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Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 1 DORES NOS MEMBROS INFERIORES DA CRIANÇA Introdução Casos de crianças com dores de origem traumática praticamente dispensam maior investigação clínica, enquanto as causas não traumáticas exigem uma avaliação pormenorizada. Exames subsidiários costumam ser puramente auxiliares para confirmar ou negar a hipótese formulada. O histórico de trauma facilita muito a localização da dor e a elaboração diagnóstica, mas a investigação das causas não traumáticas é mais difícil, podendo ser afecções sistêmicas ou irradiação da coluna vertebral. Por outro lado, o fácil diagnóstico de lesão traumática exige, em situações especiais, como na criança de baixa idade, uma investigação circunstancial quanto ao agente, pois pode se tratar e negligência ou mesmo abuso físico. A idade é essencial na avaliação de dores nas pernas. Em casos de bebês que ainda não caminham e não falam, a história clínica é fornecida pelos cuidadores e deve ser consistente, detalhada e complementada por exame físico acurado. Crianças maiores podem fornecer informações, que são complementadas pelas dos adultos. Lactentes têm uma vulnerabilidade muito grande do organismo, principalmente às infecções; cada bacteremia proveniente de um foco a distância, como as vias aéreas superiores, expõe as articulações a um risco de formação de êmbolos sépticos. Articulações que têm a metáfise óssea incluída no ambiente capsular, como as regiões proximais do fêmur e do úmero, podem disseminar um foco infeccioso inicialmente intraósseo, caracterizando a osteoartrite. O abscesso pode estar mascarado por um hematoma, mais viscoso ou serossanguinolento, com grumos; se houver pus, é preciso drená-lo, além de administrar antibioticoterapia apropriada. Sempre que possível, evitar as retrações de partes moles e manter a estabilidade esquelética ou articular. Crianças maiores apontam a localização dos processos infecciosos articulares ou ósseos e passam a claudicar e a “defender” a região da dor. O diagnóstico diferencial da dor no quadril pode ser difícil quando não houver febre ou manifestação de comprometimento sistêmico; principalmente nas crianças acima da idade pré-escolar, deve- se incluir a sinovite transitória e a doença de Legg-Calvé-Perthes. Febre Reumática A febre reumática (FR) é uma doença inflamatória que ocorre como manifestação tardia de uma faringotonsilite causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A (Streptococcus pyogenes), em indivíduos geneticamente predispostos. As manifestações da doença são variadas e acometem principalmente as articulações, o coração e o sistema nervoso central (SNC. Quadro clínico As manifestações clínicas da FR surgem em média após um período de latência de 2 a 3 semanas após a infecção estreptocócica, geralmente em escolares ou adolescentes, e são bastante variadas. Para fazer o diagnóstico de FR, nem sempre se detecta a história de tonsilite e, apesar do nome, a FR nem sempre é acompanhada de febre ou de manifestações articulares. Por isso, um conjunto de sinais e sintomas relevantes associados a alguns exames complementares compõem os critérios de Jones que facilitam o diagnóstico de um surto agudo de FR. Criterios maiores Os 5 critérios maiores são clínicos: artrite, cardite, coreia, nódulos subcutâneos e eritema marginado. A identificação de pelo menos 1 deles é essencial para o diagnóstico de FR. Artrite A artrite é definida pela presença de edema na articulação ou, na falta deste, pela associação de dor com limitação do movimento. A poliartrite é a forma mais frequente de apresentação da FR, ocorrendo em 75% dos casos. Acomete as grandes articulações (joelhos, tornozelos, punhos, cotovelos e ombros) e, ocasionalmente, também as pequenas das mãos e pés. A forma clássica é a poliartrite migratória (em média, 6 articulações), com evolução assimétrica, permanecendo de 1 a 5 dias em cada articulação em um surto total que dura em Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 2 média 1 a 3 semanas. Não é comum um grande aumento do volume ou eritema, mas a dor aos movimentos é intensa e, às vezes, incapacitante. Durante a evolução, enquanto a artrite atinge o máximo de sua sintomatologia em uma articulação, ela está apenas começando em outra ou outras, dando a impressão de que a artrite está migrando. A monoartrite é rara, mas pode ser vista em crianças que recebem anti-inflamatórios não hormonais (AINH) precocemente, causando supressão da inflamação, mas também tem sido relatada em pacientes em países com alta prevalência de FR. Uma característica importante é a rápida resposta aos AINH, que em 24 horas fazem cessar a dor, e em 2 a 3 dias, asdemais reações inflamatórias. Isso explica a razão de não se prescrever AINH nos primeiros dias de artrite em casos duvidosos, impedindo que se observe o caráter migratório característico e que facilita o diagnóstico. Cardite A cardite é o segundo critério maior mais frequente na FR. É a complicação mais grave e pode vir isolada ou associada a outros critérios maiores. Costuma ser diagnosticada nas 3 primeiras semanas da fase aguda. As válvulas mais acometidas na FR são a mitral e a aórtica. Durante o surto agudo, a lesão mais frequente é a regurgitação mitral, mas, diferentemente da regurgitação aórtica, tem maior tendência de regressão total ou parcial. Na fase crônica, ocorrem as lesões estenóticas. Coreia A coreia da FR tem maior período de latência do que outros critérios maiores, variando de 1 a 6 meses; por isso, a evidência da estreptococcia prévia pode não ser detectada. As manifestações clínicas da coreia instalam-se de maneira insidiosa, geralmente em um período de 1 a 4 semanas, e caracterizam- se pela presença de sintomas comportamentais (hiperatividade, desatenção, labilidade emocional e até tiques e transtorno obsessivo-compulsivo) e movimentos rápidos, incoordenados, arrítmicos e involuntários. A intensidade e a localização dos movimentos coreicos determinam prejuízos de função que podem se situar inicialmente em um hemicorpo (hemicoreia) e depois generalizar-se. Podem ser acompanhados de hipotonia muscular, que pode ser mais intensa que a hipercinesia e configurar o quadro de “coreia mole”. Se isso ocorrer em apenas um lado do corpo, pode dar a falsa impressão de hemiplegia. Os movimentos são mais facilmente observados na face e nas extremidades distais dos membros. O paciente não fica quieto quando se pede que olhe ou estenda os braços à frente do corpo ou acima da cabeça. O acometimento da musculatura bucofaríngea pode dar origem a distúrbios da fala (disartria) e da deglutição (disfagia). Os movimentos são exacerbados por estresse, esforço físico e cansaço e desaparecem com o sono. Às vezes, o paciente consegue conter os movimentos durante alguns minutos, mas logo em eguida volta a fazer caretas, elevar as sobrancelhas, virar o rosto e a não controlar os movimentos dos membros. A coreia é uma condição autolimitada cuja evolução varia em média de algumas semanas a 6 meses, com média de 3 meses. Alguns casos evoluem por mais de 6 meses e são denominados coreia crônica. A coreia pode recorrer geralmente associada a infecções intercorrentes, mesmo se o paciente estiver em uso correto de profilaxia e não for infectado por estreptococo. Classicamente, não deixa sequelas. Nódulos subcutâneos Ocorrem em apenas 2 a 5% dos casos, geralmente em pacientes