Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 1 www.apostilasmetodo.com.br Sumário LÍNGUA PORTUGUESA .................................................................................................... 3 Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários). Sentido próprio e figurado das palavras. Sinônimos e antônimos ................................................... 4 Pontuação ...................................................................................................................... 50 Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção: emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem. 56 Concordância Nominal e Verbal. Regência Nominal e Verbal. ........................................ 125 Colocação Pronominal .................................................................................................. 145 Crase ............................................................................................................................ 151 MATEMÁTICA .................................................................................................... 160 Resolução de situações-problema, envolvendo: adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação ou radiciação com números racionais, nas suas representações fracionária ou decimal ......................................................................................................................... 161 Mínimo múltiplo comum; Máximo divisor comum ......................................................... 174 Porcentagem ................................................................................................................ 179 Razão e proporção ........................................................................................................ 186 Regra de três simples .................................................................................................... 205 Equações do 1º ou do 2º graus; Sistema de equações do 1º grau ................................... 216 Grandezas e medidas – quantidade, tempo, comprimento, superfície, capacidade e massa ..................................................................................................................................... 259 Relação entre grandezas – tabela ou gráfico ................................................................. 263 Noções de Geometria – forma, ângulos, área, perímetro, volume, Teoremas de Pitágoras ou de Tales. ....................................................................................................................... 273 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS .......................................................................... 297 Atendimento ao público: recepção e excelência no atendimento ao cidadão; o enfoque na qualidade; o atendimento presencial e por telefone. Correspondência: protocolo de envio, recebimento e distribuição. ........................................................................................... 298 Noções básicas sobre arquivo: finalidades, tipos, importância e organização. ................ 308 Operação de equipamentos de escritório e copiadoras .................................................. 350 Controle de estoque ...................................................................................................... 354 Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 2 www.apostilasmetodo.com.br Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 3 www.apostilasmetodo.com.br LÍNGUA PORTUGUESA Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários). Sinônimos e antônimos. Sentidos próprio e figurado das palavras. Pontuação. Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção: emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem. Concordâncias verbal e nominal. Regências verbal e nominal. Colocação pronominal. Crase. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 4 www.apostilasmetodo.com.br Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários). Sentido próprio e figurado das palavras. Sinônimos e antônimos Texto, Contexto e Elementos Paratextuais Você já se perguntou o que é, de fato, um texto? Geralmente, entendemos o texto como um conjunto de frases, ou seja, algo que foi feito para ser lido. Mas a definição de texto não é tão simples quanto parece. Imagine, por exemplo, que você está lendo um livro e, de repente, encontra em uma página qualquer um papel com a palavra “madeira”. Ora, certamente você ficará intrigado ou simplesmente não dará importância a isso. Agora, vamos imaginar outra situação: você está no meio de uma floresta e ouve alguém gritar: “Madeira!”. Bem, se você pretende preservar sua vida, sua reação imediata é sair correndo. Isso acontece porque a situação em que você se encontra levou-o a interpretar o grito como um sinal de alerta. A partir desses exemplos simples, podemos chegar a algumas conclusões importantes: 1º - os textos não são apenas escritos, eles também podem ser orais; 2º - os textos não são simples amontoados de palavras ou frases, ou seja, eles precisam fazer sentido. Na segunda situação, uma única palavra foi capaz de transmitir uma mensagem de sentido completo, por isso ela pode ser considerada um texto. Mas o que leva um texto a fazer sentido? Existem elementos que nos ajudam a interpretar os textos que estão a nossa volta, mas para que se possa compreender bem um texto é necessário identificar o contexto (social, cultural, estético, político) no qual ele está inserido. O contexto pode ser explícito, quando é expresso por palavras (o texto em que se encontra a frase ou a frase em que se encontra a palavra), ou implícito, quando está embutido na situação em que o texto é produzido. Logo, a simples mudança de contexto faz com que a palavra “madeira” seja interpretada de maneiras diferentes. Na primeira situação, embora a palavra esteja dentro de um livro, ela está totalmente fora decontexto, por isso não produz sentido algum. Para deixar ainda mais claro, numa frase o que seria o contexto e qual importância dele. Observe o seguinte enunciado: “Que belo dia!” Sem se levar em conta o contexto, não se pode explicar o sentido desta frase. Poderia se imaginar que ela poderia se referir a um dia agradável, que a rotina flui sem imprevistos, ou Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 5 www.apostilasmetodo.com.br poderia ter sido dita por alguém que ganhou na loteria. Não se sabe a que contexto se refere, se a um dia de sol após um período chuvoso ou se é um dia de chuva após meses de sol escaldante. Como não foi apresentada a situação em que esse enunciado foi proferido, há várias possibilidades de sentido nesta frase. Observe o texto abaixo retirado de um site de notícias: Por Bernardo Caram,G1, Brasília 11/12/2016 “Delator da Odebrecht cita doações não declaradas a mais de 30 políticos Em informações prestadas ao Ministério Público Federal (MPF) para a assinatura de acordo de delação premiada, o ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho apresentou valores repassados a políticos com a finalidade de obter vantagens para a empreiteira. O depoimento, que veio a público na sextafeira (9), traz nomes, valores, circunstâncias e motivação dos repasses. Parte dos recursos foi paga por meio de doações eleitorais oficiais, mas também há registro de propina e de caixa 2. Em alguns casos, como o dos senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB- AL), o dinheiro era entregue a uma pessoa, mas serviria para abastecer um grupodentro do partido. Em outros casos, não é possível identificar se a doação foi oficial. Cláudio atuava na relação da Odebrecht com o Congresso Nacional. Segundo ele, alguns pagamentos eram feitos para garantir aaprovação de projetos de interesse da empreiteira. ” Para compreendermos melhor sobre a informação retratada no texto é necessário que estejamos atentos a situação política do nosso país. Conhecimento de mundo Ao longo de sua vida, o leitor adquire conhecimentos utilizados durante a leitura dos extos. O leitor constrói o sentido do texto quando articula diferentes níveis de conhecimento, entre eles o conhecimento de mundo. Esse tipo de conhecimento costuma ser adquirido informalmente, através de nossas experiências pessoais e convívio em sociedade. Ativar seu conhecimento de mundo no momento certo pode ser útil tanto para salvar sua vida no meio da floresta ou para resolver questões de concursos. Agora observe a seguinte imagem: Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 6 www.apostilasmetodo.com.br O texto é uma propaganda de um adoçante que tem o seguinte mote: “Mude sua embalagem”. A propaganda utiliza recursos “verbais” e “não verbais”. Os recursos verbais referem-se à palavra “açúcar”, escrita no saco, e ao slogan “mude sua embalagem”. O conteúdo verbal da propaganda é reforçado pela parte não verbal, ou seja, a imagem do saco de açúcar semelhante a uma barriga gorda, que contrasta com a imagem do adoçante no canto inferior, bem fininho. Textos verbais e visuais Até aqui, vimos que os textos podem ser orais ou escritos. Mas essa noção precisa ser ampliada, pois há textos que não contam com o auxílio da palavra, seja ela escrita ou oral. É o caso, por exemplo, da fotografia e da pintura. Dizemos, então, que há textos verbais e visuais. Há ainda textos que utilizam os dois recursos, como no exemplo anterior, assim também como os filmes, que usam imagens, diálogos e legendas. Então, chegamos a conceito de texto mais ampliado e consistente: todo enunciado que faz sentido para um determinado grupo em uma determinada situação. No concurso, essa noção mais moderna de texto é a que vale. Em resumo temos que: Texto: Tomando como definição de texto a de Costa Val (1999:3), para quem “texto é uma ocorrência linguística, falada ou escrita, de qualquer extensão, dotado de unidades sócio comunicativa semântica e formal”. Contexto: O contexto situacional é formado por informações que estão fora do texto, sejam elas históricas, geográficas, sociológicas, literárias. Ele é essencial para uma leitura mais eficaz, aproximando o interlocutor/leitor do sentido que o locutor/escritor quis imprimir ao texto. Além do texto e do contexto temos ainda os elementos paratextuais. A sabedoria popular diz que não devemos “julgar um livro pela capa”. Isso acontece porque muitas vezes a capa de um livro acaba despertando ou não nosso interesse pelo texto. Porém, quando abrimos um livro, podemos nos deparar com outros elementos, como contracapa, biografia do autor, prefácio, dedicatória, índice, notas de rodapé, citações, posfácio e ilustrações. Esses elementos que margeiam o texto são chamados de elementos paratextuais. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 7 www.apostilasmetodo.com.br Portanto, paratextos são elementos que estão para além do texto, ou seja, informações que acompanham uma obra. Como podem motivar a aquisição e a leitura livros, os elementos paratextuais são muito privilegiados pela indústria editorial. De todos os elementos paratextuais, o mais importante é o título, pois funciona como uma espécie de “slogan” do texto, ou seja, algo que faça com que o leitor “compre” suas ideias. Alguns especialistas já chegaram a sugerir que o título não é relevante para a leitura de um texto, mas não é bem assim. Um título adequado pode direcionar a compreensão do texto, ajudando o leitor a criar expectativas de leitura. Em alguns casos, o título fornece pistas importantes para que o leitor levante hipóteses sobre o que vai ler. Por exemplo, diante de um título como “Conheça as angiospermas”, o leitor espera ler um texto que trará explicações sobre as angiospermas, seus tipos e exemplares na natureza. Com a ajuda de outros elementos paratextuais, como a ilustração de uma flor, o leitor poderá imaginar que se trata de plantas. A partir do título desses livros é possível especular qual será o enredo da história. Sobre o título “A culpa é das estrelas” de John Green, é possível imaginar que se trata de uma história romântica já que o título parece fazer alusão a expressão “escrito nas estrelas”, já o segundo título “ Para todos os amores errados” de Clarissa Corrêa, podemos interpretar que a história apesar de uma história romântica vai tratar mais especificamente de desilusões amorosas. Todos esses apontamentos são apenas suposições feitas a partir do título. Definições e concepções de leitura: as essências O tema Leitura Segundo Orlandi (2000:7), o termo leitura é polissêmico, isto é, permiti distinguir vários sentidos. Podemos 7ubst.7-lo, em sua acepção mais ampla, como atribuição de sentidos, tanto em relação à linguagem escrita como em relação à linguagem oral. Qualquer expressão linguística, de qualquer natureza, permite uma leitura. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 8 www.apostilasmetodo.com.br Leitura também pode significar concepção, e é nesse sentido que o termo é usado quando falamos em leitura de mundo, isto é, quando usamos a palavra leitura para refletir o conhecimento de cada leitor, considerando-se ou não sua escolaridade. No sentido acadêmico – mais restrito -, leitura pode significar a construção das bases teóricas metodológicas que permitem chegar a um texto: são várias as leituras de Rubem Alves, ou de um texto de Paulo Freire. Em um sentido ainda mais específico, o termo leitura pode ser entendido como estrita aprendizagem formal, quando se vincula leitura e alfabetização. Uma reflexão mais aprofundada sobre leitura nos permite concluir que o leitor precisa recorrer a estratégias que lhe permitam alcançar o sentido do texto. Além disso, devemos lembrar que há diferentes modos de leitura, em relação direta com a vida intelectual do leitor, isto é, com sua maneira de estabelecer os sentidos daquilo que lê. Leitura e sentido As palavras significam o que o grupo social convencionou que elas devem significar, mas a comunicação exige muito mais que apenas usar e aceitar passivamente significados preestabelecidos. Ler, então, é mais que decifrar: ler é ser capaz de atribuir um significado ao texto, partindo do próprio texto, de modo que cada leitor consiga relacioná-lo a todos outros textos significativos, seja capaz de reconhecer o tipo de leitura que o autor pretendia, e possa, depois, dono da própria vontade, entregar-se à leitura ou rejeitá-la. Para que tudo isso aconteça, é preciso que autor e leitor interajam ao longo de um texto. Ao autor cabe delinear o caminho percorrido durante a produção do texto, direcionando o efeito de sentido desejado e a intenção comunicativa pretendida; ao leitor compete ler, reler, analisar, comparar, fazer inferências, ativar conhecimentos. Todo leitor, ao ler um texto, deve participar da produção de leitura desse texto. Para isso, deve construir, através do que passaremos a chamar de pistas textuais que o próprio texto fornece, um sentido para ele (o texto) – mas somente o sentido que o próprio texto autorizar. Procurar essas pistas faz parte do processo de leitura, porque é a partir delas que o autor formula e reformula hipóteses, aceita ou rejeita conclusões. Agora, pedimos que você coloque em ordem, numerando de 1 a 4, as diferentes etapas de participação do leitor na produção de leitura de um texto. ( ) construçãode sentido autorizado pelo texto ( ) identificação de pistas textuais ( ) aceitação ou rejeição de conclusões ( ) formulação e reformulação de hipóteses Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 9 www.apostilasmetodo.com.br Esperamos que Você tenha respondido que o leitor procura, em primeiro lugar, pistas textuais; em seguida, constrói, por meio dessas peitas, um sentido autorizado pelo próprio texto; depois, de posse dessas pistas, formula e reformula hipóteses, para, finalmente, aceitar ou rejeitar conclusões. Informações implícitas Muitos candidatos se perguntam como melhorar sua capacidade de interpretação dos textos. Primeiramente, é preciso ter em mente que um texto é formado por informações explícitas e implícitas. As informações explícitas são aquelas manifestadas pelo autor no próprio texto. As informações implícitas não são manifestadas pelo autor no texto, mas podem ser subentendidas. Muitas vezes, para efetuarmos uma leitura eficiente, é preciso ir além do que foi dito, ou seja, ler nas entrelinhas. A partir de elementos presentes no texto, é possível ao leitor recuperar as informações implícitas, para que possa, efetivamente, chegar a produção de sentido. Por isso, o leitor precisa estabelecer relações dos mais diversos tipos do texto e o contexto, de forma a interpretar adequadamente o enunciado. Por exemplo, observe este enunciado: - Patrícia parou de tomar refrigerante. A informação explícita é “Patrícia parou de tomar refrigerante”. A informação implícita é “Patrícia tomava refrigerante antes”. Agora, veja este outro exemplo: -Felizmente, Patrícia parou de tomar refrigerante. A informação explícita é “Patrícia parou de tomar refrigerante”. A palavra “felizmente” indica que o falante tem uma opinião positiva sobre o fato – essa é a informação implícita. Com esses exemplos, mostramos como podemos inferir informações a partir de um texto. Fazer uma inferência significa concluir alguma coisa a partir de outra já conhecida. Nos vestibulares, fazer inferências é uma habilidade fundamental para a interpretação adequada dos textos e dos enunciados. A seguir, veremos dois tipos de informações que podem ser inferidas: as pressupostas e as subentendidas. Pressupostos. Uma informação é considerada pressuposta quando um enunciado depende dela para fazer sentido. Considere, por exemplo, a seguinte pergunta: “Quando Patrícia voltará para casa?”. Esse enunciado só faz sentido se considerarmos que Patrícia saiu de casa, ao menos temporariamente – essa é a informação pressuposta. Caso Patrícia se encontre em casa, o pressuposto não é válido, o que torna o enunciado sem sentido. Repare que as informações pressupostas estão marcadas através de palavras e expressões presentes no próprio enunciado e resultam de um raciocínio lógico. Portanto, no enunciado “Patrícia ainda não voltou para casa”, a palavra “ainda” indica que a volta de Patrícia para casa é dada como certa pelo falante. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 10 www.apostilasmetodo.com.br Subentendidos Ao contrário das informações pressupostas, as informações subentendidas não são marcadas no próprio enunciado, são apenas sugeridas, ou seja, podem ser entendidas como insinuações. O uso de subentendidos faz com que o enunciador se esconda atrás de uma afirmação, pois não quer se comprometer com ela. Por isso, dizemos que os subentendidos são de responsabilidade do receptor, enquanto os pressupostos são partilhados por enunciadores e receptores. Em nosso cotidiano, somos cercados por informações subentendidas. A publicidade, por exemplo, parte de hábitos e pensamentos da sociedade para criar subentendidos. Já a piada é um gênero textual cuja interpretação depende a quebra de subentendidos. Observemos como isso é verdadeiro e deve acontecer em todos os atos de leitura, dos mais simples aos mais complexos. Considere a manchete do Caderno de Esporte do jornal O Liberal, de 24.08.2003: “PAPÃO PROCURA O CAMINHO DA VITÓRIA” Essa manchete esportiva, uma simples e curta frase declarativa, interpretada adequadamente, desencadeia uma série de relações entre ela e o leitor, a partir de uma informação explícita de que alguém, no caso, um clube de futebol, procura uma forma de vencer. Estabelecidas essas relações, o leitor encontra outros sentidos além do que foi explicitado. A primeira dessas relações, que se estabelece entre texto e contexto, leva à compreensão de que, para vencer, é preciso uma tática de jogo, uma estratégia, sentido latente na metáfora caminho da vitória. A segunda, linguística por natureza, requer que o leitor reconheça o valor do artigo definido o: ele permite entender que o caminho existe, que é um preciso e determinado caminho, que só ele conduzirá à vitória. A segunda, linguística por natureza, requer que o leitor reconheça o valor do artigo definido o: ele permite entender que o caminho existe, que é um preciso e determinado caminho, que só ele conduzirá à vitória. A terceira, ainda no âmbito da linguagem, está centrada no significado de procura. Quem procura é porque perdeu ou porque nunca teve. No caso do clube paraense ele conhecia bem o caminho da vitória, porém, no dia em que a manchete foi produzida, não conhecia mais. A quarta novamente uma relação entre texto e contexto, cumplicidade entre autor e leitor,indica que o clube já não vencia há algum tempo. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 11 www.apostilasmetodo.com.br Finalmente a quinta relação por meio da qual o autor também busca a adesão do leitor, descortina a crítica ao clube que vinha vencendo seguidamente, enchia a sua torcida de orgulho e parara de vencer. Uma sutil ironia sem dúvida. Um ouvinte/leitor eficiente precisa captar não apenas as informações explícitas (postas, dadas, expressas), como também as que estão implícitas, pois, se ele não tiver essa habilidade, passará por cima de significados importantes, ou – o que é mais grave – concordará com ideias ou ponto de vista que talvez rejeitasse se os percebesse. Por que utilizamos sentidos implícitos? Em todo grupo social, há um conjunto de tabu linguísticos. Isso não significa apenas a existência de palavras que, em certas circunstancias, não podem ou não devem ser pronunciadas (os palavrões, por exemplo), mas também a de temas proibidos e protegidos por uma espécie de “lei do silêncio”. Um ditado popular traduz plenamente essa restrição: “não se fala em corda em casa de enforcado”. Esses tabus linguísticos também se fazem presente em relação a determinada informações que uma pessoa não pode ou não deve dar, não porque elas sejam proibidas, mas porque o ato de expressá-las constituiria uma atitude repreensível ou comprometedora. Além dos tabus linguísticos um outro motivo para o uso de sentidos implícitos é que toda declaração explícita pode tornar-se temas de discussões. O que é dito pode ser contradito, de modo que não se poderia anunciar uma opinião ou um desejo sem, ao mesmo tempo, expô- lo às eventuais objeções dos interlocutores. Julgue você mesmo: no dia 01.02.2003, um deputado federal reeleito em resposta ao repórter do Jornal Nacional, que referia aos erros desse parlamentar no mandato anterior, respondeu: “a gente não comete os mesmos erros, porque há tantos erros novos para serem cometidos...”. Como Você observou o parlamentar admite que continuará errando apenas não pretende repetir erros já cometidos, o que é muito grave, porque o repórter se referia a erros prejudiciais ao povo que o elegeu. Quando se lê, considera-se não apenas o que está dito, mas também o que está implícito, isto é, aquilo que não está dito, mas que também significando. E o que não está dito pode ser de várias naturezas: a) O que não está dito, mas que de certa forma, sustentao que está dito; b) O que está suposto para que se entenda o que está dito; c) O sentido que se opõe àquilo que está dito; d) Outras maneiras de se dizer o que se disse. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 12 www.apostilasmetodo.com.br Em época de forte repressão, a livre manifestação do pensamento, o direto de contestar e de se denunciar se materializam por meio de sentidos implícitos. Foi o que aconteceu no período da ditadura militar no Brasil. Atento a isso, leia o excerto abaixo, do poemacanção de Chico Buarque, datado de 1984, para aprofundar seu conhecimento sobre sentidos implícitos. (...) Num tempo Página triste da nossa história Passagem desbotada na memória Das nossas novas gerações Dormia A nossa pátria-mãe tão distraída Sem perceber que era subtraída Em tenebrosas transações. (...) Esperamos que você tenha percebido que os quatro primeiros versos significam o período da ditadura militar, entre 1964 e o limiar da década de 80 do século XX, e que os quatro últimos denunciam a intensa corrupção ocorrida no referido período. Por isso, tem sido cada vez mais frequente o cuidado de “medirmos as palavras”, para evitarmos os perigos que advêm dos sentidos literais ou explícitos da língua. O recurso que se tem mostrado mais frequente e eficaz parece ser simplesmente o uso dos sentidos implícitos, que conseguem expressar aquilo que queremos dizer, mas sem que corramos o risco de ser responsabilizados por aquilo que dizemos. Não é por acaso que, muitas vezes, pessoas de destaque no grupo social, ao falarem, o fazem de forma tão opaca e incompreensível que seu discurso acarreta lacunas no entendimento de seus interlocutores. Condições De Textualidade Para que uma sequência de enunciados seja reconhecida como texto, é preciso que ela forme um todo significativo, nas circunstancias de uso em que os enunciados ocorrem. É sobre as Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 13 www.apostilasmetodo.com.br condições de textualidade, ou seja, aquelas que permitem que você avalie a qualidade do que lê e do que escreve. A primeira dessas condições é alcançada com a coerência, isto é, o fator responsável pela unidade de sentido; a segunda é a coesão,que permite a harmoniosa articulação entre os diferentes constituintes do texto. Textualidade Chama-se textualidade ou tecitura ao conjunto de propriedades que qualquer manifestação linguística deve possuir para que não seja apenas uma simples sequência de palavras ou frases. Contemplamos dois, dentre os fatores responsável pela textualidade de qualquer discurso, juntamente os que envolvem os componentes conceitual e linguístico. Componentes conceitual e linguístico Um texto deve apresentar um conjunto de propriedades decorrentes da relação entre as partes que o compõem, de tal modo que, ao final, essa relação resulte em uma unidade de sentido e estabeleça uma ligação – nem sempre aparente – entre essas partes. No primeiro caso, manifesta-se a coerência; no segundo a coesão. Coerência A coerência ou conectividade conceitual é a interdependência semântica entre os elementos constituintes de um texto, isto é, a relação entre as partes desse texto e que resulta em unidade de sentido. A coerência decorre da continuidade do sentido, do compromisso entre as partes que formam a macroestrutura (estrutura semântica global do texto) e está ligada à compreensão, possibilidade de Interpretação do que dizemos, escrevemos, ouvimos ou lemos. Para que a coerência se realize, há três propriedades fundamentais – continuidade ou repetição, não-contradição e progressão – que serão desenvolvidas a seguir. A relação entre o texto e o contexto, entendido este como a unidade maior em que a unidade menor está inserida, é relevante para a depressão das relações do sentido que compõem a globalidade do texto. Elas devem obedecer a condições cognitivas gerais, satisfazendo às relações lógico-semânticas entre estados e coisas, como por exemplo, relações de ordenação temporal, relações de casualidade – entre outras. Essas relações podem se manifestar pelo vocabulário, pela combinação dos tempos verbais, pela ordem de apresentação de conteúdo, pela adequação dos campos semânticos. No texto abaixo, queremos mostrar-lhe como se constrói o sentido de um texto a partir de uma ideia-chave. Acompanhe com atenção e, ao final, você constatará que, num texto, tudo significa. