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AMANDA FARIA 5º PERÍODO Situação Problema 01 – SP01.05 OBJ 6: Código de Ética Médica na Ginecologia e Obstetrícia ASSÉDIO EM GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA Dentre os médicos de todas as especialidades reconhecidas no Brasil, os ginecologistas-obstetras são os mais denunciados no Cremesp, independente do motivo, respondendo isoladamente por, no mínimo, 10% do total geral de denúncias recebidas a cada ano. A Ginecologia e Obstetrícia é a única especialidade que atinge dois dígitos na porcentagem de denúncias por qualquer motivo dentre todas as especialidades, longe do segundo lugar, ocupado pela Pediatria, com aproximadamente 5% do total geral de denúncias. Todas as especialidades atingem isoladamente cifras abaixo de 5% do total anual de denúncias por qualquer motivo. Ginecologistas-obstetras também são o segmento mais denunciado por assédio sexual entre todas as especialidades, respondendo naquele quinquênio por aproximadamente 24% do total de denúncias de assédio sexual. Do total de médicos de todas as especialidades julgados por assédio sexual, aproximadamente um terço foi considerado culpado e recebeu penas diversas. EXAME GINECOLÓGICO Diversas denúncias de assédio sexual envolvendo ginecologistas e obstetras referem-se ao cenário do exame físico ginecológico ou obstétrico. Tendo em vista que, em mais de 50% dos casos das denúncias não se verificam indícios de infração ética por parte do ginecologista, conclui-se que, especificamente nestes casos, o que provavelmente pode estar sendo entendido pelas pacientes como “assédio sexual” seja na realidade um habilidades de comunicação e de empatia na relação com a paciente. Vale lembrar que o termo empatia significa “perceber o sentimento do outro”, enquanto simpatia é “sentir o mesmo, sentir junto” e antipatia é “ignorar o sentimento do outro”. O que se espera de um ginecologista dotado de habilidades de comunicação minimamente razoáveis é que ele seja capaz de ser empático, entender como a paciente se sente, e adequar seu comportamento. Infelizmente é fato que alguns ginecologistas nada falam enquanto tocam o corpo das pacientes e não percebem (ou percebem e preferem ignorar) as expressões de desconforto, medo, perplexidade e espanto que algumas pacientes manifestam durante o exame. Estas pacientes podem entender esse modo de exame ginecológico “mecanicamente” realizado como desrespeitoso à dignidade, e daí até a denúncia de “assédio sexual” basta um passo. Por isso é oportuno citar as recomendações do Comitê de Ética do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas: 1. A solicitação de ter um acompanhante presente durante o exame físico sempre deve ser respeitada, independente do sexo do ginecologista. Uma terceira pessoa durante o exame pode trazer benefícios para o paciente e médico, independente do sexo do acompanhante. 2. O exame da paciente deve ser realizado com o mínimo de contato físico necessário para obter os dados indispensáveis para o diagnóstico e o tratamento. Também é fundamental lembrar sempre da Recomendação nº 01/8814: (...) Que (os médicos) expliquem às pacientes, previamente e de forma detalhada, os procedimentos que irão realizar durante o exame ginecológico (...). Por outro lado, o Artigo 31 do Código de Ética Médica veda ao médico desrespeitar o direito da paciente de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente perigo de vida. Isto se aplica para os casos em que a paciente recuse a presença de terceiros durante o exame ginecológico. Em rigor, o médico deve respeitar essa escolha da paciente, mas deve antes informar sobre a necessidade da presença de profissional auxiliar durante o exame, e esgotar todos os argumentos para conquistar a adesão da paciente. Os principais artigos do Código de Ética Médica9 que apoiam as ideias acima são: • Princípio II – O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. AMANDA FARIA 5º PERÍODO • Art. 22. Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte. • Art. 23. Tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer pretexto. • Art. 24. Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo. • Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte. Referência Bibliográfica: Cadernos Cremesp “Ética em Ginecologia e Obstetrícia” – 4ª edição OBJ 7: Estudar pré-natal (exame físico gineco-obstétrico, exames complementares, prescrição, vacina...). CONSULTA PRÉ-CONCEPCIONAL O aconselhamento preconcepcional se refere a um processo de identificação de riscos relacionados a aspectos social, comportamental, ambiental e biomédico em um casal com impacto na fertilidade e nos resultados gestacionais. Esse processo engloba educação, aconselhamento e intervenção, de preferência, antes da gestação, visando reduzir esses riscos e auxiliar na escolha do momento ideal para ocorrência da gestação. Um exemplo da importância da consulta preconcepcional, até mesmo superior ao período pré-natal, é na prevenção das malformações congênitas. A mulher deve receber as orientações antes da gestação visto que as primeiras 10 semanas gestacionais são as de maior risco para teratogênese e muitas grávidas só iniciam o pré-natal após essa fase. Deixar o primeiro contato com o casal apenas para a consulta de pré-natal pode ser tardio, uma vez que cerca de 20% das gestantes iniciam o pré- natal após a 13ª semana gestacional, já tendo passado o período da organogênese, em que ocorrem as principais malformações. Durante a consulta, tem-se a oportunidade de esclarecer o casal sobre fertilidade e planejamento da gestação, identificar fatores de risco maternos e fetais, educar o casal em relação a esses riscos e instituir medidas apropriadas, preferencialmente antes da gestação. Em paralelo, deve-se esclarecer à mulher as alterações que a gestação e a maternidade podem trazer à vida, incluindo tanto as modificações fisiológicas da gestação quanto aquelas nas áreas afetiva, psíquica, social, profissional e econômica. FATORES DE RISCO Em obstetrícia, os potenciais fatores agravantes da gestação podem ser identificados por meio das queixas das gestantes e do reconhecimento de doenças previamente existentes e/ou surgidas durante a gestação, e cujos efeitos nocivos dependerão de como a gestante e seu obstetra vão atuar na prevenção e no controle desses fatores. Os cuidados preconcepcionais surgem, nesse contexto, para diagnosticar e tratar adequadamente, o mais cedo possível, as condições relacionadas a complicações durante a gravidez, com a intenção de promover a futura saúde materno-fetal. As mortalidades ou morbidades materna, fetal e neonatal são maiores em um pequeno grupo da população que apresenta determinados fatores de maior risco, classificado como população de alto risco. Nas gestações de alto risco, a chance de um desfecho desfavorável é maior, sendo a consulta preconcepcional o momento ideal para identificar as condições de risco reprodutivo, médico e social da mulher e do parceiro, como forma de proteção para a mãe e para o feto. As mulheres portadoras de doenças de base (diabetes, hipertensão arterial sistêmica, cardiopatia) e de carências nutricionais (por exemplo, anemia ferropriva) ou expostas a toxinas ou agentes teratogênicos (álcool, varfarina, isotretinoína)são alguns casos nos quais o aconselhamento preconcepcional é capaz de reduzir a morbidade e a mortalidade materna e neonatal. Deve-se orientar o casal em relação à prevenção de malformações congênitas, evitando medicações teratogênicas, principalmente no primeiro trimestre da gestação, e discutindo hábitos, dieta, riscos de exposições e viagens. AMANDA FARIA 5º PERÍODO ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL A importância do pré-natal é assegurar o desenvolvimento da gestação, permitindo o parto de um recém-nascido saudável, sem impacto para a saúde materna, inclusive abordando aspectos psicossociais e as atividades educativas e preventivas. Talvez o principal indicador do prognóstico ao nascimento seja o acesso à assistência pré-natal. Os cuidados assistenciais no primeiro trimestre são utilizados como um indicador maior da qualidade dos cuidados maternos. A unidade básica de saúde (UBS) deve ser a porta de entrada preferencial da gestante no sistema de saúde. É o ponto de atenção estratégico para melhor acolher suas necessidades, inclusive proporcionando um acompanhamento longitudinal e continuado, principalmente durante a gravidez. A atividade de organizar as ações de saúde na Atenção Básica, orientadas pela integralidade do cuidado e em articulação com outros pontos de atenção, impõe a utilização de tecnologias de gestão que permitam integrar o trabalho das equipes das UBS com os profissionais dos demais serviços de saúde, para que possam contribuir com a solução dos problemas apresentados pela população sob sua responsabilidade sanitária. As ações de saúde devem estar voltadas para a cobertura de toda a população-alvo da área de abrangência da unidade de saúde, assegurando minimamente 6 (seis) consultas de pré-natal e continuidade no atendimento, no acompanhamento e na avaliação do impacto destas ações sobre a saúde materna e perinatal. ACOLHIMENTO A Política Nacional de Humanização toma o acolhimento como postura prática nas ações de atenção e gestão das unidades de saúde, o que favorece a construção de uma relação de confiança e compromisso dos usuários com as equipes e os serviços, contribuindo para a promoção da cultura de solidariedade e para a legitimação do sistema público de saúde. O acolhimento da gestante na atenção básica implica a responsabilização