com cardite grave. São estruturas arredondadas, de consistência firme, indolores, de distribuição simétrica, em diferentes tamanhos (0,5 a 2 cm) e em número variável, podendo chegar a dezenas. A pele que os recobre é normal. Localizam-se em superfícies extensoras das articulações como cotovelos, joelhos, metacarpofalângicas, interfalângicas, em proeminências ósseas do couro cabeludo, escápula e coluna (Figura1). Muitas vezes, só serão percebidos ao se procurar especificamente por eles pela palpação das áreas onde costumam surgir. O aparecimento dos nódulos geralmente é tardio em relação às outras manifestações, pois costumam aparecer após algumas semanas do início do surto agudo. A evolução é fugaz, em geral duram de 1 a 2 semanas, raramente mais de 1 mês, sobretudo Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 3 quando se inicia a corticoterapia para a cardite.6 Eritema marginado O eritema marginado é bastante raro (1 a 3%) e também está associado à cardite. Surge geralmente no início da doença como máculas circulares, ovaladas, róseas, que se expandem centrifugamente, deixando uma área central clara, com margem externa serpiginosa bem delimitada e contornos internos mal definidos. Não é pruriginoso, tem duração transitória (minutos ou horas), podendo aparecer em alguns dias e desaparecer em outros. Lesões isoladas tomam um aspecto anular enquanto a coalescência de diversas lesões resulta em formas bizarras, circinadas, irregulares, com distribuição pelo tronco, abdome, porção proximal dos membros inferiores e superiores; geralmente não ultrapassam cotovelos e joelhos e não aparecem na face. Dificilmente são percebidos em pacientes com pele escura. Pode persistir ou recorrer durante meses, mesmo quando outras manifestações clínicas e laboratoriais já cessaram. Criterios menores Existem 4 critérios menores: febre, artralgia, aumento do espaço PR no eletrocardiograma e aumento dos reagentes de fase aguda (velocidade de hemossedimentação – VHS e proteína C reativa – PCR). Diagnóstico O diagnóstico de FR é baseado nos critérios de Jones. A última revisão desses critérios ocorreu em 2015 e valoriza de modo diverso alguns critérios, caso estejam presentes em populações de baixo e de alto risco. A presença de 2 critérios maiores ou de 1 critério maior e 2 menores, apoiados pela evidência de infecção estreptocócica prévia, é suficiente para o diagnóstico do primeiro surto de FR. As recorrências podem ser diagnosticadas com a presença de 2 critérios maiores ou 1 critério maior e 2 menores ou 3 critérios menores.5 A coreia pura e a cardite indolente são exceções em que os critérios de Jones não precisam ser rigorosamente respeitados. A raridade de outras etiologias para coreia torna a sua presença quase um sinônimo de FR, mesmo na ausência de outros critérios ou da comprovação de estreptococcia prévia. Na cardite indolente, as manifestações clínicas iniciais são pouco expressivas e geralmente, quando o paciente procura o médico, as manifestações cardíacas podem ser a única manifestação clínica, já com exames de fase aguda e títulos de ASO normais. Artrite Idiopática Juvenil A Artrite Idiopática Juvenil, também denominada Artrite Reumatoide Juvenil, é uma doença inflamatória crônica que acomete as articulações e outros órgãos, como a pele, os olhos e o coração. A principal manifestação clínica é a artrite, caracterizada por dor, aumento de volume e de temperatura de uma ou mais articulações. Cabe ressaltar que em algumas crianças a dor é mínima ou até Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 4 mesmo inexistente. Caracteristicamente ela inicia sempre antes dos 17 anos de idade. A incidência da Artrite Idiopática Juvenil é desconhecida em nosso país, mas dados provenientes de países da América do Norte e da Europa indicam que cerca de 0,1 a 1 em cada 1.000 crianças têm essa doença. O que causa ? A causa exata da Artrite Idiopática Juvenil ainda não é conhecida. Fatores imunológicos, genéticos e infecciosos estão envolvidos. Estudos recentes mostram que existe uma certa tendência familiar e que alguns fatores externos, como certas infecções virais e bacterianas, o estresse emocional e os traumatismos articulares podem atuar como desencadeantes da doença. A artrite não é uma doença infecto- contagiosa e os pacientes podem (e devem) freqüentar normalmente creches, escolas, clubes e piscinas. Tipos: Existem 3 tipos mais comuns: pauciarticular (ou oligoarticular), poliarticular e sistêmico . No tipo pauciarticular são acometidas até 4 articulações, sendo os joelhos e os tornozelos as mais freqüentes. Crianças com este tipo de doença devem fazer avaliações oftalmológicas freqüentes (a cada 3 ou 4 meses), uma vez que a úvea (o colorido dos olhos) pode estar inflamada sem que haja qualquer sinal visível. No tipo poliarticular 5 ou mais articulações são envolvidas, com destaque para os joelhos, tornozelos, punhos, cotovelos e pequenas articulações das mãos e dos pés. Pode haver febre intermitente e o exame laboratorial Fator Reumatoide está presente em cerca de 10% dos pacientes. O tipo sistêmico tem caráter insidioso e caracteriza-se pela presença de artrite associada à febre alta em um ou dois picos diários (= 39º C), erupção na pele (rash cutâneo), gânglios, serosite (inflamação da pleura e do pericárdio) e aumento de fígado e baço ao exame clínico. Alguns pacientes, especialmente aqueles com o tipo pauciarticular e com fator antinúcleo (FAN) positivo, podem apresentar uveíte crônica, ou seja, uma inflamação em um ou nos dois olhos. A uveíte é, geralmente, assintomática e podem ser observadas complicações como glaucoma, catarata e até mesmo diminuição da visão, especialmente quando o diagnóstico é tardio. Daí a importância da detecção precoce através de exames oftalmológicos periódicos (biomicroscopia), a cada 3 ou 4 meses. A uveíte pode aparecer antes, simultaneamente ou anos depois da atrite. Diagnóstico O diagnóstico da Artrite Idiopática Juvenil é clínico e baseia-se na presença de artrite em uma ou mais articulações com duração igual ou maior a 6 semanas. Várias doenças, como por exemplo, as infecções, devem ser pesquisadas e descartadas, uma vez que a artrite é manifestação comum em várias doenças não reumáticas. Além da dor e da inflamação articular pode ser observada uma certa dificuldade na movimentação ao acordar (rigidez matinal), fraqueza ou incapacidade na mobilização das articulações, além de febre alta diária (> 39º C) por períodos maiores do que 2 semanas. Não existem exames laboratoriais específicos para esta doença. Nos casos de dúvida diagnóstica a opinião de um especialista pode ser de grande auxílio. Linfomas não Hodgkin Os linfomas não Hodgkin (LNH) são alterações monoclonais, com origem no sistema imunológico. São causados pela transformação de células progenitoras de origem linfoide em seus diferentes momentos de maturação. Os LNH podem apresentar diferentes aspectos clínicos e morfológicos na infância e Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 5 na adolescência. Esse fato provavelmente se deve à exposição maior do sistema imunológico no adolescente provocando mudanças significativas. A classificação dos LNH baseia-se nas diferentes linhagens linfoides que lhe dão origem. Diagnostico e classificação O diagnóstico dos LNH requer análise histopatológica da massa ou do líquido mais representativo. Deve ser tentado pela forma menos invasiva possível. Pacientes portadores