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DD101 Resolução Transformação de Conflitos no Âmbito Familiar

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DD101 – RESOLUÇÃO/TRANSFORMAÇÃO DE CONFLITOS NO ÂMBITO FAMILIAR
CASO PRÁTICO
ALUNO: Fernando Rabelo Andrade
1 - Indique a sua formação profissional prévia ao estudo do Mestrado em Resolução de Conflitos e Mediação. Em seguida, faça uma descrição da situação que Carolina está passando, a partir das teorias e das noções de seu campo profissional de estudos (por exemplo, se você é psicólogo, pode basear-se na Teoria dos sistemas; se você é advogado, pode basear-se em alguma lei de seu país, etc). Se a sua formação anterior não é na área de Ciências Sociais ou Humanas, reflita sobre as lacunas que você enfrentaria para entender essa situação se não tivesse realizando o Mestrado.
Sou advogado recém-formado e recém-aprovado no Exame da Ordem.
Carolina é vítima de toda sorte de ilegalidades e negligências promovidas pelos pais, quer sejam eles socioafetivos (como Felipe) quer sejam eles biológicos (como Mariana, que, em tese, está se eximindo de sua responsabilidade de mãe; ou como o próprio José, que até então não se desincumbiu de seu papel como pai biológico).
É incontestável que toda pessoa, inclusive Carolina, possua o direito pleno de filiação, o direito de personalidade e os direitos abarcados pelo princípio da dignidade da pessoa humana. Com o advento da Constituição Federal (CF) de 1988, uma das mais avançadas do mundo em matéria de relações familiares, resgatou-se o ser humano como sujeito de direito, garantindo-lhe de maneira mais ampla os direitos acima elencados, principalmente o da dignidade da pessoa humana. 
Mediante as mutações do corpo social e da evolução da própria família a ótica central para a instituição do matrimônio e dos conflitos familiares dele inerentes migrou da patrimonialidade para a afetividade. Não que as questões patrimoniais deixaram de existir ou de permear o Direito de Família, contudo, a afetividade passa a ganhar papel de destaque, pois são as relações de afeto que constituem a família atual.
Na Constituição Federal de 1988 uma rede complexa e interligada de princípios constitucionais, como os da solidariedade familiar, o da afetividade e o da dignidade da pessoa humana ratificam a ideia de que existe uma família constitucionalizada, onde os fatos denominadores são as relações de afeto, de solidariedade, de igualdade em dignidade, de cooperação e amor ao próximo. No plano jurídico esses princípios são dotados de força normativa, impondo deveres e consequências pelo seu descumprimento.
Partindo desse pressuposto, voltamos ao descaso dos pais de Carolina para apontar, conforme o Direito, os deveres e consequências desses atores na vida da menor:
A – Quanto à Mariana (mãe biológica), sua conduta extremamente irresponsável de deixar a filha de 4 anos na porta do centro de desenvolvimento infantil que frequenta, com apenas um bilhete com os dados do pai biológico, afronta diversos dispositivos legais. Dentre eles: o abandono de incapaz, crime próprio de perigo concreto[footnoteRef:1] que consta do Código Penal brasileiro, conforme artigo 133[footnoteRef:2], e pode resultar em pena de seis meses a três anos de prisão pelo simples fato de realizar o abandono, e pena de quatro a doze anos de prisão no caso em que o abandono resulte em morte da criança. [1: Crime próprio de perigo concreto: porque só o ato de abandonar não se consuma o crime, é preciso que o abandono traga perigo de vida ou da saúde da vítima. Tem que se provar que o indivíduo estava em situação de risco, atual e iminente. In casu, estar à frente de um centro de desenvolvimento infantil, coloca a criança em estado de vulnerabilidade de toda sorte, inclusive de ser aliciada e conduzida para fora dali.] [2: Art. 133 do Código Penal. Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena - detenção, de seis meses a três anos. ... § 2º Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos.] 
O abandono é o distanciamento do agente (mãe) de maneira que ele perde controle sobre o que pode acontecer com aquele incapaz. Quando seria seu dever, enquanto na posse do poder familiar, de zelar pelo bem-estar da menor, por sua integridade e segurança. Juntamente com Felipe, pai socioafetivo, tem o dever legal de prestar assistência à filha, desde bens materiais ao afeto, para que não lhe falte o suprimento necessário para o seu desenvolvimento.
 Ressalte-se que o poder familiar é instituído no interesse dos filhos e da família, não em proveito dos pais, especialmente, em atenção ao princípio constitucional da paternidade responsável, estabelecido no artigo 226, § 7º, da CF[footnoteRef:3]. Sendo, portanto, considerado um dever conjunto dos pais, implicando, assim, Mariana e Felipe. [3: Art. 226, § 7º da CF/88- Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.] 