pela integralidade do cuidado a partir da recepção da usuária com escuta qualificada e a partir do favorecimento do vínculo e da avaliação de vulnerabilidades de acordo com o seu contexto social, entre outros cuidados. O profissional deve permitir que a gestante expresse suas preocupações e suas angústias, garantindo a atenção resolutiva e a articulação com os outros serviços de saúde para a continuidade da assistência e, quando necessário, possibilitando a criação de vínculo da gestante com a equipe de saúde. PRESENÇA DE ACOMPANHANTE É cada vez mais frequente a participação do pai no pré-natal, devendo sua presença ser estimulada durante as atividades de consulta e de grupo, para o preparo do casal para o parto, como parte do planejamento familiar. A gestação, o parto, o nascimento e o puerpério são eventos carregados de sentimentos profundos, pois constituem momentos de crises construtivas, com forte potencial positivo para estimular a formação de vínculos e provocar transformações pessoais. É importante acolher o(a) acompanhante de escolha da mulher, não oferecendo obstáculos à sua participação no pré-natal, no trabalho de parto, no parto e no pós-parto. O(a) acompanhante pode ser alguém da família, amigo(a) ou a doula, conforme preconiza a Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005. O benefício da presença do(a) acompanhante já foi comprovado. Vários estudos científicos nacionais e internacionais evidenciaram que as gestantes que tiveram a presença de acompanhantes se sentiram mais seguras e confiantes durante o parto. Também houve redução do uso de medicações para alívio da dor, da duração do trabalho de parto e do número de cesáreas. Alguns estudos sugerem, inclusive, a possibilidade de outros efeitos, como a redução dos casos de depressão pós-parto. Contando suas histórias, as grávidas esperam partilhar experiências e obter ajuda. Assim, a assistência pré-natal torna- se um momento privilegiado para discutir e esclarecer questões que são únicas para cada mulher e seu parceiro, aparecendo de forma individualizada, até mesmo para quem já teve outros filhos. Temas que são tabus, como a sexualidade, poderão suscitar dúvidas ou a necessidade de esclarecimentos. AMANDA FARIA 5º PERÍODO ATENÇÃO PRÉ-NATAL DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ Para ampliar a captação precoce das gestantes, o Ministério da Saúde, por intermédio da Rede Cegonha, incluiu o Teste Rápido de Gravidez nos exames de rotina do pré-natal, que pode ser realizado na própria UBS, o que acelera o processo necessário para a confirmação da gravidez e o início do pré-natal. (TIG) Toda mulher da área de abrangência da unidade de saúde e com história de atraso menstrual de mais de 15 dias deverá ser orientada pela equipe de saúde a realizar o Teste Imunológico de Gravidez (TIG), que será solicitado pelo médico ou enfermeiro. Este teste é considerado o método mais sensível e confiável, embora seja também um teste caro. Alguns testes urinários têm baixa taxa de resultados falsos positivos, mas elevada taxa de resultados falsos negativos, o que pode atrasar o início do pré-natal. (HCG) A dosagem de gonadotrofina coriônica humana (ßHCG) para o diagnóstico precoce da gravidez, com a utilização de medidas quantitativas precisas e rápidas, tornou este teste mundialmente reconhecido para confirmar a ocorrência de gravidez. O ßHCG pode ser detectado no sangue periférico da mulher grávida entre 8 a 11 dias após a concepção. Os níveis plasmáticos aumentam rapidamente até atingir um pico entre 60 e 90 dias de gravidez. A maioria dos testes tem sensibilidade para detecção de gravidez entre 25 a 30mUI/ml. Resultados falsos positivos ocorrem na faixa entre 2 a 25mUI/ml. Do ponto de vista prático, níveis menores que 5mUI/ml são considerados negativos e acima de 25mUI/ml são considerados positivos. (ULTRASSOM) Considerando-se que 11% a 42% das idades gestacionais estimadas pela data da última menstruação são incorretas, pode-se oferecer à gestante, quando possível, o exame ultrassonográfico, que, além de melhor determinar a idade gestacional, auxilia na detecção precoce de gestações múltiplas (inclusive, evidencia o tipo de placentação nestes casos) e de malformações fetais clinicamente não suspeitas. Idealmente, o exame deve ser realizado entre 10 e 13 semanas, utilizando-se o comprimento cabeça–nádega para determinar a idade gestacional. A partir da 15ª semana, a estimativa de idade gestacional será feita pela medida do diâmetro biparietal. Todavia, os possíveis benefícios da ultrassonografia de rotina durante a gestação sobre outros resultados permanecem ainda incertos, de modo que a não realização deste exame não constitui omissão, nem diminui a qualidade do pré-natal (CROWTHER et al., 1999). (EXAME CLÍNICO) Se o atraso menstrual for superior a 12 semanas, o diagnóstico de gravidez poderá ser feito pelo exame clínico e torna-se desnecessária a solicitação do TIG. O diagnóstico da gravidez pode ser efetuado em 90% das pacientes por intermédio dos sinais clínicos, dos sintomas e do exame físico em gestações mais avançadas. As queixas principais são devidas ao atraso menstrual, à fadiga, à mastalgia, ao aumento da frequência urinária e aos enjoos/vômitos matinais. Sinais de presunção de gravidez: • Atraso menstrual; • Manifestações clínicas (náuseas, vômitos, tonturas, salivação excessiva, mudança de apetite, aumento da frequência urinária e sonolência); • Modificações anatômicas (aumento do volume dasmamas, hipersensibilidade nos mamilos, tubérculos de Montgomery, saída de colostro pelo mamilo, coloração violácea vulvar, cianose vaginal e cervical, aumento do volume abdominal). Sinais de probabilidade: • Amolecimento da cérvice uterina, com posterior aumento do seu volume; • Paredes vaginais aumentadas, com aumento da vascularização (pode-se observar pulsação da artéria vaginal nos fundos de sacos laterais); • Positividade da fração beta do HCG no soro materno a partir do oitavo ou nono dia após a fertilização. AMANDA FARIA 5º PERÍODO Sinais de certeza: • Presença dos batimentos cardíacos fetais (BCF), que são detectados pelo sonar a partir de 12 semanas e pelo Pinard a partir de 20 semanas; • Percepção dos movimentos fetais (de 18 a 20 semanas); • Ultrassonografia: o saco gestacional pode ser observado por via transvaginal com apenas 4 a 5 semanas gestacionais e a atividade cardíaca é a primeira manifestação do embrião com 6 semanas gestacionais. INÍCIO DO ACOMPANHAMENTO DA GESTANTE Após a confirmação da gravidez, em consulta médica ou de enfermagem, dá-se início ao acompanhamento da gestante, com seu cadastramento no SisPreNatal. Os procedimentos e as condutas que se seguem devem ser realizados sistematicamente e avaliados em toda consulta de pré-natal. As condutas e os achados diagnósticos sempre devem ser anotados na Ficha de Pré-Natal e no Cartão da Gestante. A partir desse momento, a gestante deverá receber as orientações necessárias referentes ao acompanhamento de pré-natal: sequência de consultas (mensalmente, se possível), visitas domiciliares e grupos educativos. Deverão ser fornecidos: • O Cartão da Gestante, com a identificação preenchida, o número do Cartão Nacional da Saúde, o hospital de referência para o parto e as orientações sobre este; • O calendário de vacinas e suas orientações; • A solicitação dos exames de rotina; • As orientações sobre a participação nas atividades educativas (reuniões e visitas domiciliares). É importante enfatizar que duas informações essenciais que devem constar explicitamente no Cartão da Gestante são as relacionadas ao nome do hospital de referência para o parto e as relativas às intercorrências durante a gestação. Se, no decorrer da gestação, surgir alguma situação que caracterize risco gestacional, com mudança do hospital ou da maternidade de referência, isso também deve estar escrito no cartão. Esta informação é considerada fundamental para que a mulher e seu companheiro ou familiares possam reivindicar o direito de atendimento na respectiva unidade de saúde. CLASSIFICAÇÃO DE RISCO GESTACIONAL Com o objetivo de reduzir a morbimortalidade materno-infantil e ampliar o acesso com qualidade, é necessário que se identifiquem os fatores de risco gestacional o mais precocemente possível. Dessa forma, o acolhimento com classificação de risco pressupõe agilidade no atendimento e definição da necessidade de cuidado e da densidade tecnológica que devem ser ofertadas às usuárias em cada momento. De maneira geral, o acolhimento, em especial à gestante, objetiva fornecer não um diagnóstico, mas uma prioridade clínica, o que facilita a gestão da demanda espontânea e, consequentemente, permite que haja impacto na história natural de doenças agudas graves e potencialmente fatais, que, se não atendidas como prioridades, podem levar à morte, por exemplo, uma gestante com síndrome hipertensiva. Portanto, é indispensável que a avaliação do risco seja permanente, ou seja, aconteça em toda consulta. Em contrapartida, quando são identificados fatores associados a um pior prognóstico materno e perinatal, a gravidez é definida como de alto risco, passando a exigir avaliações mais frequentes, muitas vezes fazendo-se uso de procedimentos com maior densidade tecnológica. CALENDÁRIO DE CONSULTAS As consultas de pré-natal poderão ser realizadas na unidade de saúde ou durante visitas domiciliares. O calendário de atendimento durante o pré-natal deve ser programado em função dos períodos gestacionais que determinam maior risco materno e perinatal. O calendário deve ser iniciado precocemente (no primeiro trimestre) e deve ser