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Andressa Marques – medicina UFR SÍNDROMES CENTRAIS DE AMPLIFICAÇÃO DOLOROSA • O QUE É A DOR? →Uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial. (Associação Internacional para Estudos da Dor IASP) →Tipos de dor: nociceptiva, neuropática e nociplástica (ou de origem central) →Mecanismos de dor ANATOMIA E FISIOLOGIA DA DOR →Nociceptores: receptores teciduais ativados por estímulos dolorosos →Terminações livres de fibras A-delta (finamente mielinizadas) e C (não-mielinizadas) Andressa Marques – medicina UFR • A-delta: distribuição superficial corporal, músculo, articulações, dor rápida, em agulhada, bem localizada, lamina I e V • C: maioria dos tecidos; lenta, difusa, maçante, dolorida, lamina II (substância gelatinosa) →Tipos de nociceptores: • Mecanorreceptores de miliar alto: respondem à deformação mecânica • Nociceptores polimodais: respondem a uma variedade de estímulos (íons H2, 5-HT, citocinas, bradicininas, histamina, PGs e LTs) Andressa Marques – medicina UFR Andressa Marques – medicina UFR • VIAS DE DOR TRATOS ASCENDENTES →2º Neurônios para centros mais altos (tálamo) →Feixes espinotalâmico e esponoreticular TRATOS DESCENDENTES →Papel na modulação da dor →Noradrenalina e Serotonina (5-hidroxitroptamina = 5- HT) →Partem da substância cinzenta periductal e núcleo magno da rafe (este é rico em 5-HT) Andressa Marques – medicina UFR SÍNDROME DE DOR GENERALIZADA • CARACTERÍSTICAS →Hiperalgesia →Alodínia →Alteração do processamento sensorial da dor no SNC (córtex somatossensorial e ínsula) →Sintomas não dor: fadiga, memória, sono e humor – sintomas satélites →Sem resposta a medicamentos para dor aguda e dor por dano ou inflamação tecidual (AINES, opioides, injeções ou procedimentos cirúrgicos) →Dor nos 4 quadrantes e que envolve esqueleto axial FIBROMIALGIA →É uma síndrome dolorosa crônica, caracterizada principalmente por dor musculoesquelética generalizada e fadiga; →Afeta em torno de 0,2 a 5% da população geral mundial; No Brasil, prevalência de 2 a 2,5%; →2ª doença reumática mais frequente (1ª é a OA) →Acomete mais mulheres →Pode acometer qualquer idade ( →Geralmente começa com dor locorregional que se generaliza →Prevalência de dor musculoesquelética crônica 30% →Geralmente existe história familiar de dor crônica →É mais prevalente em pacientes com doenças crônicas. GENÉTICA Andressa Marques – medicina UFR →Parentes de 1º grau – 8x mais risco de desenvolver →Parentes têm maior risco de DII, desordens ATM, cefaleia e sd de dor regional →Polimorfismos de genes do metabolismo e quebra de neurotransmissores [polimorfismos de nucleotídeo único (SNP): SLC6A4 (gene transportador de serotonina), catechol-o-methyltransferase (COMT) – enzima que degrada dopamina, norepinefrina e epinefrina] →Epigenética: modula função do genoma e fenótipo sem alterar sequência de DNA FATORES AMBIENTAIS E ESTRESSORES →Infecção por EBV, parvovírus B19, brucelose e Lyme →Trauma físico (coluna) →Mais comum em pessoas com dor periférica: AR, EpA, hipermobilidade →Estressores psicológicos: trauma na infância e abuso, guerra, eventos catastróficos e persecutórios. FIBROMIALGIA E DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS →Depressão, ansiedade, TOC, transtorno de estresse pós-traumático são mais comuns →Gatilhos comuns entre FM e doenças psiquiátricas (ex: estresse no início da vida, trauma) →Fisiopatologia compartilhada: neurotransmissores que afetam transmissão da dor, também afetam humor, memória, fadiga e sono →38% dos pacientes com transtorno depressivo preenchem critérios para FM FIBROMIALGIA E DOENÇAS ENDÓCRINAS →62% dos pctes com Hashimoto preenchem critérios para FM ACR 2010 →Obesidade é fator de risco para FM (citocinas inflamatórias e neuroinflamação) →FM presente em 45% dos obesos FATORES DE RISCO MODIFICÁVEIS →Sono →Obesidade →Inatividade física →Insatisfação com trabalho ou com a vida FATORES DE MAU PROGNÓSTICO →Catastrofização – paciente que vê o pior em tudo →Medo de movimentar-se FISIOPATOLOGIA →Pode ser entendida como uma síndrome de sensibilidade central; →A sensibilização central pode ser definida como uma resposta anormal e inadequada do SNC aos estímulos periféricos em decorrência de uma hiperexcitabilidade neuronal, causando, no caso da fibromialgia, dor inadequadamente amplificada; →Os