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Gestalt-terapia: Uma Abordagem Psicológica Integrada

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	O Que é Gestalt-Terapia
	
	 
A Gestalt-terapia, sofrendo influências dos conceitos da Psicologia da Gestalt, incentiva a formação flexível de gestalt sucessivas, adaptadas à relação sempre flutuante do organismo como o meio, num ajustamento criador permanente. A gestalt-terapia poderia ser assim definida como a arte da formação de boas formas.
Pode-se considerar que a Gestalt-terapia germinou no espírito de Frederick Perls em 1940, na África do Sul. Quando imigrou nesta mesma época para a América com sua esposa Laura Perls, que era membro da escola Gestáltica da qual Perls sofreu grande influência, integraram-se a um grupo de intelectuais não conformistas com o sistema vigente, entre eles, o anarquista Paul Goodman, Isadore From, Paul Weisz e Ralf Hefferline.
A Gestalt-terapia fundamenta-se no Existencialismo porque muito próximo da Fenomenologia, absorveu o que a maioria das terapias existenciais considera importante, o encontro existencial interpessoal. Um encontro existencial visa a autoatualização e a gestalt-terapia considera todo o campo biopsicosocial, incluindo organismo/ambiente, como importante.
Pode ser considerado “existencial” tudo que diz respeito à forma como o homem experimenta sua existência, a assume, a orienta, a dirige. A noção de responsabilidade de cada pessoa que participa ativamente da construção de seu projeto existencial em sua relativa liberdade. 
(Ginger, 1987. p . 36)
Existencialismo como ética, sustentada pela liberdade, a ação da liberdade é um ato consciente, uma awareness, uma escolha.
A Gestalt-terapia é fenomenológica por ser centrada na descrição subjetiva do sentimento (awareness) do indivíduo. É mais importante descrever do que explicar: o “como” precede o “porque”. O essencial é o processo que está se desenvolvendo aqui e agora. 
Fenômeno é o que se torna luz, o que se apresenta, traduzido para a Gestalt é aquilo que damos significado, damos sentido ao mundo; sem consciência não há mundo e sem mundo não há o nós. O sujeito só percebe e dá significado se há intencionalidade, a subjetividade vai se constituir a partir desse movimento.
Com essa posição fenomenológica podemos justificar o “aqui e agora” da Gestalt-terapia. O presente é ao mesmo tempo o passado, o presente e o futuro. Neste momento estão minhas experiências, meu self, meus projetos. O passado está em mim, na minha fala, na minha respiração, nos meus movimentos e na minha expressão. O passado é reestruturado em cada momento existencial. 
Sua proposta é que cada pessoa atinja uma real percepção de si como um ser em relação, uma reflexão sobre o tipo de sociedade que vivemos e em que base ética estamos fundamentados.
Assim, a Gestalt-terapia não é uma terapia de ajustamento, mas de auto-realização. Crescer neste sentido é buscar desenvolver seus próprios recursos, dons e talentos especiais. Desta forma, o conceito de psicoterapia pode ser entendido e substituído pelo de crescimento. Ampliar a consciência é assumir e aceitar a responsabilidade por suas próprias escolhas; acreditando em nós mesmos podemos acreditar no outro e no mundo.
    Gestalt-terapia   
A Gestalt-terapia é uma abordagem psicológica que tem seu nascimento oficial marcado pela publicação, em 1951, do livro “Gestalt Therapy: Excitement and Growth in the Human Personality”, escrito por Frederick Perls, Ralph Hefferline e Paul Goodman. Este livro foi concebido em dois volumes, um apresentando os conceitos teóricos e o outro, os experimentos e aplicações práticas daqueles conceitos, mas apenas o volume com os conceitos teóricos foi publicado no Brasil em 1997. 
Frederick Perls, judeu alemão comumente chamado de Fritz, é visto como o principal criador da Gestalt-terapia, no entanto, muitos a consideram fruto, sobretudo, das discussões e produções do chamado “grupo dos sete”, do qual Fritz fazia parte, que era um grupo de intelectuais não conformistas que questionavam os códigos sociais vigentes na sociedade americana do pós-guerra e buscavam um estilo de vida e de expressão mais autênticos. 
Nasceu, então, no início da década de 50, mas foi principalmente a partir da década de 60, com o surgimento dos movimentos de contracultura, que a Gestalt-terapia encontrou espaço para se expandir, principalmente nos EUA, tendo em vista ter se criado o terreno propício para o desenvolvimento das suas idéias tão inovadoras e revolucionárias dentro do cenário psicoterápico da época. Aos poucos, foi se afirmando e exercendo atração em muitas partes do mundo.
Surgiu enquanto uma proposta clínica, mas, atualmente, vem sendo desenvolvida em outros campos de atuação do psicólogo, refletindo e acompanhando as diversas transformações que vêm ocorrendo no mundo ao longo dos tempos, principalmente em relação aos novos paradigmas das ciências, visto que ela oferece uma visão integrada dos fenômenos do Universo, ou seja, uma visão holística da realidade. 
Esta visão holística da Gestalt-terapia envolve compreender o homem, a natureza, o planeta, cada ser vivo, cada objeto ou fenômeno do Universo enquanto uma totalidade, ou seja, enquanto uma unidade indivisível, um todo que é muito maior que a soma de suas partes, pois só pode ser compreendido pelas interações entre as partes que o compõem. 
Assim, esta visão de que tudo no mundo encontra-se numa relação de interdependência e que, com isso, nada pode ser compreendido isoladamente, nos remete à palavra Gestalt, que, apesar de não encontrar equivalentes em outras línguas, significa estrutura ou configuração e envolve a idéia de totalidade e de organização. 