regular, garantindo-se que todas as avaliações propostas sejam realizadas e que tanto o Cartão da Gestante quanto a Ficha de Pré-Natal sejam preenchidos. AMANDA FARIA 5º PERÍODO O total de consultas deverá ser de, no mínimo, 6 (seis), com acompanhamento intercalado entre médico e enfermeiro. Sempre que possível, as consultas devem ser realizadas conforme o seguinte cronograma: • Até 28ª semana – mensalmente; • Da 28ª até a 36ª semana – quinzenalmente; • Da 36ª até a 41ª semana – semanalmente. A maior frequência de visitas no final da gestação visa à avaliação do risco perinatal e das intercorrências clínico- obstétricas mais comuns nesse trimestre, como trabalho de parto prematuro, pré-eclâmpsia e eclâmpsia, amniorrexe prematura e óbito fetal. Não existe “alta” do pré-natal antes do parto. Quando o parto não ocorre até a 41ª semana, é necessário encaminhar a gestante para avaliação do bem-estar fetal, incluindo avaliação do índice do líquido amniótico e monitoramento cardíaco fetal. Estudos clínicos randomizados demonstram que a conduta de induzir o trabalho de parto em todas as gestantes com 41 semanas de gravidez é preferível à avaliação seriada do bem-estar fetal, pois se observou menor risco de morte neonatal e perinatal e menor chance de cesariana no grupo submetido à indução do parto com 41 semanas. O acompanhamento da mulher no ciclo grávido-puerperal deve ser iniciado o mais precocemente possível e só se encerra após o 42º dia de puerpério, período em que a consulta de puerpério deverá ter sido realizada. ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL A assistência pré-natal engloba aplicação individualizada de condutas clínico-obstétricas protocolares ao longo de todo o período gestacional. Estratégia interdisciplinar de atendimento profissional otimiza o alcance e a manutenção da integridade das condições de saúde materna e fetal (Maternidade Escola, UFRJ, 2015). Os objetivos básicos da assistência pré-natal são: • Orientar os hábitos de vida (higiene pré-natal); • Assistir a gestante psicologicamente; • Preparar a gestante para a maternidade, instruindo-a sobre o parto (parto humanizado), dando-lhe noções de puericultura; • Evitar o uso de medicação e de medidas que se tornem prejudiciais para o feto (p. ex., teratogênese); • Tratar os pequenos distúrbios da gravidez; • Realizar a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças próprias da gravidez ou nela intercorrentes. PRIMEIRA CONSULTA Na primeira consulta, deve-se pesquisar os aspectos socioepidemiológicos, os antecedentes familiares, os antecedentes pessoais gerais, ginecológicos e obstétricos, além da situação da gravidez atual. É importante sanar dúvidas e minimizar a ansiedade do casal. Informações sobre alimentação, hábito intestinal e urinário, movimentação fetal, assim como presença de corrimentos ou outras perdas vaginais ajudam a identificar situações de risco gestacional e orientam medidas educativas que devem ser enfatizadas durante o pré-natal. ANAMNESE Os principais componentes podem ser assim listados: (i) data precisa da última menstruação; (ii) regularidade dos ciclos; (iii) uso de anticoncepcionais; (iv) paridade; (v) intercorrências clínicas, obstétricas e cirúrgicas; (vi) detalhes de gestações prévias; (vii) hospitalizações anteriores; (viii) uso de medicações; (ix) história prévia de doença sexualmente transmissível; (x) exposição ambiental ou ocupacional de risco; (xi) reações alérgicas; (xii) história pessoal ou familiar de doenças hereditárias/malformações; (xiii) gemelaridade anterior; (xiv) fatores socioeconômicos; (xv) atividade sexual; (xvi) uso de tabaco, álcool ou outras drogas lícitas ou ilícitas; (xvii)história infecciosa prévia; (xviii) vacinações prévias; (xix) história de violências. AMANDA FARIA 5º PERÍODO As anotações deverão ser realizadas tanto no prontuário da unidade (Ficha Clínica de Pré-Natal) quanto no Cartão da Gestante. Em cada consulta, o risco obstétrico e perinatal deve ser reavaliado. As ações da equipe devem contemplar as seguintes atividades: • Preenchimento da ficha de cadastramento da gestante no SisPreNatal ou diretamente no sistema para os serviços de saúde informatizados; • Preenchimento do Cartão da Gestante e da Ficha Clínica de Pré-Natal: identificação e demais dados da anamnese e exame físico; número do Cartão Nacional de Saúde; hospital de referência para o parto; • Verificação da situação vacinal e orientação sobre a sua atualização, se necessário; • Solicitação dos exames de rotina; • Realização dos testes rápidos; • Orientação sobre as consultas subsequentes, as visitas domiciliares e as atividades educativas. Os fatores de risco deverão ser identificados em destaque no Cartão da Gestante, uma vez que tal procedimento contribui para alertar os profissionais de saúde que realizam o acompanhamento pré-natal. EXAME FÍSICO São indispensáveis os seguintes procedimentos: avaliação nutricional (peso e cálculo do IMC), medida da pressão arterial, palpação abdominal e percepção dinâmica, medida da altura uterina, ausculta dos batimentos cardiofetais, registro dos movimentos fetais, realização do teste de estímulo sonoro simplificado, verificação da presença de edema, exame ginecológico e coleta de material para colpocitologia oncótica, exame clínico das mamas e toque vaginal de acordo com as necessidades de cada mulher e com a idade gestacional. (PRIMEIRA CONSULTA) No exame físico, os mais importantes componentes que precisam ser incluídos na primeira visita pré-natal são os seguintes: peso, altura, pressão arterial, avaliação de mucosas, da tireoide, das mamas, dos pulmões, do coração, do abdome e das extremidades. (EXAME GINECOLÓGICO E OBSTÉTRICO) No exame ginecológico/obstétrico, deve-se avaliar a genitália externa, a vagina, o colo uterino e, no toque bidigital, o útero e os anexos. Após a 12ª semana, deve-se medir a altura do fundo uterino no abdome. A ausculta fetal será possível após a 10ª-12ª semana, com o sonar-doppler. Nas visitas subsequentes, torna-se obrigatório medir a altura uterina, pesar a paciente, mensurar a pressão arterial, verificar a presença de anemia de mucosas, a existência de edemas e auscultar os batimentos cardíacos fetais. Deve- se avaliar o mamilo para lactação. A definição da apresentação fetal deverá ser determinada por volta da 36ª semana. EXAMES COMPLEMENTARES Para um bom acompanhamento pré-natal, é necessário que a equipe de saúde efetue os procedimentos técnicos de forma correta e uniforme durante a realização dos exames complementares, assim como quando da realização dos exames clínico e obstétrico. Do contrário, ocorrerão diferenças significativas, prejudicando a interpretação dos dados e a comparação entre eles. Cabe aos profissionais de formação universitária promover a capacitação dos demais membros da equipe, a fim de garantir que todos os dados colhidos sejam fidedignos. Devem ser solicitados na primeira consulta os seguintes exames complementares: AMANDA FARIA 5º PERÍODO CONSULTAS SUBSEQUENTES As consultas subsequentes serão mensais até 32 semanas; quinzenais, de 32 a 36 semanas; e semanais, de 36 semanas até o parto. A cada consulta, serão avaliados: peso, PA, batimentos cardiofetais (BCF) e fundo do útero. São consideradas consultas especiais as listadas a seguir: • 20 a 24 semanas: ultrassonografia abdominal morfológica, para avaliar as estruturas fetais, localizar a placenta e o cordão umbilical; avaliar o Doppler das artérias uterinas e medir a circunferência abdominal (CA) para rastrear o crescimento intrauterino restrito (CIR) placentário precoce. Aconselha-se, nessa oportunidade, medir o colo uterino por ultrassonografia transvaginal, visando à predição do parto pré-termo; • 24 a 28 semanas: teste oral de tolerância à glicose de 75 g (TOTG-75), para o diagnóstico de diabetes melito gestacional (DMG), interpretado de acordo com o Estudo HAPO – 2008; • 26 a 32 semanas: a grávida deve ser conscientizada do significado do movimento fetal; • 28 semanas: deve-se repetir a dosagem da hemoglobina e administrar a primeira dose da imunoglobulina anti-D para mulheres Rh-negativo não sensibilizadas com fetos Rh-positivo pelo NIPT; deve-se repetir o VDRL (CDC, 2015; World Health Organization [WHO, 2015]); • 32 a 36 semanas: deve-se medir a CA (rastrear o CIR placentário tardio); • 35 a 37 semanas: cultura vaginorretal para estreptococo do grupo B (GBS); • 36 semanas: deve-se determinar a posição fetal; para fetos em apresentação pélvica (confirmada pela ultrassonografia), é preciso oferecer a versão externa; • 41 semanas: deve-se propor o descolamento das membranas e a indução do parto. AMANDA FARIA 5º PERÍODO ESTIMATIVA DO PARTO E DUM Os métodos para esta estimativa dependem da data da última menstruação (DUM), que corresponde ao primeiro dia de sangramento do último ciclo menstrual referido pela mulher. (QUANDO CONHECE A DATA) Quando a data da última menstruação (DUM) é conhecida e certa: É o método de escolha para se calcular a idade gestacional em mulheres com ciclos menstruais regulares e sem uso de métodos anticoncepcionais hormonais: • Uso do calendário: some o número de dias do intervalo entre a DUM e a data da consulta, dividindo o total por sete (resultado em semanas); • Uso de disco (gestograma): coloque a seta sobre o dia e o mês correspondentes ao primeiro dia e mês do último ciclo menstrual e observe o número de semanas indicado no dia e mês da consulta atual. (QUANDO CONHECE O PERÍODO) Quando a data da última menstruação é desconhecida, mas se conhece o período do mês em que ela ocorreu: Se o período foi no início, meio ou fim do mês, considere