Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA REGIONAL DE CHAPECÓ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO (LATO SENSU) EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA NO TRABALHO Carmo Canova APLICAÇÃO DA NORMA REGULAMENTADORA NR-10 EM UMA EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS EM ELETRICIDADE Chapecó – SC, 2007 CARMO CANOVA APLICAÇÃO DA NORMA REGULAMENTADORA NR-10 EM UMA EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS EM ELETRICIDADE Monografia apresentada ao Curso de Pós- graduação “latu sensu” em Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade Comunitária Regional de Chapecó como requisito para obtenção do título de Engenheiro de Segurança do Trabalho. Orientador (a): Mauro Thompsen Passos Chapecó – SC, mar. 2007 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que meu deu força, saúde, coragem e esteve de uma forma ou outra presente nas horas mais difíceis. Agradeço aos dirigentes e funcionários da empresa EletroWatt pela colaboração, dedicação, espontaneidade e participação para que este trabalho se realizasse. A todos os colegas e professores do curso que de uma forma geral me ajudaram, e principalmente ao Prof. Mauro Campos pela participação e paciência na realização deste trabalho, e principalmente pelo conhecimento transmitido. RESUMO APLICAÇÃO DA NORMA REGULAMENTADORA NR-10 EM UMA EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS EM ELETRICIDADE. Carmo Canova. Mauro Passos Thompsen (ORIENTADOR). (Universidade Comunitária Regional de Chapecó – UNOCHAPECÓ). O Diário Oficial da União publicou em dezembro de 2004 a Portaria No. 598 de 07/12/04, assinada pelo Ministro do Trabalho, alterando a NR-10 Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade. A nova Norma estabelece procedimentos regulamentares relacionados à segurança, saúde e condições gerais para os trabalhadores que atuam com energia elétrica em todos os ambientes de trabalho, abrangendo desde a construção civil, atividades comerciais, industriais, rurais e até mesmo domésticas. Desde a publicação do novo texto da norma NR-10 em dezembro de 2004, a norma causou um impacto direto em empresas e prestadores de serviços em eletricidade, o novo texto deixa muitas interrogações em diversos itens da norma sendo necessário uma boa interpretação e também auxilio de pessoas que tenham um maior entendimento da norma para identificar o que é de fato que se deve ser realizado e se este se aplica ou não em muitas situações a realidade da empresa. O presente trabalho tem por objetivo aplicar a norma regulamentadora numero 10 (NR-10) em uma empresa prestadora de serviços em instalações elétricas no ramo de construção de redes de transmissão e distribuição de energia elétrica, desenvolvendo junto a empresa a documentação exigida pela norma referente a procedimentos operacionais, elaboração da ordem de serviço para realização de trabalhos em eletricidade ou em suas proximidades, implantar o método de análise preliminar de risco (APR) antes da execução de obras, criar um check-list para programação e planejamento das obras, verificação de ferramentas e EPI’s necessários. Também, busca-se através deste trabalho a elaboração e realização do curso básico exigido pela norma, para a autorização dos trabalhadores à intervir em instalações elétricas e serviços com eletricidade. E por fim auxiliar os dirigentes da empresa na elabora do prontuário das instalações elétricas, também, exigido pelo novo texto da norma. Palavras-chave: NR-10, Segurança do Trabalho, Serviços em Instalações Elétricas, Prontuário de instalações, Procedimentos Operacionais. LISTA DE QUADROS Quadro 1: Classificação dos principais riscos ocupacionais em grupos, de acordo com a sua natureza e a padronização das cores correspondentes. .........................33 Quadro 2: Modelo: formulário de APP.......................................................................38 Quadro 3: Exemplo de modelo de planilha para implementação de FMEA. .............40 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Vara de manobra seccionável. ...................................................................42 Figura 2: Aterramento provisório de AT (Alta Tensão). .............................................42 Figura 3: Cone e fita de sinalização. .........................................................................43 Figura 4: Manta isolante, com fixação por velcro. .....................................................43 Figura 5: Cobertura Isolante......................................................................................44 Figura 6: Caminhão utilizado para realização de montagens de rede aéreas de distribuição. ...............................................................................................................51 Figura 7: Equipe de redes aéreas de distribuição trabalhando. ................................52 Figura 8: Camionete utilizada pela equipe de montagens de baixa tensão. .............53 Figura 9: Equipe de montagem de baixa tensão instalando cabos para alimentação de uma cabine...........................................................................................................54 Figura 10: Funcionário realizando treinamento de combate a incêndio. ...................66 Figura 11: Funcionário da empresa eletrowatt realizando treinamento em combate a incêndio. ....................................................................................................................67 Figura 12: Funcionários realizando imobilização no treinamento de primeiros socorros.....................................................................................................................67 Figura 13: Henrique ministrando o treinamento em primeiros socorros. ...................68 Figura 14: Henrique ministrando o treinamento em primeiros socorros. ...................68 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................8 1.1 Tema ...................................................................................................................10 1.2 Identificação do problema ...................................................................................11 1.3 Justificativa..........................................................................................................11 1.4 Objetivos .............................................................................................................12 1.4.1 Geral.................................................................................................................12 1.4.2 Específicos .......................................................................................................13 1.5 Limitações do estudo ..........................................................................................13 1.6 Organização da monografia ................................................................................14 1.6.1 Tipo de pesquisa ..............................................................................................15 1.6.2 Universo ...........................................................................................................15 1.6.3 Sujeitos da pesquisa ........................................................................................15 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................16 2.1 A corrente elétrica no corpo humano ..................................................................16 2.2 Os perigos da eletricidade...................................................................................17 2.3 A segurança em serviços com eletricidade e as normas técnicas brasileiras da ABNT.........................................................................................................................21 2.3.1 NBR 5410.........................................................................................................212.3.1.1 Separação elétrica.........................................................................................25 2.3.2 NBR 14039.......................................................................................................27 2.4 Riscos com eletricidade.......................................................................................28 2.4.1 Riscos de origem elétrica .................................................................................30 2.4.2 Riscos de queda...............................................................................................30 2.4.3 Riscos no transporte e com equipamentos ......................................................30 2.4.4 Riscos de ataques de insetos...........................................................................31 2.4.5 Riscos de animais peçonhentos/domésticos....................................................31 2.4.6 Riscos ocupacionais.........................................................................................32 2.4.7 Riscos ergonômicos .........................................................................................34 2.5 Técnicas de análise de riscos .............................................................................35 2.5.1 Análise preliminar de riscos – APR ou APP .....................................................37 2.5.2 Hazard and operability studies – HAZOP.........................................................38 2.5.3 Análise de modos e efeitos de falhas – FMEA ou AMFE .................................39 2.5.4 Árvore de falhas – AAF ....................................................................................40 2.6 Medidas de proteção...........................................................................................41 