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ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA PROFESSORA Dra. Carmem Patrícia Barbosa Quando identi� car o ícone QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Acesse o seu livro também disponível na versão digital. Google Play App Store 2 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação Cep 87050-900 - Maringá - Paraná - Brasil www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; BARBOSA, Carmem Patrícia. Anatomia Humana Aplicada à Educação Física. Carmem Patrícia Barbosa. Maringá - PR.:Unicesumar, 2019. 204 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Anatomia . 2. Educação Física . 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1754-0 CDD - 22ª Ed. 613.7 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha Catalográica Elaborada pelo Bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Minco�, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas, Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo. Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecília Rafael Lopes, Projeto Gráico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Rossana Costa Giani, Revisão Textual Silvia Caroline Gonçalves, Ariane Andrade Fabreti, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock. Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e proissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- nos em 4 pilares: intelectual, proissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando proissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualiicado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modiicou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), signiica possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desaiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desaios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou proissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desaios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e proissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas Débora do Nascimento Leite Diretoria de Design Educacional Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EAD Kátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós-graduação Leonardo Spaine Diretoria de Permanência autora Dra. Carmem Patrícia Barbosa Possui graduação em Fisioterapia pela UniversidadeEstadual de Londrina (1997). Especialização em Morfoi siologia Aplicada à Educação Corporal e à Reabilitação pela Universidade Estadual de Maringá (2000). Mestrado (2003) e doutorado (2013) em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá - Área de Concentração em Biologia Celular. Foi professora das disciplinas de Anatomia Humana, Fisiologia Humana, Cinesiologia e Biomecânica e Bases Neurofuncionais do Movimento no Unicesumar (Centro de Ensino Superior de Maringá) de 2002 a 2013. Professora Adjunto A de Anatomia Humana na Universidade Estadual de Maringá desde 2012. Tem experiência com os cursos de Medicina, Educação Física, Odontologia, Ciências Biológicas, Enfermagem, Nutrição, Biomedicina e Estética. Foi membro do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Unicesumar e faz parte do corpo editorial da Revista Saúde e Pesquisa, Revista de Iniciação Cientíi ca do Unicesumar e da Revista Arquivos do MUDI-UEM. Link: <http://lattes.cnpq.br/9374304100882579>. apresentação do material Anatomia Humana Aplicada à Educação Física Dra. Carmem Patrícia Barbosa A Anatomia Humana (que do grego signiica “cortar em partes”) estuda a constituição e o desenvolvimento do ser humano. O seu desenvolvimento esteve dire- tamente relacionado ao ato de dissecar, por meio do qual o corpo é metodicamente exposto por incisões cirúrgicas, mantendo a sua organização natural e pos- sibilitando a associação entre forma e função. O surgi- mento do microscópio favoreceu estudos especíicos e desenvolveu a embriologia, a citologia e a histologia (ramos da Anatomia). Embora o estudo anatômico fosse, inicialmente, feito por comparação com animais (Anatomia Compa- rativa), na atualidade, ele é realizado em cadáveres humanos considerados “normais”, uma vez que as doenças são estudadas pela patologia e outras ciências. O conceito de normalidade em Anatomia deve con- siderar variações anatômicas individuais e diferenças morfológicas em decorrência da passagem do estado vivo ao cadavérico. Assim, é necessário considerar os conceitos idealístico e estatístico. Enquanto o primeiro considera normal aquilo que é melhor para o desem- penho da função da estrutura anatômica, o segundo airma ser normal aquilo que ocorre com a maioria das pessoas (WATANABE, 2000). Por exemplo, conside- ra-se normal ter cinco dedos em cada mão para que a função de pinça ina seja possível (conceito idealístico) e porque quase todos têm esta quantidade de dedos na mão (conceito estatístico). Ao se comparar diferentes pessoas, no entanto, po- de-se observar que existem várias diferenças entre elas. Quando estas não prejudicam a função da es- trutura, diz-se que são apenas “variações anatômi- cas”. No entanto quando atrapalham a função, são ditas “anomalias” e, inclusive, podem ser chamadas de “monstruosidades” se impedirem que o indivíduo permaneça vivo (WATANABE, 2000). Os diferentes tons de pele são variações anatômicas, um olho míope é uma anomalia e gêmeos siameses (xifópagos) repre- sentam uma monstruosidade. Fatores como idade, sexo, grupo étnico e biótipo podem gerar variações corpóreas. É normal, por exemplo, que um japonês tenha cabelos lisos e pele clara, mas não são normais tais características em uma pessoa negra; é normal que um bebê não tenha dentes, mas não é normal que isto ocorra em um adulto. Uma das maiores diiculdades encontradas no estudo da Anatomia Humana é a nomenclatura anatômica. Isto porque cientistas e proissionais da área da saúde usam uma linguagem própria ao se referirem às estru- turas do corpo humano e à forma como a dissecção é feita. Essa nomenclatura engloba termos normal- mente originados do grego, do latim e de outras lín- guas e, em conjunto, recebe o nome de Terminologia Anatômica. O seu objetivo é padronizar os nomes dados às estruturas do corpo nos diversos centros de estudos e pesquisas no mundo (DI DIO, 2002). Ela consta de mais de 6 mil termos esporadicamente revistos e atualizados, os quais podem ser abreviados para facilitar o seu uso prático e que são traduzidos pelas sociedades de Anatomia de cada país. No Brasil, a terminologia é traduzida pela Comissão de Terminologia Anatômica da Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA) (CFTA, 2001). Os termos relacionam-se à forma da estrutura (músculo deltoide, por exemplo), à sua situação (artéria vertebral), à sua função (glândula lacrimal) e outras peculiaridades (FREITAS, 2004; TORTORA et al., 2010). A im de evitar erros em relação à nomenclatura e ao posicionamento do corpo, a posição anatômica de descrição, ou posição de referência, foi instituída. Nela, supõe-se que o cadáver está em posição ortostática (em pé), com a cabeça em nível horizontal, olhos para frente, pés apoiados no chão e voltados à frente, membros superiores ao lado do corpo com as palmas voltadas para frente (MO- ORE et al., 2014). As várias regiões do corpo são denominadas como cabeça, pescoço, tronco, mem- bros superiores e inferiores. A cabeça apresenta o crânio facial (viscerocrânio) e o crânio neural (neurocrânio). Enquanto o facial é anterior, menor, constituído por 14 ossos e cujas funções incluem abrigar e proteger os órgãos dos sentidos e possibilitar a fonação e a mastigação, o crânio neural é posterior, maior, constituído por oito ossos, os quais se relacionam à proteção do sistema nervoso (TORTORA et al., 2010). A parte posterior do pescoço é chamada de nuca, e o tronco é subdi- vidido em tórax (superiormente ao músculo diafragma), abdome (entre o músculo diafragma e a abertura superior da pelve) e pelve (entre os ossos do quadril). Os membros superiores e inferiores subdividem-se em cíngulo (região conectada ao tronco) e parte livre. O cíngulo do membro superior é a cintura escapular e a sua parte livre inclui braço, antebraço e mão (sendo palma a sua parte anterior, e dorso, a posterior). O cíngulo do membro inferior é a cintura pélvica e a sua parte livre inclui coxa, perna e pé (sendo o dorso a sua parte superior, e planta, a inferior) (FREITAS, 2004). A partir da posição anatômica de descrição, supõe-se a existência de planos imagi- nários que tocam externamente o corpo (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Os planos superior (cranial), inferior (podálico), laterais (direito e esquerdo), anterior (ventral) e posterior (dorsal) auxiliam a denominar estruturas. Por exemplo, as clavículas são estruturas superiores ao joelho, pois se localizam mais próximas ao plano superior; o osso occipital é posterior em relação ao osso frontal, uma vez que está mais próximo ao plano posterior. Complementarmente, planos de secção (sagital, transversal e coronal) foram adotados (FREITAS, 2004). Enquanto o pla- no sagital divide estruturas em porções direita e esquerda (antímeros), o coronal divide em porção anterior e posterior (paquímeros), e o transversal divide em porção superior e inferior (metâmeros). Termos anatômicos como lexão, extensão, abdução, adução, rotação medial e lateral, supinação e pronação descrevem movimentos (MOORE et al., 2014; TORTORA et al., 2010). Tais movimentos ocorrem em um plano (sagital, coronal ou transversal) e por meio de linhas imaginárias denominadas eixos, as quais são perpendiculares aos planos. A lexão e a extensão, por exemplo, ocorrem no plano sagital e no eixo coronal; a abdução e a adução ocorrem no plano coronal e no eixo sagital; as rotações medial e lateral ocorrem no plano transversal e no eixo longitudinal (GRABINER et al., 1991). Embora a Anatomia