como data da última menstruação os dias 5, 15 e 25, respectivamente. Proceda, então, à utilização de um dos métodos descritos. (QUANDO NÃO CONHECE A DATA E O PERÍODO) Quando a data e o período da última menstruação são desconhecidos: Quando a data e o período do mês não forem conhecidos, a idade gestacional e a data provável do AMANDA FARIA 5º PERÍODO parto serão, inicialmente, determinadas por aproximação, basicamente pela medida da altura do fundo do útero e pelo toque vaginal, além da informação sobre a data de início dos movimentos fetais, que habitualmente ocorrem entre 18 e 20 semanas. Pode-se utilizar a altura uterina e o toque vaginal, considerando-se os seguintes parâmetros: • Até a 6ª semana, não ocorre alteração do tamanho uterino; • Na 8ª semana, o útero corresponde ao dobro do tamanho normal; • Na 10ª semana, o útero corresponde a três vezes o tamanho habitual; • Na 12ª semana, o útero enche a pelve, de modo que é palpável na sínfise púbica; • Na 16ª semana, o fundo uterino encontra-se entre a sínfise púbica e a cicatriz umbilical; • Na 20ª semana, o fundo do útero encontra-se na altura da cicatriz umbilical; • A partir da 20ª semana, existe relação direta entre as semanas da gestação e a medida da altura uterina. Porém, este parâmetro torna-se menos fiel a partir da 30ª semana de idade gestacional. Quando não for possível determinar clinicamente a idade gestacional, solicite o mais precocemente possível a ultrassonografia obstétrica. CÁLCULO DA DATA PROVÁVEL DO PARTO Calcula-se a data provável do parto levando-se em consideração a duração média da gestação normal (280 dias ou 40 semanas, a partir da DUM), mediante a utilização de calendário. Com o disco (gestograma), coloque a seta sobre o dia e o mês correspondentesao primeiro dia e mês da última menstruação e observe a seta na data (dia e mês) indicada como data provável do parto. Outra forma de cálculo consiste em somar sete dias ao primeiro dia da última menstruação e subtrair três meses ao mês em que ocorreu a última menstruação (ou adicionar nove meses, se corresponder aos meses de janeiro a março). Esta forma de cálculo é chamada de Regra de Näegele. Nos casos em que o número de dias encontrado for maior do que o número de dias do mês, passe os dias excedentes para o mês seguinte, adicionando 1 (um) ao final do cálculo do mês. VACINAÇÃO NA GRAVIDEZ Algumas das recomendações da Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada (SOGC, 2008) são listadas a seguir. • Antes da vacinação, todas as mulheres em idade fértil devem ser avaliadas sobre a possibilidade de estarem grávidas; • As vacinas com vírus vivos ou vivos atenuados (rubéola, sarampo, caxumba, pólio-oral [Sabin], varicela, febre amarela) estão contraindicadas na gravidez, em função do risco teórico ao feto; • Grávidas inadvertidamente vacinadas com vírus vivos ou vivos atenuados não devem ser aconselhadas a abortar; • Mulheres vacinadas com vírus vivos ou vivos atenuados devem ser aconselhadas a evitar a gravidez por pelo menos 1 mês; • Vacinas com vírus inativos (hepatites A e B, gripe [inclusive a H1N1], pólio-Salk, raiva, vacinas bacterianas e toxoides [tétano, difteria]) podem ser aplicadas com segurança; • Lactantes podem ser vacinadas. Na sequência, são apresentadas as vacinas obrigatórias na gravidez: • TDAP (tríplice bacteriana acelular – tétano, difteria, pertussis): deve ser administrada no 3 o trimestre da gravidez (27 a 36 semanas), não obstante a vacinação prévia, e repetida a cada gestação. Uma recomendação recente aponta que a vacinação materna mais precoce para pertussis no início do 3 o trimestre (28 a 32 semanas) é o método mais efetivo de atingir altos níveis de anticorpos antipertussis com melhor proteção ao neonato. AMANDA FARIA 5º PERÍODO • Gripe trivalente: para 2016 (MS), a vacina trivalente é composta pelo vírus da influenza A/Califórnia (H1N1) e os sazonais da influenza A/Hong Kong (H3N2) e B/Brisbane. Deve ser administrada no período sazonal, no Brasil, entre março e junho; • Mulheres de risco para hepatite B devem ser vacinadas na gravidez (três doses). O Ministério da Saúde (2015) estende a vacinação universal para 2016, embora não aborde especificamente a gravidez; • As vacinas de sarampo, caxumba, rubéola e varicela, contraindicadas na gravidez, podem ser administradas no pós-parto. Referência Bibliográfica: (1) Caderno de Atenção Básica – Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco/ Brasília – 2012 e (2) livro de Obstetrícia do Rezende OBJ 8: Estudar abortamento (conceito, etiogenia, etiopatogenia, fisiopatologia, manifestações clínicas, propedêutica, tratamento e tipos: habitual, séptico...) [abortamento provocado pelo misoprostol]. ABORTAMENTO O abortamento é uma síndrome hemorrágica da primeira metade da gravidez, definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a interrupção da gravidez antes de 22 semanas ou com um feto até 500g ou de 16,5 cm, ou seja, antes de atingida a viabilidade (World Health Organization, 1977). O abortamento representa a quarta causa de mortalidade materna no Brasil, diferentemente do que ocorre em países desenvolvidos, onde essas taxas de morte, especificamente por aborto, são reduzidas. Mulheres jovens e em plena idade produtiva e reprodutiva são as que estão mais sujeitas às complicações, como hemorragias, infecções, perfurações de órgãos e infertilidade, levando-as desnecessariamente à morte ou acarretando sequelas à sua saúde física, mental e reprodutiva. Aliás, as complicações do abortamento representam a terceira causa de ocupação dos leitos obstétricos no Brasil (Victora et al., 2011). ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO A incidência de alterações cromossômicas em abortamentos esporádicos de 1 o trimestre é de 50%. Analisando abortos com cariótipo anormal, a síndrome de Turner (45,X0) é a alteração mais frequente com incidência de 19%. Abortos trissômicos são vistos para todos os autossomos, exceto para os cromossomos 1, 5, 11, 12, 17 e 19. Trissomia 16, triploidia e tetraploidia são as anormalidades autossômicas mais comuns. Aproximadamente 80% das trissomias 21 terminam em abortamento. Os mais comuns fatores de risco identificados em mulheres com abortamento precoce são a idade materna avançada e a história de perda anterior. A frequência de abortamentos precoces clinicamente reconhecidos em mulheres com idade de 20 a 30 anos é de 9 a 17%, aumentando rapidamente para 20% na idade de 35 anos, 40% com 40 anos e 80% com 45 anos. Qualquer doença materna grave, traumatismo ou intoxicação, além de inúmeras infecções, podem levar ao abortamento. TIPOS DE ABORTAMENTO O abortamento pode ser classificado em: ABORTAMENTO PRECOCE OU TARDIO O abortamento pode ser precoce ou tardio, conforme a idade gestacional, ou seja, até a 12ª semana e entre a 13ª e a 20ª semana, respectivamente. Os abortamentos precoces, com menos de 12 semanas, respondem por 80% dos abortamentos e reconhecem uma multiplicidade maior de causas (Brasil, 2011). Além da etiologia, os abortamentos precoces e tardios também apresentam condutas terapêuticas diferentes. AMANDA FARIA 5º PERÍODO ABORTAMENTO ESPONTÂNEO OU PROVOCADO (ABORTAMENTO ESPONTÂNEO) O abortamento espontâneo é aquele que ocorre sem nenhuma intervenção externa e pode ser causado por doenças da mãe ou por anormalidades do embrião ou feto. A incidência de abortamento espontâneo, clinicamente reconhecido na população em geral, é de 10% a 15%. No entanto, por meio de testes altamente sensíveis da gonadotrofina coriônica humana, evidenciou-se que a magnitude da perda gestacional após a implantação é da ordem de 62% (Klein e Stein, 1987). Quando não se dispõe de tais métodos, as gestações interrompidas precocemente acontecem sem diagnóstico de abortamento, e o fenômeno é encarado como atraso menstrual seguido de menstruação profusa. Por isso, o abortamento espontâneo é a complicação mais frequente da gravidez, e a grande maioria ocorreu no primeiro trimestre. A idade materna e o número de abortamento anteriores são os dois fatores de risco mais importantes para um novo abortamento. Com o avançar da idade, há declínio no número e na qualidade dos ovócitos, principalmente depois dos 35 anos. As anormalidades cromossômicas são as causas mais frequentes de abortamento espontâneo. (ABORTAMENTO PROVOCADO) Já o abortamento provocado refere-se à interrupção da gravidez causada por intervenção externa e intencional. Estima-se que são realizados em torno de 1 milhão de abortamentos provocados no Brasil por ano, a grande maioria de forma insegura, gerando custo de mais de 30 milhões de reais ao Sistema Único de Saúde (SUS) em consequência de suas complicações (Brasil, 2011; World Health Organization, 2007). Conforme pesquisa de 2010 (Diniz e Medeiros, 2010), 22% das mulheres brasileiras de 35 a 39 anos, residentes em áreas urbanas, já provocaram aborto. No levantamento, o aborto se mostrou mais frequente entre mulheres com menor nível de escolaridade, independentemente da filiação religiosa. ABORTAMENTO SEGURO E INSEGURO Abortamento seguro e abortamento inseguro são dois termos frequentemente usados em documentos internacionais da OMS (World Health Organization, 2007; 1992). Um aborto seguro é aquele realizado por médico bem treinado, com os meios necessários e em ambiente adequado, o que implica risco extremamente baixo para mulher. Em contraste, o aborto inseguro é procedimento de risco para interromper uma gravidez indesejada, realizado por pessoas que não têm as habilidades necessárias ou em ambienteque não tem os padrões médicos mínimos, ou ambos (World Health Organization, 