O poder parental (familiar) faz parte do estado das pessoas e por isso não pode ser alienado nem renunciado, delegado ou substabelecido. Qualquer convenção, em que o pai ou a mãe abdiquem desse poder, será nula.
É, por conseguinte, irrenunciável, incompatível com a transação, e indelegável, não podendo Mariana e Felipe renuncia-lo, nem transferi-lo a outrem, ainda que se tratasse do pai biológico (José), já que o poder familiar é múnus público, pois é o Estado que fixa as normas para o seu exercício. É, ainda, imprescritível, no sentido de que dele o genitor não decai pelo fato de não exercita-lo, somente podendo perdê-lo na forma e nos casos expressos em lei, o que não se enquadra no caso concreto. 
O artigo 1630 do Código Civil (CC)[footnoteRef:4] preceitua que “os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores”. [4: Art. 1.630 do Código Civil. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores. Sujeitos ao poder familiar são os filhos menores e incapazes. Estão excluídos os menores de 18 anos emancipados e os maiores de 18 anos, mesmo que incapazes para os atos da vida civil.] 
Já a CF, em seu artigo 226, § 5º[footnoteRef:5], ao dispor que “os direitos e deveres referente à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”, além de deixar evidente não mais haver subordinação feminina ao homem, coaduna com o expresso no artigo 1631, do CC[footnoteRef:6], sobre a igualdade completa no tocante à titularidade e exercício do poder familiar pelos cônjuges ou companheiros. Significa dizer que, ainda que Mariana, intempestivamente, tenha tomado tal atitude, dela não poderia consentir Felipe. [5: Art. 226 da CF/88. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.] [6:  Art. 1.631 do Código Civil. Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles, o outro o exercerá com exclusividade. Parágrafo único - Divergindo os pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo.] 
Mariana insultou frontalmente todos os dispositivos legais acima elencados, desconsiderando totalmente o que preceitua o Estatuto da Criança e do Adolescente ECA (Lei nº 8.069 de 1990 – lei especial que preenche as lacunas deixadas pelo Código Civil), ao cercear de Carolina seu direito à convivência familiar. Infringiu lhe o rompimento do vínculo familiar, que tem, por sua vez, sua essência no afeto. A menor, durante seus quatro anos de vida, conviveu com sua mãe biológica e seu pai socioafetivo, e foi nesse ambiente que o afeto se desenvolveu. Desconhecia por completo a existência do pai biológico, com quem, até então, não conviveu e, por conseguinte, não nutre tal sentimento.
O estancamento na da construção do vínculo parental comprometeseu desenvolvimento emocional, social e cognitivo, pois a segurança que a presença do pai e da mãe traz não existe mais, dando aso à sensação de abandono e desapego.
B – Quanto ao Felipe (pai socioafetivo), apesar de não ter praticado a conduta, dela foi conivente, pois nada fez quando tomou conhecimento. Em assim sendo, infringiu os mesmos dispositivos legais que Mariana. Até porque detinha, juntamente com aquela, o poder familiar e as responsabilidades dele inerentes.
Entre Felipe e Carolina não há qualquer vínculo biológico, mas tão somente o vínculo afetivo. No direito de família, a afetividade é apontada como fundamento para toda discussão que compreenda o vínculo familiar e é empregada para a formação do novo direito de família como extensão do princípio da dignidade da pessoa humana (Souza; Waquim, 2015).
Independentemente de sua origem biológica, eles constituíram uma relação de paternidade (e filiação) socioafetiva, que se funda no conceito de “posse de estado de filho”, construída na convivência familiar, que integrou a menor naquele grupo social (parentalidade socioafetiva). Como filha é titular do estado de filiação e, esse estado é presumido em relação ao pai registral, in casu, Felipe, porquanto, a ele está conferido “a posse do estado de filho”[footnoteRef:7]. O direito à convivência familiar, e não a origem genética constitui prioridade absoluta da criança (art. 227, caput, da CF[footnoteRef:8]). [7: Enunciado nº 256 da III Jornada de Direito Civil. A posse do estado de filho (parentalidade socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil.] [8: Art. 227, da CF/88. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.] 
Paternidade socioafetiva para Gonçalves (2019) é:
o vínculo que une pai e filho por meio do afeto. É um direito-dever que se elabora na relação entre ambos e que assume o encargo de cumprir com os direitos fundamentais para a formação do indivíduo denominado como filho. Quem assume esse direito-dever é chamado de pai (ou mãe), mesmo que não seja o genitor.