A Gestalt-terapia compreende, então, o homem enquanto uma totalidade, ou seja, um sistema integrado e organizado, uma unidade indivisível corpo/mente, onde não há separação entre as partes que o compõem, mas sim integração, correlação, organização e interdependência.
Dessa forma, não há no homem separação entre o seu sentir, o seu pensar e o seu agir. Sua mente, seu corpo e suas manifestações são partes de um todo, ou seja, são formas diferentes de expressão daquele ser humano e estão, portanto, integrados e contribuindo para a configuração desse todo. Assim, se algo muda em qualquer uma das suas partes, seja um aspecto emocional, mental, físico ou espiritual, o todo é reconfigurado, surge uma nova organização, uma nova gestalt.
Essa visão holística da Gestalt-terapia aponta também para uma compreensão do homem enquanto parte de uma totalidade mais ampla e mais complexa, que representa o contexto no qual ele se encontra inserido. Considerando, então, o homem enquanto um ser-no-mundo, um ser de relação, procura focalizar a totalidade da relação que o indivíduo estabelece com o seu meio. 
E esta relação indivíduo-meio é compreendida na Gestalt-terapia a partir das noções de singularidade, de liberdade e de responsabilidade, e a partir da crença no potencial criativo do homem, no seu poder de recuperação e de transformação, na sua tendência ao equilíbrio, à auto-regulação, ao crescimento, na sua capacidade de se construir e reconstruir na sua relação com o mundo, sem desconsiderar, contudo, os limites, as dores, os conflitos, as contradições, que essa construção pode envolver. 
Dessa forma, o método que o gestalt-terapeuta se utiliza para abordar a experiência humana implica em compreender o indivíduo como um ser uno, considerando, então, não somente o seu discurso, o seu corpo ou o seu comportamento, mas todas as manifestações de suas dimensões sensoriais, afetivas, intelectuais, corporais, sociais e espirituais, visando alcançar a totalidade e a singularidade da relação do cliente consigo mesmo e com o mundo, visando alcançar o verdadeiro sentido do seu viver. 
Assim, o gestalt-terapeuta vai ao encontro da realidade do cliente investigando as suas experiências da forma como elas acontecem e se processam. No entanto, o sentido dessa relação do cliente com seu meio será dado pelo próprio cliente; o terapeuta é apenas um facilitador nesse processo de investigação, de compreensão deste sentido. 
Para isso, o gestalt-terapeutautiliza um método descritivo e não explicativo, ou seja, procura investigar o que está acontecendo com o cliente e como está acontecendo, procurando, através de uma postura interessada, presente e acolhedora, sem “a prioris”, colocando de lado os julgamentos, os conhecimentos anteriores, os pré-conceitos, focalizar aquilo que o cliente manifesta no momento presente, no aqui-agora da relação terapêutica.
Com isso, o terapeuta procura facilitar o processo de auto-conhecimento do cliente, o processo de conscientização sobre si mesmo na relação com o mundo, de forma que ele possa conhecer e experimentar aquilo que ele está podendo ser naquele momento, conhecendo tanto os seus recursos, suas habilidades, como os seus impedimentos, as suas dificuldades, ou seja, tanto aquilo que é saudável quanto o que não é saudável na busca pela satisfação das suas necessidades na relação com o mundo.
Além disso, a Gestalt-terapia acredita numa sabedoria organísmica, ou seja, acredita que quando o indivíduo encontra um ambiente e relações favoráveis, confirmadoras e não judicativas, ele tende naturalmente ao crescimento e desenvolvimento de suas potencialidades, tende a realizar novas e melhores escolhas no seu processo de construção e reconstrução de si mesmo e da sua vida. 
A Gestalt-terapia dá, portanto, uma grande ênfase à relação terapêutica, pois ela representa um micro-cosmo onde o cliente, a partir do ambiente favorável, seguro, e confirmador que é fundamental que o terapeuta favoreça, poderá experienciar aquilo que ele é, assim como novas formas de interação, novos sentimentos, novos comportamentos, novas percepções, e, assim, caminhos mais satisfatórios na sua relação com o mundo e consigo mesmo, de modo a conquistar o seu bem-estar e uma melhor qualidade de vida.
O QUE É GESTALT TERAPIA 
Entrevista com Marisa Speranza 
Psi On-line: fale-nos um pouco sobre a linha em que você atua.
Marisa: A Gestalt-terapia surgiu sob a influência de vários conceitos teóricos, tais como a Psicanálise, a Terapia Reichiana, o Existencialismo/Fenomenologia e Humanismo, a Psicologia da Gestalt, a Teoria de Campo de Kurt Lewin, o Zen Budismo, a Teoria Dialógica de Martin Buber e outros e, atualmente, é uma força importante no movimento das psicoterapias.
O cliente que nos procura é tratado em sua singularidade, prestando-se mais a atenção no "como" do que no "porquê" dos conteúdos que aparecem. Enfatiza-se o contato que o cliente estabelece com ele próprio, com o terapeuta sob a luz do diálogo único mantido entre ambos e o contato interpessoal no grupo/família. São relevantes para a Gestalt-Terapia, no processo fenomenológico, as percepções e as sensações que pulsionam as transformações de ambos, terapeuta e cliente. Na tomada de consciência, no continuum da awareness, o objetivo é restabelecer o diálogo que é e/ou foi interrompido na história da pessoa. A leitura desse diálogo se dá no vínculo da relação terapêutica.
Enfim, é importante ressaltar a busca dos recursos internos e potencialidades do cliente, tornando-o mais espontâneo e coerente; e a (re)significação de seus próprios valores e crenças. Em Gestalt-terapia tudo é movimento e criação.
PO: Conte-nos um pouco sobre a origem da gestalt-terapia e quem são os principais representantes desta abordagem.
Marisa: Os primeiros nomes associados à Gestalt-terapia são Fritz Perls, Ralph Hefferline, Paul Goodman e Laura Perls. Contudo, Fritz Perls foi quem cunhou o termo gestalt-terapia.