7 2.6.1 Equipamentos de proteção coletiva – EPC ......................................................41 2.6.2 Equipamentos de proteção individual (EPI)......................................................44 2.7 Ferramentas ........................................................................................................46 3 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA ........................................................................49 3.1 Estrutura atual da empresa .................................................................................50 3.2 Dados atuais da empresa....................................................................................55 4 AUTORIZAÇÃO DOS TRABALHADORES...........................................................58 4.1 Introdução ...........................................................................................................58 4.2 Elaboração e realização do curso básico............................................................61 5 ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS .....................................................................71 5.1 POP’s – procedimentos operacionais padrão .....................................................71 5.2 Termo de responsabilidade do uso de adornos ..................................................76 5.3 Elaboração de ordens de serviço ........................................................................77 5.4 Check-lista para execução de serviços ...............................................................78 5.5 APR – análise preliminar de riscos......................................................................78 6 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO COLETIVA E INDIVIDUAL ...........................80 6.1 Equipamentos de proteção coletiva ....................................................................80 6.2 Equipamentos de proteção individual..................................................................83 7 PRONTUÁRIO DA INSTALAÇÃO.........................................................................86 8 CONCLUSÃO ........................................................................................................88 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................91 ANEXOS ...................................................................................................................93 8 1 INTRODUÇÃO Poucas atividades são tão perigosas, e demandam tantos cuidados quanto o trabalho em instalações elétricas. Mas uma nova regulamentação, a Norma Regulamentadora número 10, do Ministério do Trabalho e Emprego, através da Portaria 598 publicada no Diário Oficial no dia 7 de dezembro de 2004, trouxe mais segurança aos trabalhadores do setor elétrico. Esta norma foi criada após dois anos de muitas discussões por uma comissão tripartite constituída por representantes do Ministério do Trabalho e Emprego, trabalhadores e empresas, com o objetivo de garantir condições mínimas de segurança daqueles que trabalham em instalações elétricas, em suas diversas etapas, incluindo projeto, execução, operação, manutenção, reforma e ampliação, abrangendo empresas terceirizadas, públicas e privadas, inclusive quem trabalha em suas proximidade. O texto de atualização da NR-10 (Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade), publicado no Diário Oficial em 08/12/2004, alterando a redação anterior, aprovada em 1978, trouxe avanços, pesquisas e muitas discussões. A norma dispõe sobre as diretrizes básicas para a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos, destinados a garantir a Saúde e Segurança dos trabalhadores que interajam em instalações elétricas e serviços com eletricidade e 9 quaisquer trabalhos realizados nas suas proximidades. A revisão da norma vem gerando muitas dúvidas entre trabalhadores, empregadores e profissionais do SST. O engenheiro eletricista e de Segurança no Trabalho, membro da CPNSEE (Comissão Permanente Nacional sobre Segurança em Energia Elétrica) e da CTPP (Comissão Tripartite Paritária Permanente) na elaboração da norma, Aguinaldo Bizzo, concorda que como a norma define diretrizes básicas quanto às ações e obrigações, sem definir o “como” fazer, tem criado muitos questionamentos. “É uma cultura em nosso país termos modelos básicos de aplicação, e isso não é possível com a NR-10, visto que ela está embasada num sistema de gestão, cuja aplicabilidade depende de características de cada empresa”, sentencia. Os dados da Fundação Coge (Fundação Comitê de Gestão Empresarial), órgão que congrega as empresas geradoras, distribuidoras e transmissoras de energia elétrica do país, mostram que, das 68 empresas que enviaram suas estatísticas, foram 1.901 trabalhadores acidentados, sendo 962 com afastamento, no ano passado. Este setor, que já congregou mais de 100 mil trabalhadores em 1999, hoje conta com cerca de 95 mil trabalhadores atuando na área. Os acidentes, conseqüentemente, também diminuíram, dando a falsa impressão de aumento de segurança no setor: no ano de 2000 foram 2.250 acidentes e, em 2004, 1.972. Os especialistas afirmam, porém, que os números são graves, e provavelmente ainda mais expressivos se levarmos em consideração que praticamente todos os segmentos industriais lidam com energia elétrica. A importância da revisão da Norma Regulamentadora reside na sua propagação, já que a NR-10 existe desde 1974, e pouca gente nas empresas tem conhecimento do seu conteúdo. Mas hoje, todos sabem da sua existência e da importância da norma, e isso é um fato extremamente positivo. Embora em vigor 10 desde o final de 2004, alguns prazos de implementação da NR foram estendidos, devido às dificuldades de interpretação que as empresas vêm encontrando. Segundo consultores os itens que vêm gerando mais dúvidas são os itens: 10.8 sobre a capacitação dos profissionais, o anexo II referente aos treinamentos, item 10.2.4 que estabelece o prontuário de instalações elétricas e o item 10.2.9 sobre vestimentas de proteção. Desta forma, surgiu o interesse em adotar uma empresa prestadora de serviços em instalaçõeselétricas no ramo de construção de redes de transmissão e distribuição e energia elétrica para aplicação da norma regulamentadora NR10 em suas dependências. Ajudando esta empresa a esclarecer suas dúvidas quanto ao novo texto da norma NR-10 e elaborar a documentação necessária exigida pela NR10, fornecer treinamento em segurança com eletricidade para seus trabalhadores conforme exigência do item 10.8.8 da norma e anexo III, formalizar todos os procedimentos operacionais e também zelar pela manutenção da segurança de seus trabalhadores. 1.1 TEMA Aplicar a norma regulamentadora número 10 (NR-10) do Ministério do Trabalho e Emprego em uma empresa prestadora de serviços em montagem, manutenção, contrução de redes de transmissão e distribuição de energia elétrica. 11 1.2 IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA Após a reformulação e publicação do novo texto da norma regulamentadora numero 10 (NR10), os dirigentes de empresas prestadores de serviços em eletricidade ficaram bastante confusos em relação à interpretação de alguns itens do novo texto, itens estes referentes a procedimentos padronizados de trabalho, técnicas de análise de riscos, treinamentos referentes aos riscos decorrentes do emprego de eletricidade, vestimentas, trabalhos a dois, entre outros. A fim de subsidiar os dirigentes de empresas prestadoras de serviço em eletricidade com relação ao novo texto da norma NR-10, e contribuir para o melhor entendimento e análise dos dirigentes em relação aos itens da norma, e também com o objetivo de selar pelo patrimônio da empresa e a segurança de seus funcionários tornando a prática diária dos trabalhos mais segura, assim é que surgiu o interesse em realizar este trabalho aplicado em uma empresa prestadora de serviços em eletricidade. 1.3 JUSTIFICATIVA Observando o cenário atual na cidade de Chapecó-SC, pôde-se notar a existência de inúmeras empresas terceirizadas que prestam serviços no setor elétrico, tanto montagens industriais como trabalhos de manutenção e montagem de redes de distribuição. A NR10 é uma norma recentemente revisada, com mudanças bruscas no seu texto, muitas das quais exigem algum investimento das empresas, e 12 estabelece prazos que até final de 2006 estão todos vencidos já cabíveis de multa pelos fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego. Através da realização de um check-list da norma NR10 pode-se concluir que todas as empresas têm conhecimento da norma NR10, mas que muitas delas não estão procurando auxilio para interpretação e aplicação da mesma em suas empresas. Algumas empresas públicas e privadas e concessionárias de energia elétrica já estão exigindo que empresas prestadoras de serviços tenham implantado a NR10 em suas empresas, para poderem trabalhar em suas dependências assegurando-se assim de que terão trabalhadores com formação técnica e instruídos quanto aos riscos e perigos do emprego da energia elétrica, reduzindo assim os números de acidentes com terceiros em suas dependências, e tornando a prática diária do trabalho mais segura. 1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Geral O presente trabalho tem como objetivo geral aplicar a norma NR10 nas dependências de uma empresa prestadora de serviços em instalações elétricas no ramo de construção de redes de transmissão e distribuição de energia elétrica, procurando elaborar os principais documentos exigidos pela norma NR10 referente à procedimentos de trabalho e análise preliminar de risco. Fornecer os treinamentos referentes ao Anexo II (Curso Básico de Segurança em Eletricidade) da norma, para 13 autorização dos trabalhadores, e organizar o prontuário da empresa. 