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Traumatismos CONSIDERAÇÕES GERAIS Traumatismo cranioencefálico (TCE) o Em 25% dos traumas contusos ou fechados o Associados a altas taxas de mortalidade e morbidade o Morte decorre de aumento progressivo da PIC (pressão intracraniana) o Causas: acidentes com carros, tiros, facadas, chutes, mordidas e quedas Traumatismo medular o Maioria com lesões em outros órgãos o Casos de concussão são mais associados à mortalidade e morbidade do que compressão o Causas: acidentes com carros, tiros, mordidas e quedas o Não esquecer de hérnia de disco intervertebral traumática (Hansen III) Traumatismos nem sempre são evidentes AUTORREGULAÇÃO PAM – PIC = PPC Encéfalo tem mecanismos para tentar reduzir a PIC, quando a PIC aumenta demais e o encéfalo perde a capacidade de controle a PPC cai No trauma os vasos encefálicos são rompidos e perdem a capacidade de autorregulação, causando isquemia encefálica ou medular se a PAM cair FISIOPATOLOGIA TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO TRAUMATISMO MEDULAR Lesão primária (direta) Parênquima, vasos, ossos → Compressão, contusão, laceração, tração Concussão, hemorragia, edema, fratura, luxação → morte e dano de neurônios, axônios e células da glia Lesão secundária (processos bioquímicos) EXCITOTOXICIDADE o Glutamato vaza e não é removido o Estimulam vizinhas o Consomem ATP o Influxo de Na e Ca o Ca ativa enzimas (destruição) o Na atrai água (edema citotóxico) MUDANÇAS VASCULARES o Hemorragia, obstrução e destruição dos vasos o Perde autorregulação (hipotensão = isquemia) o Edema vasogênico o Hipoxemia o Anaerobiose / acidose Inativa bombas de Ca e Na ESTRESSE OXIDATIVO o Favorecido por isquemia, ferro (hemorragia), Ca e lipídeos o Peroxidação de membranas INFLAMAÇÃO o Neurônios lesados, liberam mediadores o Ca ativa enzimas o Iniciam coagulação (trombose e isquemia) Objetivos do tratamento Dano causado por LESÃO PRIMÁRIA FOGE, em geral, do CONTROLE do clínico Única forma de intervenção é a ESTABILIZAÇÃO de fraturas e remoção de hemorragias Intervenção visa EVITAR QUE A CASCATA DE DANOS SECUNDÁRIOS afete o tronco encefálico e imponha perda excessiva de tecido cerebral Não há dados clínicos retrospectivos e prospectivos suficientes acerca de TCE canino e felino, o que faz as recomendações serem feitas a partir de estudos em humanos Abordagem inicial ABC do trauma Fluidoterapia Vasopressores Oxigenação Testes rápidos (hematócrito, proteínas totais, glicemia, uréia e creatinina) Fluidoterapia Hipotensão (PAS < 120/90 mmHg) e hipovolemia são danosas TABELA DE FLUIDOTERAPIA TIPO DE FLUIDO DOSE RECOMENDAÇÃO / CUIDADO Colóide sintético 5 a 10 mL/kg 5 mL/kg/ gatos / 5 a 10 minutos Por 15 a 20 minutos e reavaliar Limitar a 40 mL/kg/hora Hidratados hipotensos Solução salina (NaCl 7,5%) 4 a 5 mL/kg Por 15 a 20 minutos e reavaliar Acompanhar com cristalóide Inotrópico e imunomodulador Cuidado hipernatremia Cristalóide isotônico (NaCl 0,9%) (menos água livre que RL) 20 a 30 mL/kg (cães) 10 a 20 mL/kg (gatos) Por 15 a 20 minutos e reavaliar Papa ou concentrado de hemácias 10 a 15 mL/kg Administrar em 4 horas Meta é normalizar perfusão e elevar hematócrito a 25-30% Avaliar se o paciente precisa de sangue total ou plasma fresco congelado (10 a 15mL/kg/ 2x dia) Em pacientes irresponsivos à fluidoterapia Fármaco Dose Recomendação Dopamina 5 a 12 µg/kg/min Vasodilatação inadequada Contratilidade reduzida Lesão cardíaca traumática Norepinefrina 1 a 10 µg/kg/min Vasodilatação inadequada Dobutamina 1 a 20 µg/kg/min Contratilidade reduzida Lesão cardíaca traumática Oxigenação Avaliar o FR e padrão o Coloração de mucosas o Auscultação o Considerar toracocentese ou dreno torácico o Gasometria: (PaO2 >90; PaCO2 = 35 a 45 mmHg) o Oximetria (SaO2 > 95%) Equipamentos de aporte o Máscara facial (temporária) o Cânula / cateter nasal (40% / 50 a 100 mL/kg/min) – canto