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Nefrite Intersticial INTRODUÇÃO Nefrite - inflamação dos rins. Interstício renal - é o tecido existente entre os túbulos renais. O espaço entre os néfrons e vasos sanguíneos e linfáticos se chama interstício renal. O interstício é muito escasso na cortical, porém aumenta na medula A nefrite intersticial é uma doença dos rins caracterizada por inchaço do tecido renal e inflamação dos túbulos renais, o que resulta em declínio da capacidade dos rins filtrarem o sangue, ou seja, insuficiência renal. Lesões nos túbulos resultam em mudanças na quantidade de eletrólitos (por exemplo, sódio e potássio) no sangue ou em problemas com a capacidade dos rins de concentrar a urina, que fica muito diluída. A dificuldade em concentrar a urina causa o aumento no volume diário de urina (poliúria) e a dificuldade em manter um equilíbrio adequado de água e eletrólitos no sangue. Histologicamente caracteriza -se por um infiltrado celular intersticial (incluindo células TCD4+, macrófagos, eosinófilos e células plasmáticas) acompanhado de edema intersticial sem lesão capilar ou glomerular associada. A nefrite intersticial pode apresentar um curso crônico ou agudo. Nefrite intersticial crônica: ● lenta perda da função renal ● desenvolvimento de doença renal crônica - pode passar despercebida pelo paciente por anos, pois o declínio da função renal se dá de forma gradual. Nefrite intersticial aguda (NIA): ● quadro de declínio rápido e súbito da função renal A NIA é uma das principais causas de perda súbita da função renal, sendo diagnosticada em torno de 20% dos pacientes submetidos à biópsia renal devido à insuficiência renal aguda. ETIOLOGIA A causa mais frequente da nefrite túbulo-intersticial aguda é uma reação alérgica a um medicamento. Os antibióticos, diuréticos e os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) podem provocar uma reação alérgica. O intervalo decorrido entre a exposição ao agente que causou a reação e o desenvolvimento da nefrite túbulo-intersticial aguda varia entre três dias e cinco semanas. Os medicamentos também podem causar nefrite túbulo-intersticial através de mecanismos não alérgicos. Por exemplo, os AINEs podem lesionar diretamente os rins, levando até dezoito meses para causar a nefrite túbulo-intersticial crônica. Nefrite intersticial crônica ● acetaminofeno ● aspirina ● cisplatina ● ciclosporina ● lítio ● naproxeno ● fenacetina Nefrite intersticial aguda ● aciclovir ● alopurinol ● beta lactâmicos ● cimetidina ● fenitoína ● furosemida ● indinavir ● lansoprazol ● lítio ● naproxeno ● omeprazol ● pantoprazol ● quinolona ● rifampicina ● ranitidina ● sulfonamidas ● vancomicina A NIA, em geral, é uma reação medicamentosa não dose-dependente ou idiossincrática, podendo ocorrer com o primeiro curso das medicações ou quando a medicação é utilizada após uso prévio. A NIA provocada por fármacos é considerada uma reação de hipersensibilidade tardia mediada por células T, não dependente de dose e que pode tornar -se clinicamente evidente em média duas semanas após o início do tratamento. Neste modelo de reação presume -se que os fármacos desencadeiam reações específicas contra os antigénios endógenos renais pela formação de reações tipo -hapteno ou por imitação das proteínas renais nativas. Figura 1 - Mecanismos pelos quais uma droga (ou um de seus metabólitos) pode induzir nefrite intersticial aguda (NIA). (A) A droga pode se ligar a um componente normal da membrana basal tubular (TBM) e atuar como um hapteno. (determinantes antigênicos capazes de induzir uma resposta imune somente quando acoplados a um transportador.) (B) A droga pode mimetizar um antígeno normalmente presente na TBM ou no interstício e induzir uma resposta imune que também será direcionada contra esse antígeno. (C) A droga pode se ligar ao TBM ou se depositar no interstício e atuar como um antígeno plantado (“preso”). - A droga pode primeiro ficar presa no interstício e depois se tornar alvo de uma reação imune (D) A droga pode induzir a produção de anticorpos e se depositar no interstício como imunocomplexos circulantes. https://www.bjnephrology.org/article/inibidores-da-bomba-de-protons-e-sua-relacao-com-a-d oencarenal/ As causas não medicamentosas podem ocorrer por infecções bacterianas como: Corynebacterium diphtheriae, Legionella, Staphylococcus, Streptococcus, Yersinia. Por infecções virais como: Citomegalovírus, Epstein-Barr, hantavírus, hepatite C, herpes, HIV, sarampo, poliomavírus. Outras infecções: Leptospira, mycobacterium, mycoplasma, riquétsia, sífilis, toxoplasmose.Doenças imunes e neoplásicas: Rejeição aguda no transplante renal, glomerulonefrite, doenças linfoproliferativas, vasculite necrotizante, discrasias de células plasmáticas, lúpus eritematoso sistêmico. EPIDEMIOLOGIA A nefrite intersticial aguda representa cerca de 5% dos doentes submetidos a investigação por insuficiência renal inexplicada. A real incidência da NIA é desconhecida. O diagnóstico definitivo requer biópsia, que pode não ser realizada devido ao quadro clínico sutil ou a fatores de risco para complicações; assim, a incidência é subestimada. Um estudo constatou que a incidência de NIA era de 3.2 por 10,000 pessoas-ano em usuários de inibidores da bomba de prótons. As melhores estimativas disponíveis decorrem da medição da prevalência de NIA em registros de biópsia renal. Em biópsias não selecionadas, cerca de 2% dos https://www.bjnephrology.org/article/inibidores-da-bomba-de-protons-e-sua-relacao-com-a-doencarenal/ https://www.bjnephrology.org/article/inibidores-da-bomba-de-protons-e-sua-relacao-com-a-doencarenal/ casos têm NIA, mas em biópsias de lesão renal aguda a prevalência de NIA chega a 18%. Em um estudo, as mulheres apresentaram maior probabilidade de desenvolver NIA associada a anti-inflamatórios não esteroidais e NIA mediada imunologicamente. A NIA induzida por medicamentos é mais comum em pacientes com idade avançada, e os medicamentos envolvidos com maior frequência são os antibióticos, inibidores da bomba de prótons e AINEs. SINTOMAS A nefrite intersticial aguda pode ser totalmente assintomática ou pode estar associada aos sinais e sintomas da doença sistêmica e/ou quadro infeccioso concomitante. Se a NIA for induzida por fármacos, o paciente pode apresentar sinais e sintomas clássicos de uma reação alérgica, como dores articulares (artralgias), rash (manchas avermelhadas na pele), febre e eosinofilia, nome dado quando verifica-se aumento do número de eosinófilos no sangue. A tríade de febre, lesões cutâneas e eosinofilia, apesar de muito comumente descrita como característica para o diagnóstico de nefrite intersticial induzida por fármacos, só se verificou em cerca de 10% dos casos nos estudos mais recentes publicados sobre o assunto. Uma explicação possível para esse achado é que os anti-inflamatórios e inibidores de bomba de prótons, que estão entre as etiologias mais implicadas atualmente na formação da NIA, costumam cursar com quadros subclínicos, com menos sintomas. Isoladamente, a frequência dos sintomas da NIA induzida por fármacos costuma ser: Rash Cutâneo: 15% Febre: 30% Artralgia: 45% A nefrite intersticial aguda associada ao uso de anti-inflamatórios pode apresentar-se como síndrome nefrótica, que é um conjunto de sinais e sintomas que surgem quando o paciente apresenta perda excessiva de proteínas na urina (proteinúria). Não há um intervalo de tempo específico para o aparecimento dos sintomas no caso da nefrite intersticial induzida por fármacos, podendo ocorrer tão rapidamente quanto três a cinco dias até semanas ou meses após o início do medicamento. Nos casos mais graves, com perda relevante da função renal de forma rápida, o paciente pode apresentar sinais e sintomas de insuficiência renal aguda, como náuseas, vômitos, mal-estar, falta de apetite, edema e redução do volume de urina. URINÁLISE NIA induzido por drogas: hematúria, piúria (com ou sem cilindros leucocitários), eosinofilúria (valor preditivo positivo de 38%), proteinúria em graus variados geralmente <1g/24h (principalmentecom AINES). Alterações no sedimento urinário - em algumas classes de medicamentos. A análise de urina e o exame do sedimento urinário são, com frequência, os testes laboratoriais mais úteis. A proteinúria de baixo grau (1-2 +) e a esterase leucocitária positiva são observadas em exames com fitas reagentes na maioria dos pacientes. As medições quantitativas da proteinúria são, em geral, inferiores a 1g/dia, com exceção de pacientes com NIA induzida por AINEs que podem ter NIA com proteinúria em níveis nefróticos. Os leucócitos estão presentes na microscopia de urina em praticamente todos os casos de NIA induzida por meticilina, mas podem estar ausentes em até 50% dos pacientes com NIA devido a outros fármacos. Classicamente, a microscopia de urina mostra hematúria, leucocitúria, leucócitos e células epiteliais tubulares renais. A fração de excreção de sódio desses pacientes é, normalmente, maior que 1%, o que indica o dano tubular ocorrido. A eosinofilia, definida por uma concentração maior que 1% de eosinófilos na urina, já foi considerada a marca registrada dessa doença, mas o exame tem baixa sensibilidade e especificidade; logo, não deve ser usada para fazer um diagnóstico, lembrando que menos de 25% dos pacientes que apresentam eosinofilia têm diagnóstico de NIA na biópsia renal. Esse teste tem sensibilidade de 67% e especificidade de 83% em pacientes com insuficiência renal aguda. DIAGNÓSTICO O diagnóstico deve ser suspeitado em todos os pacientes com aumento de creatinina sérica e urinálise que mostra aumento de leucócitos na urina, sobretudo se a eosinofilia estiver presente; eritrócitos podem aparecer, mas a hematúria macroscópica é muito rara; o diagnóstico deve ser suspeito caso alguma medicação tenha sido utilizada pelo paciente. O diagnóstico definitivo é realizado com a biópsia renal, que mostra edema e infiltrado inflamatório intersticial. TRATAMENTO O tratamento depende da doença subjacente que produz a reação inflamatória. O tratamento induzido por medicamentos é mais complicado e controverso. A intervenção mais importante é a detecção precoce da doença e a descontinuação do fármaco. Essa medida pode ser difícil em pacientes que tomam vários medicamentos essenciais, tornando-se problemático identificar o causador da doença. Quando um medicamento é suspeito, o seu uso deve ser imediatamente descontinuado e substituído, se necessário, por um agente de uma classe diferente. Um período livre de medicação é indicado para determinar se a função renal se recupera sem outra intervenção. Se nenhuma melhora for observada após um período de observação (3 a 5 dias), ou se a função renal estiver declinando rapidamente, um teste com o uso de corticosteróides é uma boa opção. A terapia precoce com corticosteroides, iniciada 1 a 2 semanas após o diagnóstico, tem maior probabilidade de melhorar a função renal em comparação com os iniciados mais tardiamente.
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