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PROBLEMA 3- O BALCONISTA 1 MARIANNA SILVA LIMA PROBLEMA 3 – "O BALCONISTA" A Sra. Márcia, 49 anos, trabalha há 29 anos no serviço de limpeza de um órgão público em Goiás, onde frequentemente tem que carregar materiais pesados. Sedentária e obesa, há três semanas começou a sentir dores na região lombar, sem irradiação, que piora ao se movimentar ou quando carrega peso, e melhora com analgésicos e repouso. Procurou o serviço médico da UBS próxima a sua residência onde o médico, após examiná-la minuciosamente, não detectou alterações motoras, sensitivas ou autonômicas e prescreveu inicialmente um antiinflamatório não esteróide (AINE) e um relaxante muscular não benzodiazepínico, bem como dieta para perder peso e exercícios físicos regulares. Orientou que não era necessário solicitar nenhum exame de imagem naquele momento e que gostaria de acompanhar seu retorno dentro de 30 dias. Ao procurar a farmácia para adquirir a medicação, queixou-se do atendimento médico que tinha recebido ao balconista, pois ela queria um pedido de "ressonância" da coluna e também precisava de um remédio "mais forte" para a dor. O balconista, vendo a insatisfação da paciente, encaminhou a mesma para o recém inaugurado consultório farmacêutico na lateral da farmácia, lá a mesma foi atendida por um farmacêutico clínico, que após fazer sua anamnese, examinar a paciente e formular um diagnóstico, prescreveu o uso de prednisona por 7 dias. Satisfeita com o atendimento, a paciente iniciou o uso apenas da medicação prescrita pelo farmacêutico e não retornou na consulta médica. Instrução: Qualidade de vida e condições ergonômicas de trabalho são fatores que podem influenciar no surgimento da dor. OBJETIVOS DE ESTUDO: • Descrever os aspectos epidemiológicos da dor lombar, reforçando os fatores de risco, seu impacto econômico e social. • Classificar e descrever a dor lombar quanto a sua duração e etiologia. • Descrever o tratamento farmacológico e não farmacológico das lombalgias agudas, subagudas e crônicas. • Descrever quais os corticóides utilizados na prática clínica, seu mecanismo de ação, suas indicações como anti-inflamatórios e seus efeitos colaterais. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA – WHEELER, S. G.; WIPF, J. E.; STAIGER, T. O.; DEYO, R. A. Evaluation of low back pain in adults. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA. Acesso em 18/07/2016 – Ministério da Saúde. Antiinflamatórios e medicamentos utilizados no tratamento da gota. In: Formulário Terapêutico Nacional 2010. Brasília. Editora MS, 2ª Edição. 2010. Pgs 93-106 (Capítulo 3, Seção A) PROBLEMA 3- O BALCONISTA 2 MARIANNA SILVA LIMA – IMAMURA, M.; IMAMURA, S. T.; FURLAN, A. D. Lombalgias.In: Dor, Princípios e Prática. Porto Alegre: ARTMED Editora, 2011. Pgs 556-579 (Capítulo 47) – CHOU, R. Subacute and chronic low back pain: Pharmacologic and noninterventional treatment. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA. Acesso em 18/07/2016 – KNIGHT, C. L.; DEYO, R. A.; STAIGER, T. O.; WIPF, J. E.Treatment of acute low back pain. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA. Acesso em 18/07/2016 – Lei Nº 12.842, de 10 de julho de 2013 (lei do ato médico) – Resolução nº 585/586 de 29 de agosto de 2013, do Conselho Federal de Farmácia DESCREVER OS ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA DOR LOMBAR, REFORÇANDO OS FATORES DE RISCO, SEU IMPACTO ECONÔMICO E SOCIAL. EPIDEMIOLOGIA • A dor lombar é um dos maiores problemas de saúde no mundo ocidental. • Cerca de 70 a 85% dos indivíduos adultos irá apresentar um quadro de lombalgia em algum período de suas vidas • A incidência global de lombalgia é igual nos homens e nas mulheres, porém as mulheres apresentam mais incapacidade e queixam-se mais após os 60 anos de idade, talvez em decorrência da osteoporose. • Estima-se que cerca de 60–80% das pessoas venham a sofrer com lombalgia durante a vida. • Dessas, em torno de 2/3 terão recorrência e 1/3 vem a ficar incapacitado no período de um ano. • De acordo com os dados globais 2010 do Global Burden of Disease, a dor lombar resulta em mais incapacidades que qualquer doença. • A lombalgia constitui a principal causa de ausência no trabalho. Como dito anteriormente, a dor lombar é, no geral, autolimitada, durando cerca de 1 semana e, após 8 semanas, cerca de 90% dos casos evoluem para cura, apesar da alta taxa de recidiva. • O pico de prevalência da lombalgia está entre 45–60 anos, sendo mais recidivante em idades mais avançadas. • A dor lombar é uma condição que pode atingir até 65% das pessoas anualmente e até 84% das pessoas em algum momento da vida, apresentando uma prevalência pontual de aproximadamente 11,9% na população mundial, o que causa grande demanda aos serviços de saúde. • Entretanto, esses valores podem estar subestimados uma vez que menos de 60% das pessoas que apresentam dor lombar procuram por tratamento. • Apesar desses números, um diagnóstico específico sobre possíveis causas da dor lombar não é determinado entre 90- 95% dos casos, uma vez que a dor lombar apresenta caráter multifatorial. PROBLEMA 3- O BALCONISTA 3 MARIANNA SILVA LIMA • Todavia, existem autores que relacionam a presença da dor lombar a um conjunto de causas, como, por exemplo, fatores sociodemográficos (idade, sexo, renda e escolaridade), estado de saúde, estilo de vida ou comportamento (tabagismo, alimentação e sedentarismo) e ocupação (trabalho físico pesado, movimentos repetitivos). • Entretanto, em uma revisão sistemática conduzida por Vollin, foi verificado que nos países desenvolvidos onde a demanda física no trabalho é menos intensa, a prevalência da dor lombar é duas vezes maior, quando comparada à população dos países de baixa renda, onde a exigência física laboral é maior. • Com base nos achados deste estudo, o sedentarismo parece ter um maior impacto na ocorrência da dor lombar quando comparado ao trabalho físico intenso. • Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as dores da coluna (cervical, torácica, lombar e pélvica) são a segunda condição de saúde mais prevalente do Brasil (13,5%), entre as patologias crônicas identificadas por algum médico ou profissional de saúde, superadas apenas pelos casos de hipertensão arterial (14%). História Natural • A lombalgia aguda é uma condição autolimitada, e 90% dos pacientes recuperam-se espontaneamente no período de quatro a sete semanas. • Apesar da recuperação relativamente rápida, há tendência de recorrência dos sintomas dolorosos. Mais de 50% dos pacientes com episódio agudo de lombalgia apresentarão um novo episódio em um ano. • A persistência da dor lombar pode ser decorrente de fatores psicossociais e de distúrbios vasculares e da neuromodulação central da dor. A lesão tecidual ou a inflamação podem causar estímulos nociceptivos contínuos que se dirigem à medula espinal. • Isso determina o aumento da atividade no corno posterior da medula espinal, com períodos prolongados de descarga de longa duração que persistem mesmo após a cessação dos estímulos nociceptivos. • A repercussão clínica desse fenômeno é que os pacientes podem continuar a sentir dor por tempo prolongado, mesmo após a resolução da causa primária da dor. • A sensibilização de neurônios no corno posterior da medula espinal, fenômeno denominado sensibilização central (Cavanaugh, 1995), caracteriza-se pela redução do seu limiar de disparo, provocando alodinia (dor causada por um PROBLEMA 3- O BALCONISTA 4 MARIANNA SILVA LIMA estímulo que normalmente não provoca dor), aumento das descargas espontâneas e aumento da resposta aos impulsos aferentes, determinando a hiperalgesia, o aumento da resposta a estímulos repetidos e a expansão dos seus campos receptivos. • Os pacientes podem, então, apresentar uma experiênciadolorosa desproporcional à causada pela lesão tecidual, caracterizada pelos fenômenos de hiperalgesia, hiperpatia e até mesmo alodinia. Fatores de Risco Fatores individuais, posturais e ocupacionais, exercem influência na ocorrência das lombalgias. • Dentre os ocupacionais, destacamos os esforços sobre a coluna lombar caracterizados por levantar pesos, empurrar objetos pesados, permanecer na posição sentada por tempo prolongado, realizar tarefas monótonas ou que exijam a flexão e a rotação do tronco, expor-se a estímulos vibratórios por períodos longos, isoladamente ou combinados • Fatores constitucionais como o ganho de peso, a obesidade, a altura, a má postura, a fraqueza dos músculos abdominais e espinais e a falta de condicionamento físico (constituem fatores de risco para o desenvolvimento da lombalgia. • Fatores psicossociais como a depressão, a hipocondríase, a histeria, o alcoolismo, o fumo, o divórcio, o comportamento doloroso, além de outros fatores, foram descritos com maior frequência nos indivíduos com dor lombar. Indivíduos descontentes e desmotivados com a sua atividade ocupacional também podem apresentar maior ocorrência de dor lombar • A história prévia de lombalgia representa um forte indicador de riscos futuros, especialmente se os episódios anteriores foram graves e frequentes e houve necessidade de tratamento operatório. FATORES ENVOLVIDOS NA CRONICIDADE DA DOR Os principais fatores de risco envolvidos na cronicidade da dor lombar também podem ser classificados como individuais, psicoafetivos e ocupacionais. • Dentre os fatores individuais, ressaltamos a obesidade, o baixo nível educacional e os elevados níveis de dor e de incapacidade. • O humor depressivo, a somatização e a ansiedade constituem os fatores de risco psicoafetivos. • Já a insatisfação com o trabalho, a necessidade da realização de tarefas de levantamento de peso durante três quartos da jornada de trabalho e o retorno não gradual ao trabalho são os fatores ocupacionais relacionados com a cronicidade do quadro doloroso Anatomia Funcional da Coluna Lombar: Funcionalmente, a coluna lombar pode ser dividida em compartimentos anterior, médio e posterior. PROBLEMA 3- O BALCONISTA 5 MARIANNA SILVA LIMA Cada compartimento constitui uma unidade mecânica funcional. • O compartimento anterior é constituído dos corpos vertebrais e do disco intervertebral. Está adaptado à absorção de choques e à sustentação de peso. • O compartimento médio é formado pelo canal medular e pelos pedículos. • O compartimento posterior protege os elementos neurais e é o responsável pelo direcionamento das unidades funcionais nos movimentos de flexão anterior e extensão, flexão lateral e rotação. PROBLEMA 3- O BALCONISTA 6 MARIANNA SILVA LIMA • A quantidade de força aplicada ao segmento lombar depende do tipo de atividade e da postura do indivíduo demonstra as pressões discais em L3 em diversas posições do indivíduo. • O disco intervertebral sofre maior pressão na posição sentada com flexão do tronco. • O suporte dinâmico da coluna lombar é realizado por quatro grupos musculares: os extensores, os flexores anteriores, os flexores laterais e os rotadores. • Em condições normais, os músculos extensores e os rotadores são os principais responsáveis pelo suporte da coluna vertebral. • Os músculos eretores da espinha, os semiespinais e os interespinais resistem à ação da gravidade na posição ereta. • No movimento de flexão anterior, produz-se uma compressão da parte anterior do disco e uma expansão da parte posterior, e, ao mesmo tempo, separam-se as facetas articulares das articulações posteriores. • No movimento de extensão, as modificações são inversas. • O movimento de flexo-extensão se realiza em sua quase totalidade a expensas da coluna lombar e cervical. • As flexões laterais determinam uma separação da metade lateral do disco e das facetas das articulações posteriores do lado da convexidade e uma aproximação do lado da concavidade. • Esse movimento está limitado pelos ligamentos intertransversos e pelas costelas. • As rotações são possíveis graças à disposição das fibras do anel e estão limitadas pela situação do plano das articulações posteriores. A maior parte dos movimentos da coluna está limitada pelos ligamentos que unem as vértebras entre si. • O ligamento longitudinal anterior se estende desde o crânio até o sacro, ao longo da face anterior da coluna. Sua face interna profunda está aderida ao corpo vertebral, e não ao disco. • O ligamento longitudinal posterior está situado na face posterior dos corpos vertebrais, dentro do conduto raquídeo, e, diferentemente do ligamento anterior, insere-se nos discos. PROBLEMA 3- O BALCONISTA 7 MARIANNA SILVA LIMA • Os ligamentos amarelos se inserem na superfície