possa ser estudada do ponto de vista radiológico, antropo- lógico, de imagem, artístico, regional, clínico e outros, neste livro, estudaremos a Anatomia sistêmica (de cada sistema do corpo) e a Anatomia voltada ao movimento. Em cada unidade, será apresentada uma introdução (apresentando inicialmente o tema), um desenvolvimento (em que o conteúdo programático será abordado), considerações inais (que resumirãoos estudos teóricos e práticos do tema) e ati- vidades de estudo (para reforço e memorização do conteúdo apresentado). Desejo que você se apaixone pela Anatomia Humana e que tenha a consciência de que é impossível ser um bom proissional de Educação Física sem conhecê-la profundamente. Esta ciência está diretamente relacionada à constituição e ao fun- cionamento do corpo humano. De igual modo, desejo que você descubra que é possível gerar modiicações benéicas no corpo e minimizar as maléicas a partir dele. Bom estudo! UNIDADE I APARELHO CARDIORRESPIRATÓRIO 16 Sistema Circulatório 28 Sistema Circulatório Linfático 36 Sistema Respiratório 45 Considerações i nais 51 Referências 52 Gabarito UNIDADE II SISTEMAS DIGESTÓRIO E ENDÓCRINO 58 Sistema Digestório 70 Sistema Endócrino 78 Considerações i nais 83 Referências 84 Gabarito UNIDADE III APARELHO UROGENITAL 90 Sistema Urinário 96 Sistema Genital Masculino 104 Sistema Genital Feminino 111 Considerações i nais 116 Referências 116 Gabarito UNIDADE IV APARELHO LOCOMOTOR 122 Sistema Esquelético 134 Sistema Articular 140 Sistema Muscular 157 Considerações i nais 162 Referências 163 Gabarito UNIDADE V NEUROANATOMIA APLICADA AO MOVIMENTO 168 Tecido Nervoso 172 Sistema Nervoso Central 182 Sistema Nervoso Periférico 190 Sistema Nervoso Autônomo 195 Considerações i nais 200 Referências 201 Gabarito 202 Conclusão geral sumário Professora Dra. Carmem Patrícia Barbosa Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Sistema circulatório • Sistema linfático • Sistema respiratório Objetivos de Aprendizagem • Estudar os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes do sistema circulatório: sangue, coração e vasos sanguíneos. • Entender os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes do sistema linfático: linfa, capilares, vasos, ductos e troncos linfáticos, linfonodos, baço, timo, tonsilas. • Descrever os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes do sistema respiratório: nariz, faringe, laringe, traqueia, brônquios/árvore brônquica, pulmões/ alvéolos pulmonares, pleuras, divisões do sistema respiratório, cavidade torácica e mediastino. APARELHO CARDIORRESPIRATÓRIO unidade I INTRODUÇÃO A vida, de fato, é um milagre, e a sua continuidade depende da manutenção das células em perfeito equilíbrio. Assim, para que a homeostasia corpó- rea seja possível, todos os sistemas do corpo agem em conjunto, desem- penhando funções especíicas e coordenadas. Neste contexto, o aparelho cardiorrespiratório e o sistema nervoso se destacam, pois permitem que nutrientes e oxigênio sejam encaminhados às células ao mesmo tempo em que delas são retirados materiais residuais produzidos pelo metabolismo normal (como metabólitos e gás carbônico), mantendo o meio intracelular constante. Para tanto, o sistema nervoso controla as condições intracelulares e possibilita adaptações no aparelho cardiorrespiratório. Coração, vasos sanguíneos e pulmões agem em conjunto, enviando sangue oxigenado ao corpo e reoxigenando o sangue vindo do corpo por meio da hematose que ocorre no pulmão. O objetivo desta unidade é estudar detalhadamente as estruturas anatômicas que compõem o aparelho cardiorrespiratório, pormenorizando as suas funções. Este conhecimento preparará você para compreender as alterações desencadea- das pela prática de exercícios físicos, ou seja, entender conceitos especíicos que você verá posteriormente na Fisiologia do Exercício. De maneira geral, o aparelho cardiorrespiratório é composto pelos sistemas circulatório e respiratório. No entanto o sistema circulatório é subdividido em sistema circulatório sanguífero (destinado à circulação do sangue e composto pelo sangue, pelo coração e pelos vasos sanguíneos) e sistema vascular lin- fático (destinado à circulação da linfa e composto pela linfa, pelos órgãos linfoides e vasos linfáticos). Nosso objetivo é que você se conscientize de que o(a) professor(a) de Educação Física precisa ter amplo conhecimento sobre esses sistemas, uma vez que a contração muscular efetiva e, consequentemente, a rea- lização de movimentos harmônicos e precisos necessários à prática do exercício físico dependem integralmente da atuação de tais sistemas. Portanto, aproveite bem os conhecimentos aqui oferecidos, dedique-se e tenha um ótimo estudo. 16 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Caro(a) aluno(a), o sistema circulatório possibilita a circulação dos líquidos, também chamados humo- res corpóreos. Assim, quando o líquido é represen- tado pelo sangue, denomina-se sistema circulatório sanguíneo; quando o líquido é representado pela linfa, denomina-se sistema circulatório linfático. FUNÇÕES O sistema circulatório sanguíneo está relacionado a diversas funções, como nutrição, oxigenação e dre- nagem de substâncias tóxicas produzidas pelas célu- las. Além disso, o sangue contribui para o controle da temperatura corpórea, relaciona-se à defesa imunoló- gica (por meio das células brancas), à coagulação san- guínea (pelas plaquetas), à distribuição de hormônios pelo corpo e à administração de medicações endove- nosas (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). COMPONENTES Sangue O sangue apresenta uma coloração avermelhada devido, principalmente, à hemoglobina presente em uma de suas células, as hemácias. Assim, ele é Sistema Circulatório EDUCAÇÃO FÍSICA 17 constituído por uma parte líquida chamada plasma sanguíneo e uma parte celular formada pelas hemá- cias (eritrócitos ou glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas (trombócitos). Enquanto as hemácias realizam o transporte de gases pela corrente sanguínea, os leucócitos possibi- litam a defesa imunológica, pois realizam fagocito- se ou produzem substâncias capazes de inviabilizar células invasoras ( por exemplo, vírus, bactérias ou mesmo células anômalas). Por sua vez, as plaquetas atuam na coagulação do sangue (FREITAS, 2004). Coração Embora saibamos que a função de controle geral do corpo é de responsabilidade do cérebro, mui- tas pessoas ainda cometem o equívoco de atribuir ao coração funções relacionadas às emoções (como amor, ódio e perdão). Na verdade, este órgão estu- dado pela cardiologia desempenha apenas a função de atuar como uma “bolsa” ou um “saco” capaz de se dilatar para se encher de sangue e de se contrair para mandar o sangue contido em seu interior a regiões especíi cas. É um órgão ímpar, localizado no centro da cavi- dade torácica, entre os dois pulmões (em uma região chamada mediastino). Ele i ca posterior ao osso es- terno e às cartilagens costais, anterior às vértebras torácicas e superior ao músculo diafragma. A sua constituição é predominantemente mus- cular e ele é oco. Apresenta 12 cm de comprimento, 9 de largura e 6 de espessura, e pesa 250 gramas nas mulheres e 300 gramas nos homens. Tem forma de uma pirâmide, com o ápice apontando para baixo e para a esquerda, e a base apontando para cima e para a direita. Os principais vasos sanguíneos que chegam e saem do coração o fazem pela base do ór- gão (DI DIO, 2002). O coração apresenta três camadas: endocárdio (in- ternamente), pericárdio (externamente) e mio- cárdio (entre as anteriores). O endocárdio forra as cavidades e as válvulas do coração. O pericárdio, constituído por tecido conjuntivo i broso e subdivi- dido em pericárdio i broso e seroso, tem por função i xar e proteger o coração. O miocárdio é o tecido muscular estriado cardíaco e a sua espessura varia de acordo com a câmara cardíaca avaliada. Assim, é mais i no nos átrios e mais espesso nos ventrículos. Dele emergem os septos cardíacos, os músculos pec- tíneos e os músculos papilares pelos quais as cordas tendíneas se prendem (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Figura 1 - Posição e forma do coração 18 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃOFÍSICA Os septos cardíacos dividem o coração em qua- tro câmaras cardíacas. Os átrios são superiores e menores; os ventrículos são inferiores e maiores. Na face anterior dos átrios estão localizadas as aurícu- las, cuja função é aumentar ligeiramente a capacida- de de armazenamento de sangue do órgão. O septo atrioventricular é horizontal e divide o coração em parte superior e inferior. Os septos in- teratrial e interventricular são verticais e dividem, respectivamente, os átrios e os ventrículos direitos e esquerdos. A face externa do coração apresenta uma quantidade variável de gordura e de sulcos que mar- cam o limite externo entre estas câmaras cardíacas. É importante destacar que o treinamento físi- co pode modii car a espessura do miocárdio, assim como as doenças podem alterar a sua estrutura exi- gindo, inclusive, transplante cardíaco (DÂNGELO; FATTINI, 2011). O sangue circula entre as câmaras cardíacas, passan- do por orifícios chamados óstios, os quais apresen- tam dispositivos orientadores da corrente sanguínea, chamados valvas cardíacas. As principais são as val- vas atrioventricular direita, atrioventricular esquer- da, valva do tronco pulmonar e valva da aorta. Tais estruturas, por sua vez, são constituídas por lâminas de tecido conjuntivo chamadas válvulas, folhetos ou cúspides. Elas impedem o rel uxo de sangue e se não estiverem em perfeito funcionamento, podem de- sencadear sopro cardíaco (WATANABE, 2000). Figura 2 – Coração em corte coronal Figura 3 – Valvas cardíacas, músculos papilares e cordas tendíneas Valva átrioventricular esquerda Valva átrioventricular direita Cordas tendíneas Septo