Buscar

A Estória do Severino e a História da Severina

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

A Estória do Severino e a História da Severina: um ensaio de Psicologia Social.
Pontos importantes.
Sobre Severino
A análise é feita a partir do poema “morte e vida Severina” de João Cabral de Melo Neto. O poema se inicia com Severino se apresentando pelo seu nome, o único que lhe foi dado, e com o qual ele mostra sua identidade, mas só isso não é suficiente. Ele então usa o nome da mãe e do pai (Maria e Zacarias), definindo assim uma posição social: ele se encontra em uma família determinada. Mas através dessa busca pela diferença ele acaba se tornando igual, pois diz que como ele, outros severinos podem ser filhos de Maria e Zacarias e morar na mesma região. Ele tenta, então, se descrever através de seu corpo, mas é também em vão. Vida e morte serão igual e tudo parece igual no presente, passado e futuro. Nada o singulariza. 
O poema então se modifica. Severino deixa de ser lavrador e vira retirante, e, a sua volta, só vê morte enquanto ela procurava por vida. Nessas terras, só quem ajuda a morte sobrevive. Ele escuta dois coveiros conversando e percebe que ele é um morto ainda vivo. Ele se recusa a permanecer nessa alternativa, e, então, migra com a intenção de encontrar condições que lhe permitam ser outro. A verdade está no significado que atribui a sua condição, produzindo uma nova identidade. 
Severino se vê diante de um nascimento, e com isso ele pode encontrar condições para se identificar como ser humano. Tudo que até então ele nunca havia encontrado surge agora diante de seus olhos: alegria, animação, entusiasmo, solidariedade, amizade, confiança no futuro, beleza, força, transformação, saúde, etc. É como se o nascimento da criança transformasse toda a realidade da comunidade, levando embora toda a tristeza. A solidariedade e a amizade não são impedidas pela pobreza; os amigos trazem presentes para o bebê. A comunidade agora possui vida, possui relações sociais. Duas ciganas prevem o futuro da criança: um como pescador com lama da cara aos pés ou homem de oficio/fabrica sempre sujo de graxa. Há a possibilidade de um futuro melhor. Um recém nascido com duas possíveis identidades e essas possibilidades dependem de condições objetivamente dadas/expectativas. Entretanto, se essas alternativas forem impedidas de se concretizar, elas estariam expressando a desumanidade de seu tempo e sociedade. O que caracteriza esse bebê é a plasticidade, o que ele pode vir a ser. Identidade humana é vida; e tudo que impede a vida impede que tenhamos identidade humana. Podemos entender que o desejo de Severino de buscar vida é o desejo de buscar concretizar a identidade humana. O contato com José lhe mostrou outras possibilidades, mas o que foi decisivo foi o nascimento da criança e principalmente as ações da comunidade em torno do evento do nascimento. Severino encontrou o que buscava: vida! Ter uma identidade humana é ser identificado e identificar-se como humano.
Sobre Severina
Severina é uma pessoa real, aqui chamada assim para que seu nome verdadeiro não seja revelado; ela contou sua historia ao autor. Nasceu no sertão baiano, morou numa palhoça e ficou lá até seus 11 anos, quando se mudou para Salvador. Ela começa sua descrição a partir do lugar de onde veio, suas condições de vida e sobre seus pais (seu pai era ruim que batia nela e na mãe, e a mãe era uma pessoa rude). Ela diz que não teve infância e que esse período foi marcado por muita violência e sofrimento, e num desses episódios resultou na morte de uma irmã. A força de sua descrição não está no que afirma de sí, mas sim no retrato que faz da conduta do pai. Ela se descreve como revoltada e que está apenas explicando as coisas que a deixaram assim. Ela fala de si como uma personagem que foi e não é mais, lutando contra a fome, pobreza e violência. Sua mãe morreu em um parto e cada irmã foi mandada para um lugar. Severina foi trabalhar como empregada na rua dos ossos e ela diz que foi daí em diante que começou sua vida/peregrinação. 
Severina foi jogada de casa em casa, pois não sabia trabalhar, ela era literalmente um bicho do mato, bicho humano. Severina achava que a amante de seu pai havia matado sua mãe com uma macumba e decidiu que iria se vingar (a morte da mãe tem uma explicação natural/sobrenatural, os indivíduos tem intencionalidade). Ela faz a escolha de permanecer em Salvador e trabalhar muito, trabalhar para poder se vingar e para essa vingança acontecer ela precisa de poder. Com isso, ela vai adquirindo a identidade que dará sentido para a sua vida: vingadora (vingadora e revoltada). Na adolescência, enquanto era vingadora e revoltada, ela decidiu que deveria ir para são Paulo. Uma mulher lhe oferece emprego em são Paulo, mas essa lhe leva para uma cidade no interior e não para a capital. Ela se vê novamente como uma escrava, cuidando de 6 crianças na casa em que trabalha e tendo seu dinheiro tirado dela por dividas da viagem. Ela então decide fugir, arruma um outro emprego e mora em uma casa prestando serviços para pagar sua estadia,e é uma outra escravidão. Ela já tinha 18 anos, amigos e fez a besteira de arrumar um namorado com o qual não podia se casar, pois a mãe do rapaz era contra. Assim, uma possível identidade lhe é socialmente negada. A mulher com quem trabalha e a mãe do rapaz armam uma armadilha: ela iria para a capital com a sua anfitriã para exames médicos, e lá foi deixada. Ela não tinha nada nem ninguém.
