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Arqueologia e Sítios do Litoral do Rio Grande do Norte

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA 
 
 
IAGO HENRIQUE ALBUQUERQUE DE MEDEIROS 
 
 
 
 
 
OS CONCHEIROS EM DUNAS DO LITORAL SETENTRIONAL NORTE-RIO-
GRANDENSE: OCUPAÇÃO HUMANA, CULTURA MATERIAL E PROCESSOS DE 
FORMAÇÃO DO REGISTRO ARQUEOLÓGICO 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2016 
 
 
1 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA 
 
 
IAGO HENRIQUE ALBUQUERQUE DE MEDEIROS 
 
 
 
OS CONCHEIROS EM DUNAS DO LITORAL SETENTRIONAL NORTE-RIO-
GRANDENSE: OCUPAÇÃO HUMANA, CULTURA MATERIAL E PROCESSOS DE 
FORMAÇÃO DO REGISTRO ARQUEOLÓGICO 
 
 
 
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Arqueologia, do Museu Nacional, da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como 
requisito parcial do processo de Doutorado. 
 
Orientadora: Dra. Maria Dulce Barcellos Gaspar de 
Oliveira 
 
Linha de pesquisa: Povoamento do Território 
Brasileiro 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2016 
 
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2 
IAGO HENRIQUE ALBUQUERQUE DE MEDEIROS 
 
OS CONCHEIROS EM DUNAS DO LITORAL SETENTRIONAL NORTE-RIO-GRANDENSE: 
OCUPAÇÃO HUMANA, CULTURA MATERIAL E PROCESSOS DE FORMAÇÃO DO REGISTRO 
ARQUEOLÓGICO 
 
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em 
Arqueologia, do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 
como requisito parcial do processo de Doutorado. 
 
Orientadora: Dra. Maria Dulce Barcellos Gaspar de Oliveira 
 
Linha de pesquisa: Povoamento do Território Brasileiro 
 
BANCA EXAMINADORA 
Membros Titulares: 
____________________________________________________________ 
Dra. Maria Dulce Barcellos Gaspar de Oliveira – Orientadora (PPGArq-MN/UFRJ) 
____________________________________________________________ 
Dra. Cláudia Rodrigues Ferreira de Carvalho – PPGArq/MN/UFRJ 
____________________________________________________________ 
Dr. Murilo Quintans Ribeiro Bastos - MN/UFRJ 
____________________________________________________________ 
Dra. Rita Scheel-Ybert – PPGArq/MN/UFRJ 
____________________________________________________________ 
Dr. Roberto Airon Silva – PPGH/UFRN 
 
Membros Suplentes: 
____________________________________________ 
Dra. Claudia Rodrigues Ferreira de Carvalho - PPGArq/MN/RJ 
____________________________________________ 
Dr. Renato Rodriguez Cabral Ramos - DGP/GeoQuater/Museu Nacional /MN/RJ 
RIO DE JANEIRO 
2016 
3 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Marluce, Marcelo e Paulo Roberto de Medeiros (in 
memorian), pessoas para as quais dedico este trabalho e 
minha vida. 
 
4 
AGRADECIMENTOS 
Meus agradecimentos à Universidade Federal do Rio de Janeiro e ao Museu Nacional, 
pela oportunidade de ingressar no Programa de Pós-Graduação – PPGArq/MN, pelos 
conhecimentos adquiridos que foram a base para o desenvolvimento da pesquisa; 
À Dra. Maria Dulce Gaspar do PPGArq, professora na mais ampla acepção da palavra, 
que me forneceu sempre a oportunidade da conversa, sugestão de leituras, discussões e 
delineamento da pesquisa; 
À Dra. Tânia Andrade Lima pelos conhecimentos adquiridos ao longo do curso e mesmo 
antes do Doutorado; 
À Dra. Denise Cavalcante, Dr. Andersen Lyrio e Dr. Renato Rodriguez Cabral Ramos 
pelas contribuições à época da qualificação; 
Aos Professores que compuseram a banca examinadora por suas observações, muitas 
correções, contribuições ao texto final e por terem identificado neste trabalho uma contribuição 
à arqueologia norte-rio-grandense; 
À Dra. Gina Faraco Bianchini pela oportunidade de aprendizado em campo no Sítio 
Sernambetiba e no Laboratório de Arqueologia; 
Ao MsC. Diogo Borges, pelas discussões e pelo exemplo de otimismo e alegria; 
Ao colega de curso e amigo Paulo Roberto do Canto pelas discussões, análise das 
coleções cerâmicas, amizade e convivência no Rio de Janeiro e em Natal; 
À Claudine Leite e Nazaré Rezende pelo tratamento sempre cordial e disposição em 
ajudar a todos que as procuram; 
Ao Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte pelos 
anos de aprendizado e aos professores Paulo Tadeu, Mirian Cazetta e Roberto Airon; 
Ao LAHP/UERN na pessoa de seu coordenador, Prof. Valdeci dos Santos Júnior; 
À Jeanne Nesi, Superintendente do IPHAN no Rio Grande do Norte; 
A Onésimo Santos pelo acesso às coleções arqueológicas do IPHAN/RN; 
À Verônica Pontes Viana, a Hebert Rego, Cristiane Bucco e aos colegas do Ceará; 
5 
À Railda Nascimento e aos colegas de Sergipe; 
Agradeço a todos os colegas e amigos por participarem de minha trajetória. Credito 
ainda este trabalho à excelência dos professores, às pessoas gernerosas e de bom coração com 
as quais tive contato no Rio de Janeiro/ 
Aos belíssimos Quinta da Boa Vista e Museu Nacional que relativizaram as dificuldades 
e relevaram o aprendizado no curso; 
À Marluce, Marcelo e Paulo Roberto de Medeiros (in memorian). 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Eu venho das dunas brancas 
Onde eu queria ficar 
Deitando os olhos cansados 
Por onde a vista alcançar 
 
Meu céu é pleno de paz 
Sem chaminés ou fumaça 
No peito enganos mil 
Na terra é pleno abril 
No peito enganos mil 
Na terra é pleno abril 
 
Eu tenho a mão que aperreia 
Eu tenho o sol e areia 
Sou da América 
Sou (...)” 
 
Terral, de Ednardo, composição de 1973. 
7 
RESUMO 
 
A tese de doutorado apresenta a pesquisa dos sítios litorâneos do litoral do Rio Grande do Norte, 
a partir das coleções arqueológicas oriundas do Projeto Dunas (Albuquerque, 1994) e dos 
resgates dos materiais arqueológicos dos sítios Galinhos e Três Irmãos (respectivamente 
localizados em dunas costeiras dos municípios de Galinhos e São Bento do Norte, Estado do 
Rio Grande do Norte). Os sítios arqueológicos localizados nesses contextos ao longo da História 
de sua formação foram expostos a eventos de modificação pós-deposicional, promovidos pela 
dinâmica geomórfica. São de interpretação complexa, e, entre outras limitações introduzidas 
pelos processos de formação, figuram a composição de palimpsestos arqueológicos. 
Considerando esses vieses a pesquisa teve como perspectiva de abordagem a análise espacial 
intra-sítio, e, complementarmente cotejou os processos de cunho geoambiental aliado à análise 
da cultura material dos sítios. Residiu, fundamentalmente, em uma análise relacional entre os 
sítios litorâneos orientais e os setentrionais do Estado. Para tal foram avaliados os dados 
disponíveis resultantes de pesquisas em áreas do litoral oriental, nas áreas de dunas e tabuleiros 
litorâneos, à luz do estudo de dois sítios escavados no litoral setentrional. As relações passíveis 
de serem colocadas entre as duas áreas, em termos das escolhas dos grupos pré-coloniais, bem 
como as diferenças ao nível da estruturação do registro arqueológico foram questões latentes. 
Ademais, não haviam sido cotejadas, até a elaboração da presente pesquisa. Tencionou-se 
contribuir para a compreensão dessas questões, uma vez que os dados e conclusões reunidos na 
tese de doutorado indicaram, que numa equação complexa um conjunto de variáveis, de fundo 
geoambiental e cultural respondem pela diferenciação dos contextos de ocupação e 
funcionalidade dos sítios nos dois setores litorâneos: o oriental e o setentrional. Para interpretar 
as ocupações e os padrões de uso do espaço, além dos processos de formação do registro 
arqueológico, foram empregadas técnicas de análise espacial em arqueologia, por meio do 
processamento de dados pelo emprego do Sistema de Informações Geográficas SIG/GIS. Com 
a conclusão da pesquisa foi possível identificar elementos que remetem a um modelo de 
ocupação dos setores do litoral oriental e setentrional, além da intrepretação dos padrões 
espaciais e da estrutura dos concheiros setentrionais (elementos caracterizadores do registro 
arqueológico na região). 
 
Palavras-chave: Litoral Setentrional do RN – Ocupação Humana – Cultural material– Processos de Formação 
do Registro Arqueológico 
 
 
8 
ABSTRACT 
The doctoral thesis presents the research of coastal sites in the Rio Grande do Norte coastline 
based on archaeological collections derived from Projeto Dunas (Albuquerque, 1994) and the 
archaeological materials derrived from sites Galinhos e Três Irmãos located in the 
municipalities of Galinhos and São Bento do Norte, Rio Grande do Norte State. The 
archaeological sites located in these contexts and throughout the history of its formation, were 
exposed to formation processes highlighting the formation of archaeological palimpsests. 
Considering these biases the research was to approach the intra-site spatial analysis and 
complementarily analyzed the environmental processes and data from the material culture. It 
was in fact a relational analysis between the eastern coastal and northern sites. Thus the data of 
research conducted on the eastern coast were used, in addition to the data from two sites on the 
northern coast of the State. Were issues to be clarified, the potential relations between the two 
coastal sectors, in terms of differentiation of the archaeological record and the choices of 
prehistoric groups. It is intended to contribute to the understanding of these issues, since the 
data collected and conclusions indicated that a number of environmental and cultural variables 
are responsible for the differentiation of the archaeological record in the two coastal sectors. To 
understand the occupations and space patterns, as also the formation processes of the 
archaeological record, were employed spatial analysis techniques and geographic information 
system GIS. With the conclusion of the research was possible to propose a model of occupation 
of areas of eastern and northern coast, as also the spatial patterns and structure of coastal 
northern sites. 
Key Words: Coastal Northern/RN - Human Occupation - Cultural Material – Formation Processes of the 
Archaeological Record. 
 
