas característicos da pielonefrite, presentes na maioria dos casos, exceto em imunodeprimidos. A dor lombar pode se irradiar para o abdômen, flancos ou virilha, situação que sugere mais fortemente a presença de litíase renal associada. Diagnóstico O diagnósticode ITU baseia-se na presença de bacteriúria associada aos sinais e sintomas que denotem inflamação de segmentos do trato urinário. Em virtude da dificuldade diagnóstica, a infecção urinária deve ser classificada em ITU sintomática ou bacteriúria assintomática (bacteriúria = presença de bactéria na urina, sem invasão tecidual). Quando sintomática, o quadro clínico de ITU pode ser bastante sugestivo para o diagnóstico, incluindo disúria, polaciúria, dor lombar (ITU superior) e/ou suprapúbica (ITU inferior), febre e calafrios (na pielonefrite), urgência miccional, nictúria, urina turva(pela presença de piúria) e/ou avermelhada( pela hematúria). Contudo, o diagnóstico só é confirmado pela urocultura, considerada o padrão – ouro no diagnóstico de ITU. A urocultura quantitativa não só indica a ocorrência de multiplicação bacteriana no trato urinário, como também permite o isolamento do agente etiológico e o estudo de sua sensibilidade aos antimicrobianos através do antibiograma. A infecção urinária é caracterizada pelo crescimento de, no mínimo, 100 mil unidades formadoras de colônia (UFC) por mililitro de urina colhida em jato médio e de maneira asséptica. O nível de bacteriúria significativa pode variar de acordo com a forma de coleta da amostra de urina, o fluxo urinário, a presença e o tempo de permanência do cateter urinário e até com o microrganismo isolado. A coleta de urina para cultura pela micção deve ser realizada após limpeza genital externa e rigor de anti- sepsia. Nos pacientes cateterizados, é recomendada a coleta por meio da punção do sistema de drenagem no local especialmente designado, após rigorosa desinfecção com álcool a 70% deste local, mantendo- se o sistema fechado. No ambiente hospitalar o diagnóstico de ITU é complicado por diversos fatores. A presença de cateter urinário dificulta ou impede a verificação dos sinais e sintomas associados à ITU. A sensação de disúria, de urgência miccional ou de desconforto suprapúbico podem estar relacionados à presença do cateter urinário, independentemente da existência de ITU. Tendo em vista as dificuldades diagnósticas é comum encontrar disparidade das taxas de infecção urinária nosocomial entre diferentes instituições. A identificação de sintomas de infecção urinária em idosos e pacientes em estado confusional agudo representa dificuldade adicional. Importante ressaltar que a ausência dos sintomas clássicos não exclui o diagnóstico de ITU. É comum que em pacientes idosos a única manifestação clínica presente seja a alteração do nível de consciência associada à confusão mental. Por outro lado, a ocorrência de bacteriúria assintomática em idosos é muito frequente. Estima-se que a bacteriúria assintomática acometa cerca de 11 a 25% dos pacientes idosos sem cateterismo vesical intermitente, com resolução espontânea na maioria das vezes. Os exames complementares que podem ser úteis para o diagnóstico de ITU incluem: (1) Urina rotina, (2) Urocultura (Exame definidor do diagnóstico), (3) Antibiograma; e em casos selecionados, (4) Hemocultura (Em casos de pielonefrite) e (5) Exames de imagem (Ultrassonografia, Tomografia computadorizada, e RM). No exame físico do paciente com pielonefrite, a par da febre, deparamo – nos com um doente taquicárdico, taquipnéico, muitas vezes com distensão abdominal e dor à palpação renal bimanual e à percussão do ângulo costovertebral do lado afectado (o chamado sinal de Giordano). É importante ter a noção, no entanto, que este quadro, sendo o clássico, não é, necessariamente, o mais frequente. Calcula – se que cerca de 30% dos quadros diagnosticados como cistite aguda, em doentes apiréticos são, de fato, pielonefrites. Nas crianças, a apresentação é, inicialmente, enganadora, podendo apresentar, unicamente, dor abdominal difusa e náuseas. Os exames de imagem não são utilizados, uma vez que são reservados para casos