Segundo Paulo Luiz Netto Lobo (2004), “a posse de estado de filiação constitui-se quando alguém assume o papel de filho em face daquele ou daqueles que assumem os papéis ou lugares de pai ou mãe ou de pais, tendo ou não entre si vínculos biológicos”.
 Acrescentando, ainda, que a posse de estado de filho é a exteriorização da convivência familiar e dos vínculos afetivos.
Por sua vez, Zeno Veloso (1997) conceitua a posse de estado de filho como sendo aquela que resulta de vários fatos, os quais, em conjunto, constituem fortes indícios da existência de uma relação de filiação, entre uma pessoa e aquela à qual está sendo atribuído o estado de filho.
Por fim, para conceituar o instituto da posse de estado de filho, cabe transcrever o ensinamento de Orlando Gomes (1999), que citando Planiol, Ripert e Rouast, esclarece que possuir um estado “é ter de fato título correspondente, desfrutar as vantagens a ele ligadas e suportar seus encargos”.
Já a posse de estado de filho, define Orlando Gomes como sendo “um conjunto de circunstâncias capazes de exteriorizar a condição de filho legítimo do casal que o cria e educa”.
Portanto, toda vez que um estado de filiação estiver constituído na convivência familiar duradoura, com a decorrente paternidade socioafetiva consolidada através do ato registral (livre autonomia de vontade), esta não poderá ser impugnada nem contraditada. Isso, pelo simples fato de a filiação ser provada pela certidão do termo de nascimento registrada no Registro Civil, conforme artigo 1.603, do CC[footnoteRef:9]. Ou seja, o registro de nascimento tem função declaratória e constitutiva; o estado de filho depende, contudo, desse registro, não bastando a presença de vínculos genéticos ou socioafetivos. [9: Art. 1.603 do CC. A filiação prova-se pela certidão do termo de nascimento registrada no Registro Civil.] 
Daí podermos afirmar: uma vez que Felipe reconheceu legalmente Carolina, quer na sua forma de adoção à brasileira[footnoteRef:10] ou através da filiação eudemonista[footnoteRef:11], o fez através de um ato jurídico unilateral, voluntário, formal, personalíssimo, irretratável e incondicional, estabelecendo-se juridicamente para com ela o parentesco. Por mais que seu casamento tenha se dissolvido, foi-se sua relação conjugal com Mariana, mas permaneceu sua relação parental com Carolina. Para Felipe, sua filha é, ou ao menos deveria ser um compromisso parental eterno, não podendo tal compromisso se extinguir com a ruptura da relação conjugal. Nesse diapasão, por ter assumido a paternidade socioafetiva e constituído o estado de filiação e deles não se desincumbindo, dever-lhe-ia ser imposta, pelo descumprimento do compromisso paternal, sua responsabilidade civil. [10: Adoção à brasileira: prática consistente em registrar filho biológico de outrem como próprio, descabendo, em tese, a ulterior pretensão anulatória do registro de nascimento.] [11: Filiação eudemonista: reconhecimento voluntário e judicial da paternidade e da maternidade. Alguém que comparece no Ofício de Registro Civil, de forma livre e espontânea, solicitando o registro de alguém como seu filho, não necessitando de qualquer comprovação genética.] 
C – Quanto ao José Casallas (pai biológico), fruto da pós-modernidade, momento histórico em que os freios institucionais desapareceram para dar lugar à manifestação dos desejos subjetivos e da realização individual, não encontrou limite na instituição do matrimônio para frear o ímpeto da traição. 
Mais, ainda que estejamos falando de uma relação sexual ocasional e voluntária, da qual resultou a concepção de Carolina, também não encontrou freio na instituição da paternidade para conduzi-lo a arcar com as consequências do seu ato. Àquela época, até mesmo pelo estado quo seu e de sua amante (ambos casados), dever-se-ia, no mínimo, assumir responsabilidades registral e de caráter econômico, compartilhando, assim, com Mariana o ônus da assistência material à menor, com fulcro no princípio constitucional da isonomia entre sexos.
Essa ausência de comprometimento e de responsabilidade para com a filha configurou-se no primeiro abandono sofrido por aquela.
Na Teoria da Constelação Familiar de Bert Hellinger (2006), aplicada no Direito Sistêmico[footnoteRef:12], quando se trata da relação entre dois sistemas familiares, o segundo sistema, quando da concepção de um filho, tem precedência sobre o primeiro. Para o autor um sistema familiar recomeça unicamente quando a relação dá origem a um filho. Enquanto não existe um filho, não existe um sistema familiar. [12: Direito Sistêmico: foi criado pelo Juiz de Direito do Tribunal de Justiça da Bahia, Sami Storch, pioneiro mundial na utilização da Constelação Familiar no Judiciário como meio alternativo para a solução de conflitos. Constitui-se, basicamente, em aplicar as leis sistêmicas das Constelações Familiares de Bert Hellinger no Direito.] 