9 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO 20 
 
2 QUADRO DE REFERÊNCIA: AS PESQUISAS E SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS 
DO LITORAL DO RIO GRANDE DO NORTE 27 
2.1 Os sítios com materiais conchíferos do litoral do Brasil: Potencial informativo, 
conjuntos de cultura material, estratigrafia e processos de formação do registro. 50 
 
3 O CONTEXTO GEOLÓGICO 61 
3.1 Geologia e geomorfologia da faixa litorânea do Rio Grande do Norte 62 
3.1.1 Elementos para entendimento dos processos eólicos em dunas costeiras 74 
3.2 Aspectos fisiográficos do Litoral Setentrional do Rio Grande do Norte 90 
3.2.1 Vegetação do litoral do Rio Grande do Norte 91 
3.3 Datações das dunas costeiras do Rio Grande do Norte, paleoclimas e níveis de NRM
 94 
3.4 Paleoclima da região Nordeste e níveis relativos do mar 95 
3.4.1 Nível relativo do mar no Holoceno 96 
3.4.2 Representação do contorno da linha de NRM aos 5.900-6000 anos cal. AP: 
transgressão marinha e os sítios arqueológicos. 99 
 
4 OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS 107 
4.1 Os Sítios Arqueológicos 107 
4.2 Processos de formação do registro arqueológico em dunas eólicas costeiras 122 
4.3 Considerações à abordagem de sítios em dunas eólicas 127 
4.4 Geoindicadores e disposição espacial de sítios arqueológicos em dunas no Litoral 
Setentrional do Rio Grande do Norte 132 
4.5 Os sítios arqueológicos e o estudo das coleções 145 
4.5.1 Pressupostos à análise das coleções líticas coletadas no Projeto Dunas: a tradição 
Itaparica 145 
4.5.2 As indústrias líticas do Rio Grande do Norte: observações sobre a unifacialidade, os 
instrumentos acabados 146 
4.5.3 Representação gráfica da de artefatos plano-convexos do Projeto Dunas 164 
4.6 Sistematização dos dados oriundos das escavações realizadas nos sítios 
arqueológicos Galinhos e Três Irmãos 171 
10 
4.6.1 Os levantamentos de campo nos sítios setentrionais em dunas 171 
4.6.2 Objetivos que guiaram as escavações 173 
4.6.3 Metodologia de campo 197 
4.6.4 Análise e perspectivas acerca das coleções cerâmicas dos sítios Galinhos e Três 
Irmãos 173 
4.6.5 As industrias e coleções de materiais malacológicos dos sítio Galinhos e Três Irmãos
 197 
4.6.6 A análise do material cultural 213 
 
5 CARACTERIZAÇÃO DOS ARRANJOS ESPACIAIS NOS SÍTIOS GALINHOS E 
TRÊS IRMÃOS E OS PROCESSOS DE FORMAÇÃO DO REGISTRO 
ARQUEOLÓGICO. 215 
5.1 Pressupostos à avaliação espacial: Os palimpsestos e o problema das taxas de 
acumulação em sítios arqueológicos 215 
5.2 Caracterização dos arranjos espaciais no espaço dos sítios Galinhos e Três Irmãos e 
os processos de formação do registro arqueológico. 216 
5.3 Análise intra-sítio: arranjos espaciais, atividades préteritas e comportamento nos 
Sítios 231 
5.4 Os conjuntos artefactuais 236 
5.4.1 A análise da indústria lítica 239 
5.5 Avaliação da cultura material dos sítios 244 
 
6 CONCLUSÃO 247 
 
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 252 
 
 
 