1.4.2 Específicos • elaborar uma lista de procedimentos operacionais das atividades desenvolvidas pela empresa; • elaborar os procedimentos operacionais para todas as atividades desenvolvidas pela empresa, conforme lista de procedimentos; • capacitar e autorizar os trabalhadores para intervenção em instalações elétricas, através do treinamento referente ao anexo II da norma; • fornecer o treinamento referente ao anexo II (Curso Básico de Segurança em Eletricidade) da norma NR10; • desenvolver um método da análise preliminar de riscos (APR), nas equipes de montagem de redes para ser realizado sempre antes de desenvolver seus trabalhos; • elaborar o prontuário da empresa; 1.5 LIMITAÇÕES DO ESTUDO A principal dificuldade encontrada para realização deste trabalho foi a disponibilidade de tempo para acompanhamento das equipes de montagem de redes de distribuição de energia elétrica, devido ao fato de ter que se observar in- loco as equipes trabalhando para desenvolver os procedimentos operacionais 14 padrão da empresa, sendo que a maioria dos serviços prestados pela empresa são em municípios distantes. Outra dificuldade foi o numero limitado de referências bibliográficas sobre o assunto, de procedimentos operacionais, sendo estes uma novidade da norma e também estes procedimentos são documentos internos de empresas cada um tem um padrão. 1.6 ORGANIZAÇÃO DA MONOGRAFIA O desenvolvimento do trabalho inicia com uma reunião com os dirigentes da empresa para um levantamento dos dados da empresa com relação ao novo texto da norma, verificando com os mesmos como a empresa esta em relação a norma. Primeiramente decidiu-se priorizar o treinamento de segurança referente ao anexo II da norma, para a autorização dos trabalhadores. Paralelamente ao treinamento, decidiu-se descrever uma lista de procedimentos operacionais das atividades desenvolvidas pela empresa, para posterior acompanhamento in-loco das equipes e elaboração dos procedimentos operacionais, juntamente com os demais documentos de analise preliminar de riscos e ordens de serviço para os trabalhadores. Com o acompanhamento in-loco das atividades desenvolvidas pelos trabalhadores foi-se realizando anotações para elaboração dos procedimentos operacionais, e num ultimo momento organizar todos estes documentos em um único arquivo que compõe o prontuário da empresa. 15 1.6.1 Tipo de pesquisa Os tipos de pesquisas utilizados para o desenvolvimento do trabalho foram pesquisas de campo, com o acompanhamento das equipes de montagem na realização das suas atividades, pesquisa de ação através da elaboração dos documentos necessários referentes à norma e também a realização do curso básico para segurança em instalações e serviços com eletricidade, para a autorização dos trabalhadores. 1.6.2 Universo Este trabalho se aplica a todas as empresas prestadoras de serviços em instalação de redes de transmissão e distribuição de energia elétrica. 1.6.3 Sujeitos da pesquisa Será analisada nesta pesquisa uma empresa prestadora de serviços em eletricidade no ramo de construção de redes de transmissão e distribuição de energia elétrica. 16 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 A CORRENTE ELÉTRICA NO CORPO HUMANO O aumento substancial das aplicações e da utilização de energia elétrica nas ultimas décadas levou pesquisadores de diversos países a realizar minuciosos estudos sobre os perigos que a corrente elétrica pode causar ao passar pelo corpo humano. As pesquisas sobre o assunto começaram em 1930, com os estudos pioneiros de H. Freiberger e L.P. Ferris, aos quais se seguiram os de C.P. Dalziel, W.B. Kouwenhoven, W.R. Lee, P. Osypka, H. Antoni entre outros. Com o objetivo de avaliar o grau de periculosidade da corrente elétrica, esses estudiosos realizaram experiências com animais (bezerros, porcos, carneiros, cães e gatos), seres humanos e cadáveres. O documento internacional, considerado orientação básica no que diz respeito à proteção contra choques elétricos em instalações elétricas, é a publicação nº 479 da IEC (Effects of current passing through the human body), que consolida os estudos realizados sobre o assunto. Esse trabalho foi publicado pela primeiravez em 1974, preparado por um grupo selecionado de estudiosos com base em uma 17 longa pesquisa na literatura e na avaliação das respostas a um questionário preparado. A norma brasileira NBR 6533, de 1981 (Estabelecimento de segurança aos efeitos da corrente elétrica percorrendo o corpo humano) se baseou integralmente naquela publicação. Ao passar pelo corpo humano a corrente elétrica danifica os tecidos e lesa os tecidos nervosos e cerebral, provoca coágulos nos vasos sanguíneos e pode paralisas a respiração e os músculos cardíacos. A corrente elétrica pode matar imediatamente ou pode colocar a pessoa inconsciente, a corrente faz os músculos se contraírem a 60 ciclos por segundo, que é a freqüência da corrente alternada.A sensibilidade do organismo a passagem de corrente elétrica inicia em um ponto conhecido como Limiar de Sensação e que ocorre com uma intensidade de corrente de 1mA para corrente alternada e 5mA para corrente contínua. Pesquisadores definiram 3 tipos de efeitos manifestados pelo corpo humano quando da presença de eletricidade de acordo com Cotrim (2003). • limiar de sensação (percepção); • limiar de não largar; • limiar de fibrilação ventricular. 2.2 OS PERIGOS DA ELETRICIDADE De acordo com Kindermann (2000), qualquer atividade biológica, seja glandular, nervosa ou muscular, é estimulada ou controlada por impulsos de corrente elétrica. Se essa fisiológica interna somar-se a uma outra corrente de origem externa, devido a um contato elétrico, ocorrerá no organismo humano uma alteração 18 das funções vitais normais que, dependendo da duração da corrente elétrica, pode levar o indivíduo à morte. Os principais efeitos que uma corrente elétrica (externa) produz no corpo humano são tetanização, parada respiratória, queimadura e fibrilação ventricular. A tetanização é um fenômeno decorrente da contração muscular produzida por uma corrente elétrica. Verifica-se que sob a ação de um estímulo, devido a uma diferença de potencial elétrico em uma fibra muscular, o músculo se contrai e, em seguida, retorna ao estado de repouso. Se houver um segundo estímulo antes do repouso os dois efeitos poderão somar-se. Diversos estímulos simultâneos produzem contrações repetidas do músculo, de modo progressivo; é a chamada contração tetânica. Quando a freqüência dos estímulos ultrapassa certo limite, o músculo é levado à contratação completa e permanente nessa condição até que cessem os estímulos, retornando lentamente ao estado de repouso. O mesmo fenômeno descrito de modo simplificado para uma fibra elementar nervo-muscular ocorre de maneira muito mais complexa no corpo humano que é atravessado por uma corrente elétrica. As freqüências usuais de 50 e 60 Hz são suficientes para produzir uma tetanização completa dependendo da intensidade da corrente elétrica. Uma pessoa em contato com uma peça sob tensão pode ficar ‘agarrada’ a ela no período em que durar a diferença de potencial, que, dependendo da duração, pode levar à inconsciência e até à morte. É importante observar que o fenômeno é mais perigoso se considerar que a resistência elétrica do corpo humano diminui com a intensidade da tensão elétrica. Para valores elevados de corrente, a excitação muscular pode ser suficientemente violenta de modo a provocar uma explosão de contração muscular, levando uma pessoa a se movimentar muitas vezes, a fim de libertar-se do choque 19 elétrico. Dependendo das condições pode ser lançada a uma certa distância. Defini-se o limiar de largar como a corrente máxima que uma pessoa pode suportar ao segurar um condutor energizado. Ela pode largá-lo usando os músculos voluntariamente estimulados. Em outras palavras, o limiar de largar é o valor máximo que uma pessoa, tendo à mão um objeto energizado, pode ainda largá-lo. Estudos mostram que para essa grandeza, em corrente alternada de 50 e 60 Hz, os valores se situam entre 6 e 14 mA (milí-amperes 10-3) em mulheres (média de 10 mA) e entre 9 e 23 mA em homens (média de 16 mA). Correntes inferiores ao limiar de largar, mas com pouca intensidade, muito embora não produzam, no caso geral, alterações graves no organismo, podem dar origem a contrações musculares violentas e indiretamente causar acidentes, como quedas, ferimentos causados por partes móveis de máquinas ou movimentos bruscos que levam a outros riscos. Correntes superiores ao limite de largar, mas com pouca intensidade, podem causar uma parada respiratória se a corrente for de longa duração. Essas correntes produzem sinais de asfixia na pessoa, graças à contração de músculos ligados à respiração e/ou à paralisia dos centros nervosos que comandam a função respiratória. Se a corrente permanecer, a pessoa perde a consciência e morre por asfixia. A passagem da corrente elétrica pelo corpo humano é acompanhada do desenvolvimento de calor por efeito Joule, podendo produzir queimaduras. A situação torna-se mais crítica nos pontos de entrada e saída da corrente, uma vez que: • a pele apresenta uma elevada resistência elétrica, enquanto os tecidos internos apresentam resistência baixa; 20 • à resistência de contato entre a pele e as partes sob tensão soma-se a resistência da pele; • a densidade de corrente é alta nos pontos de entrada e saída da corrente, principalmente se as áreas de contato forem pequenas. Quanto maior a densidade de corrente e mais longo o tempo qual a corrente permanece mais graves são as queimaduras produzidas. Nas altas