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ATIVIDADE INDIVIDUAL 
 
Matriz de análise 
Disciplina: Direito do Seguro e Resseguro Módulo: N/A 
Aluno: Malena Ferreira de Carvalho Turma: PGO_DSRPOSEAD-36_16082021_3 
Tarefa: Atividade Individual 
Introdução 
Órgão solicitante (órgão que solicitou o parecer): Seguradora 
Assunto (razão pela qual o parecer foi solicitado, o motivo): Análise de situação fática envolvendo a 
Construtora XPTO e a Seguradora relacionada a negativa de cobertura de seguro garantia com prognóstico 
de êxito para a Seguradora. 
Ementa: 
SEGURADORA. CONSTRUTORA XPTO. DIREITO CIVIL. DIREITO CONTRATUAL. SEGURO GARANTIA. 
CIRCULAR SUSEP Nº 477/2013. 
Relatório: 
Trata-se de uma consulta formulada a pedido da Seguradora, que busca de esclarecimento 
acerca da situação fática que será apresentada a seguir. 
A Construtora XPTO foi vencedora de uma licitação federal e firmou um contrato administrativo 
para construção de uma obra de grande vulto orçada em 980 milhões de reais. 
O contrato foi assinado em 25 de maio de 2023 devido a vigência concomitante da lei 8666/93 
até abril de 2022, sendo que as obras deveriam ser entregues até 25 de maio de 2027 e o pagamento 
se daria de acordo com um cronograma preestabelecido de medições. 
Na época, foi exigido pelo Governo Federal uma garantia no maior valor permitido pela Nova 
Lei de Licitações e Contratos Administrativos nº 14.133/2021, tendo a construtora oferecido um seguro 
cujas condições gerais seguem o texto padrão da Circular Susep nº 477, de 30 de setembro de 2013. 
Em 20 de fevereiro de 2025 a Seguradora foi surpreendida por uma notificação do Governo 
Federal cobrando desta uma multa de 120 milhões de reais, visto que houve rescisão do contrato 
administrativo que ocorreu após processo administrativo que culminou na aplicação desta multa à 
Construtora XPTO, que permaneceu inerte. 
A Seguradora negou cobertura alegando que a Construtora XPTO não cumpriu com as 
obrigações previstas em apólice. 
Este parecer tem o objetivo de analisar as obrigações pertinentes às partes e elaborar um 
parecer com um prognóstico de êxito. Para tanto será feita uma exposição de legislações e circulares 
pertinentes, princípios e doutrinas, visando trazer luz ao tema. 
É o relatório, pelo que passo a opinar. 
 
 
 
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Desenvolvimento 
 
O primeiro ponto que devemos avaliar no caso em tela seria quanto a prescrição. Tendo em 
vista que a Seguradora foi acionada a pagar a suposta multa de 120 milhões do processo 
administrativo movido pelo Governo Federal (“Segurada”) em face da Construtora XPTO (“Tomadora”), 
sendo que esta segunda permaneceu silente. O fato gerador da pretensão pode ter ocorrido há mais 
de um ano (prazo definido pelo §1º do art. 206 do Código Civil1), não tendo a Segurada neste caso 
direito a acionar a Seguradora. 
O seguro garantia é definido por Gladimir Polleto como aquele no qual as obrigações do 
tomador ante ao segurado são garantidas pelo segurador mediante o pagamento de um prêmio, 
exclusivamente dentro dos limites da apólice2. 
Este mesmo entendimento é confirmado por Renato Macedo Buranello, que define o seguro 
garantia como um instrumento pelo qual o interesse legítimo do segurado relativo à obrigação 
assumida pelo tomador é garantido por uma seguradora ou empresa garante.3 
A apólice de seguro neste tipo de seguro une tomador, segurador e segurado visando garantir 
as obrigações iniciais entre tomador e segurado. 
O art. 765 do Código Civil estipula que a relação entre o segurado e o segurador deve ser 
pautada no princípio da boa-fé e da veracidade4. 
Já o art 761 do Código Civil determina que o segurado deverá informar ao segurador o sinistro 
tão logo tenha ciência e tomar providências para minorar as consequências, sob pena de perder o 
direito à indenização5. 
No caso em tela, a Seguradora só foi notificada da suposta multa de 120 milhões ao final do 
processo administrativo contrariando as determinações dos artigos supracitados, tendo o seu direito ao 
contraditório e ampla defesa cerceado, constituindo também uma violação ao art 5º, LV, da 
Constituição Federal: 
 
“LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral 
são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela 
inerentes;”6 
 
 
1BRASIL, Lei 10.406/2002. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em 10 set. 2021. 
2POLETTO, Gladimir Adriani. O seguro garantia: em busca de sua natureza jurídica. Rio de 
Janeiro: Funenseg, 2003. p. 44. 
3BURANELLO, Renato Macedo. Do contrato de seguro – o seguro garantia de obrigações 
contratuais. São Paulo: Quartier Latin, 2006. p. 173. 
4BRASIL, Lei 10.406/2002. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em 10 set. 2021. 
5BRASIL, Lei 10.406/2002. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em 10 set. 2021. 
 
Os itens 4.1 e 4.2 da Modalidade II - SEGURO GARANTIA PARA CONSTRUÇÃO, 
FORNECIMENTO OU PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS, do Capítulo II, anexo à circular Susep também trazem 
determinações quanto à obrigação do Segurado em notificar o Segurador para fazer o registro da 
expectativa de sinistro que posteriormente seria oficializada a reclamação no momento da finalização 
dos procedimentos administrativos.7 
Desta forma, configura-se a pera de direitos do segurado nos termos do item 11, V do Capítulo 
I, anexo à circular Susep, visto que o Contrato teve como base o texto padrão Susep e suas 
determinações foram descumpridas pelo segurado no momento que este omitiu informações da 
Seguradora.8 
A jusrisprudência também entende desta forma como é possível avaliar no julgado abaixo: 
“ADMINISTRATIVO. SEGURO-GARANTIA. INADIMPLEMENTO DA TOMADORA. FALTA 
DE COMUNICAÇÃO. ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA. 1. Ao deixar 
de ter conhecimento acerca do inadimplemento contratual por parte da Tomadora, a 
seguradora apelada se viu impossibilitada de tomar providências para minorar as 
consequências, tanto para a segurada, como para a própria seguradora, trazendo 
prejuízo à apelada. Sabendo da inadimplência da Tomadora, a Seguradora ré poderia 
ter adotado os seguintes procedimentos: acompanhar os procedimentos de apuração 
das infrações contratuais cometidas pela Tomadora; realizar, por meio de terceiros, o 
objeto do contrato principal, e minorar as consequências do inadimplemento 
impugnado pela apelante. 2. Não há em ponto algum das Condições Gerais qualquer 
dúvida acerca das obrigações assumidas pela Segurada, tampouco acerca das 
condições que levam à isenção de responsabilidade ou à perda do direito à garantia 
securitária. 3. A cláusula que isenta a responsabilidade da seguradora, bem como a 
que exige a comunicação imediata do sinistro, são plenamente válidas e aplicáveis ao 
caso concreto, não havendo falar em abusividade das mesmas. 4. Improcedência do 
pedido de condenação da ré ao pagamento do valor de apólice de seguro-garantia 
relativo ao contrato de prestação do serviço de vigilância. 
(TRF-4 - AC: 50287689120134047000 PR 5028768-91.2013.404.7000, relator: 
FERNANDO QUADROS DA SILVA, Data de Julgamento: 24/02/2016, TERCEIRA 
TURMA, Data de Publicação: D.E. 25/02/2016) (TRF-4, 2013)”9 
 
Os itens 1.1 e 1.2 da Modalidade II - SEGURO GARANTIA PARA CONSTRUÇÃO, 
FORNECIMENTO OU PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS, do Capítulo II, anexo à circular Susep, determinam 
 