Fritz Perls era psicanalista, havia sido cliente de Wilhelm Reich e recebeu influência de nomes como Karen Horney, Otto Rank, Friedlander, Buber entre outros. A Gestalt-terapia se originou como oposição à forma como a Psicanálise tratava o cliente com seu modelo de positivismo newtoniano. Fritz construiu um modelo de terapia mais humano, em que as influências dos existencialistas e humanistas foram decisivas nessa escolha. Na abordagem gestáltica, o ser humano é visto como único, dotado de criatividade e movimento próprios. A Gestalt-terapia, cuja melhor tradução é terapia da forma, diz que todas as forças dentro e no campo interagem entre si, dando sentido próprio ao que a pessoa pensa e sente. O emergente, no processo de terapia, encontra-se no aqui e agora, e passado, presente e futuro apenas se relacionam e só fazem sentido se a pessoa assim o quiser. 
PO: Qual a principal característica desta linha?
Marisa: A principal característica dessa linha é o Diálogo, a interação Terapeuta-Cliente. O foco está no processo e na experienciação. A comunicação entre duas ou mais pessoas que são diferentes se dá na medida em que tenham o desejo por essa interação e, juntas, aprendam a criar essa possibilidade, estreitando seu vínculo de intimidade e respeito, o que leva ao processo de crescimento do cliente. Contudo, isso somente se dará se houver segurança quanto ao modelo ético pré-estabelecido. A Gestalt visa a trazer à tona as potencialidades do cliente e, com isso, aumentar seus recursos criativos e melhorar sua forma de resolver seus problemas e conflitos. Enfim, torná-lo mais objetivo, sem precisar manipular seu ambiente de uma forma disfuncional para atender a seus desejos e necessidades. 
PO: Em que ela se diferencia das demais correntes?
Marisa: Todo modelo de terapia tem como objetivo auxiliar o cliente e compreendê-lo. Na minha prática clínica, sei que já "ajudei" muitas pessoas e outras não pude. Creio que determinados modelos de terapia atendem a necessidades específicas. As pessoas que a procuram, na maioria das vezes, o fazem com base em sua queixa e/ou carência. Existem pessoas que precisam de um modelo psicanalítico. Outras, se sentem mais soltas e mais "produtivas" num processo de abordagem corporal/gestalt e existencial. De qualquer forma, o cliente precisa ser respeitado em sua singularidade e tempo. A demanda do cliente precisa ser reconhecida e o terapeuta precisa estar atento à sua "capacidade" de ajudar àquela pessoa, se tiver havido empatia inicial necessária para se começar a desenvolver um trabalho em conjunto.
PO: De que outras correntes a sua se aproxima?
Marisa: Acredito que esteja mais próximo da abordagem humanista / existencialista e das terapias corporais. Quero ressaltar que a Psicanálise é muito importante para o Psicólogo clínico. É de suma importância que possamos estudar Freud/Ferenczi/Reich e outros brilhantes psicanalistas que muito contribuíram para o nosso conhecimento, assim como outros nomes de outras abordagens. Seja concordando, discordando ou até mesmo me opondo de forma criativa, terei que ter um compromisso com o cliente de me utilizar de todas as ferramentas de que disponho para poder auxiliá-lo nessa travessia tão difícil e importante para ele.
PO: Quanto tempo duram as sessões?
Marisa: As sessões individuais duram em média 50 minutos e as sessões em grupo/família e casal, em média 1h 30minutos. O número semanal de sessões variará de acordo com a necessidade do cliente. 
PO: Há um tempo médio de duração da terapia nesta abordagem? 
Marisa: Depende da demanda de cada cliente, de seu objetivo. Algumas pessoas procuram terapia quando estão sofrendo de um "mal" específico, porque, por exemplo, perderam algo ou alguém importante. Enfim, quando os recursos próprios já não se mostram mais eficazes na resolução de conflitos. Outras, porque sentem um desejo genuíno de se conhecerem mais e se expandirem. Há ainda as que apresentam as duas motivações citadas. De qualquer forma, acredito que cabe ao cliente decidir quando parar seu processo, de forma responsável e consciente de seu self-suporte. Cabem ao terapeuta as considerações pertinentes e, aos dois juntos, estabelecerem a melhor forma de se desvincularem. 
PO: Em que regiões do Brasil, esta abordagem tem mais representantes?
Marisa: Acredito que seja no Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia e Florianópolis.
PO: Há algum caso específico em que você ache esta linha mais "eficiente" ?
Marisa: Acredito que toda pessoa possa de se beneficiar da terapia em Gestalt desde que tenha a compreensão necessáriado método.Isso não quer dizer que tenhamos um modelo rígido, até porque o terapeuta experiente, que está em contato com sua própria awareness, é capaz de modificações que melhor atendam à personalidade total do cliente.Contudo, é completamente necessário que o terapeuta tenha conhecimento de psicopatologia e de teoria da personalidade para saber discriminar algumas propostas de trabalho que sejam mais eficazes com o cliente.
PO: Alguma área em que a linha não é recomendada / não é considerada "eficaz"?
Marisa: O trabalho com pacientes que tenham desordens mentais e são severamente desorganizados requer muita paciência, disponibilidade interna, cautela, conhecimento e prática clínica por parte do terapeuta. Caso seja necessário, é importante o acompanhamento por parte de um psiquiatra e/ou neurologista para melhor suporte ao cliente.
Entrevista concedida por Marisa Speranza a PsiOnline, página do site da psicóloga Thays Babo - http://www.analista.psc.br 
Rua Conde de Bonfim, 370, sala 810 
CEP: 20520-054 
Telef: (21)7866-7811
E-mail: psiesaude@psicologiaesaude.com.br 
Sonho em Gestalt – Terapia Breve:
Uma Vivência no Aqui e Agora
 