tensões, em que há o predomínio dos efeitos térmicos da corrente, o calor produz a destruição de tecidos superficiais e profundos, bem como o rompimento de artérias com conseqüente hemorragia e destruição dos centros nervosos. O fenômeno fisiológico mais grave que pode ocorrer quando a corrente elétrica passa pelo corpo humano é a fibrilação ventricular do coração. Trata-se de um fenômeno complexo e geralmente fatal. Sabe-se que o músculo cardíaco (miocárdio) se contrai ritmicamente de 60 a 90 vezes por minuto e sustenta, como se fosse uma bomba, a circulação sanguínea nos vasos. A contração da fibra muscular é estimulada por impulsos elétricos provenientes do nódulo sinoatrial, situado na parte superior átrio direito, e é um gerador biológico de impulsos elétricos que comanda o coração. Por meio de tecidos específicos de condução, os impulsos de comando provenientes do nódulo sinoatrial são transmitidos às fibras musculares da parede do ventrículo do coração. Se à atividade elétrica fisiológica normal acrescenta-se uma corrente elétrica de origem externa e muitas vezes maior que a corrente biológica, é fácil imaginar o que sucede com o equilíbrio elétrico do corpo. As fibras do coração passam a receber sinais elétricos excessivos e irregulares e as fibras ventriculares ficam superestimuladas de maneira caótica e passam a contrair-se desordenadamente, uma independente da outra, de modo que o coração não possa mais exercer sua 21 função. É a fibrilação ventricular, responsável por tantas mortes decorrentes da acidentes elétricos, na qual as fibras musculares do ventrículo vibram desordenadamente estagnando o sangue dentro do coração. Dessa maneira não há irrigação sanguínea pelo corpo, a pressão arterial cai a zero e a pessoa desmaia e fica em estado de morte aparente. A fibrilação ventricular é acompanhada da parada respiratória da vítima. O fenômeno da fibrilação ventricular é irreversível. No entanto, sabe-se hoje que uma carga elétrica violenta pode, desde que adequadamente aplicada, reverter o processo de fibrilação. Isso é feito com um desfibrilador elétrico, que utiliza dois eletrodos aplicados ao tórax que provocam uma descarga elétrica na região cardíaca do paciente. Mesmo assim, para efeitos práticos, a fibrilação é considerada fatal, pois dificilmente se tem à disposição pessoas especializadase equipamento necessário para prestar socorro à vítima em tempo hábil. Observe que, cessada a atividade cardíaca normal, a partir de três minutos começam a ocorrer lesões irreparáveis no tecido cerebral. 2.3 A SEGURANÇA EM SERVIÇOS COM ELETRICIDADE E AS NORMAS TÉCNICAS BRASILEIRAS DA ABNT 2.3.1 NBR 5410 A NBR 5410 (ABNT 2004), estabelece as condições que as instalações elétricas de baixa tensão devem satisfazer a fim de garantir a segurança de pessoas 22 e animais, o funcionamento adequado da instalação e a conservação dos bens. Esta Norma aplica-se principalmente às instalações elétricas de edificação, residencial, comercial, público, industrial, de serviços, agropecuário, hortigranjeiro, etc. A exemplo de outras normas atuais, a NBR 5410 dá grande importância à proteção contra choques elétricos, o que é plenamente justificável, tendo em vista a quantidade de equipamentos elétricos utilizados pela população. Com efeito, se nas instalações elétricas de qualquer local não forem adotadas medidas apropriadas de segurança e proteção, serão altos os riscos de ferimentos ou até mesmo de morte por eletroplessão. O perigo pode existir tanto para o eletricista que, por acidente, toca em uma barra energizada de uma subestação ou de um quadro de distribuição, como para o operário que toca na carcaça acidentalmente energizada de um motor elétrico e, ainda, para dona de casa que encosta a mão na caixa metálica de uma máquina de lavar roupa ou de uma geladeira, colocada sob tensão por uma falha de isolamento. É muito importante observar que para uma pessoa o perigo não esta simplesmente em tocar um elemento energizado, seja uma parte viva (contato direto) ou uma massa sob tensão (contato direto), e sim, em tocar simultaneamente um outro elemento que possui um potencial diferente do primeiro. Ou seja , o perigo é proveniente da diferença de potencial. Como regra geral deve-se levar em consideração que pessoas estão sempre em contato com um elemento do prédio, por exemplo, piso ou parede, que esteja com um potencial bem definido, em geral o da terra, e, portanto, qualquer contato com outro elemento que esteja em um potencial diferente pode ser perigoso (NBR5410 ABNT 2004). Os contatos diretos, em sua maior parte, são devidos a desconhecimento, 23 negligência ou imprudência das pessoas e, por isso, são mais raros. Os contatos indiretos, por sua vez, são mais freqüentes e imprevisíveis e representam maior perigo. A eles a norma dá, como não podia deixar de ser, maior importância. A NBR 5410 apresenta, para a proteção contra choques elétricos, três grupos de medidas: • medidas de proteção contra contatos diretos e indiretos; • medidas de proteção contra contatos diretos; • medidas de proteção contra contatos indiretos. A proteção contra contatos diretos e indiretos tem como base o uso de extra- baixas tensões e pode ser realizada por: • extra-baixa tensão de segurança; • extra-baixa tensão funcional. A proteção contra contatos diretos, é garantida pela quantidade dos componentes e da instalação e por determinadas disposições físicas dos componentes, que podem ser utilizados para: • isolação das partes vivas; • barreiras ou invólucros de proteção; • obstáculos; • colocação fora do alcance das pessoas; • dispositivo de proteção à corrente diferencial-residual. A proteção contra contatos indiretos, é prevista por meio de medidas que podem ser divididas em dois grupos: as que não utilizam o condutor de proteção e as medidas de proteção por seccionamento automático da alimentação, nas quais o condutos de proteção desempenha um papel de grande importância. No primeiro caso, a proteção é garantida basicamente pela qualidade da instalação; são elas: 24 • emprego de equipamentos classe II ou aplicação de isolação equivalente; • proteção em locais não-condutores; • ligações eqüipotenciais de locais não-aterradas; • separação elétrica. Os métodos previstos pela NBR 5410 para a proteção contra choques elétricos podem ser divididos em dois grupos: proteção passiva e proteção ativa. A proteção passiva consiste na limitação da corrente elétrica que pode atravessar o corpo humano ou em impedir o acesso de pessoas a partes vivas. São medidas que não levam sem conta a interrupção de circuitos com falta. A proteção ativa consiste na utilização de métodos e dispositivos que proporcionam o seccionamento (abertura) automática de um circuito, sempre que houver faltas que possam trazer perigo para o operador ou usuário. As medidas de proteção por seccionamento (abertura) automática da alimentação não dependem da qualidade da instalação. De acordo com essas medidas, um dispositivo de proteção deve fazer o seccionamento de um circuito quando ocorrer uma falta para terra, impedindo que essa situação resulte em perigo para as pessoas. Sua aplicação exige a coordenação entre o esquema de aterramento e as características dos dispositivos de proteção, levando em consideração os seguintes esquemas: • esquema TN; • esquema TT; • esquema IT. A NBR 5410 recomenda que a todos os componentes da instalação sejam aplicadas medidas de proteção contra contatos diretos. Já, a proteção contra contatos indiretos é aplicada a todas as instalações medidas que estejam 25 relacionadas com o seccionamento automático da alimentação (medidas ativas), exceto as partes da instalação que devem ter obrigatoriamente uma das medidas complementares passivas de proteção, como é o caso dos locais com banheiras e chuveiros. Essas medidas são também válidas, quando for impraticável ou indesejável a proteção por seccionamento automático (NBR5410 ABNT 2004). Para a seleção das medidas de proteção contra choques elétricos (por contato direto e indireto), a NBR 5410 recomenda que sejam especialmente observadas as seguintes condições de influências externas: • BA – competência das pessoas; • BB – resistência elétrica do corpo humano; • BC – contato das pessoas com o potencial da terra. A NBR 5410 (2004) considera que, preferencialmente, a proteção contra contato indireto deva ser estabelecida a partir da relação entre tensão de contato e tempo máximo de duração respectivo. Assim, surgindo na instalação uma dada tensão de contato, conseqüência de falha na isolação de um equipamento, a alimentação do circuito envolvido deve ser interrompida em um dado tempo máximo pelo seccionamento automático da alimentação. 