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PERSONALIZAÇÃO DO PINO DE FIBRA DE VIDRO COM RESINA COMPOSTA – PINO ANATÔMICO 384 Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, Florianópolis, v.5, n.4, p. 384-396, out./dez. 2009 Clavijo VGR, Bandeca MC, Clavijo MB, Clavijo EMA, Itikawa GN, Andrade MF. * Especialista, Mestre e Doutorando em Dentística pela FOAr-UNESP ** Especialista em Prótese pela FOB-USP *** Especializando em Endodontia pela Unicamp **** Especialista em Endodontia pela Unicamp ***** Professor Livre-docente do Departamento de Odontologia Restauradora da FOAr-UNESP Victor Grover Rene Clavijo Rua Cerqueira César, 1078, Centro, 13.330-000, Indaiatuba, SP, Brasil clavijovictor@yahoo.com.br. <www.victorclavijo.com.br> Data de recebimento: 14/08/2009 Data de aprovação: 28/08/2009 Victor Grover Rene Clavijo * Matheus Coelho Bandeca * Maurício Beltran Clavijo ** Érika Manuela Astéria Clavijo *** Guilherme Noriaki Itikawa **** Marcelo Ferrarezi de Andrade ***** Personalização do Pino de Fibra de Vidro com Resina Composta – Pino Anatômico Custom-made post and core – anatomic post RESUMO Este artigo relata a reabilitação de raízes fragilizadas com pinos anatômicos (pinos pré-fabricados de fibra de vidro asso- ciados a resina composta) e coroas de porcelana ametálicas. Apresenta um protocolo clínico para a confecção de núcleos intra- -radiculares, que proporcionam um núcleo personalizado, adap- tado e justaposto ao remanescente radicular, com propriedades mecânicas e ópticas semelhantes às da estrutura dentária. Tais núcleos apresentam-se como alternativa aos convencionais nú- cleos metálicos fundidos. PALAVRAS-CHAVE Pinos dentários. Dente não vital. Prótese parcial fixa. ABSTRACT This paper reports the rehabilitation of weakened roots using anatomic posts (custom-made prefabricated glass fiber posts associated to composite resin cores), as an alternative to conventional cast metal post-and-cores, and metal-free crowns. It describes a clinical protocol for root canal preparation to obtain well-fit, custom-made cores which present mechanical and optical properties similar to tooth structure. KEYWORDS Dental pins. Tooth nonvital. Denture, partial, fixed. 385Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, Florianópolis, v.5, n.4, p. 384-396, out./dez. 2009 PERSONALIZAÇÃO DO PINO DE FIBRA DE VIDRO COM RESINA COMPOSTA – PINO ANATÔMICO 386 Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, Florianópolis, v.5, n.4, p. 384-396, out./dez. 2009 INTRODUÇÃO A odontologia tem experimentado uma evolução singular no início deste novo século, com grande variedade de técnicas restauradoras disponíveis. Até alguns anos atrás, os núcleos metálicos fundidos eram o único caminho para a restauração de dentes endodonticamente tratados com pouco remanescente co- ronário, porém, esses núcleos apresentavam vários empecilhos em sua confecção, dentre os quais se incluem o tempo clínico, o custo e o desgaste da estrutura dentária já fragilizada. Além dis- so, devido a seu alto módulo de elasticidade, quando comparado com a dentina, eles transferiam grande parte da tensão recebida para a raiz, o que poderia ocasionar fraturas radiculares.1 Com o desenvolvimento de novos materiais, aliado à evo- lução dos sistemas adesivos, houve no mercado o lançamento de diversos tipos de pinos pré-fabricados não metálicos, que apre- sentam como vantagens: menor desgaste da estrutura dental, adesão à dentina por meio de cimentos resinosos associados a adesivos e técnica simplificada.2 Dentre os pinos pré-fabricados, destacam-se os pinos de fibra (carbono e vidro), por apresenta- rem propriedades mecânicas próximas às da estrutura dentária, especialmente, e módulo de elasticidade semelhante ao da den- tina, o que possibilita melhor distribuição da tensão ao remanes- cente dentário.2-3 A restauração de dentes com perda prévia de