Jônatas Dias Teixeira
 
 
Sobre o Autor 
 
Página principal da revista
 
Artigo apresentado à Universidade Paulista como requisito parcial à conclusão do Estágio Supervisionado I, na Área de Atendimento Breve a Adulto e Adolescente. Sob a supervisão da Prof. Ms. Maria Aparecida Silva Dias Vieira. Goiânia, Junho,2005
 
Resumo
 
Este artigo teve como objetivo explicitar a importância do trabalho com os sonhos em Gestalt-Terapia Breve, tendo Perls (1966) como o precursor dessa área de estudo. Enfatizando como é possível trazer os possíveis conflitos, interiormente vivenciados pela cliente, ao aqui e agora, à realidade atual. Para que assim possa entrar em contato com esses conflitos e dar significado as diferentes partes desses sonhos que, segundo Perls, seriam partes do próprio eu da pessoa. Fez-se isso através da exposição e subseqüente dramatização do sonho de uma jovem, que se submeteu à psicoterapia breve durante dois meses, sendo duas horas semanais. A cliente obteve reflexões muito proveitosas a respeito de sua vida atual e de como agir futuramente. Pôs-se ênfase também na carência não só de material disponível como de práticas, muitas das vezes não publicadas, o que resulta em uma certa escassez de bibliografias baseadas em trabalhos recentes sobre este tema. 
 
Palavras – Chave: Gestalt-Terapia; Dramatização do sonho; Escassez de publicação sobre sonhos.
 
Abstract
 
This article have as objective shows the importance of the work with dreams in Gestalt-Therapy Brief, having Perls (1966) as the pioneer of this study’s area. Emphasizing how is possible bring the possible conflicts, inside living by the client, here and now, in the current reality. To therefore could enter in contact with theses conflicts and give signification to the different parts of these dreams that, according Perls would be parts of the own I of the person.Made that through the exposition and subsequence dramatization of girl’s dream, which submitted to psychotherapy brief during two months, being two hours on week.The client has reflections very benefits about her current life and how acts in future. Have emphasis also in lack not only of material available of practices, a lot of times not published, what result in a kind of bibliography’s shortage based in recently works about this subject.
 
Key words: Gestalt-Therapy; Dream’s dramatization; Shortage publication about dreams. 
 
