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Kamilla Galiza 4º Período Objetivos 1- Revisar a histopatologia do estomago 2- Rever a fisiologia da secreção gástrica 3- Identificar a etiologia e os fatores de risco da gastrite 4- Compreender a fisiopatologia (classificação), manifestações clinicas e as complicações da gastrite 5- Conhecer os critérios diagnósticos e a conduta terapêutica da gastrite Histopatologia do estomago A camada mucosa é composta por epitélio glandular, cuja unidade secretora é tubular e ramificada que desemboca na superfície, em uma área denominada fosseta gástrica. Dentro dessa camada mucosa existe uma lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo e uma lâmina muscular da mucosa. O epitélio que recobre a superfície do estomago e reveste as fossetas é colunar simples, e todas as células secretam muco alcalino, composto por água, glicoproteínas e lipídeos. O muco forma uma espessa camada que protege as células da acidez do estomago. A camada submucosa, localizada imediatamente abaixo da mucosa, é composta por tecido conjuntivo moderadamente denso que contem vasos sanguíneos e linfáticos, além das células em geral encontradas no tecido conjuntivo e esta infiltrada por células linfoides e macrófagos. O estomago também é tico em camadas musculares que ajudam na sua distensão e relaxamento, compostas por fibras musculares lisas orientadas em três direções principais: externa (longitudinal), média (circular) e interna (obliqua). Fisiologia da secreção gástrica Secreções gastrointestinais Ao longo de todo o sistema digestório, glândulas secretórias desempenham 2 funções básicas: • Produzir muco para lubrificar e proteger a mucosa da parede do sistema digestório. • Secretar líquidos e enzimas que facilitam a digestão e a absorção dos nutrientes. Células epiteliais secretoras de muco revestem a superfície interna e as depressões gástricas do estômago e funcionam como barreira protetora para toda a superfície gástrica. Além disso, a mucosa gástrica tem vários outros tipos de células que secretam substâncias necessárias à digestão. Isso inclui as células parietais, as células principais e as células G. • Células parietais: secretam ácido clorídrico (HCl) e fator intrínseco. As funções principais do ácido gástrico são decompor quimicamente e desinfetar os alimentos ingeridos. O fator intrínseco necessário absorção da vitamina B12. • Células principais: secretam pepsinogênio, que é convertido rapidamente em pepsina quando fica exposto ao PH acido dos sucos gástricos. A pepsina é uma enzima que inicia a proteólise (ou decomposição das proteínas). • Células G: localizado no antro, que fica no estomago, e secretam gastrina. Secreção ácida do estomago O mecanismo de secreção de HCl pelas células parietais do estômago envolve o transportador trifosfatase de adenosina (ATPase) que permuta hidrogênio (H+) por potássio (K+) e canais de cloreto (Cl–) localizados na sua membrana luminal. Durante o processo de secreção do HCl, o dióxido de carbono (CO2) produzido pelo metabolismo aeróbio combina-se com água (H2O) em uma reação catalisada pela anidrase carbônica e forma ácido carbônico (H2CO3), que se dissocia em H+ e bicarbonato (HCO3–). O íon H+ secretado com Cl– no lúmen gástrico, enquanto o HCO3– sai da célula e entra na corrente APG S1P2 – Gastrite poetica Kamilla Galiza 4º Período sanguínea a partir da membrana basolateral. O HCO3– absorvido é responsável pela “maré alcalina” (aumento do pH), que ocorre depois de uma refeição. Na membrana, o íon H+ secretado no estômago por meio do transportador H+/K+ATPase (bomba de prótons). O íon Cl– acompanha o H+ quando entra no estômago por difusão através dos canais de Cl– existentes na membrana luminal. Substancias que estimulam a secreção de HCL pelas células parietais Acetilcolina, gastrina e histamina. Embora cada uma dessas substâncias ligue-se a receptores diferentes da célula parietal e tenha mecanismo de ação independente, todas têm como função estimular o aumento da secreção de H+ por meio do transportador H+/K+ATPase. • Acetilcolina: é liberada pelos nervos vagais que inervam o estomago e liga-se aos receptores de acetilcolina (M3) das células parietais. • Gastrina: é secretada pelas células G do antro gástrico e alcança as células parietais por meio da