de massa mediastinal são de alto risco para complicações cardíacas e/ou respiratórias graves se submetidos à anestesia geral. Nesses pacientes, o diagnóstico pode ser tentado por meio da análise de líquido pleural e/ou mielograma. Nos demais pacientes, o diagnóstico deve ser tentado em linfonodos periféricos sempre que presentes, evitando grandes cirurgias que levam a um atraso no tratamento. Nas grandes massas abdominais, o diagnóstico pode ser conseguido via coleta de líquido ascítico e/ou punção biópsia da massa dirigida por ultrassonografia. É importante que, por qualquer um dos métodos, se consiga material suficiente para diagnóstico completo: histologia, imuno- histoquímica ou imunofenotipagem e citogenética, quando indicada.A classificação dos LNH da infância é considerada mais fácil que dos adultos. Os LNH da criança são, em quase toda sua totalidade, linfomas de alto grau de malignidade que, de acordo com a sua origem celular, são hoje classificados conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 3 subgrupos: • linfomas de células B (Burkitt e difuso de grandes células); • linfomas linfoblásticos T e pré-B; • linfomas de grandes células anaplásicos. Os LB são caracterizados morfologicamente por células linfoides monomórficas que, segundo os morfologistas, teriam o aspecto de “céu estrelado”. Na medula óssea e/ou sangue periférico (FAB L3), são relativamente uniformes, têm quantidade moderada de citoplasma basofílico e são vacuolizados contendo núcleo de cromatina reticular. As células expressam imunoglobulinas de superfície (IgM k ou l, de cadeias leves) e envolvem translocações específicas envolvendo o oncogene C-MYC. A grande maioria dos linfomas linfoblásticos tem sua origem em células T (80%). Os demais originam-se de células pré-B. Os linfomas T apresentam imunofenótipo das células tímicas em estágio intermediário ou tardio de diferenciação. As neoplasias de células T são caracterizadas por várias anormalidades citogenéticas que causam ativação de fatores de transcrição, decorrentes de translocações específicas nos genes receptores de células T. Os LNH de grandes células podem ser difusos de grandes células, oriundos de células B, CD20+, tratados com os mesmos protocolos dos linfomas B, enquanto os anaplásicos de grandes células, oriundos de células T ou nulas, são, na grande maioria das vezes, CD30+ e expressam a enzima anaplasicolinfomacinase (ALK). Manifestações clinicas As manifestações clínicas do LNH variam de acordo com o tipo histológico e com o local primário. Os linfomas B, como já dito, podem ser LB ou linfomas não Hodgkin difusos de grandes células B (LNHDGCB). Esses dois tipos manifestam-se de formas diferentes em crianças e adolescentes. As manifestações clínicas dependem do local primário de acometimento; quando linfonodal periférica chama atenção do pediatra o aumento de volume dos linfonodos periféricos, principalmente cervicais e supraclaviculares, mas que podem comprometer qualquer cadeia. Os linfomas primários de mediastino têm como manifestação inicial tosse rebelde ao tratamento seguida de insuficiência respiratória, edema de fossas supraclaviculares, cervical e de face, que evoluem para uma síndrome de veia cava superior. Essa formação predispõe a tromboses. Esses linfomas também podem invadir o pericárdio com formação de derrame pericárdio e possível tamponamento cardíaco. Essa situação caracteriza uma emergência oncológica, e o diagnóstico e o tratamento devem ser feitos urgentemente, pois o risco de morte é iminente. Nos casos de comprometimento nodal disseminado, a Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 6 hepatomegalia e a esplenomegalia são frequentes; comprometimento renal é detectado na tomografia computadorizada (TC) ou na ultrassonografia, embora a função renal frequentemente esteja preservada; infiltração do SNC pode estar associada a paralisia de nervos cranianos, sinais de hipertensão intracraniana com cefaleia e vômitos. Os linfomas anaplásicos de grandes células (LAGC) apresentam- se frequentemente com envolvimento extranodal (60%), incluindo pele, osso e partes moles. Têm uma evolução mais indolente, com linfadenopatia com características duvidosas, muitas vezes confundindo o pediatra com linfonodos de origem não maligna. São frequentemente acompanhados dos chamados sintomas B – febre prolongada, perda de peso e prurido nos adolescentes. Podem aparecer em qualquer idade pediátrica e têm sido mais frequentes nos meninos. Os linfonodos periféricos são os mais comprometidos, seguidos dos retroperitoneais e mediastinais. O comprometimento do SNC ou da medula óssea é mais raro nesses linfomas que nos demais. Achados laboratoriais Os exames laboratoriais são fundamentais no diagnóstico e no estadiamento dos LNH. 1. Hemograma: pode ser normal, visto que a maioria dos linfomas não acomete a medula óssea. Nos casos de LNHLT com infiltração de medula, que, por definição, deve ser até 25%, o hemograma não manifesta alterações. Já na leucemia Burkitt (LB), as manifestações no sangue periférico podem mostrar alterações nas três séries, como observado nas demais leucemias. 2. VHS: a velocidade de hemossedimentação, totalmente inespecífica, costuma estar aumentada. 3. DHL: a desidrogenase lática, enzima intracelular, está tão mais elevada quanto a quantidade de células tumorais e a intensidade de apoptose (morte celular espontânea). A DHL tem sido considerada fator prognóstico principalmente nos linfomas B. Quanto mais elevada, pior o prognóstico. 4. Acido úrico: também pode estar elevado em consequência da morte celular espontânea. 5. Ureia e creatinina: devem fazer parte da avaliação inicial dos linfomas, visto que a infiltração linfomatosa dos rins e a lise tumoral com precipitação de urato nos túbulos renais podem levar à elevação. 6. TGO, TGP e gama GT: podem refletir comprometimento hepático por infiltração do parênquima e/ou compressão das vias biliares pela massa abdominal ao diagnóstico. 7. Eletrólitos: Na, K, Ca, P e Mg fazem parte da avaliação da síndrome de lise pré- tratamento e função renal. 8. Mielograma de três pontos diferentes: a infiltração medular pelo linfoma pode ser focal, e a coleta de material para mielograma de três pontos diferentes torna a avaliação mais fidedigna. 9. Imunofenotipagem do material do mielograma, líquido pleural e ascítico se presentes, e líquido cefalorraquidiano (LCR), se a celularidade estiver aumentada, pode ajudar na determinação da linhagem celular que originou o tumor. 10. Coleta de LCR: é fundamental na avaliação inicial para estadiamento e orientação terapêutica. Avaliação por imagens São obrigatórios no diagnóstico e estadiamento dos LNH os seguintes exames de imagem: • radiografia de tórax: investigação de massa do mediastino, metástases pulmonares e ainda eventuais processos infecciosos associados; • ultrassonografia do abdome: avaliação de toda a cavidade, fígado e baço e, principalmente, rins, vias urinárias e sistema coletor; • ultrassonografia do tórax: em caso de suspeita de derrame pleural; • ecocardiograma: em caso de suspeita de infiltração e derrame pericárdico; • ultrassonografia de testículo: em caso de aumento de volume testicular; • TC de tórax e abdome: sempre que as condições do paciente permitirem: • ressonância magnética (RM) de crânio: em caso de sinais clínicos de comprometimento central; • RM de coluna: em caso de manifestações clínicas de compressão radicular (emergência). Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 7 Os exames a seguir não são obrigatórios, mas podem colaborar com o estadiamento: • PET-CT-FDP: tomografia com mapeamento das áreas comprometidas com glicose marcada; • mapeamento ósseo; • endoscopia. Doença de Hodgkin Manifestações clínicas Como já dito, a DH é predominantemente linfonodal periférica, ao contrário do LNH na infância, cujo comprometimento mais frequente se dá em órgãos e linfonodos internos. A grande maioria da DH é cervical e supraclavicular. Os linfonodos comprometidos são endurecidos, geralmente não são únicos, mas formam um conglomerado de linfonodos no qual um é maior e mais central, com outros menores coalescentes e aderidos a planos profundos. Podem aparecer avermelhados e sensíveis à palpação, mas não dolorosos como os processos inflamatórios. Dois terços dos pacientes apresentam algum grau de comprometimento mediastinal, porém, vale lembrar que comprometimento de mediastino exclusivo é raro. A preocupação com a abordagem diagnóstica da criança portadora de massa de mediastinoe síndrome de cava ou mediastino superior, descritos anteriormente para LNH, é também pertinente para DH. Linfadenopatias inguinal e axilar podem ser mais raramente locais primários de acometimento da DH. Doença primária exclusiva subdiafragmática é muito rara – menos de 3% dos casos. Sinais e sintomas Além do aumento de uma ou mais cadeias linfonodais, periféricas, na maioria das vezes, a DH costuma cursar com febre diária maior que 38°C, anorexia, fadiga, prurido e perda de peso lenta e progressiva. Os sintomas sistêmicos são mais frequentemente vistos em doença avançada. Diagnóstico O diagnóstico da DH, assim como do LNH já descrito anteriormente, é feito pela biópsia do local comprometido de maior representatividade. Ao contrário do LNH, a grande maioria das manifestações da DH é linfonodal periférica. Mesmo quando se observam manifestações de mediastino e/ou abdominal, elas vêm acompanhadas de comprometimento periférico. DH com comprometimento mediastinal ou abdominal isolado são, respectivamente, 10% e 3% das DH na infância e adolescência. Atualmente, com base em estudos de imuno fenotipagem das células linfocíticas e histiocíticas e das células de Reed-Sternberg da DH clássica, a DH é classificada em imunofenótipo I (DH com predominância linfocitária) e DH II ou clássica. Achados laboratoriais Na grande maioria das vezes, as contagens hematimétricas não têm maior especificidade na DH localizada. Nos casos mais avançados, pode-se observar anemia resultante de alterações na mobilização do ferro. A anemia hemolítica Coombs positivo pode, em alguns casos, estar associada à DH. Nesses casos, é acompanhada de reticulocitose e hiperplasia normoblástica da medula óssea. Várias manifestações autoimunes podem estar presentes ao diagnóstico da DH: anemia hemolítica autoimune, neutropenia autoimune, plaquetopenia autoimune (PTI) e síndrome nefrótica. A VHS, o cobre sérico e a ferritina podem estar aumentados, refletindo alteração do sistema reticuloendotelial. Leucemias Introdução As leucemias são as neoplasias mais comuns da infância. Associadas às outras neoplasias malignas da infância, são as doenças com maior índice de mortalidade no Brasil e nos demais países. A etiologia ainda é desconhecida, mas existem fatores de risco diretamente relacionados às leucemias na infância: • radiação ionizante: exposição pré- natal a radiografias, irradiação terapêutica; • agentes quimioterápicos: alquilantes e epipodofilotoxinas aumentam o risco para leucemia mieloide aguda; • condições genéticas: síndrome de Down (incidência 20 vezes maior),5 neurofibromatose tipo 1, síndrome de Klinefelter, síndrome de Kostmann, anemia de Fanconi; Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 8 • tabagismo paterno e materno. As leucemias linfoides agudas (LLA) são as mais comuns, correspondendo de 75 a 80% dos casos, seguidas pelas leucemias mieloides agudas (LMA), entre 15 e 20%. A leucemias mieloides crônicas (LMC) são incomuns, variando de 2 a 5% na infância e adolescência. Leucemia linfoide aguda A LLA é uma neoplasia maligna com origem na medula óssea, decorrente de uma expansão clonal de células progenitoras, associada a mutações que inibem a apoptose. Em consequência à multiplicação desordenada de células anormais (linfoblastos), ocorre uma diminuição na produção de precursores de eritrócitos, leucócitos normais e plaquetas. Manifestações clínicas Os sinais e sintomas da LLA são decorrentes da infiltração neoplásica (linfoblastos) na medula óssea e da disseminação dessas células pela corrente sanguínea, para outros órgãos e sistemas. Geralmente, a evolução é de dias ou semanas, com piora gradativa ou mesmo súbita.3 A dor óssea é frequente, em geral ocorre em membros, principalmente inferiores, e pode tornar-se muito intensa, impedindo a deambulação. Ocorre em qualquer horário, diurno ou noturno, e é de difícil controle com analgésicos habituais. Artralgias e eventualmente artrites, resultantes de infiltrações articulares, podem ser confundidas com doenças reumatológicas. Alguns pacientes podem apresentar dor em determinado segmento de coluna vertebral, geralmente toracolombar, e, à radiografia, pode ser observado colapso vertebral. Pelo componente de medula óssea vermelha em diversos ossos durante a infância, mais de 50% das crianças com leucemia apresentam anormalidades no esqueleto, entretanto, esse fato ocorre em menos de 10% nos pacientes adultos. Embora o diagnóstico da doença seja feito por meio de punção de medula óssea, as lesões ósseas podem preceder os achados clínicos. A febre também é um sintoma muito prevalente e pode ocorrer em cerca de 50 a 60% dos casos, sendo uma manifestação relacionada à produção de citocinas pelas células normais ou leucêmicas. Frequentemente pode estar associada à infecção bacteriana, relacionada à neutropenia presente ao diagnóstico. Palidez, astenia, petéquias e equimoses também são sintomas comumente presentes ao diagnóstico. No exame clínico, além da palidez, fenômenos hemorrágicos e febre, frequentemente são observadas hepatomegalia, esplenomegalia e linfonodomegalias generalizadas. Outros órgãos, como timo, rins, pele, ovários, testículos e sistema nervoso central (SNC), também podem ser acometidos. Cerca de 5 a 10% das crianças apresentam infiltração no SNC ao diagnóstico, porém raramente apresentam sintomas neurológicos como cefaleia, vômitos, distúrbios visuais ou crises convulsivas. Pacientes com subtipo L2 (linfoblasto da linhagem de células T) podem apresentar sintomas respiratórios, como tosse, taquipneia e dispneia, pela presença de massa (aglomerados de linfonodos) no mediastino. Exames complementares Ao diagnóstico, o hemograma revela várias alterações sugestivas da doença e, muito raramente, não evidencia alterações significativas. A anemia é evidente em praticamente todos os casos e, em geral, é normocrômica, normocítica, com diminuição do número de reticulócitos. Pode ser leve, moderada ou grave. O número de leucócitos é quase sempre aumentado, não sendo rara leucopenia. Em algumas crianças, pode ser observada hiperleucocitose, acima de 50.000/mm3, o que indica maior gravidade. Os blastos (linfoblastos) quase sempre são descritos em porcentagens variadas. Linfocitose pode ocorrer e, em um grande número de pacientes, observa-se neutropenia. Considera-se neutropenia grave quando a contagem absoluta de neutrófilos está