articular de uma lâmina e na borda superior da lâmina imediatamente inferior. • Os ligamentos intertransversos são constituídos por conexões fibrosas entre as apófises transversas. • Os ligamentos interespinais unem a base das apófises espinhosas com a borda superior da correspondente à vértebra inferior. • O ligamento supraespinhal é uma corda fibrosa contínua que se adere ao vértice dos processos espinhosos. A estabilidade da coluna depende dos ligamentos e da ação muscular. • Do ponto de vista biomecânico, pode ser considerada como uma viga dinâmica, suportando cargas de compressão, de tração e de cisalhamento longitudinal e transverso. • Para a manutenção dessa viga dinâmica em posição de equilíbrio, um conjunto sinérgico e antagônico de esforços musculares determina as curvas de adaptação no sentido ântero-posterior, a lordose lombar, contra as cargas oriundas dos membros inferiores. • Enquanto o corpo vertebral recebe as cargas de compressão, a lâmina recebe as cargas equilibrantes de tração, com o auxílio dos músculos e dos ligamentos situados nas goteiras paravertebrais. • O disco intervertebral tem papel importante na absorção de energia mecânica, sofrendo deformações elásticas frente aos esforços. As sobrecargas são menores sobre o canal raquidiano e sobre os pedículos vertebrais. • Essas estruturas não sofrem forças nem de compressão nem de tração. • As articulações interapofisárias são elementos primordiais na estabilização e no equilíbrio da coluna. Os discos intervertebrais mais sobrecarregados estão entre L4-L5 e L5- S1. Esses discos sofrem enorme ação mecânica por serem os principais locais de movimento da coluna no sentido ântero- posterior e látero-lateral. PROBLEMA 3- O BALCONISTA 8 MARIANNA SILVA LIMA CLASSIFICAR E DESCREVER A DOR LOMBAR QUANTO A SUA DURAÇÃO E ETIOLOGIA. As lombalgias podem ser classificadas de acordo com a duração, o padrão e a etiologia. Quanto à duração, as lombalgias são classificadas em agudas, subagudas e crônicas. • A lombalgia aguda tem início súbito e duração inferior a quatro semanas (Fig. 47.1). • As de duração entre 4 e 12 semanas são denominadas subagudas, e as lombalgias com duração maior do que 12 semanas são consideradas crônicas. Apesar de essa classificação ser bastante intuitiva, na maioria das vezes o paciente apresenta um problema recorrente que não se encaixa em nenhuma categoria. Esse modelo de três fases foi desenvolvido a partir dos estudos de lombalgia em trabalhadores que não retornavam ao trabalho. Quanto à etiologia, as lombalgias podem ser classificadas em específicas e inespecíficas. • São denominadas lombalgias inespecíficas as queixas de dor lombar que ocorrem sem uma causa anatômica ou neurofisiológica identificável. Atualmente, são descritas as seguintes causas de lombalgias específicas: hérnias discais; espondilolistese; estenose do canal medular; instabilidade definida acima de 4 a 5 mm no estudo radiológico dinâmico de flexão e extensão; osteoporose;fraturas vertebrais; tumores; e infecções e doenças inflamatórias no nível da coluna lombar. • Evidências sugerem que menos de 15% das pessoas com lombalgia apresentam a do tipo específica. PROBLEMA 3- O BALCONISTA 9 MARIANNA SILVA LIMA Além disso, a lombalgia pode ser classificada quanto à etiologia por mecânica (com ou sem irradiação), não mecânica ou referida. O que é lombalgia crônica inespecífica? A lombalgia crônica inespecífica é caracterizada por sintomas na região lombar, com ou sem irradiação, que compreendem a maioria as dores lombares em pacientes com problemas relacionados à coluna vertebral. • O corpo humano tem um centro gravitacional onde mantém o equilíbrio entre músculos e ossos para manter a integridade das estruturas, protegendo-as contra traumatismos independente da posição (em pé, sentada ou deitada). • Na lombalgia crônica inespecífica geralmente ocorre um desequilíbrio entre a carga funcional (esforço requerido para atividades do trabalho e vida diária) e a capacidade (potencial de execução para essas atividades). • Esse tipo de lombalgia se caracteriza pela ausência de alteração estrutural, ou seja, não há redução do espaço do disco, compressão de raízes nervosas, lesão óssea ou articular, escoliose ou lordose acentuada que possam levar a dor na coluna. Apenas 10% das lombalgias tem uma causa específica de doença determinada. • Mesmo sem a presença de uma alteração estrutural a lombalgia inespecífica pode causar limitação das atividades de vida diária e incapacidade para o trabalho, podendo ser temporária ou permanente, sendo que essa é uma das principais causas de falta no trabalho no mundo ocidental. https://blogfisioterapia.com.br/boa-avaliacao-estatica/ PROBLEMA 3- O BALCONISTA 10 MARIANNA SILVA LIMA • A lombalgia crônica inespecífica é responsável por 80% de todos os casos registrados em pacientes entre 25 e 55 anos de idade, constituindo subgrupos de pacientes onde a dor não possui uma origem específica e na maioria das vezes são mal definidas quando ao diagnóstico. • A incidência da doença é maior em trabalhadores que são submetidos a esforços físicos pesados, como levantamento de pesos, movimentos repetitivos e posturas estáticas frequentes. • A lombalgia crônica inespecífica possui evolução favorável e com bom prognóstico, sendo que 75% dos indivíduos se recuperam em quatro semanas, 90% em três meses e 95% em seis meses. Aproximadamente 14% a 50% dos pacientes apresenta recorrência, dependendo da atividade de trabalho. • É importante identificar os pacientes com risco de recorrência por diversas razões. Primeiro porque a história da dor lombar inespecífica mostra que pacientes com recuperação mais lenta apresentam um risco elevado de recorrência, cronicidade e cuidados prolongados, o que gera custos elevados e diminuição da qualidade de vida por causa do sofrimento humano. • A prevalência da lombalgia inespecífica é maior no sexo feminino. Alguns autores acreditam que mulheres apresentam mais riscos que os homens por causa das particularidades anátomo-funcionais que quando somadas, podem facilitar o surgimento da lombalgia. • Mulheres apresentam menor estatura, menos massa muscular, menos densidade óssea, maior fragilidade articular e menor adaptação ao esforço físico. Além disso a soma da carga imposta pela