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T SINALIZAÇÃO Tanto para os linfócitos T quanto para os linfócitos B, a ativação pode ser apresentada em três etapas: sinalização, resposta e declínio. Na sinalização, o receptor presente na membrana do linfócito é estimulado pela ligação com o ligante, que pode ser um antígeno íntegro no caso dos linfócitos B, ou um pedaço do antígeno, um peptídeo ligado a uma molécula de MHC presente na superfície da célula apresentadora, que vai ser reconhecido pelo receptor de célula T. No entanto, não é apenas essa ligação com o antígeno ou com o complexo MHC-peptídeo que constitui essa sinalização. Ocorre também uma coestimulação importante para a ativação dos linfócitos. Em seguida, tem-se a segunda parte da ativação que é a resposta. Essa etapa constitui as alterações celulares, também conhecidas como respostas funcionais, que ocorrem em decorrência da sinalização. Um exemplo é a produção de citocinas. A última etapa é o declínio, que diz respeito aos mecanismos bioquímicos de controle, às vias metabólicas, que inibem a ativação contínua dos linfócitos. Isso é importante para controlar a intensidade do funcionamento do sistema imune. Essas vias bioquímicas inibitórias são ativadas a partir do momento em que há uma persistência das vias metabólicas de ativação dos linfócitos. A sinalização pode ser dividida, por sua vez, nas seguintes etapas: ▪ Reconhecimento do antígeno, onde há a participação dos receptores linfocitários (TCR e BCR). ▪ Coestimulação – além da presença dos receptores na superfície dos linfócitos, também estão presentes moléculas coestimuladoras na superfície dessas células, mas também na célula apresentadora de antígeno. Isso é particularmente mais relevante para os linfócitos T, que são mais dependentes, portanto, da coestimulação. As células apresentadoras de antígeno, mais particularmente as células dendríticas, possuem uma molécula chamada CD40, para a qual existe um ligante no linfócito T chamado de CD40 ligante. Também existe a CD28 no linfócito T, e as moléculas B71 e B72 nas células apresentadoras de antígeno. O conjunto de interação dos receptores linfocitários com o complexo MHC-peptídeo e das moléculas de coestimulação, no linfócito T, vai fazer aparecer uma estrutura de aproximação celular entre linfócito T e célula apresentadora, chamada de sinapse imunológica. ▪ Sinapse imunológica – justaposição entre as membranas dos linfócitos T e das células apresentadoras, onde há a ligação de várias moléculas (TCR e complexo MHC- peptídeo, e moléculas de coestimulação entre o linfócito T e a célula apresentadora). ▪ Citocinas - nesse ambiente também vai haver uma intensa participação das citocinas, que vão ser secretadas e vão atuar de forma apócrina, ou seja, vão atuar naquele ambiente de proximidade que é favorecido pela sinapse imunológica, ação de curto alcance. Um outro aspecto importante no processo de ativação dos linfócitos (T e B) é que são necessários dois sinais, como representado na imagem a seguir: O primeiro sinal é dado pela ligação do antígeno ao receptor. O segundo sinal é uma molécula induzida pela resposta imune inata, como um coestimulador ou um fragmento do complemento – um exemplo é o componente C3 do sistema de complemento, que pode se ligar a receptores presentes na superfície de linfócitos B. Se a célula tiver apenas um sinal, normalmente a ativação é incompleta. Nas vacinas, um adjuvante é uma substância geralmente de origem microbiana ou algum elemento químico que provoca uma inflamação, como o hidróxido de alumínio. Ele garante a realização do segundo sinal, e isso é importante para garantir a ativação linfocitária. Se houver, portanto, o primeiro e o segundo sinal, vai haver um estímulo, que vai ser percebido pelas alterações bioquímicas no interior da célula, mas principalmente pelo intenso ciclo de mitose dessa célula (proliferação). Além disso, algumas vias bioquímicas são ativadas, outras desativadas, e a célula pode sofrer um processo conhecido como diferenciação. No caso dos linfócitos B, o processo de diferenciação vai originar os plasmócitos. A partir da sinalização e com as respostas funcionais (proliferação e diferenciação), vai ser composta a resposta imune adaptativa. No caso dos linfócitos T, é fundamental o contato com as células apresentadoras de antígeno, que vão expor pedaços dos antígenos através do MHC de classe I (antígenos virais) e classe II (antígenos de origem extracelular, bacteriana). Além disso, através das moléculas de coestimulação, vai