abaixo de 500/mm3, estando relacionada a um maior risco de infecção grave. Os outros tipos de leucócitos normais (eosinófilos, monócitos e basófilos) geralmente estão diminuídos ou ausentes.3 A trombocitopenia ocorre na maioria dos pacientes,7 e, em aproximadamente 75% Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 9 dos casos, a contagem é inferior a 100.000 plaquetas/mm3. Entretanto, trombocitopenia isolada é um evento raro. A gravidade e o grau do sangramento correlacionam- se com o grau da trombocitopenia. Hemorragia grave é rara mesmo com uma contagem de plaquetas abaixo de 20.000/mm3, a menos que febre e infecção (ambas podem afetar a função e a meia-vida das plaquetas) estejam associadas. Outras alterações laboratoriais devem ser avaliadas, podendo refletir o grau do excesso da proliferação e destruição das células leucêmicas. Na primeira avaliação, devem ser solicitados ureia, creatinina, eletrólitos, ácido úrico, gasometria, enzimas hepáticas, albumina, desidrogenase lática e sorologias. Caso o paciente tenha histórico de febre, também devem ser solicitadas hemoculturas, uroculturas e proteína C reativa. A radiografia de tórax deve ser feita em todos os pacientes, e a do esqueleto, em situações mais específicas de acordo com as queixas dolorosas. O envolvimento extramedular da doença pode ser detectado clinicamente ou demonstrado por exames e procedimentosespecíficos. Os sítios mais comuns são SNC, testículos, fígado, rins, linfonodos e baço. Entretanto, qualquer local pode estar envolvido na apresentação inicial ou nas recidivas (como pele, intraocular, cavidades pleurais e pericárdicas e ovários). Eletroencefalograma, tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) de crânio e/ou de coluna vertebral podem ser indicados em situações muito eventuais e bem específicas, conforme as apresentações clínicas. O diagnóstico é confirmado pelo mielograma, avaliando-se as características citomorfológicas dos blastos. Para o diagnóstico de LLA, devem ser observados, no mínimo, 25% de linfoblastos na medula óssea. De acordo com a classificação Franco-Americano-Britânica (FAB), existem três subtipos de blastos: L1, L2 e L3. O subtipo L1 é o mais comum.3 A imunofenotipagem realizada pela citometria de fluxo permite confirmar o diagnóstico e detectar doença residual mínima. Pela expressão de imunoglobulina citoplasmática e de superfície, podem ser indicados os três estágios de maturação de precursor B, ou seja, pró-B, pré-B e B maduro. Leucemia mieloide aguda (LMA) A LMA decorre de alterações nas células precursoras hematopoéticas primitivas da medula óssea, resultando na expansão de células leucêmicas que não completam a diferenciação normal. Essas alterações são transformações clonais resultantes de rearranjos cromossômicos e mutações gênicas. Manifestações clínicas O quadro clínico é decorrente do comprometimento infiltrativo da medula óssea por células leucêmicas (mieloblastos), com consequente diminuição das células progenitoras normais. Também pode estar associado ao comprometimento extramedular. Os sintomas mais frequentes são palidez, astenia e fenômenos hemorrágicos, geralmente com início súbito e piora gradativa. Pode haver febre secundária à infecção associada. A dor óssea ocorre com menos frequência. Os pacientes com subtipo M3 geralmente evoluem com hemorragia importante, por causa da associação com coagulação intravascular disseminada (CIVD) e fibrinólise secundária. A doença extramedular pode se manifestar como hipertrofia gengival, hepatoesplenomegalia, linfonodenomegalias, alterações de pele (lesões nodulares, avermelhadas ou purpúricas), comprometimento de SNC e, raramente, testicular. O sarcoma granulocítico ou cloroma geralmente se manifesta infiltrando a região orbitária ou periorbitária, causando ptose e raramente infiltrando ossos.4 Exames complementares O hemograma geralmente é sugestivo da doença, evidenciando anemia normocrômica normocítica, leucopenia e, mais frequentemente, leucocitose, associados a plaquetopenia e presença de mieloblastos. Cerca de 20% dos pacientes4 apresentam número de leucócitos acima de 100.000/mm3. Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 10 Assim como na LLA, outras alterações laboratoriais devem ser avaliadas, podendo refletir o grau do excesso da proliferação e destruição das células leucêmicas.3 É importante também analisar os exames relacionados à coagulação, pois os tempos de trombina e tromboplastina parcial podem ser prolongados, além da presença de hipofibrinogenemia, que é comum na leucemia promielocítica aguda. Caso o paciente tenha histórico de febre, também devem ser solicitadas hemoculturas, uroculturas e proteína C reativa. O mielograma, incluindo diferenciação morfológica, imunofenotipagem e citogenética, confirma o diagnóstico, bem como direciona o tratamento e correlaciona com o prognóstico. Análise do LCR para pesquisa da doença no SNC também deve ser realizada. A nova classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) aceita que a presença de, no mínimo, 20% de mieloblastos na medula óssea é suficiente para o diagnóstico da LMA, com algumas exceções. Segundo a classificação morfológica (FAB), os subtipos da LMA na infância e na adolescência são:4 • M0: indiferenciada ou com mínima diferenciação; • M1: mieloblástica aguda sem maturação; • M2: mieloblástica aguda com maturação; • M3: promielocítica aguda hipergranular; • M3v: promielocítica aguda variante microgranular; • M4: mielomonocítica; • M4Eo: mielomonocítica com eosinofilia; • M5a: monocítica aguda; • M5b: monocítica aguda com diferenciação; • M6: eritroleucemia; • M7: megacarioblástica. Leucemia mieloide crônica Caracteriza-se por ser uma doença mieloproliferativa, com hiperplasia mieloide na medula óssea, hematopoese extramedular e leucocitose com presença de precursores mieloides no sangue periférico. Manifestações clinicas e alterações laboratoriais A evolução da LMC ocorre em três fases: crônica, acelerada e blástica, com variações no quadro clínico e laboratorial dos pacientes. Fase crônica Nesta fase, em geral, os pacientes encontram-se clinicamente estáveis por vários anos e têm uma evolução média de 3 a 4 anos. Alguns podem ser assintomáticos e a maioria pode ter sintomas inespecíficos, como astenia, cefaleia, perda de peso, sudorese e febrícula. Cerca de 70% dos pacientes apresentam esplenomegalia, podendo ter sintomas relacionados, como dor e aumento de volume abdominal. No hemograma, a hemoglobina pode variar de 8 a 12 g/dL, o número de leucócitos é muito elevado, geralmente acima de 50.000/mm3, com desvio nuclear à esquerda, sem blastos ou pequena porcentagem. As plaquetas são normais ou até mesmo aumentadas. Na fase crônica, a medula óssea é hipercelular, com hiperplasia das séries granulocítica e megacariocítica, frequentemente também com aumento de precursores mieloides, eosinófilos e basófilos. Fase acelerada Pode ocorrer gradual ou abruptamente, com piora dos sintomas. Os pacientes não respondem bem à terapêutica convencional, e a fase tem duração média de 3 a 6 meses. Os sintomas acentuam-se e são relacionados à anemia, podendo ocorrer fenômenos hemorrágicos e dor óssea. Geralmente, nessa fase, ocorre aumento da esplenomegalia, e o fígado pode também estar aumentado. No hemograma, é evidente a piora da anemia, o número de leucócitos geralmente aumenta, o número de blastos também aumenta e as plaquetas diminuem, permanecendo geralmente