 
11 
ÍNDICE DAS FIGURAS 
Figura 1: Plano-convexo do centro norte mineiro. Fonte: (PROUS, 1992) 34 
Figura 2: Plano-convexo do centro norte mineiro. Fonte: (PROUS, 1992) 34 
Figura 3: Raspadores longos, característicos da tradição Itaparica, de populações que ocupavam 
áreas de cerrado no centro do Brasil entre 9 mil e 6.500 anos. FONTE: (GUIDON, 1992) 34 
Figura 4: Plano-convexo da fase Paranaíba. FONTE: (GUIDON, 1992) 35 
Figura 5: Plano-convexo sobre lâmina da fase Paranaíba. FONTE: (GUIDON, 1992) 35 
Figura 6: Plano-convexo, Lapa do Morrro Vermelho. FONTE: (GUIDON, 1992) 35 
Figura 7: Plano-convexo da região centro norte de Goiás. FONTE: (GUIDON, 1992) 35 
Figura 8: Lesmas da fase Paranaíba da tradição Itaparica, provenientes dos abrigos de 
Serranópolis. Fonte: (SCHMITZ, 1987) 36 
Figura 9: Plano Convexo, litoral oriental do Rio Grande do Norte Projeto Dunas, face dorsal.
 37 
Figura 10: Plano Convexo, litoral oriental do Rio Grande do Norte Projeto Dunas, face ventral.
 37 
Figura 11: Plano Convexo, litoral oriental do Rio Grande do Norte Projeto Dunas, vista lateral.
 37 
Figura 12: Plano Convexo, litoral oriental do Rio Grande do Norte Projeto Dunas, face dorsal.
 38 
Figura 13: Plano Convexo, litoral oriental do Rio Grande do Norte Projeto Dunas- face ventral.
 38 
Figura 14: Plano Convexo, litoral oriental do Rio Grande do Norte Projeto Dunas– Vista em 
perfil. 38 
Figura 15: Lesmas identificadas por V. Calderón (Gruta do Padre, Pernambuco). Fonte: Martin 
& Rocha (1990). 39 
Figura 16: Homem Tapuia. 44 
Figura 17: Homem Tupi. 44 
Figura 18: Contato entre as dunas e o tabuleiro no litoral do Rio Grande do Norte. 64 
Figura 19: Área de dunas ativas. 65 
Figura 20: Bacia de deflação em dunas ativas. 65 
Figura 21: Dunas ativas. 66 
Figura 22: Dunas ativas. 66 
Figura 23: Classificação de estruturas pós-deposicionais segundo McKee et al. (1971). A) 
Estruturas rotacionadas; B) Dobras suaves; C) Estruturas em chama; (D) Dobras de arrasto; E) 
Dobras assimétricas de alto ângulo; F) Dobras redobradas; G) Dobras de empurrão; H) Partes 
quebradas; I) Brechas. 77 
Figura 24: Superfície limitantes adaptado de Brookfield (1977). 78 
Figura 25: Tipos de dunas, modificado de McKee (1979). 79 
12 
Figura 26: Morfologia de dunas barcanas. E compreende a extensão, L a largura e h a altura 
(Pye & Tsoar 1990). 80 
Figura 27: Modelos de modificação de dunas barcanas e formação das seif dunes a partir de 
dunas barcanas. 1), 2). F ventos fortes e S ventos suaves. (modificado de Pye e Tsoar, 1990)
 81 
Figura 28: A variabilidade de formas das dunas parabólicas: A) grampo, B) lobular, C) 
hemicíclica, D) digitada, E) nidiformes (dunas conjugadas, na qual dunas menores aninham-se 
entre os braços da duna maior), F) cadeias transgressivas com dunas transversais secundárias, 
G) dunas em forma de “ancinho”. A e B são formas simples, C, D e E são formas compostas e 
F e G são formas combinadas, modificado de Pye & Tsoar, 1990. 82 
Figura 29: Modelo de formação de dunas estrela a partir de dunas transversaisnuma área onde 
predominam ventos multidirecionais. As setas indicam as direções de ventos: a) Duna 
Transversal, b) Reversão sazonal da linha da crista, c) Duna reversa com braço incipiente de 
duna estreala, d) Desenvolvimento de braços a partir de um fluxo secundário e e) Acentuação 
dos braços a partir de uma terceira direção do vento e fluxo secundário. Extraído de Lancaster 
(1989). 83 
Figura 30: Modelo evolutivo para dunas frontais sugerido por Hesp (1988). 84 
Figura 31: Principais morfologias de blowouts. Blowout tipo pires (esquerda); Blowouts tipo 
calha (direita), exibindo paredes erosionais mais íngremes e bacia de deflação mais profunda 
em relação ao blowout em forma de pires. As setas indicam o padrão de fluxo do vento. “1. 
Lobo Deposicional, 2. Bacia de Deflação e 3. Parede Erosional”. Extraído de Hesp (2002). 85 
Figura 32: Vegetação herbácea das dunas. 92 
Figura 33: Vegetação secundária. 93 
Figura 34: Vegetação arbustiva de caatinga em área de tabuleiro. 93 
Figura 35: Detalhe de Sedimentos areno-argilosos em tabuleiro litorâneo. 94 
Figura 36: Fatores que regem as flutuações do nível relativo marinho. (Fonte: SUGUIO et al, 
1985) 97 
Figura 37: Superfície deflacionada. 123 
Figura 38: Estrutura interna de uma duna migrante. 125 
Figura 39: Vista de artefato confeccionado sobre carapaça de gastrópode, conta com perfuração 
central e regularizada por polimento, superfície, sítio Galinhos/RN. 132 
Figura 40: Detalhe da foto anterior, conta de colar polida com orifício central para engaste, 
identificada no sítio Galinhos. Apresenta intenso polimento provocado pela exposição à abrasão 
eólica (grãos de em suspensão, que imprimem aos objetos o chamado “brilho do deserto”) 133 
Figura 41: Vista de sítio arqueológico no litoral setentrional, Grossos/RN. Carapaças de 
gastrópodes de indíviduos juvenis, com marcas de percussão e quebra do ápice da columela, 
expostos à abrasão eólica. 133 
Figura 42: Vista de sítio arqueológico no litoral setentrional, Galinhos/RN. Os materiais estão 
na face de deslizamento de uma pequena duna em forma de domo (dome dune) 134 
Figura 43: Tabuleiro litorâneo, Galinhos/RN. 135 
Figura 44: Paleodunas e Formação Jandaíra em São Bento do Norte/RN. 135 
Figura 45: Dunas em Areia Branca/RN, Formação Barreiras e Dunas Móveis. 136 
13 
Figura 46: Sítio arqueológico em Galinhos/RN. Parede erosional, corredor de blowout, 
formados pela deflação, com materiais conchíferos em processo de escorregamento na parede 
erosional. 137 
Figura 47: Conjunto de instrumentos unifaciais (Projeto Dunas, 1994). 148 
Figura 48: Conjunto de instrumentos unifaciais (Projeto Dunas, 1994). 148 
Figura 49: Instrumento unifacial sobre lâmina – face inferior. (Projeto Dunas, 1994). 149 
Figura 50: Instrumento unifacial sobre lâmina – Vista lateral. (Projeto Dunas, 1994). 149 
Figura 51: Instrumento unifacial sobre lâmina – face superior. (Projeto Dunas, 1994). 150 
Figura 52: Núcleo sobre lasca – face superior. (Projeto Dunas, 1994). 150 
Figura 53: Núcleo sobre lasca – face inferior. (Projeto Dunas, 1994). 151 
Figura 54: Instrumento unifacial sobre lâmina, vista do talão e lábio resultante de percutor mole. 
(Projeto Dunas, 1994). 151 
Figura 55: Instrumento unifacial sobre lâmina, vista do talão – face superior com preparação 
prévia, retirada da cornija. (Projeto Dunas, 1994 ). 152 
Figura 56: Instrumento unifacial sobre lâmina, vista da face superior com preparação aresta 
guia. (Projeto Dunas, 1994). 152 
Figura 57: Instrumento plano convexo, unifacial de espessura média. (Projeto Dunas, 1994).
 153 
Figura 58: Artefato plano convexo – espesso – face superior. (Projeto Dunas, 1994). 154 
Figura 59: Artefato plano convexo – espesso – face inferior. (Projeto Dunas, 1994). 154 
Figura 60: Artefatos planos convexos – espesso – face superior, confeccionados com matéria 
prima de uma mesma área fonte ou do mesmo núcleo. (Projeto Dunas, 1994). 154 
Figura 61: Superfícies erodidas que expuseram núdulos, plaquetas, calhaus e blocos, área de 
tabuleiro pré-litorâneo, em sítio arqueológico com artefatos lascados que documentam as 
primeiras fases da cadeia operatória/redução lítica, aquisição de matéria prima. Sítio 
Oiticica/RN. 155 
Figura 62: Superfícies erodidas que expuseram núdulos, plaquetas, calhaus e blocos, área de 
tabuleiro pré-litorâneo, em sítio arqueológico com artefatos lascados que documentam as 
primeiras fases da cadeia operatória/redução lítica, aquisição de matéria prima. Sítio 
Oiticica/RN. 156 
Figura 63: Vista da variedade de suportes naturais em silexito e sua abundância, Sítio 
Oiticica/RN. 156 
Figura 64: Suporte de redução para lascas espessas, típicas de sítios de apropriação de matéria 
prima. 157 
Figura 65: Suporte de redução com córtex carcterístico de nódulos de sílex, crosta carbonática, 
que indica sua origem e formação na Formação Jandaíra da Bacia Potiguar. 157 
Figura 66: Pavimento com grande variedade de suportes em silexitos em sítio de obtenção de 
matéria prima, sítio do Trilho/RN. 158 
Figura 67: Núcleo lascado em silexito, sítio de obtenção de matéria prima, sítio do Trilho/RN.
 158 
14 
Figura 68: Superfícies erodidas que expuseram núdulos, plaquetas, calhaus e blocos em área de 
tabuleiro pré-litorâneo, em sítio arqueológico com artefatos lascados que documentam as 
primeiras fases da cadeia operatória/redução lítica, aquisição de matéria prima. Sítio 
Amargoso/RN. 159 
Figura 69: Pavimento com grande variedade de suportes em silexitos em sítio de obtenção de 
matéria prima, sítio do Trilho/RN. 159 
Figura 70: Pavimento com grande variedade de suportes em silexitos em sítio de obtenção de 
matéria prima, em área de Tabuleiro litorâneo (Formações Barreiras e Jandaíra). 160 
Figura 71: Pavimento com grande variedade de suportes em silexitos em sítio de obtenção de 
matéria prima, em área de Tabuleiro litorâneo (Formações Barreiras e Jandaíra). 160 
Figura 72: Suporte em silexito de grandes dimensões (com aproximadamente 40 a 50 kg) em 
sítio de obtenção de matéria prima, em área de tabuleiro litorâneo (Formações Barreiras e 
Jandaíra). 161 
Figura 73: Leito de curso d’água rio Amargoso com grande variedade de suportes em silexitos 
em meio aos aluviões em domínios da Formações Barreiras e Jandaíra. 161 
Figura 74: Núcleo em silexito em meio aos aluviões em domínios da Formações Barreiras e 
Jandaíra. 162 
Figura 75: Artefato plano-convexo 165 
Figura 76: Raspador lateral sobre lasca espessa. 165 
Figura 77: Lasca espessa de seção plano-convexa. 166 
Figura 78: Artefato plano-convexo e lesma espessa. 166 
Figura 79: Artefato unifacial sobre lasca. 167 
Figura 80: Artefato plano-convexo. 167 
Figura 81: Artefato plano-convexo. 168 
Figura 82: Artefato plano-convexo, lesma. 168 
Figura 83: Artefato plano-convexo. 169 
Figura 84: Artefato unifacial sobre lasca. 169 
Figura 85: Artefato plano-convexo. 170 
Figura 86: Artefato unfacial. 170 
Figura 87: Artefato unifacial. 171 
Figura 89: Vista da área de escavação. 198 
Figura 90: Vista da área de escavação 199 
Figura 91: Vista da área de escavação. 199 
Figura 92: Vista de área de escavação. 200 
Figura 93: Vista da área de escavação. 200 
Figura 94: Vista da área de escavação. 201 
Figura 95: Coleta sistemática de superfície. 201 
15 
Figura 96: Vista da área de coleta sistemática de superfície – Sítio Arqueológico Ponta dos Três 
Irmãos. 202 
Figura 97: Vista de parte do contexto do Sítio Arqueológico Galinhos. 205 
Figura 98: Detalhe da foto anterior, vista do contexto de superfície no sítio Galinhos. 205 
Figura 99: Detalhe da foto anterior, vista do contexto de superfície no sítio Galinhos. 206 
Figura 100: Núcleo em silexito no sítio Galinhos. 206 
Figura 101: Fragmentos de vasilhas cerâmicas no sítio Galinhos. 207 
Figura 102: Fragmento de borda de vasilha cerâmica remontada, fase Papeba externa, face 
exposta à erosão e abrasão eólica. 175 
Figura 103: Fragmentode borda de vasilha cerâmica remontada, fase Papeba externa, face 
preservada com tratamento de superfície aliasado. 176 
Figura 104: Fragmento de borda de vasilha cerâmica remontada, fase Papeba externa, face 
exposta à erosão e abrasão eólica. 176 
Figura 105: Fragmento de borda de vasilha cerâmica remontada, fase Papeba interna, face 
exposta à erosão e abrasão eólica. 177 
Figura 106: Fragmento de borda de vasilha cerâmica remontada, fase Papeba externa. 177 
Figura 107: Fragmentos de bojos de vasilhas cerâmicas, fase Papeba. 178 
Figura 108: Fragmentos de bojos de vasilhas cerâmicas, fase Papeba. 178 
Figura 109: Fragmentos de bojos de vasilhas cerâmicas, fase Papeba. 179 
Figura 110: Fragmentos de bojo e borda de vasilha cerâmica, fase Papeba. 179 
Figura 111: Fragmentos de borda externa de vasilha cerâmica, fase Papeba. 180 
Figura 112: Fragmentos de borda externa de vasilha cerâmica, fase Papeba. 180 
Figura 113: Fragmento de borda interna de vasilha cerâmica, fase Papeba. 181 
Figura 114: Fragmento de borda interna de vasilha cerâmica, fase Papeba. 181 
Figura 115: Fragmento de borda interna de vasilha cerâmica, fase Papeba. 182 
Figura 116: Fragmento de borda interna de vasilha cerâmica, fase Papeba. 182 
Figura 117: Fragmento de borda externa de vasilha cerâmica, fase Curimataú. 183 
Figura 118: Fragmento de borda externa de vasilha cerâmica, fase Curimataú. 183 
Figura 119: Fragmento de borda face interna da fase Curimataú, tradição Tupiguarani. 184 
Figura 120: Fragmento de borda da externa fase Curimataú, tradição Tupiguarani. 184 
Figura 121: Gastrópode com orícifio de perfuração de predador, polvo, sítio Galinhos. 209 
Figura 122: Gastrópode com oríficio de perfuração de predador, polvo, sítio Galinhos. 209 
Figura 123: Gastrópode com marca de utilização sítio Galinhos. 210 
Figura 124: Gastrópode com marca de utilização, sítio Galinhos. 210 
Figura 125: Gastrópode com marca de utilização, sítio Galinhos. 211 
Figura 126: Bivalve do sítio Galinhos. 211 
Figura 127: Bivalve do sítio Galinhos. 212 
16 
Figura 128: Bivalve do sítio Galinhos. 212 
Figura 129: Instrumento em material malacológico, sítio Três Irmãos. 212 
Figura 130: Instrumento em material malacológico, sítio Três Irmãos. 213 
Figura 131: Instrumento em material malacológico, sítio Três Irmãos. 213 
17 
ÍNDICE DOS MAPAS 
Mapa 1:Localização de sítios do Litoral Oriental pesquisados à época do Projeto Dunas. 59 
Mapa 2: Localização dos sítios do Litoral Setentrional pesquisados pelo autor. 60 
Mapa 3: Mapa ambiental com destaque para o contexto geológico e geomorfológico, 
características do quadro natural de base para as ocupações pré-colonais. 63 
Mapa 4: Geomorfologia do litoral setentrional do Rio Grande do Norte. 70 
Mapa 5: Geomorfologia do litoral setentrional do Rio Grande do Norte. 71 
Mapa 6: Geomorfologia do litoral oriental do Rio Grande do Norte 72 
Mapa 7: : Geomorfologia do litoral oriental do Rio Grande do Norte 73 
Mapa 8: Correlação entre os níveis relativos do nível do mar e possível cenário da transgressão 
no litoral oriental e setentrional do Rio Grande do Norte. 101 
Mapa 9: Correlação entre os níveis relativos do nível do possível cenário no litoral oriental e 
setentrional do Rio Grande do Norte. 102 
Mapa 10: Cenário pretérito de NRM elevado para os litorais oriental e setentrional do Rio 
Grande do Norte. 103 
Mapa 11: Cenário pretérito de NRM elevado para os litorais oriental e setentrional do Rio 
Grande do Norte. 104 
Mapa 12: Cenário pretérito de NRM elevado para os litorais oriental e setentrional do Rio 
Grande do Norte. Ressalte-se o fato da localização dos sítios mais interiores estarem próximos 
a cusos d’água atualmente seco, mais provalvemnete pernenes no contexto de NRM mais altos, 
que comportam variações locais de menor escala como a mudança na rede de derangem 
superficial em compartimentos geográficos específicos. 105 
Mapa 13: Cenário pretérito de NRM elevado para os litorais oriental e setentrional do Rio 
Grande do Norte. 106 
Mapa 14: Níveis do mar e sítios aruqueológicos (Litoral Oriental). 118 
Mapa 15: Níveis do mar e sítios arquelógicos (Litoral Oriental). 119 
Mapa 16: Níveis do mar e sítios arqueológicos (Litoral Setentrional). 120 
Mapa 17: Níveis do mar e sítios arquelógicos (Litoral Setentrional). 121 
Mapa 18: Localização dos geoindicadores relacionados ao sítio Três Irmãos (dunas). Ressalte-
se que os sítios mais inteiores localizam-se em áreas de contato entre o Barreiras e a Formação 
Jandaíra (pertencentes à Bacia Potiguar, onde ocorrem jazidas de silexitos) . 139 
Mapa 19: Localização dos geoindicadores relacionados ao sítio Galinhos (dunas). Ressalte-se 
que os sítios mais inteiores localizam-se em áreas de contato entre o Barreiras e a Formação 
Jandaíra (pertencentes à Bacia Potiguar, onde ocorrem jazidas de silexitos). 142 
Mapa 20: Levantamento topográfico e áreas de escavação (sítio Galinhos) 203 
Mapa 21: Áreas de ocorrência de vestígios no sítio Galinhos, padrão de densidade espacial 
segundo o estimador Kernell. 229 
Mapa 22: Áreas de ocorrência de vestígios no sítio Galinhos, padrão de densidade espacial 
segundo o estimador Kernell 230 
 