medial, espirros, jugular o Cateter transtraqueal o Gaiolas o Ventilação (inconscientes) Alterações de padrão respiratório Cheyne-Stokes: caracterizada por períodos de hiperventilação e apneia; associada com dano em estrutura cortical profunda Hiperventilação: > 25mrm de forma regular; ocorre por lesão em ponte, mesencéfalo ou hipóxia / acidose) Respiração apnêustica: fase inspiratória prolongada, seguida de expiração e apneia; lesão em medula obloga (bulbo, porção mais caudal do tronco) e prognóstico ruim Hipoventilação alveolar central: curta, lenta e regular; medula espinhal Alteração de padrão cardíaco Reflexo de Cushing (bradicardia com hipertensão) o Autorregulação e volume máximo se esgotam o PIC sobe o Fluxo sanguíneo cai (isquemia e não remove CO2) o Aumento CO2 local afeta centros vasomotores, libera catecolaminas e aumenta PAM, numa tentativa de manter a perfusão cerebral o Barorreceptores detectam hipertensão sistêmica e iniciam bradicardia reflexa o Ex: FC pós trauma 160 e PAS 160. Trata. FC cai para 40 Avaliação secundária Deve ser feita com animal já normovolêmico e com oxigenação adequada Inclui avaliação de outros sistemas corpóreos (pulmões, órgãos abdominais e sistema musculoesquelético) – pode exigir outros exames de sangue e de imagem Antes da sedação, se possível, incluir avaliação do sistema nervoso (exame neurológico completo) – TC preferida Início da terapia específica Ênfase de exame neurológico varia TERAPIA ESPECÍFICA PARA TCE Elevação de cabeça o Cerca de 15 a 30° o Ajuda na redução da PIC por facilitar retorno venoso o Usar maca inclinada (cuidado com obstrução do fluxo jugular) Manitol (diurético osmótico) o Dose: 0,5 a 1,5 g/kg em 10 a 20 min o Cuidados: com filtro, limitar a 3 bolus a cada 24 horas, manter hidratação, manter osmolaridade em 320 mOsm/L (evitar IRA – evidências conflitantes) o Mitos: não aumenta hemorragia, não causa desvio osmótico reverso e não tem efeito sinérgico com furosemida o Mecanismos de redução da PIC: vasoconstrição reflexa por redução de viscosidade (rápida), redução na produção de LCR, varredura ROS, atração edema extravascular para espaço intravascular (15 – 30 min/2-5h) Salina hipertônica (7,5%) o Dose: 4 mL/kg em 15 a 20 minutos e sempre com cristalóide o Cuidados: hipernatremia, hipercloremia, acidose, insuficiência cardíaca congestiva, lesão renal aguda (menos comum que manitol) o Mitos: hipotensão rebote (porque Na é absorvido, diferente do manitol) o Efeitos: expansão volêmica por aumento do gradiente osmótico, aumento do débito cardíaco e pressão arterial, inotrópica positiva, imunomoduladora, melhor nos hipovolêmicos e hipotensos Anticonvulsivantes o Terapia profilática por 7 dias pós- trauma o Reduz crises imediatas (até 24 horas) e precoces (24h – 7 dias), mas não tem efeito sobre tardias (> 7 dias) o Crises em 54% dos humanos com TCE e 7% dos cães Cirurgia o Em caso de hemorragia intracraniana acessível à intervenção cirúrgica (necessita de TC para confirmar) o Reparo de fratura de crânio aberta ou deprimida o Recuperação de fragmento ósseo ou corpo estranho contaminado e alojado no parênquima o Em animais em deterioração, apesar de terapia médica rigorosa Não são indicados o Glicocorticóides: evidências experimentais limitadas do benefício de metilpredinisolona (SoluMedrol) em altas doses (bolus 30 mg/kg no momento em que o paciente é recebido e repetir em 2h e 6h), mas ensaio clínico prospectivo, randomizado e controlado mostrou taxas de óbito elevadas. Hemorragia intestinal, imunossupressão, hiperglicemiao Antioxidantes: dimetilsulfóxido, alupurinol, formulações com superóxido dismutase, antagonistas de receptores de glutamato e opióides, bloqueadores de canal de cálcio têm evidências experimentais o Há estudos de indução de hipotermia (reduz citocinas)e de uso de insulina (reduz glicemia) TERAPIA ESPECÍFICA PARA TRAUMA MEDULAR Imobilização em