circulação. Esse hormônio liga- se aos receptores de colecistocinina tipo 2 (CCK2) das células parietais. • Histamina: é liberada por células endócrinas especiais existentes na mucosa gástrica e difunde-se as células parietais adjacentes, onde se liga aos receptores de histamina tipo 2 (H2). Gastrite conceito Gastrite é a inflamação da mucosa gástrica. Existem várias causas de gastrite, mas a maioria pode ser agrupada em agudas ou crônicas. Classificação Aguda É um processo inflamatório agudo da mucosa, de natureza transitória. A inflamação pode causar vômitos, dor e hemorragia, assim como ulceração nos casos graves. A forma erosiva uma causa importante de sangramento gastrintestinal agudo. A gastrite aguda está associada mais comumente aos compostos irritativos locais, AINE (como AAS), álcool ou toxinas bacterianas. Uremia, tratamento com quimioterápicos para câncer e radioterapia do estômago também causam gastrite aguda. A gastrite aguda é um distúrbio autolimitado, com recuperação e cicatrização completas dentro de alguns dias depois da eliminação da condição ou do agente desencadeante. Crônica Caracteriza-se pela inexistência de erosões visíveis macroscopicamente e pela existência de alterações inflamatórias crônicas que, por fim, acarretam atrofia do epitélio glandular do estômago. Existe uma relação entre gastrite crônica e o desenvolvimento de úlceras pépticas e carcinoma do estômago. Os tipos de gastrite crônica são: • Infecção por H. pylori Causa mais comum de gastrite crônica. O H. pylori está em dois terços da população mundial. A gastrite causada por Helicobacter pylori é uma doença inflamatória crônica do antro e do corpo do estômago. Pode causar atrofia e úlcera péptica do estômago e está associada ao risco elevado de adenocarcinoma gástrico e proliferação de tecidos linfoides associados à mucosa que, em alguns casos, transforma-se em linfoma. É uma protobactéria que pode colonizar as células epiteliais secretoras de muco do estômago. O H. pylori tem vários flagelos que lhes possibilitam movimentar-se na camada mucosa do estômago, também secreta urease, isso ajudam na sobrevivência do microorganismo no ambiente ácido do estômago. O Helicobacter pylori produz enzimas e toxinas que têm a capacidade de interferir com a proteção local da mucosa gástrica contra a ação do ácido, causar inflamação intensa e desencadear Kamilla Galiza 4º Período uma reação imune. Desse modo, há aumento da produção de Citocinas pró-inflamatórias (IL6, IL8), que ajudam a recrutar e ativar neutrófilos. • Gastrite atrófica multifocal crônica É um distúrbio de etiologia desconhecida que acomete o antro e as áreas adjacentes do estômago. Essa doença é mais comum que a gastrite autoimune e é encontrada com mais frequência na raça caucasoide que nas demais raças. Como também ocorre com a gastrite autoimune, a gastrite atrófica multifocal está associada à redução da secreção ácida do estômago, mas não comum ocorrerem acloridria e anemia perniciosa. A gastrite autoimune crônica e a gastrite atrófica multifocal crônica geralmente causam poucos sintomas relacionados diretamente com as anormalidades gástricas. Quando há destruição acentuada das células parietais dos pacientes com gastrite autoimune, os pacientes geralmente também têm hipocloridria ou acloridria e hipergastrinemia. • Gastrite autoimune crônica Representa menos de 10% dos casos de gastrite crônica e consiste em uma forma difusa de inflamação gástrica limitadaao corpo e ao fundo do estômago, com pouco ou nenhum acometimento do antro. Esse tipo de gastrite causado por auto anticorpos dirigidos contra os componentes das células parietais das glândulas gástricas e o fator intrínseco. • Gastropatia química É uma lesão gástrica crônica resultante do refluxo do conteúdo duodenal alcalino, das secreções pancreáticas e da bile para dentro do estômago. Ocorre em pacientes após gastroduodenostomia ou gastrojejunostomia e em pacientes com úlceras gástricas, doença da vesícula biliar ou distúrbios da motilidade do estômago distal. Etiologia Não se definiu exatamente a razão exata da relação com o H. pylori e a gastrite crônica; contudo, acredita-se que seja pré-determinado pelos fatores socioeconômicos, ambientais e práticas culturais, além de possível predisposição genética. Diversos estudos sugerem