1992). É importante que, diante de um caso de aborto inseguro ou provocado, do ponto de vista ético, não haja juízo de valor e nem julgamento, pois é dever de todos os profissionais de saúde acolher respeitosamente para não causar qualquer transtorno ou constrangimento (Brasil, 2011). A prática vem demonstrando ser imprescindível que o Código Penal seja reformulado para que contemple uma ampliação dos permissivos legais referentes ao aborto. O elevado número de abortos inseguros realizados anualmente e suas consequências para a saúde reprodutiva das mulheres demonstram que a criminalização desse ato não tem sido suficiente para diminuir sua incidência (World Health Organization, 2007). Assim, a atual legislação, bastante restritiva, está levando as mulheres a um itinerário de maior risco social em busca de medicamentos proibidos ou mesmo de práticas rudimentares, como a introdução de objetos na vagina e chás e preparados orgânicos aplicados no fundo do útero. Em países cujas leis foram flexibilizadas para estarem mais adequadas aos direitos sexuais e reprodutivos, evitando-se, assim, a clandestinidade do aborto inseguro, constatou-se redução da mortalidade materna pela melhora da qualidade e presteza do atendimento (World Health Organization, 2007). FORMAS CLÍNICAS E CONDUTAS O abortamento não se apresenta com roupagem clínica única. Pode-se diagnosticá-lo por meio de sinais e sintomas diversos que, agrupados aqui e acolá, caracterizam várias formas clínicas do abortamento: 1. Abortamento evitável ou ameaça de abortamento; 2. Abortamento inevitável; 3. Abortamento completo; 4. Abortamento incompleto; AMANDA FARIA 5º PERÍODO 5. Abortamento retido; 6. Abortamento infectado; 7. Abortamento habitual e abortamento previsto em lei. AMEAÇA DE ABORTAMENTO Como o próprio nome sugere, é o abortamento no qual há chances de reversão do quadro, isto é, existem perspectivas no que diz respeito à evolução da prenhez. Dois grandes sintomas o caracterizam: o sangramento e a dor. O primeiro é de pequena monta e o segundo traduz a contratilidade do útero, que promove cólicas leves e é incapaz de induzir modificações cervicais (Surita e Albuquerque, 2006). Cada mulher deve ser cuidadosamente examinada para que os diagnósticos diferenciais possam ser descartados, tais como: aborto inevitável e gravidez ectópica. Ao exame físico especular, podem-se encontrar: sangue coletado ou sangramento ativo de leve intensidade e colo uterino impérvio (Pinto e Silva e Surita, 2000). Ao toque vaginal combinado, constatam-se útero com tamanho compatível com o atraso menstrual, colo impérvio e sangramento de pequena monta. Ao exame ecográfico transvaginal, observa-se saco gestacional regular, batimento cardíaco fetal regular e superior a 100 bpm, área de descolamento ovular inferior a 40% do diâmetro do saco gestacional (Barra et al., 2006). A conduta é expectante, não existindo indicação de internação hospitalar, mesmo na presença de hematoma retroplacentário. Não há conduta médica a ser tomada para alterar a evolução ou não de um quadro de abortamento (Savaris, 2011). A recomendação de repouso no leito não demonstrou benefícios (Aleman et al., 2005; Gobbe et al., 2001). Deve-se utilizar analgésico se apresentar dor, evitar relações sexuais durante a perda sanguínea e retornar em caso de aumento do sangramento. QUADRO CLÍNICO Consiste, fundamentalmente, em hemorragia, que traduz anomalia decidual e/ou descolamento do ovo, e dor, sinal de contração uterina. • Hemorragia: é o elemento mais comum e costuma ser o 1 o a revelar distúrbios na evolução da gravidez. De modo geral, o fluxo sanguíneo na fase de ameaça é menor do que na interrupção inevitável. Os sangramentos precoces, de longa duração, escuros e do tipo “borra de café” são considerados mais sérios. Aproximadamente 30% das gestações apresentam sangramento no 1 o trimestre, e metade delas resultam em aborto. • Dores: precedem, acompanham e geralmente sucedem a hemorragia. São provocadas por metrossístoles fugazes e intermitentes. Contrações regulares, como as do trabalho de parto, espelham processo irreversível. Deve ser lembrado que o abortamento, muitas vezes, é precedido pela morte do embrião, e as perdas sanguíneas e as cólicas, antes de constituírem ameaça, anunciam interrupção inevitável. O exame físico confirma, exceto nas primeiras semanas, o útero aumentado, cujo volume é proporcional à data da amenorreia. O toque não é esclarecedor, pois não existem modificações cervicais. O exame especular pode afastar causas ginecológicas da hemorragia. TRATAMENTO Algumas recomendações que devem ser seguidas no período da ameaça de abortamento são: • Repouso relativo; não tendo fundamento a obrigatoriedade de acamar-se; • O coito deve ser proibido enquanto perdurar a ameaça; • Tranquilizar a gestante, sem, contudo, exibir demasiado otimismo (metade aborta); consumada a interrupção, mostre não haver, em geral, tendência a repetição; • Administrar antiespasmódicos e analgésicos nas pacientes com cólicas; • A progesterona vaginal não está recomendada no abortamento esporádico. AMANDA FARIA 5º PERÍODO ABORTAMENTO INEVITÁVEL É o abortamento não mais compatível com o prosseguimento da gestação. Traduz-se clinicamente pela dilatação da cérvice, que se deixa permear pelo dedo, que detecta, na maioria das vezes, as membranas ovulares ou o próprio embrião. Outra característica do abortamento inevitável é o sangramento profuso que compromete a hemodinâmica da paciente, mesmo com cérvice impermeável ao dedo. Há proporcionalidade entre as dimensões do útero e a idade gestacional estimada pela data da última menstruação DUM (Surita e Albuquerque, 2006). Nas gestações com mais de 12 semanas, pelo tamanho uterino, a conduta consiste no uso do misoprostol para promover o esvaziamento uterino e em seguida, na maioria das vezes, complementa-se com curetagem uterina. Abaixo de 12 semanas, indica-se o esvaziamento uterino mecânico por meio da vácuo-aspiração ou aspiração manual intrauterina (AMIU). Quando não for possível, faz-se a curetagem uterina. Como medidas complementares, administram-se solutos fisiológicos ou glicosados ou, ainda, sangue, caso a dinâmica circulatória esteja comprometida. QUADRO CLÍNICO Nas amenorreias de curta duração em que o ovo é pequeno, o processo pode ser confundido com menstruação, diferenciando-se dela pela maior quantidade de sangue; pela presença de embrião e decídua ao exame do material eliminado. Esse mecanismo é raro após 8 semanas. O cório frondoso bem desenvolvido fixa o ovo à decídua. A partir de 8 semanas, o processo de abortamento adquire, progressivamente, as características do trabalho de parto. O diagnóstico não oferece dificuldades. O episódio é, quase sempre, precedido por período de ameaça de abortamento; excepcionalmente, pode manifestar-se pela primeira vez no estágio de iminente expulsão. As hemorragias tendem a ser mais abundantes que as da fase de ameaça, e o sangue apresenta cor viva. O volume do útero corresponde à data da amenorreia, exceto quando a morte do ovo é antiga. O colo mostra-se permeável, notando-se as membranas herniadas pelo orifício externo na cavidade uterina. O quadro clínico inconfundível dispensa exames complementares. TRATAMENTO A conduta depende da idade da gravidez, se é abortamento tardio ou precoce. ABORTAMENTO PRECOCE (ATÉ 12 SEMANAS): Seguimos as recomendações do ACOG (2015) que divide as opções do tratamento em: expectante, médico ou cirúrgico. 1. Tratamento expectante: reservado ao 1 o trimestre da gestação. Com o tempo adequado (até 8 semanas), o tratamento expectanteé exitoso em conseguir a expulsão completa em aproximadamente 80% das mulheres. As pacientes habitualmente se queixam de sangramento moderado/grave e cólicas. Critério comumente utilizado para atestar a expulsão completa é a ausência de SG e a espessura do endométrio < 30 mm. A intervenção cirúrgica não é necessária em mulheres assintomáticas com o endométrio espessado após o tratamento do abortamento precoce. Assim, o exame sonográfico sob qualquer proposta diagnóstica que não seja documentar a ausência do SG não é recomendado; 2. Tratamento médico: para pacientes que querem encurtar o tempo da expulsão, mas preferem evitar o esvaziamento cirúrgico, o tratamento com o misoprostol, um análogo da prostaglandina E1, está indicado. Inicialmente utilizam-se 800 mg de misoprostol vaginal, podendo ser repetida a dose se necessário. A paciente deve ser aconselhada de que o sangramento é mais intenso que o menstrual, potencialmente acompanhado de cólicas e que a cirurgia poderá estar indicada se a expulsão não for completa; 3. Tratamento cirúrgico: mulheres que se apresentam com hemorragia, instabilidade hemodinâmica ou infecção devem ser tratadas urgentemente pelo esvaziamento uterino (ACOG, 2015). O esvaziamento cirúrgico também tem preferência em outras situações, incluindo a presença de complicações médicas, tais como anemia grave, desordens da coagulação e doença cardiovascular. AMANDA FARIA 5º PERÍODO Até 12 semanas são procedimentos de escolha a dilatação seguida de aspiração a vácuo ou de curetagem. A aspiração é superior à curetagem (ACOG, 2015). A utilização de rotina de curetagem após a aspiração não traz nenhuma vantagem e está contraindicada. A eficácia do esvaziamento uterino cirúrgico no abortamento precoce é de 99%. O tratamento médico de gestações anembrionadas é inferior (81%) àquele após a morte fetal (88%) ou após o abortamento precoce incompleto ou inevitável (93%) (ACOG, 2015). A formação de sinequias intrauterinas clinicamente importantes é rara após o esvaziamento