18 
ÍNDICE DOS GRÁFICOS 
Gráfico 1: Frequencia total de materiais culturais no sítio Galinhos 222 
Gráfico 2: Frequencia total de materiais culturais no sítio Três Irmãos 222 
Gráfico 3: Frequencia total dos materiais culturais no sítio Galinhos. 240 
Gráfico 4: Frequencia total dos materiais culturais no sítio Três Irmãos. 240 
Gráfico 5: Frequencia de classes de artefatos líticos sítio Galinhos. 241 
Gráfico 6: Frequencia de classes de artefatos líticos sítio Três Irmãos. 241 
Gráfico 7: Índice de ocorrência de talões, sítio Galinhos. 243 
Gráfico 8: Índice de ocorrência de talões, sítio Três Irmaõs. 243 
 
 
19 
ÍNDICE DAS TABELAS 
Tabela 1: Síntese da Geologia e Geomorfologia do Litoral do Rio Grande do Norte. ............ 68 
Tabela 2: Tipos de Camadas de Referência e Laminações cruzadas de marcas ...................... 75 
Tabela 3: Quadro potencial de dados paleoclimáticos. ............................................................ 95 
Tabela 4: Sítios Arqueológicos identificados no Projeto Dunas (1992) ................................ 108 
Tabela 5: Quadro percentuais de compartimentos geomorfológicos correlacionáveis ao Sítio 
Três Irmãos (Mapa 20) ........................................................................................................... 140 
Tabela 6: Quadro quantitativo de Unidades Geomorfológicas da Área em Estudo - (Mapa 20)
 ................................................................................................................................................ 141 
Tabela 7: Quadro percentual de compartimentos geomorfológicos correlacionáveis ao Sítio 
Galinhos (Mapa 20) ................................................................................................................ 143 
Tabela 8: Quadro quantitativo de Unidades Geomorfológicas da Área em Estudo - Detalhe 2.
 ................................................................................................................................................ 145 
 
20 
INTRODUÇÃO 
Nas áreas de dunas do litoral Setentrional do Rio Grande do Norte foram localizados 
sítios arqueológicos, testemunhos de ocupações que se deram desde o período pré-colonial até 
épocas do contato com os europeus. Nessas áreas há conjuntos de vestígios malacológicos 
associados a artefatos líticos e cerâmicos. Os sítios estão localizados em dunas móveis com 
matrizes arenosas quartzosas eólicas e são marcados pelos processos erosivos e deposicionais 
do vento. 
O litoral setentrional desempenhou um papel importante nas estratégias de ocupação 
dos grupos numa perspectiva da longa duração do tempo, dos processos sócio-culturais 
subajcentes, como área de aquisição, manutenção da subsistência, atividades 
industriais/laboraise base para o desenvolvimento de sistemas cultrais. Além disso, se 
constituiu numa rota de fácil transposição e ocupação, pois é composto por meio ambiente rico 
em estoques de recursos potenciais para subsistência. 
A sua importância pode ser inferida pela ocorrência de vestígios arqueológicos 
passíveis de serem relacionados a três grupos: 1) àqueles relacionados a portadores de 
tecnologia para confecção de artefatos líticos em silexito, os artefatos plano-convexos, devido 
à disponibilidade de fontes de matéria prima; estas situadas nos trajetos que demarcam as áreas 
de exploração e jazidas interiores em demanda ao litoral; 2) os agricultores-ceramistas passíveis 
de serem filiados aos grupos da fase Pabeba; e, 3) àqueles identificados a ocupações de 
horticultores-ceramistas da tradição Tupiguarani (fase Curimataú, da tradição Tupiguarani). 
Esses antecedentes de pesquisa residem nos trabalhos desenvolvidos no âmbito do 
Projeto Dunas/LARQ/UFRN, ao longo da década de 1990. No Projeto Dunas foi identificado 
um número significativo de sítios arqueológicos pré-coloniais e de contato euro-indígena, nas 
áreas de dunas do litoral oriental norte-rio-grandense. As pesquisas desenvolvidas se 
restringiram a essa porção do litoral e tiveram como objetivo central o cadastramento dos sítios 
arqueológicos. O Projeto Dunas foi desenvolvido sob a coordenação do arqueólogo Paulo 
Tadeu de Souza Albuquerque, coordenador do Laboratório de Arqueologia da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte – LARQ/UFRN. O projeto contou com o apoio do CNPQ, 
PPPG/UFRN, IBPC/4ª. SR. FUNPEC/UFRN, lDEC/SEPLAM/RN e Fundação José 
Augusto/RN. Foi desenvolvido em etapas de campo, nos anos de 1992 a 1994, em laboratório 
até fins da década de 1990. 
Nesses sítios em dunas do litoral oriental os materiais culturais encontrados permitiram 
a construção de inferências sobre os grupos pré-coloniais. As ocupações corresponderiam a de 
21 
“caçadores-coletores-pescadores” e nas que se sucederam àquelas os grupos seriam 
agricultores-ceramistas, apresentando uma tecnologia cerâmica diferenciada, expressas pelas 
cerâmicas da subtradição Pintada e as da fase Papeba. Hipóteses acerca da correlação de 
evidências artefactuais com ocupações de grupos pré-cerâmicos foram elaboradas, a partir da 
ocorrência de artefatos filiados à tradição Itaparica. 
Com relação aos artefatos correlacionáveis à tradição Itaparica trata-se de uma 
indústria de características unifaciais, na qual os artefatos plano-convexos, as chamadas lesmas, 
se destacam em meio aos instrumentos acabados. Tivemos oportunidade de ter os primeiros 
contatos com tais artefatos ainda sob a condição de bolsista do Laboratório de Arqueologia1, 
quando da participação na análise prévia das coleções do Projeto Dunas. 
Nos sítios os vestígios que informam diretamente sobre as práticas econômicas e de 
subsistência são escassos, embora sejam sempre frequentes, mas em quantidades inexpressivas. 
Sobre a ausência de restos malacológicos, à época, Albuquerque (1994) ressaltou que é 
significativa a quase total ausência de restos alimentares, como carapaças de moluscos e peixes 
nos sítios. 
Os sítios arqueológicos litorâneos em contextos abertos, localizados em dunas móveis 
e com contexto deposicional caracterizado por arranjos de superfície, são particularmente 
complexos, pois frequentemente passam por múltiplos períodos de moficações pós-
deposicionais relacionadas com a dinâmica geomórfica (OLSZEWSKI et al, 2005; FANNING 
et al, 2009). Essas modificações dificultam o objetivo de interpretar as cronologias das 
ocupações e problemas de espacialidade correlatos (BAILEY, 2007). Da mesma forma esses 
sítios podem ser objetos de processos de longo termo, que incluem um amplo espectro de 
modificações pós-deposicionais. A pesquisa arqueológica nesse contexto requer um necessário 
foco na análise espacial (HOLDAWAY et al, 1998). 
À análise espacial desses sítios pode-se acrescentar os dados oriundos dos processos 
observáveis, e, ainda vigentes na paisagem (atualísticos), das características tecnológicas, 
morfológicas, funcionais dos conjuntos artefactuais. A perspectiva subjacente é a de que 
embora os arqueólogos estejam principalmente direcionados ao estudo do comportamento 
humano nas sociedades pretéritas, estes devem também interpretar os processos culturais e 
naturais que conformaram o registro arqueológico, de forma a obter um mais factível cenário 
do passado. Os vestígios dos grupos pré-coloniais são, então, componentes da paisagem e são 
atingidos pelos processos que a moldaram. (AMMERMAN & FELDMAN, 1978). 
 