feitura das atividades domésticas potencializa esse risco. Características Clínicas • A dor de início súbito e de forte intensidade, de caráter lancinante, do tipo queimor, choque e latejamento, que se inicia na coluna lombar e irradia-se para o membro inferior, atingindo a extremidade distal, e que piora com a tosse e o espirro geralmente é de origem neurológica. • A dor de origem mecânica localiza-se na coluna lombar, podendo irradiar-se para os membros inferiores e podendo ou não acompanhar a distribuição nervosa. Geralmente é agravada pelo movimento da coluna lombar. • A dor de origem vascular tem características próprias, como a claudicação intermitente, e geralmente é acompanhada por alterações na temperatura e na coloração do tegumento e por alteração trófica. • Os distúrbios da sensibilidade (como a queixa de parestesias ou áreas de anestesia), da motricidade, dos movimentos autonômicos e do controle esfincteriano também podem auxiliar no diagnóstico etiológico. https://blogfisioterapia.com.br/reabilitacao-de-pacientes-com-avc/ https://blogfisioterapia.com.br/reabilitacao-de-pacientes-com-avc/ PROBLEMA 3- O BALCONISTA 11 MARIANNA SILVA LIMA • Devido à natureza benigna das lombalgias agudas inespecíficas, 90% melhoram espontaneamente, e é importante reconhecer a reduzida porcentagem das lombalgias específicas. • Indivíduos com idade acima de 50 anos, apresentando queixa dolorosa por mais de um mês, com antecedente pessoal de tumor maligno, perda inexplicável de peso, dor noturna e ausência de melhora clínica após um mês de tratamento conservador devem ser investigados quanto à presença de quadros • No nível da coluna lombar, são frequentes as metástases de processos tumorais primários de mama, próstata, tireoide, pulmão e rins. • As fraturas e as compressões devem ser suspeitadas em idosos com história de traumatismos ou uso de corticoides. • Em pacientes acima de 50 anos, com queixas de claudicação neurogênica, deve-se suspeitar de estenose do canal medular (Turner et al., 1992). • O principal dado da anamnese de pacientes com hérnias discais é a história de ciática. • Os pacientes com espondilite anquilosante geralmente iniciam suas queixas com idade inferior a 40 anos e apresentam lombalgia com duração superior a três meses, que não melhora na posição supina e é acompanhada de rigidez matinal no nível da coluna lombar. CAUSAS • A lombalgia crônica inespecífica não apresenta uma causa aparente, pois não está ligada a nenhuma doença como infecção tumor, osteoporose, processos inflamatórios e etc. • Na maioria dos casos a dor está ligada apenas a má postura, excesso de peso e sedentarismo. Alguns outros fatores que podem contribuir para distorções posturais são: • Atitudes Habituais ou Profissionais (Permanência na Posição de Pé ou Sentada por Muito Tempo) • Obesidade • Abdome em Pêndulo • Visceroptose • Pé Vicioso • Massas Musculares Insuficientemente Desenvolvidas https://blogeducacaofisica.com.br/ganho-massa-muscular/ PROBLEMA 3- O BALCONISTA 12 MARIANNA SILVA LIMA O excesso de peso produz uma maior pressão sobre as estruturas da coluna (discos intervertebrais, raízes nervosas, articulações interapofisarias e ligamentos intervertebrais) resultando em dor. • Outros fatores que contribuem para a lombalgia no paciente obeso são a flacidez e a distensão da parede abdominal, que impede o suporte adequado para a coluna. EXAME FÍSICO DO QUADRIL • Observar a marcha normal, na ponta dos pés e apoiado no calcanhar: pessoas com dor intensa podem apresentar uma marcha “dura”, e, se houver radiculopatia, pode haver favorecimento de um membro. • Dificuldade para andar apoiado no calcanhar indica compressão de L5 (possível herniação de L4-L5); dificuldade para andar na ponta dos pés indica lesão de S1 (possível herniação de L5-S1) (D); dificuldade para agachar e levantar indica compressão de L4 (possível herniação de L3-L4) (Tabela 193.2). Inspeção: avaliar se há a presença de hiperlordose, cifose ou escoliose. A presença de escoliose é melhor avaliada com a coluna fletida para frente e os braços estendidos sobre a maca7. A ausência da lordose fisiológica pode indicar tensão da musculatura na região lombossacra. Palpação: palpar a musculatura paravertebral de toda a extensão da coluna bem como as apófises espinhosas de cada vértebra. Dor localizada sugere tumor, processo infeccioso ou compressão por fratura. • Dor difusa à palpação, mesmo em área restrita, é o principal sinal de lombalgiamecânica sem irradiação por distensão ou tensão muscular. Palpar região glútea para avaliar síndrome do piriforme. • Teste de Schober: com a pessoa em pé marca-se um ponto na linha da coluna na altura de L5-S1 (projeção da espinha ilíaca posterior) e outro ponto 10 cm acima deste; quando a pessoa se agacha (flexão ventral) a distância aumenta 5 cm ficando 15 cm no mínimo entre os dois pontos. O teste positivo (aumento inferior a 5 cm) pode indicar limitação funcional com a ressalva que idosos e obesos a possuem naturalmente. • Flexão lateral e extensão (normalmente até 30°). A flexão lateral é prejudicada em espondiloartropatias. PROBLEMA 3- O BALCONISTA 13 MARIANNA SILVA LIMA PALPAÇÃO Face anterior • Espinhas ilíacas ânterosuperior • Tubérculo púbicos • Articulação do quadril • Sínfise púbica Face posterior • Espinhas ilíacas póstero-superior • Tuberosidade isquiática • Nervo ciático (ponto médio com trocânter maior) • Articulação sacroilíaca posterior • Cristas ilíacas • Trocânter maior (tendinites ou bursites) - Tendão do músculo glúteo médio PROBLEMA 3- O BALCONISTA 14 MARIANNA SILVA LIMA Teste de Patrick (Fabere) • Pode referir dor em quadril ou em sacroilíacas • F (flexão) AB (abdução) ER (Rotação externa) Teste de Laségue e Perna Estendida O Teste de Elevação da Perna Estendida (TEPE) (Straight Leg Lift) descrita por Lazar Lazarevic, em 1980, consiste na elevação do membro inferior com o joelho estendido, tendo como objetivo demonstrar a tensão do nervo ciático. TESTE DE SCHOBER PROBLEMA 3- O BALCONISTA 15 MARIANNA SILVA LIMA Teste de Schöber (para se aferir o grau de restrição da flexão anterior da coluna): • Mede-se o desvio, em flexão, de dois pontos – o ponto inferior ao nível da junção lombossacra e o ponto superior 10 cm acima desse nível. – • Considera-se alterado