quantidades significantes de estrutura dentária coronal e radicular ainda é um desafio. Torna-se fundamental buscar alternativas aos sistemas de núcleos convencionais, uma vez que a substituição da dentina intra-radicular destruída por núcleos metálicos fundidos poderá gerar efeito de cunha, que poderá ocasionar fraturas radiculares extensas e condenar o dente à extração.4-5 Pinos com módulo de elasticidade próximo ao do remanescente dentário (fibra de vidro e carbono) distribuem mais eqüitativamente o estresse pela estru- tura dental,5 de forma a proteger a raiz de fraturas dentárias.6 Atualmente, estuda-se a obtenção de um sistema de nú- cleos com propriedades físicas e biológicas mais similares às da estrutura dental perdida e que possa atuar como dentina artificial. Uma das técnicas propostas para o tratamento de canais amplos é a utilização de pinos anatômicos,7-8 por meio da moldagem do conduto radicular com resina composta associada a pinos pré- -fabricados de fibra. Essa técnica, ao contrário das técnicas tra- dicionais de cimentação de pinos de vidro, amplia sua indicação e reduz drasticamente quantidades excessivas de cimento, que serviriam para substituir a estrutura dental perdida.9 Vale lembrar que o cimento resinoso tem baixa quantidade de carga inorgâni- ca e não tem propriedades físicas e mecânicas ideais em gran- de espessura, ou seja, como material de preenchimento, cabe à resina composta essa tarefa. A individualização do pino permite boa adaptação ao conduto radicular, o que possibilita a formação de uma camada fina e uniforme de cimento resinoso (algo ideal para esse tipo de material), assim, criam-se condições favoráveis para a retenção do pino.10 Diante desta exposição, este trabalho descreve a conduta clínica para confecção do pino anatômico, associado a restaurações indiretas estéticas, por meio da apre- sentação de um caso clínico. REVISÃO DA LITERATURA Em 1987,11 apresentou-se uma técnica para reforçar raízes enfraquecidas. As causas citadas para o enfraquecimento radicu- lar foram cárie, defeitos dentinários e iatrogenia. O reforço radicu- lar tornaria o remanescente capaz de suportar uma restauração. Mediante esse procedimento, acreditou-se que, com uma cama- da suficiente de resina, a raiz debilitada seria reforçada, de forma a possibilitar o suporte de um pino metálico em quase todas as situações em que ele fosse requerido. Outra vantagem atribuída à técnica foi maior retentividade, a partir da criação de um conduto mais paralelo e exato e por um procedimento simples. Em 1992,12 o mesmo autor utilizou o cimento de ionômero de vidro reforçado por partículas metálicas (Cermet), para refor- çar raízes fragilizadas, com a mesma técnica descrita por ele em 1987. Ainda em 1994, o autor citado acima13 descreveu a técnica de reforço radicular de dentes com canais radiculares debilitados com resina composta polimerizada com pinos fototransmissores (Luminex). Nesses condutos, a falta de estrutura radicular rema- nescente dificultaria a utilização de pinos intra-radiculares de ma- neira convencional. O uso de núcleos metálicos fundidos nessas situações poderia concentrar força de cunha, sobrecarregando a crítica porção coronária do conduto. Com a introdução dos mate- riais adesivos, tornou-se possível reconstruir e reabilitar a estrutura dentinária perdida com resina composta, preservando-se dentes severamente destruídos, normalmente indicados para extração. A reconstrução e o reforço de raízes debilitadas poderiam ser facil- mente conseguidos por meio de resinas compostas fotopolimeri- zadas, com auxílio de pinos plásticos fototransmissores. Em 1995,14 avaliou-se a resistência à fratura de raízes debi- litadas, preenchidas com materiais adesivos. Dentes unirradicula- res tiveram suas coroas clínicas removidas e suas raízes prepara- das para simular enfraquecimento. Dentre os materiais testados, a