1 Sob a condição de bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – CNPQ/PIBIC. 
22 
Tendo em vista os antecedentes de pesquisa e a continuidade da ocorrência de sítios 
ao longo do litoral setentrional foi formulado o objetivo da presente tese de doutorado. É nosso 
objetivo central caracterizar as ocupações pré-coloniais no litoral setentrional do Rio Grande 
do Norte, no que estas representam objetivamente do cenário maior de ocupação costeira do 
RN, a partir do recurso à analise relacional dos contextos ambientais (em termos de seus 
recursos potencialmente exploráveis), da análise espacial intra-sítio, considerando os processos 
de cunho geoambiental, dados oriundos da cultura material e estruturação espacial dos sítios do 
litoral setentrional. Trata-se de um objetivo factível, tendo em vista o corpus de dados 
arqueológico já disponível, e, principalmente, condizente com a contribuição que se espera da 
pesquisa de uma tese de dourado. De outra forma insuficiente, caso fosse centrada, por exemplo, 
apenas na análise de uma classe dos fenômenos arqueológicos verificados nos sítios, como a 
frequência de artefatos líticos tipo Itaparica, na frequência de fragmentos de vasilhas da fase 
Papeba ou nos da tadição Tupianmbá. 
A condição para o alcance do objetivo da tese foi avaliar de forma integrada as várias 
classes de evidências, sua articulação espacial nos sítios, os fatores geoambientais e os 
processos de formação do registro arqueológico. 
Para a consecução de tal objetivo foram avaliados os dados disponíveis resultantes de 
pesquisas em áreas do litoral oriental, nas áreas de dunas e tabuleiros litorâneos. Os dados foram 
reinterpretados à luz do estudo de dois sítios escavados sistematicamente no litoral setentrional 
do Estado. 
As relações passíveis de serem colocadas entre as duas áreas em termos das escolhas 
dos grupos pré-colonais, com base em índices como a localização diferencial dos sítios 
arqueológicos no espaço costeiro ou nas diferenças atribuíveis à estruturação do registro 
arqueológico, não eram evidentes quando das pesquisas anteriores; embora se tratassem de 
questões latentes. 
Ademais, ressalte-se que as questões mencionadas não haviam sido abordadas, 
inexistindo referências na bibliografia arqueológica, mesmo a de extração recente. Assim 
consideramos como uma contribuição à compreensão dessa questão os dados e conclusões 
reunidos na pesquisa ora apresentada. 
No decorrer da pesquisa foram avaliadas as variáveis, que numa equação de fundo 
ambiental e cultural, respondiam pela não ocorrência de materiais conchíferos nos sítios do 
litoral oriental, resultando na configuração de sítios bem diversos dos encontrados no litoral 
setentrional. 
23 
A pesquisa residiu, fundamentalmente, em uma análise relacional entre os sítios 
litorâneos orientais e dois sítios sententrionais, os últimos escavados sistematicamente pelo 
autor e equipe, sob a perpectiva da análise espacial intra-síitio, da componente da cultura 
material e dos processos de formação do registro. 
A tese, então, apresenta a pesquisa na qual foram analisados os contextos ambientais, 
os caracterizadores geoambientais (geológicos e geomorfológicos) dos dois setores litorâneos, 
bem como os tipos de sítios, seus contextos de deposição, os caracterizadorese perfis 
tecnológicos, morfológicos e funcionais da cultura material. Devido à grande amostra de cultura 
material resgatada no Projeto Dunas apenas os artefatos líticos e os instrumentos acabados 
foram analisados. 2 
Assim, a perspectiva foi interpretar o processo de ocupação ao longo dos 
aproximadamente 410 km, nos quais ocorrem campos de dunas, falésias e tabuleiros (feições 
geomórficas dominantes no setor litorâneo do Estado), utilizando-se como estudo de caso dois 
sítios setentrionais, que denotam padrões de utilização do espaço e remetem a padrões diversos 
dos identificados originalmente nas pesquisas que nos antecederam. Tal analise só foi possível 
utilizando-se de ferramentas informáticas como os dados específicos de modelagens espaciais 
intra-sítio e geoinformações produzidas pelo SIG/GIS. 
O cenário geoambiental, apesar de aparentemente homogêneo, apresenta notadas 
diferenças, ressalvando-se as mudanças introduzidas na linha de costa no Holoceno Médio, 
tome-se como exemplo a reconstituição dos limites das transgressões e regressões marinhas em 
toda a costa do RN com base no Sistema de Informações Geográficas – SIG/GIS. 
Neste cenário foram abordadas através de uma perspectiva de análise espacial (intra-
sítio), com recurso às referidas ferramentas de interpretação do espaço3 dos dois sítios, que 
encontram congêneres em todo o litoral setentrional, desde a mudança de inflexão do setor 
litorâneo no estado do Rio Grande do Norte (saliente nordestino). Os sítios com materiais 
conchíferos estendem-se por setores litorâneos dos estados do Ceará e Piauí como indicam 
pesquisas recentemente desenvolvidas. 
 
2 Os conjuntos de cultura material resgatados no Projeto Dunas somam mais de noventa mil artefatos, entres estes 
se destacam os restos informes e não identificáveis de lascamento (com baixo potencial informativo) os fragmentos 
de bojo de vasilhas cerâmicas com superfícies erodidas e de pequenas dimensões que impossibilitam a 
recomposição de formas e escassos restos malcológicos. 
3 A contribuição do Sistema de Informações Geográficas – SIG/GIS. consistiu na elaboração de mapas de 
distribuição que possibilitaram a interpretação espacial dos arranjos encontrados nos sítios setentrionais e 
fundamentam as conclusões acerca de sua espacialidade, estrutura e funcionalidade. Estes mapas fundamentaram 
avaliações acerca dos setores de lascamento (através da frequência de certos tipos de restos de lascamento 
atribuíveis à debitagem, façonnage, uso, descarte, de execução de atividades pretéritas, trabalho executado nas 
carapaças dos materiais malacológicos, acerca da disposição das concentrações cerâmicas, etc.). 
24 
Os sítios estudados a partir dessa perpectiva eram dois concheiros, exemplos de sítios 
desse compartimento costeiro que representam um padrão de ocupação e exploração do espaço 
litorâneo com base nesse recurso, os sítios conchíferos de Galinhos/RN e São Bento do 
Norte/RN. As características que diferenciam os sítios desse setor, são emprestadas pela 
existência de extensos conjuntos de restos malacológicos. Não obstante o fato dos sítios do 
litoral setentrional apresentarem um componente ocupacional diferenciado apresentam 
variáveis que tornam essencial a correlação com os sítios do litoral oriental. 
Ambos os sítios compartem os contextos deposicionais similares: estão localizados em 
dunas, cuja dinâmica eólica reduziu os vestígios de ocupação e seus arranjos espaciais a 
palimpsestos dispostos em superfícies, baciais de deflação, dunas de blowouts ou demais 
feições criadas pelos processos de transporte e deposição eólica. Ademais apresentam 
similaridades ao nível da cultura material, das tradições, subtradições e horizontes 
arqueológicos definidos. 
Assim em termos de abordagem e interpretação dos fenômenos arqueológicos não se 
pôde prescindir da perspectiva relacional que englobou: a) a análise dos dados de pesquisas já 
realizadas no litoral oriental, nas áreas de dunas e tabuleiros litorâneos; b) reavaliação dos 
resultados dessas pesquisas à luz do estudo de dois sítios escavados sistematicamente no litoral 
setentrional do estado, que apresentaram potencial de fornecer contribuições à interpretação das 
ocupações litorâneas; c) análise dos contextos espaciais, dos conjuntos de cultura material 
(constituídos principalmente por restos malacológicos, otólitos, conjuntos líticos e cerâmicos). 
A especificidade destes sítios remete à sua funcionalidade como áreas de aquisição e 
processamento de recursos ligados às estratégias de subsistência (recursos alimentares e 
matérias-primas, recursos manejados pelos grupos em épocas pré-coloniais). A interpretação 
de tais sítios passou então pela identificação da configuração de seus extensos arranjos de 
superfície, que de acordo com análise espacial compuseram áreas de atividade: de lascamento, 
de trabalho de extração de gastrópodes e bivalves além de concentrações cerâmicas e áreas de 
ocorrência de otólitos. 
Não obstante, são sítios nos quais a dinâmica eólica reduziu os componentes do registro 
arqueológico a arranjos espaciais de superfície, palimpsestos em meio às bacias de deflação e 
demais feições eólicas erosivas/deposicionais (as chamadas, formas de leito, no jargão utilizado 
no âmbito da Geologia). 
Os ambientes costeiros são os de mais elevada dinâmica geoambiental, em especial 
aqueles nos quais incidem a dinâmica eólica, nos campos de dunas. Daí resulta a introdução de 
vieses produzidos pelos processos de formação do registro arqueológico à interpretação dos 
25 
sítios. Estes viesses, entretanto, podem ser mensurados e apesar da impossibilidade real de 
depurá-los do registro arqueológico, podem ser levados em consideração na interpretação 
arqueológica. 
Assim esta foi mais uma questão chave na pesquisa, ou seja, a avaliação dos processos 
de modificação pós-deposicional que influíram na formação dos sítios arqueológicos estudados. 
O litoral setentrional desempenhou um papel importante nas estratégias de ocupação 
dos grupos, como área de aquisição de recursos de subsistência e atividades industriais, na 
forma de matérias-primas rochosas para lascamento Principalmente os arranjos espaciais destes 
sítios dão conta de que estes foram conformados como áreas de obtenção, processamento e 
consumo de recursos de origem costeira. 
A pesquisa ora proposta testou esta hipótese que está ligada aos padrões de localização 
dos sítios arqueológicos no espaço do litoral oriental, através da análise de dados do registro 
arqueológico para responder a questões sobre as ocupações em termos, temporais, tecnológicos, 
econômicos e culturais. 
Com a conclusão da pesquisa foi possível identificar os elementos que estruturam o 
modelo de ocupação dos setores do litoral oriental e setentrional, além da fornecer dados 
oriundos da intrepretação dos padrões espaciais e estrutura dos concheiros litorâneos 
setentrionais. 
A estruturação da tese foi pensada para sediar as temáticas específicas que serviram 
ao objetivo de traçar a perspectiva adotada na abordagem em direção ao teste de hipóteses e às 
conclusões. 
No capitulo I foram apresentadas as pesquisas e sítios arqueológicos do litoral do Rio 
Grande do Norte, seus antecedentes e resultados que compuseram o quadro geral dos dados 
sobre a ocupação na área litorânea. 
O capítulo II aborda os contextos e temáticas geoambientais dos compartimentos 
costeiros norte-rio-grandense. Destaca em especial os dados relativos à geologia, 
geomorfologia e dos processos que moldaram a costa em épocas passadas. 
O capítulo III é composto por informações sobre os sítios arqueológicos identificados 
no litoral setentrional do Estado objetos da pesquisa intensiva. 
O capítulo IV aborda as características e a conformação do registro arqueológico dos 
sítios setentrionais, em termos de seus arranjos espaciais e os processo de modificação do 
registro. São apresentados osresultados da análise de parte da coleção dos artefatos coletados 
no Projeto Dunas, das escavações realizadas nos sítios arqueológicos Galinhos e Três Irmãos e 
análise dos seus conjuntos artefatuais. Ademais são analisadas as ocupações e os padrões de 
26 
uso do espaço litorâneo do estado, nas quais foram empregadas técnicas de análise espacial e 
do sistema de informações geográficas SIG/GIS. 
. 
27 
1 QUADRO DE REFERÊNCIA: AS PESQUISAS E SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DO 
LITORAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
O registro arqueológico resultante das ocupações na área costeira do Rio Grande do 
Norte apresenta contextos culturais, temporalidades, formas de ocupação humana que legaram 
sítios arqueológicos costeiros com potencial científico diferenciado. Estes sítios se localizam 
ao longo de uma área de 410 quilômetros, se tomarmos a divisão geográfica atual litorânea. 
Este recorte espacial é meramente arbitrário, pois as divisões, limites ou fronteiras em épocas 
passadas eram balizadas por outros marcos territoriais, ambientais, étnicos e sócio-culturais. 
O primeiro seguimento do litoral potiguar apresenta características geoambientais 
marcadamente diversas de outros setores litorâneos do estado. Este é denominado de litoral 
Oriental e apresenta um quadro geoambiental marcado pela maior disponibilidade de recursos 
hídricos superficiais, formações vegetais mais densas e quadro geomorfológico marcado pela 
planície litorânea, tabuleiros costeiros, rochas praiais e campos de dunas que são os elementos 
de relevo predominantes em todo o litoral oriental. 
Esse setor do litoral apresenta antecedentes de pesquisa que remetem à década de 1970 
e 1990. A primeira fase da pesquisa arqueológica nessa área remete às pesquisas do Programa 
Nacional de Pesquisa Arqueológica – PRONAPA e forneceram um primeiro quadro das 
ocupações, pelo que se pode inferir das publicações da época. 
Ocupações de grupos ceramistas-agricultores foram identificadas nas pesquisas 
empreendidas por N. Nasser4 na bacia do rio Curimataú-Cunhaú e no sistema lacustre e lagunar 
das Guaraíras, Papeba e Papari. Os materiais culturais desses sítios serviram à criação de duas 
fases cerâmicas, a fase Curimataú e a fase Papeba. 
Segundo NASSER (1971), os sítios da bacia do Curimataú estavam localizados a pouca 
distância dos corpos d’água (entre 100 e 1000 metros), situados à meia encosta ou em terras 
baixas quando, então, em situação plana. Foram classificados como “sítios-habitações abertos” 
e “sítios-cemitérios” com áreas que variam entre 80 até 9600 metros quadrados, com formas 
elípticas ou circulares. Os primeiros somaram 14 sítios e os com sepultamentos, 4 sítios. Foram 
classificados como sítios de superfície, estando modificados pela prática da agricultura das 
populações camponesas locais. Estes sítios, segundo o autor, não apresentavam possibilidades 
 