cirúrgico. A hemorragia e a infecção podem ocorrer em todos os tipos de tratamento. Nessas condições, está indicado o antibiótico profilático: doxiciclina, 200 mg VO, 1 h antes do procedimento cirúrgico (ACOG, 2015) ou, alternativamente, cefalosporina de primeira geração (cefalotina ou cefazolina, 2 g IV). O benefício da profilaxia antibiótica para o tratamento médico do abortamento precoce é desconhecido. As medidas recomendadas pelo ACOG (2015) são: • Abstenção sexual por 1 a 2 semanas após a expulsão completa do ovo no abortamento precoce a fim de evitar infecção, embora não haja comprovação de sua eficácia; • Anticoncepção hormonal e dispositivo intrauterino (DIU), mesmo após o tratamento cirúrgico, podem ser utilizados imediatamente após o abortamento precoce, desde que não haja suspeita de abortamento séptico; • Mulheres Rh negativas não sensibilizadas deverão receber a imunoglobulina Rh (300 mg) imediatamente após o tratamento cirúrgico do abortamento precoce e dentro de 72 h do tratamento expectante ou do médico. ABORTAMENTO TARDIO (APÓS 12 SEMANAS): O ovo está muito desenvolvido, e a cavidade uterina, volumosa. Por serem suas paredes finas e moles, o esvaziamento instrumental torna-se perigoso. A expulsão é acelerada pela administração de ocitocina em grandes doses: perfusão venosa de solução de 10 unidades em 500 mℓ de Ringer com lactato ou misoprostol, por via vaginal, 400 mg a cada 4 h. Eliminado o ovo, e se a expulsão não foi completa, o remanescente é extraído com pinça adequada ABORTAMENTO INCOMPLETO Aqui se expulsa o concepto e permanece a placenta ou restos placentários. O ovo é eliminado parcialmente. A sintomatologia é evidenciada por meio do sangramento, que é o sintoma maior; o útero se reduz em proporções e fica menor que o esperado para a idade gestacional e as dores assumem as características de cólicas no intento de expulsar o conteúdo refratário. A cérvice é dilatada, e o comprometimento do estado geral da paciente está na dependência do grau da hemorragia. É bem mais frequente após a oitava semana gestacional. É a forma clínica mais frequente. O diagnóstico é eminentemente clínico, geralmente caracterizado por meio da sintomatologia esboçada. Opta-se pelo abortamento farmacológico ou mecânico por meio da vácuo-aspiração ou mesmo pela curagem digital complementada pela curetagem. Assim como no abortamento inevitável, no abortamento incompleto com menos de 12 semanas, pelo tamanho uterino, indica-se a AMIU e, quando não for possível, realiza-se a curetagem uterina. Nos casos com volume uterino maior de 12 semanas, a curetagem uterina deve ser utilizada após a eliminação do feto. QUADRO CLÍNICO Está relacionado com a eliminação parcial do ovo, que causa hemorragia persistente e é terreno propício à infecção. O abortamento incompleto é comum após 8 semanas de gestação, quando as vilosidades coriônicas ficam aderidas ao útero. Nos abortamentos tardios, a paciente consegue distinguir páreas e o concepto e, geralmente, informa a eliminação apenas do feto. O sangramento não cessa, é intermitente, pode ser intenso, e ocorre porque os restos ovulares impedem a contração uterina adequada. As cólicas persistem. O útero, amolecido, tem volume aumentado, mas o escoamento do líquido amniótico e, comumente do feto, reduz suas dimensões, que não são as previstas pela idade da gravidez. O colo está entreaberto. • Ultrassonografia: massa focal ecogênica caracteriza o diagnóstico de restos ovulares. AMANDA FARIA 5º PERÍODO TRATAMENTO O melhor tratamento para o abortamento incompleto é o esvaziamento cirúrgico, e nesse particular, a aspiração a vácuo. O tratamento expectante não é o mais indicado. ABORTAMENTO COMPLETO Diz-se do abortamento em que há eliminação integral do ovo. É uma forma clínica que segue a anterior, que não experimenta intervenção. A sintomatologia é representada pela diminuição ou mesmo parada do sangramento e das cólicas após a expulsão de ovo íntegro. Se não se presencia o fenômeno e o diagnóstico é apenas por meio da anamnese, é de bom alvitre realizar ecografia pélvica, que ratificará ou não o diagnóstico. A conduta é apenas expectante com monitoramento da hemorragia. É frequente até 8 semanas de gestação. Considera-se abortamento completo quando, após a expulsão do ovo, as cólicas cessam e o sangramento reduz-se a perdas muito discretas. Só a evolução do caso confirma o diagnóstico. • Ultrassonografia. “Útero vazio” é indicação certa de abortamento completo. Ecos intrauterinos centrais e escassos ou moderados podem representar coágulos sanguíneos, decídua, glândulas endometriais e placenta. As mesmas considerações que fizemos para o abortamento inevitável são aqui pertinentes. ABORTAMENTO RETIDO O conceito clássico é aquele concepto que permanece na cavidade uterina sem vitalidade. Os sinais gravídicos experimentam regressão, a ecografia mostra o coração inerte, diminui a altura do fundo uterino e míngua a circunferência abdominal, a turgescência mamária desaparece, bem como os sintomas ligados à presunção de gravidez. O diagnóstico é sugerido pela sintomatologia e confirmado pela ecografia, que não falha. QUADRO CLÍNICO No abortamento retido, o útero retém o ovo morto por dias ou semanas. Após a morte fetal, pode ou não haver sangramento vaginal. O útero mantém-se estacionário e pode até diminuir. A ultrassonografia não exibe BCF após o embrião ter atingido ≥ 7 mm ou o SG for ≥ 25 mm e embrião estiver ausente. Nas retenções prolongadas do ovo morto (> 4 semanas), os distúrbios da hemocoagulação constituem a complicação mais temida. Chama-se ovo anembrionado o tipo de abortamento retido no qual a ultrassonografianão identifica o embrião, estando o SG ≥ 25 mm. O diagnóstico definitivo de abortamento retido deve ser sempre confirmado por duas ultrassonografias espaçadas de 7 a 10 dias. TRATAMENTO O tratamento expectante é justificado baseando-se no fato de que, nas três semanas que se seguem ao decesso do ovo, a grande maioria redunda em trabalho de abortamento com expulsão do produto da concepção. No entanto, a intervenção, com o uso de misoprostol ou curetagem uterina ou vácuo-aspiração, é o procedimento mais adotado. Cabe ressaltar que nos casos de intervenção imediata os índices de uma segunda curetagem aumentam. Precedendo qualquer método terapêutico, o coagulograma se impõe quando a retenção é maior que quatro semanas. Portanto, para o abortamento retido em gestação no primeiro trimestre (precoce), poderemos aguardar naturalmente o início do trabalho de abortamento com controle clínico ou proceder ao esvaziamento uterino mecânica (AMIU ou curetagem) ou farmacologicamente (misoprostol). Deve-se explicar à paciente detalhadamente as vantagens e desvantagens de cada método, seus efeitos colaterais, complicações, custos e implicações futuras. Se decidido pelo esvaziamento mecânico, a utilização prévia (3 a 6 horas) de 400 µg misoprostol via vaginal promove amolecimento do colo e facilita a realização do procedimento. No entanto, quando o abortamento retido é tardio (segundo trimestre ou maior que 12 semanas), a melhor conduta é a promoção da expulsão do feto com uso de misoprostol, para em seguida completar o esvaziamento uterino, quase invariavelmente, por meio da curetagem uterina. AMANDA FARIA 5º PERÍODO ABORTO INFECTADO Embora mais escasso hoje do que alguns há duas décadas, o abortamento infectado continua a responder por fatia não desprezível da morbidade e mortalidade materna, principalmente nos países em desenvolvimento. A etiologia quase sempre resulta da tentativa de esvaziar o útero por meio do uso de técnicas inadequadas e inseguras (introdução de sondas, agulhas, laminárias e soluções variadas). A anamnese tem, portanto, valor muito grande na definição diagnóstica ao identificar na história o episódio provocador. O contexto clínico é multifacetário e a sintomatologia está na dependência direta do grau de evolução da entidade patológica em epígrafe (Rana, 2004; Stubblefield e Grimes, 1994). O sangramento, em geral, não é profuso. Costuma se manifestar por sangue aguado, escuro, tipo “lavado de carne”, costumeiramente com odor fétido. Nas formas iniciais, em que apenas o endométrio e o miométrio estão comprometidos pelo processo infeccioso, além dos sintomas de abortamento incompleto, detectam-se aqueles outros que traduzem a infecção, principalmente a febre em torno de 38 ºC, dor média tipo cólicas intermitentes e bom estado geral, sendo o exame físico possível, com dor moderada à mobilização do colo uterino e à palpação abdominal. Se o processo progrediu para estágios mais avançados, injuriando o peritônio pélvico, a sintomatologia passa a ser mais enriquecida e, além da temperatura mais elevada (39 ºC), a dor é mais intensa e o estado geral é comprometido com taquicardia, algum grau de desidratação com pele e mucosas descoradas. É difícil a palpação uterina devido à contratura dos retos abdominais resultante da dor e/ou reação peritoneal. No toque vaginal combinado, constata-se o colo uterino aberto, muitas vezes com saída de conteúdo purulento, no entanto a sua realização é bastante dolorosa devido a reação peritoneal, praticamente impossibilitando a mobilização do útero. Se a sepse se instala, a gravidade aumenta e o estado geral é fortemente deteriorado, com sinais tóxicos evidentes, altas temperaturas refratárias à medicação, calafrios, cianose, desidratação, hipotensão, taquicardia, pulso filiforme com distensão abdominal e vômitos. Com frequência, o próprio decesso materno é o epílogo desses casos, apesar de toda a terapêutica supostamente efetiva. Na sequência, o quadro pode