Cada vez que Severina muda, sua escravidão muda. Ela tem uma segunda oportunidade de noivado quando conhece um japonês em são Paulo, mas novamente a família do moço é contra. Cada vez mais sua vingança ficava distante. Ela começou a ter pesadelos tão reais na época que até achou que iria morrer ou que tinha um exu ao seu lado. É de se pensar que, frente à dificuldade objetiva de conseguir o poder de que necessita para realizar seu projeto de vingança, em vez de abandoná-lo ela abandona a realidade. Indo ao centro espírita para se livrar do exu ela conheceu seu marido. Ele sempre cuidou dela e foi a única pessoa em quem ela confiou. Ela até então nunca havia se imaginado nessa identidade.
Ela continua freqüentando o centro espírita para se livrar dos encostos e é uma realidade socialmente compartilhada que dava sentido ao que acontecia. A nitidez de sua identidade fica embaçada: ela não confiava em ninguém, era dirigida pelo noivo em quem confiava muito; ela queria dinheiro para realizar sua vingança mas tinha que gastá-lo com coisas para o centro espírita, ela diz que era iludida. Essa condição de iludida mascara sua condição de escrava e encapsula a vingadora briguenta. Ela era iludida com o novo projeto de vida de esposa, mãe e dona de casa. Ela reflete que o seu relacionamento foi uma junção de suas pessoas iludidas e que depois de dois ano de casamento ficou bem ruim. Seu casamento se tornou o que era o casamento de seus pais, e ela sempre se prometeu que nunca iria agüentar algo parecido. 
Severina conta que seu marido foi duas personagens, dois seres em uma pessoa só, que sofreu uma grande transformação e com isso suas relações também se transformaram. Com isso, a identidade de Severina sofre mudanças inesperadas. No começo do noivado a presença do noivo tornou sua escravidão mais suave, arrumou um emprego no hospital com carteira assinada, comprou o que queria para o quartinho em que morava. A medida que sua situação econômica melhora ela passa a ser roubada/explorada. Seu trabalho no hospital possibilitou que Severina enxergasse seu problema de encosto numa visão médica. Ela foi chamada de louca pelo marido e passa a receber tratamento psiquiátrico, assegurado pelo patrão/dono do hospital que a ajudou. Ela acreditou que era louca e assim surge uma nova identidade: a louca. Tudo faz sentido. O significado socialmente compartilhado define, explica, legitima a realidade e a nova identidade. Quando ela estava no centro espírita o noivo confirma o encosto e agora ele também confirma sua loucura e ela sempre acreditando. A realidade simbólica sendo produzida socialmente. 
O tratamento salva Severina da mortebiológica e da morte simbólica e sobram seqüelas. Com o parto ela recebe a identidade de mãe, apesar de tudo também é esposa. Faltava ser dona de casa para configurar o padrão de identidade feminina. Ela insiste em ter um lar: ela, ele e o filho. Os problemas nunca acabaram: violência, traição, injurias, etc. Suas crises sempre apareciam e ela ia trabalhar no hospital ou ficar internada nele. Ela adicionara seu marido na lista negra, mas sua vingança é apenas desejo. Ela prefere agir de acordo com sua identidade feminina e pede ajuda ao sogro (que fica do seu lado) pedindo para deixar o filho com ele até que a vida do casal se normalizasse. Num dia, voltando da casa do sogro ela recebe a noticia por uma vizinha que seu marido está vendendo tudo que era dela. Ele rasgou a certidão dela, simbolizando que ele destruiria a identidade de Severina. Ele tira seu filho, ela deixa de ser mãe; ele tira sua casa, ela deixa de ser dona de casa; sem marido, não é esposa. Devido a sua condição medica não conseguia trabalhar. Seu sogro a leva num juizado para resolver a questão de seu filho. O marido só diz mentiras sobre ela, e ela de defende com vigor. Ela não perde o filho; conserva sua identidade de mãe.