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 14 www.apostilasmetodo.com.br Dentro do planalto: Fome de reforma “João Pedro Stédile está afinado com o governo petista. Na semana passada, o líder do MST andou pelos corredores do Planalto como se fosse um velho conhecido do austero prédio. Jotapê tenta convencer o governo de que R$ 1 bilhão, previsto no Orçamento para o Incra, é pouco para tocar a reforma agrária. Quer abocanhar parte do capital internacional destinado ao projeto Fome Zero. Reforma agrária, diz, é a maneira mais eficaz de combate à fome.” ( Época – 03.02.2003 – p.8). Observe que, nesse texto, há uma idéia-chave: João Pedro Stédile. Essa idéiachave, embora não esteja expressa no título nem no subtítulo, é uma espécie de “primeiro ponto” para o ato de “tecer o texto”. Ela se repete, quer representar por vocábulos diferentes (João Pedro Stédile / o líder do MST / um velho conhecido / jotapê), quer representada pelo apagamento do vocábulo que a poderia expressar. Essa mesma ideia-chave é responsável pelas formas verbais em 3ª pessoa do singular (está afinado/ andou/ fosse/ tentar convencer/ quer/ diz). Além disso, o seu conhecimento prévio permite que você identifique a relação de afinidade entre João Pedro Stédile e governo petista, assim como entre João Pedro Stédile / governo petista e entre corredores do Planalto / austero prédio / o governo / fome zero /combate à fome. A coerência conceitual – macroestrutura ou estrutura semântica – é um dos requisitos fundamentais para construção de qualquer texto, quer ele seja literário, jornalístico, científico, jurídico, acadêmico, quer seja uma conversão espontânea. Coesão A coesão pode ser entendida como o modo pelo qual frases ou partes delas se combinam para assegurar o desenvolvimento textual, ou seja, é o modo como as palavras estão ligadas entre si, dentro de uma sequência, a fim de criar uma relação semântica entre um elemento do texto e outro elemento que é fundamental para sua interpretação. A coesão – isto é, a articulação – será eficaz quando estabelecer não apenas a ligação de uma ideia a outra, mas também que tipo de relação específica se institui a partir desse recurso. A coesão é marcada linguisticamente quando, para isso, empregamos nomes, conjunções, pronomes relativos, preposições, advérbios, locuções adverbiais, elementos de transição adequados. Não há dúvida de que a coesão marcada por elementos linguísticos contribui para conferir coerência ao texto. Tais elementos, no entanto, não são nem suficientes nem imprescindíveis para garantila. É perfeitamente possível haver textos coerentes que não apresentam elementos coesivos, como no parágrafo a seguir, extraído de uma reportagem sobre Di Cavalcanti. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 15 www.apostilasmetodo.com.br “Nas vacas magras, ia de cerveja a cachaça. Nunca bêbado. Tinha um poder enorme sobre o copo. Bebia, depois deitava, lia, relaxava..” (Veja – julho/1997). As quatro orações do período estão separadas por ponto. Embora não haja conectores gramaticais explícitos, é fácil perceber de que modo essas orações se combinam para formar uma sequência, pois é fácil recuperar os elementos coesivos que não foram expressos. Nada impediria que o autor da matéria tivesse escrito o texto assim: Nas vacasmagras, ia de cerveja a cachaça, porém nunca ficava bêbado, pois tinha um poder enorme sobre o corpo, isto é, bebia, depois deitava, lia e relaxava… A coesão pode ser estabelecida por elementos que fazem o texto progredir a partir da conexão por eles operacionalizada. Esses conectores estabelecem uma relação semântica de acordo com o sentido que expressam. É pela coesão que se estabelece o nexo entre as partes de um texto. As relações coesivas realizam-se por meio de um léxico da língua e suas marcas são fixadas principalmente por elementos da natureza gramatical (pronomes, conjunções, preposições, formas verbais), elementos da natureza lexical (sinônimos, antônimos, repetições) e por mecanismos sintáticos (subordinação, coordenação, ordenação dos vocábulos, das orações). A coesão, como elemento responsável pela textualidade, diz respeito a todos os processos de referenciarão ou segmentação que asseguram ou tornam recuperável uma ligação linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual. Intertextualidade Assunto comum em provas de concursos, a intertextualidade acontece quando um texto retoma uma parte ou a totalidade de outro texto – o texto fonte. Geralmente, os textos fontes são aqueles considerados fundamentais em uma determinada cultura. No exemplo dado, compositores brasileiros contemporâneos retomam um dos textos mais reverenciados da literatura portuguesa. Nos anos 90, Pedro Luis e Fernanda Abreu lançaram a canção “Tudo vale a pena”, cujo refrão diz o seguinte: “Tudo vale a pena, sua alma não é pequena”. O mote, na verdade, faz referência ao famoso poema “Mar português” (1934), do poeta Fernando Pessoa: Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Como podemos ver, temos dois textos que, apesar de distantes no tempo e no espaço, dialogam entre si. A intertextualidade é exatamente essa relação, uma forma de diálogo entre dois ou mais textos. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 16 www.apostilasmetodo.com.br É importante considerar que a intertextualidade pode ocorrer entre textos de mesma natureza ou de naturezas diferentes. Como é um conceito amplo e passível de classificações, a intertextualidade pode ser classificada em dois tipos principais: intertextualidade explícita e intertextualidade implícita. Na intertextualidade explícita ocorre a citação da fonte do intertexto, encontrada principalmente nas citações, nos resumos, resenhas e traduções, além de estar presente também em diversos anúncios publicitários. Nesse caso, dizemos que a intertextualidade se localiza na superfície do texto, pois alguns elementos nos são fornecidos para que identifiquemos o texto fonte. Observe um exemplo: A intertextualidade, quando explícita, fornece ao leitor diversos elementos que o remetem ao texto fonte. No anúncio publicitário utilizado no exemplo, há uma forte referência ao texto fonte, facilmente identificada pelo leitor através dos elementos fornecidos pela linguagem verbal e pela linguagem não verbal. A composição do anúncio nos transporta imediatamente para o filme “Tropa de Elite”, do cineasta José Padilha, e isso só é possível em razão do forte apelo popular da produção, que ganhou grande projeção em nossa sociedade. Já a intertextualidade implícita ocorre de maneira diferente, pois não há citação expressa da fonte, fazendo com que o leitor busque na memória os sentidos do texto. Geralmente está inserida nos textos do tipo paródia ou do tipo paráfrase, ganhando espaço também na publicidade. Observe o exemplo: No anúncio há um elemento verbal que permite a retomada do texto fonte, mas essa inferência depende de um conhecimento prévio do leitor: se ele não souber que há uma Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 17 www.apostilasmetodo.com.br referência à música “Mania de você”, da cantora Rita Lee, provavelmente o texto não será compreendido em sua totalidade. Portanto, a intertextualidade é um elemento muito importante para a constituição de sentidos do texto, colaborando em muito para a coerência textual ao reforçar a ideia de que a competência linguística não depende apenas do conhecimento do código linguístico, mas também do conhecimento das relações intertextuais. A seguir, veremos vários exemplos de intertextualidade, seja em forma de citação, paródia ou paráfrase. Citação Esse procedimento intertextual acontece quando um texto reproduz outro texto ou parte dele. Para sinalizar que houve a reprodução de outro texto, são utilizados alguns marcadores, como as aspas. Dessa forma, o texto deixa claro que o trecho ou o texto citado foi tirado de outra fonte, como no exemplo. A compreensão adequada de um intertexto depende, naturalmente, do conhecimento do texto fonte. Vejamos o outro exemplo abaixo. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 18 www.apostilasmetodo.com.br No exemplo dado, a propaganda buscou inspiração no texto bíblico “Do pó vieste e ao pó voltarás”, marcando sua reprodução por meio de aspas. Paródia A paródia consiste em uma subversão ao texto fonte, recriando-o de maneira satírica ou crítica. Dizendo de outra maneira, a paródia ironiza o texto original e inverte seu sentido. “Canção do exílio” (1847) é um dos textos mais parodiados da cultura brasileira, exercendo sua influência por várias gerações. Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Agora, leia parte da paródia composta pelo humorista e apresentador Jô Soares: Minha Dinda tem cascatas Onde canta o curió Não permita Deus que eu tenha De voltar pra Maceió. Minha Dinda tem coqueiros Da Ilha de Marajó As aves, aqui, gorjeiam Não fazem cocoricó. No poema de Gonçalves Dias, do final do século XIX, o eu lírico deseja cantar a saudade que sente de sua terra natal, o Brasil, enfatizando seus encantos e belezas naturais. O texto de Jô Soares, do final do século XX, desconstrói o sentido do texto original, já que o eu lírico quer distância da terra natal, pois prefere as mordomias da Casa da Dinda, como ficou conhecida a residência oficial do Presidente da República na época, Fernando Collor de Mello. Através da paródia, Jô Soares faz uma crítica aos escândalos de corrupção do governo, que culminaram no processo de “impeachment” do presidente. Paráfrase Fazer uma paráfrase significa reproduzir as ideias de um texto, só que utilizando outras palavras, dentro de uma nova montagem. É o recurso intertextual que se faz presente, por exemplo, em resumos, atas e relatórios, que fazem parte do nosso cotidiano Veja um exemplo de paráfrase da tão parodiada “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias: Meus olhos brasileiros se fecham saudosos Minha boca procura a “Canção do Exílio”. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 19 www.apostilasmetodo.com.br Como era mesmo a “Canção do Exílio”? Eu tão esquecido de minha terra... Ai terra que palmeiras onde canta o sabiá Perceba que o poema “Europa, França e Bahia”, de Carlos Drummond de Andrade, estabelece um diálogo com o texto de Gonçalves Dias, mas não tem uma intenção satírica – é uma paráfrase. Citação do discurso (direto, indireto, modalização em discurso segundo, ilha textual). Quando o enunciador precisa citar, em seu discurso, um texto (falado ou escrito) de outrem, pode recorrer a alguns mecanismos linguísticos, como a modalização em discurso segundo, o discurso direto, o discurso indireto e a ilha textual. MODALIZAÇÃO EM DISCURSO SEGUNDO É o modo mais simples e mais direto para o enunciador mostrar que não é responsável por um determinadodiscurso: apenas indica que está se apoiando em um texto alheio. Para tanto, o enunciador utiliza-se de determinadas marcas linguísticas, como as apresentadas em destaque nos exemplos abaixo. Ex.: Para a antropóloga americana Margaret Mead, a monogamia é o mais difícil dos arranjos maritais. Ex.: Uma dieta rica em vegetais, segundo dizem, reduz a chance de se ter vários tipos de câncer. Ex.: O que falta aos governos latino- americanos é profissionalismo e inteligência política, conforme Caetano Veloso. Ex.: A adolescência, de acordo com fontes bem informadas, começa cada vez mais cedo e termina cada vez mais tarde. DISCURSO DIRETO Nesse tipo de citação, o enunciador se exime de qualquer responsabilidade, por isso, ele reproduz literalmente as falas citadas, ou seja, o discurso apresenta-se às vezes como a exata reprodução das palavras do enunciador citado. Ex.: “Um indivíduo faminto tende a salivar muito mais diante de um prato de comida do que alguém com menos fome”, afirma a fisiologista Sara Shammah Lagnado, da Universidade de São Paulo (USP). Marcas do discurso direto a) O discurso direto vem introduzido por um verbo que anuncia a fala citada. Tais verbos são denominados de dizer (dizer, responder, retrucar, afirmar, falar, entre outros) e podem ser colocados antes do discurso direto, em oração intercalada, no interior do discurso direto ou no final do discurso direto. Ex.: O professor esclarece: “Os jovens levam a sério o mundo dos super-heróis, mas não completamente”. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 20 www.apostilasmetodo.com.br Ex.: – Farei uma farra daquelas – disse o candidato – quando eu passar no vestibular. Ex.: – Por que o senhor bebe? – perguntou a repórter. – Eu bebo porque é líquido. Se fosse sólido, eu comeria – respondeu malcriado o alcoólatra. b) A fala citada aparece nitidamente separada por elementos tipográficos como as aspas, travessões, dois-pontos e itálico. Ex.: A mulher perguntou ao marido: – Você bebeu? Ex.: A mulher perguntou ao marido: “Você bebeu?” Ex.: A mulher perguntou ao marido: Você bebeu? A opção pelo discurso direto geralmente está ligada ao gênero do discurso ou às estratégias do enunciador de cada texto. Ao escolher esse modo de citação, o enunciador, pode estar, particularmente, querendo: • Criar imagem de autenticidade do que reproduziu, indicando que as palavras relatadas são realmente proferidas; • distanciar-se: seja porque o enunciador quer explicitar, por intermédio do discurso direto, sua adesão respeitosa ao dito, fazendo ver o desnível entre palavras prestigiosas, irretocáveis e as suas próprias palavras (citação de autoridade); seja porque não adere ao que é dito; • mostra-se objetivo; caracterizar a fala relatada, imprimindo-lhe marcas de oralidade espontânea, de regionalismos ou até de cacoetes linguísticos (recurso muito utilizado em gêneros literários). 3. DISCURSO INDIRETO É o modo de citação do discurso alheio em que o enunciador tem uma diversidade de maneiras para traduzir as falas citadas, uma vez que ele se utiliza de suas próprias palavras para reproduzir a fala do outro. Ex.: O carnavalesco disse que os traficantes não mandam no samba. Marcas do discurso indireto da mesma forma do discurso direto, vem também introduzido por um verbo de dizer; ao contrário do discurso direto, a fala citada é introduzida por meio de uma partícula introdutória: que ou se. A escolha do discurso indireto está também ligada ao gênero textual e às estratégias do enunciador em cada texto. A imprensa popular, por exemplo, prefere o discurso direto ao indireto. Para um público leitor popular, o jornalista privilegia a citação direta. É como se o leitor estivesse presente na situação. Para um leitor mais instruído, o jornalista constrói um enunciado que fale à inteligência desse público e atrás desse enunciado ele (o jornalista) se apaga. Por isso, nesse caso, haverá mais recorrência ao discurso indireto, às ilhas textuais e á modalização em discurso segundo. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 21 www.apostilasmetodo.com.br ILHA TEXTUAL Ilha textual ou ilha enunciativa é uma forma híbrida de citação. Considere os exemplos seguintes: Ex.: Vera disse aos prantos que tinha flagrado o marido “papando a empregada”. Ex.: O ladrão confessou que tinha roubado para “21ubs as fome dos bruguelo”. Ex.: Segundo o Presidente da República, “é necessário que cada posto de gasolina seje fiscalizado”. O enunciador de cada um dos grupos acima isolou em itálico e entre aspas um fragmento que, ao mesmo tempo, ele utiliza e menciona, emprega e cita. Apesar de o fragmento possuir a estrutura do discurso indireto ou da modalização em discurso segundo, há neles algumas palavras que são atribuídas aos enunciadores citados. Aqui a ilha é indicada pelas aspas e pelo itálico. É o procedimento mais frequente na imprensa. Pode-se também encontrar somente as aspas ou somente o itálico. Nesse tipo de citação, as marcas tipográficas permitem verificar que essa parte do texto não é assumida pelo enunciador. Tipologia Textual: Tipos e Gêneros Sempre cai nas provas o assunto “Tipologia textual” (Tipos textuais) mas muita gente confunde com “Gêneros Textuais” (gêneros discursivos). Querem dizer a mesma coisa? Não. Estas são duas classificações que recebem os textos que produzimos a longo de nossa vida, seja na forma oral ou escrita. Sendo que a primeira leva em consideração estruturas específicas de cada tipo, ou seja, seguem regras gramaticais, algo mais formal. Já a segunda preocupa-se não em classificar um texto por regras, mas sim levando em consideração a finalidade do texto; o papel dos interlocutores; a situação de comunicação. São inúmeros os gêneros textuais: Piada, conto, romance, texto de opinião, carta do leitor, noticia, biografia, seminário, palestras, etc O que é tipologia textual? Como dito anteriormente, são as classificações recebidas por um texto de acordo com as regras gramaticais, dependendo de suas características. São as classificações mais clássicas de um texto: A narração, a descrição, a dissertação (expositiva e argumentativa), a injunção, a predição e a conversacional. Narração Modalidade em que um narrador, participante ou não, conta um fato, real ou fictício, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. Refere-se a objetos do mundo real. Há uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal predominante é o passado. Estamos cercados de narrações desde as que nos contam histórias Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 22 www.apostilasmetodo.com.br infantis até às piadas do cotidiano. É o tipo predominante nos gêneros: conto, fábula, crônica, romance, novela, depoimento, piada, relato, etc. Descrição Um texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode-se até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de anterioridade e posterioridade. Significa “criar” com palavras a imagem do objeto descrito. É fazer uma descrição minuciosa do objeto ou da personagem a que o texto se Pega. É um tipo textual que se agrega facilmente aos outros tipos em diversos gêneros textuais. Tem predominância em gêneros como: cardápio, folheto turístico, anúncio classificado, etc. Dissertação Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Dependendo do objetivo do autor, pode ter caráter expositivo ou argumentativo. Dissertação-Exposição Apresenta um saber já construído e legitimado, ou um saber teórico. Apresenta informações sobre assuntos, expõe, reflete,explica e avalia ideias de modo objetivo. O texto expositivo apenas expõe ideias sobre um determinado assunto. A intenção é informar, esclarecer. Ex: aula, resumo, textos científicos, enciclopédia, textos expositivos de revistas e jornais, etc. Dissertação-Argumentação Um texto dissertativo-argumentativo faz a defesa de ideias ou um ponto de vista do autor. O texto, além de explicar, também persuade o interlocutor, objetivando convencê-lo de algo. Caracteriza-se pela progressão lógica de ideias. Geralmente utiliza linguagem denotativa. É tipo predominante em: sermão, ensaio, monografia, dissertação, tese, ensaio, manifesto, crítica, editorial de jornais e revistas. Injunção / Instrucional Indica como realizar uma ação. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, na sua maioria, empregados no modo imperativo, porém nota-se também o uso do infinitivo e o uso do futuro do presente do modo indicativo. Ex: ordens; pedidos; súplica; desejo; manuais e instruções para montagem ou uso de aparelhos e instrumentos; textos com regras de comportamento; textos de orientação (ex: recomendações de trânsito); receitas, cartões com votos e desejos (de natal, aniversário, etc.). OBS1: Muitos estudiosos do assunto listam apenas os tipos acima. Alguns outros consideram que existe também o tipo predição. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 23 www.apostilasmetodo.com.br Predição Caracterizado por predizer algo ou levar o interlocutor a crer em alguma coisa, a qual ainda está por ocorrer. É o tipo predominante nos gêneros: previsões astrológicas, previsões meteorológicas, previsões escatológicas/apocalípticas. OBS2: Alguns estudiosos listam também o tipo Dialogal, ou Conversacional. Entretanto, esse nada mais é que o tipo narrativo aplicado em certos contextos, pois toda conversação envolve personagens, um momento temporal (não necessariamente explícito), um espaço (real ou virtual), um enredo (assunto da conversa) e um narrador, aquele que relata a conversa. Dialogal / Conversacional Caracteriza-se pelo diálogo entre os interlocutores. É o tipo predominante nos gêneros: entrevista, conversa telefônica, chat, etc. Gêneros textuais Os Gêneros textuais são as estruturas com que se compõem os textos, sejam eles orais ou escritos. Essas estruturas são socialmente reconhecidas, pois se mantêm sempre muito parecidas, com características comuns, procuram atingir intenções comunicativas semelhantes e ocorrem em situações específicas. Pode-se dizer que se tratam das variadas formas de linguagem que circulam em nossa sociedade, sejam eles formais ou informais. Cada gênero textual tem seu estilo próprio, podendo então, ser identificado e diferenciado dos demais através de suas características. Exemplos: Carta Quando se trata de “carta aberta” ou “carta ao leitor”, tende a ser do tipo dissertativoargumentativo com uma linguagem formal, em que se escreve à sociedade ou a leitores. Quando se trata de “carta pessoal”, a presença de aspectos narrativos ou descritivos e uma linguagem pessoal é mais comum. No caso da “carta denúncia”, em que há o relato de um fato que o autor sente necessidade de o expor ao seu público, os tipos narrativos e dissertativoexpositivo são mais utilizados. Observe o exemplo de uma carta ao leitor logo abaixo: Carta ao leitor Nunca te vi, mas sempre te amei Por: Martha San Juan França (Diretora de redação) De todas as tarefas que fazem parte da rotina de redação de Galileu, a mais prazerosa certamente é ler as cartas dos leitores. Os fãs da revista são de fato especiais e suas cartas traduzem isso. São criativos, curiosos, observadores e não deixam passar nada. Fazem perguntas tão difíceis quanto imprevisíveis. Querem saber de tudo: do monstro do Lago Ness ao Projeto Genoma Humano. E não se contentam com respostas pela metade. Ler as dúvidas Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 24 www.apostilasmetodo.com.br que aparecem nas cartas, os comentários sobre as reportagens passadas e as sugestões de futuras é gratificante para qualquer jornalista. Ainda mais para nós, jornalistas de Galileu, que adoramos um bom desafio. Felizmente, a revista conta com uma arma secreta para satisfazer tantas pessoas exigentes. Vou 24ubst.2424s-la agora: Luiz Francisco Senne, nosso secretário de produção, professor de português, roqueiro, colecionador de discos de vinil e livros usados, e responsável pelo atendimento aos leitores. Kiko, como é muito mais conhecido, sabe também driblar as angústias dos nossos jovens amigos em apuros. Muitos pedem ajuda a Galileu quando recebem dos professores uma tarefa complicada e não sabem a quem recorrer. Kiko responde delicada, mas firmemente: não dá para fazer o trabalho escolar no lugar do aluno (é festa agora?). Mas simpatiza com o drama de leitores como este cuja mensagem é reproduzida acima: “Vocês não poderiam dar uma dica de como ir bem numa prova de física porque o meu cérebro está cansado?” Atendendo ao apelo levado aos repórteres por Kiko, Galileu oferece a seus leitores a matéria “Os cientistas alertam: não deveríamos existir”, do editor Marcelo Ferroni. Ela mostra que a física pode ser criativa em vez de uma aula chata. Quer ver? Propaganda É um gênero textual dissertativo expositivo onde há a o intuito de propagar informações sobre algo, buscando sempre atingir e influenciar o leitor apresentando, na maioria das vezes, mensagens que despertam as emoções e a sensibilidade do mesmo. Observe na imagem abaixo: Bula de remédio Trata-se de um gênero textual descritivo, dissertativo expositivo e injuntivo que tem por obrigação fornecer as informações necessárias para o correto uso do medicamento, como no exemplo a seguir. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 25 www.apostilasmetodo.com.br Receita É um gênero textual descritivo e injuntivo que tem por objetivo informar a fórmula para preparar tal comida, descrevendo os ingredientes e o preparo destes, além disso, com verbos no imperativo, dado o sentido de ordem, para que o leitor siga corretamente as instruções. Observe na imagem a seguir: Reportagem É um gênero textual jornalístico de caráter dissertativo-expositivo. A reportagem tem, por objetivo, informar e levar os fatos ao leitor de uma maneira clara, com linguagem direta. “Mercado Central de Macapá poderá reabrir em março, prevê prefeitura” Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 26 www.apostilasmetodo.com.br Lojistas reclamam de transtornos durante demora nas obras de reformas. Prefeitura informou que ponto turístico é ampliado e revitalizado. Em obras desde novembro de 2015, o Mercado Central de Macapá deverá reabrir em março, prevê a prefeitura. O local é um dos principais pontos turísticos da capital e reúne diversos pontos de vendas de comidas típicas e artesanatos. Essa é a terceira data reabertura. A primeira foi anunciada para maio de 2016 e a segunda para setembro do mesmo ano. A obra foi orçada em aproximadamente R$ 2 milhões. O investimento é financiado pelo Programa Calha Norte, do Governo Federal, por meio de emenda parlamentar, e terá espaços com acessibilidade para pessoas com deficiência, segundo a prefeitura. A Secretaria Municipal de Obras (Semob) informou além da pintura, consertos na rede elétrica e hidráulica e substituição do telhado, novos espaços serão implantados no local, como a ampliação da área para lanchonetes, banheiros e a montagem de um palco para atrações culturais. A última reforma aconteceu em 2013, quando o prédio completou 60 anos de criação. ” História em quadrinhos É um gênero narrativo que consiste em enredos contados em pequenos quadros através de diálogos diretos entre seus personagens, gerando uma espéciede conversação. Observe o exemplo abaixo: Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 27 www.apostilasmetodo.com.br Charge É um gênero textual narrativo onde se faz uma espécie de ilustração cômica, através de caricaturas, com o objetivo de realizar uma sátira, crítica ou comentário sobre algum acontecimento atual, em sua grande maioria. Poema Trabalho elaborado e estruturado em versos. Além dos versos, pode ser estruturado em estrofes. Rimas e métrica também podem fazer parte de sua composição. Pode ou não ser poético. Dependendo de sua estrutura, pode receber classificações específicas, como haicai, soneto, epopeia, poema figurado, dramático, etc. Em geral, a presença de aspectos narrativos e descritivos são mais frequentes neste gênero. Importante também é a distinção entre poema e poesia. Poesia é o conteúdo capaz de transmitir emoções por meio de uma linguagem, ou seja, tudo o que toca e comove pode ser considerado como poético. Assim, quando se aplica a poesia ao gênero poema, resulta-se em um poema poético, quando aplicada à prosa, resulta-se na prosa poética (até mesmo uma peça ou um filme podem ser assim considerados). Veja o exemplo de um poema poético, em Poema da purificação de Carlos Drummond De Andrade: Poema da purificação Depois de tantos combates o anjo bom matou o anjo mau e jogou seu corpo no rio As água ficaram tintas de um sangue que não descorava e os peixes todos morreram. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 28 www.apostilasmetodo.com.br Mas uma luz que ninguém soube dizer de onde tinha vindo apareceu para clarear o mundo, e outro anjo pensou a ferida do anjo batalhador. Veja o exemplo de uma prosa poética, em um trecho da obra Iracema de José de Alencar: “O guerreiro sem a esposa é como a árvore sem 28ubst. nem 28ubst.: nunca ela verá o fruto; o guerreiro sem amigo é como a árvore solitária que o vento açouta no meio do campo: o fruto dela nunca amadurece”. Figuras da Linguagem Figuras de Linguagem são recursos especiais usados para dar maior ênfase à comunicação. Elas são classificadas em: Figuras de Palavras Figuras de Pensamento Figuras de Sintaxe Figuras de Som Figuras de Palavras As Figuras de Palavras são recursos utilizados para produzir maior expressividade à comunicação. Elas consistem na substituição de uma palavra por outra, isto é, no emprego figurado, simbólico, seja por uma relação muito próxima (contiguidade), seja por uma associação, uma comparação, uma similaridade. Metáfora A metáfora consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em virtude da circunstância de que o nosso espírito as associa e depreende entre elas certas semelhanças. Obs.: toda metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece. Exemplo: A vida é uma nuvem que voa. Metonímia A metonímia consiste em empregar um termo no lugar de outro, havendo entre ambos estreita afinidade ou relação de sentido. Observe os exemplos abaixo: Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 29 www.apostilasmetodo.com.br a) Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis.) b) Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes da cruz. (Não te afastes da religião.) Catacrese Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, tomase outro “emprestado”. Assim, passamos a empregar algumas palavras fora de seu sentido original. Exemplos: “asa da xícara” “batata da perna” “maçã do rosto” “pé da mesa” “braço da cadeira” “coroa do abacaxi” Perífrase Trata-se de uma expressão que designa um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou. Veja o exemplo: A Cidade Maravilhosa ( Rio de Janeiro) continua atraindo visitantes do mundo todo. Obs.: quando a perífrase indica uma pessoa, recebe o nome de antonomásia. Exemplos: a) O Divino Mestre (Jesus Cristo) passou a vida praticando o bem. b) O Poeta dos Escravos (Castro Alves) morreu muito jovem. c) Poeta da Vila (Noel Rosa) compôs lindas canções. Sinestesia Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido. Exemplos: a) Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (Grito = auditivo; áspero = tátil) b) No silêncio negro do seu quarto, aguardava os acontecimentos. (Silêncio = auditivo; negro = visual) Figuras de Pensamento As figuras de pensamento trabalham com a combinação de ideias, pensamentos. Dentre as figuras de pensamento, as mais comuns são: Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 30 www.apostilasmetodo.com.br Antítese Consiste na utilização de dois termos que contrastam entre si. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. O contraste que se estabelece serve, essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos que não se conseguiria com a exposição isolada dos mesmos. Observe os exemplos: a) “O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa) b) O corpo é grande e a alma é pequena. c) “Quando um muro separa, uma ponte une.” d) “Desceu aos pântanos com os tapires; subiu aos Andes com os condores.” (Castro Alves) e) Felicidade e tristeza tomaram conta de sua alma. Paradoxo Consiste numa proposição aparentemente absurda, resultante da união de ideias contraditórias. Veja o exemplo: a) Na reunião, o funcionário afirmou que o operário quanto mais trabalha mais tem dificuldades econômicas. Eufemismo Consiste em empregar uma expressão mais suave, mais nobre ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa áspera, desagradável ou chocante. Exemplos: a) Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor. (Morreu) b) O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (Roubou) c) Fernando faltou com a verdade. (Mentiu) Ironia Consiste em dizer o contrário do que se pretende ou em satirizar, questionar certo tipo de pensamento com a intenção de ridicularizá- lo, ou ainda em ressaltar algum aspecto passível de crítica. A ironia deve ser muito bem construída para que cumpra a sua finalidade; mal construída, pode passar uma ideia exatamente oposta à desejada pelo emissor. Veja os exemplos abaixo: a) Como você foi bem na última prova, não tirou nem a nota mínima! b) Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que estão por perto. Hipérbole É a expressão intencionalmente exagerada com o intuito de realçar uma ideia. Exemplos: a) Faria isso milhões de vezes se fosse preciso. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 31 www.apostilasmetodo.com.br b) “Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac) Prosopopeia ou Personificação Consiste em atribuir ações ou qualidades de seres animados a seres inanimados, ou características humanas a seres não humanos. Observe os exemplos: a) As pedras andam vagarosamente. B) O vento fazia promessas suaves a quem o escutasse. Apóstrofe Consiste na “invocação” de alguém ou de alguma coisa personificada, de acordo com o objetivo do discurso que pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo chamamento do receptor da mensagem, seja ele imaginário ou não. A introdução da apóstrofe interrompe a linha de pensamento do discurso, destacando-se assim a entidade a que se dirige e a ideia que se pretende pôr em evidência com tal invocação. Realiza-se por meio do vocativo. Exemplos: a) Moça, que fazes aí parada? b) “Pai Nosso, que estais no céu...” c) “Liberdade, Liberdade, Abre as asas sobre nós, Das lutas, na tempestade, Dá que ouçamostua voz...” (Osório Duque Estrada) Gradação Consiste em dispor as ideias por meio de palavras, sinônimas ou não, em ordem crescente ou decrescente. Quando a progressão é ascendente, temos o clímax; quando é descendente, o anticlímax. Observe este exemplo: Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana com seus olhos claros e brincalhões... O objetivo do narrador é mostrar a expressividade dos olhos de Joana. Para chegar a esse detalhe, ele se refere ao céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana e seus olhos. Nota-se que o pensamento foi expresso em ordem decrescente de intensidade. Outros exemplos: a) “Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu amor”. (Olavo Bilac) b) “O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu-se.” (Padre Antônio Vieira). Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 32 www.apostilasmetodo.com.br Figuras de Sintaxe As Figuras de Sintaxe ou Figuras de Construção são utilizadas para modificar um período, ou seja, interferem na estrutura gramatical da frase, com o intuito de oferecer maior expressividade ao texto. Assim, as figuras de sintaxe operam de diversas maneiras na frase, seja na inversão, repetição ou na omissão dos termos. Elipse Consiste na omissão de um ou mais termos numa oração que podem ser facilmente identificados, tanto por elementos gramaticais presentes na própria oração, quanto pelo contexto. Exemplos: a) Regina estava atrasada. Preferiu ir direto para o trabalho. (Ela, Regina, preferiu ir direto para o trabalho, pois estava atrasada.) b) As rosas florescem em maio, as margaridas em agosto. (As margaridas florescem em agosto.) Zeugma Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita a omissão de um termo já mencionado anteriormente. Exemplos: a) Ele gosta de geografia; eu, de português. B) Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só móveis modernos. Silepse Na silepse há concordância da ideia e não do termo utilizado. São classificadas em: Silepse de Gênero, quando ocorre discordância entre os gêneros (feminino e masculino); Silepse de Número, quando ocorre discordância entre o singular e o plural; Silepse de Pessoa, quando ocorre discordância entre o sujeito, que aparece na terceira pessoa, e o verbo, que surge na primeira pessoa do plural. Exemplos: São Paulo é suja. (silepse de gênero) Um bando (singular) de mulheres (plural) gritavam assustadas. (silepse de número) Todos os atletas (terceira pessoa) estamos (primeira pessoa do plural) preparados para o jogo. (silepse de pessoa). Hipérbato ou Inversão O hipérbato é caraterizado pela inversão da ordem direta dos termos da oração, segundo a construção sintática usual da língua (sujeito + predicado + complemento). Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 33 www.apostilasmetodo.com.br Exemplo: Triste estava Manuela. (Neste caso, o estado do sujeito surge antes do nome “Manuela”, que na construção sintática usual seria: Manuela estava triste). Assíndeto Síndeto corresponde a uma conjunção coordenativa utilizada para unir termos nas orações coordenadas. Feita essa observação, a figura de pensamento assíndeto é caracterizada pela ausência de conjunções. Exemplo: Daiana comprou uvas para comer, (e) limões para fazer suco. Polissíndeto Ao contrário do assíndeto, o polissíndeto é caracterizado pela repetição da conjunção coordenativa (conectivo). Exemplo: Dolores brigava, e gritava, e falava. Anáfora A anáfora é a repetição de termos no começo das frases, muito utilizada pelos escritores na construção dos versos a fim de dar maior ênfase à ideia. Exemplo: Se eu amasse, se eu chorasse, se eu perdoasse. (A repetição do termo “se” enfatiza a condicionalidade que o emissor do discurso quer propor). Anacoluto O anacoluto altera a sequência lógica da estrutura da frase por meio de uma pausa no discurso. Exemplo: Esses políticos de hoje, não se pode confiar. (Numa sequência lógica, teríamos: “Esses políticos de hoje não são confiáveis” ou Não se pode confiar nesses políticos de hoje.) Pleonasmo Repetição enfática ou redundância de um termo que soa “desnecessário” no discurso, o qual pode ser utilizado intencionalmente (pleonasmo literário) como figura de linguagem, ou por desconhecimento das normas gramaticais (pleonasmo vicioso), nesse caso um vício de linguagem. Exemplo: A noite escura da Amazônia. (Note que a noite já pressupõe escuridão.) Figuras de Som As Figuras de Som ou de Harmonia correspondem a uma categoria das figuras de linguagem associadas à sonoridade. Elas valorizam a expressividade do texto, por meio da sonoridade, ou seja, da repetição de sons. Aliteração Consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro significativo. Exemplos: a) Três pratos de trigo para três tigres tristes. b) O rato roeu a roupa do rei de Roma. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 34 www.apostilasmetodo.com.br Assonância Consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos. Exemplos: “Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral.” Onomatopeia Ocorre quando se tentam reproduzir na forma de palavras os sons da realidade. Exemplos: a) Os sinos faziam blem, blem, blem, blem. b) Miau, miau. (Som emitido pelo gato). QUESTÕES DE CONCURSOS 01. (Fuvest – Primeira Fase) A civilização “pós-moderna” culminou em um progresso inegável, que não foi percebido antecipadamente, em sua inteireza. Ao mesmo tempo, sob o “mau uso” da ciência, da tecnologia e da capacidade de invenção nos precipitou na miséria moral inexorável. Os que condenam a ciência, a tecnologia e a invenção criativa por essa miséria ignoram os desafios que explodiram com o capitalismo monopolista de sua terceira fase. Em páginas secas premonitórias, E. Mandel1 apontara tais riscos. O “livre jogo do mercado” (que não é e nunca foi “livre”) rasgou o ventre das vítimas: milhões de seres humanos nos países ricos e uma carrada maior de milhões nos países pobres. O centro acabou fabricando a sua periferia intrínseca e apossou-se, como não sucedeu nem sob o regime colonial direto, das outras periferias externas, que abrangem quase todo o “resto do mundo”. 