interventricular Músculos papilares EDUCAÇÃO FÍSICA 19 A circulação do sangue (ou seja, sua passagem pelo coração e vasos sanguíneos) se faz por meio de duas correntes que partem ao mesmo tempo do coração. A primeira é chamada de pequena circu- lação, ou circulação pulmonar, e tem por objeti- vo oxigenar o sangue. Para tanto, o sangue sai do ventrículo direito pelo tronco pulmonar e se diri- ge aos pulmões, onde ocorre a hematose. O san- gue oxigenado volta ao átrio esquerdo pelas veias pulmonares e é lançado no ventrículo esquerdo. A segunda é chamada de grande circulação, ou cir- culação sistêmica, e tem por objetivo distribuir o sangue oxigenado e rico em nutrientes ao corpo e dele remover o CO 2 e os produtos residuais. Para tanto, o sangue sai do ventrículo esquerdo pela ar- téria aorta, se dirige aos tecidos do corpo e retorna ao coração pelas veias cavas que desembocam no átrio direito do coração, de onde o sangue é dirigido ao ventrículo direito (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Bulhas cardíacas e sopro O barulho característico do coração (“tum-tá, tum-tá, tum-tá”...) ocorre devido aos fecha- mentos consecutivos das valvas do coração. Durante a sístole, os ventrículos se contraem comprimindo o sangue que, devido à pressão no ventrículo, tende a reluir do ventrículo para o átrio. Assim, o sangue turbilhona-se contra as valvas atrioventriculares, as quais se fecham fortemente para impedir tal reluxo. O fechamento dessas valvas gera uma vibração, que é convertida em som pela caixa torácica. Este som é chamado de primeira bulha car- díaca (é o “tum”). No entanto os ventrículos continuam a se contrair até que a pressão em seu interior seja maior do que a pressão dentro do tronco pulmonar e da artéria aorta. Isto faz com que as valvas semilunares pul- monares e aórticas se abram. À medida que o sangue vai saindo dos ventrículos para as artérias, elas se distendem para acomodar o sangue, e isto aumenta a pressão dentro delas ao mesmo tempo em que diminui a pressão no ventrículo. Então, para impedir que o sangue relua das artérias para o ven- trículo, ocorre o forte fechamento das valvas semilunares. Este fechamento gera a segunda bulha cardíaca (é o som do “tá”). Fonte: Pazin-Filho, Schmidt e Maciel (2004). SAIBA MAIS Figura 4 – Tipos de circulação Em azul, notar a circulação de sangue venoso na pequena circulação ou circulação pulmonar Em rosa, notar a circulação de sangue arterial na grande circulação ou circulação sistêmica 20 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA A inervação do coração é diferente daquela em ou- tros órgãos do corpo, uma vez que ela se dá por duas maneiras: pela inervação extrínseca e pela inervação intrínseca. A inervação extrínseca é realizada pelo sistema nervoso autônomo (SNA) por meio de seus componentes simpáticos (que lhe causam taquicar- dia) e parassimpáticos (que lhe causam bradicardia). Essa inervação é necessária às demandas do dia a dia, pois, por ela, o SNA possibilita ao coração adap- tações e reações conforme ocorrem modiicações do ambiente (WATANABE, 2000). A inervação intrínseca (sistema de condução do coração ou complexo estimulante do coração) não é feita por elementos nervosos, e sim, por ibras mus- culares cardíacas especiais que formam o tecido no- dal capaz de gerar impulsos eletroquímicos que, por sua vez, se propagam pelo coração, causando a con- tração deste. Esta inervação é considerada o marca- -passo do coração. É interessante salientar que a atividade elétrica do coração gera uma corrente elétrica que pode ser de- tectada na superfície do corpo e registrada pelo ele- trocardiograma (ECG). Alterações neste exame po- dem diagnosticar doenças cardíacas. Estas doenças também podem ser previamente identiicadas por meio da aplicação de um teste de esforço, avaliando, assim, a resposta do coração ao exercício físico. Vasos sanguíneos As artérias, as veias e os capilares possibilitam o transporte de sangue pelo corpo e, por isto, cons- tituem os vasos sanguíneos. Artérias e veias têm suas paredes formadas por três camadas sobrepos- tas. A mais externa, chamada de túnica adventícia, dá resistência ao vaso; a média apresenta músculo liso, possibilitando vasoconstrição e vasodilatação; a túnica íntima (ou endotélio) é formada por uma camada de células que possibilitam o deslizamento do sangue (FREITAS, 2004). Os vasos sanguíneos apresentam particularidades estruturais diretamente relacionadas às funções que desempenham na mecânica circulatória. Grande par- te destas diferenças se devem ao fato de que o sangue que circula pelas artérias transita com maior pressão do que o sangue que circula no sistema venoso. As veias, por exemplo, têm paredes mais inas e maior luz (ou seja, o espaço para o sangue circular é maior) por que por elas deve retornar ao coração o mesmo volu- me de sangue que saiu pelas artérias. Na circulação venosa, todavia, a pressão é praticamente irrelevante, e o retorno venoso ocorre de modo passivo, ou seja, sem um órgão análogo ao coração para mandá-lo de volta para bombeá-lo contra a ação da gravidade. As artérias são tubos cilíndricos, elásticos, de direção centrífuga (pois levam sangue para fora do coração) e responsáveis por transportar sangue rico em O 2 e nutrientes para as células. Todavia as artérias pulmonares representam uma exceção, pois condu- zem sangue venoso aos pulmões (DI DIO, 2002). São menos numerosas do que as veias, têm pul- sação, normalmente são mais profundas para ica- rem protegidas e evitar que uma ruptura cause um luxo ininterrupto de sangue ou uma hemorragia. No entanto podem apresentar parte do seu trajeto supericialmente (como a artéria radial). Podem ser acompanhadas por veias satélites, se comunicar entre si por anastomoses e se ramiicar emitindo ramos terminais (quando a artéria deixa de existir) ou ramos colaterais (quando a artéria continua a existir, mas emite um ramo com direção oblíqua ou a 90º; quando o ramo forma um ângulo obtuso, é chamado de ramo recorrente). Assim, as artérias, geralmente, começam de grande calibre e diminuem de diâmetro à medida que se ramiicam. EDUCAÇÃO FÍSICA 21 Os capilares sanguíneos têm diâmetro microscó-pico e ligam as arteríolas às vênulas. As suas paredes são muito delgadas e, por isso, permitem a passagem de substâncias através de suas paredes, ou seja, per- mitem trocas entre sangue e tecido por meio do lí- quido intersticial (microcirculação), sendo, por isso, conhecidos como vasos de troca. Os capilares apresentam vasomotricidade, ou seja, fazem vasodilatação e vasoconstrição de ma- neira inl uenciada por substâncias químicas libe- radas pelas células endoteliais (óxido nítrico, por exemplo). São considerados os vasos mais numero- sos do corpo, mas dependendo da atividade meta- bólica do tecido, pode haver mais deles ou menos. Assim, nos músculos, no fígado, nos rins e no SNC, os quais têm alta atividade metabólica, há mais ca- pilares do que nos tendões e ligamentos. Ademais, eles podem apresentar poros (sendo chamados de fenestrados), podem ter interrupções em suas pare- des (sendo chamados de sinusoides) ou podem ter parede sem poros ou interrupções (sendo chamados de contínuos) (TORTORA; DERRICKSON; WER- NECK, 2010). As veias conduzem o sangue em direção centrí- peta, ou seja, por elas o sangue chega ao coração. Ex- ceto pelas veias pulmonares, que conduzem sangue arterial para o coração, as demais fazem a drenagem (ou retorno venoso) coletando sangue rico em CO 2 e metabólitos dos tecidos. Estes vasos não têm pulsação, normalmente são menos espessos do que as artérias e, por isso, não re- sistem a pressões muito altas e tendem a colaborar (as suas i nas paredes i cam aderidas). As veias podem ser superi ciais ou profundas, as quais se comunicam por meio das veias comunicantes ou perfurantes. O calibre das veias pode aumentar gradativamente, elas podem apresentar válvulas para impedir o rel u- xo do sangue e o leito venoso é praticamente o do- bro do leito arterial. Vale lembrar que veias, artérias e nervos se unem formando feixes vásculo-nervosos (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Figura 5 – Diferenças entre artérias e veias O sangue não se distribui igualmente a todos os órgãos do corpo, pois o l uxo sanguíneo depende da demanda funcional. Desta for- ma, em repouso, a maior parte do volume de sangue (64%) permanece nas veias e vênulas sistêmicas. As artérias sistêmicas têm 13%, os capilares sanguíneos têm 7%, os vasos pulmo- nares, 9% e o coração, 7%. Todavia este estado pode ser totalmente alterado em condições especíi cas, como exercício físico e estresse. Como visto, veias e vênulas sistêmicas atuam como reservatório de sangue a partir do qual este sangue pode ser rapidamente redirecio- nado em casos, por exemplo, de hemorragia ou de atividade muscular intensa. Para tanto, ocorre venoconstrição para ajudar a contraba- lancear a queda na pressão arterial. As prin- cipais veias e vênulas do corpo que realizam tal função são as do fígado, do baço e da pele. Fonte: Moore et al. (2014). SAIBA MAIS 22 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Principais vasos sanguíneos do corpo Coração De maneira geral, o coração é irrigado pelas artérias coronárias, ramos da parte ascendente da artéria aorta. Geralmente, a coronária esquerda é mais ca- librosa e tem maior área de distribuição de sangue. A drenagem do coração é feita por várias veias cardíacas que se abrem no seio coronário (a prin- cipal veia do coração), o qual desemboca no átrio direito (WATANABE, 2000). Cabeça e pescoço A vascularização da cabeça e do pescoço depende das artérias carótidas comuns e subclávias, as quais se originam do arco da aorta. O tronco braquio- cefálico (localizado à direita desse arco) emite a artéria carótida comum direita e a artéria subclá- via direita. As artérias carótida comum esquerda e