pacientes podem sentir dor pelo calor, com estimulação elétrica da pele e mesmo aos sinais auditivos; Andressa Marques – medicina UFR →Estudos vem mostrando que existe uma reestruturação de todo o sistema nociceptivo em pacientes com FM, permitindo que a dor se perpetue mesmo na ausência de dor periférica; →O fenômeno de sensibilização do SNC inicia-se já na infância e adolescência, e apresenta um forte componente genético. →Os genes envolvidos relacionam-se com enzimas que degradam monoaminas e com transportadores e receptores de serotonina e dopamina. →Centralização da dor = amplificação →Fibromialgia primária: cefaleia, ATM, SII, dismenorreia, cistite intersticial, fadiga, ansiedade e depressão => “top-down”: problema de modulação da dor →Fibromialgia secundária: OA, AR, EpA, anemia falciforme => “down-top”: excesso de estímulo Andressa Marques – medicina UFR • MODULAÇÃO DA DOR CONDICIONADA (VIAS DESCENDENTES) →Via serotoninérgica-noradrenérgica Diminuição de 3-metoxi-4-hidroxifentileno (líquor) Diminuição da serotonina, triptofano e ácido 5-hidroxi-indoleacético (soro) →Via opioidérgica Diminuição da ligação receptor de µ-opioide nas áreas de processamento de dor (cérebro) Aumento da atividade opioide endógena #opioides exógenos na FM: hiperalgesia por opioide/ pouco efetivos QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL →O principal sintoma é a dor difusa, generalizada e crônica, envolvendo regiões axiais e periféricas do corpo. →Dor generalizada: artralgia + “dor na carne” = doi tudo – pioram com frio e estresse →Os pacientes tem dificuldade em localizar a dor, muitas vezes apontando locais como músculos, ligamentos, bursas e tendões; →O caráter da dor varia, pode ser: queimação, pontada, peso ou mesmo sensação logo pela manhã de dor “de cansaço”. Geralmente o paciente sente-se pior do que quando se deitou, mas a dor e o cansaço persistem durante todo o dia. →A dor é de moderada a forte intensidade e pode estar associada a sensação subjetiva de edema e parestesias; →Alguns pacientes correlacionam o início da dor com um evento estressante, como um trauma físico ou psicológico. →Os pontos dolorosos (tender points) não representam uma estrutura anatômica definida, mas incluem sítios na musculatura, ligamentos ou áreas de bursas; →A resposta de cada paciente à pressão de cada ponto doloroso é variável; →Os pacientes com FM queixam-se muito de sono leve e não reparador; As alterações na polissonografia foram as primeiras alterações objetivas encontradas em FM, como a intrusão de ondas alfa em estágios de sono profundo. →Apneia obstrutiva do sono (perguntar se o paciente ronca, mesmo que não seja obeso) →A fadiga é uma queixa muito presente, com sensação de exaustão fácil e dificuldade para realização de tarefas laborais ou domésticas; →Problemas com a memória, concentração, análise lógica e motivação também são comuns. →90% dos pacientes apresentam manifestações satélites da doença, são elas: Andressa Marques – medicina UFR →Dentre os distúrbios de humor, temos: depressão, ansiedade, transtornos obsessivos-compulsivos e síndrome do pânico. →A depressão e as demais alterações do humor provocam a exacerbação dos sintomas e prejudicam as estratégias de enfrentamento (coping) do paciente diante da doença. →Temos na FM um comprometimento do estado de saúde,da capacidade para o trabalho, da qualidade de vida e da percepção de saúde, aumentando a incapacidade e/ou o afastamento do trabalho, reduzindo a produtividade; EXAME FÍSICO →Tender-points →Sem achados específicos →Pistas: • Palpação em direção caudal: músculos do antebraço, falanges e IFs • Dor difusa: todas as localizações ou principalmente antebraço • Desordem autoimune sistêmica: dor apenas nas IFs →POSSÍVEIS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: • Síndrome miofascial • Síndrome da fadiga crônica • Miopatias • Doenças neurológicas e neuromusculares (doença de Parkinson) • Miastenia gravis • Esclerose múltipla • Condições musculoesqueléticas não-reumáticas (dor limitada a regiões, como pescoço, ombros e costas; desalinhamentos articulares, história familiar de hipermobilidade • Exame físico: Trigger-points, articulações hipermóveis, hiperelasticidade cutânea, fragilidade cutânea • Testes genéticos de Sd de Ehrles-Danlos suspeite mais que outras síndromes de