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PEDIATRIA Glomerulonefrite difusa aguda pós infecciosa . DEFINIÇÃO . ● É uma doença que acomete as crianças com idade pré-escolar e escolar, devido a suscetibilidade delas às infecções orofaríngeas e de pele, mas a doença é secundária a essas infecções, atingindo as estruturas funcionais dos rins (néfrons e glomérulos), definindo o nome da patologia. ● É uma síndrome caracterizada por sinais e sintomas que incluem edema, hematúria glomerular e hipertensão arterial, que se manifestam de forma abrupta. ● O quadro clínico ainda inclui oligúria, queda do ritmo de filtração glomerular (RFG) e proteinúria. ● Seu nível de gravidade está relacionado ao grau de comprometimento glomerular. ● Suas complicações incluem insuficiência renal aguda, encefalopatia hipertensiva e congestão cardiocirculatória. ● Sabe-se que as condições econômicas e de higiene precária influenciam o desenvolvimento da doença. ● Ela é incomum antes dos 2 anos e seu pico de incidência é na faixa etária dos 7 anos de idade, com destaque pelo predomínio no sexo masculino. . FISIOPATOLOGIA . ● O parênquima renal consiste na parte funcional do órgão e abrange milhares de unidades funcionais, os néfrons. ● Os néfrons são estruturas microscópicas responsáveis pela filtração do sangue e pela formação da urina. ● Em cada um desses néfrons, temos divisões e subdivisões de artérias até chegar em finos capilares que formam um emaranhado de vasos, o glomérulo. ● O glomérulo é envolvido por uma cápsula glomerular (cápsula de Bowman), formando a primeira porção funcional do néfron⇒ filtração do sangue (células sanguíneas e proteínas mantidas no sangue e água/sais minerais no filtrado glomerular). ● Em geral, a GNDA é consequência da formação de imunocomplexos e de várias medidas imunológicas, como ativação do sistema complemento, recrutamento de leucócitos, liberação de citocinas. ● Por se tratar de uma doença associada à ativação imunológica, a presença de agentes exógenos (vírus, bactérias, protozoários) colabora intensamente para o desenvolvimento da GNDA. ● Certos fatores endógenos também influenciam, como o Lúpus eritematoso sistêmico (LES) e a Síndrome de Goodpasture. ● A GNDA mais comum é a pós estreptocócica e corresponde a uma sequela renal tardia de uma infecção por cepas nefritógenicas de estreptococos beta hemolíticos do grupo A. ● Na GNPE, ocorre diminuição da superfície de filtração secundária ao intenso processo inflamatório observado nos capilares glomerulares e mesângio. ● HEMATÚRIA: A hematúria, principal achado da doença, é explicada pela presença de lesões nos capilares glomerulares, que possibilitam a migração de hemácias através de fendas que surgem nas alças glomerulares. ● DISMORFISMO ERITROCITÁRIO: é muito frequente e também está associado a passagem das hemácias pelas fendas das alças glomerulares, de modo que tais passagens são muito estreitas e colaboram para a deformação das hemácias encontradas no sedimento urinário. ● PROTEINÚRIA: A própria reação inflamatória nos glomérulos altera as condições de permeabilidade da membrana glomerular às proteínas, condicionando proteinúria de pequena intensidade. ● QUEDA DO RFG: A baixa aguda do ritmo de filtração glomerular (RFG) leva à retenção de sódio pelas células tubulares (principalmente as distais). A reabsorção do sódio no nível dos túbulos está preservada, principalmente nos túbulos distais. ● É comum o aumento da presença de líquido no interstício e a supressão do sistema RAA. ● Consequentemente, tem-se o surgimento de edemas, a hipervolemia e, em alguns casos, a hipertensão arterial sistêmica (HAS). ● OLIGÚRIA: relacionado a perda de proteína, com diminuição da pressão coloidosmótica e perda de líquido para o interstício ⇒ lembra a sd. nefrótica. ESQUEMA DE FISIOPATOLOGIA DA GNDA: . ANATOMIA PATOLÓGICA . MICROSCOPIA ÓPTICA: ● Proliferação de células endoteliais e mesangiais (mes- = meio; -angi= vaso sanguíneo); ● Colapso do lúmen vascular com redução dos espaços de Bowman; IMUNOFLUORESCÊNCIA: ● Depósitos de complemento; ● Imunoglobulina G . BIÓPSIA RENAL . ● Não é utilizada na maioria dos casos, até porque a evolução da doença é, em grande parte, positiva e muitos tendem a uma melhora e um bom prognóstico⇒ Geralmente o prognóstico deste tipo de GN é considerado benigno em crianças e adolescentes, sendo raro os casos de óbitos e apenas 5% tornam-se crônicos. ● Pode ser útil para identificar lesão renal e diferenciá-la (necrose tubular aguda? nefrite túbulo intersticial? glomerulonefrite rapidamente progressiva?) INDICAÇÕES: ● Alteração da função renal com evolução para lesão renal aguda. ● Hematúria macroscópica por 4 a 6 semanas. ● Complemente baixo por mais de 8 semanas. ● Associação com proteinúria nefrótica (+50mg/kg/dia) por mais de 4 semanas. . ACHADOS LABORATORIAIS . ● Realização de exames de alterações urinárias, especialmente do sedimento urinário,que podem evidenciar