Parafraseando com a Teoria do autor: José, apesar de sua relação conjugal com Diana, pelo fato de não terem um filho, ainda não possuía para com ela um sistema familiar. Ao conceber com Mariana a filha Carolina, formou-se com esta, um segundo sistema que deverá preceder ao primeiro.
O autor não considera a possibilidade de o cônjuge infiel manter os dois sistemas. Ele precisa se decidir por um deles. A questão é: desde a perspectiva sistêmica, qual é a decisão correta?
Pela lei de precedência, afirma Hellinger, quando Mariana teve sua filha fora do casamento, ela deveria abandonar a primeira família e ir para junto do novo parceiro. Se preferir ficar com o marido, como o fez, o lugar mais seguro para a filha adulterina seria junto do pai natural. Obviamenteque a lei de precedência do novo sistema sobre o antigo também se aplica a José. Também nesse caso, o indicado seria abandonar Diana e passar a viver com a mãe da filha adulterina.
E Hellinger acrescenta: “em situações como essa, os primeiros parceiros e filhos pagam um preço muito alto, mas a experiência mostra que quaisquer outras soluções resultam em profundo sofrimento para todos os envolvidos”.
De toda sorte, o gesto transloucado de Mariana, ao abandonar sua filha – que sofre o segundo abandono - na frente do centro de desenvolvimento infantil, parece ter despertado em José seus instintos paternais. Hoje busca pelo reconhecimento tardio de sua paternidade biológica não vivenciada em substituição a uma paternidade socioafetiva registral e de vivência estável.
Aqui, caberia um corte para fazermos uso do ditado popular “antes tarde do que nunca” e sua pertinência. A pergunta é: qual o tamanho do impacto dessa decisão na vida de todos os envolvidos, principalmente na vida de Carolina? Quais os efeitos que essa sequência de abandono e amparo causa no desenvolvimento da pessoa humana e de sua dignidade?
Sabemos que tal decisão encontrou óbice, de pronto, em Diana. 
Também é de conhecimento de todos que a criança foi amparada por Felipe, que movido pela empatia e solidariedade a reconheceu socioafetivamente na esfera familiar, registrando-a e mantendo com a mesma uma relação de paternidade (e filiação) socioafetiva. Essa relação retira de José seus direitos de pai?
A princípio havemos todos de entender que a paternidade socioafetiva não é uma espécie acrescida, excepcional ou supletiva da paternidade biológica. Aquela que deveria ter sido vivida por José e sua filha, ao contrário, implica na desconstrução dos direitos da paternidade biológica. A existência de uma significa a inexistência da outra. Esse foi o terreno encontrado por Felipe.
A paternidade de Felipe é múnus assumido voluntariamente, no interesse da formação integral de Carolina, consolidada na convivência familiar duradoura e afetiva.
Como desfazer tudo isso e ainda atender ao melhor interesse da criança?
Mais uma vez o Judiciário se apresenta como salvador da ineficiência omissiva legislativa, suprindo-lhe as lacunas. Através de decisum da Suprema Corte, de relatoria do Excelentíssimo Ministro Luiz Fux (Tese estabelecida na repercussão geral 622, do Supremo Tribunal Federal – STF), decidiu-se que a paternidade socioafetiva não exime a responsabilidade do pai biológico; reconheceu, juridicamente, a paternidade socioafetiva e a equiparou à biológica, apontando, assim, para uma nova tendência acerca dos efeitos da multiparentalidade[footnoteRef:13]. [13: Multiparentalidade: possibilidade de figurarem dois ou mais pais em conjunto em um único assento. Apresenta-se como possibilidade de inclusão da maternidade ou paternidade socioafetiva, sem descartar os vínculos biológicos existentes.] 
Na tese aprovada, estabeleceu-se que: “a paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios”. É explícita em afirmar a não prevalência das paternidades biológica e afetiva, sendo plenamente possível cumular as duas, permitindo a existência jurídica de dois pais. Ela permite destacar três aspectos principais: reconhecimento jurídico da afetividade; vínculo socioafetivo e biológico em igual grau de hierarquia jurídica e; acolhimento expresso da possibilidade jurídica da pluriparentalidade.
Essa é a saída para José. É a oportunidade de exercer o direito fundamental de convivência com a filha e de criar, com a mesma, laços afetivos.