de ITU complicada (pielonefrite), envolvimento sistêmico, presença de alterações anatômicas que podem tanto predispor quanto determinar uma evolução desfavorável ou em pacientes com infecção recorrente/ausência de resposta à terapia apropriada. A TC pode ser utilizada como método de detecção de problemas na perfusão, aumento renal, atenuação do parênquima e compressão do sistema coletor (não necessário, apenas em caso de dúvidas). A USG é importante em casos de pielonefrite aguda para afastar obstrução concomitante do trato urinário. Tratamento A escolha da terapia antimicrobiana para a ITU varia de acordo com a apresentação da infecção, hospedeiro e agente. O tratamento de ITU baixa (cistite) de origem comunitária em mulheres jovens imunocompetentes e sem fatores associados à ocorrência de ITU complicada pode ser instituído empiricamente sem a solicitação de urocultura. Para isto deve existir dois ou mais dos sintomas como disúria, urgência miccional, polaciúria, nictúria e dor suprapúbica, associado ao encontro de leucocitúria na urina tipo 1. Já em mulheres idosas ou diabéticas, a investigação com urocultura é necessária, o tempo de uso dos agentes deve ser prolongado (10 a 14 dias) e a ciprofloxacina 500 mg VO de 12/12 h passa a fazer parte das opções terapêuticas. Em gestantes com cistite de origem comunitária, algumas contraindicações relativas a determinados antimicrobianos promovem uma redução significativa com relação às drogas potencialmente utilizáveis. As possibilidades terapêuticas disponíveis para a gestante são antibióticos beta-lactâmicos, nitrofurantoína e fosfomicina. Quando a cistite ocorre em pacientes do sexo masculino a ciprofloxacina é uma opção terapêutica e o tempo de tratamento se prolonga para 10 a 14 dias. Caso o paciente possua mais de 60 anos, justifica-se a realização do exame de próstata e a solicitação de urocultura e teste de sensibilidade a antimicrobianos deve ser realizada em todos os casos. O uso de Sulfametoxazol+Trimetoprin, amplamente difundido em guias internacionais, poderá ser utilizado baseado em teste de sensibilidade a antimicrobianos e não em tratamento empírico, devido ao aumento de resistência desta droga em isolados de Escherichia coli. Os antimicrobianos da classe dos aminoglicosídeos, apesar de possuírem excelente ação sobre enterobacteriácias no trato urinário, têm seu uso restringido devido ao potencial de nefrotoxicidade e a existência de drogas com excelente ação e com perfil de segurança maior em relação aos efeitos colaterais. A ITU alta (pielonefrite) de origem comunitária e não complicada inicialmente pode ser tratada em regime ambulatorial, com reavaliação a cada 48 h para determinar a efetividade do tratamento. Em pacientes com sinais de instabilidade ou com fatores associados à ocorrência de ITU complicada, devem preferencialmente ser internados. Nestes pacientes o uso de antimicrobianos endovenosos deverá ser instituído até que se encontrem sem febre por um período de 48 a 72h, quando a terapia pode ser completada por via oral. Em caso de internação hospitalar, recomenda-se a coleta de hemoculturas e a realização de ultrassonografia. O tratamento da ITU hospitalar baixa ou alta, considerando a variedade de microrganismos infectantes no ambiente hospitalar e a variação em sua sensibilidade, deve fundamentar-se no isolamento da bactéria na urocultura e na sensibilidade demonstrada ao antibiograma. A bacteriúria assintomática definida pela presença de bactérias na urocultura (>100.000 UFC/ml) e ausência de sinais e sintomas clínicos de infecção, não deve ser tratada em mulheres jovens não grávidas. Em gestantes, pacientes submetidos a transplante de órgãos sólidos, granulocitopenia, pré- operatório de cirurgias urológicas e pré-operatório de colocação de próteses, devemos instituir tratamento para bacteriúriaassintomática guiados pelo teste de sensibilidade a antimicrobianos. Nos casos em que a ITU é causada por fungos, a Candida albicans predomina entre os agentes isolados. A abordagem nos casos de candidúria é semelhante aos agentes bacterianos: - candidúria assintomática (ausência de sintomas