se o desvio dessa linha for inferior a 5 cm. Exames complementares Os exames complementares na lombalgia devem ser usados somente se necessários e quando há suspeita, por meio da história e do exame físico, de alguma causa que necessite intervenção imediata ou específica. Radiografia simples (raios X da coluna) • Não é necessário na avaliação inicial da pessoa com suspeita de lombalgia mecânica; • radiografias normais não descartam esse diagnóstico enquanto muitas alterações não têm relação com a dor e constituem apenas achados casuais. • Ao redor dos 50 anos, 67% têm comprometimento discal como encurtamento do espaço intervertebral, e 20% possuíram osteófitos enquanto apenas 13% das pessoas dessa faixa etária com ou sem dor lombar têm radiografia normal.10 • Outro estudo demonstrou que até 75% dos achados em pessoas com lombalgia eram sem significado clínico.11 Embora não tenha indicação formal, até 80% dos indivíduos com dor lombar na atenção primária gostariam de realizar o exame se este fosse oferecido.12 As principais indicações são • Falha do tratamento conservador com persistência ou piora da dor; • Assimetria nos reflexos • Dor localizada; • Idoso com lombalgia de início recente. Outros exames radiológicos Considerar prosseguir na investigação radiológica. As principais estratégias são: • Cintilografia óssea: suspeita de infecção, tumor, artrite e fratura. • Tomografia computadorizada: suspeita de hérnia de disco, estenose da medula, mieloma múltiplo, avaliação de órgãos retroperitoneais. • Ressonância nuclear magnética: suspeita de hérnia de disco, tumores intraespinais. PROBLEMA 3- O BALCONISTA 16 MARIANNA SILVA LIMA Exames laboratoriais A grande maioria dos indivíduos não necessita de exames laboratoriais na avaliação inicial. Para pessoas idosas, com sintomas constitucionais ou com falha terapêutica podem ser solicitados exames como: • Hemograma completo, velocidade de hemossedimentação, proteína C-reativa: (processo inflamatório ou neoplasia). • Cálcio sérico e fosfatase alcalina (doença óssea difusa). • Eletroforese de proteínas séricas e urinárias (mieloma múltiplo). • Antígeno prostático especifico (metástase por câncer de próstata). • Análise qualitativa da urina (doença renal). • Sangue oculto nas fezes (úlceras e tumores gastrintestinais). Ressonância Magnética é o padrão-ouro para identificar algumas lombalgias, mas em geral se usa o raio-X, já que é mais acessível. Quando for pra ver parte muscular, nervosa, tendinosa a gente pede Ressonância, quando se quer ver parte óssea, por exemplo, pede-se TC. DESCREVER O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO E NÃO FARMACOLÓGICO DAS LOMBALGIAS AGUDAS, SUBAGUDAS E CRÔNICAS. Lombalgias Agudas • Com base na história natural da lombalgia aguda inespecífica, é importante assegurar o prognóstico favorável ao paciente, ressaltando sua necessidade de permanecer ativo e de evitar o repouso no leito. • O tratamento nessa fase visa ao alívio sintomático da dor e da inflamação e à orientação para a proteção das estruturas acometidas, evitando posturas ou atividades que exacerbem o quadro álgico por sobrecarga mecânica sobre a coluna lombar. • A prescrição de repouso é prejudicial para lombalgia inespecífica tanto aguda como crônica. • No entanto, se a dor for muito intensa e o repouso propiciar alívio temporário da dor, é recomendável usar-se a posição de semi-Fowler. • Os estudos clássicos de Nachemson (1981) demonstram que essas pressões são mínimas quando os indivíduos assumem a posição de semi-Fowler, deitado em decúbito dorsal, com os joelhos e quadris levemente fletidos. PROBLEMA 3- O BALCONISTA 17 MARIANNA SILVA LIMA • Devido ao fato de a posição sentada com a flexão anterior do tronco proporcionar uma maior sobrecarga para a coluna lombar, recomenda-se que o paciente levante e caminhe no próprio ambiente domiciliar ou de trabalho. • Ele deve ser orientado, ainda, a evitar as posições que aumentem as pressões intradiscais lombares. Assim, os movimentos torcionais e de flexão anterior devem ser evitados. • Sugerimos o retorno precoce às atividades funcionais de acordo com a tolerância de cada indivíduo, para não aumentar o risco do comportamento doloroso e dos efeitos deletérios do imobilismo. • As faixas ou coletes lombares podem ser utilizados por breve período de tempo, no intuito de lembrar o paciente de que não realize movimentos abruptos e inadequados, como a flexão anterior e a rotação lombar. Ele deve ser encorajado a deambular e iniciar a atividade física, permanecendo o mínimo de tempo possível na posição sentada ou de desconforto. • Exercícios aeróbios de baixo impacto, como deambular, nadar e pedalar bicicleta, proporcionam mínima sobrecarga sobre a coluna lombar e podem ser iniciados durante as primeiras duas semanas. • Orienta-se alternar a deambulação durante 20 a 30 minutos para cada três horas de repouso no leito em posição adequada. • O repouso prolongado no leito por mais de quatro dias parece levar a maior debilitação e deve ser evitado nas lombalgias agudas sem causa plausível. Os efeitos deletérios potenciais do repouso prolongado no leito incluem a atrofia muscular, o descondicionamento cardiopulmonar, a perda mineral óssea com hipercalcemia e hipercalciúria e, eventualmente, o risco de tromboembolismo pulmonar. • Além disso, os efeitos sociais de percepção de doença grave e perda econômica por absenteísmo no trabalho devem ser PROBLEMA 3- O BALCONISTA 18 MARIANNA SILVA LIMA considerados. Desse modo, a maioria dos pacientes nessa fase não necessitará de repouso no leito. • Este, por dois a quatro dias, deve ser considerado nos pacientes com sintomas iniciais graves e principalmente nos casos de dor primária nos membros inferiores. Nessa fase, está indicado o uso de analgésicos, como o acetaminofeno, de anti-inflamatórios não-hormonais e de relaxantesmusculares. • A vantagem da termoterapia superficial e das compressas de gelo é o fato de poderem ser utilizadas em regime domiciliar. • Outros agentes físicos passivos, tais como o ultrassom e a estimulação elétrica, entretanto, não devem ser prescritos de rotina nessa fase, especialmente como monoterapia. • A realização de protocolos padronizados de exercícios terapêuticos específicos, como os de fortalecimento