2.3.1.1 Separação elétrica Uma das medidas de proteção contra choques elétricos previstas na NBR 5410 (2004), é a chamada “separação elétrica”. Ao contrário da proteção por seccionamento automático da alimentação, ela não se presta a uso generalizado. Pela própria natureza, é uma medida de aplicação mais pontual. Isso não impediu 26 que ela despertasse, uma certa confusão entre os profissionais de instalações. Alegam-se conflitos entre as disposições da medida e a prática de instalações. O questionamento começa com a lembrança de que a medida “proteção por separação elétrica”, tal como apresentada pela NBR 5410/2004, se traduz pelo uso de um transformador de separação cujo circuito secundário é isolado (nenhum condutor vivo aterrado, inclusive neutro). Lembra ainda que pelas disposições da norma a(s) massa(s) do(s) equipamento(s) alimentado(s) não deve(m) ser aterrada(s) e nem ligada(s) a massas de outros circuitos e/ou a elementos condutivos estranhos à instalação – embora o documento exija que as massas do circuito separado (portanto, quando a fonte de separação alimenta mais de um equipamento) sejam interligadas por um condutor PE próprio, de equipotencialização. Exemplo de instalações que possuem separação elétrica são salas cirúrgicas de hospitais, em que o sistema também é isolado, usando-se igualmente um transformador de separação, mas todos os equipamentos por ele alimentadostêm suas massas aterradas. A separação elétrica, como mencionado, é uma medida de aplicação limitada. A proteção contra choques (contra contatos indiretos) que ela proporciona repousa: • numa separação, entre o circuito separado e outros circuitos, incluindo o circuito primário que o alimenta, equivalente na prática à dupla isolação; • na isolação entre o circuito separado e a terra; e, ainda, na ausência de contato entre a(s) massa(s) do circuito separado, de um lado, e a terra, outras massas (de outros circuitos) e/ou elementos condutivos, de outro. O circuito separado constitui um sistema elétrico “ilhado”. A segurança contra 27 choques que ele oferece baseia-se na preservação dessas condições. Os transformadores de separação utilizados na alimentação de salas cirúrgicas também se destinam a criar um sistema isolado. Mas não é por ser o transformador de separação que seu emprego significa necessariamente proteção por separação elétrica (NBR5410 ABNT 2004). 2.3.2 NBR 14039 Esta Norma estabelece um sistema para o projeto e execução de instalações elétricas de média tensão, com tensão nominal de 1,0kV a 36,2 kV, à freqüência industrial, de modo a garantir segurança e continuidade de serviço (NBR14039 ABNT 2003). Esta Norma aplica-se a partir de instalações alimentadas pelo concessionário, o que corresponde ao ponto de entrega definido através da legislação vigente emanada da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Esta Norma também se aplica as instalações alimentadas por fonte própria de energia em média tensão. Esta Norma abrange as instalações de geração, distribuição e utilização de energia elétrica, sem prejuízo das disposições particulares relativas aos locais e condições especiais de utilização constantes nas respectivas normas. As instalações especiais tais como marítimas, de tração elétrica, de usinas, pedreiras, luminosas com gases (neônio e semelhantes), devem obedecer, além desta Norma, às normas específicas aplicáveis em cada caso. As prescrições desta Norma constituem as exigências mínimas a que devem obedecer as instalações elétricas às quais se refere, para que não venham, por suas 28 deficiências, prejudicar e perturbar as instalações vizinhas ou causar danos a pessoas e animais e à conservação dos bens e do meio ambiente. Os componentes da instalação são considerados apenas no que concerne à sua seleção e às suas condições de instalação. Isto é igualmente válido para conjuntos pré-fabricados de componentes que tenham sido submetidos aos ensaios de tipo aplicáveis. A aplicação da Norma NBR 14039 não dispensa o respeito aos regulamentos de órgãos públicos aos quais a instalação deva satisfazer. Em particular, no trecho entre o ponto de entrega e a origem da instalação, pode ser necessário, além das prescrições desta Norma, o atendimento das normas e/ou padrões do concessionário quanto à conformidade dos valores de graduação (sobre correntes temporizadas e instantâneas de fase/neutro) e capacidade de interrupção da potência de curto-circuito. A NBR 14039 aplica-se na construção e manutenção das instalações elétricas de média tensão de 1,0 a 36,2 kV a partir do ponto de entrega definido pela legislação vigente incluindo as instalações de geração, distribuição de energia elétrica. Devem considerar a relação com as instalações vizinhas a fim de evitar danos às pessoas, animais e meio ambiente. 2.4 RISCOS COM ELETRICIDADE Os riscos à segurança e saúde dos trabalhadores no setor de energia elétrica são, via de regra elevados, podendo levar a lesões de grande gravidade e são específicos a cada tipo de atividade. Contudo, o maior risco à segurança e saúde 29 dos trabalhadores é o de origem elétrica. A eletricidade constitui-se um agente de alto potencial de risco ao homem. Mesmo em baixas tensões ela representa perigo à integridade física e saúde do trabalhador. Sua ação mais nociva é a ocorrência do choque elétrico com conseqüências diretas e indiretas (quedas, batidas, queimaduras indiretas e outras). Também apresenta risco devido à possibilidade de ocorrências de curtos-circuitos ou mau funcionamento do sistema elétrico originando grandes incêndios e explosões. É importante lembrar que o fato da linha estar seccionada não elimina o risco elétrico, tampouco pode-se prescindir das medidas de controle coletivas e individuais necessárias, já que a energização acidental pode ocorrer devido a erros de manobra, contato acidental com outros circuitos energizados, tensões induzidas por linhas adjacentes ou que cruzam a rede, descargas atmosféricas mesmo que distantes dos locais de trabalho, fontes de alimentação de terceiros. Segundo Lima (2006), os riscos decorrentes do emprego da energia elétrica são os seguintes: • riscos de origem elétrica; • riscos de queda; • riscos no transporte e com equipamentos; • riscos de ataque de insetos; • riscos de ataques de animais peçonhentos/domésticos; • riscos ocupacionais; • riscos ergonômicos. 30 2.4.1 Riscos de origem elétrica Os principais riscos de origem elétrica conforme Lima (2006) são: • choque elétrico; • campo elétrico; • campo eletro-magnético. 2.4.2 Riscos de queda As quedas constituem uma das principais causas de acidentes no setor elétrico, ocorrem em conseqüência de choques elétricos, de utilização inadequada de equipamentos de elevação (escadas, cestas, plataformas), falta ou uso inadequado de EPI, falta de treinamento dos trabalhadores, falta de delimitação e de sinalização do canteiro do serviço e ataque de insetos. 2.4.3 Riscos no transporte e com equipamentos Neste item abordaremos riscos de acidentes envolvendo transporte de trabalhadores e o deslocamento com veículos de serviço, bem como a utilização de equipamentos. Veículos a caminho dos locais de trabalho em campo. É comum o 31 deslocamento diário dos trabalhadores até os efetivos pontos de prestação de serviços. Esses deslocamentos expõem os trabalhadores aos riscos característicos das vias de transporte. Veículos e equipamentos para elevação de cargas e cestas aéreas. Nos serviços de construção e manutenção em linhas e redes elétricas nos quais são utilizados cestas aéreas e plataformas, além de elevação de cargas (equipamentos, postes) é necessária a aproximação dos veículos junto às estruturas (postes, torres) e do guindauto (Grua) junto das linhas ou cabos. Nestas operações podem acontecer acidentes graves, exigindo cuidados especiais que vão desde a manutenção preventiva e corretiva do equipamento, o correto posicionamento do veículo, adequado travamento e fixação, até a operação precisa do equipamento. 2.4.4 Riscos de ataques de insetos Na execução de serviços em torres, postes, subestações, leitura de medidores, serviços de poda de árvores e outros podem ocorrer ataques de insetos, tais como abelhas e formigas. 2.4.5 Riscos de animais peçonhentos/domésticos Ocorre sobretudo, nas atividades externas de construção, supervisão e manutenção em redes elétricas. 32 O empregado deve atentar à possibilidade de picadas de animais peçonhentos como, por exemplo, cobras venenosas, aranhas, escorpiões e mordidas de cães. 2.4.6 Riscos ocupacionais Consideram-se riscos ocupacionais, os agentes existentes nos ambientes de trabalho, capazes de causar danos à saúde do empregado. No quadro abaixo de acordo com a NR15 podemos observar os principais riscos ocupacionais divididos em grupos e com suas respectivas cores. 33 Quadro 1: Classificação dos principais riscos ocupacionais em grupos, de acordo com a sua natureza e a padronização das cores correspondentes. Fonte: POLOTO 2005. Ruído Presente em vários locais tais como, usinas de geração de energia elétrica, devido ao movimento de turbinas e geradores, subestações, redes de distribuição, necessitandode laudo técnico específico para sua caracterização. Radiação solar Os trabalhos em instalações elétricas ou serviços com eletricidade quando realizados em áreas abertas podem também expor os trabalhadores à radiação solar. 34 Como conseqüências podem ocorrer queimaduras, lesões nos olhos e até câncer de pele, provocadas pela radiação solar. Calor Presente nas atividades desempenhadas em espaços confinados, como por exemplo, temos: subestações, câmaras subterrâneas, usinas (devido deficiência de circulação de ar e temperaturas elevadas). 2.4.7 Riscos ergonômicos Os riscos ergonômicos são significativos nas atividades do setor elétrico relacionados aos fatores: Biomecânicos: posturas inadequadas de trabalho provocadas pela exigência de ângulos e posições inadequadas dos membros superiores e inferiores para realização das tarefas, principalmente em altura, sobre postes e apoios inadequados, levando a intensas solicitações musculares, levantamento e transporte de carga, etc. Organizacionais: pressão psicológica para atendimento a emergências ou a situações com períodos de tempo rigidamente estabelecidos, realização rotineira de horas extras, trabalho por produção, pressões da população com falta do fornecimento de energia elétrica. 35 Psicossociais: elevada exigência cognitiva necessária ao exercício das atividades associada à constante convivência com o risco de vida devido à presença do risco elétrico e também do risco de queda (neste caso, sobretudo para atividades em linhas de transmissão, executadas em grandes alturas). Ambientais: conforme teoria, risco ambiental compreende os físicos, químicos e biológicos; esta terminologia fica inadequada, deve-se separar os riscos provenientes de causas naturais (raios, chuva, terremotos, ciclones, ventanias, inundações, etc.). 