ser fornecido um estímulo, que dependendo da sua magnitude e natureza, pode levar à ativação. Existem alguns antígenos que efetivamente não são bons para se ligarem às moléculas de MHC, e em função disso, pode ocorrer uma estimulação incompleta. Funções de coestimuladores na ativação de células T. Na imagem acima, tanto na situação A como na situação B, a primeira etapa consiste no reconhecimento do antígeno, com a participação das células apresentadoras. O segundo evento é a resposta das células T. Na situação A, há a participação apenas das moléculas de MHC, apresentando um peptídeo do antígeno ao receptor de linfócito T, mas sem a participação de moléculas de coestimulação. E quando não há a participação dessas moléculas, o linfócito T imaturo, nesse caso, vai ser ativado, mas ele não se torna efetivamente responsivo. Nesse caso, dizemos que há uma tolerância ao antígeno, ou seja, ele encontra o antígeno, mas não é estimulado a fazer sua ativação. Na situação B, a partir da presença de moléculas de coestimulação B7 se ligando às moléculas de coestimulação CD28 do linfócito T, juntamente com a interação MHC- peptídeo-receptor, são fornecidos estímulos o suficiente, inclusive para a produção de citocinas. Nessa situação, há uma condição ideal para que o linfócito T faça uma resposta funcional, com proliferação e diferenciação. Dessa forma, não basta apenas ocorrer a ligação do complexo MHC-peptídeo ao receptor, é necessário haver também a participação das moléculas de coestimulação. Exemplos de moléculas de coestimulação que se ligam ao linfócito T: As moléculas B71 e B72, ou CD80 e CD86, respectivamente, se ligam à CD28 no linfócito T, mas também podem se ligar à CTLA-4 (ligante de inibição exclusivo de células T, é expressado mais adiante em células T efetoras maduras, com o fito de controlar a atividade dos linfócitos T que foram ativados). Além delas, também existem a ICOS-L (se liga à ICOS – coestimulação de células T reguladoras), a PD-L1 e a PD-L2 (se ligam à PD-1 – regulação negativa das células T, assim como a CTLA-4). Papel da molécula CD40 na ativação de células T. A molécula de CD40 é expressada na membrana de células dendríticas maduras de forma constitutiva, ou seja, se for analisada a membrana de uma célula T madura que saiu do sítio de infecção e migrou para um órgão linfoide secundário, vão ser encontradas moléculas de CD40. Macrófagos no sítio de infecção não possuem a molécula CD40, mas as células dendríticas têm. Isso é importante, porque quando a célula apresentadora de antígeno faz o contato com a célula T imatura no sítio de infecção, essa célula T não expressa a molécula CD40 ligante, mas quando ocorre a interação MHC-peptídeo-TCR, a célula T passa a expressá-la. Essa etapa é fundamental para que as duas células se estimulem. Com essa interação, ocorre a secreção de citocinas, que estimulam o linfócito T a se ativar, e a célula dendrítica passa a expressar a molécula B7, que vai se ligar à CD28. Essa etapa é fundamental para que ocorra a chamada resposta funcional. Após a interação, portanto, do complexo MHC-peptídeo-receptor e das moléculas de coestimulação, vai haver a aproximação das membranas e centenas de interações desse tipo. Isso faz com que as membranas das duas células fiquem próximas umas das outras (contatoestável entre a célula T e a célula apresentadora de antígeno). Esse ambiente vai favorecer a ação local de citocinas, tornando esse ambiente propício para que as células tenham uma sinalização adequada para sua ativação. Moléculas de coestimulação marcadas em verde, e moléculas do complexo TCR-MHC em vermelho. Na área mais central, de contato entre as membranas, tem-se a interação MHC-peptídeo-receptor, e na parte mais periférica da sinapse imunológica, tem-se as moléculas de coestimulação. No diagrama abaixo, essa situação da sinapse imunológica é representada com mais clareza: Outro aspecto importante na sinapse imunológica é que há a participação de outros fatores, principalmente de cálcio. Há uma expressão de canais de cálcio nesse ambiente de sinapse imunológica, há a liberação de cálcio do retículo endoplasmático para o citosol, e há uma alteração também do citoesqueleto da célula T para que ela fique próxima à célula apresentadora de antígeno. Esse é um processo ativo, e durante ele, a célula T modifica a forma como ela consome energia. RESPOSTA A segunda parte da ativação dos linfócitos T é a resposta propriamente dita. Ela ocorre no citosol, mas também no núcleo. Num primeiro momento, são ativadas