A tutela ficou com os sogros, ela é agora o que chamou de mãe de visita.Tudo lhe foi roubado. A sua identidade vingadora encapsulada é que lhe dará forças e sentido para seu ser. Ela consegue um emprego numa casa de um casal ganhando pouco e comida. Ela conta entre risos das coisas que fazia na casa do casal quando estava com raiva, revelando um lado moleque de Severina; uma parte de sua infância que não pode ser vivida se manifesta nesses momentos.
O moleque precisa ser tolerado, aceito, reconhecido, talvez até amado. Precisa de condições objetivas. Só se é alguém através das relações sociais. O moleque pode ser moleque naquela casa e sua situação passa a ter novo significado. Ela foi aposentada e continuou ganhando o salário de empregada. Severina vai deixando de ser moleque e assumindo a posição de mãe. No emprego ela ganhava dinheiro, comida, apoio;era uma nova relação social estabelecida. Ela queria arrumar um lugar maior para morar e levar seu filho com ela. Tendo isso em vista, inicia um novo projeto: arrumar um trabalho em que ganhe mais e uma moradia para ela e o filho. Com isso ela deixaria de ser explorada pelos sogros que só queriam seu pouco dinheiro e sua revolta diminuiria. 
O casal mudou-se para um bairro mais distante e ela começou a faltar muito, então seus patrões lhe arrumaram outro emprego. Ela então quis fazer um curso de manicure para deixar de ser escrava dos outros e ser apenas escrava de si própria. Seus novos patrões fazem com que esse novo objetivo seja realizado. Ela demonstra uma consciência mais clara da realidade: intuitivamente percebe que suas relações sociais são determinadas pela posição que ocupa no mercado de trabalho. Objetivamente sua vida se transforma. Ela deixa de ser empregada domestica. Mas a vingadora briguenta ainda estava lá. 
Um dia Severina foi na liberdade atender uma cliente, ela não estava e então esperou com uma moça. A moça fazia parte de uma religião budista e Severina se interessou pelo seu oratório. A moça lhe convidou para assistir a uma reunião e Severina aceitou. Severina conta de sua historia e a moça a instrui a praticar orações budistas diariamente. Ela vai começando a interpretar a realidade de outra forma, novos significados surgem. 
No budismo ela encontrou o que sempre procurou: sentido, significado, pertencer a um grupo de suporte. Ela precisava dar sentido ao seu futuro e reinterpretar seu passado. Mas por enquanto ainda era uma mudança de fachada e ela percebeu isso, que ela teria que se dedicas sempre. 
Sua identidade vai se concretizando na e pelas novas relações sociais em que esta se enredando. Tudo parece dotado de sentido. Severina, pela primeira vez, faz parte de uma comunidade humana. Ela está inserida em uma comunidade humana, ela é humana. Ela está fazendo sua revolução. Ela é uma metamorfose. Ela obteve consciência de si e consciência do outro; reconheceu o outro como ser humano e a si mesma também. Ela agora tem uma identidade humana. 
Severina não se identifica com ela mesma do passado. A vingadora morreu e ela percebeu isso quando não sentiu ódio pelo marido quando o viu. Ela assume uma nova personagem e se identifica com ela. Ela não só se sente outra pessoa, ela é outra pessoa.
Identidade
Em ambos as narrativas as personagens falaram sobre seu contexto, seu tempo, sua realidade, falou de nós. Tanto Severino quanto Severina são típicos em nossa sociedade: somos todos explorados e violentados, com possibilidades barradas de concretizarmos nossa humanidade. A exploração e violência sociais se concretizam no particular. Coletivamente constitui o conjunto das relações sociais que materializa o mundo capitalista. Cada individuo encarna as relações sociais, configurando uma identidade pessoal, uma historia, um projeto de vida; uma vida que nem sempre é vivida no emaranhado das relações sociais. Uma identidade concretiza uma política, da corpo a uma ideologia. As identidades constituem a sociedade ao mesmo tempo que são constituídas por ela. Identidade é metamorfose. 
Os dois casos tem algo em comum: a expressão morte-e-vida. Essa expressão traduz o real movimento da identidade, uma dialética que permite desvelar seu caráter de metamorfose. Como se chega a dizer que identidade é metamorfose? Num primeiro momento a identidade é um traço estatístico que define o ser, algo imutável (“Severino como tantos outros”). No inicio de nossas vidas somos apenas chamados por um nome, e ao longo do tempo simplesmente interiorizamos aquilo que os outros nos atribuem e isso aocntece de tal forma que acaba se tornando algo nosso. O nome é aquilo pelo qual nos identificamos, é um símbolo de nós mesmos. O nome não é a identidade, mas é uma representação dela. Ao se dar nome para alguém, este é determinado. Quando nos referimos a alguém geralmente usamos proposições substantivas (Severino é lavrador) ao invés de proposições verbais (Severino lavra a terra) e com isso a atividade coisifica. São três as categorias para a psicologia social estudar o homem: atividade, consciência e identidade. O individuo não é mais algo, ele é o que ele faz. 