subclávia esquerda surgem do próprio arco da aorta. As artérias carótidas comuns se bifurcam em artéria carótida interna (que entra no crânio irri- gando estruturas como a retina e o encéfalo) e arté- ria carótida externa (que irriga estruturas da face e do couro cabeludo). A região posterior do encéfalo é irrigada pelas artérias vertebrais (ramos das arté- rias subclávias). O retorno venoso da cabeça e do pescoço depen- de dos seios venosos da dura-máter e de veias su- peri ciais que desembocam na veia jugular interna. Esta veia se une à veia subclávia, formando a veia braquiocefálica. As veias braquiocefálicas direita e esquerda se anastomosam formando a veia cava su- perior que, por sua vez, desemboca no átrio direito do coração (DANGELO; FATTINI, 2011). Figura 6 – Vascularização venosa da cabeça e do pescoço. EDUCAÇÃO FÍSICA 23 Tórax A irrigação do tórax é feita pela parte torácica da ar- téria aorta por meio de ramos viscerais e parietais, como as artérias esofágicas, pericárdicas, medias- tinais, bronquiais, frênicas superiores, subcostais e intercostais posteriores. As artérias subclávia e axilar também participam da irrigação da parede torácica. A drenagem do tórax é feita por várias veias que drenam para a veia ázigo, a qual conduz sangue ve- noso até a veia cava superior (MOORE et al., 2014). Figura 7 – Vascularização arterial da cabeça e do pescoço Abdome A irrigação do abdome é feita pela parte abdominal da artéria aorta que emite ramos viscerais e parietais, como as artérias epigástrica superi cial, epigástrica in- ferior, musculofrênica, 10ª e 11ª artérias intercostais posteriores, subcostal, circunl exa ilíaca profunda, cir- cunl exa ilíaca superi cial, frênicas inferiores, tronco celíaco, mesentérica superior, mesentérica inferior, su- prarrenais médias, renais, gonadais e ilíacas comuns. Estas últimas se ramii cam em artérias ilíacas externas (que vão aos membros inferiores) e ilíacas internas (que irrigam bexiga urinária, útero e próstata). A drenagem venosa das vísceras abdominais é feita, principalmente, pela veia porta e pela veia cava inferior (DI DIO, 2002). 24 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Pelve A parede e vísceras da pelve são irrigadas pela arté- ria ilíaca interna. As principais artérias da pelve são umbilical, obturatória, sacral mediana, retal supe- rior, gonadal, do ducto deferente, ramos prostáticos, vesical superior e inferior e uterina. Os plexos venosos pélvicos são formados por veias que circundam as vísceras pélvicas (plexo re- tal, vesical, prostático, uterino, vaginal). As veias iliolombares, sacral mediana e sacrais laterais tam- bém são importantes nesta drenagem. Em última instância, as veias ilíacas interna e externa se unem na pelve para formar a veia ilíaca comum. As veias ilíacas comuns direita e esquerda se anastomosam formando a veia cava inferior, que recebe outras tributárias e desemboca no átrio direito do coração (FREITAS, 2004). Membro superior Os membros superiores são irrigados pelas arté- rias subclávias, as quais, na região axilar, passam a ser chamadas de artérias axilares, e no braço, são chamadas de artérias braquiais. As braquiais se ramiicam em artérias ulnar e radial (na altura da fossa cubital). Veias profundas e supericiais drenam o membro superior. Por exemplo, as veias cefálica, basílica, ra- dial e ulnar. Por im, e como já visto anteriormente, as veias subclávias se unem às jugulares formando as veias braquiocefálicas, as quais se unem formando a veia cava superior (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Membro inferior Os membros inferiores são irrigados pelas artérias ilíacas externas, as quais atravessam o ligamento inguinal e passam a ser chamadas de artérias femo- rais. Estas passam à região poplítea (posterior ao joelho) e recebem o nome de artérias poplíteas, as quais se bifurcam em artérias tibial anterior, tibial posterior e ibular. Veias profundas e supericiais drenam o membro inferior, como as veias tibial anterior, tibial poste- rior, ibular, safena magna e safena parva. Em última instância, drenam para a veia femoral, atravessam o ligamento inguinal e passam a ser chamadas de veias ilíacasexternas. Estas se unem às veias ilíacas inter- nas formando as veias ilíacas comuns, as quais se unem formando a veia cava inferior (DI DIO, 2002). EDUCAÇÃO FÍSICA 25 Figura 8 – Ilustração esquemática das principais veias 26 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Figura 9 – Vascularização arterial do corpo humano Fonte: Colicigno et al. (2009, p. 164-165). EDUCAÇÃO FÍSICA 27 CURIOSIDADES O retorno venoso dos membros inferiores ocorre contra a ação da gravidade. É possibilitado por fato- res como o gradiente de pressão entre a cavidade to- rácica e a abdominal durante a respiração, a ação de “esponja venosa” das plantas dos pés, a ação massa- geadora dos músculos do membro inferior sobre os vasos e a pulsação das artérias adjacentes, transmi- tindo o pulso para a parede da veia acompanhante (veia satélite). Além disso, as veias dos membros in- feriores têm válvulas que ajudam no direcionamento do sangue. No entanto permanecer em pé por muito tempo pode fazer com que o sangue se acumule nas veias, causando dilatação, insuiciência valvular e varizes. Tal fato faz com que haja reluxo do sangue, estase sanguínea e edema. A ressuscitação cardiopulmonar (compressão cardíaca associada à ventilação artiicial dos pul- mões) é útil para manter o sangue oxigenado até que o coração volte a bater. Isto porque o coração ica posicionado entre a coluna vertebral e o osso ester- no, ou seja, duas estruturas rígidas que podem ser comprimidas, ajudando o coração a bombear san- gue para a circulação sistêmica (FREITAS, 2004). O envelhecimento altera progressivamente o sis- tema circulatório gerando, por exemplo, a diminui- ção no tamanho das ibras musculares cardíacas, a perda de força muscular do coração, a redução da frequência cardíaca máxima, o aumento da pressão sistólica e a diminuição da complacência arterial. O exercício físico tem sido apontado como capaz de minimizar tais ocorrências e, por isto, ele é mun- dialmente visto como uma das melhoras formas de prevenção às doenças cardiocirculatórias. 28 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Sistema Circulatório Linfático EDUCAÇÃO FÍSICA 29 Como visto anteriormente, o sistema linfático per- tence ao sistema circulatório. O que o diferencia do sistema circulatório sanguíneo é o fato de que a linfa é o líquido circulante no sistema linfático enquanto o sangue é o líquido circulante no sistema sanguí- neo. Como o sistema sanguíneo foi estudado na aula anterior, a presente aula enfatizará os componentes, as funções e os principais detalhes do sistema circu- latório linfático. DEFINIÇÃO O sistema linfático auxilia o sistema venoso a dre- nar a linfa dos tecidos para a circulação sanguínea. É constituído por uma vasta rede de vasos (capila- res, vasos e ductos linfáticos) que se distribuem por todo o corpo captando líquido tecidual que não re- tornou aos capilares sanguíneos. Assim, além da linfa, esse sistema apresenta tecidos e órgãos lin- foides, como baço, timo, linfonodos e tonsilas, os quais estão distribuídos por praticamente todo o corpo (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014; MO- ORE et al., 2014). FUNÇÕES A principal função do sistema linfático é drenar o excesso de líquido intersticial para os vasos linfá- ticos mantendo, assim, a homeostasia dos l uidos do corpo, e também participar ativamente da imu- nidade corpórea, uma vez que esse sistema está relacionado à produção e à maturação de células imunológicas. Figura 10 – Visão geral do sistema linfático 30 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Adicionalmente, o sistema linfático se relaciona à absorção e ao transporte das gorduras dos alimen- tos por meio dos capilares lácteos, os quais recebem todos os lipídios e vitaminas lipossolúveis absorvi- dos pelo intestino. Após essa absorção, o quilo (linfa drenada do intestino delgado com aparência leitosa) é conduzido pelos vasos linfáticos viscerais para o ducto torácico e o sistema venoso. Em outros teci- dos, a linfa é um líquido amarelo-claro translúcido (DANGELO; FATTINI, 2011). COMPONENTES Linfa A linfa é um líquido incolor presente no espaço in- tersticial, resultante das trocas entre o sangue dos capilares e o tecido. Em termos de composição, ela se parece com o plasma sanguíneo, porém é mais rica em água, tem menos proteínas e não tem hemá- cias ou plaquetas. Como o sistema linfático não dispõe de um ór- gão central bombeador de linfa (como o coração), a sua circulação depende dos mesmos mecanismos que auxiliam o retorno venoso e, por isto, o seu luxo é lento nos períodos de inatividade física, mas au- menta com o exercício, o peristaltismo e os movi- mentos respiratórios (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Capilares, vasos e ductos linfáticos Quando a linfa intersticial é recolhida pelos ca- pilares linfáticos, ela passa a ser chamada de lin- fa circulante. Embora estes capilares sejam os de menor calibre do sistema linfático, eles são muito importantes, pois recolhem também diversas mo- léculas do líquido intersticial que não retornam aos capilares sanguíneos (como proteínas, por exem- plo). Para tanto, são mais calibrosos e têm maior permeabilidade do que os capilares sanguíneos (são fenestrados, pois apresentam espaço entre as suas células; não têm membrana basal e as bordas de suas células endoteliais icam em posição dife- renciada como uma porta vaivém unidirecional). Além disso, para garantir um luxo unidirecional da linfa em direção ao capilar sanguíneo, eles ter- minam em fundo cego e dispõem de válvulas que os estreitam, dando-lhes o aspecto de “rosário” ou “colar de conta”. Os capilares linfáticos são abundantes na pele e nas