que o fator genético tem menor influência que os fatores relacionados às condições de moradia Fatores de risco • Meus hábitos alimentares, como jejuns prolongados ou refeições muito rápidas. • Abuso de alimentos irritantes, café, chocolate e coca-cola. • Álcool, que diminui a barreira da mucosa do estomago. • Infecção pela H. pylori Fisiopatologia A gastrite é um processo decorrente da quebra da barreira mucosa alterações macro e microscópicas da mucosa do estomago, associadas a uma resposta inflamatória. Quando a mucosa gástrica está inflamada, produz menos acido, enzimas e muco. A luz gástrica possui um PH próximo de 1, um ambiente próprio para a digestão, mas com grande potencial de danificar a mucosa gástrica. Com isso, há mecanismos para proteção gástrica, como a produção de mucina, que forma uma camada de muco que promove a formação de uma camada inerte de fluido sobre o epitélio que protege a mucosa e tem PH neutro. Além disso, nas áreas do estomago em que há secreção de acido, uma onda alcalina capilar é gerada conforme as células parietais secretam o acido clorídrico na luz gástrica e bicarbonato nos vasos sanguíneos. Assim, a gastrite ocorre como consequência da perda de um desses mecanismos protetores. Os AINES inibem a síntese de prostaglandinas E2 e I2 dependente da COX, as quais estimulam quase todos os mecanismos de defesa e reduz a secreção e acido. Assim, o risco de gastrite aumenta, principalmente com o uso de ibuprofeno, aspirina e naproxeno. O uso de inibidores seletivos da COX-2 também pode causar gastrite. A lesão gástrica que ocorre nos pacientes urêmicos e naqueles infectados com H.pylore secretor de uréase pode ser decorrente da inibição dos transportadores gástricos de bicarbonato pelos íons Kamilla Galiza 4º Período amônio. Aqueda na liberação de oxigênio pode concorrer para uma incidência aumentada de gastrite aguda em altas atitudes. A ingestão de químicos agressivos, particularmente ácidos ou bases, tanto acidentalmente quanto por uma tentativa de suicídio, também resulta em lesão gástrica grave, predominantemente como resultado da lesão direta da mucosa epitelial e das células estromais. Morfologia Quando a doença é primaria, ela se limita à mucosa, mas quando associada a doenças inflamatórias sistêmicas, infecciosas ou não, o processo pode estender-se as demais camadas do órgão. Quando desenvolvida, observa-se edema e fenômenos degenerativos, intenso e difuso infiltrado inflamatório constituído predominantemente de neutrófilos na lâmina própria. Para ser considerada gastrite, é necessário a presença de neutrófilos. Quando ausentes, o termo é Gastropatia. A inflamação é mais intensa na mucosa antral, onde geralmente se inicia, podendo alcançar a mucosa do corpo e do fundo após alguns dias. Manifestações clinicas 1- Queimação 2- Epigastralgia 3- Desconforto abdominal 4- Náuseas e vômitos 5- Má digestão Sinais de alarme 1- Sangramento GI 2- Perda de peso involuntária e progressiva 3- Vômitos persistentes 4- Anemia por deficiência de ferro 5- História familiar de câncer epigástrico Caso haja sinais de alarme ou o paciente tenha mais de 50 anos deve ser realizada a endoscopia digestiva alta. Complicações A maioria das formas de gastrite crônica inespecífica não causam sintomas. No entanto, a gastrite crônica é um fator de risco para úlcera péptica, pólipos gástricos e tumores gástricos benignos e malignos. Algumas pessoas com gastrite crônica pelo H. pylori ou gastrite auto imune desenvolvem gastrite atrófica. A gastrite atrófica destrói as células do revestimento do estômago que produzem ácidos digestivos e enzimas. A gastrite atrófica pode levar a dois tipos de câncer: o câncer gástrico e o linfoma do tecido linfóide associado à mucosa gástrica (linfoma MALT) Diagnostico O exame mais importante para o diagnóstico de gastrite é a endoscopia com uma biópsia do estômago. Outros exames utilizados para identificar a causa da gastrite ou complicações são os seguintes: • Seriografia contrastada de esôfago, estômago e duodeno: O paciente engole bário, um material de contraste líquido que faz com que o sistema digestivo seja visível aos raios-x. Imagens de raios x podem mostrar alterações no revestimento do estômago, tais como erosões ou úlceras. Raramente utilizado na atualidade. • Exame de sangue: O