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Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 1 Trauma torácico As lesões com risco iminente à vida são tratadas da forma mais rápida e mais simples possível. A maioria das lesões torácicas com risco à vida é tratada pela permeabilização da via aérea ou pela inserção apropriada de um dreno de tórax ou de uma agulha. (A) VIA AÉREA É importante avaliar ouvindo-se os movimentos do ar no nariz, boca e campos pulmonares, inspecionando-se a orofaringe e observando-se as contrações musculares intercostais e supraclaviculares. As lesões traumáticas na parte superior do tórax podem criar um defeito palpável na região da articulação esternoclavicular com luxação posterior da cabeça da clavícula, causando obstrução da via aérea superior. Reconhece-se esta lesão observando-se a obstrução da via aérea superior (estridor) ou pela modificação acentuada na qualidade da voz (se o doente for capaz de falar). O tratamento consiste na redução da lesão com a extensão dos ombros, ou pelo pinçamento da clavícula com instrumento cirúrgico adequado (pinças de campo de Backhaus) e pela redução manual da fratura. Uma vez reduzida, habitualmente esta fratura é estável quando o doente permanece na posição supina. (B) VENTILAÇÃO O tórax e o pescoço do doente devem ser expostos completamente para que se possa avaliar a ventilação e as veias do pescoço. Essa avaliação requer a abertura temporária do colar cervical nos doentes com trauma fechado. O aumento da frequência respiratória e a mudança no padrão dos movimentos da caixa torácica, especialmente a ocorrência de movimentos respiratórios cada vez mais superficiais, constituem- se de lesões torácicas ou de hipóxia. Atenção: cianose é um sinal tardio de hipóxia no doente traumatizado. Pneumotórax hipertensivo Ocorre quando há vazamento de ar, tanto do pulmão como através da parede torácica, para o espaço pleural por um sistema de "válvula unidirecional". O ar entra para a cavidade pleural sem possibilidade de sair, colapsando completamente o pulmão. O mediastino é deslocado para o lado oposto, diminuindo o retorno venoso e comprimindo o pulmão contralateral. Pode causar o choque obstrutivo, por acentuada diminuição do retorno venoso e queda do débito cardíaco. A causa mais comum de pneumotórax hipertensivo é a ventilação mecânica com pressão positiva em doentes com lesão da pleura visceral. No entanto, o pneumotórax hipertensivo pode constituir-se em complicação de um pneumotórax simples, devido a trauma penetrante ou fechado do tórax, no qual não ocorreu o fechamento da lesão do parênquima pulmonar, ou após tentativas mal direcionadas de inserção de cateter venoso central, seja por via subclávia ou jugular interna. Também pode resultar de fraturas com grande desvio da coluna torácica e lesões traumáticas torácicas, seja por mecanismo valvular unidirecional ou porque a lesão foi recoberta, incorretamente por um curativo oclusivo. O diagnóstico é clínico e reflete ar sob pressão no espaço pleural. O tratamento não deve ser adiado à espera de confirmação radiológica. o Dor torácica; o Dispneia importante; o Desconforto respiratório; o Taquicardia; o Hipotensão; o Desvio da traqueia para o lado contrário à lesão; o Ausência unilateral de murmúrio vesicular; o Elevação do hemitórax sem movimento respiratório; Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 2 o Distensão das veias do pescoço; o Cianose como manifestação tardia. Pela semelhança dos sinais e sintomas, o pneumotórax hipertensivo pode, inicialmente, ser confundido com tamponamento cardíaco. A diferenciação pode ser feita por timpanismo notado à percussão, desvio da traqueia e ausência de MV no HTX afetado. O pneumotórax hipertensivo exige descompressão imediata e pode ser tratado inicialmente pela rápida inserção de uma agulha de grosso calibre no 2º EIC, na linha medioclavicular do hemitórax afetado. Quando bem sucedida, essa manobra converte a lesão em um pneumotórax simples; contudo, há a possibilidade de ocorrer pneumotórax subsequente à própria inserção da agulha. É necessário proceder a reavaliações sucessivas. O tratamento definitivo requer a inserção de um dreno torácico no 5º EIC, imediatamente anterior à linha axilar média. Pneumotórax aberto (ferida torácica aspirativa) Grandes ferimentos da parede torácica, que permanecem abertos resultam em pneumotórax aberto. Nessas condições, o equilíbrio entre