resina composta Z-100 obteve o melhor desempenho, inclusive em relação ao controle positivo; o Vitremer, a resina compostaXRV e o Chelon-Silver apresentaram resultados semelhantes entre si e ao controle positivo; o ionômero Ketac-bond teve comporta- mento desfavorável em relação a todos os outros e semelhante ao controle negativo. Em 1999,15 comparou-se a resistência à fratura vertical da raiz de dentes extraídos, tratados com sistemas de pinos e núcleos que foram modificados com fibras de polietileno (Rib- Clavijo VGR, Bandeca MC, Clavijo MB, Clavijo EMA, Itikawa GN, Andrade MF. 387Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, Florianópolis, v.5, n.4, p. 384-396, out./dez. 2009 bond) com dentes tratados com sistemas convencionais de pinos e núcleos. Como resultado, encontrou-se que núcleos metálicos fundidos falharam sob cargas menores. Todas as falhas no grupo com núcleo metálico fundido envolveram fratura do dente. Dentre os pinos pré-fabricados, o sistema de pino-núcleo de fibras (Rib- bond) proporcionou os valores mais baixos de resistência, mas originou menos fraturas verticais da raiz. Pequenos diâmetros de pinos pré-fabricados combinados com fibras de polietileno e nú- cleos de compósitos aumentaram a resistência a falhas. Em 2003,16 tendo em vista a existência de grande varie- dade de sistemas e pinos intra-radiculares e núcleos, realizou-se uma revisão de literatura para identificar os vários fatores que in- fluenciam a seleção deles. Por meio do MEDLINE e por busca manual, selecionaram-se os artigos científicos, também de revi- são de literatura, em língua inglesa, publicados entre 1961 e 2002. As palavras-chave utilizadas foram: pino, desenho, retenção, re- sistência à fratura, sobrevivência, estética. De acordo com essa investigação, um sistema de pino ideal deveria ter as seguintes características: 1) propriedades físicas semelhante às da dentina; 2) máxima retenção com pequena remoção de dentina; 3) dis- tribuição de tensões funcionais uniformemente ao longo da su- perfície radicular; 4) compatibilidade estética com a restauração definitiva e com o tecido circunvizinho; 5) estresse mínimo durante a colocação e cimentação; 6) resistência ao deslocamento; 7) boa retenção ao núcleo; 8) fácil retratamento; 9) compatibilidade do material com o núcleo; 10) facilidade de uso, segurança e confia- bilidade; e 11) custo razoável. Os fatores que influenciaram a seleção do pino foram: comprimento da raiz, anatomia do dente, largura da raiz, configu- ração do canal, quantidade de estrutura dentária coronal, resistên- cia à torção, estresse, desenvolvimento de pressão hidrostática, desenho do pino, material do pino, compatibilidade do material, Figura 5: Orientação do correto posicionamento do pino de fibra com guia de silicone proveniente do enceramento diagnóstico realizado previamente, no sentido vestibulolingual, para assim evitar perda da estrutura de fibra durante o preparo dentário e obter seu reforço em toda extensão incisoapical no pino personalizado. Figura 4: Observe que o espaço entre as paredes do canal e o pino é amplo, já que o pino está precariamente adaptado, e necessita de grande quantidade de cimento para preenchimento. O cimento não é o material ideal para essa tarefa, e pode ocasionar deslocamento do pino com passar dos anos. Por isso, a técnica do reembasamento com resina composta é recomendada para adaptar o pino às paredes do canal. Figura 3: Prova do pino Whitepost 3E (FGM, Brasil).Figura 2: Coroa removida. Observe a presença do núcleo metálico a ser removido. Figura 1: Radiografia inicial. Observe os tratamentos endodônticos insatisfatórios. PERSONALIZAÇÃO DO PINO DE FIBRA DE VIDRO COM RESINA COMPOSTA – PINO ANATÔMICO 388 Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, Florianópolis, v.5, n.4, p. 384-396, out./dez. 2009 capacidade de adesão, retenção do