1: Ernest Ezra Mandel (1923-1995): economista e militante político belga. O emprego de aspas em uma dada expressão pode servir, inclusive, para indicar que ela I. foi utilizada pelo autor com algum tipo de restrição; II. pertence ao jargão de uma determinada área do conhecimento; III. contém sentido pejorativo, não assumido pelo autor. Considere as seguintes ocorrências de emprego de aspas presentes no texto: A. “pós-moderna” (L. 1); B. “mau uso” (L. 2); C. “livre jogo do mercado” (L.6); D. “livre” (L. 7); E. “resto do mundo” (L. 9). As modalidades I, II e III de uso de aspas, elencadas acima, verificam-se, respectivamente, em a) A, C e E b) B, C e D Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 35 www.apostilasmetodo.com.br c) C, D e E d) A, B e E e) B, D e A 02. (Enem – Segundo Dia) “Ele era o inimigo do rei”, nas palavras de seu biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda, “um romancista que colecionava desafetos, azucrinava D. Pedro II e acabou inventando o Brasil”. Assim era José de Alencar (1829-1877), o conhecido autor de O guarani e Iracema, tido como o pai do romance no Brasil. Além de criar clássicos da literatura brasileira com temas nativistas, indianistas e históricos, ele foi também folhetinista, diretor de jornal, autor de peças de teatro, advogado, deputado federal e até ministro da Justiça. Para ajudar na descoberta das múltiplas facetas desse personagem do século XIX, parte de seu acervo inédito será digitalizada. História Viva, n.° 99, 2011. Com base no texto, que trata do papeldo escritor José de Alencar e da futura digitalização de sua obra, depreende-se que a) a digitalização dos textos é importante para que os leitores possam compreender seus romances. b) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi importante porque deixou uma vasta obra literária com temática atemporal. c) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio da digitalização, demonstra sua importância para a história do Brasil Imperial. d) a digitalização dos textos de José de Alencar terá importante papel na preservação da memória linguística e da identidade nacional. e) o grande romancista José de Alencar é importante porque se destacou por sua temática indianista. 03. (Enem – Segundo Dia) A substituição do haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil, corresponde a um dos processos mais característicos da história da língua portuguesa, paralelo ao que já ocorrera em relação à aplicação do domínio de ter na área semântica de “posse”, no final da fase arcaica. Mattos e Silva (2001:136) analisa as vitórias de ter sobre haver e discute a emergência de ter existencial, tomando por base a obra pedagógica de João de Barros. Em textos escritos nos Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 36 www.apostilasmetodo.com.br anos quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-se evidências, embora raras, tanto de ter “existencial”, não mencionado pelos clássicos estudos de sintaxe histórica, quanto de haver como verbo existencial com concordância, lembrado por Ivo Castro, e anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali. Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento deficiente da língua. Há mais perguntas que respostas. Pode-se conceber uma norma única e prescritiva? É válido confundir o bom uso e a norma com a própria língua e dessa forma fazer uma avaliação crítica e hierarquizante de outros usos e, através deles, dos usuários? Substitui-se uma norma por outra? CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico: do presente para o passado, In: Cadernos de Letras da UFF, n.° 36, 2008. Disponível em: www.uff.br. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado). Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que: a) o estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa histórica. b) os estudo clássicos de sintaxe histórica enfatizam a variação e a mudança na língua. c) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da norma. d) a adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos linguísticos. e) os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição linguística. 04. (UERJ) “Todo abacate é verde. O incrível Hulk é verde. O incrível Hulk é um abacate.” Todo argumento pode se tornar um sofisma: um raciocínio errado ou inadequado que nos leva a conclusões falsas ou improcedentes. O último parágrafo do texto é um exemplo de sofisma, considerando que, da constatação de que todo abacate é verde, não se pode deduzir que só os abacates têm cor verde. Esse é o tipo de sofisma que adota o seguinte procedimento: a) enumeração incorreta b) generalização invertida c) representação imprecisa d) exemplificação inconsistente http://www.uff/ Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 37 www.apostilasmetodo.com.br 05. (ETEC ) “Em um mundo marcado por conflitos em diferentes regiões, as operações de manutenção da paz das Nações Unidas são a expressão mais visível do compromisso solidário da comunidade internacional com a promoção da paz e da segurança. Embora não estejam expressamente mencionadas na Carta da ONU, elas funcionam como instrumento para assegurar a presença dessa organização em áreas conflagradas, de modo a incentivar as partes em conflito a superar suas disputas por meio pacífico – razão pela qual não devem ser vistas como forma de intervenção armada.” Acesso em: 26.08.2016. Adaptado. Historicamente, o Brasil envia soldados para participar de operações de paz. Em 2004, foi criada pelo Conselho de Segurança da ONU a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah). De acordo com o texto, essa missão foi criada para: a) restabelecer a segurança e normalidade institucional do Haiti após sucessivos episódios de turbulência política e de violência, que marcaram esse país no início do século XXI. b) atacar os garimpos ilegais de diamantes no interior do Haiti, que usavam mão de obra infantil nas minas onde esse minério é encontrado. c) combater o narcotráfico comandado pelo Cartel de Medelin, que a partir do Haiti distribuía drogas para todos os países da América Latina. d) acabar com os problemas ambientais crônicos no Haiti, pois esse país era o principal responsável pela poluição ambiental no Caribe. e) extinguir a rede de trabalho escravo existente no Haiti, que utilizava esse tipo de mão de obra nas plantações de soja e trigo. 06 (Fatec – 1º Semestre – Prova) Leia o texto para responder às questões. O labirinto dos manuais Há alguns meses troquei meu celular. Um modelo lindo, pequeno, prático. Segundo a vendedora, era capaz de tudo e mais um pouco. Fotografava, fazia vídeos, recebia e-mails e até servia para telefonar. Abri o manual, entusiasmado. “Agora eu aprendo”, decidi, folheando as 49 páginas. Já na primeira, tentei executar as funções. Duas horas depois, eu estava prestes a roer o aparelho. O manual tentava prever todas as possibilidades. Virou um labirinto de instruções! Na semana seguinte, tentei baixar o som da campainha. Só aumentava. Buscava o vibracall, não achava. Era só alguém me chamar e todo mundo em torno saía correndo, pensando que era o alarme de incêndio! Quem me salvou foi um motorista de táxi. Apostila Concurso Câmara de São José dos Campos SP - 2022 AUXILIAR LEGISLATIVO 38 www.apostilasmetodo.com.br — Manual só confunde – disse didaticamente. – Dá uma de curioso. Insisti e finalmente descobri que estava no vibracall há meses! O único problema é que agora não consigo botar a campainha de volta! Atualmente, estou de computador novo. Fiz o que toda pessoa minuciosa faria. Comprei um livro. Na capa, a promessa: “Rápido e fácil” – um guia prático, simples e colorido! Resolvi: “Vou seguir cada instrução, página por página. Do que adianta ter um supercomputador se não sei usá-lo?”. Quando cheguei à página 20, minha cabeça latejava. O livro tem 342! Cada vez que olho, dá vontade de chorar! Não seria melhor gastar o tempo relendo Guerra e Paz*? Tudo foi criado para simplificar. Mas até o microndas ficou difícil. A não ser que eu queira fazer pipoca, que possui sua tecla própria. Mas não posso me alimentar só de pipoca! Ainda se emagrecesse... E o fax com secretária eletrônica? O anterior era simples. Eu apertava um botão e apagava as mensagens. O atual exige que eu toque em um, depois em outro para confirmar, e de novo no primeiro! Outro dia, a luzinha estava piscando. Tentei ouvir a mensagem. A secretária disparou todas as mensagens, desde o início do ano! Eu sei que para a garotada que está aí tudo parece muito simples. Mas o mundo é para todos, não é? Talvez alguém dê aulas para entender manuais! Ou o jeito seria aprender só aquilo de que tenho realmente necessidade, e não usar todas as funções. É o que a maioria das pessoas acaba fazendo! (Walcyr Carrasco, Veja SP, 19.09.2007. Adaptado) 1) Livro do escritor russo Liev Tolstói. Com mais de mil páginas e centenas de personagens, é considerada uma das maiores obras da história da literatura. Pelos comentários feitos pelo narrador, pode-se concluir corretamente que a) a leitura de obras-primas da literatura é atividade mais produtiva do que utilizar celulares e computadores. b) os manuais cujas diversas instruções os usuários não conseguem compreender e pôr em prática são improdutivos.
Compartilhar