as pressões intratorácica e atmosférica é imediato. O ar tende a passar pelo local de menor resistência; por isso, se a abertura da parede torácica é de aproximadamente dois terços do diâmetro da traqueia ou maior, nos esforços ventilatórios o ar passa preferencialmente pela lesão da parede. Por isso, a ventilação efetiva é prejudicada, resultando em hipóxia e hipercapnia. O tratamento inicial constitui-se no fechamento imediato da lesão através de um curativo estéril. O curativo deve ser grande o suficiente para encobrir todo o ferimento e fixado em três de seus lados para produzir um efeito de válvula unidirecional. Quando o doente inspira, o curativo oclui o ferimento, bloqueando a entrada de ar. Na expiração, o lado que não está fixado permite o escape de ar de dentro da cavidade pleural. Um dreno de tórax deve ser inserido longe do ferimento assim que possível. A fixação dos quatro lados do curativo pode causar acúmulo do ar no espaço pleural, resultando num pneumotórax hipertensivo, a menos que o tórax esteja drenado. Qualquer curativo oclusivo (gaze vaselinada, lâmina de plástico) pode ser usado como medida temporária de modo a permitir que a avaliação prossiga rapidamente. Em geral, o tratamento definitivo é cirúrgico. Tórax instável e contusão pulmonar O tórax instável ocorre quando um segmento da parede torácica não tem mais continuidade óssea com a caixa torácica e geralmente é consequente a um trauma que provoca múltiplas fraturas de arcos costais. Embora a instabilidade da parede torácica leve ao seu movimento paradoxal durante a inspiração e a expiração, este efeito isolado não causa hipóxia. As maiores repercussões do tórax instável provêm da lesão pulmonar subjacente (contusão pulmonar), se ela for grande, poderá ocorrer hipóxia grave, assim como a dor associada à restrição dos movimentos ventilatórios. As medidas iniciais envolvem a correção da hipoventilação, a administração de oxigênio umidificado e a reposição volêmica. Na ausência de hipotensão sistêmica, a administração intravenosa de soluções cristaloides deve ser cuidadosamente controlada para evitar uma hiper- hidratação, que pode agravar a ventilação do doente. Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 3 A terapia definitiva consiste em garantir a melhor oxigenação possível, administrar líquidos cautelosamente e providenciar analgesia para melhorar a ventilação. Isso pode ser conseguido utilizando se narcóticos endovenosos ou anestésicos locais, que evitam uma possível depressão respiratória associada à narcose sistêmica. As opções de administração de anestésicos locais incluem bloqueio intermitente do nervo intercostal, e anestesia intrapleural, extrapleural ou peridural. Quando empregados apropriadamente, os agentes anestésicos locais podem produzir analgesia excelente e evitar a necessidade de intubação. No entanto, deve-se prevenir a hipóxia, e pode ser conveniente um curto período de intubação e ventilação, necessitando-se fazer avaliação cuidadosa da frequência respiratória, da pressão parcial de oxigênio arterial e da estimativa do trabalho respiratório. Hemotórax maciço É causado, mais comumente, por ferimentos penetrantes que dilaceram os vasos sistêmicos ou hilares. Contudo, pode também ser resultado de um trauma contuso. O acúmulo de sangue e líquidos em um hemitórax podeprejudicar de forma significativa o esforço respiratório pela compressão do pulmão e pela limitação da ventilação normal. O acúmulo maciço de sangue pode resultar em hipotensão e choque. (C) CIRCULAÇÃO A pressão sanguínea e a pressão de pulso são aferidas e a circulação periférica é avaliada pela observação da coloração e da temperatura da pele. As veias do pescoço devem ser avaliadas quanto a distensão, lembrando-se de que elas não estarão distendidas quando o doente estiver hipovolêmico, em casos de tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo ou lesão traumática do diafragma. Deve-se instalar um monitor cardíaco e um oxímetro de pulso no doente. Os doentes com trauma torácico - especialmente na área do esterno ou decorrente de desaceleração rápida - são suscetíveis a contusão miocárdica, que pode levar a arritmias. Hemotórax maciço As veias do pescoço podem estar colabadas devido à grave hipovolemia ou distendidas quando existir um pneumotórax hipertensivo concomitante. Um hemotórax maciço é diagnosticado pela associação de choque com ausência de murmúrio vesicular e/ou