muscular, alongamento, ganho de flexibilidade, extensão e flexão lombar, são tão eficazes quanto o não-tratamento ou outras modalidades terapêuticas. Dessa forma, a orientação para que o paciente permaneça ativo já é suficiente nessa fase. • Se a dor persistir apesar das medidas anteriormente citadas, pode-se considerar a realização da manipulação vertebral. Lombalgia Subaguda Os pacientes com lombalgia na fase subaguda merecem cuidado especial. • Uma abordagem excelente seria a profilaxia da cronicidade do quadro doloroso, assim como das recorrências. • Os principais objetivos são a restauração de amplitude completa de movimentos sem dor, a restauração da força, da resistência e da coordenação neuromuscular, assim como o retorno às atividades normais. • O condicionamento aeróbio pode ser realizado de modo semelhante ao da fase aguda. • Exercícios específicos para as deficiências da coluna lombar são os mais apropriados, precedidos de procedimentos que aliviem o quadro álgico. A monitoração mais frequente e cuidadosa deve ser enfatizada visando à maior adesão ao tratamento. Lombalgia Crônica O cuidado dos pacientes crônicos envolve a elucidação diagnostica, afastando-se o comprometimento das estruturas ósseas, articulares, nervosas e ligamentares locais e as patologias sistêmicas que comprometem o segmento lombar. • É fundamental que o médico não reforce os sintomas de incapacidade e de sofrimento do paciente. • O objetivo nessa fase é a recuperação progressiva da capacidade funcional. Devido ao pior prognóstico dessa fase, alguns autores sugerem que o tratamento conservador seja mais agressivo. PROBLEMA 3- O BALCONISTA 19 MARIANNA SILVA LIMA • A massagem terapêutica é benéfica para os indivíduos com lombalgia subaguda ou crônica inespecífica em termos de melhora funcional e dos sintomas. • Apesar do alto custo do procedimento em si, este pode ser reduzido se proporcionar diminuição do número de consultas médicas ou de outros programas terapêuticos. • Os efeitos benéficos da massoterapia podem durar por até um ano após o término de sua aplicação. • Parece que a massagem realizada nos pontos de acupuntura é melhor do que a clássica. Os efeitos terapêuticos da massagem melhoram quando esta é associada a programas educativos e exercícios. • Há evidências sobre a eficácia da manipulação vertebral para o alívio da lombalgia crônica em curto prazo, porém parece não influenciar o retorno ao trabalho e a melhora da incapacidade funcional). Há forte evidência a favor da abordagem multidisciplinar biopsicossocial intensiva, superior a 100 horas, visando à restauração funcional de pacientes com lombalgia crônica grave e incapacitante. O principal objetivo do tratamento da lombalgia crônica é o retorno ao trabalho e às atividades usuais. A associação das diversas opções terapêuticas para promover o alívio sintomático da dor pode facilitar esse processo. • Há evidência de alívio da dor e de melhora funcional com o uso da acupuntura, quando comparada ao não-tratamento. Também há evidência de que a associação da acupuntura a outras modalidades terapêuticas é mais eficaz do que as modalidades convencionais isoladas. • As outras modalidades terapêuticas avaliadas incluíram os AINEs, o ácido acetilsalicílico, os analgésicos simples, as compressas quentes, a termoterapia superficial de infravermelho, os programas educativos e ergonômicos e as modificações comportamentais. • O agulhamento seco dos músculos acometidos é outra intervenção útil com o tratamento complementar na lombalgia crônica inespecífica. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Com relação ao tratamento farmacológico, os fármacos mais utilizados são analgésicos simples, AINES, relaxantes musculares, opioides e antidepressivos. O analgésico simples mais utilizado é o paracetamol. • Entretanto, uma revisão Cochrane de 2016 mostra que o paracetamol não melhora a dor em comparação com o placebo. Além disso, inclui riscos como hepatotoxicidade, devendo ser utilizado com muito cuidado em pacientes com insuficiência hepática, doença hepática ativa, transtornos por uso do álcool e hipovolemia grave (PFIEFFER ML,2020). Os AINES são amplamente utilizados na pratica. Podem ser utilizados por períodos curtos, em episódios agudos de dor lombar, sempre alertando os pacientes a respeito do risco PROBLEMA 3- O BALCONISTA 20 MARIANNA SILVA LIMA cardiovascular, dos sintomas gastrointestinais, toxicidade renal e risco de exacerbação da asma. • Em relação a dor lombar crônica, o estudo de ENTHOVEN WTM et. Al. 2016, relata que a qualidade de evidência de AINES em comparação com placebo, em pacientes com lombalgia crônica, é na melhor das hipóteses, moderada. • Quando estudos são de qualidade superior, os efeitos dos AINES se tornam menores ou desaparecem. Os relaxantes musculares são efetivos por curto prazo para alívio sintomático da dor lombar inespecífica aguda. • Entretanto, a incidência de sonolência é alta. Em revisão sistemática Cochrane de 30 ensaios clínicos randomizados, realizados em pacientes com dor lombar, 2 estudos compararam relaxantes musculares a placebo, mostrando que quaisquer dos fármacos foram mais eficazes do que placebo no alívio de curto prazo da dor aguda (FRASSON VB, 2016). Os opioides podem ser usados a curto prazo em pacientes com dor lombar aguda, mas não em pacientes com dor crônica. • Para reduzir o risco de uso indevido e dependência, o CDC (Center of Desease Control) não recomendou o uso de opioides por um período superior a 3 dias. As principais reações adversas são sedação, depressão respiratória, constipação e náuseas (PFIEFFER ML,2020). Para aqueles pacientes com quadro de dor lombar crônica com componente neuropático associado, como nos casos das lombociatalgia, os antidepressivos e anticonvulsivantes ganham grande importância. • As diretrizes para o tratamento das dores neuropáticas consideram como primeira linha os tratamentos cuja eficácia foi comprovada em estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência (nível A). Pertencem a estes fármacos • Anticonvulsivantes moduladores das subunidades α 2δ dos canais de cálcio voltagemdependentes: gabapentina e pregabalina; • antidepressivos tricíclicos (ADT): amitriptilina, imipramina, clomipramina e nortriptilina; • Inibidores