Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TIPOS DE DOR É uma experiência emocional adversa à do prazer >> possui natureza subjetiva e caráter afetivo-motivacional. Paciente pode referir dor mesmo sem lesão tecidual evidente >> consequência de disfunção neurológica (p.ex. dor do membro fantasma) Pode variar em intensidade, características (queimação, puntiforme, surda), duração e localização (superficial, profunda, localizada, difusa). Classificação temporal: 1. Dor aguda: resposta fisiológica aos estímulos nociceptivos nos receptores de alto limiar de excitabilidade do sistema somatossensorial. Tem curta duração e reversão total ao interromper o estimulo Tem função de proteger o organismo contra agentes agressores 2. Dor crônica: disfunção do sistema somatossensorial (é um estado patológico) Duração da dor por um período superior a seis semanas Na maioria das vezes a etiologia é de difícil definição clínica A ocorrência após lesão cirúrgica é bastante comum, como após amputações, mastectomias, etc. A dor ainda pode ser dividida em 2 grupos: A. Adaptativa: protege contra estímulos agressivos, defendendo o organismo contra lesões graves e permitindo a cicatrização de lesões. B. Não-adaptativa: situação patológica do sistema somatossensorial; não está ligada necessariamente ao estímulo nociceptivo evidente ou lesão tecidual identificável. Indica anormalidade no processamento do sinal doloroso a nível do SNP ou SNC DOR NOCICEPTIVA (adaptativa) É transitória, possuindo exemplos como a dor pós-operatória e a da queimadura. É bem localizada (córtex S1 e S2). O sinal nociceptivo é gerado da seguinte forma: a) Um potencial de ação é gerado na membrana neuronal e é conduzido por fibras da porção periférica do sistema somatossensorial. b) O sinal é propagado em direção ao SNC pela medula, tálamo e córtex cerebral c) A sensação dolorosa é percebida e localizada topograficamente no córtex S1 e S2. A sensibilização periférica é feita pelo estímulo mecânico, químico, substancias alogenicas (p.ex. serotonina) e alterações da microcirculação. Os sinais são conduzidos de maneira aferente ao SNC por fibras nervosas mielinizadas finas (A-delta) e amielinizadas (C) para a substancia gelatinosa das laminas II e III do corno dorsal da medula. No caso da dor nociceptiva aguda, esse sinal ascende ao córtex pelo feixe neoespinotalamico, composto por fibras nervosas de condução rápida (A-delta) e monossináptico. No caso da dor nociceptiva o sistema somatossensorial é ativado e volta a funcional normalmente quando o estímulo desaparece. A disfunção desse sistema por resultar em casos de ulceras por compressão, queimaduras graves, etc. -> ex. insensibilidade congênita à dor DOR INFLAMATÓRIA É a transição do tipo adaptativo para não- adaptativo É caracterizada como espontânea e/ou pela hipersensibilidade ao estimulo nociceptivo, com lesão tecidual e reação inflamatória. As dores crônicas (principalmente as não- adaptativas) possuem o feixe paleoespinotalâmico como meio de ascensão dos sinais ao córtex. Ele é composto por fibras de condução lenta (tipo C), sendo um feixe polissináptico ->> distribui a informação para vários níveis do SNP e SNC. Isso causa ativação de diversos mecanismos de processamento do sinal nociceptivo, como o sistema reticular ativador (reação de estresse). Espontânea pois ocorre na ausência de estimulação Hipersensível pois pode ser desencadeada por estímulos de baixa intensidade -> toque leve A condução nociceptiva é ativada por neuromediadores inflamatórios, sendo que a depender da intensidade ou tempo de permanência, pode causar alterações na fisiologia normal do sistema somatossensorial. Isso gera 2 fenômenos: I. Hiperalgesia: queda no limiar de excitabilidade da fibra nociceptiva -> caracteriza transição de dor aguda para crônica II. Alodinia: resposta exacerbada a estímulos que não causariam dor em condições normais Os principais mediadores são bradicinina, prostaglandina E2, fator de crescimento neuronal (FCN) e interleucina pró- inflamatórias. Eles facilitam a despolarização da membrana neuronal por tempo mais prolongado, por meio do aumento da condutividade de canais de Na e Ca ou pelo menor influxo de potássio e cloro para o meio intracelular. DOR NEUROPÁTICA (não-adaptativa) É patológica e espontânea acompanhada de hipersensibilidade após estimulação NÃO- nociceptiva, resultando de lesão tecidual com predominante componente neuronal. Pode ser secundaria a lesões do SNP ou do SNP, como esclerose múltipla. Os mediadores inflamatórios e citocinas sensibilizam os nociceptores, que passam a responder estímulos térmicos e mecânicos que normalmente não causariam dor. DOR FUNCIONAL (não-adaptativa) É uma forma de hipersensibilidade secundária a um processamento anormal dos sinais nociceptivos pelo sistema nervoso, na ausência de déficits neurológicos ou anormalidades periféricas. Causa amplificação dos sintomas, devido ao aumento da atividade ou sensibilidade do sistema nervoso sensorial. Ex: fibromialgias, cefaleias