D – Quanto a Diana (esposa e vítima da traição de José), ainda está presa ao fato da traição, não conseguindo dissocia-lo do fato da concepção de Carolina. Está refém da situação, na medida em que não lhe é lunar que a criança não foi a causa da traição, mas tão somente uma de suas consequências e que, tanto a traição como a filha são fatos distintos que não deixarão de existir.
É preciso legitimar seus sentimentos, contudo, sem permitir que ele descambe para a leviandade, sob pena de infligir à Carolina, como membro posterior daquele sistema familiar, uma culpa que não lhe pertence. A falta foi cometida pelo marido, então que sua indignidade recaia sobre o mesmo e não sobre a criança. Pensar diferente é retroagir no tempo, quando a desonra recaía sobre o filho do ato adulterino.
Diana é detentora de sua autonomia, a qual lhe confere status de um indivíduo aberto às escolhas. Escolhas que vão desde colocar um fim na relação (aplacando suas angústias), ou manter a relação conjugal transformando-a em parental. Para tanto, mister, que tenha autoconhecimento para identificar condições psicológicas para conduzir o relacionamento, a convivência entre o casal e entre este e a criança. O ambiente precisa ser saudável para todos, afinal são desafios e responsabilidades decorrentes de uma paternidade biológica e maternidade socioafetiva inesperadas.
Suas escolhas vão desde a adoção de comportamentos e atitudes mais flexíveis, permeados pela tolerância, fraternidade, empatia e com aversão a qualquer forma de exclusão ou, em virtude do individualismo exacerbado, adotar posturas rígidas, radicais, de exclusão, movidas pelo egoísmo, buscando-se o prazer a todo custo (in casu, o prazer da vingança pela traição do marido lhe cerceando, ou assim querendo faze-lo, do direito de conviver com a filha e de exercer a paternidade não vivida).
A realização da sua vingança exclui a realização paternal do outro, tornando o conflito negativo. Estagnando a relação conjugal ao momento da infidelidade do marido. Não dissociando a relação conjugal que mantem com ele da relação parental que ele, e porque não dizer ela, poderia ter. Ao contrário, esta fazendo uso de uma para impedir a existência da outra, como se isso fosse possível.
Esse é o seu grande dilema, o cerne da questão reside na conciliação das suas escolhas e possibilidades individuais com o futuro em comum com José e Carolina. Separar-se e ficar sem José, ou manter-se casada e acolher Carolina naquele ambiente familiar, como fez Felipe.
De outro norte, para o Direito, conforme artigo 1.611, do Código Civil[footnoteRef:14], enquanto não houver o consentimento de Diana, José não poderá levar Carolina para residir no lar conjugal. Tal dispositivo legal, apesar de estar permeado de inconstitucionalidades, ainda vigora no nosso ordenamento jurídico. [14: Artigo 1.611, do CC. O filho havido fora do casamento, reconhecido por um dos cônjuges, não poderá residir no lar conjugal sem o consentimento do outro.] 
Contudo e, sobretudo, com o advento da Resolução nº 125/2010, do Conselho Nacional de Justiça, em seu artigo 1º e § Único[footnoteRef:15], que promove e incentiva a autocomposição dos litígios, permitindo ao Judiciário adotar um sistema menos adversarial (perdedor/vencedor), onde o Juiz julgava tão somente o processo e não a resolução íntima do casal foi e é de grande importância para o Direito de Família tal marco, pois permitiu o início de uma transformação cultural – da cultura da sentença para a cultura da paz. [15: Artigo 1º da Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça. Fica instituída a Política Judiciária Nacional de Tratamento Adequado dos Conflitos de Interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade. § Único. Aos órgãos judiciários incumbe, nos termos do art. 334, do Código de Processo Civil de 2015, combinado com o art. 27 da Lei 13.140, de 26 de junho de 2015 (Lei de Mediação), antes da solução adjudicada mediante sentença, oferecer outros mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os chamados meios consensuais, como a mediação e a conciliação, bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão. ] 
Assim, mesmo diante de todas as argumentações legais acima esposadas, que deverão ser utilizadas em ultima ratio, para a complexidade das relações constantesno caso concreto, faz-se necessário o uso da mediação, ainda que em sede de Justiça, pois se tem na mediação familiar o objetivo de assegurar a dignidade da pessoa humana, consagrar o melhor interesse da criança e valorizar a família como sinônima de bem-estar social.
A aplicação da letra fria da Lei por vezes se mostra imperfeita, já que não atende, de maneira satisfatória, as reais necessidades das pessoas envolvidas. Pode até estancar o problema, mas, com certeza, não resolverá o conflito. Isso porque ele está permeado de sentimentos ambíguos de amor e ódio, aliança e competição, amparo e desamparos, decepção, ansiedade, mágoa etc. Logo, para uma solução eficaz é importante a observação dos aspectos emocionais e afetivos.