mucosas, mas não existem nos dentes, nos ossos, na medula óssea vermelha, no sistema nervoso cen- tral, nos tecidos avasculares (cartilagem, epiderme e córnea do bulbo) e no músculo estriado esquelético (mas existem no tecido conjuntivo que os envolve). Eles se unem para formar os vasos linfáticos. Os vasos linfáticos podem ser supericiais ou pro- fundos. Os supericiais anastomosam-se livremente e drenam para os profundos, que também recebem a drenagem dos órgãos internos. Eles tornam-se pro- gressivamente maiores e atravessam os linfonodos antes de desembocar nos troncos linfáticos. Os principais troncos linfáticos são: intestinal (recebe linfa dos órgãos abdominais), lombar (drena membros inferiores e alguns órgãos pélvicos), subclá- vio (drena membros superiores, parte do tórax e do dorso), jugular (drena cabeça e pescoço) e broncome- diastinal (drena tórax). Estes troncos drenam para o ducto linfático direito ou para o ducto torácico. O ducto linfático direito é um pequeno vaso (1,0 cm de comprimento) formado pela união dos tron- cos subclávio, jugular e broncomediastinal direito. Ele desemboca na junção da veias subclávia direita e jugular interna direita. Já o ducto torácico é maior (45 cm de comprimento) e recebe a linfa dos troncos lombares e intestinal, atravessa o músculo diafragma EDUCAÇÃO FÍSICA 31 e recebe vasos linfáticos que drenam a metade es- querda do tórax. Também recebe o tronco subclávio esquerdo e o tronco jugular esquerdo e desemboca na veia subclávia esquerda. Assim, o ducto torácico recolhe a linfa de todo o corpo, menos do membro superior direito e da metade direita da cabeça, do pescoço e do tórax (que é recolhida pelo ducto lin- fático direito). Por im, a linfa é direcionada às veias e passa a circular junto com o plasma, retornando à corrente sanguínea (FREITAS, 2004). Baço Figura 11 – Capilares, vasos e ductos linfáticos Figura 12 - Localização in situ dos órgãos do sistema digestório O baço é o maior órgão linfoide (10 cm), com forma elíptica e cor vermelho-escura. Localizado à esquer- da da cavidade abdominal, ica quase completamen- te recoberto pelo estômago e é envolto pelo peritô- nio viscerale por uma cápsula de tecido conjuntivo ibroso. Internamente, apresenta polpa vermelha (mais abundante) e branca (por dentro da vermelha, com grande quantidade de linfócitos e macrófagos). Ele atua produzindo linfócitos e plasmócitos, maturando linfócitos B, armazenando plaquetas, destruindo células sanguíneas velhas (hemocatere- se), produzindo células sanguíneas (hemopoiese) e como reservatório de sangue (é capaz de liberar cerca de 200 ml para a circulação sistêmica em si- tuações de emergência, como uma hemorragia, por exemplo). Normalmente, esse sangue ica na polpa vermelha e é liberado pela contração das células musculares lisas presentes em sua cápsula. Este órgão pode aumentar de tamanho em de- Linfonodos Os linfonodos são pequenas porções de tecido linfoi- de localizadas ao longo dos vasos linfáticos de todo o corpo. Eles são envoltos por uma cápsula ibrosa, se apresentam em grupos supericial e profundo e atuam como órgãos iltradores da linfa antes de esta adentrar o sistema venoso. Isto porque dentro deles existem células imunológicas (como macrófagos e linfócitos) hábeis em destruir microrganismos, toxinas, células anômalas e partículas estranhas (WATANABE, 2000). 32 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA corrência de algumas doenças infecciosas (esple- nomegalia), pode ser rompido devido a traumas abdominais, obrigando a realização de sua remo- ção cirúrgica (esplenectomia) a im de evitar san- gramento intraperitoneal e morte por hemorragia. Nesta situação em especíico, fígado, medula óssea vermelha, linfonodos e tonsilas podem assumir as suas funções, embora as funções imunes possam permanecer debilitadas por algum tempo. Quando se faz exercício físico extenuante sem um bom preparo físico, o baço pode causar dor na região lateral esquerda do abdome. Isto porque durante o exercício, ele necessita cumprir várias de suas funções ao mesmo tempo, ou seja, realizar hemocaterese, hemopoiese e liberar sangue extra à circulação periférica para suprir a necessidade dos músculos em exercício. Todavia a continuidade do exercício muda a constituição do sangue (aumen- tando, por exemplo, a quantidade de eritrócitos e otimizando o transporte de O 2 para os músculos). Respirar intensamente e diminuir a intensidade do exercício podem ajudar a melhorar o desconforto (DI DIO, 2002). Timo O timo é uma massa linfoide envolta por uma cáp- sula de tecido conjuntivo, localizada, em parte, na região inferior do pescoço (anterior e lateralmente à traqueia) e em parte na cavidade torácica (posterior- mente ao osso esterno, no mediastino). Linfócitos T necessitam dele para amadurecer e, quando madu- ros, o deixam e são transportados aos linfonodos, ao baço e aos outros tecidos linfáticos. Este órgão também produz o hormônio timosina, que estimula o crescimento de linfócitos nos tecidos linfáticos do corpo, atuando, assim, como glândula endócrina. Embora algumas de suas células continuem a se proliferar durante toda a vida, o timo é maior na infância, pois, gradativamente, é substituído por tecido conjuntivo e gordura, de forma que as suas funções são assumidas por outros órgãos. Este fato justiica o pouco conhecimento que a maioria das pessoas tem a respeito deste órgão (FREITAS, 2004). Figura 13 – Baço Figura 14 – Timo EDUCAÇÃO FÍSICA 33 Nódulos linfáticos Nódulos linfáticos são massas de tecido linfático não revestidas por tecido conjuntivo. Enquanto al- guns deles são pequenos e solitários, outros formam grandes agregações (tonsilas, nódulos linfáticos do íleo e do apêndice vermiforme). Nos segmentos gastrointestinais, eles são conhe- cidos como placas de Peyer e podem estar espalhados pela mucosa que reveste os sistemas genital, digestó- rio, urinário e respiratório. Neste caso, são chama- dos de tecido linfático associado à mucosa (MALT) (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Tonsilas Tonsilas são pequenas massas de tecido linfoide lo- calizadas em várias regiões do corpo, por exemplo, na parte nasal da faringe (tonsila faríngea), próximo ao óstio faríngeo da tuba auditiva (tonsila tubária), na raiz da língua (tonsila lingual), na fossa tonsilar (tonsila palatina) e na laringe (tonsila laríngea). O conjunto destas é conhecido como anel linfático, o qual se relaciona à imunidade, representando a pri- meira defesa do organismo. Quando as tonsilas são ativadas, elas intensi- icam a produção de anticorpos, icam dolorosas e hipertroiadas. A hipertroia da tonsila tubária e faríngea, por exemplo, recebe o nome de adenoi- de e pode diicultar o funcionamento da tuba au- ditiva, da qualidade da voz e da respiração nasal. Assim, o indivíduo desenvolve respiração bucal e passa a roncar enquanto dorme. A hipertroia da tonsila palatina (popularmente chamada de ami- dalite) também diiculta a deglutição (WATANA- BE, 2000). Figura 15 – Tonsilas Tonsila faríngea Tonsila palatina Tonsila lingual 34 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA PRINCIPAIS LINFONODOS DO CORPO Cabeça Incluem os linfonodos occipital, mastoideos, pré-auriculares, parotídeos e linfo- nodos da face (infra-orbitais, mandibulares e bucinatórios) (MOORE et al., 2014). Figura 16 – Principais linfonodos do corpo humano EDUCAÇÃO FÍSICA 35 Pescoço Incluem os linfonodos submandibulares, submen- tuais, cervicais supericiais, cervicais profundos su- periores, cervicais inferiores e cervicais superiores (FREITAS, 2004). Tórax Os linfonodos do tórax podem ser parietais ou vis- cerais. Os parietais incluem os linfonodos paraester- nais, estercostais e frênicos. Os viscerais incluem os mediastinais anteriores e posteriores e os traqueo- bronquiais (MOORE et al., 2014) Abdome e pelve Os linfonodos do abdome e da pelve também podem ser parietais ou viscerais. Os parietais in- cluem os linfonodos ilíacos comuns, ilíacos ex- ternos e internos, sacrais e lombares. Os viscerais incluem os celíacos, mesentéricos e inferiores (FREITAS, 2004). Membros superiores Os principais linfonodos dos membros superiores são os supratrocleares, deltopeitorais e axilares) (DI DIO, 2002). Membros inferiores Os principais linfonodos dos membros inferiores são os poplíteos, os inguinais supericiais e profun- dos (DANGELO; FATTINI, 2011). DISSEMINAÇÃO DO CÂNCER Células cancerígenas podem se disseminar pelo cor- po por proximidade ou por metástase (neste caso, por meio do sangue ou da circulação linfática). A disseminação pelo sangue (hematogênica) é a via mais comum de propagação de sarcomas (tumores mais malignos que ocorrem predominantemente no fígado e nos pulmões). A disseminação linfática é a via mais comum de disseminação de carcinomas (tumores menos malignos). Quando a metástase ocorre por via linfática, os linfonodos cancerosos icam aumentados, mais irmes, são insensíveis (pouco dolorosos) e ixos às estruturas próximas. É importante diferenciar tais alterações daquelas que ocorrem em decorrência de quadros infecciosos, em que os linfonodos tornam- -se aumentados, no entanto, moles, móveis e muito dolorosos (MOORE et al., 2014). LINFANGITE, LINFADENITE E LINFEDEMA Linfangite é caracterizada como a inlamação secun- dária dos vasos linfáticos. Linfadenite é a inlamação secundária dos linfonodos (conhecida popularmen- te como íngua). Linfedema é um tipo de edema que ocorre quando a linfa não é drenada adequadamen- te (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Você sabia que o envelhecimento pode al- terar o funcionamento do sistema linfático? É comum, por exemplo, que a produção de células imunológicas diminua e que a produ- ção de anticorpos contra o próprio organismo aumente, fazendo com que haja, respectiva- mente, debilidade imunológica e maior índice de doenças autoimunes. REFLITA 