proteínas e enzimas: proteínas integrais associadas à membrana, depois segundos mensageiros e também algumas enzimas. O resultado dessa primeira etapa da ativação, dessa resposta, é a expressão de alguns genes, ou seja, fatores de transcrição vão ser ativados no citoplasma e vão ser translocados para o núcleo, levando à expressão de genes que vão, por sua vez, levar à resposta funcional propriamente dita. Num primeiro momento, há então a sinalização, onde um ligante se liga ao receptor, no qual existem locais que podem ser ativados a partir da alteração conformacional do receptor do antígeno. A partir do momento em que esse motivo de ativação é modificado, ele passa a ser alvo de ligação das proteínas e de segundos mensageiros, levando à transdução de sinal. Ou seja, são produzidos segundos mensageiros, geralmente intermediários lipídicos, nucleotídeos fosfatados ou até mesmo fosforilação de regiões de proteínas que vão fazer com que outras proteínas no interior do citoplasma sejam ativadas. Esse processo ocorre com várias etapas, principalmente para propiciar um fenômeno chamado amplificação – quanto maior for o estímulo de ligação na superfície da célula, maior o número de segundos mensageiros que podem ser recrutados para essa sinalização no interior da célula. Essa intensidade de sinalização é que vai provocar a amplificação dos segundos mensageiros. Uma via comum é a ativação de fatores de transcrição no citoplasma, o que vai caracterizar a chamada fase citosólica da ativação de linfócitos. Em seguida, ocorre a chamada fase nuclear, onde os fatores de transcrição ativados são translocados para o interior do núcleo, onde reconhecem as sequências nucleotídicas necessárias para a ativação de genes. Esse processo de ligação, sinalização no citosol e ativação de genes no núcleo, vai levar às respostas funcionais, sendo as principais listadas a seguir: • Alterações de moléculas de superfície Quando um linfócito T começa a ser ativado, ele passa a expressar moléculas de CD40 ligante. • Aumento na produção de citocinas Principalmente de IL-2. • Aumento da expressão de receptores de citocinas Principalmente de IL-2. Vai ativar as proteínas do ciclo celular e vai entrar em mitose. • Expansão clonal Cópias fidedignas daquele linfócito que está sendo ativado. • Diferenciação em células T efetoras Com a capacidade de interagir, por exemplo, com macrófagos. • Desenvolvimento em células T de memória Sequência cronológica das principais modificações que ocorrem na superfície de uma célula T – respostas funcionais em horas e em dias após a estimulação via MHC-peptídeo e moléculas de coestimulação. Em questão de horas após o contato com a célula apresentadora de antígeno, a célula T virgem passa a expressar c-Fos, sendo considerada não mais uma célula T virgem, mas uma célula T que está sendo amadurecida, uma célula T madura. Logo após essa modificação, com a expressão do gene c-Fos, ela começa a expressar a citocina IL-2, e ao mesmo tempo, ela passa a expressar na sua superfície, a molécula CD69, que vai se ligar à matriz extracelular dos órgãos linfoides e vai reter a célula T imatura para impedir que ela faça a recirculação, ou seja, ela fica estacionada no órgão linfoide. Ao mesmo tempo, após a expressão da CD69, a célula passa a expressar o receptor de IL-2, sofrendo uma estimulação autócrina (a própria citocina que ela produz, a estimula a fazer as respostas funcionais). Logo após a expressão do receptor de IL-2, ela passa a produzir e expressar na membrana a molécula de CD40 ligante, o que faz com que o estímulo seja maior, pela ação da coestimulação. O resultado disso é a célula entrar em uma alta taxa de mitose, perceptível 3 dias após o início do estímulo (decai a partir daí pela expressão de CTLA4). Além disso, se não houver nenhum controle, esse processo pode gerar até um câncer, e por isso, as células T nessa sequência cronológica começam a expressar outras moléculas na sua superfície, como a molécula de CTLA4, que vai inibir esse processo de ativação e de sinalização no citosol, controlando então esse processo para que essas células não fiquem muito ativas – muita célula T = processo inflamatório muito intenso. Alterações na superfície da célula T após sua ativação: Uma peça fundamental nesse processo de ativação do linfócito T é a IL-2. Seu receptor é formado por duas cadeias, uma alfa e outra beta, e além disso tem uma cadeia complementar chamada de gama c, que é expressada também na superfície do linfócito T em processo de ativação. Dinâmica da