entre 50.000 e 100.000/mm3. No mielograma, observa- se aumento dos blastos, entre 10 e 30%. Fase blástica Em geral, ocorre subitamente, com piora da sintomatologia, inclusive dos sintomas hemorrágicos. Além de hepatoesplenomegalia, os pacientes também podem apresentar linfonodomegalias generalizadas. Nesta fase, não há resposta Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 11 eficaz ao tratamento e geralmente os pacientes podem sobreviver no máximo até 6 meses. O hemograma revela anemia grave, leucocitose com aumento do número de blastos, podendo chegar até 30% ou mais. O número de plaquetas geralmente é menor que 20.000/mm3. O mielograma confirma o diagnóstico, junto com a alteração característica da citogenética, a presença do cromossomo Ph. No mielograma, na fase blástica, os blastos aumentam acima de 30%. TUMORES ÓSSEOS Os tumores ósseos caracterizam-se por uma proliferação anormal de células em determinado local do esqueleto. Podem ser primários, quando se desenvolvem originalmente no próprio tecido ósseo; ou secundários, quando são provenientes de outro local. Os tumores primários são mais frequentes em crianças, adolescentes e adultos jovens, podendo ser benignos ou malignos. Os tumores benignos geralmente têm evoluções muito lentas, muitas vezes iniciando na infância e sendo diagnosticados apenas na idade adulta. Frequentemente, o diagnóstico por imagem é suficiente, sendo raro necessitar de biópsia. O tratamento nem sempre é realizado pela intervenção cirúrgica. Os tumores ósseos benignos mais comuns na infância e na adolescência são osteocondroma, encondroma, osteoblastoma, osteoma osteoide, cisto aneurismático e displasia fibrosa. Os tumores malignos,ao contrário, têm crescimento rápido e progressivo, manifestando-se geralmente com aumento de volume doloroso, sem alívio com analgésicos comuns Osteossarcoma O osteossarcoma de alto grau é derivado principalmente das células mesenquimais primitivas e parcialmente da linhagem de células osteoblásticas, permanecendo ainda incerta a célula originária. Existem três subtipos convencionais de osteossarcoma: osteoblástico, condroblástico e fibroblástico, conforme a predominância da matriz do tecido tumoral. O tratamento e a evolução dos três subtipos são iguais. Há outros subtipos menos comuns, como paraosteal,periosteal e central de baixo grau, correspondendo a 5% dos casos. Os subtipos paraosteal e o de baixo grau têm prognóstico favorável com ressecção cirúrgica completa.5 Manifestações clinicas e diagnóstico Geralmente, as queixas mais comuns são dor e aumento de volume no local acometido, com piora progressiva e, em geral, sem melhora com o uso de analgésicos ou anti-inflamatórios prescritos de rotina. Frequentemente os sintomas são atribuídos a traumatismos relacionados a quedas ou decorrentes de prática esportiva, o que, não raro, leva ao atraso do diagnóstico. Dor no período noturno, sintomas associados, como febre e perda de peso, e persistência ou piora da dor devem alertar os pediatras e ortopedistas a uma urgente investigação ou encaminhamento para um centro de tratamento especializado.6 O osteossarcoma geralmente ocorre na porção metafisária dos ossos longos, sendo mais frequente no fêmur distal e na tíbia proximal, seguida pelo úmero proximal e A radiografia simples do osso afetado é útil para evidenciar algumas alterações, como lesões osteoblásticas, osteolíticas ou mistas. Geralmente, há um componente de tecidos moles com calcificações irregulares, resultantes de neoformação óssea. Podem também ser observadas espículas ósseas. Uma área triangular de calcificação periosteal entre a margem do tumor e o tecido normal é conhecido como triângulo de Codman, o qual é característico do osteossarcoma. A ressonância magnética (RM) é a melhor modalidade para acessar o componente de tecidos moles, as relações do tumor com os tecidos adjacentes, vasos e nervos e a extensão intramedular, cuja avaliação é essencial para indicação da cirurgia definitiva.Ao diagnóstico, é necessário ainda realizar tomografia computadorizada (TC) de tórax para pesquisa de metástases pulmonares e cintilografia óssea para detecção de metástases nos outros ossos. A avaliação completa do paciente deve incluir hemograma, funções renal e hepática, desidrogenase lática (LDH), fostatase alcalina Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 12 (FA), ecocardiograma, eletrocardiograma e audiometria. Sarcoma de Ewing O sarcoma de Ewing, o tumor neuroectodérmico primitivo (PNET), o sarcoma de Ewing extraósseo e o PNET toracopulmonar (tumor de Askin) fazem parte dos tumores da família Ewing (TFE). Em virtude das semelhanças histológicas, imuno- histoquímicas e de translocações cromossômicas, sugere-se que esses tumores tenham a mesma origem, ou seja, a partir das células progenitoras mesenquimais da medula óssea. O sarcoma de Ewing ósseo é mais comum e geralmente acomete ossos longos, pelve e esqueleto axial. Manifestações clinicas e diagnostico Os sintomas mais frequentes são dor e aumento de volume do local acometido, com piora progressiva, podendo limitar os movimentos. Nos pacientes com comprometimento da coluna vertebral, eventualmente podem aparecer sintomas neurológicos decorrentes de compressão de raízes nervosas. Nos diagnósticos tardios, também podem ocorrer febre, hiporexia, perda de peso, astenia e anemia. O sarcoma de Ewing primário ósseo pode acometer ossos longos, chatos e planos, ocorrendo em membros inferiores. Os tumores extraósseos acometem com maior frequência o tórax (32%), seguido por extremidades (26%), cabeça e pescoço (18%) e retroperitônio (16%). Em 9% dos casos, ocorrem em outros locais. Aproximadamente 25% dos pacientes apresentam metástasescao diagnóstico.10 O pulmão e os ossos são os locais maiscacometidos, seguidos pela medula óssea. Geralmente, as metástases pulmonares são assintomáticas. Os pacientes com metástases ósseas e/ou em medula óssea podem referir dor nos locais acometidos. Nos diagnósticos muito tardios, alguns pacientes podem apresentar linfonodomegalias, próximas ao local do tumor primário. Os pacientes com metástases pulmonares têm melhor prognóstico do que os que apresentam metástases em outros locais. A radiografia simples revela destruição óssea com margens pouco definidas, associada a descolamento do periósteo com aspecto de “casca de cebola”. A RM é o exame mais adequado para complementar a radiografia simples, pois permite detalhar todas as características do tumor, as relações com os tecidos adjacentes, vasos e nervos e a extensão intramedular. Para o estadiamento, é necessário solicitar TC de tórax, cintilografia óssea e biópsia de medula óssea. A tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT) vem sendo indicada em alguns centros de referência de tratamento. A avaliação completa laboratorial do paciente deve ser a mesma referida anteriormente em relação ao osteossarcoma. INDICAÇÃO DO USO DE VITAMINA D E CÁLCIO EM CRIANÇAS O cálcio e a vitamina D são nutrientes essenciais para o desenvolvimento de um esqueleto saudável. Necessidades de cálcio são elevadas durante a infância e adolescência, como resultado do intenso desenvolvimento ósseo e muscular, portanto, a ingestão adequada deste mineral durante o crescimento é extremamente importante para alcançar o pico de massa óssea, essencial na redução do risco de fraturas e osteoporose na idade adulta e senescência (2-3). Além disso, Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 