2 – Suponha que você trabalhe como mediador neste escritório de conciliação, a qual José e Diana recorrem. Escreva uma pequena intervenção direcionada a eles, parafraseando o caso, inserindo o desconforto exposto, mas com uma conotação positiva, e recodificando-o de uma forma esperançosa.
Obrigado por confiarem em nós para ajuda-los a compreender o conflito vivido. 
Somos privilegiados porque estamos diante de um casal, que munidos pela dinâmica do amor, da afetividade e da maturidade estão conseguindo manter, responsavelmente, a relação conjugal. Parabéns aos dois.
Mais uma vez, folgamos em informa-los que tudo que aqui for dito é confidencial e sigiloso. Somente aqui poderá ser usado e terá sua utilidade, permitindo assim que se sintam à vontade para externar seus anseios e tudo o mais que os aflige.
 Este é um espaço neutro, desprovido de preconceitos, exclusão e de julgamentos, contudo e, sobretudo, de respeito, voltado para o exercício de uma conversa franca e clara. Do falar com respeito e do ouvir com empatia.
Só o fato dos senhores estarem aqui, de forma voluntária, é prova inconteste que estão dispostos a se entenderem e se compreenderem, quiçá entabularem um acordo. Nos mostra que não sucumbiram às pressões mais destrutivas do impasse conflitivo, ao imediatismo e à falta de tolerância, comportamentos contrários àqueles que buscam um vínculo de convivência duradouro. Que bom que ambos estão encontrando no outro segurança para lidar com as adversidades da vida e do convívio diário, pois tudo isso é um grande exercício. Significa que as decisões até então tomadas pelo casal ocorreu através de um processo reflexivo e as escolhas se deram de comum acordo. Nossa esperança é que consigamos em conjunto manter esse compromisso. 
Com base no histórico e nas histórias relatadas de cada um, queremos convida-los a refletirem conosco sobre o conceito de lar, empregando-lhe uma visão mais ampla, com um olhar na sua essência. Como naquela sensação de lar sentida no aconchego da figura do outro, na paz e felicidade vivida na companhia dos seus, no porto seguro que o relacionamento proporciona, no refúgio e tranquilidade do convívio com a família e na proteção dos sentimentos. 
Partindo desse pensamento, quantos lares vocês acham que podemos perder, e quantos podemos (re) encontrar?
Sabido que vocês, Diana e José, em algum dado momento, perderam o seu lar, ou a sensação de lar.
Diana o perdeu no conforto da segurança da fidelidade prometida pelo marido. Porém, no balsamo do perdão conseguiu reencontra-lo, estabilizando o relacionamento. 
José perdeu essa sensação de lar quando negligenciou e sabotou sua relação de paternidade não exercida e nem vivida com sua filha, conquanto, a reencontrou na possibilidade de assumir essa relação, ainda que tardia, amparando Carolina, já que a mãe biológica a abandonou.
Por sua vez, Carolina, com apenas 4 anos, perdeu, por duas vezes, o seu lar: uma quando abandonada pelo pai biológico, encontrando proteção e acolhimento em Felipe (pai sócioafetivo); e agora, quando abandonada pela mãe biológica. Restando, com isso, sem a segurança e proteção de um lar.
O que significa a perda de mais um lar para cada um de vocês?
Qualquer decisão a ser tomada implicará em mudanças, na medida em que a vida do casal não será mais a mesma. Carolina é um fato e como tal não deixará de existir. A depender do que decidirem, o impacto dessas mudanças pode ser positivo ou negativo. E são vocês os responsáveis pelo resultado alcançado.
Então, convido a você Diana e a você José a se desapegarem de si mesmos e de suas posições, e tentar enxergar no outro suas verdadeiras necessidades, extirpando da relação o que de fato está comprometendo a harmonia do casal. 
A forma como aprenderam a lidar com suas diferenças no passado, quando da infidelidade de José, transformando o conflito positivamente, se redescobrindo e revitalizando o relacionamento é o ingrediente que propiciará a continuidade ou não da relação. Mesmo porque, o que mudou na relação conjugal desde a reconciliação?
Importante esclarecermos que todos os sentimentos são legítimos: o desconforto de Diana; o desejo de paternidade de José, que à bem da verdade é um direito/dever; e o direito de convivência familiar e da parentalidade de Carolina. 
Assim sendo, como se imaginam acaso não cheguem a um consenso? 