clínicos, ausência de piúria e presença de urocultura positiva com >10.000 UFC/ml) em pacientes sem fatores de risco, estes não deverão receber tratamento. Na presença fatores de risco (transplante de órgãos sólidos, granulocitopenia, pré-operatório de cirurgias urológicas) e sondagem vesical de demora (SVD), deve-se retirar a sonda e colher nova amostra de urocultura em 48h. Caso persistir a positividade, está indicado o tratamento; - candidúria sintomática: sempre retirar ou trocar a SVD quando presente e instituir tratamento, principalmente, para pacientes que tenham sido submetidos previamente a múltiplos agentes antimicrobianos, transplante de órgãos sólidos, granulocitopenia e indicação ou manipulação invasiva ou cirúrgica de vias urinárias. O tratamento da ITU fúngica deve ser dirigido pela cultura, pois existem cândidas resistentes aos agentes mais comumente utilizados na abordagem empírica. Entretanto, quando esta abordagem se faz necessária, o uso de Fluconazol 200 mg ao dia por 7 a 14 dias deve ser instituído. Em casos onde o agente é resistente a este azólico, deve-se utilizar Anfotericina B na dose de 0,3 - 1 mg/Kg. RESUMO... ITU não complicada (Cistite não-complicada) O tratamento das ITU não complicadas consiste na instituição da antibioticoterapia baseada de preferência no resultado da urocultura com antibiograma. Nos casos onde a terapia é feita de forma empírica, pode-se optar por um ciclo de sete dias de TMP + SMX ou quinolona. Caso opte-se por uma fluorquinolona (p.ex. ciprofloxacino) o tratamento pode ser empregado por 3 dias. ITU complicada O manejo das ITUs complicadas deve ser realizado de forma mais cuidadosa e criteriosa, devendo ser isolado o agente etiológico e identificado a causa desencadeadora da infecção, devendo essa ser também tratada. A antibioticoterapia (fluorquinolonas) deve ser empregada por no mínimo 7 – 10 dias, podendo ser prolongada por até 2 semanas. Quando o fator desencadeador da ITU não for prontamente resolvido, deve-se optar pela manutenção com antibioticoprofilaxia até a resolução. ITU em gestantes A ITU em gestantes deve sempre ser tratada, mesmo que seja na forma de apresentação de uma bacteriúria assintomática, devendo ser evitado o uso de quinolonas, que é contra-indicado na gestação. As cefalosporinas de primeira geração são uma boa opção de tratamento. ITU em crianças ITU em crianças geralmente estão associadas às anormalidades do trato urinário (anatômicas ou funcionais), disfunções miccionais, ou outras desordens (fimose, corrimento, constipação...). Como nas demais faixas etárias, a E.coli é o microorganismo mais prevalente; porém, deve- se evitar o uso de quinolonas nessa faixa etária. O tratamento deve ser feito com outras drogas como: TMP+SMX, nitrofurantoína, ácido nalidíxico ou cefalosporinas de primeira geração. Em caso de ITU de repetição deve-se manter a antibioticoprofilaxia com a finalidade de previnir a formação de lesões (cicatrizes) renais. Pielonefrite Enfisematosa É uma infecção necrosante caracterizada por presença de gás dentro do parênquima renal ou do tecido perinéfrico. Em torno de 80 a 90% dos pacientes com pielonefrite enfisematosa têm diabetes; o restante dos casos está associado à obstrução do trato urinário por cálculos ou à necrose da papila. Os pacientes com pielonefrite enfisematosa apresentam-se com febre, dor no flanco e vômitos que não respondem ao tratamento inicial com antibióticos parenterais. Pneumatúria pode estar presente. As bactérias cultivadas da urina mais frequentemente incluem E. coli, Klebsiella pneumoniae e Enterobacter cloacae. O diagnóstico de pielonefrite enfisematosa é feito após exame radiográfico. Gás sobrejacente ao rim afetado pode ser visto em uma radiografia simples do abdome (dos rins, ureteres e bexiga). A TC é muito mais sensível para detectar a presença de gás no parênquima renal que a ultrassonografia renal. No tratamento da pielonefrite enfisematosa, o controle imediato da glicemia e o alívio da obstrução urinária são essenciais, além de hidratação e antibióticos parenterais. A taxa de letalidade é de 11 a 54%. Geralmente são