seletivos da receptação de serotonina e de noradrenalina (ISRSN): duloxetina e venlafaxina. DESTAQUES • Quanto ao tratamento farmacológico de controlo sintomático das lombalgias, este poderá ser usado a nível dos CSP, sendo também, frequentemente, o primeiro recurso terapêutico em cuidados hospitalares. • A utilização de paracetamol ou AINEs e relaxantes musculares para o tratamento da lombalgia aguda parece ser suficiente na maioria dos casos. • No tratamento da lombalgia crónica, as opções terapêuticas mais usadas são o paracetamol, os AINEs, os opióides, os PROBLEMA 3- O BALCONISTA 21 MARIANNA SILVA LIMA relaxantes musculares e os antidepressivos, tomados isoladamente ou em associação. AINEs São habitualmente o tratamento de 1ª linha de dor lombar, sendo o seu uso suportado pela experiência clínica. Os AINEs têm um efeito reduzido a curto prazo no alívio da dor lombar crónica. Nenhuma característica do indivíduo permite prever o sucesso da terapêutica com AINEs. A evidência sugere não existir benefício de nenhum fármaco em relação a outro, contudo a alteração para umAINE diferente deve ser considerada se o primeiro não for eficaz. Desconhece-se se os AINEs serão mais eficazes que o uso de paracetamol isolado; não há evidência do benefício da associação de AINEs com paracetamol. Paracetamol A evidência é controversa relativamente ao uso do paracetamol em comparação com os AINEs; tendo em conta um perfil de segurança favorável e o custo reduzido, o paracetamol é considerado uma opção de primeira linha razoável para o tratamento da dor lombar. Tal como os AINEs, o paracetamol tem um efeito reduzido a curto prazo no alívio da dor lombar crónica. A dose máxima diária de 4g é apropriada para a maioria dos doentes, no entanto, o risco de hepatotoxicidade é dose-dependente e aumenta com a ingestão concomitante de álcool, pelo que é prudente limitar a dose diária de paracetamol para 2g em doentes com história de abuso excessivo de álcool ou com outros fatores de risco para hepatotoxicidade. A associação de paracetamol com tramadol apenas se verificou benéfica no tratamento da dor crónica. Relaxantes musculares A evidência mostra o benefício do uso de relaxantes musculares não-benzodiazepinas na redução da dor, principalmente nos primeiros 7 a 14 dias (embora o seu benefício possa continuar durante mais de quatro semanas). Têm particular interesse quando há grande contratura muscular, que, por si só, é geradora de dor. O tratamento com diazepam oral por um período curto (até 5 dias) também pode ser benéfico para o alívio da dor. Existe evidência de que a combinação destes fármacos com AINEs poderá ter um benefício adicional na redução da dor. Opióides Frequentemente prescritos em casos de dor lombar severa, aguda, não controlada com AINEs e paracetamol, existindo evidência escassa do seu benefício. PROBLEMA 3- O BALCONISTA 22 MARIANNA SILVA LIMA Estudos demostraram não existir diferença na redução da dor ou no tempo de retorno ao trabalho quando comparados com AINEs ou paracetamol. A evidência é insuficiente para recomendar um fármaco opióide em relação a outro. Os efeitos adversos dos opióides incluem sedação, confusão, náuseas, obstipação e em doses altas depressão respiratória. O uso de opióides deve ser limitado a períodos curtos, em horário fixo (por exemplo ao deitar), pelo risco de dependência e tolerância. Corticoides Não estão recomendados para o tratamento da dor lombar com ou sem ciatalgia, uma vez que não demostraram ser mais eficazes do que o placebo. Não se usa em lombalgia mecânica aguda. Mas pode ser prescrito na crônica. Outras opções Antidepressivos tricíclicos têm-se demonstrado benéficos no tratamento da lombalgia crónica, mesmo quando não associada a sintomas depressivos, mas não foram estudados na dor lombar aguda, pelo que não se recomenda o seu uso no tratamento da lombalgia aguda. A prescrição de pequenas doses de antidepressivos tricíclicos (elevadores do humor) uma hora antes de deitar pode ajudar na regulação do ciclo de sono, beneficiando alguns casos. Alguns estudos têm demonstrado a eficácia da gabapentina e outros anticonvulsivantes no alívio sintomático de doentes com dor lombar subaguda e crónica, no entanto são necessários ensaios adicionais para recomendar o seu uso no tratamento da lombalgia (com ou sem radiculopatia). TRATAMENTO CIRÚRGICO A lombalgia mecânica comum é sempre de tratamento conservador. Se resistente e existindo um evidente substrato clínico-patológico para essa evolução atípica, podem ser feitas infiltrações nas discopatias (Modic tipo I, II ou III), infiltração de pontos dolorosos, infiltração perifacetária, denervação facetaria e artrose do segmento vertebral. • O tratamento cirúrgico da hérnia discal está indicado nos casos com déficit neurológico grave agudo (menos de 3 semanas), com ou sem dor; • Na lombociatalgia hiperálgica e, nas outras de menor intensidade, apenas para os pacientes que não melhoram após 90 dias de adequado tratamento clínico. • Na síndrome da cauda equina (alteração de esfíncter, potência sexual e paresia dos membros inferiores) a cirurgia está indicada em caráter emergencial, como também, nas lombalgias infecciosas (espondiodiscites) com evolução desfavorável. • A indicação de cirurgia no canal lombar estreito é feita em caráter individual, caso a caso, na síndrome da cauda eqüina (paresia de MMII, disfunção urinaria e sexual); na claudicaçâo neurogênica intermitente incapacitante e progressiva e na PROBLEMA 3- O BALCONISTA 23 MARIANNA SILVA LIMA radiculopatia unilateral que não responde ao tratamento conservador. • A cirurgia também está indicada: na espondilolise, com espondilolistese, e espondilolistese degenerativa, com dor lombar que não melhora com tratamento clínico; escorregamento vertebral progressivo no jovem (mesmo assintomático); lombociatalgia e claudicaçâo neurogênica devidas a canal estreito que não responderam ao protocolo de tratamento conservador. DESCREVER QUAIS OS CORTICÓIDES UTILIZADOS NA PRÁTICA CLÍNICA, SEU MECANISMO DE AÇÃO, SUAS INDICAÇÕES COMO ANTI-INFLAMATÓRIOS E SEUS EFEITOS COLATERAIS. Definição • Os fármacos corticoides são miméticos dos hormônios corticosteroides. Eles são produzidos pelo corpo no córtex da glândula suprarrenal, sendo divididos em