núcleo, retratamento, estéti- ca e tipo de coroa. A seleção de um pino e núcleo deveria satis- fazer os vários fatores biológicos, mecânicos e estéticos relacio- nados para restabelecer de forma satisfatória um dente tratado endodonticamente, devolvendo sua forma e função. Os autores sugerem as seguintes recomendações clínicas: 1) conservar ao máximo toda a estrutura dentária remanescente durante o preparo do espaço para receber o pino; 2) pinos fundidos convencionais e núcleos são recomendados para canais radiculares não circu- lares e para quando há perda da estrutura dentária coronária de maneira moderada e severa; 3) pinos pré-fabricados paralelos, passivos, serrilhados, com sistema de canaletas, são recomenda- dos para canais circulares pequenos; 4) pinos com característica anti-rotacional deveriam ser usados em situações com canais cir- culares; 5) oscilamento apical adequado deve ser mantido sem comprometer o comprimento do pino; 6) pode ser usado mais de um pino em dentes curtos multirradiculares; 7) pinos paralelos passivos são indicados para promover retenção adequada, mas, quando o remanescente dentinário apical for mínimo, um pino de desenho paralelo com extremidade cônica pode ser preferido; 8) as qualidades retentivas da cabeça do pino podem favorecer a retenção do núcleo; 9) o pino deveria promover compatibilidade, habilidade adesiva, rigidez adequada e compatibilidade estética com a restauração permanente; 10) retratamento no caso de fra- casso deveria ser facilitado; e 11) o sistema deveria ser de fácil uso e custo acessível. Essa revisão poderia servir como guia para auxiliar o clínico na seleção de um sistema de pino e núcleo. Pesquisas futuras são recomendadas para avaliar o sucesso clínico dos novos sistemas de pinos em dentes com grau variado de perda de estrutura. Em 2003,7 apresentou-se um caso clínico, no qual se uti- lizou um novo tipo de pino de fibra anatômico em combinação com o cimento resinoso de presa dual do próprio sistema, para ser aderido em canal radicular largo e não arredondado. O caso clínico foi descrito da seguinte maneira: paciente jovem, com conduto radicular do incisivo central superior de forma não arre- dondada, com quantidade de dentina remanescente da parede do canal desfavorável para adaptação de pino pré-fabricado. O procedimento clínico foi simples, e alcançou-se ajuste superior às paredes do canal radicular, por meio da modelagem do pino de fibra de vidro com resina composta, o que reduziu a quanti- dade de cimento desnecessária. O procedimento descrito pode ser proposto como uma técnica clínica de rotina, quando o canal radicular preparado for muito largo ou não perfeitamente arredon- dado, obtendo-se ajuste superior a muitos outros pinos de fibra pré-fabricados. Em 2004, autores17 avaliaram a resistência à fratura de raí- zes bovinas restauradas com cinco diferentes tipos de pinos intra- -radiculares. Os resultados mostraram maior valor médio para os pinos de titânio, similar ao valor do pino de carbono, quando com- parados aos pinos de fibra de vidro e zircônia, que apresentaram os menores valores. Todos os pinos avaliados apresentaram re- sistência similar à fratura, quando comparados ao núcleo metálico fundido, e, dentre os pré-fabricados, os pinos de titânio e carbono foram os mais indicados. Em 2006,8 relatou-se um caso clínico no qual se utilizou o pino de fibra e resina anatômico em combinação com o cimento resinoso de presa química. O caso clínico foi descrito da seguinte maneira: paciente jovem, com conduto radicular do incisivo central superior amplamente destruído, devido a remoção do pino metá- Figura 6: Pino 3E Whitepost (FGM). Figura 7: Aplicação de ácido fosfórico a 37%, por 60 segundos. Figura 8: Lavagem com água. Clavijo VGR, Bandeca MC, Clavijo MB, Clavijo EMA, Itikawa GN, Andrade MF. 389Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, Florianópolis, v.5, n.4, p. 