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IMPORTÂNCIA As vacinas são importantes na prevenção de doenças infecciosas em seres humanos e em animais. As primeiras vacinas desenvolvidas foram para seres humanos, mas logo em seguida também foram desenvolvidas para os animais. Graças às vacinas, algumas doenças foram erradicadas (varíola) e houve um aumento da produção e produtividade animal. HISTÓRIA A vacina teve sua origem a partir da variolação no extremo oriente. No século XVIII, esse processo ficou conhecido em toda a Europa, pela Lady Mary Montagu. Ainda no século XVIII, o médico Edward Jenner desenvolveu o processo de vacinação, que foi aprimorado no século XIX por Pasteur (incorporação da técnica de atenuação). TIPOS DE VACINAS Tanto na medicina humana quanto na veterinária, existe um infinidade de tipos de vacinas, e essa diferença tem relação não só com a composição em termos de antígenos que devem estar presentes para imunizar o organismo, mas também em relação aos tipos de antígenos em relação aos patógenos (para um patógeno ou para mais de um tipo), se a vacina é feita com o patógeno vivo ou morto, ou até mesmo com outra técnica sem a presença do antígeno (vacinas com base em ácidos nucleicos – RNA e DNA – produção do antígeno dentro do próprio organismo que vai ser imunizado). As vacinas também podem ser classificadas em relação ao método de fabricação: em ovos embrionados de galinha, em células de rim de macaco verde da África (células Vero). VACINA INATIVADA X VACINA ATENUADA A vacina inativada é a “vacina morta”, Ela tem o conjunto dos antígenos do patógeno ou apenas uma parcela dos antígenos (vacina de subunidade – muito bem caracterizado qual é o antígeno do patógeno que vai ser escolhido para produzir a vacina). As vacinas atenuadas possuem o patógeno de forma atenuada (cinomose – vírus). Na vacina por vetor, os pesquisadores inserem em um vírus (que não causa doença e é modificado para que não se replique) somente os genes que codificam para o antígeno do patógeno em questão, atuando como um carreador. Existem também as vacinas RNAm, onde um RNA que é inoculado em células apresentadoras de antígeno é inserido dentro de uma estrutura lipídica (lipossoma), e a partir daí ele serve de molde para a produção do antígeno. As vacinas inativadas podem ser feitas com antígenos totais (geralmente, vacinas de patógenos bacterianos são feitos com Ag totais), ou com apenas uma proteína do patógeno (subunidade – mais utilizadas). Já foram feitas vacinas inativadas baseadas em epítopos, mas elas não foram muito eficientes. O processo de produção de vacinas inativadas geralmente envolve provocar algum tipo de agressão no patógeno para que esse seja destruído/inativado ou até mesmo atenuado: desidratação, agitação, incidência de radiação, alteração de pH, ciclos de congelamento e aquecimento, exposição a íons metálicos. Além disso, pode haver a necessidade de associação do patógeno ou antígeno com veículos de entrega para o sistema imune, principalmente para as células apresentadoras de antígenos: colocando-o em meio líquido, submetendo-o a processos de liofilização (desidratando-o para permitir uma viabilidade maior do antígeno), fazendo secagem em material lipídico, ou até mesmo estabelecer uma apresentação em pó. As vacinas também podem ser classificadas em relação à rota de administração. Funcionamento da vacina baseada em RNAm: Introdução de um RNA envolvido em um material lipídico dentro de uma célula apresentadora de antígeno. Esse RNA é traduzido nos ribossomos citosólicos e então a proteína é sintetizada nesse meio. Essa proteína vai ser clivada por proteassomas e os peptídeos gerados vão ser apresentados em moléculas de MHC de classe I. O processo de geração de MHC de classe I com os peptídeos da proteína Spike vai ativar os linfócitos T CD8+, gerando uma população de linfócitos T efetores e também células T CD8 de memória. Acredita-se que parte das proteínas Spike geradas pela tradução do RNAm da vacina vai ser secretada para o meio extracelular, e uma vez lá, essas proteínas podem ser fagocitadas, sendo clivadas pela ação de lisossomos e gerando peptídeos que vão se unir à moléculas de MHC de classe II, que vão apresentar esses peptídeos da proteína Spike para as células T auxiliares CD4+, gerando a ativação de linfócitos B e uma produção de anticorpos neutralizantes. Vacina por vetor: Esse tipo de vacina utiliza um vetor viral. Pega-se o adenovírus de um chimpanzé, o qual sofre uma modificação (o material genético é retirado/nocauteado), então o vírus perde a capacidade de se replicar. Ao mesmo tempo, faz-se a identificação no SARS-CoV-2 na região do DNA que codifica para a proteína Spike. Esse DNA é inserido dentro do vírus modificado, e faz-se a inoculação com esse material na pessoa. No organismo dessa pessoa, uma infecção é desencadeada, mas o vírus não é capaz de se replicar, entregando nas células o DNA que é transcrito em RNA, que