hematúria, leucocitúria, cilindrúria ● URINA I: hematúria micro/macroscópica, muitas vezes associada a um dismorfismo eritrocitário positivo. ● Proteinúria de 24 horas com <50mg/kg/dia. ● C3 e CH50 diminuídos em 90% dos casos. ● Sorologias podem indicar um aumento de anticorpos contra o streptococcus. . QUADRO CLÍNICO . ● Os sintomas clínicos clássicos, edema, hipertensão e hematúria, manifestam-se de dez a vinte dias (no máximo seis semanas) após a infecção estreptocócica de vias aéreas superiores ou de pele. ● Na maior parte dos casos, o estado geral da criança está pouco comprometido e as queixas são vagas como: indisposição, inapetência, cefaléia e edema periorbital. ● Geralmente evolui com manifestações clínicas bastante variáveis, desde formas leves ou assintomáticas até casos sintomáticos mais graves. ● Estima-se que o edema aparece em 85% dos casos, localizado frequentemente na face e, em geral, não é muito intenso. ● A hipertensão arterial ocorre em cerca de 80% dos casos. É usualmente assintomática e detectada apenas pela aferição da pressão arterial. ● A hematúria macroscópica aparece em 25 a 35% dos casos, e a microscópica, na maioria. ● A oligúria pode ocorrer em alguns casos. ● Os níveis de uréia e creatinina ficam normais, porém, podem ser elevados devido à provável evolução para uma Insuficiência Renal Aguda (IRA). . COMPLICAÇÕES . ● INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA: A ocorrência de acometimento vascular é variável, sendo que a insuficiência cardíaca congestiva pode ser observada em 15 a 50% dos casos. ● EDEMA AGUDO DE PULMÃO: indicando hipervolemia grave, pode, em geral, estar associado a anasarca ⇒ muitos casos representam alta gravidade e podem indicar necessidade de diálise. ● ENCEFALOPATIA HIPERTENSIVA: Complicações cerebrais da hipertensão arterial, incluindo dores de cabeça, convulsões, alterações do estado mental, e alterações visuais ocorrem em 30-35% das crianças. ● LESÃO RENAL AGUDA: a LRA é definida como uma síndrome caracterizada por piora abrupta na capacidade excretora do rim com aumento transitório de creatinina e corpos nitrogenados de ureia. Frequentemente acompanha oligúria e distúrbios hidroeletrolíticos. . TRATAMENTO . ● Cada caso de GNPE precisa ser analisado de forma específica em termos de tratamento, considerando vários fatores: quadro clínico apresentado, idade, presença ou não de complicações e até mesmo as condições socioculturais e econômicas do paciente. ● De modo geral, a orientação adotada é sempre que possível preferir o tratamento em domicílio, principalmente quando o paciente apresenta quadro clínico leve a moderado. ● Restringe-se a internação hospitalar para situações de gravidade como oligúria intensa, insuficiência cardíaca ou encefalopatia hipertensiva. TRATAMENTO COMPORTAMENTAL● REPOUSO: Destaca-se o repouso, principalmente em casos com algum tipo de complicação, passando por atividades físicas moderadas à medida que o paciente apresente melhora do quadro clínico; ● DIETA: Adoção de dieta restritiva principalmente com redução na ingestão de líquidos e sódio (20 mL/kg/dia e menos de 2 g de NaCl/m2/dia, respectivamente), principalmente se for observado edema, hipertensão e oligúria. ● É recomendável também limitar a ingesta de proteínas por um período, até que os níveis de uréia e creatinina no sangue voltem aos níveis considerados normais. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO ● INFECÇÃO ESTREPTOCÓCICA: se suspeita de infecção estreptocócica, o tratamento medicamentoso pode envolver o uso de antibióticos, especialmente penicilina, visando erradicar o estreptococo ou outras cepas nefritogênicas ⇒ Benzetacil 50000 UI/kg intramuscular. ● EDEMA: Tratando-se de sobrecarga hídrica e hipertensão arterial, o uso de diuréticos de alça (Furosemida) deve ser feito, sendo relevante também em casos com gravidade quando se observa congestão cardiocirculatória, oligoanúria e a hipertensão arterial não cede, mesmo com a restrição dietética. ● Casos graves de congestão circulatória podem exigir tratamentos com diálise peritoneal ou hemodiálise. ● HAS: Em relação a hipertensão, é importante a prescrição de hipotensores como hidralazina, nifedipina, anlodipina. nitroprussiato de sódio (0,5 a 8 mcg/kg/min). ● Em HAS menos graves, usa-se bloqueadores de canais de cálcio de interação lenta. ● ENCEFALOPATIA HIPERTENSIVA: Anticonvulsivantes como diazepam e outros podem ser prescritos em casos de convulsões associadas a encefalopatia hipertensiva. ● LESÃO RENAL AGUDA: em casos de potássio > 6,5, indicar restrição de ingesta de potássio e pode utilizar a resina de troca (aumentar a eliminação do potássio). ● Em casos de potássio > 6,5 associado a alteração de ECG, indica-se o uso de estabilizador de membrana (cálcio), podendo também ser utilizado a solução polarizante (glicose com insulina), bicarbonato de sódio e até mesmo um beta2 agonista.
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