384-396, out./dez. 2009 Figura 9: Aplicação de silano por um minuto. Figura 10: Aplicação de uma fina camada de adesivo. Figura 11: Fotopolimerização por 40 segundos. Figura 13: Inserção de resinaopaca no interior do conduto.Figura 12: Aplicação de glicerina bidestilada no interior do conduto. Figura 15: Fotopolimerização por 10 segundos. A translucidez do pino Whitepost é fundamental para a pré-polimerização da porção apical do reembasamento, onde isso não ocorre com pinos opacos, o que dificulta o reembasamento. Figura 14: Inserção do pino no interior do conduto. lico por necessidade de retratamento endodôntico, com quanti- dade de dentina remanescente da parede do canal desfavorável para adaptação de um pino pré-fabricado, pela excessiva quan- tidade de cimento necessária. Após o tratamento endodôntico, o canal foi preparado para receber o pino anatômico. O conduto foi lubrificado com glicerina, e resina composta mais pino de fibra de vidro foram inseridos e fotopolimerizados por 20 segundos. O pino anatômico foi então removido, fotopolimerizado por mais 60 segundos, e o procedimento de cimentação foi executa- do, semelhantemente a qualquer outro pino de fibra de vidro, com PERSONALIZAÇÃO DO PINO DE FIBRA DE VIDRO COM RESINA COMPOSTA – PINO ANATÔMICO 390 Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, Florianópolis, v.5, n.4, p. 384-396, out./dez. 2009 Figura 17: Essa etapa deve ser cuidadosa, para evitar possíveis distorções da resina composta, o que impediria a reinserção do pino. Figura 18: Fotopolimerização do pino por 120 segundos. Figura 16: Remoção cuidadosa do pino. Fig.19 - Remoção de possíveis distorções ou degraus de resina composta, esse Figura 19: Remoção de possíveis distorções ou degraus de resina composta. Esse procedimento deve ser realizado em baixa rotação e de forma suave. cimento resinoso químico. O procedimento clínico era simples, e alcançou-se ajuste superior às paredes do canal radicular, o que reduziu a quantidade de cimento desnecessária. O procedimento descrito pode ser proposto como técnica clínica de rotina, quando o canal radicular preparado for amplamente destruído, obtendo- -se ajuste superior a muitos outros pinos de fibra pré-fabricados. Ainda em 2006,18 relatou-se que a maior adaptação do pino ao canal gera também maior resistência à extrusão (deslo- camento), devido à boa imbricação mecânica entre o pino e o conduto radicular, que não depende apenas do sistema de cimen- tação adesiva. Dessa forma, o reembasamento do pino torna-se importante durante a confecção de núcleos de preenchimento com pinos de fibra de vidro pré-fabricados. Em 2008,19 relatou-se um caso clínico por meio da técnica do pino anatômico indireto de fibra de vidro, no qual se descreveu a opção para reabilitar dentes tratados endodonticamente com canais amplos ou com extensa destruição, principalmente, nos casos de raízes fragilizadas, devido ao comportamento biomecâ- nico desse material ser semelhante ao da dentina, o que minimiza fraturas radiculares irreversíveis. CASO CLÍNICO Paciente do gênero feminino, 34 anos, procurou a disci- plina de Dentística Restauradora da Faculdade de Odontologia de Araraquara, queixando-se da aparência de seu sorriso. Após anamnese e avaliação clínica, verificou-se a presença de coroas de porcelana com falhas em forma e adaptação marginal. No exa- me radiográfico, verificou-se a presença de núcleos metálicos e tratamentos endodônticos insatisfatórios (Fig.1). Como plano de tratamento, optou-se pelo retratamento endodôntico dos dentes 11, 12, 21 e 22, substituição dos núcleos metálicos fundidos por núcleos com pinos anatômicos e confec- Clavijo VGR, Bandeca MC, Clavijo MB, Clavijo EMA, Itikawa GN, Andrade MF. 391Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, Florianópolis, v.5, n.4, p. 384-396, out./dez. 2009 Figura 20: Pino reembasado finalizado. Figura 