dentro da célula do hospedeiro vai fazer um circuito semelhante ao que é feito na vacina RNAm. Um outro tipo de classificação das vacinas é em relação ao número de patógenos. De acordo com essa classificação, uma vacina pode ser monovalente ou polivalente. A vacina monovalente é aquela que é feita para apenas um patógeno, contendo só um patógeno ou um sorotipo de um patógeno, uma cepa de patógeno. Já a vacina polivalente tem diferentes cepas de um mesmo patógeno ou até mesmo diferentes patógenos (V8/V10). Exemplo de vacina monovalente bovina – contra a febre aftosa. Essa vacina utiliza um adjuvante, que é uma substância que auxilia na ativação da imunidade inata à base de óleo mineral (reação inflamatória intensa no local de aplicação da vacina, podendo provocar a formação de abcesso, que causa perda de massa muscular no animal – menos carne na região - e eventuais lesões no couro desse animal). Vacina monovalente contra a raiva em cães e gatos. Vacina polivalente contra várias doenças em cães. VIAS DE APLICAÇÃO As vacinas também podem ser classificadas de acordo com as vias de aplicação. Algumas vacinas são feitas de forma intramuscular, como no caso da vacina contra a febre aftosa, outras por via intradérmica, outras por via subcutânea, oral (principalmente em sistemas de produção avícola, a vacina é diluída em spray e lançada nos pintinhos, e aí se espera que ocorra a imunização por via oral) e intranasal. Na veterinária, existe ainda a vacina in ovo, própria na área de produção avícola, em que os ovos embrionados são vacinados. Vacinação subcutânea. Vacina contra a gripe e tosse dos canis em cães (intranasal): Máquina de vacinação in ovo: TÉCNICAS DE PRODUÇÃO Essencialmente são três formas: ▪ Cultivo bacteriano; ▪ Cultivo em ovo embrionado de galinha; ▪ Cultivo em cultura de células de mamíferos. A técnica de produção através do cultivo bacteriano é utilizada principalmente nas vacinas contra doenças bacterianas. A técnica de produção através do cultivo em ovo embrionado de galinha é utilizada principalmente nas vacinas contra doenças virais, como no caso da vacina da dengue, febre amarela e gripe em seres humanos. Pessoas alérgicas aos componentes do ovo não podem tomar esse tipo de vacina, ou devem ter a aplicação monitorada em função do risco de alergia. Uma técnica de produção mais recente que ganhou força devido ao covid foi o cultivo em cultura de células de mamíferos. Linha de produção de ovos embrionados para a produção de vacinas. Os ovos são colocados contra uma fonte luminosa para verificar se estão embrionados, e então é feita a aplicação na região do líquido alantoide. O embrião acaba funcionando como um meio de cultura para uma produção intensa de vacina. Depois, esse material é coletado e a parte líquida do ovo embrionado é separada, contendo grande quantidade de antígenos.Depois são feitas purificações para tentar atingir a maior concentração de antígenos dentro desse material ou carga viral. As células renais do macaco verde da África são padronizadas para cultivo, sendo utilizadas tanto nos testes do desenvolvimento da vacina quanto na sua produção. Essas células são chamadas de células vero. Macaco verde da África. Células Vero. Cultivo das células vero: Biorreatores. Além dessas técnicas de produção em escala industrial da parte imunizante das vacinas, deve haver a inativação – pode ser feita através de alterações do pH, de temperatura, por desidratação/liofilização, etc. – ou a atenuação, que possuem inclusive algumas mesmas técnicas da inativação, mas seguindo protocolos diferentes – alterações de temperatura mais brandas, incidência de radiação em determinados comprimentos de ondas. Outra técnica é a introdução do gene responsável pelo antígeno em um vetor. ADJUVANTES Os adjuvantes são substâncias que aumentam a atividade da imunidade inata por ocasião da aplicação da vacina. Geralmente, essas substâncias são irritantes que provocam inflamação, podendo ser desde substâncias químicas como o hidróxido de alumínio, até componentes da parede celular de bactérias, como a Mycobacterium tuberculosis ou LPS de bactérias gram- negativas. Os adjuvantes são importantes para fornecer o chamado segundo sinal. O primeiro sinal é o contato dos linfócitos com o antígeno via receptores de linfócito T e linfócito B, e o segundo sinal são moléculas coestimulatórias presentes na superfície dos linfócitos que reconhecem padrões moleculares associados a patógenos, que estão presentes nas vacinas adicionadas de adjuvantes. O papel dos adjuvantes consiste, portanto, em aumentar a atividade das células da imunidade inata no local da inflamação. Isso é importante para aprimorar a chegada de células apresentadoras de antígenos e também para aumentar a taxa de processamento e apresentação de antígenos dessas células, o que vai ocasionar uma melhor ativação de linfócitos. Geralmente esses adjuvantes são PAMPs, como o LPS e componentes da parede celular de