hipermobilidade Andressa Marques – medicina UFR • Hipotireoidismo/endocrinometabólica • Gastrointestinal • Infecciosas • Malignidades • Estenose espinhal e mielopatia • Drogas que causam dor difusa (estatina – miopatia/ opioides – hiperalgesia/ inibidores da aromatase – artralgia etc) CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS →A dor crônica generalizada se destaca como um discriminador da síndrome; →Fadiga crônica, sono não restaurador e distúrbios cognitivos são outros pilares, mas eles não eram incluídos em critérios antes de 2010. →A contagem de pontos dolorosos é parte fundamental dos critérios de 1990, mas é foco de debate hoje em dia; →Em 1990, o ACR publicou os critérios de classificação para a fibromialgia que combina dor difusa por pelo menos 3 meses e a presença de pelo menos 11 de 18 pontos dolorosos. Possuem sensibilidade de 88,4% e especificidade de 81,1%. As principais críticas aos pontos dolorosos seriam que muitos pacientes com FM apresentam múltiplos pontos dolorosos em outras localizações e outros pacientes podem apresentar menos de 11 pontos dolorosos. →Em 2010, o ACR publicou os Critérios Preliminares para o Diagnóstico de fibromialgia (ACR2010), que foram modificados em 2011 para fins de pesquisas. →Nestes novos critérios eliminam-se a contagem dos pontos dolorosos e criam-se 2 índices: o Índice de Dor Generalizada (IDG) e a Escala de Gravidade dos Sintomas (EGS) →No IDG são assinaladas 19 possíveis regiões em que o paciente sente dor, obtendo-se daí um escore que se situa entre 0 e 19. Andressa Marques – medicina UFR →Em 2016, uma nova revisão dos critérios de 2010/2011 foi publicada. Foram realizadas duas correções essenciais aos critérios anteriores – a presença de dor difusa volta a ser critério obrigatório e elimina-se a necessidade de exclusão de outras enfermidades no diagnóstico da FM. →Os critérios passariam a ser: a) Presença de dor generalizada, definida como a dor em pelo menos 4 a 5 regiões preestabelecidas; b) Os sintomas estão presentes em nível similar durante, pelo menos, 3 meses; c) Pontuações do IDG > 7 e EGS > 5; ou IDG de 4-6 e EGS>9; d) O diagnóstico de FM é válido independentemente de outros diagnósticos →A Sociedade Brasileira de Reumatologia estabeleceu diretrizes a fim de minimizar as dúvidas na aplicação de critérios para a classificação e o diagnóstico da FM (estas diretrizes não levaram em conta as modificações de 2016) • O diagnóstico de FM pode ser feito sem o uso dos critérios ACR 1990, entretanto sua aplicação junto aos critérios de 2010/2011 aumenta a acurácia; • A presença da dor difusa é fundamental para o diagnóstico de pacientes com suspeita de FM; • Os pontos dolorosos podem ser úteis no diagnóstico da FM quando avaliados contemplados nos critérios de 2010/2011. Sua contagem pode ser correlacionar com a intensidade de alguns sintomas, particularmente de estresse emocional. • Os distúrbios do sono e as alterações de cognição e fadiga devem ser considerados para o diagnóstico da FM. Sugere-se considera-los também na avaliação da gravidade dos pacientes com FM; • Recomendamos o emprego dos critérios do ACR 2010/2011 para o diagnóstico da FM; • A FM não deve ser considerada diagnóstico de exclusão, mas sugerimos sempre considerar os diagnósticos diferenciais com outras síndromes ou doenças com sintomas semelhantes, como recomendado pelos critérios do ACR 2010/2011. • Sugerimos a mensuração sistemática dos transtornos de humor por meio de instrumentos validados, adequados ao nível de atenção à saúde em que são aplicados, pois se mostram de grande importância na avaliação da gravidade dos pacientes com FM. TESTES LABORATORIAIS →O diagnóstico de FM é CLÍNICO! →Evitar: FAN e FR Andressa Marques – medicina UFR →Desconfiar do diagnóstico se: início dos sintomas > ou = a 55 anos de idade; dor musculoesquelética com exames laboratoriais alterados →Exames recomendados • GERAIS: HMG, ureia, creatinina, TGO, TGP, GJ, TSH, urina tipo 1 • Provas de atividade inflamatória: VHS e PCR • Eletrólitos: sódio, potássio e cálcio • Sorologias: HBV, HCV, Sífilis e HIV • Outros: PTH, eletroforese de proteína, CPK e vitD TRATAMENTO →Deve envolver estratégias não farmacológicas e farmacológicas em abordagem multimodal e com participação ativa do paciente.
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