2.5 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE RISCOS É fundamental que antes de iniciar uma atividade tenhamos a elaboração de uma análise de riscos. Esta análise deve ser efetuada com a participação de todos os envolvidos. A análise de riscos segundo Campos (2006), é a avaliação qualitativa e/ou quantitativa dos riscos apresentados por uma instalação ou atividade. O entendimento dos conceitos de risco e perigo são necessário para a elaboração de uma técnica de análise de riscos, onde: Perigo: Propriedade ou condição inerente de uma substância ou atividade capaz de causar danos a pessoas, a propriedade e ao meio-ambiente. Risco: O risco devido a uma determinada atividade pode ser entendido como o 36 potencial de ocorrência de conseqüências indesejadas decorrentes da realização da atividade considerada. As técnicas de análise de risco visam identificar aspectos de risco a segurança, saúde e meio ambiente, relativos às suas atividades, estabelecendo ações sistemáticas de controle, monitoramento e prevenção de seus efeitos. Trata-se de uma técnica de análise prévia de riscos que tem como objetivo antecipar a previsão da ocorrência danosa para as pessoas, processos, equipamentos e meio ambiente. É elaborada através do estudo, questionamento, levantamento, detalhamento, criatividade, análise crítica e autocrítica, com conseqüente estabelecimento de precauções técnicas necessárias para a execução das tarefas (etapas de cada operação), de forma que o trabalhador tenha sempre o controle das circunstâncias, por maiores que forem os riscos. A Análise Preliminar de Risco é uma visão técnica antecipada do trabalho a ser executado, que permite a identificação dos riscos envolvidos em cada passo da tarefa, e ainda propicia condição para evitá-los ou conviver com eles em segurança. Por se tratar de uma técnica aplicável à todas as atividades, uma grande virtude da aplicação desta técnica de Análise Preliminar de Risco é o fato de promover e estimular o trabalho em equipe e a responsabilidade solidária. A seguir serão apresentadas às ferramentas consideradas mais importantes por Campos (2006), e as suas principais características e variações. O conhecimento da sua aplicabilidade por parte do profissional de elétrica almeja fornecer subsídios necessários ao correto levantamento de riscos e perigos da atividade quotidiana de trabalho. 37 2.5.1 Análise preliminar de riscos – APR ou APP Busca identificar os eventos perigosos em uma instalação de forma estruturada para identificar a priori os riscos potenciais. Esta metodologia procura examinar as maneiras pelas quais as energias podem ser liberadas de forma descontrolada; levantando para cada um dos perigos identificados, as suas causas, os métodos de detecção disponíveis, e seus efeitos nos trabalhadores, a população vizinha e ao meio ambiente. As básicas de uma APR são: a) Rever problemas conhecidos: Revisar experiências passadas (eventos similares) na busca de identificação de riscos no sistema estudado. b) Revisar missão: Revisar objetivos, funções, procedimentos, e o ambiente onde será realizada a operação. c) Determinação dos riscos principais: Quais são os riscos potenciais para causar perdas direta ou indiretamente a função, lesões, danos a equipamentos, etc. d) Determinar os riscos iniciais e contribuintes: Cada risco principal será esmiuçado para determinar sua origem. e) Meios de controle e eliminação do risco: Procurar os meios mais eficientes disponíveis para segurança da operação. f) Método de restrição de danos: Avaliar os métodos para restrição dos danos. g) Indicar os agentes executantes: Indicar claramente quem é o responsável pelas ações corretivas. 38 Quadro 2: Modelo: Formulário de APP. Perigo Causa Detecção e e controle Efeito Freqüência Severidade Valor de Risco Recomendações Fonte: SOUZA 2006. 2.5.2 Hazard and operability studies – HAZOP O HAZOP é o estudo que identifica os problemas de perigo e operabilidade, por meio do exame dos possíveis desvios das condições normais de operação, suas causas e conseqüências. No processo de identificação dos problemas a solução for aparente esta pode ser considerada como parte do produto do HAZOP, contudo não se devem buscar soluções que não são aparentes, pois esta não é a finalidade do HAZOP. Esta metodologia tem maior aplicabilidade em atividades de processo contínuo, podendo ser adaptada para processos de bateladas. O HAZOP é baseado na experiência de diversos especialistas, com diferentes focos e tem natureza qualitativa. Os fatores de sucesso do HAZOP são: a) confiabilidade dos dados reunidos para sua elaboração; b) visão e interação do grupo com o sistema em análise; c) habilidade do grupo em visualizar os desvios; d) habilidade do grupo em selecionar os casos mais graves. As etapas básicas de execução do HAZOP são: a) definição dos propósitos, objetivos e escopo; b) seleção do grupo; c) preparo do estudo; 39 d) execução; e) revisão; f) registro dos resultados finais. 2.5.3 Análise de modos e efeitos de falhas – FMEA ou AMFE A FMEA (Failure Modes and Effect Analysis) é uma ferramenta de análise para prognóstico de problemas, podendo ser aplicada em projetos, processos ou serviços. São dois os tipos básicos de FMEA existentes: A FMEA de projeto DFMEA (Design Failure Modes and Effect Analysis) e a FMEA de processo (process Failure Modes and Effect Analysis). Derivados destes dois tipos de FMEA surgiram diversas versões, entretanto, para que o método de análise de falhas possa ser chamado de FMEA e garantir a sua eficácia ou sucesso é necessário que este apresente os cinco elementos básicos: a) Selecionar o projeto com maior potencial de retorno de qualidade e confiabilidade para organização e para o cliente. b) Pergunta essenciais a responder: • Como pode falhar? • Porque falha? • O que acontece quando falha? a) Implementar um sistema para identificar os modos de falha mais importantes,a fim de melhorá-los. b) Priorizar os modos de falhas potenciais que serão tratados em primeiro lugar. c) Acompanhamento, com ferramentas de suporte a qualidade e a 40 confiabilidade. O quadro 3 apresenta o modelo de um formulário básico de FMEA. Quadro 3: Exemplo de modelo de planilha para implementação de FMEA. FMEA – Análise de Efeitos e Modos de Falha Cabeçalho 1 Funções 2 M od os d e Fa lh a 3 Efeitos 4 S ev er id ad e 5 Causas 6 O co rr ên ci a 7 C on tr ol es 8 D et ec çã o 9 A çõ es R ec om en da da s 10 Status 11 Fonte: SOUZA 2006. 2.5.4 Árvore de falhas – AAF A árvore de falhas é uma ferramenta gráfica utilizada para avaliação profunda de uma única falha ou modo de falha. O modo de falha escolhido para aplicação deste recurso deve ter alta severidade e/ou alta probabilidade de ocorrência. Escolhido este modo de falha ele passará a ser chamado de “Evento Principal”, e este terá abaixo dele as causas que o geraram, chamadas “Causas Básicas”. O quadro 3, ilustra a aparência de uma típica árvore de falhas. Esta lógica pode ser usada para estimar a probabilidade de ocorrência de modo de falha ou de uma 41 causa no FMEA. Organograma: Aparência típica de uma árvore de falha. Fonte: SOUZA 2006. 2.6 MEDIDAS DE PROTEÇÃO 2.6.1 Equipamentos de proteção coletiva – EPC Na execução de serviços em instalações elétricas e em suas proximidades devem ser previstos e adotados prioritariamente equipamentos de proteção coletiva. Os EPC’s são dispositivos, sistemas, fixos ou móveis de abrangência coletiva, destinados a preservar a integridade física e a saúde dos trabalhadores, usuários e terceiros, são aqueles que neutralizam o risco na própria fonte (FERREIRA, 2005). Abaixo são citados alguns dos principais equipamentos de proteção que constituem proteções coletivas para atividades realizadas nos setores em questão, Evento Principal Causa Causa Causa Causa Causa Causa Causa Causa 42 sobretudo no setor elétrico. Os Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) específicos das atividades ligados a eletricidade são mostrados abaixo. Figura 1: Vara de manobra seccionável. Figura 2: Aterramento provisório de AT (Alta Tensão). • detector de tensão; 43 • equipamentos de isolação de áreas (cones, fitas, bandeiras, entre outros). Figura 3: Cone e fita de sinalização. Fonte: POLOTO 2005. • Mantas, coberturas e tapetes de borracha – Utilizados na cobertura de equipamentos energizados, sua aplicação é simples e segura algumas mantas permitem fixação por meio de velcro. Figura 4: Manta isolante, com fixação por velcro. Fonte: POLOTO 2005. 44 Figura 5: Cobertura isolante. Fonte: POLOTO 2005. • Cordas e sacolas para içar materiais, ferramentas e sacola para transporte de lâmpadas – Todos os objetos que forem passados ao eletricista, de baixo para cima da estrutura, ou de cima para o solo, deve ser feito com o auxílio do conjunto de içamento, os objetos não devem ser lançados para os demais membros da equipe. 