glicocorticoides e mineralocorticoides. • Os receptores dos glicocorticoides estão distribuídos em diversos tecidos do corpo, interferindo desde o metabolismo de carboidratos e proteínas até a regulação de mecanismos de defesa do organismo. Enquanto isso, os receptores dos mineralocorticoides estão presentes, majoritariamente, nos órgãos excretores. Mineralocorticoides agem no eixo hipotálamo-hipofise-adrenal. Qual a diferença entre prednisona e prednisolona? A prednisona é a forma ativa da prednisona. Há diferenças nos efeitos colaterais, mudanças no efeito de 1ª passagem. Apresentação dos corticoides Os corticoides se apresentam das mais variadas formas, sendo os principais deles: Beclometasona (aerossóis inalados ou nasais) Betametasona (IV, IM e tópico) Equivalência de dose: 0,6mg Tempo de ação: longo Budesonida (aerossóis inalados ou nasais) Cortisona (Oral) Equivalência de dose: 25mg Tempo de ação: curto Ciclesonida (aerossóis inalados ou nasais) Dexametasona (IV, IM e oral) Equivalência de dose: 0,75mg Tempo de ação: longo Flunisolida (aerossóis inalados ou nasais) Fluticasona (aerossóis inalados ou nasais) Hidrocortisona (IV, IM e tópico) Equivalência de dose: 20mg Tempo de ação: curto Metilprednisolona (IV, IM, oral e intra-articular) Equivalência de dose: 4mg Tempo de ação: intermediário Mometasona (aerossóis inalados ou nasais e tópico) Prednisolona (IV e IM) Equivalência de dose: 5mg PROBLEMA 3- O BALCONISTA 24 MARIANNA SILVA LIMA Tempo de ação: intermediário Triancinolona (IM, oral, intra-articular, tópico e aerossóis inalados ou nasais) Equivalência de dose: 4mg Tempo de ação: intermediário Mecanismos de ação • O principal mecanismo de ação anti-inflamatória dos corticoides é o bloqueio duplo da cascata do ácido araquidônico, por meio da indução da lipocortina, que age inibindo a fosfolipase A2 e da inibição das COXs, que possuem papel crucial na mediação da inflamação ao produzir prostaglandinas e prostaciclinas. • Também inibem a síntese e liberação de TNF-α, interleucinas de 1 a 8, interferon γ e a ativação de células T por citocinas. Possuem efeito inibidor da função de fibroblastos, com menor produção de colágeno e glicosaminoglicanos e certa redução na cicatrização e reparo. • Além disso, agem nas células sanguíneas, reduzindo o número de macrófagos, eosinófilos e linfócitos e suas ações. Aumentam a quantidade de neutrófilos por recrutamento, redistribuindo seu pool, contudo, sem influência significativa na síntese de anticorpos. Farmacocinética e Farmacodinâmica dos corticoidesApós serem absorvidos, a maioria dos glicocorticoides são transportados ligados a proteínas plasmáticas, em especial a globulina de ligação de corticoides (CBG) e à albumina, sendo inativos biologicamente quando associados, entrando nas células por difusão. A meia vida plasmática da cortisona é de até 90 minutos, porém os seus efeitos biológicos podem durar de 2 à 8h. São metabolizados por enzimas oxidantes microssomais hepáticas e seus metabólitos são conjugados com o ácido glicurônico ou sulfato, sendo excretados pelo rim posteriormente. Indicações Devido ao seu efeito anti-inflamatório, a gama de indicações dos corticosteroides é grande, podendo ser utilizados em doenças reumáticas, alérgicas, distúrbios inflamatórios e cânceres. Entre as indicações, incluem-se: tratamento de reposição na doença de Addison (insuficiência suprarrenal primária) e na insuficiência suprarrenal secundária/terciária; diagnóstico da Síndrome de Cushing; tratamento de reposição para a hiperplasia suprarrenal congênita; alívio de diversos sintomas inflamatórios; tratamento de alergias; e aceleração de maturação pulmonar em prematuros. Contraindicações É contraindicado em pacientes com infecções fúngicas sistêmicas ou hipersensibilidade à corticosteroides. Efeitos adversos Como os corticosteroides têm ações sistêmicas, seu uso inadvertido pode causar efeitos adversos variados, sendo normalmente dose- dependentes. PROBLEMA 3- O BALCONISTA 25 MARIANNA SILVA LIMA Adulto • Osteoporose, com consequente risco de fraturas, devido a supressão da absorção intestinal de cálcio; Síndrome de Cushing iatrogênica; aumento da incidência de cataratas/glaucoma para predispostos geneticamente; hiperglicemia com possibilidade de desenvolvimento de diabetes; e supressão da resposta a infecções, com possível agravamento de infecções oportunistas. Criança • Caso o tratamento seja prolongado por mais de 6 meses, há retardo no crescimento. Retirada A descontinuação desses fármacos pode ser um problema quando seu uso ocorre por mais de 14 dias. Isso porque sua administração pode suprimir o eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal, podendo causar uma insuficiência suprarrenal aguda, potencialmente fatal. Dessa forma, sua retirada deve ser gradual de acordo com a tolerância individual, sendo recomendada a monitorização do paciente. Interações medicamentosas • Se usado juntamente com fenobarbital, fenitoína, rifampicina ou efedrina pode aumentar o metabolismo dos corticosteroides, reduzindo o efeito da terapia. A metabolização desses fármacos é feita pela enzima CYP3A4, então, produtos que contenham cetoconazol, itraconazol, claritromicina, ritonavir e cobicistate (inibidores potentes da CYP3A4) podem levar ao aumento da concentração plasmática dos corticosteroides, elevando o risco de efeitos adversos. • O uso concomitante com diuréticos que reduzem a concentração de potássio pode intensificar a hipocalemia, assim como o uso com glicosídeos cardíacos pode aumentar os eventos arrítmicos e intoxicação digitálica associada a hipocalemia. Além disso, se associado a anticoagulantes cumarínicos podem alterar os efeitos anticoagulantes (para mais ou para menos) sendo possível o reajuste posológico. • Os glicocorticoides associados a AINEs ou álcool podem aumentar a incidência/gravidade de úlceras gastrointestinais. Nas hipoprotrombinemias, o ácido acetilsalicílico deve ser administrado com precaução, já que os corticosteroides podem reduzir as concentrações plasmáticas de salicilato. Por fim, em diabéticos, o tratamento com glicocorticoides pode inibir a resposta à somatotropina, portanto, poderá ser preciso reajuste nas doses dos fármacos hipoglicemiantes.
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