36 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Sistema Respiratório EDUCAÇÃO FÍSICA 37 Nesta última aula da unidade, o sistemarespiratório será abordado de maneira correlacionada aos siste- mas sanguíneo e linfático. Assim, será realizada uma abordagem bem direcionada referente à sua deini- ção, função e divisão, aos seus componentes e às suas relações com o exercício físico. Também serão citadas algumas de suas aplicabilidades práticas. Será muito bom se você puder realizar a leitura do material com- plementar a im de enriquecer o seu aprendizado. DEFINIÇÃO E FUNÇÃO O sistema respiratório é um conjunto de estruturas anatômicas as quais, em conjunto, captam o ar do meio ambiente e o transportam ao órgão respirató- rio para que a hematose ocorra (o O 2 do ar inspirado difunde-se dos alvéolos pulmonares para as células, e o CO 2 resultante do metabolismo celular é trazido das células aos pulmões para ser eliminado com o ar expirado) (DANGELO; FATTINI, 2011). DIVISÃO As estruturas anatômicas que compõem o sistema respiratório podem ser dividas em porção de condução e porção respiratória. A porção de condução é formada por órgãos tubulares que levam o ar inspirado até a porção respiratória e o trazem de volta para ser expirado. Ela é composta por nariz, faringe, laringe, traqueia, brônquios e todas as suas ramiicações. Já a porção respiratória é representada exclusivamente pelos pulmões, pois é onde ocorrem as trocas gasosas ou hematose. Adicionalmente, as estruturas anatômicas do siste- ma respiratório podem ser agrupadas em via aérea superior (do nariz à laringe) e via aérea inferior (da traqueia aos pulmões) (FREITAS, 2004). COMPONENTES Nariz Como a primeira estrutura do sistema respiratório, a sua função é captar o ar do meio ambiente, iltrá-lo, aquecê-lo e umidiicá-lo. Além disso, o nariz permi- te o olfato, recebe e elimina as secreções dos seios paranasais e do ducto lacrimonasal. Está localizado no plano mediano da face, aci- ma do palato duro, e é composto por uma parte externa e pela cavidade nasal. Apresenta estrutura ósteo-cartilagínea, sendo que os seus ossos exter- nos incluem os nasais e as maxilas, e os seus ossos internos incluem o etmóide, o vômer e as conchas nasais inferiores. Figura 17 - Sistema respiratório 38 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Externamente, o nariz é subdividido em raiz (superiormente), base (inferiormente), ápice (ponto projetado mais anteriormente), dorso (entre a raiz e o ápice), asa (lateralmente) e narinas (aberturas se- paradas por um septo que fazem a comunicação da cavidade nasal com o meio externo). A cavidade nasal pode ser dividida em vestíbu- lo (anteriormente e com pelos chamados vibrissas), região respiratória (inferiormente) e região olfató- ria (concha nasal superior e terço superior do septo nasal). A cavidade nasal é dividida pelo septo nasal em porções direita e esquerda. Este septo apresenta uma parte cartilagínea (cartilagem do septo nasal) e uma parte óssea (formada pelos ossos etmóide e vômer). O termo cavidade nasal pode ser usado para toda a cavidade ou para cada parte. Figura 18 – Cavidade nasal Fonte: Colicigno et al. (2009, p. 172). EDUCAÇÃO FÍSICA 39 Dentro da cavidade nasal existem as conchas nasais, que delimitam espaços chamados meatos. Toda esta região é muito vascularizada e nela, a ruptura de va- sos pode causar sangramento nasal, também conhe- cido como epistaxe. Os seios paranasais, ou seios da face, desem- bocam nos meatos, lançando neles as suas secre- ções. Esses seios são cavidades que alguns ossos do crânio (frontal, maxila, esfenoide, etmoide) apre- sentam e, por isto, são chamados de pneumáticos. Cada osso pneumático apresenta o seu próprio seio (seio frontal, seio maxilar, seio esfenoidal e seio ou células etmoidais). Eles tornam a cabeça mais leve, estão relacionados à ampliação da voz e ajudam a aquecer e a umidiicar o ar. Os seios contêm ar e são recobertos por mucosa respirató- ria (DI DIO, 2002). Faringe É uma estrutura músculo-membranácea que se inicia na base do crânio e termina ao nível da 6ª vértebra cervical, onde continua com o esôfago e mantém contato com a coluna vertebral. Como a faringe ica localizada posteriormente à cavidade nasal, à cavidade oral e à laringe, ela apresenta três partes sem limites precisos entre elas: a parte nasal (que se comunica com a cavidade nasal), a parte oral (que se comunica com a cavidade oral) e a par- te laríngea (que se comunica com a laringe). Assim, a faringe se associa aos sistemas respiratório e di- gestório, sendo um canal comum à passagem de ar e alimento. Inclusive, os músculos da faringe apre- sentam movimentos peristálticos, possibilitando a deglutição dos alimentos. Na porção nasal da faringe existe uma aber- tura chamada óstio faríngeo da tuba auditiva, que comunica a parte nasal da faringe com a cavida- de timpânica da orelha média. Esta comunicação serve para igualar a pressão do ar atmosférico à pressão do ar de dentro da cavidade timpânica. Também serve para drenar muco e perilinfa dos ca- nais semicirculares (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Figura 19 – Faringe e seus principais acidentes anatômicos 40 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Laringe A laringe é um órgão que se localiza no plano me- diano e anterior do pescoço, à frente da faringe, en- tre a 3ª e a 6ª vértebras cervicais. Ela dá continuidade à traqueia e serve como via aerífera, permitindo a passagem do ar da faringe para a traqueia. Além dis- so, é considerada o órgão da fonação, uma vez que dentro dela estão as pregas vocais. Ela é constituída por cartilagens, ligamentos, membranas e músculos estriados esqueléticos que atuam sobre as pregas vocais ou na movimentação da laringe durante a deglutição. As suas nove cartila- gens são ímpares (como a cartilagem tireoidea, a cri- coidea e a epiglótica) ou pares (como a aritenóidea, a corniculada e a cuneiforme). A cartilagem tireoidea é a maior delas. Ela é constituída por duas lâminas que se unem, formando, assim, a proeminência la- ríngea (popularmente conhecida como “gogó” ou “pomo-de-Adão”). A cartilagem epiglótica lembra uma folha e protege a entrada da laringe contra a entrada de alimentos durante a deglutição (WATA- NABE, 2000). Figura 20 – Sistema Respiratório Humano SISTEMA RESPIRATÓRIO HUMANO EDUCAÇÃO FÍSICA 41 Traqueia A traqueia é uma estrutura mediana no pescoço que representa a continuação direta da laringe. A sua função é servir como via aerífera, conduzindo ar da laringe até os brônquios principais. Ela inicia na região cervical, mas segue em direção ao tórax, passando anteriormente ao esôfago. A sua estrutura cilíndrica é ibrocartilagínea (anéis incompletos de cartilagem em forma de “C” se sobrepõem e se ligam por meio dos ligamentos anulares). Enquanto tais anéis lhe dão rigidez e im- pedem que as suas paredes colabam, o seu tecido elástico lhe possibilita a mobilidade e a lexibilidade necessárias à respiração e à deglutição. A sua pare- de posterior (parede membranácea) é formada por músculo liso (músculo traqueal) e tecido conjuntivo. Antes de se dividir nos brônquios principais direito e esquerdo, a traqueia sofre um leve des- vio à direita, fazendo com que o brônquio prin- cipal esquerdo seja mais longo do que o direito. No ponto de sua bifurcação, a traqueia apresenta uma crista interna chamada carina. Internamen- te, este órgão é revestido por mucosa e apresenta células ciliadas que auxiliam na limpeza das vias aéreas. O cigarro faz com que as células ciliadas percam a mobilidade de seus cílios e que as glân- dulas traqueais se tornem hiperativas e passem a secretar muco em excesso. Por isso, fumantes crônicos têm muita secreção e diiculdade em fa- zer a boa higiene traqueobrônquica (DANGELO; FATTINI, 2011). Figura 21 – Traqueia e brônquios 42 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Brônquios Os brônquios possuem estruturas e funcionamen-to semelhantes à traqueia, porém ao invés de anéis cartilagíneos, eles apresentam placas irregulares de cartilagem. Após a sua origem, são chamados de brônquios principais. As suas primeiras ramiicações são os brônquios lobares (os quais ventilam os lobos pul- monares) e depois os brônquios segmentares (que vão até os segmentos broncopulmonares, sofrem várias divisões e terminam nos alvéolos, formando a árvore brônquica). O brônquio principal direito é mais vertical, mais calibroso e mais curto do que o esquerdo, de forma que ele é mais facilmente obstru- ído por corpos estranhos que passam pela traqueia (MOORE et al., 2014). Pulmão Os pulmões são os principais órgãos da respiração, pois é dentro deles que ocorre a hematose. In vivo, são esponjosos, macios, leves e elásticos. Ao nasci- mento, são rosados, embora se tornem acinzentados e com manchas devido à inalação de diversas partí- culas durante a vida. Eles icam alojados na cavidade torácica e en- tre eles há uma região central chamada mediastino, onde se localizam importantes estruturas anatômi- cas, como o coração e os seus grandes vasos, a tra- quéia,o esôfago, o timo, os brônquios principais etc. Este órgão tem forma cônica, com uma região superior chamada ápice e uma região inferior cha- mada base (como esta se apoia sobre o múscu- lo diafragma, pode também ser chamada de face diafragmática). Além dessa, o pulmão tem a face costal (em contato com as costelas) e a medial ou mediastinal (voltada ao mediastino e com uma abertura chamada hilo pulmonar, por onde entram e saem estruturas como brônquios, artérias, veias e vasos linfáticos). O direito pulmão é maior, mais pesado, mais curto e mais largo do que o esquerdo devido à po- sição do coração (o pulmão esquerdo chega a ser 10% menor do que o direito). Além disso, o pulmão direito apresenta três subdivisões chamadas lobos (superior, médio e inferior) enquanto o esquerdo