 
Introdução
 
O movimento Gestáltico surgiu na Alemanha, por volta de 1910 a 1912. Max Wertheimer (1910), um alemão, foi um dos pioneiros na elaboração dos conceitos da Psicologia Gestáltica. Estes conceitos foram, posteriormente, ampliados por Kurt Koffka e Wolfgang Köhler, que foram os sujeitos de experimentos da Gestalt.O ponto de partida da Gestalt foi o estudo da percepção, mais especificamente o estudo da percepção visual do movimento.
A escola de psicologia que desenvolveu estas observações é chamada Escola Gestáltica. Gestalt é uma palavra alemã para a qual não há tradução equivalente em outras línguas. Uma Gestalt é uma forma, uma configuração, o modo particular de organização das partes individuais que entram em sua composição.
A premissa básica da Psicologia da Gestalt é que a natureza humana é organizada como um todo, onde suas partes, ou seja, o meio, as relações interpessoais, sua vida interior, tem suas particularidades e influencias neste todo. No entanto, a soma dessas partes não refletem necessariamente esse todo. A experiência é vivenciada pelo indivíduo nestes termos, e só pode ser entendida como uma função das partes ou todos dos quais é feita.
“É de extrema importância aqui frisar que há uma diferença entre a Psicologia da Gestalt, que enfatizou, sobretudo, o estudo das percepções e chegou à conclusão de que a percepção era um fenômeno total e não a soma de elementos isolados, e a Gestalt Terapia, que tem a Psicologia da Gestalt como uma das teorias que a embasam, porém tem fins terapêuticos. Foi essa a contribuição adicional de Frederick Perls (n.d) para a Psicologia da Gestalt.”( Perls n.d., citado por Wallen,1980, p.19 ).
Para a Gestalt-Terapia, é importante que o cliente seja tratado como um ser digno de confiança, isto é, responsável por si mesmo, pois, se escolhe ser o que é, é uma totalidade que pode ser integrada, voltado para a consciência, auto-regulado, em permanente energia de auto-realização e presentificação, e em busca de dar um sentido às suas percepções, às suas experiências, à sua existência.( Ribeiro, 1999).
Sendo assim, a Gestalt-Terapia formou sua base conceitual, para ser aplicada na prática psicoterápica, fazendo uma integração entre idéias de várias correntes teóricas que poderiam ser úteis. 
Do Humanismo, onde se tem Sartre (1978) como um dos principais representantes, a Gestalt-Terapia aproveita a idéia de que o homem é responsável por suas escolhas, se escolhe ser o que é. Portanto, compartilha a idéia de que o cliente é o principal responsável por sua vida e as escolhas que faz durante ela.
Do Existencialismo, sobretudo do existencialismo ateu, que acredita ser o homem responsável pelo que é, o qual entra um pouco em desacordo com Kierkegaard (1979), porém não convém explicitar aqui tais diferenças, adota a visão de um cliente como realmente responsável pelo que é.
Assim, um cliente pode e tem capacidade de assumir a responsabilidade do seu modo de ser e dos seus atos no mundo em que vive, nos seus mais diferentes aspectos. 
Da Fenomenologia, que tem Husserl (1980) como pioneiro, com sua proposta de suspensão de todos os juízos sobre os objetos que o cercam, e de um ser em relação com o mundo, a Gestalt-Terapia formula seu método de ação, ao lidar com o cliente.Esse método direciona o terapeuta a abster-se de qualquer juízo sobre o cliente, qualquer pré-conceito e tratá-lo sempre como um ser de relações no meio, não isolado.
No que diz respeito à Psicanálise, Perls (1969), como fundador da Gestalt-Terapia, desconsidera, reformula e critica vários dos seus conceitos. Dentre eles, a forma de tratar os sonhos dos clientes na psicoterapia. A Gestalt-Terapia trabalha com os sonhos no presente, convidando o cliente a vivenciá-lo no momento atual.
“Da teoria de Reich, simpatiza-se com a ênfase dada na postura corporal mais solta.”( Reich, citado por Ribeiro, 1985,p.54). A Gestalt-Terapia busca propiciar uma visão do cliente como um todo, em que as partes tem seus significados particulares relacionadas a estes, como o corpo por exemplo.
Da Psicologia da Gestalt, a Gestalt-Terapia aproveitou e utilizou a noção de todo como forma de ver e trazer o cliente para o presente e de vê-lo como um ser de interação constante.
Em relação à Teoria de Campo de Kurt Lewin (1973), houve uma consideração da idéia de que o homem sofre fortes influências do meio e também interfere neste. A Gestalt-Terapia recebe o cliente comoum ser em interação constante com o meio, porém, também responsável pelo que é.
Com a Teoria Organísmica (1939), compactuou da idéia de ver o organismo como um todo, e não só pelas suas partes. A Gestalt-Terapia não trabalha apenas com o sintoma do cliente más com o como ele vivencia isso em diferentes contextos.
O Taoísmo de Lao Tse (1990), é aproveitado pela Gestalt-Terapia por ter uma concepção de homem que para se realizar deve tornar-se integrado, isto é, suas forças conflitantes devem ser trazidas a balanço e harmonia. A Gestalt-Terapia também procura promover essa integração no aqui e agora.
Do Zen Budismo, a Gestal-Terapia tira a visão de procurar sempre ver o cliente com um olhar novo, de forma que suas pré-concepções sejam constantemente deixadas à parte no momento de olhar novamente para o fenômeno. 
Portanto, na Gestalt-Terapia, a pessoa é pensada no campo, no qual pessoa e meio são realidades interdependentes. Na prática, podemos pensar pessoa e meio como figura e fundo de uma única realidade ( Ribeiro, 1999).
A finalidade da psicoterapia é, prioritariamente, liberar e liderar as forças preservadas da personalidade e não a de debelar sintomas. É importante que a pessoa encontre sua capacidade de fluir, de ser espontânea, porque essas capacidades pertencem à natureza da pessoa, pois provém de um mecanismo inato no ser humano, que é o de auto-regular-se. Ser harmonicamente com o meio circundante ( Ribeiro, 1999).
Dentro do vasto campo da psicoterapia, mais especificamente da Gestalt-Terapia, desenvolveu-se também a psicoterapia breve ou de curta duração, que parte da reflexão da pessoa como um ser que se locomove e se comunica dentro de seu espaço vital, aquém e além de suas próprias fronteiras, num movimento permanente de fluidez, elasticidade e plasticidade, onde pode escolher e agir.
Gestalt-Terapia individual de curta duração é um processo no qual cliente e psicoterapeuta se envolvem em soluções imediatas de situações de qualquer ordem, vividas pelo cliente como problemáticas, utilizando de todos os recursos disponíveis, de tal modo que no mais curto espaço de tempo o cliente possa se sentir confortável para conduzir sozinho sua própria vida (Ribeiro, 1999, p.136). 