macicez à percussão. O tratamento inicial envolve reposição do volume sanguíneo e descompressão da cavidade torácica, realizadas simultaneamente. Após conseguir rápido acesso venoso com cateter calibroso, inicia-se a infusão de cristaloide e, assim que possível, administra-se sangue tipo-específico. O sangue removido através do dreno de tórax deve ser coletado em um dispositivo que permita a autotransfusão. Insere-se um único dreno de tórax (no 36 ou 40 French) geralmente ao nível do mamilo (5º EIC), anteriormente à linha axilar média, e continua-se com a reposição volêmica rápida à medida que se completa a descompressão da cavidade torácica. Se o volume drenado imediatamente for de cerca de 1,5 L, é muito provável que seja necessária uma toracotomia de urgência para o doente. Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 4 A necessidade persistente de transfusões sanguíneas constitui-se em indicação de toracotomia. Durante a reanimação do doente, para o cálculo da reposição total de fluidos, deve-se contabilizar o volume de sangue perdido imediatamente após a drenagem acrescido do volume que continua drenando a seguir. Os ferimentos torácicos penetrantes anteriores e mediais à linha dos mamilos ou posteriores e mediais às escápulas devem alertar o médico para a eventual necessidade de toracotomia, pela possível lesão dos grandes vasos, das estruturas hilares e do coração, com risco potencial de tamponamento cardíaco. Tamponamento cardíaco Pode resultar de ferimentos penetrantes e trauma contuso, com derrame pericárdico de sangue proveniente do coração, dos grandes vasos ou dos vasos pericárdicos. É identificado pela presença da clássica tríade diagnóstica de Beck: o Elevação da pressão venosa; o Diminuição da pressão arterial; o Abafamento das bulhas cardíacas. As bulhas cardíacas abafadas são difíceis de serem auscultadas no serviço de emergência e a distensão das veias do pescoço pode estar ausente devido à hipovolemia. O pneumotórax hipertensivo, particularmente à esquerda, pode mimetizar o tamponamento cardíaco. O sinal de Kussmaul (aumento da pressão venosa na inspiração) reflete um comportamento paradoxal da pressão venosa efetivamente associado ao tamponamento. Os métodos diagnósticos adicionais incluem o ECO, a avaliação ultrassonográfica direcionada para o trauma (FAST) e a janela pericárdica. Em doentes que sofreram traumatismos fechados ou penetrantes e apresentam anormalidades hemodinâmicas e suspeita de tamponamento cardíaco, o exame ultrassonográfico do saco pericárdico, à procura de líquido, pode ser incluído no FAST. O diagnóstico e a evacuação imediata de sangue coletado no saco pericárdico são indicados em doentes que não respondem às medidas habituais de reanimação para o choque hemorrágico e que potencialmente são suspeitos de tamponamento cardíaco. Quando a intervenção cirúrgica não for possível, a pericardiocentese pode ser tanto diagnóstica como terapêutica, mas não se constitui em tratamento definitivo para o tamponamento cardíaco. Mesmo que a suspeita de tamponamento cardíaco seja alta, a reposição de fluidos endovenosos aumenta a pressão venosa e melhora transitoriamente o débito cardíaco enquanto se fazem os preparativos para a cirurgia. Quando uma pericardiocentese subxifoídea é utilizada como manobra temporária, o ideal é utilizar uma agulha recoberta por cateter plástico ou a inserção de um cateter flexível pela técnica de Seldinger; porém, a prioridade é aspirar o sangue do saco pericárdico. Pela característica de autovedação do miocárdio, a simples aspiração do sangue do saco pericárdico pode aliviar temporariamente os sintomas de tamponamento. No entanto, todos os doentes com tamponamento agudo e com pericardiocentese positiva necessitarão de uma cirurgia para a inspeção do coração e o reparo da lesão. A pericardiocentese pode não ser nem diagnóstica nem terapêutica quando o sangue no saco pericárdico estiver coagulado. Os doentes que chegam com lesão torácica penetrante sem pulso, porém com atividade elétrica miocárdica, podem ser candidatos à toracotomia na sala de emergência. A restauração do volume intravascular deve ser mantida, é essencial que se proceda à intubação endotraqueal e à ventilação mecânica. Não se deve realizar qualquer esforço para a reanimação de doentes sem nenhum sinal de vida e sem nenhuma atividade elétrica do coração. Os doentes com trauma fechado, que chegam sem pulso, mas com atividade elétrica miocárdica, não são candidatos à toracotomia de reanimação na sala de emergência. Comentado [AP1]: Os sinais de vida incluem pupilas reativas, movimentos espontâneos ou atividade eletrocardiográfica organizada. Comentado [AP2]: A toracotomia de reanimação no serviço de emergência raramente é eficiente em doentes que sofreram traumatismo fechado e apresentam parada cardíaca. Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 5 A avaliação secundária inclui um exame físico adicional mais detalhado, RXTX anteroposterior se a condição do doente permitir, gasometria arterial, monitoração da oximetria de pulso e ECG. No exame das radiografias, além de analisar a expansão pulmonar e verificar a presença de derrame pleural, alargamento do mediastino, desvio da linha média ou perda de algum detalhe anatômico. A USG tem sido utilizada para detectar casos de pneumotórax e hemotórax. No entanto, outras lesões potencialmente letais não são bem visualizadas na USG. Diferentemente das lesões com risco iminente à vida que são reconhecidas durante a avaliação primária, as lesões a seguir frequentemente não são óbvias ao exame físico. O diagnóstico requer alto índice de suspeita e a utilização de exames complementares. o Pneumotórax simples→ não pode ser ignorado ou esquecido. Ele pode evoluir para um pneumotórax hipertensivo. O hipertimpanismo é muito difícil de ser observado na sala de emergência movimentada. Um RXTX anteroposterior, em expiração, pode auxiliar no diagnóstico. o Hemotórax → um hemotórax simples não evacuado completamente pode resultar num hemotórax coagulado e retido com encarceramento pulmonar e, se infectado, transformar-se em empiema. RXTX também é fundamental. o Contusão pulmonar → evite subestimar a gravidade da lesão pulmonar por traumatismo fechado. A contusão pulmonar pode se apresentar com uma ampla variedade de sinais clínicos que frequentemente não se correlacionam com os achados da RXTX. Geralmente a monitoração cuidadosa da ventilação, oxigenação e da quantidade de fluidos é necessária por muitos dias. o Lesão da árvore traqueobrônquica → O doente frequentemente apresenta hemoptise, enfisema subcutâneo ou pneumotórax.A expansão pulmonar incompleta após a drenagem torácica sugere essa lesão, sendo frequentemente necessária a colocação de mais de um dreno torácico para tratamento da fístula aérea de alto débito. A broncoscopia confirma o diagnóstico da lesão. o Contusão cardíaca → o trauma cardíaco contuso pode resultar em contusão do músculo cardíaco, ruptura das câmaras cardíacas, dissecção e/ou trombose das artérias coronárias ou laceração valvular. A utilização precoce do FAST pode facilitar o diagnóstico o Ruptura traumática de aorta → Os sinais e sintomas específicos estão frequentemente ausentes. Além da forte suspeita despertada por uma história de trauma por desaceleração, o principal meio para se chegar ao diagnóstico são os achados característicos no RXTX. o Lesão traumática de diafragma → As lesões diafragmáticas costumam passar despercebidas na avaliação inicial do doente traumatizado. Lesões diafragmáticas não diagnosticadas podem resultar em comprometimento pulmonar e em herniação e estrangulamento de vísceras peritoneais. o Ruptura esofágica por trauma fechado → O quadro clínico é idêntico ao da ruptura esofágica pós- emética. Deve-se considerar uma possível lesão esofágica em todo doente que apresenta pneumotórax ou hemotórax à esquerda sem fraturas de arcos costais, foi vítima de golpe em região esternal inferior ou no epigástrio, apresenta dor ou quadro de choque fora de proporção com a lesão aparente e elimina material suspeito através do dreno de tórax quando o sangue começa a clarear. Comentado [AP3]: •Alargamento do mediastino • Obliteração do cajado aórtico • Desvio da traqueia para a direita • Rebaixamento do brônquio-fonte principal esquerdo • Elevação do brônquio-fonte direito • Obliteração do espaço entre a artéria pulmonar e a aorta (apagamento da janela da artéria pulmonar) • Desvio do esôfago (sonda nasogástrica) para a direita • Alargamento da faixa paratraqueal • Alargamento das interfaces paraespinhais • Presença de derrame extrapleural apical • Hemotórax à esquerda • Fratura do primeiro e segundo arcos costais ou da escápula Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 6 Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 7
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