2.6.2 Equipamentos de proteção individual (EPI) Os equipamentos de proteção individual EPI’s devem ser fornecidos pela empresa gratuitamente e em condições adequadas de uso e higiene, como preconiza a NR 06, nos seguintes casos: a) sempre que as medidas de proteção coletiva forem tecnicamente inviáveis ou não oferecem completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho e/ou de doenças profissionais e do trabalho; b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; 45 c) para atender a situações de emergência. Além de fornecer o EPI a empresa é responsável por fornecer treinamento adequado quanto a sua utilização, o treinamento deve abranger pelo menos os seguintes itens: • quando o EPI é necessário; • qual EPI é necessário; • como usar corretamente o EPI; • as limitações do EPI; • cuidados a serem dispensados ao EPI, manutenção e o limite de vida útil. Os EPI’s básicos utilizados nas atividades envolvendo serviços em eletricidade são: • luvas de borracha; • botas com solado de borracha; caso exista necessidade de biqueira esta deverá ser de material não condutor de eletricidade; • capacete; • óculos de proteção (proteção para projeção de objetos); • mangas de borracha; • luvas de vaqueta. A NR-06 não é explícita, quanto ao tipo de proteção contra arcos elétricos, contudo estabelece que deve ser fornecido um EPI que proteja os trabalhadores contra agentes térmicos provenientes do arco elétrico da cabeça, face, membros superiores e inferiores, ou seja o corpo inteiro. Os trabalhadores expostos ao arco podem sofrer queimaduras de 2° e 3° graus, que em 80% dos casos são fatais, em conseqüência do uniforme de trabalho não ser apropriado para a proteção. 46 Em 1987 foi confeccionada a primeira roupa para a proteção contra arcos elétricos, uma capa ou, sobretudo, até os tornozelos, com capuz e protetor facial incorporado com proteção UV. Nos anos 90 foram anos de grandes avanços em questão de normas de segurança elétrica, com o desenvolvimento de produtos de segurança melhores e mais confiáveis. Nos Estados Unidos e na Europa, em função da necessidade e obrigatoriedade legal para proteção contra os efeitos térmicos do arco elétrico, foram desenvolvidos normas para verificar o desempenho dos tecidos e vestimentas utilizados como EPI’s. A partir da normalização introduzido um novo componente ao EPI do eletricista, as mantas de supressão de arcos periféricos. Com isso os trabalhadores podiam criar barreiras de contenção em equipamentos periféricos, dando-lhes proteção extra contra arcos elétricos em equipamentos próximos ao local de trabalho. No Brasil a NR-10 deixou a cargo da NR-06 (Equipamentos de Proteção Individual) a responsabilidade de regular os critérios referentes aos EPI’s para proteção de arco elétrico. Na ausência desta regulamentação recomenda-se adotar norma internacional IEC, que é base da normalização Brasileira. Ressalta-se que qualquer EPI, importado ou nacional devem possuir o CA (Certificado de Aprovação). 2.7 FERRAMENTAS Os equipamentos, ferramentas e dispositivos isolantes destinados a serviços com eletricidade (BIZZO, 2006), devem ser submetidos a testes elétricos ou ensaios 47 de laboratório periódicos, obedecendo às especificações do fabricante, os procedimentos da empresa ou na ausência destes, adota-se periodicidade de um ano. Estas determinações estão contidas no item 10.7.8. Para as ferramentas utilizadas nos serviços com eletricidade é fundamental que os fabricantes garantam a sua utilização segura em uma determinada tensão. Aos trabalhadores e a empresa é imperativo que estas condições sejam mantidas, ou seja, manter a condição adequada de funcionamento de um dispositivo significa saber utilizá-lo e fornecer manutenção adequada aos equipamentos. Para que o funcionário disponha deste conhecimento é imperativo fornecer treinamento focado para estas necessidades. Segundo Bizzo (2006), o treinamento de segurança previsto na NR 10, pode não ter espaço suficiente para fornecer tanta informação, contudo neste treinamento deve dar condições suficientes para que os trabalhadores tenham conhecimento para identificar situações de risco que demandem uma determinada informação para que os trabalhos sejam realizados a contento e com segurança. Os trabalhadores devem ter consciência dos fatores que afetam o isolamento elétrico dos materiais isolantes e quais são os fatores que determinam a alteração de suas características. As propriedades dos isolamentos variam de acordo com as condições físicas de seu uso, por exemplo: • variações de temperatura; • tensão aplicada; • umidade;• impurezas na composição; • estrutura do material; • estado físico. 48 Os materiais classificados como isolantes não são isolantes perfeitos, ao contrário, existe uma corrente elétrica que circula pelo isolante, chamada de corrente transversal, que é de pequeno valor se respeitadas as condições de operação do material. Juntamente, com a corrente transversal surge a chamada corrente de polarização, que surge devido à tensão aplicada ao isolante. Um ponto fundamental da característica de um isolante é que: O material é considerado isolante elétrico até um determinado nível de tensão. A partir de um valor limite de tensão para o qual ele foi projetado ele deixa de ser isolante e passa a conduzir. Como por exemplo, o ar, é um material isolante, contudo o aumento da tensão para um determinado valor e mantivermos a distância de separação, em um determinado valor de tensão o ar vai conduzir eletricidade, vai formar um arco voltaico. 49 3 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA Dentre tantas empresas prestadoras de serviços em eletricidade instaladas em Chapecó SC, uma das empresas que se propôs a colaborar com o projeto de implantação da NR-10 em suas instalações, e demonstrou grande interesse e disponibilidade foi a empresa EletroWatt Montagens Elétricas Ltda., esta empresa foi escolhida também pelo ramo de atividade onde predomina-se principalmente a construção e manutenção de redes aéreas e subterrâneas de distribuição de energia elétrica, sendo este um dos ramos da engenharia elétrica que tenho maior afinidade. A empresa EletroWatt Montagens Elétricas Ltda., esta instalada em Chapecó SC na Rua Visconde de Cairu, 401-D, a empresa teve inicio de suas atividades em 22 janeiro de 1999, esta registrada segundo suas atividades e a NR-04 sob o código CNAE 45.31-4-02, fundada pelo Engº Carlos Luiz Benazzi Diretor, Edelar Roque Bussolotto sócio, Lorena Pereira da Silva sócia e Geraldo Stuani sócio. O ramo de atividade da empresa compreende: serviços de instalações elétricas em média e baixa tensão, montagens eletromecânicas, redes de distribuição de energia elétrica aéreas e subterrâneas, projeto e estudos de viabilidade na área energética, empreiteira de mão de obra na construção civil, locação de veículos e equipamentos e comercio de materiais elétricos em geral. 50 Entre seus principais clientes estão: • Prefeitura Municipal de Chapecó; • Prefeitura Municipal de Xaxim; • Prefeitura Municipal de Guatambu; • Prefeitura Municipal de Ipuaçu; • Prefeitura Municipal de Coronel Freitas; • Prefeitura Municipal de Cordilheira Alta; • Construtora Queiroz Galvão S.A; • Construtora Gomes Lourenço S.A; • SADIA S/A Chapecó e Concórdia; • Consórcio Quebra-Queixo; • Cia. Técnica de Engenharia Elétrica (ALUSA); • CELESC; • Rio Grande Energia (RGE); • Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). A empresa EletroWatt não realiza trabalhos com linha viva (energizada), devido ao fato de não possuir equipamentos para realização de tais trabalhos e também por ser de alto custo e padronizado. 3.1 ESTRUTURA ATUAL DA EMPRESA A empresa atualmente conta com um numero de 36 funcionários sendo estes divididos e organizados em equipes, as equipes são divididas em: montagem de 51 redes aéreas de distribuição e instalação e montagem de redes de baixa tensão, a empresa atualmente possui cinco equipes de montagem de redes aéreas de distribuição e uma equipe de montagem de rede de baixa tensão. Cada equipe de redes aéreas de distribuição possui um caminhão equipado com cabine dupla ou sobrecabine, com capacidade de 8 toneladas, dotado de guindauto e carroceria com dimensões para acomodação de materiais, equipamentos e ferramentas de forma prática e segura, o guindauto deve ter capacidade de içamento de transformadores e postes, com lança telescópica ou similar como mostra a figura 6. Figura 6: Caminhão utilizado para realização de montagens de rede aéreas de distribuição. As equipes de redes aéreas de distribuição são compostas em média por seis trabalhadores sendo estes, um encarregado de turma e motorista, quatro eletricistas profissionais e três auxiliares de eletricista. Geralmente o encarregado da turma é o motorista do caminhão, este além de comandar e coordenar a equipe, também auxilia na montagem e instalação das 52 redes, os eletricistas profissionais são os encarregados da montagem das estruturas nos postes, e os auxiliares de eletricista fazem a abertura dos buracos para os postes e auxiliam na busca de materiais e ferramentas para os eletricistas profissionais que estão realizando a montagem no topo dos postes, a figura 7 mostra uma equipe de rede aérea de distribuição trabalhando. Figura 7: Equipe de redes aéreas de distribuição trabalhando. A equipe de montagem de redes de baixa tensão é equipada com camionete tipo pick-up com carga mínima de 750Kg, equipado com escada para alcance no sistema de baixa tensão, possui carroceria resistente com armário para ferramentas e equipamentos, como mostra a figura 8. 53 Figura 8: Camionete utilizada pela equipe de montagens de baixa tensão. A equipe de montagem de redes de baixa tensão é composta por seis trabalhadores sendo este um encarregado da turma e cinco eletricistas profissionais. A equipe de redes de baixa tensão é responsável pela passagem dos cabos do transformador até a cabine de medição, também realiza a construção e instalação interna das cabines de medição e também auxilia a equipe de redes aéreas em algumas tarefas, a figura 9 mostra a equipe de montagem de baixa tensão trabalhando. 