3 – O modelo de mediação pertinente para esse caso é orientado à mediação dirigida ao acordo, à mediação familiar terapêutica ou à mediação transformativa? Justifique sua resposta.
À mediação transformativa.
Apesar de que, em nada inviabilizaria o uso da mediação familiar terapêutica. Podendo o mediador inclusive fazer uso dos dois modelos, pois o uso de um não necessariamente exclui o uso do outro. Ainda que na sua origem os modelos busquem diferenciar-se, na prática, tendem a evoluir de modo integrador.
Mesmo porque ambos os modelos objetivam a transformação dos envolvidos em relação à valorização e ao reconhecimento recíproco, tendo, portanto, como enfoque, as relações e o potencial transformativo da crise e do conflito. 
O modelo da Escola Transformativa de Bush & Folger (1994), está centrado nas relações. Incorpora os novos paradigmas da ciência no que tange à causalidade, que sustenta como circular. O trabalho do mediador consiste em obter, fundamentalmente, o empowerment e o reconhecimento recíprocos entre os envolvidos e tem como meta modificar as relações, ou seja, ainda que não se consiga um acordo, mas se as relações forem transformadas no sentido da valorização mútua, a mediação é tida como exitosa (Suares, 1996, como em FUNIBER, 2020, pp 74-78).
Já o modelo terapêutico tem o objetivo de identificar e resolver questões emocionais, bem como desenvolver um acordo equilibrado que compreenda as necessidades do casal e da criança (Beck & Sales, 2001, citando Shwebel, 1993). Assim, para este modelo o mediador deve adotar um papel ativo e diretivo, servindo muitas vezes como educador sobre as necessidades das crianças. Para os autores, neste modelo, a condução de todo o processo de mediação deverá ser realizada apenas por um mediador, excluindo-se, ainda, a possibilidade de apoio jurídico durante o processo.
Na contramão desse entendimento temos o modelo da Comediação. Prática em que há a colaboração de dois profissionais, que inseridos no mesmo contexto vão trabalhar sob uma única orientação, isto é, dentro de um modelo particular ou num modelo próprio de ambos. Tal prática pode traduzir inúmeras vantagens consequentes da complementariedade de qualidades, estilos e aptidões de cada mediador; oriundas da formação de base distinta, como por exemplo, na área da advocacia e da psicologia.
A comediação traduz-se numa maior capacidade para lidar com conflitos difíceis e para responder às diversas necessidades, bem como em fomentar a possibilidade das partes considerarem e pesarem diferentes aspectos (Parkinson, 2008).
Inclusive, para tal autora, não se recomenda, nesses casos, o modelo transformativo porque, diferente do modelo ecossistêmico, a tônica centra-se nas preocupações e perspectivas dos adultos. Que, por vezes, as crianças podem ser consideradas como objetos mais do que como indivíduos com necessidades e direitos merecedores de consideração, presumindo-se, muitas vezes, que o acordo entre os pais é o melhorpara a criança (Parkinson, 2008).
Contudo, mesmo diante da divergência doutrinária, penso que o melhor modelo a ser adotado pelo mediador é aquele que melhor se apresente frente ao conflito. Portanto, mister que o mediador possua flexibilidade para se amoldar à realidade fática das partes adotando técnicas e modelos diversos, tantos quantos necessários, mas que contribuam na pacificação do conflito e ajude a atender as necessidades dos mediados.
4 – Como mediador, quais objetivos você considera são prioritários para trabalhar durante o processo?
O primeiro objetivo, porém não o mais importante, seria trabalhar o perdão que Diana alega ter conferido ao marido infiel, quando do seu envolvimento com Mariana. Trabalhar suas emoções, porque o perdão não é para ele e sim para ela própria. Uma vez que não perdoando ficará refém dessa situação, estagnando o relacionamento a este episódio. Continuar a relação é só uma das hipóteses, que se confirmada, exigirá da mesma resiliência emocional e responsabilidade relacional.
O segundo objetivo é estabilizar a comunicação, melhorando-a. Propor uma escuta menos defensiva ou de ataque. Incentivar, enquanto se ouve o outro, que o ouvinte esteja presente por inteiro e receba aquilo que lhe for dito com dignidade, respeito, honestidade e principalmente sem qualquer tipo de julgamento, escutando realmente o que o outro diz. Escutar de forma a acolher. 
O terceiro objetivo seria trabalhar as questões adjacentes: pré-traição e pós-traição. Estimular uma compreensão positiva do problema, visando à manutenção dos vínculos. Identificar as expectativas, os reais interesses, necessidades, construir o reconhecimento, verificar as opções e levantar os dados da realidade, com vistas, primeiramente, à transformação do conflito ou restauração da relação e, só depois, à construção de algum acordo. A díade conjugal precisa encontrar um espaço, conjunto, que apoie Diana a superar a traição, quer perdoando o marido quer encerrando o vínculo matrimonial.