21: Aplicação de ácido fosfórico a 37%, por 60 segundos. Figura 22: Lavagem com água. Figura 23: Aplicação de uma fina camada de adesivo. PERSONALIZAÇÃO DO PINO DE FIBRA DE VIDRO COM RESINA COMPOSTA – PINO ANATÔMICO 392 Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, Florianópolis, v.5, n.4, p. 384-396, out./dez. 2009 Figura 24: Fotopolimerização por 20 segundos. Figura 25: Aplicação de ácido fosfórico a 37%, por 15 segundos. Figura 28: Aplicação de adesivo. Figura 29: Remoção do excesso de adesivo com cones de papel de absorvente. Figura 26: Lavagem com seringa de irrigação para completa remoção do ácido fosfórico na região apical do canal. Figura 27: Secagem com cones de papel absorvente. Figura 30: Fotopolimerização por 40 segundos. Figura 31: Inserção do pino reembasado com cimento AllCem (FGM). Clavijo VGR, Bandeca MC, Clavijo MB, Clavijo EMA, Itikawa GN, Andrade MF. 393Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, Florianópolis, v.5, n.4, p. 384-396, out./dez. 2009 Figura 32: Remoção dos excessos com auxílio de sonda exploradora. Figura 33: Remoção do excesso do pino de fibra de vidro. Figura 36: Sorriso final da paciente. Figura 34: Preparo concluído. Figura 35: Radiografia final. terior, colocando-se fio retrator 000 Ultrapack (Ultradent, EUA), no interior do sulco gengival, de modo a impedir a saída de fluido gengival e não comprometer a adesão dentinária, além de me- lhorar a visualização do término cervical. Logo após, procedeu-se a regularização das paredes internas do remanescente radicular com broca n°. 3, do sistema de pinos de fibra de vidro WhitePost (FGM, Brasil), para evitar retenções que impedissem a moldagem do conduto. O pino de fibra de vidro foi introduzido no conduto (Fig. 3 e 4) para avaliação radiográfica, verificação da adaptação do pino à extremidade final do preparo radicular e correta posição conferida com a guia de silicone (Fig.5). ção de coroas totais em cerâmica sem metal, pelo sistema Proce- ra Alumina (Nobel Biocare, Suécia), nos dentes 11, 12, 21 e 22. Realizou-se remoção das coroas e dos núcleos metálicos (Fig.2) e deu-se início aos retratamentos endodônticos, manten- do-se aproximadamente 5mm de material obturador no terço api- cal. Para confecção dos pinos anatômicos, dividiu-se a técnica em quatro etapas: 1. PREPARO DO CONDUTO RADICULAR E SELEÇÃO DO PINO Inicialmente, realizou-se isolamento relativo da região an- PERSONALIZAÇÃO DO PINO DE FIBRA DE VIDRO COM RESINA COMPOSTA – PINO ANATÔMICO 394 Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, Florianópolis, v.5, n.4, p. 384-396, out./dez. 2009 Figura 41: TPD Rodrigo Monsano – por Personalizados KIM. Figura 37: Naturalidade das coroas cerâmicas – TPD Rodrigo Monsano. Figura 39b: Caso final. Figura 40: TPD Rodrigo Monsano – por Personalizados KIM. Figura 38: Observe a harmonia das coroas cerâmicas com os dentes antagonistas. Figura 39a: Caso inicial. 2. RECONSTRUÇÃO INTERNA DO CANAL RADICULAR O tratamento da superfície do pino de fibra de vidro (Fig.6) foi realizado previamente, com ácido fosfórico a 37% (Fig.7), por 60 segundos, lavagem com jato de ar e água (Fig.8) por 30 se- gundos, secagem, aplicação de silano (Fig.9) por um minuto, aplicação do adesivo (Fig.10) e fotopolimerização (Fig.11) por 40 segundos. Realizou-se o isolamento do remanescente radicular com gel à base de glicerina bidestilada, com ajuda de um micropin- cel (Microbrush) (Fig.12), preencheu-se o conduto radicular com resina composta micro-híbrida de cor opaca (Fig.13) e o pino de fibra de vidro foi inserido (Fig.14). O conjunto foi fotoativado por 10 segundos (Fig.15). O pino anatômico foi removido (Fig.16 e 17) cuidado- samente, e completou-se a fotoativação por mais 40 segundos (Fig.18). Com uma ponta de diamante, a superfície de resina com- posta foi asperizada suavemente (Fig.19), para remoção de pos- síveis distorções da