médico pode verificar se há anemia, uma condição na qual a substância do sangue rico em ferro, a hemoglobina, está diminuída. A anemia pode ser um sinal de hemorragia crônica no estômago. • Exame de fezes: Este teste verifica a presença de sangue nas fezes, outro sinal de sangramento no estômago. • Exames para infecção pelo H. pylori: O médico pode solicitar teste respiratório, no sangue ou fezes para detectar sinais de infecção. A infecção pelo H. pylori também pode ser confirmada com biópsias do estômago durante a endoscopia. Conduta terapêutica Os medicamentos que reduzem a quantidade de ácido no estômago podem aliviar os sintomas que porventura acompanhem a gastrite e promover a cura do revestimento do estômago. Estes medicamentos são: • antiácidos, como o Alka-Seltzer, Maalox, Mylanta, Simeco plus. Muitas marcas no mercado usam diferentes combinações de três sais básicos - alumínio, cálcio e magnésio - Dispepsia funcional Kamilla Galiza 4º Período com íons hidróxido ou bicarbonato para neutralizar o ácido no estômago. Essas drogas podem produzir efeitos colaterais como diarréia ou constipação. • bloqueadores H2 da histamina, tais como Famotidina e a ranitidina. Os bloqueadores H2 diminuem a produção de ácido. • inibidores da bomba de prótons (IBPs), como omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol, esomeprazol e dexlansoprazole. Os IBPs diminuem a produção de ácido mais eficazmente do que os bloqueadores H2. Dependendo da causa da gastrite, medidas ou tratamentos adicionais podem ser necessários. Por exemplo, se a gastrite é causada por uso prolongado de AINEs, o médico poderá aconselhar suspender a ingestão do medicamento, reduzir a sua dose ou mudar para outra classe de medicamentos para a dor. O IBP pode ser utilizado para prevenir a gastrite de estresse em pacientes gravemente enfermos. O tratamento da infecção pelo H. pylori é importante, mesmo se a pessoa não está tendo sintomas da infecção. A gastrite do H. pylori não tratada pode levar ao câncer ou ao desenvolvimento de úlceras no estômago ou intestino delgado. O tratamento mais comum é uma terapia tríplice que combina um IBP e dois antibióticos - geralmente amoxicilina e claritromicina - para matar as bactérias. O tratamento também pode incluir o subsalicilato de bismuto. Após o tratamento, o médico poderá solicitar, quando necessário, um teste de respiração ou fezes, onde estiver disponível, ou, ainda, em nosso meio, novo exame endoscópico com o teste da urease, para certificar-se que a infecção pelo H. pylori desapareceu. Curando a infecção espera-se curar a gastrite e diminuir o risco deoutras doenças gastrointestinais associadas a ela, como úlcera péptica, câncer gástrico e linfoma MALT. Prevenção • respeite os horários das refeições. Separar algum tempo para café da manhã, almoço e jantar tranquilos não é luxo, é necessidade; • prefira fazer pequenas refeições ao longo do dia a fazer uma grande refeição depois de muitas horas em jejum; • mastigue bem os alimentos, pois a digestão começa na boca; • dê preferência a frutas menos ácidas, verduras e carnes magras. Evite: • tomar analgésicos; • café; • chá mate; • chocolate; • refrigerantes; • sal em excesso; • enlatados; • embutidos; • bebidas alcoólicas; • pimenta-do-reino; • leite e derivados; • frituras; • gorduras em excesso. Referencias 1. Porth CM, Matfin G. Fisiopatologia. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2015. 2. LONG, Dan L. et al. Medicina Interna de Harrison. 18 ed. Porto Alegre, RS: AMGH Ed., 2013. 2v. 3. BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo - Patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Gen, Guanabara Koogan, 2016. 4. FELDMAN, Mark; JENSEN, Pamela J. Gastritis etiology and diagnosis. UpToDate, 2021. 5. JENSEN, Pamela J. et al. Acute and chronic gastritis due to Helicobacter pylori. Up-to- date, 2019. 6. PEREIRA-LIMA, Júlio Carlos. Gastrite associada ao helicobacter pylori e dispepsia nao- ulcerosa: uma contribuicao ao seu estudo. 1993. 7. DDINE, Lissa Chamse et al. Fatores associados com a gastrite crônica em pacientes com presença ou ausência do Helicobacter Kamilla Galiza 4º Período pylori. ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (São Paulo), v. 25, n. 2, p. 96-100, 2012.
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