 
6 BRASIL, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em 10. set. 
2021. 
7CIRCULAR SUSEP Nº 477, DE 30 DE SETEMRBO DE 2013. Disponível em: 
<https://www.editoraroncarati.com.br/v2/Diario-Oficial/Diario-Oficial/circular-susep-no-477-de-
30092013.html#item5>. Acesso em 10 set. 2021. 
8CIRCULAR SUSEP Nº 477, DE 30 DE SETEMRBO DE 2013. Disponível em: 
<https://www.editoraroncarati.com.br/v2/Diario-Oficial/Diario-Oficial/circular-susep-no-477-de-30092013.html#item5>. Acesso em 10 set. 2021. 
9Disponível em: <https://trf-4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/381669811/apelacao-civel-ac-
50287689120134047000-pr-5028768-9120134047000/inteiro-teor-381669861> Acesso em 10 set. 
2021. 
 
 
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que estão garantidos pelo contrato de seguro garantia a indenização até o valor da garantia fixado na 
apólice, bem como os valores das multas e indenizações devidas à Administração Pública. 
A Lei 18.666/1993 estabelecia como teto da garantia em seu art. 56 § 3º, 10% do valor do 
contrato10. A Lei 14.133/2021 alterou esse limite para 30% do valor inicial do contrato, como é possível 
avaliar em seu art. 9911. 
Embora o contrato tenha sido assinado somente em 25 de maio de 2023, durante o período de 
vacatio legis, a Administração deveria indicar de forma expressa no edital qual a legislação seria 
aplicada conforme art. 191 da Lei 14.133/202112, portanto, é preciso avaliar se essa obrigação foi 
cumprida para avaliar se o valor da suposta multa está correto. 
 
Conclusão 
 
Ante o exposto, conclui-se que é preciso avaliar primeiramente se houve prescrição do direito 
do segurado contra o segurador. Não havendo neste cenário a obrigação de pagamento da cobertura 
pela Seguradora. 
Não cabendo prescrição, é necessário avaliar a perda de direito pelo Segurado em virtude do 
descumprimento contratual por parte deste, não tendo agido de boa-fé ao deixar de notificar a 
Seguradora. 
E não tendo êxito nas duas teses supramencionadas, deve-se avaliar se houve a opção pela 
aplicação da nova legislação no momento da divulgação do edital para avaliar se a multa que está 
sendo cobrada pela Segurada está correta. 
Sendo assim, é possível constatar que há um elevado prognóstico de êxito para o caso 
analisado. 
 
S. M. J é o parecer. 
 
Campinas, 11 de setembro de 2021. 
 
Malena Ferreira de Carvalho 
OAB/UF XXX.XXX 
 
 
 
10BRASIL, Lei 18.666/1993. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm>. Acesso em 10 set. 2021. 
11BRASIL, Lei 14.133/2021. Disponível em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.133-de-1-
de-abril-de-2021-311876884>. Acesso em 10 set. 2021. 
12BRASIL, Lei 14.133/2021. Disponível em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.133-de-1-
de-abril-de-2021-311876884>. Acesso em 10 set. 2021. 
 
Referências bibliográficas 
 
BRASIL, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em 10. set. 
2021. 
 
BRASIL, Lei 10.406/2002. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em 10 set. 2021. 
 
BRASIL, Lei 14.133/2021. Disponível em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.133-de-1-de-
abril-de-2021-311876884>. Acesso em 10 set. 2021. 
 
BRASIL, Lei 18.666/1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm>. 
Acesso em 10 set. 2021. 
 
BURANELLO, Renato Macedo. Do contrato de seguro – o seguro garantia de obrigações 
contratuais. São Paulo: Quartier Latin, 2006. 
 
CIRCULAR SUSEP Nº 477, DE 30 DE SETEMRBO DE 2013. Disponível em: 
<https://www.editoraroncarati.com.br/v2/Diario-Oficial/Diario-Oficial/circular-susep-no-477-de-
30092013.html#item5>. Acesso em 10 set. 2021. 
 
POLETTO, Gladimir Adriani. O seguro garantia: em busca de sua natureza jurídica. Rio de 
Janeiro: Funenseg, 2003.