maca rígida o 30% das fraturas e luxações não são visíveis na radiografia Repouso ou cirurgia o Coaptação externa (tala, fibra de vidro) e repouso restrito em gaiola por 6 a 8 semanas para permitir a consolidação óssea (enfermagem!) o Cirurgia de descompressão e/ou estabilização é amplamente aceito para: plégicos ou com função motora mínima, animais que pioram apesar de manejo clínico adequado, dor incontrolável, evidência clínica ou imagem de fratura instável Manitol (diurético osmótico) o Dose: 0,5 a 1,5 g/kg em 10 a 20 min o Cuidados: com filtro, limitar a 3 bolus a cada 24 horas, manter hidratação, manter osmolaridade em 320 mOsm/L (evitar IRA – evidências conflitantes) o Mitos: não aumenta hemorragia, não causa desvio osmótico reverso e não tem efeito sinérgico com furosemida o Mecanismos de redução da PIC: vasoconstrição reflexa por redução de viscosidade (rápida), redução na produção de LCR, varredura ROS, atração edema extravascular para espaço intravascular (15 – 30 min/2-5h) Salina hipertônica (7,5%) o Dose: 4 mL/kg em 15 a 20 minutos e sempre com cristalóide o Cuidados: hipernatremia, hipercloremia, acidose, insuficiência cardíaca congestiva, lesão renal aguda (menos comum que manitol) o Mitos: hipotensão rebote (porque Na é absorvido, diferente do manitol) o Efeitos: expansão volêmica por aumento do gradiente osmótico, aumento do débito cardíaco e pressão arterial, inotrópica positiva, imunomoduladora, melhor nos hipovolêmicos e hipotensos Analgesia o Corticóides e AINE’s podem ajudar a reduzir a dor, mas não exercem proteção sobre a medula o Evidências limitadas do benefício de metilpredinisolona (Solu-Medrol) em altas doses (bolus de 30 mg/kg e infusão de 5,4 mg/kg/h por 48 horas), como antioxidante, mas risco de pneumonia e sepse (MUITO CONTROVERSO) PROGNÓSTICO TCE Reservado a ruim, mas capacidade de recuperação surpreendente Fatores a considerar: o Idade o Estado físico geral o Nível de consciência o Presença de reflexos de tronco o Presença de lesões concomitantes ESCALA DE COMA GLASGOW MODIFICADA PROGNÓSTICO TRAUMA MEDULAR Depende do tipo e gravidade da lesão primária, e eficácia e rapidez de tratamento de secundárias e lesões concomitantes Presença de dor profunda se relaciona positivamente com bom prognóstico Falta de dor profunda não significa incapacidade de recuperar função neurológica (12% de externas e 69% em hérnia) Lesões cervicais têm 36% de mortalidade cirúrgica e estão relacionadas à hipoventilação (mas, de 14 animais, 10 ventilados sobrevivem) procedimento caro Escala modificada de glasgow Atividade motora Pontuação Marcha e reflexos espinhais normais 6 Hemiparesia, tetraparesia ou descerebração 5 Decúbito, rigidez extensora intermitente 4 Decúbito, rigidez extensora constante 3 Decúbito, rigidez extensora constante com opistótono 2 Decúbito, diminuição ou ausência de reflexos espinhais, hipotonia muscular 1 Reflexos do tronco encefálico Pontuação Reflexos pupilares normais e reflexo oculocefálico (OC) normal 6 Reflexos pupilares lentos a luz com reflexo OC normal ou diminuído 5 Miose bilateral sem resposta a luz com reflexo OC normal ou diminuído 4 Pupilas ponta de alfinete com reflexo OC diminuído ou ausente 3 Midríase unilateral sem resposta à luz com reflexo OC diminuído ou ausente 2 Midríase bilateral sem resposta a luz com reflexo OC diminuído ou ausente 1 Nível de consciência Pontuação Períodos de alerta ocasional e responde ao ambiente 6 Depressão ou delírio, capaz de responder, mas talvez inapropriadamente 5 Semicomatoso, responde a estímulos visuais 4 Semicomatoso, responde a estímulos auditivos 3 Semicomatoso, responde a estímulos dolorosos 2 Comatoso, não responde a estímulos dolorosos 1 Pontuação final máximo 18 e mínimo 3 correspondente a somatória das pontuações Animais que pontuam 8 no Glasgow tem 50% de chance de sobrevivência
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