A psicoterapia breve significa que temos de atuar influenciando os sintomas e o todo do paciente num curto prazo para que ele se torne capaz de agir por conta própria. Ela é uma técnica baseada em ideologia e princípios próprios. É breve porque o cliente deseja respostas mais rápidas.
Para isso, é preciso que se atente para certos procedimentos de como torná –la mais eficaz. Esses procedimentos estão em íntima relação com a visão de pessoa que embazeia a Gestalt-Terapia. O cliente é sempre a figura principal, mesmo havendo grandes diferenças entre cliente e terapeuta e ainda que conservem sua individualidade. O terapeuta desenvolve um papel ativo e presente, sem jamais substituir a opção livre do cliente.
Segundo Ribeiro (1999), algumas atitudes são de grande importância para um começar e desenvolvimento satisfatório em Gestalt-Terapia, tais como: Examinar cuidadosamente o processo pelo qual a pessoa passa, a fim de avaliar a possibilidade ou não de começar um trabalho de curta duração; estabelecer com o cliente um plano claro de trabalho a partir de uma conversa livre e direta cobre a questão a ser trabalhada; utilizar todos os recursos à sua disposição e do cliente a fim de facilitar e apressar o processo de mudança; conduzir o processo terapêutico como uma totalidade mente – corpo – mundo em ação; centrar-se tanto na experiência imediata da pessoa quanto na sua, de maneira clara, direta, precisa, sem subterfúgios; não se aprisionar as teorias, agindo na mais direta conexão com o cliente, atento às necessidades imediatas dele; e agir com humildade, sabendo que a perfeição psicoterapeutica é um ideal e os resultados são apenas uma gota d’ água na imensidão do que significa ser pessoa. 
A grande arte da psicoterapia de curta duração é funcionar, agindo imediatamente na totalidade a partir das informações mandadas pelo sintoma, não o perdendo de vista em nenhum momento ( Ribeiro, 1999).
Assim, o cliente, em suas mais variadas formas de comunicação, utiliza-se de maneiras diversas para expressar o que vem sendo vivenciado no seu dia-a-dia. Uma dessas formas de expressão, por sinal, muito interessante, é através do relato de um sonho.
Freud (1900), se referiu aos sonhos como uma realização disfarçada de desejos reprimidos, desenvolvendo assim técnicas de interpretação. Em outro momento, Freud ( 1915), se referiu aos sonhos como uma reação a um estímulo que perturba o sono.
Por ora, é pertinente ressaltar e enfatizar algumas diferenças básicas nas formas de trabalhos com os sonhos entre Freud (Psicanálise) e Perls (Gestalt-Terapia). Freud (1900), tratou os sonhos como mecanismos inconscientes, frutos de relações passadas, de desejos que foram reprimidos no passado e que vem a tona no sono. Sua técnica de investigá-los era a interpretação, carregada de sugestões próprias sobre o que o cliente trazia. 
Já Perls (1966), tratou os sonhos como atividades espontâneas, frutos e reflexos de vivencias atuais, expressão do que se vive agora. Sua técnica para investigá-los era a dramatização, proporcionando com que o cliente revivesse seu sonho. Não era tratado como conteúdos do passado e não fazia interpretações, o cliente era estimulado a achar o seu significado no presente.
Perls (1966), relata nunca saber o que é o inconsciente, mas sabe que o sonho é definitivamente, a produção mais espontânea que temos. Acontece com a nossa intenção, trabalho ou deliberação.
Segundo Perls (1966), se alguém quiser trabalhar com os próprios sonhos, que faça-no em conjunto com outra pessoa, porque, perto do ponto de angústia a pessoa ficará fóbica. Tentará evitar, fugirá, ficará subitamente sonolenta ou descobrira que tem alguma coisa muito importante a fazer.
“Notarão que quem trabalha sobre os sonhos da maneira que eu sugiro, isto é, sem interpretações, sem interferência do vosso computador, os órgãos de pensar, deriva um grande proveito disso.”( Perls, 1966, p.272).
A técnica utilizada por Perls (1966), para se trabalhar com os sonhos consiste em fazer o sonho acontecer novamente. Pede-se para o cliente que conte o sonho primeiro, normalmente, do jeito que lhe venha à memória. Após terminar de contar, deixa-o livre para escolher o que quer trabalhar no sonho. Decidido, pede-se ao cliente que conte novamente o sonho, mas desta vez, narrando no presente do indicativo, como se estivesse acontecendo no momento. 
Começa-se a psicodramatizar, incentivando o cliente, no decorrer de sua narração, a tomar o lugar dos vários personagens do seu sonho, um a um, independentemente de personagens inanimados ou com vida. É proposto, a todo tempo, que fale, se manifeste, expresse seus sentimentos, movimentos, pensamentos, a respeito do papel que está desempenhando no momento. O psicoterapeuta se mantém o tempo todo ativo, interrogando, fazendo comentários pertinentes, incentivando o cliente no desempenho dos papeis. No fim, é o cliente que será o responsável para dar significados aos diversos papeis desempenhados. O psicoterapeuta apenas o ajuda nesse processo.
Demonstramos, como se vê, que todas as partes diferentes, qualquer parte de um sonho, é a própria pessoa, é uma projeção do seu eu. Se há aspectos incompatíveis, aspectos contraditórios, e os usamos para lutarem entre si, voltamos de novo ao eterno jogo do conflito interno. Em todos esses encontros, observamos que as duas partes são usualmente hostis, no começo. Mas se trabalharmos o tempo bastante, então chegaremos a um entendimento e a uma apreciação das diferenças. ( Perls, 1966, p.281).
Pouco se tem falado e trabalhado na área dos sonhos em Gestalt-Terapia, se não na prática em si, ao menos no que diz respeito a publicações, o que reflete em bibliografias escassas, ficando este tema entregue, quase que unicamente a trabalhos realizados por Frederick S. Perls. Daí a relevância deestar se dedicando a este trabalho, tão rico em propiciar a vivencia e esclarecimento de conflitos internos até então ocultos. Essa relevância ocorre não só a nível clínico individual, mas a nível de publicação.
O objetivo do presente artigo foi expor, de forma sucinta e mais clara possível, o trabalho realizado através do sonho de uma jovem, em Gestalt-Terapia Breve, onde se pôde trazer para o momento atual da vida da mesma, reflexões que até então não haviam sido feitas e que, por conseguinte, ajudaram-na muito na compreensão de si mesma.
Também houve aqui a intenção de divulgação de um trabalho com sonhos em Gestalt-Terapia, dada a inconstante publicação de trabalhos nesta área e ao sucesso da terapia realizada, tanto para a cliente quanto para o terapeuta.
 