bactérias, e também substâncias químicas inflamatórias, como o hidróxido de alumínio e o óleo mineral. OBS.: Vacinas inativadas geralmente têm que utilizar adjuvantes. DESENVOLVIMENTO DE VACINAS A vacina é desenvolvida a partir de uma pesquisa, e algumas perguntas devem ser respondidas antes de iniciar o projeto propriamente dito de uma vacina. Primeiro deve-se escolher o tipo de antígeno a ser utilizado, o imunógeno. Depois, deve ser escolhido o tipo de técnica de produção, e por fim, no caso de uma vacina inativada, deve-se escolher o adjuvante (feito por tentativas e erros). Na etapa seguinte do desenvolvimento da vacina, nos chamados testes pré-clínicos, é feito um teste em cultura de células, para testar sua capacidade de ativar ou proteger as células em cultivo. Depois, ocorre o teste em modelos animais. Após essas etapas, é chegada a fase clínica, que é diferente para seres humanos e animais. Na fase clínica de desenvolvimento de vacinas para os animais, os testes são feitos nos próprios animais, e não nos seres humanos. O teste é feito com um número maior de animais, sempre com um grupo que será imunizado e um que receberá placebo. Nesta terceira etapa busca-se avaliar duas coisas: segurança e eficácia. Segurança porque as vacinas podem provocar efeitos adversos, como febre, dor de cabeça, vômito, diarreia, eventualmente desmaios, alergia, e nos casos mais graves, choque anafilático. Na segurança são avaliados então o grau, o tipo e a intensidade dos efeitos adversos. Além desses testes de efeitos adversos que podem ocorrer e devem ser avaliados nessa fase, existem estudos de longa duração. Alguns aspectos de efeitos adversos podem ser verdadeiras síndromes, como é o caso da Síndrome de Guillain-Barré que acomete algumas pessoas que recebem as vacinas, principalmente aquelas com hidróxido de alumínio. A eficácia é uma medida comparativa entre os grupos vacinados e não vacinados no estudo, no teste clínico, não sendo a mesma coisa que eficiência. A eficiência se dá quando a vacina é testada a campo, englobando vários aspectos e também a eficácia. O teste clínico é dividido em três fases. Na fase 1, se avalia principalmente a segurança, e para isso se trabalha na faixa de dezenas de voluntários (de 20 a 80 indivíduos adultos saudáveis, animais ou pessoas). Nessa fase, verifica-se principalmente para as vacinas atenuadas se há risco de reversão de virulência, se vão ocorrer alergias, dor local, anafilaxia, se há risco de doenças autoimunes e síndromes. Na fase 2 do teste clínico é avaliada principalmente a eficácia. Nessa fase participam centenas de indivíduos, e é avaliado se há proteção contra a infecção e em que proporção. Para isso, são utilizados dois grupos, um que recebe a vacina e outro que recebe placebo, e ambos são expostos ao risco de infecção. Espera-se que o número de infectados no grupo que recebeu a vacina seja menor quando comparado ao número de infectados no grupo que recebeu placebo. A eficácia também pode ser avaliada com relação a ocorrência da forma grave da doença (se protege contra a forma grave e em que proporção). Também é avaliado se a proteção ocorre de forma igual para indivíduos de sexos e idades diferentes. Se os resultados forem promissores nas duas primeiras fases, o teste segue para a fase 3. Nessa terceira fase há a participação de milhares de pessoas, inclusive de pessoas que possam ter comorbidades, de diferentes faixas etárias, e outras variáveis. De preferência, essa fase dever ser direcionada para o público alvo, e tudo deve ser feito em um estudo duplo cego randomizado. Nesse tipo de estudo, um grupo recebe a vacina e o outro recebe o placebo, mas os pesquisadores não podem saber quais indivíduos estão em cada grupo. Fixam-se os parâmetros que não serão investigados e varia os demais parâmetros de interesse, como por exemplo idade, sexo, presença de comorbidades, etc. A eficácia é calculada pela seguinte fórmula: 1 – o produto do número de pessoas vacinadas que desenvolveram a doença sobre o produto do número de pessoas não vacinadas que desenvolveram a doença. Para aqueles desenhos experimentais em que o número de pessoas do grupo que recebeu a vacina é praticamente igual ao que recebeu placebo, a equação é diferente: Os testes de eficácia continuam sendo realizados em grupos maiores por um intervalo de tempo conhecido como intervalo de confiança (estatística). Na prática, o intervalo de confiança significa que as medidas e observações realizadas são extremamente reprodutíveis. O nível de observação deve ser superior a 150. Para que a eficiência de uma vacina seja avaliada, não basta apenas avaliar a eficácia. Outras medidas devem ser feitas, como por exemplo: a duração do título de anticorpos neutralizantes, quais são as condições de armazenamento e de transporte, proteção contra variantes, o número de doses que devem ser aplicadas e a presença de reações adversas.
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