54 Figura 9: Equipe de montagem de baixa tensão instalando cabos para alimentação de uma cabine. Além das equipes de montagens a empresa também possui um setor de engenharia na qual são realizados projetos de redes de distribuição, loteamentos, iluminação pública entre outros, esta engenharia é composta por um desenhista projetista, um engenheiro eletricista responsável pelos projetos, um técnico orçamentista e um técnico de execução e coordenador de todas as equipes. A empresa também possui um setor de recursos humanos responsável pela contratação de funcionários e organização de treinamentos, junto ao setor de recursos humanos esta o setor financeiro da empresa responsável pela parte econômica da empresa. 55 3.2 DADOS ATUAIS DA EMPRESA De primeiro momento foi realizado um check da empresa juntamente com os principais supervisores de turma, o diretor da empresa e o pessoal dos recursos humanos, verificando itens mais críticos da NR-10. Na oportunidade foram verificados itens gerais, itens de documentação, de segurança na montagem, construção e manutenção de redes e situação de emergência. Nos itens gerais conseguiu-se verificar que os principais dirigentes da empresa tinham conhecimento da norma e sabiam da importância, alguns já haviam lido rapidamente, mas como a NR-10 esta bastante complexa deixando duvidas quanto ao entendimento e interpretação de alguns itens, estas pessoas não conseguiram entender muito bem. A empresa até o presente momento ainda não havia buscado auxilio de pessoas especializadas, e também não tinha conhecimento dos prazos para cumprimento dos itens. Em relação à documentação verificou-se, que a empresa não costuma aplicar técnicas de análise de risco antes da realização das intervenções em instalações e montagem de redes, também foi observado que a empresa possui uma ficha de entrega de EPI’s, mas nesta não consta se todos os EPI’s possuem CA (certificado de aprovação). Também, analisou-se um dos principais itens da norma que discorre sobre todos os funcionários possuírem certificado de conclusão de curso especifico para o setor elétrico, e também se todos possuem ou já estão sendo treinados em relação aoitem 10.8 da NR-10 que exige em seu anexo II o curso básico em instalações e serviços com eletricidade, itens estes que a empresa ainda não possui. Analisou-se também em relação ao item 10.2.9.3 da NR-10 que discorre sobre a 56 proibição de adornos pessoais no exercício do trabalho, a empresa não havia proibido seus funcionários a utilização de adornos como correntes, pulseiras, relógio etc. A empresa também não tinha conhecimento e não possuía ordens de serviço especificas para a realização dos trabalhos contendo no mínimo local, data e referência aos procedimentos operacionais, sendo que também não possui PO’s (procedimentos operacionais) para as atividades dos funcionários. Analisando a empresa em relação a segurança na montagem, construção e manutenção de rede, observou-se que a empresa possui um dos trabalhadores indicado para exercer a supervisão e condução dos trabalhos item exigido pela norma, atualmente estes supervisores ainda não são pessoas autorizadas, pois segundo a NR-10 para se ter autorização o trabalhador necessita possuir curso especifico no setor elétrico, ou uma capacitação assinada por um profissional legalmente habilitado e ainda o curso básico constante do anexo II da norma, também não era realizada avaliação prévia e pelo grupo das atividades e ações a serem desenvolvidas em obras. Em situações de emergência ou em caso de algum acidente durante a execução dos trabalhos, a empresa não possui um plano de emergência para atendimento em caso de algum dos trabalhadores do grupo sofrer um acidente, mas todos os supervisores de turma sabem para que devem ligar em caso de uma situação de acidente. Verificou-se que nas equipes quase todos os trabalhadores não estão aptos a realizar resgate e prestar primeiros-socorros a acidentados, e também nem todos os trabalhadores estão apto a manusear e operar equipamentos de combate a incêndio não conseguindo identificar o tipo e a classe do extintor a ser utilizado nos diversos tipos de incêndio. Após a verificação de como a empresa estava em relação à norma procurou-se 57 elaborar um cronograma de ação para dar inicio aos trabalhos, começando pelas ações mais importantes e os itens que estão com o prazo mais curto sendo que os prazos para cumprimento da NR-10 se esgotam todos ao final de dezembro de 2006. Abaixo se pode observar o cronograma com os itens e os prazos que foram combinados em conjunto com os dirigentes da empresa EletroWatt. Datas Tarefa 08/06 09/06 10/06 11/06 12/06 01/07 02/07 03/07 04/07 Autorização dos trabalhadores (Treinamentos). X X X X X X Elaboração dos procedimentos operacionais. X X X X X X X X Elaboração do Termo de responsabilidade de uso de adornos. X X Criação da ordem de serviço para serviços em eletricidade. X X Desenvolvimento do check-list para execução de obras. X X X X Realização de ensaios em EPI’s e EPC’s. X X X X X X Elaboração do Prontuário da empresa. X X X X X X X 58 4 AUTORIZAÇÃO DOS TRABALHADORES 4.1 INTRODUÇÃO A NR-10 no item 10.8.8: Os trabalhadores autorizados a intervir em instalações elétricas devem possuir treinamento especifico sobre os riscos decorrentes do emprego da energia elétrica e as principais medidas de prevenção de acidentes em instalações elétricas, de acordo com o estabelecido no anexo II. O anexo II está composto por dois módulos, um básico e um complementar. O módulo básico estabelece um currículo mínimo e menciona os assuntos que deverão ser abordados de forma a preparar os trabalhadores em geral, para as atividades envolvendo o risco elétrico. As abordagens buscam esclarecer os mecanismos da eletricidade sobre o organismo, as medidas de proteção disponíveis e suas condições de aplicação. Não se trata de uma capacitação profissional para as atividades, mas sim na prevenção de acidentes de natureza elétrica, de análise e antecipação do risco, com desenvolvimento de metodologias seguras, noções de responsabilidades civil e criminal, conhecimento de normas e regulamentos aplicáveis, prevenção e combate a incêndio e primeiros socorros. É um conteúdo de 59 natureza multiprofissional e que prevê uma carga horária mínima de 40 horas. O módulo complementar, com outras 40 horas, sugere um currículo mais elástico permitindo que alguns assuntos sejam dirigidos especificamente para a natureza das atividades a serem desenvolvidas, sendo destinado a trabalhadores envolvidos com instalações elétricas do Sistema Elétrico de Potência ou aqueles que atuem nas suas proximidades. Em seu item 10.8.8.1, A empresa concederá autorização na forma desta NR aos trabalhadores capacitados ou qualificados e aos profissionais habilitados que tenham participado com avaliação e aproveitamento satisfatório dos cursos constantes do anexo II desta NR”, a NR-10 reforça a obrigatoriedade dos cursos constantes no anexo II, e que a empresa só poderá autorizar um trabalhador a intervir em instalações elétricas mediante a realização dos cursos constantes em seu anexo II, e também fica absolutamente claro que a autorização é da empresa, e que o critério adotado para o aproveitamento satisfatório também é da empresa que, em contrapartida por essa autoridade e suas conseqüências. Sendo assim a NR-10 estabelece a obrigatoriedade de um treinamento especifico referente ao item 10.8.8 seu anexo III estabelece o treinamento básico e o complementar, que devem ser oferecidos pelas empresas a todos os seus colaboradores que interajam com o sistema elétrico. Porém, este item tem causado bastante polêmica em relação aos profissionais que devem realizar somente um dos cursos ou os dois, segundo o engenheiro eletricista e de Segurança do Trabalho, Joaquim Gomes Pereira, “Deverão receber o treinamento básico os ajudantes de eletricistas, técnicos eletrônicos, tecnólogos em eletricidade, entre outros, e também os que trabalham nas proximidades das instalações elétricas, tais como antenistas, trabalhadores de iluminação pública, mecânicos, pintores, que trabalham em zonas de risco”. O também engenheiro eletricista e de Segurança do Trabalho, João José Barrico de Souza explica a quem se destina o curso básico. “Deverão fazer o 60 treinamento de segurança básico todos os trabalhadores envolvidos com instalações elétricas ou que exerçam suas atividades nas áreas de risco ou controladas.” O engenheiro eletricista e de Segurança do Trabalho, Aguinaldo Bizzo enfatiza que a definição do SEP que também tem gerado dúvidas está na NBR 5460 (Sistema Elétrico de Potência) e no glossário da NR-10. “Muitos consideram que basta a empresa possuir alimentação em alta tensão que a mesma deve ser considera como SEP e, dessa forma, fazer os dois treinamentos. Essa interpretação tem sido feita por profissionais e instituições que visam lucrar com os cursos”, alerta. “Quando a energia elétrica é utilizada no processo industrial interno caracteriza-se como consumo”. A NR-10 em seu item 10.12.4 “Os trabalhadores autorizados devem estar aptos a manusear e operar equipamentos de prevenção e combate a incêndio existente nas instalações elétricas”, menciona que todo profissional para instalar, construir, operar, inspecionar ou reparar instalações elétricas, deve estar apto a manusear equipamentos de combate a incêndio utilizados nessas instalações, além de estar apto a manusear equipamentos de combate a incêndio o profissional deve saber reconhecer a classe de extintor a ser utilizada nos diversos tipos de incêndio para que o mesmo não venha a agravar a situação e causar danos ainda maiores. No item 10.12.2 “Os trabalhadores devem estar aptos a executar o regate e prestar primeiros-socorros a acidentados, especialmente por meio de reanimação cardiorrespiratória”. Neste item a NR-10 enfatiza o domínio das técnicas de socorro, remoção
Compartilhar