ação da IL-2 sobre o seu receptor: A primeira etapa é a expressão da IL-2, e na superfície da célula a expressão do receptor com as cadeias alfa, beta e gama. À medida em que esses receptores são formados, a primeira sequência de receptores tem uma afinidade menor pela interleucina, e se o processo é estimulado com a participação da secreção de IL-2, começa a aparecer na superfície do linfócito T um receptor de maior afinidade pela IL-2, formando-se o que é conhecido como complexo de alta afinidade. Nessa situação é que vai ocorrer a proliferação de linfócito T induzida pela IL-2. Outro aspecto relacionado ao controle da resposta de linfócitos T, é que ao mesmo tempo em que as células T estão sendo estimuladas por uma célula apresentadora de antígeno, fazendo uma resposta funcional, a produção de IL-2 estimula uma outra população de linfócitos T – células T regulatórias, que possuem um efeito inibitório sobre a produção de IL-2. Isso é importante para controlar a expansão da população de linfócitos T. A ativação dos linfócitos T ocorre principalmente nos órgãos linfoides secundários, com a participação de células dendríticas e moléculas de MHC-peptídeo estimulando o TCR na sinapse imunológica. Se esse estímulo for suficiente, a célula T começa a proliferar e vai se diferenciar em células efetoras, que podem ir para a circulação ou estimular linfócitos B no próprio órgão linfoide secundário. As células T efetoras que vão para a circulação vão parar no sítio de infecção, onde elas têm a capacidade de ativar macrófagos para a fagocitose. OBS.: A célula T virgem não expressa CD40 ligante, a célula T efetora sim (após estimulação pela célula dendrítica). Até agora foi falado sobre a ativação dos linfócitos T auxiliares, mas existem também os linfócitos T citotóxicos. O processo de ativação dos linfócitos T citotóxicos (em azul na imagem a seguir) ocorre de forma análoga ao processo de ativação dos linfócitos T auxiliares (em vermelho).Na imagem a seguir são representadas as seguintes etapas: I. Reconhecimento do antígeno – CD4+ (MHC de classe II) e CD8+ (MHC de classe I); II. Ativação dos linfócitos – CD4+ e CD8+, participação principalmente da IL-2 e do receptor de IL-2; III. Expansão clonal – CD4+ e CD8+; IV. Diferenciação – célula T CD4+ efetora e célula T CD4+ de memória, célula T CD8+ efetora (CTL) e célula T CD8+ de memória. A célula T CD4+ efetora vai ativar macrófagos no sítio de infecção, células B e outras, além de amplificar o processo inflamatório. A célula T CD8+ vai eliminar células-alvo infectadas e também vai ajudar a promover a ativação de macrófagos. OBS.: O processo inicial de ativação dos linfócitos T ocorre em órgãos linfoides, e as funções efetoras propriamente ditas vão ocorrer nos tecidos periféricos, onde vão estar os sítios de infecção. As células T efetoras reconhecem, portanto, antígenos em tecidos não linfoides, sendo essa a sua principal característica, e ajudam a debelar o sítio de infecção amplificando a imunidade inata, o que vai auxiliar no processo de eliminação do micro- organismo. A partir do momento em que o linfócito T é estimulado, ocorre efetivamente em seu interior a chamada sinalização intermediária: aparecem segundos mensageiros lipídicos como o inositol trifosfato (PI-3), começa a ter a ativação de algumas enzimas, principalmente as cinases, e começam a aparecer algumas enzimas intermediárias de acoplamento que também são fosforiladas. Uma enzima importante nesse processo é a RAS/MAP-quinase. A partir da sinalização de membrana, portanto, vai haver uma sinalização intermediária com a participação principalmente desses segundos mensageiros. Em seguida tem-se os efeitos funcionais: começam a ser expressados genes que vão levar à produção de proteínas do tipo BCL- xL e BCL-2 no núcleo, que são genes relacionados à sobrevivência da célula (células T imaturas tendem a viver menos). Genes de citocinas e receptores de citocinas começam a ser expressados, principalmente IL-2, importante para a proliferação celular. São expressas também proteínas de ciclo celular (ciclinas), e é diminuída a expressão de proteínas que inibem o ciclo celular, fazendo com que a célula entre em uma alta taxa de mitose. Aparecem outros mecanismos como a diferenciação para células efetoras e de memória. Marcadores de células T virgens, efetoras e de memória (fenótipos): Isso não é visto no microscópio, é usado o citômetro de fluxo, que faz a identificação automática desses fenótipos celulares.
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