evoluir para insuficiência renal aguda e formação de abcesso intraperitoneal (Rana, 2004). O diagnóstico é fácil, embasando-se no quadro clínico já referido, ajudado pelo leucograma infeccioso e pela ecografia pélvica, ao evidenciar as coleções purulentas, porventura, acumuladas no fundo de saco de Douglas, ou mesmo no restante do abdome. QUADRO CLÍNICO O abortamento infectado sucede, quase sempre, a interrupção provocada em más condições técnicas, mas esta não é sua única origem. Espontâneo ou intencional, há sempre antecedentes que a anamnese esclarece: abortamento incompleto, manipulação instrumental cavitária, introdução de sondas, laminárias, soluções diversas. Os microrganismos causadores são os existentes na flora do sistema genital e dos intestinos: cocos anaeróbios (peptococos, peptoestreptococos), E. coli, bacteroides, Clostridium perfringens. A classificação clínica mais utilizada é feita em três formas: I, II e III. I. Endo(mio)metrite. É o tipo mais comum. A infecção é limitada ao conteúdo da cavidade uterina, à decídua e, provavelmente, ao miométrio. A sintomatologia é semelhante à do abortamento completo ou incompleto. A elevação térmica é pequena (pouco acima de 38°C), e o estado geral é bom; as dores são discretas. Não há sinais de irritação peritoneal, e tanto a palpação do abdome como o toque vaginal são tolerados. Hemorragia escassa é a regra. II. Pelviperitonite. Em função da virulência do microrganismo e, sobretudo, do terreno, a infecção progride, agora localizada no miométrio, nos paramétrios e anexos, comprometendo o peritônio pélvico. Todavia, a hemorragia não é sinal relevante. O sangue escorre mesclado a líquido sanioso, cujo odor é fecaloide, com presença de anaeróbios. Se um abortamento incompleto suceder a infecção, como é usual, eliminam-se fragmentos do ovo. A temperatura está em torno de 39°C e o estado geral está afetado, com taquicardia, desidratação, paresia intestinal, anemia. As dores são constantes e espontâneas. A defesa abdominal está limitada ao hipogástrio e não se estende ao andar superior do abdome. O exame pélvico é praticamente impossível, tal a dor despertada. Feito muito delicadamente, nota-se útero amolecido, mobilidade reduzida e paramétrios empastados. O colo costuma estar entreaberto. AMANDA FARIA 5º PERÍODO III. Peritonite. Trata-se da forma extremamente grave, da infecção generalizada. As condições da genitália repetem as da forma anterior. Há peritonite, septicemia e choque séptico, decorrentes, em geral, do acometimento por gram-negativos (E. coli), mas também de bacteroides e Clostridium. A infecção por Clostridium piora o prognóstico, pela liberação da exotoxina que pode levar à síndrome do choque tóxico com insuficiência generalizada dos órgãos decorrente do vazamento capilar massivo (Morgan & Roberts, 2013). Curiosamente, os indivíduos afetados podem não desenvolver febre com essa infecção anaeróbia e por ocasião da histerectomia, único tratamento plausível, observa-se a crepitação dos tecidos. Temperatura elevada, mas, nem sempre, pulso rápido, filiforme, hipotensão arterial, abdome distendido, desidratação acentuada, oligúria e icterícia, são sinais gerais. Em outras pacientes, há endocardite, miocardite e subsequente falência do órgão. Tromboflebite pélvica e embolia pulmonar podem ser encontradas. As condições hemodinâmicas e infecciosas conduzem à infecção renal aguda. São comuns abscessos no fundo de saco posterior, entre as alças e o epíploo, retroperitoneais, sub-hepáticos e subdiafragmáticos. Em casos de abortamento provocado por substâncias injetadas no útero, considera-se o quadro do infarto uteroanexial. Os órgãos genitais alojam lesões necróticas, semelhantes às da apoplexiauteroplacentária, e, como nessa entidade, são comuns os distúrbios da hemocoagulação. TRATAMENTO O tratamento resume-se em administrar o antibiótico adequado e remover o foco infeccioso. Nas formas iniciais, opta-se pela clindamicina associada à gentamicina ou amicacina. Nos casos mais graves, associa-se a penicilina G ou a ampicilina. Ainda como parte do tratamento clínico, deve-se equilibrar o estado geral da paciente com a administração de solutos e até mesmo sangue, se necessário. O tratamento definitivo, que é o cirúrgico após as providências já sugeridas, é representado pela curetagem uterina com remoção do foco infeccioso, quase sempre traduzido nos restos placentários infectados. Se as medidas mobilizadas não resultarem em melhora do quadro clínico ou quando houver suspeita de perfuração uterina, lesão de alça e abscesso pélvico, procedimentos mais radicais são exigidos, impondo-se laparotomia seguida de extirpação do foco, inclusive histerectomia, se for o caso. ABORTAMENTO HABITUAL O abortamento habitual ou recorrente é definido como a perda de duas ou mais gestações. Esse conceito é considerado inovador, haja vista que a maioria dos autores continua definindo abortamento habitual como a perda de três ou mais gestações consecutivas. O abortamento habitual é dos temas mais controversos em Obstetrícia. ETIOLOGIA FATORES EPIDEMIOLÓGICOS: O abortamento habitual, definido como duas ou mais interrupções, afeta cerca de 5% dos casais tentando conceber; para três ou mais interrupções, a incidência. A idade materna e o número de abortamentos anteriores são dois fatores de risco independentes para uma nova interrupção. A idade materna avançada está associada a declínio tanto no número como na qualidade dos oócitos remanescentes. A idade paterna também tem sido reconhecida como fator de risco. ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS: Em aproximadamente 2 a 4% dos casais com abortamentos recorrentes, pelo menos um dos parceiros, especialmente a mulher, é portador de anomalia estrutural balanceada, na maioria das vezes, uma translocação. Muito embora os portadores de translocações balanceadas sejam fenotipicamente normais, a perda fetal ocorre porque a segregação durante a meiose resulta em gametas com duplicação ou falta de segmentos nos cromossomos. Além da incidência maior de abortamento, essas gestações carreiam risco de crianças malformadas. A cada gestação, a chance de abortamento é de 20 a 30%, às vezes de 50%. Isso significa que cerca de dois terços dos casais com translocação balanceada e abortamento recorrente têm recém-nascidos normais na gestação seguinte. AMANDA FARIA 5º PERÍODO SÍNDROME ANTIFOSFOLIPÍDIO: A síndrome antifosfolipídio (SAF) talvez seja a causa mais importante de abortamento habitual. A SAF refere- se à associação entre anticorpos antifosfolipídio – lúpus anticoagulante (LAC) e anticardiolipina (aCL) – e trombose vascular ou prognóstico adverso na gravidez (Giannakopoulos & Krilis, 2013). Muitas investigações têm relatado anticorpos antifosfolipídios em 5 a 20% das mulheres com abortamento recorrente (ACOG, 2011) (Capítulo 48). Dos abortamentos habituais, 15 a 20% são causados por SAF. Mulheres com abortamento recorrente por SAF, sem tratamento, têm chance de apenas 10% de feto vivo. DOENÇAS ENDÓCRINAS: Estão relacionadas deficiência luteínica, hipotireoidismo (doenças autoimunes – Hashimoto) e síndrome do ovário policístico (SOP), presentes em 15 a 20% das abortadoras habituais. A tireoidite de Hashimoto é 10 vezes mais frequente em mulheres do que em homens e está associada aos anticorpos antitireoperoxidase (anti-TPO) e antitireoglobulina (anti-Tg). A SOP é uma síndrome metabólica que envolve ovário policístico, disfunção ovariana, androgenismo e resistência à insulina, incidindo em 5 a 7% das mulheres em idade de conceber. Já o ovário policístico (OP) é uma entidade discreta, vista em 15 a 25% das mulheres com ciclos regulares ovulatórios, representando uma forma leve de hiperandrogenismo ovariano, também associada a maior resistência à insulina (Adams et al., 2004). Segundo algumas instituições de referência, todas essas doenças teriam associação elusiva com o abortamento habitual. Por outro lado, a Endocrine Society refere que mulheres com anti-TPO positivo e hipotireoidismo (TSH > 2,5 mUI/l) têm indicação de levotiroxina para tratar o abortamento habitual. FATORES ANATÔMICOS: • Malformações uterinas. Estão presentes em 10 a 15% dos abortamentos habituais. As malformações uterinas deformam a cavidade uterina e prejudicam o desempenho reprodutivo, acentuando a incidência de abortamentos, parto pré-termo, crescimento intrauterino restrito (CIR), ruptura uterina e apresentações anômalas. A insuficiência cervical está frequentemente associada aos defeitos congênitos uterinos, o que explica por que o útero arqueado, a malformação mais leve, também determine mau prognóstico obstétrico. O útero septado é o mais frequente (35% dos casos) em virtude da má vascularização do septo. Os úteros didelfo, bicorno e septado estão associados a taxas de parto pré-termo 2 a 3 vezes mais elevadas do que na população geral. • Insuficiência cervical. Determina, tipicamente, abortamentos de 2 o trimestre, e o diagnóstico é feito pela história clínica de ruptura espontânea das membranas e dilatação sem dor. Dada sua importância no abortamento habitual, a insuficiência cervical será analisada separadamente, ao final do capítulo. • Miomas. Os miomas que distorcem a cavidade intrauterina podem determinar abortamento habitual de 2 o trimestre. FATORES IMUNOLÓGICOS: Células T regulatórias (Treg) são um subtipo de célula T auxiliar CD4 + que funciona para inibir a resposta imunológica decorrente de infecção, inflamação e autoimunidade. O FOXP3, fator de transcrição expresso pelas Treg, medeia essa função supressora. Na verdade existem dois tipos de Treg: tímico (tTreg) e