Método
 
Fez parte deste trabalho, uma cliente adulta, com 25 anos de idade, de classe média baixa, solteira, sem filhos, com ensino médio completo, atualmente, trabalhando como secretária, escolhida aleatoriamente, por uma supervisora responsável pelas fichas de triagem, na presença do estagiário, de acordo com a prioridade na fila de espera.
	Todas as intervenções terapêuticas foram realizadas em sala para atendimento individual, com um tamanho em torno de três metros quadrados, com cadeiras, uma mesa, um ventilador, janelas largas, e uma perciana. Para auxiliar na intervenção, os instrumentos usados foram: Texto de técnicas de relaxamento, criadas por Dennis Greenberger e A. Padesky (1995), e técnica de dramatização do sonho no momento presente, criada por Frederick S. Perls.
Após passar por três atendimentos no plantão psicológico, A. foi encaminhada para o atendimento breve e foi dado início ao processo psicoterápico. Ao todo, foram oito sessões, com duração de 50 minutos cada, num período de três meses. 
A. começou trazendo várias dificuldades que vem enfrentando desde a morte da avó e subseqüente separação do namorado. Dificuldades como: se sente muito insegura, muito ansiosa, se sente rejeitada pelos homens, devido ao fato de ter sido trocada por outras mulheres e por eles não se aproximarem, sente muita falta de ar e falta da avó, e se cobra muito. Durante as sessões, foram sendo trazidas várias dessas dificuldades e, dentre elas, A. trouxe um sonho que teve com a avó, e se dispôs à investigá-lo mais detalhadamente.
No sonho, relatado, A. chega em uma sala de hospital, onde sua avó já não está mais deitada como antes, está sentada numa maca, aparentemente melhor, em silêncio. Quando A. se aproxima, também em silêncio, cai no chão e fica desacordada, em seguida o sonho acaba. Foi pedido a A. que narrasse o sonho acontecendo no momento presente, vivendo-o no agora, no papel que se encontrava no sonho. A. narrou, vivenciando. Em seguida, foi proposto a A. que narrasse agora na posição de sua avó. A. narrou novamente. Foi perguntado a A. se ela queria dizer algo a sua avó, no sonho. A. respondeu que sim. Logo, foi convidada a dizer o que não havia dito no sonho, como se sua avó estivesse ali no momento. A. começou a chorar profundamente, dirigiu o olhar para o terapeuta, como se fosse sua avó, e disse que a ama muito, se sente muito sozinha, muito insegura sem ela, que prefere estar no lugar dela, e que só está ali no consultório de um psicólogo porque ela se foi. Após um longo período com A. chorando, lhe foi proposto que entrasse no papel da Avó e dissesse para a A. o que não disse no sonho mais gostaria de dizer agora. A., no papel da avó, disse para A. ser forte, ir atrás de seus objetivos, confiar mais em si mesma, e ser mais segura.
Assim, as sessões seguiram com o terapeuta, junto com A., trazendo esses diferentes papéis do seu sonho para o momento atual da sua vida, como conflitos internos a serem resolvidos, e estimulando sua autonomia e tomadas de decisões atuais.
A. foi convidada a fazer uma auto-avaliação de suas diferentes maneiras de agir no dia-a-dia e como poderia mudar o que estava lhe incomodando. A. Chegou à conclusão de que precisa ser mais segura e afirmou que vai pensar mais no agora em vez de querer prever o futuro, para se tornar mais segura de si. Afirmou que vai chegar até os homens em vez de esperá-los e que vai esquecer mais a avó e cuidar da sua vida.
Resultados 
 