resina composta após a fotopolimerização, criação de um pequeno espaço pré-cimentação e para aumentar a superfície de contato. O conjunto foi reinserido, verificou-se sua adaptação, finalizando-se assim a confecção do pino anatômico (Fig.20). O tratamento da superfície do pino anatômico foirealizado com ácido fosfórico a 37% (Fig.21) por 60 segundos, lavagem Clavijo VGR, Bandeca MC, Clavijo MB, Clavijo EMA, Itikawa GN, Andrade MF. 395Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, Florianópolis, v.5, n.4, p. 384-396, out./dez. 2009 com jato de ar e água (Fig.22) por 30 segundos, secagem, aplica- ção de silano por um minuto, adesivo (Fig.23) e fotopolimerização (Fig.24) por 40 segundos. Na seqüência, realizou-se assepsia do canal radicular com clorexidina a 2% por 1min, seguida de lava- gem e secagem. 3. CIMENTAÇÃO DA RECONSTRUÇÃO INTRACANAL (CONJUNTO PINO-RESINA) Após todo procedimento de tratamento do remanescente radicular e do pino anatômico, o conduto radicular foi tratado com ácido fosfórico a 37% (Fig.25), por 15 segundos, seguiu-se lava- gem com água (Fig.26) e secagem com cones de papel absorvente (Fig.27). Então, aplicou-se o primer com micropincel, leve jato de ar, para remoção dos excessos, e esperou-se 20 segundos para a aplicação de adesivo com micropincel (Fig.28), removeram-se excessos com cone de papel absorvente (Fig.29), aplicou-se jato de ar para evaporação do solvente e fotopolimerização (Fig.30) por 40 segundos. O cimento resinoso Allcem (FGM) de presa dual foi inserido no interior do conduto radicular, com auxílio de pontas automisturadoras que facilitam a cimentação. O pino foi inserido (Fig.31) em seguida no conduto radicular. Os excessos foram re- movidos com micropincel e sonda exploradora (Fig.32) e fez-se fotopolimerização por 60 segundos. 4. RECONSTRUÇÃO DA PARTE CORONÁRIA A confecção da porção coronária do pino anatômico ini- ciou-se de acordo com o protocolo: ácido fosfórico a 37% por 60 segundos, lavagem com jato de água, secagem, aplicação do adesivo e fotopolimerização por 40 segundos. A seguir, modelou-se a porção coronária do pino anatômico com resina composta opaca, seguindo-se os princípios geométri- cos de forma de resistência e retenção para preparos periféricos totais em dentes anteriores sem metal. Removeu-se o excesso do pino (Fig.33) com ponta diamantada em alta velocidade e, após o término do núcleo, realizou-se refinamento do preparo com ponta diamantada 3098 MF (KG Sorensen, Brasil), executando-se um término em ombro arredondado, para confecção da restauração indireta em cerâmica sem metal. Para o acabamento do término cervical, foi utilizado o instrumento manual MA2 (Safident, EUA) e discos FlexiDisc (Cosmedent, EUA). Finalizados os preparos (Fig. 34), iniciaram-se os proce- dimentos de moldagem. Utilizou-se silicone de adição FlexTime (Heraeus-Kulzer, Alemanha) e fez-se afastamento gengival pela técnica do fio duplo. As restaurações indiretas foram confecciona- das pelo Sistema Procera Alumina (Nobel Biocare) e cimentadas conforme o protocolo do fabricante. (Fig. 35-41) DISCUSSÃO A reconstrução de dentes despolpados com amplas per- das coronárias, por meio de pinos anatômicos, constitui uma ten- dência clínica atual. Alguns autores7-8 relataram a técnica de con- fecção do pino anatômico, enfatizando que essa técnica consiste em procedimento simples, seguro e que permite sua confecção em sessão única. Ainda, esse tipo de pino é indicado principalmente para canais amplos, elípticos ou fragilizados iatrogenicamente, uma vez que favorecem a justaposição do pino em relação às paredes do canal radicular, o que aumenta a retenção mecânica e reduz o volume de cimento resinoso, e isso conseqüentemente contribui significativamente para diminuir o estresse na interface adesiva durante a contração de polimerização. Acredita-se que o sistema de restauração em monobloco, isto