tensionais, síndrome do colón irritável, etc. Dor espontânea, mesmo na ausência de aparente estimulo. Pode se originar de estímulos de baixa intensidade, como o toque leve na pele de pacientes com neuralgia pós-herpética. ->> alodinia Pode ser uma resposta exagerada em intensidade e prolongada quando gerada por estimulo de baixa intensidade. ->> hiperalgesia FISIOPATOLOGIA DA DOR Ocorre primeiro por meio da transformação dos estímulos em potenciais de ação, que são transferidos das fibras nervosas do SNP para o SNP. Essa transdução ocorre na membrana da terminação axonal distal, que constitui a terminação nervosa livre (TNL) ou nociceptor. Esses estímulos alteram as propriedades da membrada do nociceptor e deflagram potenciais de geração, que somado deflagram potenciais de ação. SISTEMA NOCICEPTOR PERIFÉRICO Existem as TNL das fibras A delta mielinizadas e das fibras C amielínicas, sendo que estas são responsáveis por 80% das aferências sensitivas -> as mais importantes na nocicepção Fibras C: receptores polimodais -> responde estímulos térmicos, mecânicos e químicos Fibras A delta: receptores polimodais; mecanorreceptores (apenas na pele) e termorreceptores A ativação das TNL ocorre por 3 fatores: 1. Substancias algógenas: liberadas por células de tecidos lesados e células inflamatórias em caso de isquemia, inflamação ou trauma. Inclui bradicinina, acetilcolina, histamina, serotonina, citocinas. Reduzem o limiar dos nociceptores aos estímulos 2. Liberação retrógrada de neurotransmissores pelas fibras nervosas 3. Influencias noradrenérgicas -> vem de eferencias do SN simpático. Estimulações nociceptivas repetidas reduz o limiar de ativação desses receptores e aumenta a resposta a estímulos ->> sensibilização periférica. Nociceptores silentes: respondem de forma intensa a estímulos não nociceptivos. TRANSMISSÃO DO IMPULSO DOLOROSO A maior parte da fibras nervosas sensitivas aferentes alcançam a medula por meio das raízes posteriores, porem existem fibras amielínicas que alcançam pelas raízes anteriores. Já na medula, o corno posterior tem papel fundamental na transmissão dos estímulos dolorosos, pois possui um circuito complexo onde os aferentes nociceptivos entram em contato com os neurônios de segundo ordem. Ocorre liberação de neurotransmissores, que atuam modulando as mensagens nociceptivas vindas da periferia. Os canais de sódio Nav1,7 são os mediadores mais críticos no processo de transmissão da informação daperiferia para o SNC. SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL É desencadeada por impulsos transmitidos pelas fibras amielínicas C, que terminam nas camadas mais superficiais do corno posterior da medula. Caracterizada por: 1. Atividade espontânea aumentada 2. Redução de limiar ou aumento da responsividade a impulsos 3. Descargas prolongadas após estímulos repetidos 4. Expansão dos campos receptivos periféricos de neurônios do corno dorsal Ocorre liberação de neurotransmissores pelos aferentes primários na medula, sendo os aminoácidos excitatórios glutamato e aspartato os mais importantes. Pode gerar: A. Potenciais pós-sinápticos excitatórios lentos: produzidos por fibras C e dura até 20 segundos B. Potencias pós-sinápticos excitatórios rápidos: pelas fibras A e dura milissegundos. Os receptores AMPA ou não NMDA são acionados imediatamente após a liberação de aminoácidos excitatórios. Atuam na localização temporal, espacial e na quantificação da dor. Os receptores NMDA são ativados pelo glutamato e modulados pela substancia P, atuando centenas de milissegundos após a chegada do estimulo. Ocorre uma liberação inicial de glutamato, que causa rápida ativação dos receptores AMPA e, em caso de estimulações frequentes e intensas, há uma liberação continua de glutamato que ativa os receptores NMDA. A ativação dos NMDA é acompanhada do aumento do cálcio intracelular, que altera a expressão de genes no corno posterior da medula (proto-oncogenes). O produto proteico da transcrição dos proto-oncogenes é encontrado nas laminas I, II e V da medula e interagem com sistemas opióides -> antinocicepção por retroalimentação negativa. Também atuam na transcrição de RNA mensageiros controladores da síntese de proteínas fundamentais ao funcionamento dos neurônios, tornando-os hipersensíveis por muitos anos. Parece haver uma relação entre hipersensibilidade da dor neuropática com sinais da micróglia. Em caso de lesão nervosa periférica, ocorre proliferação dessas células no 3º dia após a lesão. VIAS ASCENDENTES DA DOR Transmitem as informações nociceptivas da medula para o cérebro e são representadas pelos tratos espinotalâmico, espinorreticular e espinomesencefálico. Todos os tratos nervosos ascendentes fazem parte de 2 sistemas: A. Lateral ou lemniscal: transmissão rápida da informação discriminativa -> início, localização precisa, intensidade e duração B. Medial ou não lemniscal: condução lenta e se relaciona com componentes da dor afetivo-motivacionais, neurovegetativos e neuroendócrinos.
Compartilhar