necessários de 3 a 4 semanas de antibioticoterapia. Pielonefrite Crônica Resulta de infecção renal repetida, o que leva a retração cicatricial, atrofia do rim e insuficiência renal subsequente. O diagnóstico é feito por exame radiológico ou patológico, em vez de pela apresentação clínica. Muitos indivíduos com pielonefrite crônica não têm sintomas, mas eles podem ter uma história de ITU frequente. Em crianças, há uma correlação forte entre retração cicatricial e ITU recorrente. Como os pacientes com pielonefrite crônica frequentemente são assintomáticos, o diagnóstico é feito de modo incidental quando se inicia investigação radiológica para avaliar complicações associadas à insuficiência renal, como hipertensão, distúrbios visuais, cefaleias, fadiga e poliúria. Nesses pacientes, o sumário de urina pode mostrar leucócitos ou proteinúria, mas é provável que seja normal. Os níveis de creatinina sérica refletem a gravidade do prejuízo renal. As uroculturas só são positivas quando há uma infecção ativa. A uretrografia excretora ou a TC pode demonstrar prontamente um rim pequeno e atrofiado do lado afetado. Retração cicatricial renal grosseira focal, com embotamento do cálice subjacente, é característica. A ultrassonografia também pode demonstrar esses achados. Abscessos Renais Resultam de uma infecção grave que leva à liquefação de tecido renal; essa área subsequentemente é sequestrada, formando um abscesso. Eles podem se romper para fora para o espaço perirrenal, formando abscessos perinéfricos. Quando os abscessos se estendem além da fáscia de Gerota, desenvolvem-se abscessos perinéfricos. Historicamente, a maioria dos abscessos renais/perinéfricos resulta de disseminação hematogênica de estaftlococos, em particular a partir de lesões de pele infectadas. Pacientes com diabetes, aqueles submetidos a hemodiálise ou usuários de drogas de abuso intravenosas tinham risco maior de desenvolver abscessos renais. Com o desenvolvimento de antibióticos efetivos e melhor tratamento de doenças como diabetes e insuficiência renal, os abscessos renais/perinéfricos causados por bactérias gram-positivas são menos prevalentes; aqueles causados por espécies de E. coli ou Proteus estão se tornando mais comuns. Os abscessos que se formam no córtex renal têm probabilidade de surgir por disseminação hematogênica, ao passo que aqueles na Pielonefrite Na pielonefrite aguda moderada, a Sociedade de Doenças Infecciosas da América recomenda fluorquinolona como terapia empírica. Se o micro-organismo é conhecidamente suscetível, TMP/SMX serve como alternativa. Se o paciente, no momento da apresentação, está suficientemente doente requerendo hospitalização (febre alta, contagem elevada de células brancas, vômitos, desidratação ou evidência de sepse) ou evidencia-se falha na melhora durante o período de tratamento inicial do paciente não hospitalizado, fluorquinolona intravenosa, um aminoglicosídeo com ou sem ampicilina, ou cefalosporina de expectro extendido com ou sem um aminoglicosídeo são recomendados.Em relação à duração do tratamento, o regime de injeção intravenoso por 7 dias e, subsequentemente, administração oral por 1 ou 2semanas são recomendados. Além disso, Talan et al recomendam o regime de fluorquinolona oral por 7 dias ou TMP/SMX por 14 dias. Eles também relatam que a taxa de cura bacteriológica foi de 99% pelo esquema de ciprofloxacina oral e 89% pelo esquema de TMP/SMX. junção corticomedular são causados por bactérias gram-negativas em combinação com outras anormalidades subjacentes do trato urinário, como cálculos ou obstrução. Os sintomas de apresentação mais comuns em pacientes com abscessos renais/perinéfricos incluem febre, dor no flanco ou abdominal, calafrios e disúria. Muitos dos sintomas têm durado mais de 2 semanas. Uma tumoração no flanco pode ser palpada em alguns pacientes. O sumário de urina geralmente demonstra leucócitos; entretanto, ele pode ser normal em aproximadamente 25% dos casos. As uroculturas só identificam os microrganismos causadores em cerca de um terço dos casos, e hemoculturas em apenas metade.
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