O quarto objetivo, este sim o mais importante, trabalhar as necessidades da criança assegurando-lhe a dignidade da pessoa humana e consagrando-lhe o seu melhor interesse. 
Temos in casu, um conflito de conjugalidade e um de parentalidade. O mediador deve ajudar o casal a destravar os fatores interpessoais e intrapessoais informando aos mediados sobre o que esperar no futuro. Carolina é uma realidade que exige de José um compromisso de parentalidade, vínculo que será eterno, ainda que haja a ruptura da sociedade conjugal.
Diana pode fazer parte disso, aceitando e acolhendo Carolina. Ligando-se a ela pela afetividade através da convivência. Oferecendo, de forma solidária, um novo lar para a menor, estancando o fluxo contínuo de perdas que a mesma já sofrera nos seus 4 anos de vida. 
Por mais que não tenha participado da decisão de ter um filho, poderá junto com José, aprender e apreender a parentalidade. Ele exercendo a paternidade biológica e ela a maternidade sócioafetiva. 
Única alternativa que não está disponível é qualquer tipo de vingança que recaia sobre a criança.
5 – Como parte do processo de mediação, coordena-se uma sessão privada (cáucus) com Mariana. Quais benefícios esse processo traria para ela?
Consabido que pela ótica social, as causas maternas sempre serão frívolas frente ao ato praticado de abandono. Isso posta, uma sessão cáucus seria de grande valia para Mariana, pois num ambiente mais intimista, que lhe conferisse segurança e, sem os outros envolvidos lhe ajudaria, principalmente, na exteriorização de suas emoções, na medida em que permitiria um aprofundamento sobre o que motivou tomar tal decisão.
Nas sessões individuais diminuiriam as chances de omissões facilitando a obtenção de informações confidenciais que pudessem esclarecer as motivações ocultas. 
Porque, com certeza, alguma motivação levou Mariana a abandonar Carolina. É preciso considerar e discernir as diferentes modalidades da separação dessa mãe da sua filha. A decisão de abandona-la pode significar desde: aceitar a impossibilidade de cria-la; rejeição pela criança ou, a frustração de seu amor e desejo maternantes.
Descobrir a razão do seu comportamento traria benefícios para na relação entre mãe e filha, quem sabe até na reconstrução da mesma. 
Referências:
Beck, C. J. A.; & Sales, B. D. (2001). Family mediation: facts, myths and future prospects. Washington: American Psychological Association.
Bush, R. A. B.; & Folger, J. P. (1994). The promise of mediation. Responding to conflict through empowerment and recognition. San Francisco: Jossey-Bass Publishers.
Fundação Universitária Iberoamericana – FUNIBER. (2020). Os modelos clássicos de mediação: a mediação, definição e princípios. O mediador: papel e funções. p.74-78.
Gomes, Orlando. Direito de Família. 7 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 324.
Gonçalves, I. F. Filiação socioafetiva: seu reconhecimento extrajudicial e a multiparentalidade. Maio. 2019. Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/52947/filiacao-socioafetiva-seu-reconhecimento-extrajudicial-e-a-multiparentalidade. Acesso em: 05 de dezembro 2021.
Hellinger, Bert; Hõvel, Gabriele ten. Constelações Familiares: o reconhecimento das ordens do amor. Cultrix: 2006.
Lôbo, Paulo Luiz Netto. Direito ao estado de filiação e direito à origem genética: uma distinção necessária. Revista CEJ, Brasília, v. 8, n. 27, p. 47-56, out./dez. 2004.
Parkinson, L. (2008). Mediação familiar. Lisboa: GRAL, Ministério da Justiça/agora Comunicação.
Planiol, Ripert e Rouast. Traité Pratique de Droit Civil Français. Apud Gomes, Orlando. Direito de Família, 7 ed., Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 324.
Souza, M. I. C.; Waquim, B. B. Do direito de família ao direito das famílias: a repersonalização das relações familiares no Brasil. Revista de Informação Legislativa. V. 52, n. 204, p. 71-86.
Suares, M. (1996). Mediación. Conducción de disputas, comunicación y técnicas. Barcelona: Paidós.
Vade Mecum Acadêmico de Direito Rideel. Anne Joyce Angher organização. 26 ed., São Paulo: Rideel, 2018. (Série Vade Mecum).
Veloso, Zeno. Direito brasileiro da filiação e da paternidade. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 32-33.

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