apresenta apenas duas (lobo superior e inferior). A separação dos lobos pulmonares ocorre por fendas profundas chamadas issuras (no pulmão direito existem as issuras oblíqua e horizontal, e no pulmão esquerdo existe apenas a issura oblíqua). Por im, o pulmão esquerdo apresenta uma projeção chamada língula do pulmão (DI DIO, 2002). Figura 22 – Pulmão direito e esquerdo EDUCAÇÃO FÍSICA 43 Pleura e cavidade pleural Pleura é um saco seroso que reveste os pulmões. É constituída por dois folhetos, a pleura pulmonar ou visceral e a pleura parietal. A primeira reveste a superfície do pulmão, penetrando, inclusive, as suas issuras. A segunda recobre a face interna do tórax e o músculo diafragma. Ambas são contínuas entre si por meio de um espaço chamado cavida- de pleural, onde existe uma pequena quantidade de líquido que permite o deslizamento entre elas durante os movimentos respiratórios (MOORE et al., 2014). Figura 23 – Pleuras e cavidade pleural 44 ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA MECÂNICA RESPIRATÓRIA Para que a respiração normal em repouso ocorra, a contração do músculo diafragma é a única necessá- ria. Ele se contrai, se projeta em direção à cavidade abdominal comprimindo as vísceras ali localizadas e aumentando a pressão nesta região. Por outro lado, a pressão no tórax diminui, fazendo com que o ar en- tre, a favor do gradiente de pressão, do meio externo (onde é maior a pressão) para a cavidade torácica (onde a pressão é menor). Assim ocorre a inspira- ção. A expiração normal ocorre na sequência e não necessita da contração de nenhum músculo respira- tório, pois a própria elasticidade do tecido pulmonar faz com que o ar saia quando a pressão interna e ex- terna se igualarem. Se a inspiração ou a expiração forem forçadas (por exemplo, em exercício físico intenso ou em caso de doença respiratória), vários outros músculos passam a agir, como os intercostais externos e alguns músculos do pescoço, a exemplo do esternocleido- mastoideo e dos escalenos (ajudando na inspiração) e dos músculos intercostais internos e dos abdomi- nais (ajudando na expiração). O sistema nervoso (controle nervoso) e os es- tímulos químicos (controle químico) controlam a mecânica respiratória. O controle nervoso de- pende da medula espinal e do tronco encefálico; o controle químico se baseia na concentração dos gases O 2 e CO 2 . Assim, modiicações sobre a fre- quência e o volume respiratório são responsáveis por ajustes essenciais da mecânica respiratória que, por sua vez, depende das condições do in- divíduo (como temperatura ambiental, esforço físico e doenças) (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Assim inalizamos o nosso estudo sobre o sistema respiratório em termos anatômicos e funcionais. Lembre-se de que sua atuação é essencial ao fun- cionamento do corpo como um todo e determina a efetividade da prática do exercício físico. Figura 24 – Principais músculos da respiração Os problemas respiratórios são responsáveis pela má qualidade de vida de muitas pessoas no mundo (no Brasil, estima-se que um em cada cinco brasileiros possui alguma doença respiratória). Dentre as mais comuns estão a asma alérgica, a bronquite crônica, a rinite e o enisema pulmonar. Embora a maioria das pessoas com disfunção respiratória pen- se que não pode fazer exercícios físicos, o exercício supervisionado e bem orientado ajuda a diminuir o cansaço, a indisposição e a fadiga. Desta forma, a adoção de um estilo de vida mais ativo é importante para evitar o agravamento dessas doenças. Fonte: a autora. SAIBA MAIS 45 considerações inais A manutenção das adequadas oxigenação e nutrição tecidual, e a drenagem efe- tiva das células dependem do funcionamento do sistema circulatório em atuação conjunta com o sistema respiratório e sob o rigoroso controle do sistema nervoso. Embora tais sistemas possam ser acometidos por diversas doenças, pesquisas têm comprovado que a prática de exercícios físicos especíicos e supervisiona- dos têm minimizado os danos morfofuncionais que esses sistemas podem sofrer em decorrência da inatividade física. Todavia é essencial que os proissionais di- retamente ligados ao condicionamento físico desses sistemas ( por exemplo, o proissional de Educação Física e o isioterapeuta) tenham pleno conhecimento histológico, anatômico e isiológico a im de prevenir e tratar disfunções incapa- citantes desses sistemas. Ademais, faz-se necessário que tais proissionais tenham total conhecimento acerca das modiicações que o exercício físico é capaz de gerar sobre tais estrutu- ras. O coração é um bom exemplo de órgão que pode ser modiicado pelo treina- mento. Ele se fortalece, aumenta a sua força de contração, ejeta maior quantidade de sangue a cada batimento cardíaco (aumenta o volume de ejeção), podendo, in- clusive, bater menos vezes por minuto mantendo a mesma quantidade de sangue ejetado (atletas, por exemplo, têm menor frequência cardíaca e maior volume de ejeção). Ao contrário, pessoas sedentárias têm elevada frequência cardíaca para manter o volume de ejeção, pois o miocárdio é menos forte. O exercício físico também está relacionado às modiicações que ocorrem no funcionamento do sistema linfático. Os movimentos e as contrações musculares estimulam a circulação da linfa, ao passo que esta é lentiicada pelo imobilismo. Por isso, as contrações musculares são ditas auxiliares da drenagem linfática e favorecedoras da homeostasia corpórea. O sistema respiratório é grandemente otimizado pela prática regular do exer- cício. Tal fato pode ser visto ao se comparar atletas e indivíduos sedentários no que se refere aos volumes e às capacidades pulmonares, os quais são avaliados por um exame chamado espirometria. Neste exame, é possível mensurar as quan- tidades de ar que entram e saem dos pulmões a cada inspiração e/ou expiração normais ou forçadas. Além disso, todos os músculos respiratórios são fortaleci- dos peloexercício físico. Portanto, um(a) bom(a) professor(a) de Educação Física deve conhecer em profundidade o aparelho cardiorrespiratório. 46 atividades de estudo 1. Em relação ao sistema circulatório, leia as airma- ções a seguir: I) A irrigação do membro superior depen- de das artérias carótidas comuns direita e esquerda. II) A irrigação do membro inferior depende da artéria aorta (parte descendente abdo- minal), a qual se bifurca originando a arté- ria ilíaca comum (direita e esquerda). As artérias ilíacas comuns se ramiicam origi- nando as artérias ilíacas externa e interna. A externa passa o ligamento inguinal e, na coxa, passa a ser chamada de femoral. Na altura da fossa poplítea, recebe o nome de artéria poplítea, a qual se bifurca em tibial anterior, tibial posterior e ibular. Tais arté- rias irrigam todo o membro inferior (inclu- sive os pés). III) Na grande circulação, o sangue sai do ven- trículo esquerdo pela artéria aorta e transi- ta pelo corpo oxigenando todas as células. Em contrapartida, capilares teciduais cap- tam o CO2 produzido pelo metabolismo das células, se anastomosam, originam vênulas e veias de calibre cada vez maior até retornarem ao átrio direito do coração pelas veias cavas superior e inferior. IV) O vaso que mantém relação com o ventrí- culo esquerdo do coração é o tronco pul- monar. Já o vaso que mantém relação com o ventrículo direito do coração é a artéria aorta. V) A irrigação da cabeça depende das artérias subclávias direita e esquerda. É correto o que se airma em: a) I e II, apenas. b) I e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) II e V, apenas. e) III e IV, apenas. 2. O sistema respiratório é essencial à manutenção da vida e, por isso, conta com estruturas especia- lizadas responsáveis pelas funções de condução do ar e de trocas gasosas. Com base nesta air- mação, leia as airmações a seguir: I - É prática relativamente comum a nível hospitalar a realização de traqueostomia em pacientes que apresentem importante condição clínica impossibilitadora da res- piração (o edema de glote é um exemplo). Em caso de traqueostomizar o paciente, um dos problemas que este apresenta é a impossibilidade de fonação em decorrên- cia das pregas vocais serem seccionadas durante o procedimento cirúrgico. II - As tonsilas linguais, faríngeas, palatinas, tubárias e laríngeas têm por função pro- duzir anticorpos para proteger o corpo contra microrganismos que possam cau- sar malefícios. Juntas, elas formam o anel linfático, uma importante estrutura do sistema linfático, que se posiciona próxi- mo às cavidades nasal e oral, e à farínge e à laringe. III - Em ordem, as estruturas anatômicas que o ar percorre dentro do sistema respira- tório são: vestíbulo do nariz, cavidade na- sal, laringe, faringe, traqueia, brônquios principais, brônquios segmentares, brô- nquios lobares, bronquíolos e alvéolos pulmonares. IV - As pleuras revestem e protegem os pul- mões. Enquanto a pleura pulmonar é mais externa e mantém contato com a parede do tórax, a pleura parietal ica bastante aderida ao parênquima pulmonar, pene- trando, inclusive, as issuras do pulmão. V - O pulmão direito é maior do que o pulmão esquerdo. 47 atividades de estudo É correto o que se airma em: a) I e II, apenas. b) I e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) II e V, apenas. e) IV e V, apenas. 3. O sistema circulatório depende da ação de bom- ba do coração e da capacidade dos vasos em conduzir sangue arterial e venoso pelo corpo. Assim, artérias e veias participam da grande e da pequena circulação. Com base nesta airmação, leia as airmações a seguir: I - A pequena circulação manda sangue aos pulmões a im de possibilitar a hematose. II - As principais artérias que irrigam o cora- ção são as coronárias (direita e esquerda). III - A principal veia que drena a cabeça e o pescoço é a veia subclávia. IV - Os átrios são as maiores câmaras cardí- acas. A sua função é ejetar sangue para fora do coração e, por isso, são chamados de câmaras de ejeção. V - A pequena circulação tem por objetivo oxigenar e nutrir as células do corpo e delas remover todo o gás carbônico e as impurezas. É correto o que se airma em: a) I e II, apenas. b) I e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) II e V, apenas. e) III e IV, apenas. 