É necessário que possamos ver o individuo não mais como sendo isolado, mas sim como relação, pois só assim ele pode ser determinado. Segundo o dicionário, identidade é reconhecimento, porém também podemos dizer que identificar é confundir, unir, assimilar. Ora distingue, ora diferencia; ora confunde, ora une; diferente e igual. Com isso, a questão do nome nos revela que identidade é diferença e igualdade.Normalmente temos um prenome, que nos separa/diferencia de nossos familiares, e também um sobrenome, que nos assimila e iguala aos familiares. Com isso, se revela um segredo da identidade: ela é a articulação da diferença e da igualdade. Obviamente a questão do nome não se restringe apenas a relação com a família; refere-se também a nossa localização na sociedade. 
A realidade sempre é movimento, tranformação. Quando um momento biográfico é formado não o é para afirmar que só ai a metamorfose está se dando, ela sempre estava ocorrendo. Identidade é pensar e ser. Conceito, pensamento e ser; sua unidade: o sujeito. Quando Severina decide que não será mais escrava de ninguém, só de si própria, ela se autodetermina. É um esforço de autodeterminação sem a ilusão de ausência de determinações, pois o ser humano é materia. Há também a unidade da subjetividade e da objetividade. Quando Severina aprende a ser outra, como que sai de si, torna-se outra; ela se exterioriza na realidade; o objetivo torna-se objetivo.
A metamorfose pode aparecer como uma não transformação/não movimento/não transformação e se isso ocorrer então deve-se explicar a não metamorfose. Ou ela é mera aparência, ilusão a ser desfeita, ou ela é a forma de identidade. Como a metamorfose é algo natural, o não ser metamorfose é sobrenatural. 
Essa não metamorfosetem uma explicação. Quando se dirige a alguém pelo nome sempre há uma suposição de uma identidade, uma identidade pressuposta. Podemos até desconhece-la, mas pressupomos sua existência. Isso também acontece quando a pessoa se descreve através de suas características, se identifica por elas. Contudo, quando Severino nos mostra que quanto mais dados ele fornece, mais comum ele se torna, era cada vez mais difícil se identificar. Ele decidiu parar de tentar se apresentar e que passássemos a observar suas ações, e é através delas que nos foi permitido descobrir que somos atividade. A medida que as personagens vão se constituindo, vai se constituindo também um universo de relações. O mesmo acontece na historia de Severina. Severina se vê se múltiplas formas durante toda sua historia; ora se conservam, sucedem, coexistem, se alteram. Essas diferentes maneiras de se estruturar indicam como que modos de produção da identidade, que são maneiras possíveis da identidade se estruturar. A identidade nos aparece como a articulação de varias personagens, com dificuldades e historias. A loucura, nesse sentido, é o esforço de criação de um novo universo. Para entendermos a identidade, precisamos entender o próprio processo de produção da identidade.
Enxergar a identidade apenas pelo aspecto representacional deixa de lado o aspecto constitutivo. Uma vez que a identidade pressuposta é re-posta, ela é vista como dada e não como se dando num continuo processo de identificação. O caráter temporal da identidade fica restrito a um momento originário, quando interiorizamos a personagem que nos é atribuída. 
Através da articulação de igualdades e diferenças, cada posição do individuo o determina, fazendo com que a existência contenha multiplicidades. Em cada momento da existência uma parte é manifestada, mas nunca somos apenas essa parte, somos um todo. Diferentes momentos históricos podem favorecer um dificultar o processo de desenvolvimento das possibilidades de humanização do homem. 
Devemos lembrar de dois pontos para evitar o engano de que a questão da identidade sempre se coloca de forma igual: considerar a estrutura social e o momento histórico. Vivemos em um mundo capitalista onde o capital é o sujeito por ser suporte do dinheiro e da mercadoria, inclusive da força de trabalho. Dado o caráter formalmente atemporal atribuído a identidade pressuposta, fica oculto o verdadeiro caráter da identidade.
Podemos afirmar que as diferenças individuais estão no desenvolvimento da consciência. 
A metamorfose é o desenvolvimento do concreto. A concretude da identidade é a sua temporalidade: passado, presente e futuro. Ao conhecer a identidade como mesmice exclui-se a temporalidade e, consequentemente, a diferença. De um lado, o homem é ser posto e de outro é vir-a-ser. 
O que significa a identidade humana? A autoconservação da espécie é um principio norteador da evolução social, da historia. Também é razoável aceitar uma lógica do desenvolvimento individual segundo proposto por Kolberg que mais tarde se transforma em uma busca por liberdade moral e política para toda humanidade. Identidade é definida ao lado de atividade e consciência; é também política.

Continue navegando