4 Este pesquisador foi participante do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológica – PRONAPA - que consistiu 
num programa de pesquisa que abrangeu áreas do território brasileiro. Atenção especial desse Programa foi dada 
à região norte (PRONAPABA) e à região litorânea. Os procedimentos de campo adotados foram difundidos em 
publicações como o Guia para Prospecção Arqueológica no Brasil. 
28 
de escavação devido à pouca profundidade do refugo arqueológico, o que resultou na inferência 
de que estes resultaram de ocupações rápidas e ou decorrentes da baixa densidade demográfica. 
Os materiais cerâmicos desses sítios foram, então, agrupados à fase Curimataú. Por falta 
de obtenção de datações, as cronologias dessas ocupações foram apenas estimadas; sendo 
correlacionadas às fases da Subtradição Pintada (à fase Itapicuru de 1270 AD.) (NASSER, 
1971). A fase cerâmica Curimatú foi descrita como: 
[...] por apresentar tempero de cacos triturados, grânulos de argila e grãos de quartzo 
angulosos e subangulosos; o método de manufatura mais usual é o acordelamento, 
aparecendo em alguns fragmentos o modelado; o tratamento de superfície, tanto 
externa como internamente é irregular; a técnica decorativa diagnóstica é a pintura em 
vermelho e preto sobre o engobo branco, o vermelho sobre o branco, o banho 
vermelho e preto. A decoração plástica mais frequente (sic) é a borda entalhada, 
acanalada, escovada, corrugada, escovada-acanalada e escovada-corrugada. As 
formas das vasilhas são meia-calota, elipsóide, esférica e carenada. As bordas 
apresentam-se diretas, extrovertidas, verticais e inclinadas interna e externamente. 
Esses dados permitiram identificar a fase Curimataú como integrante da subtradição 
pintada da Tradição Tupi-guarani. (BROCHADO, 1969). 
Na lagoa de Guaraíras, foi escavado um sítio estratificado com vestígios de duas 
ocupações de grupos ceramistas. Uma das ocupações seria caracterizada pelas cerâmicas da 
fase Curimataú e a outra pelas cerâmicas da fase Papeba. Tratava-se de um sítio numa colina a 
250 metros da margem da lagoa, apresentava contorno elíptico e havia a concentração de 
materiais arqueológicos em manchas de terra escura em número de cinco e mediam, a grosso 
modo, 30 x 20 m, sugerindo habitações de uma aldeia (NASSER, 1974). A camada 
arqueológica apresentou 40 cm de profundidade. Os materiais cerâmicos desse sítio foram 
reunidos na fase Papeba. Segundo NASSER (1974), a ocupação Papeba “...pelos indícios 
estratigráficos, seria anterior à chegada da fase Curimataú...” (NASSER, 1967). Das camadas 
de ocupação Papeba foram obtidas ainda lascas de sílex, furadores, núcleos, machados polidos 
e conchas de Strombus goliath. 
Segundo Martin (1997), as cerâmicas Papeba ocorrem em lugares de habitação, não 
relacionadas a enterramentos ou a urnas funerárias. As cerâmicas da fase Papeba são 
caracterizadas: 
[...] pelo tempero de areia grossa e areia fina; o método de manufatura mais frequente 
(sic) é o acordelado, embora apareçam exemplares modelados; queima por oxidação 
incompleta; superfície alisadas, alguns fragmentos apresentam um banho vermelho, 
nesses destacam-se os apêndices verticalmente vazados; são encontrados, também; 
fragmentos com perfurações circulares nas paredes; as formas básicas são: 1 - boca 
circular constrita, lábio apontado, borda direta e introvertida, bojo ovóide e base 
arredondada, 2 - boca circular, abertura ampliada, lábio apontado, borda com 
inclinação externa, bojo em meia-calota, base arredondada, 3 - boca circular, abertura 
ampliada, lábio apontado, borda com inclinação externa, bojo esférico e base 
arredondada e 4 - boca circular, abertura ampliada, lábio arredondado, borda 
extrovertida, bojo em meia-esfera e base plana. (NASCIMENTO & LUNA, 1997). 
 
29 
Em Vila Flor, onde no século XVII foi criado um aldeamento Carmelita, foram também 
localizadas cerâmicas da fase Curimataú, segundo NASSER (1967) as cerâmicas foram 
encontradas na área urbana em refugos de pouca espessura. 
Dentro da perspectiva desse programa de identificação de coleções de superfície e 
cortes pouco profundos orientado por uma abordagem eminentemente vertical, as ocupações 
foram identificadas com base nos elementos diagnósticos da forma e decoração dos vasilhames 
cerâmicos à Subtradição Pintada Tupiguarani. 
As diferenças nos conjuntos cerâmicos indicariam que os grupos Papeba teriam 
desenvolvido modos de subsistência variantes em relação ao estabelecido para a tradição 
Tupiguarani, que apresenta formas cerâmicas relacionadas ao processamento da mandioca 
(SILVA, 2003). 
Nos trabalhos de N. Nasser, que fazem parte das “Publicações Avulsas do PRONAPA” 
é possível entrever a metodologia utilizada em campo para a análise e coletas realizadas nos 
sítios. As informações sobre estes são sumárias, não se encontrando nesses trabalhos referências 
à documentação gráfica (plantas, croquis, seções estratigráficas e da distribuição espacial dos 
vestígios coletados), que possibilite visualizar os sítios quando da realização dos trabalhos de 
campo.Trata-se de documentação que deve ser inserida no contexto histórico de sua produção, 
não deixando, entretanto, de ter grande importancia para a construção do conhecimento 
arqueológico da região. A fase Curimataú parece, então, ser produto de coletas de superfície e 
da aplicação da seriação às cerâmicas coletadas. Para isso utilizava-se o método Ford para a 
seriação cerâmica, cujo elemento diagnóstico era a decoração aplicada às cerâmicas. O método 
era de aplicação simples e foi exposto em publicações dedicadas não apenas aos arqueólogos, 
mas também a técnicos iniciados em sua utilização, ressalte-se que da mesma forma produziram 
informações úteis e importantes.5 A importância atribuída à decoração e tratamento de 
superfície no interior das fases não permitiam estabelecer relações com grupos sociais. Um fator 
limitante era o tratamento isolado dos vestígios cerâmicos do contexto arqueológico, já que não 
se sugeriam escavações em superfícies amplas, mas, cortes nos sítios.6 
 
5 Acerca das pesquisas desenvolvidas no Pronapa foi constatado a existência no meio arqueológico no país uma 
certa tendência à critica circular, centrada em poucos pontos, embora sempre relevados pelos críticos do programa. 
São, então, as criticas relativas a interpretações rápidas sobre a metodologia, sobre idéias errôneas acerca das 
orientações teóricas dos pesquisadores do programa, ao fato de seus idealizadores serem ligados a uma instituição 
de pesquisa estrangeira, entre outros aspectos... . (veja-se: Hilbert, 2007) 
6 “Tais cortes podem ser de 1 ou 1,5 ou 2 metros quadrados, dependendo da densidade de cacos, escavados em 
níveis artificiais de 10 cm. A escavação de pelo menos dois cortes em diferentes partes do sítio aumenta a 
probabilidade de obtenção de uma amostra estratigráfica que esteja livre de perturbação mecânica ou outras 
distorções.” (MEGGERS & EVANS, 1970). 
30 
A aldeia Papeba foi o sítio mais rico em termos de evidências materiais e possibilitava 
ainda a realização de escavação estratigráfica. Além disso, não se dispõem de datações 
absolutas para as fases cerâmicas e para as ocupações nos sítios, apesar de serem ricos em 
materiais orgânicos. À indústria cerâmica foi dispensada maior atenção, estando os materiais 
cerâmicos bem descritos em suas características técnicas e morfológicas. 
Dessas pesquisas realizadas pioneiramente no litoral do Rio Grande do Norte, sendo os 
dados disponíveis principalmente relativos às fases pré-coloniais, pode-se inferir que os sítios, 
passíveis de serem relacionados a agricultores-ceramistas, estão ligados a contextos ambientais 
litorâneos específicos: localizam-se a pouca distância da bacia principal que drena o litoral 
oriental e os sistemas lagunares dessa área. Estão também ligados a solos agricultáveis, embora 
pobres, obrigando a uma ocupação itinerante. Estes sítios se encontram em um contexto 
geomorfológico diferente daquele dos sítios dunares costeiros do Estado, com suas areias 
quartzosas distróficas impróprias à agricultura. 
Em síntese, tendo por base a orientação teórica geral do PRONAPA foi cunhada uma 
subtradição Tupi local, denominada fase Curimataú. A denominação da fase é indício da 
orientação prática adotada por participantes do programa, pois faz referência à bacia do fluvial 
principal, a do rio Curimataú, cujo curso é totalmente perene no trecho litorâneo, mas apresenta 
cursos temporários na área do Agreste e Sertão do Estado. Os sítios foram descritos como de 
habitação e cemitério. O material cerâmico foi descrito como recomendava a prática de campo 
e laboratório e se estabeleceu uma cronologia relativa com base nas formas e tratamentos de 
superfície. Com base em diferenças nos vasilhames cerâmicos foi identificada uma ocupação 
inferida como pré-tupi. A ocupação, relacionada às cerâmicas de paredes finas e ausência das 
cerâmicas diagnósticas Tupi, foi denominada como fase Papeba, denominação emprestada da 
Lagoa de mesmo nome, próxima de onde se localizava o sítio. Corroborando a inferência acerca 
da antiguidade da ocupação Papeba em relação aos Tupi, estava o fato da localização 
estratigráfica dos restos da ocupação Papeba. 
Entre as décadas de 1960/70 e 1990 não foram realizadas pesquisas arqueológicas 
litorâneas. A partir da década de 1990 o Projeto Dunas é o referencial de pesquisa acadêmica 
litorânea no Estado mais importante, pois cobriu amplos setores do litoral oriental.(Veja-se o 
Mapa 2) O Projeto Dunas esteve voltado para a pesquisa nas áreas de dunas, áreas de pós-praia 
de lençóis arenosos e superfícies expostas da formação Barreiras.7 
 