periférico (pTreg). Recentemente, identicou-se um elemento genético móvel que exalta o gene FOXP3, o CNS1, que existe nas pTreg mas não nas tTreg. Desse modo, apenas as pTreg são capazes de refrear a resposta imunológica induzida pela gravidez, de reconhecer os antígenos paternos. Essas pTreg suprimem as células T efetoras maternas e mitigam o conflito materno-fetal causado pelos aloantígenos paternos. A deficiência de CNS1 conduz à inabilidade de induzir pTreg na mãe, resultando em infiltração de célula T ativada na placenta e consequente abortamento de repetição. AMANDA FARIA 5º PERÍODO EXAMES DIAGNÓSTICOS Podem ser assim enumerados: • Cariótipo do casal; • Avaliação citogenética no material de abortamento; • Ultrassonografia transvaginal 3D; • Dosagem dos anticorpos LAC (o mais importante) e aCL Dosagem de TSH e de anti-TPO; • Dosagem de testosterona livre/total. Não se consegue reconhecer a causa de mais de 50% dos casos de abortamento habitual. TRATAMENTO As principais medidas terapêuticas são: 1. Fertilização in vitro (FIV) com diagnóstico pré-implantação (DPI) nas alterações cromossômicas do casal; 2. Na insuficiência luteínica, administração de progesterona vaginal, 200 mg/dia, 2 a 3 dias após a ovulação até a transferência luteoplacentária entre 7 e 9 semanas. O ACOG (2015) é favorável à utilização de progesterona no abortamento habitual. Por outro lado, a investigação randomizada de Coomarasamy et al. (2015) em mulheres com história de abortamento habitual inexplicável concluiu que a progesterona vaginal no primeiro trimestre da gestação não foi capaz de elevar a taxa de nascimentos vivos; 3. Administração de levotiroxina no hipotireoidismo (Hashimoto), desde que o TSH esteja > 2,5 mUI/mℓ; 4. Redução de peso e metformina na SOP, que seria mantida até 12 semanas da gravidez;5. Administração de heparina e ácido acetilsalicílico (AAS) infantil na SAF (70% de tratamento bem-sucedido); 6. Ressecção histeroscópica no útero septado e no mioma intracavitário. A ASRM (2012) não recomenda o tratamento da mulher contra antileucócitos paternos, nem a administração de imunoglobulina intravenosa. O casal com abortamento habitual de causa inexplicável deve ser confortado, comunicando-lhe a chance de êxito de 70% em uma próxima gravidez (ASRM, 2012). Antes de uma nova concepção, aconselha-se: mudança no estilo de vida com exercícios moderados e perda de peso, suplementação de ácido fólico, cessação do tabagismo, moderação no consumo de cafeína e de álcool. INSUFICIÊNCIA CERVICAL O termo insuficiência cervical é utilizado para descrever a incapacidade do colo uterino em reter o produto da concepção no 2 o trimestre da gravidez, na ausência de sinais e sintomas de contrações e/ou parto (ACOG, 2014). A insuficiência cervical tem incidência de 1:1.000 partos e representa 8% dos casos de abortamento habitual. QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO Exibindo quadro clínico característico, a insuficiência cervical é uma das principais causas de abortamento habitual tardio ou de parto pré-termo extremo. A “dilatação cervical é sem dor” e o feto nasce vivo e morfologicamente normal. A insuficiência cervical costuma ser precedida por história de traumatismo cervical causado por conização, laceração cervical no parto ou dilatação exagerada do colo em casos de interrupção provocada da gravidez e defeitos müllerianos. Secreção mucoide vaginal e dilatação de 4 a 6 cm sem desconforto apreciável ou percepção de contrações reforçam o diagnóstico. A dilatação cervical com herniação das membranas visualizadas ao exame especular configura o quadro de insuficiência cervical aguda. As perdas gestacionais ocorrem tipicamente no 2 o ou no início do 3 o trimestre, com cada interrupção ocorrendo mais cedo do que a anterior. Não há nenhum teste diagnóstico pré-concepcional recomendado para confirmar insuficiência cervical. O achado sonográfico de colo curto no 2 o trimestre, embora esteja associado a risco aumentado de parto pré-termo (Poon et al., 2012), não é suficiente para diagnosticar a insuficiência cervical, quando está ausente a história clínica (ACOG, 2014). AMANDA FARIA 5º PERÍODO TRATAMENTO O tratamento é cirúrgico por meio da cerclagem do colo uterino, realizada na gravidez. Há duas técnicas de cerclagem vaginal, Shirodkar e McDonald, e uma de cerclagem transabdominal. Apesar de não haver comprovação da superioridade de uma técnica sobre a outra (ACOG, 2014), a técnica de Shirodkar está praticamente em desuso e a de McDonald, mais simples, é o procedimento de escolha. A técnica de McDonald consiste em uma sutura em bolsa no nível da junção cervicovaginal com fio Ethibond 5. A cerclagem deve ser limitada a gestações no 2 o trimestre (até 24 semanas), antes da viabilidade fetal. Nem antibióticos nem tocolíticos profiláticos melhoram a eficácia da cerclagem. Certas condutas não cirúrgicas, incluindo restrição da atividade física e repouso no leito e pélvico, não são efetivas para o tratamento da insuficiência cervical e devem ser desencorajadas. TÉCNICAS DE ESVAZIAMENTO UTERINO O esvaziamento intrauterino é a remoção do conteúdo uterino. Esse procedimento está indicado no abortamento incompleto, inevitável, retido ou infectado, gestação anembrionada, mola hidatiforme e interrupção legal da gestação. O esvaziamento uterino pode ser realizado de forma farmacológica ou mecânica. No segundo trimestre da gestação, o abortamento farmacológico é o método de escolha, complementado, na maioria das vezes, com curetagem após a expulsão do feto (Lukman e Pogharian, 1996; Gemzell-Danielsson et al., 2007). Em condições excepcionais, nas quais os demais procedimentos falhem, é possível a realização de uma microcesariana, como último recurso (Brasil, 2011). FARMACOLOGIA A técnica farmacológica para tratamento do abortamento, tanto do retido e, mais recentemente, do incompleto, desponta como opção ao método cirúrgico a partir do uso do misoprostol em obstetrícia. A forma mais efetiva da promoção do abortamento farmacológico e com menos efeitos colaterais é a combinação de mifepristona seguida de misoprostol (RCOG, 2004). No Brasil, infelizmente não temos ainda mifepristona, apenas o misoprostol em comprimidos para uso vaginal de 25, 100 e 200 µg para uso hospitalar. conforme a Portaria MS/GM nº 1.044, de 5 de maio de 2010, e a Resolução RDC nº 13, de 26 de março de 2010. No entanto, além da via vaginal, o misoprostol pode ser utilizado pela via sublingual (por baixo da língua), oral e bucal (entre a bochecha) (Morris et al., 2017). Como principais vantagens do uso do misoprostol, podemos elencar: custo acessível, ausência da possibilidade de perfuração uterina e formação sinequial, redução dos riscos de sequelas inerentes à dilatação do colo uterino e eliminação do risco anestésico. Como desvantagens, temos o tempo de resolução, algumas vezes até sete dias, os efeitos colaterais até a expulsão do conteúdo da cavidade uterina, como cólica, sangramento, náusea, calafrios, a necessidade eventual de complementação cirúrgica e, principalmente, a ansiedade pela espera (Gemzell-Danielsson et al., 2007). ABORTAMENTO RETIDO NO PRIMEIRO TRIMESTRE Para mulheres internadas, recomendam-se duas a três doses de quatro comprimidos de 200 µg (800 µg) via vaginal no intervalo mínimo de 3 ou 12 horas (RCOG, 2004; Morris et al., 2017; Brasil, 2012; Organização Mundial da Saúde, 2013). Até nona semana de gestação, não se faz necessária internação para o uso de misoprostol (World Health Organization, 2009). No Brasil, como o misoprostol é de uso exclusivo hospitalar, recomendamos, para as mulheres que não desejam ficar internadas e com menos de nove semanas de gestação, a inserção do misoprostol na triagem, na dose de quatro comprimidos de 200 µg (800 µg) via vaginal, com intervalo entre as doses subsequentes de acordo com a disponibilidade da mulher para retornar à maternidade, variando de 3 horas até 24 horas. Nesses casos, o acesso da paciente à maternidade deve ser fácil e rápido, bem como se deve orientá-la e fornecer medicamentos para que possa usá-los se necessário, como analgésicos e antieméticos. Os serviços médicos devem estabelecer critérios para cada caso, levando em conta o estado físico e psicológico da paciente e a facilidade de comunicação com a paciente e seus familiares. AMANDA FARIA 5º PERÍODO MECÂNICA Os dois métodos mais utilizados para a remoção do conteúdo uterino são aspiração intrauterina (manual ou elétrica) e curetagem (Klein e Stein, 1987). De acordo com a OMS, a AMIU é o método preferido no primeiro trimestre e uma das estratégias para diminuir a morte materna (Shwekerela et al., 2007). Embora a OMS e a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) recomendem que a curetagem seja usada apenas se a aspiração intrauterina não for disponível, muitos estabelecimentos no Brasil ainda a usam para esvaziamento uterino no primeiro trimestre de gravidez como método de primeira escolha (Brasil, 2011), diferente dos Estados Unidos da América, onde a AMIU é o método de esvaziamento uterino mais utilizado até idade gestacional ≤ 13 semanas e 80% a 90% desses procedimentos são realizados em ambulatórios (Jatlaoui et al., 2016). Para realização do esvaziamento mecânico com colo uterino fechado no primeiro trimestre, é de bom alvitre a utilização de 400 µg de misoprostol via vaginal algumas horas (em média 3 horas) antes do esvaziamento mecânico, no intuito de promover amolecimento e algum grau de dilatação do colo uterino (RCOG, 2004; Brasil, 2012). PROCEDIMENTOS INICIAIS Antes do esvaziamento
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