13 mudanças hormonais durante a adolescência, associadas ao período puberal, promovem maior utilização de cálcio (2). No entanto, a maioria das crianças acima de 4 anos de idade e adolescentes não ingerem a quantidade recomendada deste nutriente (2). As principais fontes alimentares de cálcio são o leite e seus derivados, vegetais verde-escuros (brócolis, couve manteiga, espinafre), conservas de peixe inteiro com ossos como a sardinha, e alimentos enriquecidos. Deve-se considerar que fatores como a presença de fibras, fitato e oxalato nos vegetais podem diminuir a absorção intestinal de cálcio. Sendo assim, leite e produtos lácteos são os principais alimentos que contribuem para uma adequada ingestão diária deste mineral (4). A vitamina D é um hormônio fundamental para a homeostase do cálcio e para o desenvolvimento de um esqueleto saudável (5). Além disso, receptores deste hormônio podem ser encontrados em quase todos os tecidos do organismo, e outras ações extra ósseas têm sido imputadas a ele (5,6). Deficiência de vitamina D resulta em raquitismo em crianças e osteomalácia em adultos. Ingestão adequada deste nutriente também pode ajudar a reduzir o risco de osteoporose e fraturas ósseas na vida adulta (6). Apesar dos estudos serem escassos, observam-se altas prevalências de deficiência/insuficiência de vitamina D, e baixa ingestão desta vitamina e de cálcio em crianças e adolescentes brasileiros (7-8). Na forma natural, poucos alimentos contêm vitamina D. Estes incluem óleo de fígado de peixe, alguns tipos de peixe como sardinha, salmão, arenque e atum, e gema de ovo (1). Em países onde há fortificação de alimentos com vitamina D, o maior consumo dessa vitamina provém de alimentos fortificados, como leite, margarina, pães, cereais matinais e suco de laranja. O conteúdo de vitamina D em alimentos não fortificados é geralmente baixo, com exceção de peixes como o salmão e a sardinha, que chegam a conter de 5 a 15 μg (200 a 600 UI) (1,9). Baseada nas ações do cálcio e da vitamina D na saúdeóssea, a Ingestão Dietética Recomendada (Recommended Dietary Allowances – RDA) de cálcio e vitamina D para crianças e adolescentes está presente na tabela 1. A maioria das crianças e dos adolescentes é capaz de alcançar a quantidade recomendada de cálcio ingerindo 3 porções de produtos lácteos diariamente (4 porções diárias, para os adolescentes), ou equivalente (2). Quanto à vitamina D, a quantidade diária recomendada é extremamente difícil de ser alcançada apenas por fonte natural. Sendo assim, nos casos de insuficiência/deficiência desta vitamina (níveis séricos de 25OHD3 < 30ng/mL), tornam-se necessários o tratamento e a recomendação de alimentos fortificados com esta vitamina (9). Deve-se lembrar de que 90 a 95% da vitamina D corpórea é adquirida pela síntese cutânea e o restante pela ingestão de alimentos, sendo assim, exposição solar diária e de forma consciente deve ser recomendada (10). Além disso, a suplementação de vitamina D deve ser considerada em grupos com baixa exposição solar (7). Nos lactentes em aleitamento materno, recomenda-se a suplementação medicamentosa de vitamina D (400 UI/dia). DOR BENIGNO EM MEMBROS INFERIORES Dor anterior no joelho do adolescente A prática esportiva sem avaliação médica e orientação técnica especializada pode ser prejudicial, pois muitas vezes ultrapassa o limite biológico do sistema musculoesquelético, com risco de lesões por esforços repetitivos. É preciso que o médico, ao orientar um jovem e seus pais, reforce conceitos fisiológicos sobre saúde e atividade física, considerando o crescimento rápido que ocorre nesse período e a necessidade de autoafirmação por parte do jovem. É aconselhável que o jovem seja bem avaliado individualmente e orientado para uma atividade física pertinente, a fim de não se submeter a profissionais ou equipamentos inadequados aos objetivos de saúde física e mental. Não são recomendáveis, por exemplo, exercícios de musculação às meninas antes dos 14 anos e aos meninos antes dos 16 anos. A dor ou desconforto na região anterior do joelho do adolescente é uma sintomatologia quase sempre inespecífica e deve fazer parte do diagnóstico de algumas afecções que se localizam no quadril, pois pode ser uma dor referida. Os pacientes devem ser submetidos a uma anamnese completa e examinados deitados, devendo-se Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 14 avaliar coluna, quadris e todo o membro inferior. Além do inventário sobre atividades, vícios posturais, antecedentes pessoais e familiares, devem-se considerar predisponentes anatômicos locais, como instabilidade capsuloligamentar, instabilidade patelar, plica sinovial, osteocondrite dissecante, nevralgia traumática do nervo safeno, doença de Osgood-Schlatter e tendinite do polo inferior da patela (doença de Sinding-Larsen-Johanson). Muitos adolescentes não conseguem apontar o local de dor, indicando toda a região anterior do joelho. Essa dor ou o desconforto mal localizado, relacionados ou não com a atividade física, obrigam a investigação da musculatura e, frequentemente, o que se encontra é uma enorme retração dos músculos isquiotibiais. A comprovação clínica é feita pelo teste de flexão do quadril com o joelho mantido em extensão, o que provoca a retificação da lordose lombar acompanhada de dor moderada, mas aguda (tipo estiramento), que se localiza posteriormente na coxa ou no cavo poplíteo. A causa dessa inadequação não é clara, mas provavelmente é reflexo do desequilíbrio entre a atividade física (que é voltada apenas para o ganho de massa muscular), a ausência de exercícios para alongamento muscular e o ritmo de crescimento ósseo acelerado. Associa-se a isso o fato de que, em grande parte do seu tempo, o adolescente é sedentário, permanecendo sentado – e mal sentado – na escola, no carro ou diante do computador, mantendo uma atitude de flexão dos joelhos. Quando excluída uma causa orgânica estrutural mediante o exame físico – eventualmente, complementado por uma radiografia simples –, tem-se uma disfunção, cuja reabilitação se baseia em exercícios fisioterápicos para o reequilíbrio e a readaptação musculoesquelética. Entre as causas orgânicas mais comuns de dor na região anterior do joelho está aquela localizada na tuberosidade anterior da tíbia, onde se insere o ligamento patelar. Conhecida como doença de Osgood- Schlatter, o processo era mais comum nos meninos, mas, com o incremento das atividades físicas de jovens de ambos os sexos, tem se tornado frequente também nas meninas. Definida originalmente como traumatismo com avulsão parcial do tubérculo tibial, é tida hoje como epifisite (inflamação da epífise de tração), resultado de um processo contínuo de microtraumas por tração ou esforços constantes. Além da queixa de dor localizada que piora à digitopressão, à flexão máxima, à extensão abrupta e ao subir e descer rampas, ocorre o aumento de volume local com tumefação do tubérculo tibial anterior, muitas vezes bilateral. A investigação da mobilidade articular e da elasticidade dos músculos denuncia o encurtamento concomitante e significativo dos flexores dos joelhos (retração dos músculos isquiotibiais). A projeção de perfil exibirá uma irregularidade ou até mesmo a presença de um ossículo na inserção do ligamento patelar junto à tuberosidade anterior da tíbia. Tratamento conservador com aplicação de gelo (crioterapia) no local, uso de anti- inflamatórios não