7 O Projeto dunas foi realizado pelo LARQ/UFRN com recursos do CNPQ, FUNPEC e IBPC/CNPQ. 
31 
Segundo Albuquerque et al (1994) os sítios localizados estavam sobre as dunas móveis, 
sobre paleodunas, ou sobre os sedimentos da Formação Barreiras, alguns destes apresentavam 
grandes manchas de ocorrência de materiais líticos (lascas, núcleos, instrumentos, estilhas, 
fragmentos e demais restos de lascamento), de materiais cerâmicos e poucos ou inexpressivos 
restos malacológicos. 
Nos sítios os vestígios que informam diretamente sobre as práticas econômicas e de 
subsistência são escassos. Sobre a ausência de materiais malacológicos. Albuquerque et al 
(1994) ressaltou que: 
Apesar da presença de alguns instrumentos executados sobre material malacológico, 
é significativa a quase total ausência de restos alimentares de moluscos e peixes, não 
havendo, em nenhum dos sítios, algo que se possa aproximar de qualquer 
caracterização de lente conchífera. 
 
Nesses sítios dunares do litoral oriental os materiais culturais encontrados permitiram a 
construção de inferências sobre os grupos pré-coloniais. Nas ocupações mais antigas os grupos 
seriam “caçadores-coletores-pescadores”. Evidências correlacionáveis a grupos pré-cerâmicos 
foram postas a partir da ocorrência de artefatos filiados à tradição Itaparica “...dado que nos 
sítios norte-rio-grandenses os instrumentos apresentam características específicas da 
chamada tradição Itaparica...” (ALBUQUERQUE et al, 1994). (Vejam-se as figuras 9 a 14) 
Com relação à indústria lítica acrescente-se que os sítios no Projeto Dunas foram 
caracterizados adicionalmente como: 
 
[...] sitios-oficinas, identificados através da presença de grande número de lascas, com 
e sem marcas de uso, obtidas de matérias-primas como o sílex, a calcedônia, o Jaspe 
e o quartzito e a presença de alguns instrumentos como percutores, furadores, 
raspadores simples e raspadores plano-convexos. Nos locais são encontrados, 
igualmente, grande número de microlíticos e estilhas de lascamento por pressão. Os 
instrumentos foram lascados por pressão direta e indireta, com percutores moles e 
duros, e com técnica bipolar. (ALBUQUERQUE et al, 1994). 
 
Com relação à tradição Itaparica é necessário realizar certa digressão para remeter ao 
leitor à criação da tradição arqueológica. As pesquisas no Nordeste do Brasil acerca da tradição 
Itaparica são tributárias das originalmente desenvolvidas nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Na 
região do vale do São Francisco na região que abrange os sertões da Bahia e Pernambuco 
(PROUS, 1992). Escalonam-se no tempo as pesquisas realizadas no âmbito do PRONAPA, nas 
Missões Franco Brasileira no sertão do Piauí, originalmente dedicadas ao estudo da arte rupestre 
em São Raimundo Nonato/PI. 
Desde o desenvolvimento destas pesquisas originais o âmbito da chamada tradição 
Itaparica é norteada por uma certa confusão terminológica e conceitual. A alternativa em 
32 
algumas pesquisas é escamotear o nó górdio terminológico das tradições utilizando-se do 
recurso, quando da chegada aos resultados das pesquisas realizadas, de não ratificar a noção 
original de tradição Itaparica. Nos termos estritos das tecnologias líticas já foi apontado por 
diversos autores (PROUS, 1992; SCHMITZ, 1984; FOGAÇA, 2002) que existem certas 
similaridadesentre a Pré-história do Nordeste e a do Planalto Central do Brasil. Estas 
similaridades no que se referem aos instrumentos líticos estão relacionadas às indústrias de 
fatura unifacial, nas quais ocorrem os artefatos plano-convexos que caracterizam os sítios com 
materiais líticos nestas regiões em datas de 12.000 a 10.000 BP. (Vejam-se as figuras 1 a 8 e 
mapa 1) 
33 
 
Mapa 1: Mapa de ocorrência dos sítios Itaparica adaptado de Lourdeau, 2010. Note-se a ocorrência de sítios com artefatos com 
façonnage unifacial (os números em negrito, 38 a 48, acrescidos à imagem devido à ocorrência de artefatos líticos com façonnage 
unifacial no litoral oriental do Rio Grande do Norte
34 
 
Figura 1: Plano-convexo do centro norte mineiro. 
Fonte: (PROUS, 1992) 
 
Figura 2: Plano-convexo do centro norte 
mineiro. Fonte: (PROUS, 1992) 
 
 
Figura 3: Raspadores longos, característicos da tradição Itaparica, de populações que 
ocupavam áreas de cerrado no centro do Brasil entre 9 mil e 6.500 anos. FONTE: (GUIDON, 
1992) 
 
35 
 
Figura 4: Plano-convexo da 
fase Paranaíba. FONTE: 
(GUIDON, 1992) 
 
Figura 5: Plano-convexo 
sobre lâmina da fase 
Paranaíba. FONTE: 
(GUIDON, 1992) 
 
 
Figura 6: Plano-convexo, Lapa do Morrro 
Vermelho. FONTE: (GUIDON, 1992) 
 
Figura 7: Plano-convexo da região centro 
norte de Goiás. FONTE: (GUIDON, 
1992) 
36 
 
Figura 8: Lesmas da fase Paranaíba da tradição Itaparica, provenientes dos 
abrigos de Serranópolis. 1 Fonte: (SCHMITZ, 1987) 
37 
 
Figura 9: Plano Convexo, litoral oriental do Rio 
Grande do Norte Projeto Dunas, face dorsal. 
 
Figura 10: Plano Convexo, litoral oriental do Rio 
Grande do Norte Projeto Dunas, face ventral. 
 
 
 
Figura 11: Plano Convexo, litoral oriental do Rio 
Grande do Norte Projeto Dunas, vista lateral. 
 
 
38 
 
Figura 12: Plano Convexo, litoral oriental do Rio 
Grande do Norte Projeto Dunas, face dorsal. 
 
Figura 13: Plano Convexo, litoral oriental do Rio 
Grande do Norte Projeto Dunas- face ventral. 
 
 
 
Figura 14: Plano Convexo, litoral oriental do Rio 
Grande do Norte Projeto Dunas– Vista em perfil. 
No âmbito do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas – PRONAPA os 
referenciais utilizados eram os do programa, o manual de Emperaire (1967), publicado em 
39 
português, que por sua vez refletia a grande influência dos referenciais na área de estudo das 
tecnologias do Paleolítico Europeu, notadamente dos trabalhos de François Bordes (1956). 
Um dos seus pressupostos residia na possibilidade de caracterizar “entidades étnicas”, 
segregá-las, com base na tecnologia lítica. Tratava-se antes de identificar técnicas que 
mantivessem uma persistência no tempo. O peso dado à tradição como caracterizador étnico 
à época é ainda relativizado em perspectivas como a de Schmitz (1980), ao manejar tradições 
estabelecidas por Calderón em sua área de pesquisa, constatando ser pouco factível 
relacioná-la a outros aspectos das chamadas “entidades étnicas”. (veja-se a figura 15) 
 