é, único complexo biomecânico, por meio da adesão entre es- truturas heterogêneas (remanescente dentário, agente cimentan- te, pino e material de preenchimento) e pelo emprego de materiais com propriedades físicas semelhantes às da dentina, poderia al- cançar possível reforço da estrutura dentária remanescente.20 Se- gundo o autor,5 em 2001, e outro,21 em 2007, a utilização de pinos com materiais com módulos de elasticidade semelhantes ao da dentina gera menor transferência de estresse para estruturas radi- culares, evitando fraturas dentárias e permitindo um prognóstico mais favorável com o passar dos anos. A adesão entre pinos de fibra pré-fabricados, agentes ade- sivos, cimento resinoso e resina composta pode ser verificada em estudo realizado por autores22 que, após seis anos de avaliação clínica e radiográfica, observaram apenas 3,2% de falhas com uso de pinos pré-fabricados de fibra de quartzo e carbono cimenta- dos por técnica adesiva. Essa possível união química com forte integração adesiva desses componentes ao dente reforça a indi- cação de confecção de pinos anatômicos para raízes com canais amplos. Já os núcleos metálicos fundidos têm módulo de elasti- cidade muito superior ao da dentina, o que causa dissipação de forças acentuada e provoca efeito de cunha que, ao passar dos anos, poderá levar o remanescente radicular a uma fratura, sem possibilidade de nova reconstrução do elemento radicular. Em 2007,21 realizou-se um estudo em que se comparou a resistência à fratura de raízes fragilizadas com diferentes técnicas de pinos intra-radiculares e se avaliou essa resistência, por meio de teste de compressão. Os resultados mostraram que não houve diferença estatística entre os grupos dos núcleos metálicos fun- didos e pinos anatômicos diretos de resina composta e fibra de vidro. Entretanto, as fraturas ocorridas nos núcleos metálicos fo- ram 100% de prognóstico desfavorável, enquanto as fraturas nos pinos anatômicos foram 100% favoráveis para reabilitação da raiz pós-fratura. A confecção do núcleo de preenchimento com resina PERSONALIZAÇÃO DO PINO DE FIBRA DE VIDRO COM RESINA COMPOSTA – PINO ANATÔMICO 396 Clínica - International Journal of Brazilian Dentistry, Florianópolis, v.5, n.4, p. 384-396, out./dez. 2009 composta e a realização das restaurações indiretas em cerâmi- ca foi a alternativa para resolução clínica de forma a preservar estrutura dental, devolver a função e obter estética aliada a um prognóstico favorável, além de evitar a extração precoce dessas raízes fragilizadas. Diante da grande tendência de se promover restaura- ções estéticas sem metal, somando-se às perspectivas ofereci- das pela integração de técnicas adesivas,22 os pinos anatômicos tendem a conquistar grande espaço na clínica diária, uma vez que vêm despertando grande interesse por parte dos profissionais. CONCLUSÃO A utilização de pinos anatômicos para canais amplos constitui técnica racional, uma vez que apresenta praticidade de uso, utiliza materiais com módulo de elasticidade próximo ao da dentina e apresenta estética favorável, associada a restaurações indiretas sem metal. Entretanto, trata-se de nova técnica que re- quer mais informações laboratoriais, bem como resultados clíni- cos longitudinais. AGRADECIMENTO Ao técnico em prótese dental agradecemos a dedicação e paixão na confecção das coroas cerâmicas deste caso clínico. REFERÊNCIAS Assif D, Gorfil C. Biomechanical considerations in restoring endondontically treated teeth. J Prosthet Dent. 1994 Jun;71(6):565-7. Quintas AF, Dinato JC, Bottino MA. Aesthetic posts and cores for metal-free restoration of endodontically treated teeth. Pract Periodontics Aesthet Dent. 2000 Nov-Dec;12(9): 875-84; quiz 886. Ferrari M, Vichi A, Garcia-Godoy F. Clinical evaluation of fiber-reinforced epoxy resin posts and cast post and core. 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