Os resultados que foram alcançados com essa psicoterapia breve foram poucos comparados com o que A. ainda vai alcançar ao longo de sua vida. O que se pode frisar aqui é que A., sem soma de dúvidas, passou por um processo impar de auto-reflexão, auto-avaliação de sua vida como um todo. 
Tornou-se consciente de que é realmente capaz de tornar-se mais segura de si, pensando mais nas suas realizações atuais e nas coisas boas que podem lhe acontecer em vez de enfatizar as más. Que o estar sozinha depende de sua ação para ser invertido. Decidiu lutar contra o pensamento de querer estar no lugar da avó. Em fim, A. se sentiu muito contemplada com a psicoterapia e acredita fielmente em seu sucesso com o decorrer do tempo, assim como o terapeuta.
Portanto, é realmente muito importante que se veja o cliente como um todo, como um ser em contínua interação entre o individual e o social, como já dizia Kurt Lewin (1937). Sobretudo no momento de escutar o sonho de A. isso foi crucial.
Importante foi também me abster de qualquer pré-julgamento como defende a fenomenologia de Husserl (1980), para escutar as várias partes do sonho de A. sem interferência das minhas interpretações, como nos relata muito bem Perls (1966).No entanto, há que se dizer aqui também que houve uma certa dificuldade da parte de A. em entrar no jogo de dramatização, o que me levou a suspeitar que com alguns clientes essa técnica dos sonhos possa ser inviável. É pertinente enfatizar também que muito pouco material tem se produzido hoje em dia sobre sonhos em Gestalt-Terapia, sendo a sua maioria ainda trabalhos produzidos por Perls (1966). 
 
Conclusão
 
Pôde-se explicitar através deste artigo, o quanto trabalhar com sonho em Gestalt-Terapia Breve é de extrema relevância para, junto com o cliente, trazer mudanças à sua vida, de forma que o possibilite conduzi-la com autonomia. Através de um único sonho relatado pela cliente foi possível proporcionar reflexões em sua vida nos mais diversos aspéctos, sociais, profissionais, individuais, emocionais, intelectuais, acontecimentos do passado, presente e futuro.
Concluiu-se que o trabalho com os sonhos em Gestalt-Terapia não é uma prática de investigação e interpretação de momentos passados da vida da cliente, como nos foi legado pela Psicanálise, a qual ainda é uma das principais referências no que diz respeito a sonhos. 
Pelo contrário, ficou evidente que pela vertente Gestáltica o trabalhar com sonhos se fás sem interpretações do terapeuta, porém, com uma postura ativa e questionadora, e enfatiza-se o momento atual da vida da cliente, englobando o todo e o particular, dando-lhe condições para se responsabilizar por sua vida de maneira ativa e transformadora.
Foi possível concluir que trabalhando com os sonhos da forma como Perls (1966) desenvolveu, frisando o presente, foi extremamente pertinente e satisfez as expectativas de uma terapia breve, onde se fás necessário uma promoção de mudanças mais rápidas e práticas. A cliente sentiu-se muito beneficiada, e desenvolveu através de esforços próprios uma maior capacidade de gerar mudanças em sua vida. 
 
Referencias Bibliográficas
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Rio de Janeiro: Zahar Editores. 
 
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Freire, J. R. (1998). Raízes da Psicologia. In I.R.Freire, A Gestalt. (pp.115-121). Petrópolis: Editora Vozes.
 
Perls, F. S. (1977). Gestalt-Terapia Explicada (2° Ed.). (G. Schlesinger, Trad). São Paulo: Summus Editorial.
 
Perls, F.S. (1981). A Abordagem Gestaltica e Testemunha Ocular da Terapia (2° Ed.). (J. Sanz, Trad.). Rio de Janeiro: Zahar editores.
 
Ribeiro, J. P. (1999). Gestalt-Terapia de Curta Duração (2° Ed.). São Paulo: Summus.
 
Ribeiro, J. P. (1985). Refazendo um Caminho. São Paulo: Summus. 
 
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Suzuki, D.C. (1969). Introdução do Zen-Budismo. São Paulo: Pensamento.
 
Tse, L. (1990). O Livro do Caminho Perfeito. São Paulo: Pensamento.
 VIDEOS
http://www.youtube.com/watch?v=k28sm8N1QV0 
http://www.youtube.com/watch?v=3QVEwpVxUKE

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