hormonais (AINH) e fisioterapia, que se inicia com medidas anti- inflamatórias locais seguidas de cinesioterapia com alongamento dos músculos isquiotibiais e quadríceps e, depois, fortalecimento equilibrado de ambos os grupos musculares. Períodos curtos de imobilização podem ser adotados quando a dor é muito intensa e o jovem não consegue deslocar-se durante as atividades da vida diária. Dores nas pernas A chamada “dor do crescimento” é um tema de discussão obrigatória para desmistificar situações que se consagraram e se perpetuaram sem uma consubstanciada investigação etiopatogênica. Não há localização exata, podendo ser apontada toda a perna, a coxa ou o cavo poplíteo. A mãe refere ainda que, após breve massagem, a criança logo adormece e acorda no dia seguinte sem qualquer manifestação da dor noturna. Raramente é necessário administrar analgésico. A anamnese dirigida confirma que não há regularidade para o aparecimento das dores, mas que frequentemente acontecem após um dia de atividade física recreativa mais intensa. É comum que a criança não seja muito disposta a caminhadas e menos interessada por esportes que utilizam a corrida. A mãe frequentemente informa que a Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 15 criança pede colo quando caminha, acha que a criança tem “marcha pesada” e que já procurou vários médicos, que teriam dito que era “normal, pois era dor de crescimento”. A investigação clínica inclui a história detalhada, seguida de um rigoroso exame clínico postural e de todo o sistema musculoesquelético quanto a inspeção, palpação e testes de amplitude articular. Frequentemente pouco substrato anatomofuncional é encontrado, restando duas situações bem identificáveis. Na primeira delas, a criança tem uma espécie de pé plano postural (perda do arco longitudinal do pé ao estar ereta, quando exerce as pressões de carga sobre o pé) e, ao exame do retropé, existe um valgo do calcâneo com uma angulação “negativa” do eixo do tendão calcâneo, mas que se torna “positiva” quando se solicita que a criança fique na “ponta dos pés”, refazendo-se o arco longitudinal e exibindo o verismo normal do calcâneo. O valgismo do calcâneo leva a uma dificuldade flagrante para a propulsão à marcha e a criança exerce a atividade em um limiar elevado de solicitação muscular. Em repouso, os músculos podem sofrer contrações e retrações adaptativas, que podem causar dor similar à das cãibras.Um teste clínico terapêutico simples constitui-se na adição de uma palmilha no interior do calçado com elevação da borda interna dos retropés (para neutralizar o valgo dos calcâneos) e apoio para o arco longitudinal. Ao usá-la, a criança passa a sentir maior conforto e tem melhor desempenho nas atividades físicas habituais. Pode-se dizer que passa a “gostar de usar a palmilha”, cansando- se menos e tornando-se mais competitiva. As dores noturnas praticamente desaparecem ou tornam-se muito mais espaçadas e raras. O acompanhamento clínico mostra que a criança, por si só, atingirá a superação dessa “dificuldade mecânica”, neutralizando o valgo com o próprio desenvolvimento e dispensando o uso da palmilha, uma vez que ela não é um artefato corretivo,mas um acessório coadjuvante temporário. Mais questionáveis são as dores nos membros inferiores das crianças geradas por adaptações do tronco ou das próprias pernas às alterações posturais torcionais. O exemplo mais comum desse tipo de acometimento é a persistência da torção externa da tíbia (mais comum à direita) da postura fetal, que, no crescimento, é compensada pela rotação interna de todo o membro inferior. Por vezes, as crianças são afligidas nos quadris, nos joelhos e até no tronco, mimetizando uma escoliose lombar por rodarem o tronco compensatoriamente sobre o membro inferior, o que poderia ser qualificado como síndrome torcional. Eventualmente, crises de dores são deflagradas nos quadris, o que leva a diagnósticos como a sinovite transitória do quadril. Diante desse quadro, é obrigatória a pesquisa do ângulo coxa-pé, que revela quase sempre uma torção interna ou externa da perna em relação ao fêmur. Não é necessária a correção, mas exige a compreensão dos pais e a consciência de que a dor ou o desconforto podem surgir nos excessos de solicitação mecânica da atividade da criança. O desenvolvimento e a prática diária vão promovendo fenômenos adaptativos compensatórios de rotação dos membros inferiores e do tronco, tornando a deformidade muito pouco perceptível esteticamente. RELAÇÃO DO QUADRO VIRAL COM SINOVITE E ARTRITE REACIONAL A sinovite transitória do quadril é uma condição inflamatória autolimitada e não específica. É a causa mais frequente de dor no quadril nas crianças com menos de 10 anos, acometendo mais os meninos que as meninas (3:1) e afetando mais o lado direito. É frequentemente precedida por infecção das vias aéreas superiores nos últimos 30 dias, mas não há comprovação de infecção nos dados laboratoriais ou mesmo no líquido sinovial eventualmente aspirado. A dor costuma aparecer subitamente, após atividade física mais intensa. O aumento do volume articular e a distensão capsular desencadeiam a dor, que pode irradiar-se para a face medial da coxa e do joelho, fazendo a criança claudicar. Pode haver um quadro pré- febril, mas a criança não fica prostrada e apenas a dor limita a sua atividade. A rotação interna do quadril e a adução causam aumento súbito da dor e, portanto, esses movimentos ficam limitados. A atitude Caroline Leão – FASAI – 7° período- fA FF- FAFASAI 16 antálgica mantém o quadril em um grau variável de flexão. Na investigação complementar, o hemograma e a velocidade de hemossedimentação (VHS) são normais ou discretamente alterados. A radiografia pode exibir distensão da cápsula articular, mas o exame mais apropriado é a ultrassonografia, não havendo necessidade de exames mais sofisticados e onerosos. O tratamento consiste de medidas gerais analgésicas e repouso. A reavaliação na fase ativa do processo é obrigatória, mesmo desaparecendo os sintomas, e também 8 a 10 semanas após o quadro agudo, para descartar afecção reumática e necrose avascular. A artrite reativa pós-estreptocócica pode ou não representar uma variante atenuada da febre reumática aguda (FRA). Os pacientes não têm sintomas ou sinais de cardite comuns na FRA. Comparada com a artrite da FRA, a artrite pós-estreptocócica reacional tipicamente envolve apenas 1 ou 2 articulações, é menos migratória, porém mais prolongada, e não responde tão bem ou tão rapidamente ao ácido acetilsalicílico. Outras doenças não reumáticas que causam sintomas semelhantes (p. ex., artrite de Lyme, artrite idiopática juvenil) devem ser excluídas. Pode ser tratada com outros anti- inflamatórios não esteroides ( AINEs), como ibuprofeno e naproxeno. Embora a prática clínica varie na prevenção secundária do comprometimento cardíaco, é recomendável profilaxia antiestreptocócica por vários meses a 1 ano e então para reavaliar o paciente. Se forem detectadas lesões cardíacas no ecocardiografia, indica-se a profilaxia a longo prazo. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/espiroquetas/doen%C3%A7a-de-lyme#v1008053_pt https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/espiroquetas/doen%C3%A7a-de-lyme#v1008053_pt https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/pediatria/artrite-idiop%C3%A1tica-juvenil/artrite-idiop%C3%A1tica-juvenil-aij
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