Figura 15: Lesmas identificadas por V. Calderón (Gruta do Padre, Pernambuco). Fonte: 
Martin & Rocha (1990). 
A tradição Itaparica inicialmente mais estudada no Nordeste do Brasil foi 
denominada originalmente por Calderón, que agrupou inicialmente os conjuntos de 
indústrias que datavam de 8 000 BP et 7 000 BP, coletados na década de 1960. Calderón 
ressaltava o fato que o estudo tipológico proposto por Laming-Emperaire poderia não ser 
aplicável às indústrias que estudava e foi um dos poucos a não utilizar o manual de Emperaire 
40 
devido à diversidade tipológica da tradição Itaparica, a exceção é devida a total coincidência, 
diga-se de passagem morfológica, entre uma lesma com extremidade ativa arredondada 
similar as do Musteriense europeu. Calderón também definiu uma tradição de seixos e lascas 
que reunia indústrias compreendidas entre 6 000 BP e 2 000 BP ao longo de uma vasta região 
do vale do São Francisco, que posteriormente foi melhor definida por Schmitz (1987). 
Dessa forma Schmitz (1987) caracterizou a tradição Itaparica como uma tecnologia 
lítica de caçadores-coletores generalizados, estabelecida originalmente no Nordeste. A 
tradição foi melhor definida no Planalto Central, onde foi sem dúvida melhor estudada. 
A partir desta tradição foi definida a fase Paranaíba, situada cronologicamente entre 
11 000 BP e 8 500 BP, com base em um número considerável de sítios, abrigos sob rocha e 
sítios a céu aberto, em áreas do Brasil central, no estado de Goiás. Neste contexto de sítios 
destacam-se também os instrumentos em osso. 
Ressalte-se a particularidade de que Schmitz nominou os primeiros instrumentos 
estudados como “lâminas unifaciais”, “unifaces” e “lesmas” ao se referir aos artefatos 
posteriormente correlacionáveis à tradição (SCHMITZ, 1980, 1987). As descrições de 
artefatos Itaparica por este autor as menciona como: 
a) Lesmas com façonnage ao longo de toda a periferia, com eventuais restos de plano 
de percussão; 
b) Lesmas com forma inicial de quilha; 
c) Lesmas como produtos de lascas ou lâminas curtas e espessas com nervuras dorsais; 
d) Lesmas com face inferior lisa; 
e) Lemas com face superior, composta por aresta dorsal produzida ou não por 
façonnage; 
f) Lesmas sem aresta; 
g) Lesmas com face dorsal lisa, sobre lascas ou lâminas. 
Desde Schmitz (2004) até mesmo em estudos recentes as lesmas são definidas pela 
seguinte cadeia de eventos técnicos: descorticamento de um bloco de matéria-prima; 
debitagem de lascas espessas, seguida por um sumário retoque no suporte, façonnage das 
lemas, eventual utilização das lascas brutas resultantes da produção e utilização de percurtor 
de pedra. 
O processo de redução lítica produz da ordem de centenas de restos de lascamento. 
Esses, entretanto, podem apresentar formas e estígmatas diagnósticas. Tratam-se das lascas 
comuns de lascamento inical do suporte (núcleo) e principalmente as de façonnage das 
lesmas, as lascas de redução. Estas lascas de façonnage são caracterizadas por estígmatas 
41 
como: a) marcas de preparação do plano de percussão por abrasão, b) perfil curvo e c) são 
ultrapassadas. Em Mato Grosso lesmas foram coletadas em uma camada datada em torno de 
10.400 BP (SCHMITZ, 2002). 
Fogaça (2001) em seu trabalho na Lapa do Boquete (vale do Peruaçu, afluente do 
São Francisco) em camadas datadas de 12 000 BP et 10 500 BP, ressalta que dos 139 
instrumentos, apenas 27 foram classificadas como lesmas. Para as lesmas, ao contrário dos 
demais instrumentos, o suporte eram lascas espessas, embora a morfologia seja heterogênea: 
1) Peças com uma nervura guia; 2) Peças com duas nervuras; 3) Peças com uma superfície 
plana; 4) Peças com uma superfície dorsal parcialmente cortical; e 5) Peças com uma crista 
longitudinal. 
Fogaça (2002) propôs quatro grupos tecnológicos Itaparica: 1) Instrumentos 
unifaciais sobre lascas robustas, onde a façonnage preserva as características do suporte; 2) 
lesmas onde a façonnage unifacial modelou completamente a face superior criando uma peça 
simétrica (marcadores da tradição tecnológica Itaparica); 3) instrumentos expeditos sobre 
todos os tipos de restos e 4) peças bifaciais foliáceas. 
A classificação tipológica é um elemento dominante na definição dos constituintes 
da tradição Itaparica, sendo as técnicas de talhe mencionadas como informações de cunho 
complementar às variáveis tipológicas, não se chegando à leitura da articulação entre as 
etapas de fabricação que culminariam nos instrumentos acabados (PROUS & MALTA, 
1991). Assim, uma definição que se restrinja à morfologia dos instrumentos é insuficiente 
para caracterizar uma indústria lítica (DIAS, 1994, 2003). 
As pesquisas em áreas do Centro e Nordeste do Brasil evidenciaram um quadro de 
ampla dispersão geográfica de instrumentos plano-convexos obtidos por façonnage 
unifacial. No Brasil Central foram estabelecidas duas fases: fase Paranaíba e Serranópolis.Para os instrumentos encontrados no Planalto Goiano, já foi observado um elevado grau de 
predeterminação entre as etapas das cadeias operatórias. O nível de complexidade na 
fabricação destes instrumentos sugeriria uma gênese conceitual desde o pleistoceno, 
revelando então uma longa evolução tecno-funcional. Duas são as hipóteses consideradas 
nessa perspectiva, tratar-se-ia “de uma importação técnica ou da evolução local a partir de 
indústrias mais antigas” (FOGAÇA; LOURDEAU, 2006). 
No Nordeste, a tradição Itaparica foi definida por base em instrumentos líticos do 
tipo lesmas de sílex, de arenito silicificado e de calcedônia, raspadores circulares, semi-
circulares, laterais e na forma de leque, furadores de ombro. Aparecem também algumas 
lâminas. 
42 
Para as ocupações do sudeste do Piauí, no mesmo período foi observada a 
ocorrência de uma maior diversidade tipológica no tocante à indústria lítica: aparecem 
artefatos sobre lascas, raspadores laterais e terminais, lesmas, lascas retocadas, facas 
furadores, ‘racletes’. As peças típicas de Serra Talhada são, sobretudo, as lesmas e um 
raspador lateral côncavo-convexo (GUIDON, 1992). 
A ocorrência de artefatos Itaparica em vastas regiões do interior do Nordeste do 
Brasil, com excepcional concentração no trecho Pernambucano com abrigos sob rocha, nos 
trechos cortados pelo rio São Francisco é um fato bastante conhecido, e sua ocorrência em 
área do litoral do Rio Grande do Norte é um fenômeno complementar, que exemplifica a 
longa dispersão de indústrias unifaciais que tiveram por base as cadeias operatórias ligadas 
à manufatura de artefatos com façonnage unifacial associadas às lesmas. 
Nas ocupações que se sucederam àquelas os grupos seriam agricultores-ceramistas, 
apresentando uma tecnologia cerâmica diferenciada, expressas pelas cerâmicas da 
Subtradição Pintada e as da Fase Papeba.8 
Nos sítios do litoral oriental do RN, os vestígios que informam diretamente sobre 
as práticas econômicas e de subsistência são escassos, embora sejam sempre frequentes em 
quantidades inexpressivas. Sobre a ausência de restos malacológicos Albuquerque et. al. 
(1994) ressaltou: “...outra evidência arqueológica significativa é a ausência de restos 
alimentares de procedência marinha, não permitindo associar os homens das dunas com o 
que seria o óbvio - sua dependência primária dos recursos do mar.” 
Depreende-se dos resultados do Projeto Dunas ademais que os sítios arqueológicos 
identificados localizavam-se principalmente em áreas de dunas e paleodunas. As descrições 
remetem à condição de superficialidade dos conjuntos de artefatos líticos e cerâmicos. Da 
mesma forma foi identificado que os grupos humanos que ocuparam tais sítios, seriam 
caçadores-coletores-pescadores, de tradição Itaparica identificada em sítios do Planalto 
Goiano, Brasil Central e do Vale do São Francisco. 
Tendo em vista esses antecedentes da pesquisa e a continuidade da ocorrência de 
sítios ao longo do litoral setentrional foi formulado o objetivo da presente pesquisa que 
aborda, além dos sítios identificados no Projeto Dunas e seus conjuntos de artefatos, dois 
sítios do litoral Setentrional, denominados Galinhos e Três Irmãos. 
O litoral Setentrional apresenta características geoambientais diversas do Oriental, 
uma vez que os rios são em menor número, embora na região desemboquem os cursos dos 
 
8 Foram identificadas duas unidades cerâmicas em que: “... A Unidade I aponta, para uma tradição ainda 
indeterminada, e a Unidade II se insere, no que se considera como cultura Tupi-guarani.” (GUIDON, 1992) 
43 
rios Piranhas-Açú e Apodi-Mossoró. A região apresenta extensos manguezais e sistemas 
lacustres com comunicação com o mar, esporões arenosos formando restingas e águas de 
mar raso. Essa conformação natural faz com que o meio ambiental e seu potencial de sediar 
grupos seja bastante localizado, embora apresente disponibilidade de fontes alimentares, de 
matéria prima líticas, recursos de origem marinha e flúvio-lacustre. Basicamente esses 
recursos são representados por bancos de ostras, áreas de ocorrência de gastrópodes 
marinhos e espécies de bivalves. Os sistemas fluviais, lacustres e costeiros marinhos 
combinados tornam essa região propícia à exploração de seu potencial ambiental por parte 
dos grupos humanos. 
Albuquerque et al (1994) à época do desenvolvimento do Projeto Dunas já divisava 
que o litoral setentrional norte-rio-grandense apresentava potencialidade arqueológica, em 
virtude das probabilidades de localização de novos sítios e de informações etno-históricas 
que davam conta da ocorrência de concheiros na calha de alguns rios da região. “Há citações 
históricas e dúbias informações sobre "concheiros" na calha de alguns rios do Estado, mas 
as buscas têm sido infrutíferas”. (ALBUQUERQUE et al., 1994). 
A documentação histórica é especialmente informativa, são relatos do século XVII, 
época de atividade dos cronistas holandeses (ver figuras 16 e 17). Os indígenas que 
ocupavam o litoral e o interior da Capitania do Rio Grande são descritos em seus hábitos 
culturais e áreas tradicionais de ocupação no espaço. Outro período que legou muita 
informação etnográfica sobre os índios Tupinambá foi o da ocupação francesa no Maranhão, 
na primeira metade do século XVII. 
No caso dos grupos Tapuia do interior as informações dos cronistas holandeses são 
mais significativas, e a eles foi dispensado um tratamento diferenciado, pois os grupos 
Tapuia, especialmente os Cariri e Janduí, fizeram parte da política estratégica de manutenção 
e consolidação da conquista. Igualmente informativas são as pinturas dos artistas da comitiva 
de Nassau como as de Albert Eckhout. Na pintura que se segue podemos identificar os 
indígenas Tapuia e Tupinambá com seus instrumentos e adornos em detalhe. Alguns relatos 
dão conta das migrações periódicas que estes índios realizavam de suas áreas do interior para 
o litoral. Os frutos do litoral, especialmente o caju são reportados como principal motivação 
de suas incursões nas marinhas da Capitania do Rio Grande. Nada é mencionado sobre a 
coleta de recursos marinhos como os gastrópodes e bivalves encontrados nos sítios. 
 
44 
 
Figura 16: Homem Tapuia. 
 
Figura 17: Homem Tupi. 
 
Nas figuras acima são retradados indígenas históricos como foram vistos pelo olhar 
do europeu. Ressaltem-se os artefatos representados, que diferem substancialmente e a 
utilização de elementos da fauna e flora, utilizadas para compor informações sobre os índios 
representados. Destaque-se, ainda, os itens em materiais orgânicos: as longas lanças, 
borduna e propulsor do índio tapuia. Compondo o pano de fundo são identificados 
caranguejos, uma mandioca, um largo curso d’água, junto ao Tupi, e uma vegetação aberta 
e serpente junto ao Tapuia. 
A exceção fica por conta de uma pintura na qual é retratada um indígena Tupinambá 
com um pingente de material malacológico, provavelmente uma columela central de 
gastrópode. Afora estas escassas informações não havia dados sobre a ocorrência de sítios 
nas áreas de dunas do litoral Setentrional. 
Levantamentos realizados nas primeiras décadas dos anos de 2010 levaram à 
identificação de sítios com materiais conchíferos no litoral do estado. Estes levantamentos 
são devidos também ao incremento na demanda pela utilização do espaço para instalação de 
empreendimentos econômicos, em especial, empreendimentos energéticos para instalação 
de linhas de transmissão e parques de geração de energia eólica. (veja-se o Mapa 3) 
45 
Assim foram desenvolvidas pesquisas de arqueologia preventiva em setores do 
litoral do Estado do Rio Grande do Norte. Estas pesquisas forneceram um conjunto de dados 
adicionais sobre a ocupação pré-colonial na porção litorânea setentrional do estado. Nos 
sítios Galinhos e Três Irmãos foram realizadas ações de resgate sendo os materiais e dados 
coletados sistematicamente, por meio de

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