4. O sistema linfático é auxiliar do sistema venoso, uma vez que ambos realizam a drenagem celu- lar. Com base nesta airmação, leia as airmações a seguir: I - O pulmão direito apresenta apenas dois lobos e uma única issura. II - Ao contrário do proposto anteriormente, o pulmão esquerdo apresenta apenas dois lobos e uma única issura. III - Os linfonodos são estruturas de iltragem da linfa. Eles dispõem de células imuno- lógicas (como os linfócitos), as quais são capazes de destruir microrganismos, células anômalas ou mesmo moléculas grandes e inúteis. IV - Apesar de existir poucos vasos linfáti- cos dispersos pelo corpo, eles são muito abundantes nos ossos e nas cartilagens. V - O ducto linfático direito e o ducto torácico drenam a linfa para as principais artérias que chegam ao coração. Assim, o sistema linfático auxilia a irrigação que o sistema arterial realiza. É correto o que se airma em: a) I e II, apenas. b) I e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) II e V, apenas. e) III e V, apenas. 48 atividades de estudo 5. Observe a imagem a seguir, leia as airmações e assinale a alternativa que contém as proposições corretas: a) O região representada pelo número 1 é responsável pelo olfato. b) O número 2 representa a parte laríngea da faringe. c) O número 3 representa a faringe. d) O número 4 representa o brônquio princi- pal esquerdo. e) O número 5 representa o brônquio princi- pal direito. 49 LEITURA COMPLEMENTAR Leia o artigo a seguir que trata da inl uência do exercício físico sobre os parâmetros respi- ratórios de pacientes submetidos à hemodiálise. RESUMO Modelo do estudo: Estudo experimental. Introdução: A Doença Renal Crônica (DRC) refere-se a um diagnóstico sindrômico de perda progressiva e irreversível da função renal. O paciente submetido à hemodiálise pode apresentar limitações na capacidade funcional, função pulmo- nar e força muscular respiratória, com consequentes prejuízos na qualidade de vida. Objetivo: Avaliar os efeitos de um programa de exercício físico sobre a função pulmonar, capacidade funcional, qualidade de vida e dor, em pacientes que realizam hemodiálise. Metodologia: Participaram do estudo 28 pacientes de ambos os sexos, com idade entre 40 e 60 anos, em programa de hemodiálise no Instituto do Rim da Santa Casa de Misericórdia de Presidente Prudente-SP. A força muscular respiratória foi avaliada pela manovacuometria, a capacidade funcional, pelo TC6’, a qualidade de vida, pelo questionário KDQOLSF, a função pulmonar, pela espirometria e a dor, pela EVA. Após as avaliações, os pacientes iniciaram o programa de exercícios, que foi desenvolvido três vezes por semana, durante 40 minutos em hemodiálise, por oito semanas. Ao i nal do programa, os pacientes foram reavaliados. Resultados: Não houve diferença signii cativa dos valores da CVF e VEF1 pré e pós-programa de exercícios, assim como do Índice de Tiff enau. O valor da PImax pós-programa foi signii - cativamente maior que o obtido na avaliação pré-programa. Para a variável PEmax, não foi encontrada diferença signii cativa. As avaliações da capacidade funcional inicial e i nal não apresentaram diferenças signii cativas (p>0,05). A avaliação da qualidade de vida, quanto aos domínios das áreas especíi cas da DRC, mostrou que houve signii cância estatística, ao com- parar a lista de sintomas e problemas com a sobrecarga da DRC e papel proi ssional. Os indi- cadores relativos à dor foram reduzidos, após o programa (p<0,05). Discussão: O DRC enfrenta situações complexas de dependência física, social e i nanceira. Apesar de não apresentar resultados estatisticamente signii cativos em todas asvariáveis avaliadas, este estudo, corroborando outros encontrados na literatura, sugere um programa de exercício físico, com aspectos positivos para essa população. Conclusão: Embora a capacidade pulmonar e a capacidade funcional (TC6’) não tenham apre- sentado alterações ao i nal do experimento, os níveis reduzidos de dor, cansaço e dispneia sugerem melhora do desempenho funcional, após programas de exercício físico para DRC. Palavras-chave: Hemodiálise. Atividade Física. Espirometria. Qualidade de Vida. Boa leitura! Fonte: Lima et al. (2013). 50 material complementar A Vida Por Um Fio Ano: 2008 Sinopse: Clayton Beresford (Hayden Christensen) tem tudo o que poderia sonhar. Está noivo da bela Sam Lockwood (Jessica Alba), tem um trabalho bem-sucedido, não enfrenta problemas i nanceiros e se relaciona muito bem com sua mãe, Lili- th (Lena Olin). Porém a vida de Clayton muda quando ele descobre que precisa passar por um transplante de coração. Jack Harper (Terrence Howard) é o médico encarregado de sua cirurgia, tendo acompanhado o caso de Clayton desde que os seus primeiros sintomas surgiram. Enquanto eles não encontram um doador que seja compatível com o raro tipo sanguíneo de Clayton, Jack o aconselha a aprovei- tar a vida ao máximo. Sam passa então a pressioná-lo para que se case logo com ela, o que faz com que Lilith lhe ofereça dinheiro para que i que longe de sua famí- lia. Clayton e Sam decidem se casar às escondidas, mas neste mesmo dia, o pager de Clayton dispara: foi encontrado um doador compatível e a sua cirurgia precisa ser realizada o quanto antes. Comentário: é um i lme emocionante que mostra como a sobrevivência do ser humano depende totalmente do adequado funcionamento do sistema circulató- rio. Muito bom! Indicação para Assistir 51 referências COLICIGNO, P. R. C.; SACCHETTI, J. C. L.; MORAES, C. A.; ARAÚJO, A. B. Atlas Fotográico de Anatomia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. DI DIO, L. J. A. Tratado de anatomia sistêmica aplicada - princípios básicos e sistêmicos: esquelético, articular e muscular. 2. ed. v. 1. São Paulo: Atheneu, 2002. FREITAS, V. Anatomia conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004. LIMA, F. F.; MIRANDA, R. C. V.; SILVA, R. C. R.; MONTEIRO, H. L.; YEN, L. S.; FAHUR, B. S.; PADULLA, S. A. T. Avaliação funcional pré e pós-programa de exercício físico de pacientes em hemodiálise. Medicina, Ribeirão Preto, n. 46, v. 1, p. 24-35, 2013. Disponível em: <http://www.periodicos.usp.br/rmrp/article/ view/62380/65181>. Acesso em: 19 nov. 2018. MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem dinâmica. Maringá: Clichetec, 2014. MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. PAZIN-FILHO, A.; SCHMIDT, A.; MACIEL, B. C. Ausculta cardíaca: Bases i- siológicas - isiopatológicas. Medicina, Ribeirão Preto, n. 37, p. 208-226, jul./dez. 2004. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia e isiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia humana. 9. ed. São Paulo: Athe- neu, 2000. 52 gabarito 1. C. 2. D. 3. A. 4. C. 5. A. gabarito UNIDADEUNIDADE II Professora Dra. Carmem Patrícia Barbosa Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Sistema digestório • Sistema endócrino Objetivos de Aprendizagem • Estudar os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes do sistema digestório: boca/cavidade oral, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, órgãos anexos do sistema digestório, divisões do sistema digestório, cavidade abdominal e peritônio. • Estudar os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes do sistema endócrino: glândula hipói se, glândula tireoide, glândulas paratireoides, glândula pineal, glândula suprarrenal, pâncreas, função endócrina do testículo e do ovário, controle do sistema endócrino. SISTEMAS DIGESTÓRIO E ENDÓCRINO unidade II INTRODUÇÃO C ertamente você já se perguntou sobre os detalhes de como ocorrem os pro- cessos de digestão e de liberação hormonal. Isto porque tanto a metaboliza- ção do que comemos quanto a forma como o nosso corpo se comunica por meio dos hormônios são assuntos relevantes que inluenciam diretamente a nossa qualidade de vida. Como o ser humano não é capaz de produzir os seus próprios alimentos (é he- terótrofo), para se manter vivo, ele necessita receber constante suprimento de ma- terial nutritivo. Para que tais nutrientes se tornem utilizáveis pelo corpo, deve haver um adequado processo digestivo, ou seja, ocorrem inúmeras modiicações químicas realizadas por enzimas especíicas. Assim, os alimentos ingeridos devem percorrer as estruturas do canal alimentar, permanecendo nelas o tempo suiciente para se- rem submetidos às secreções que tais estruturas produzem. Várias transformações físicas e químicas transformam os alimentos em pequenas porções, que são ab- sorvidas (caem na corrente sanguínea) e levadas às células para serem utilizadas durante o metabolismo celular normal. Este complexo mecanismo dependente do controle feito pelos sistemas endócrino e nervoso, os quais regulam glândulas localizadas em diversos locais do corpo e cujas secreções são lançadas na cor- rente sanguínea (sendo, por isso, chamadas de hormônios). Por isso, esta unidade tem por objetivo realizar um estudo especíico dos sistemas digestório e endócrino, direcionando a sua atenção para as modii- cações relacionadas aos exercícios físicos e a disfunções como anorexia, bu- limia, hiper ou hipossecreção hormonal. Assim, serão descritos os aspectos mais relevantes dos sistemas digestório e endócrino, bem como as suas inte- rações com os outros sistemas do corpo, principalmente o muscular. Neste contexto, é importante que você não se esqueça de que o(a) pro- fessor(a) de Educação Física precisa ter amplo conhecimento sobre esses sistemas, uma vez que sem o perfeito funcionamento desses, nem mesmo a contração muscular é possível. Portanto, aproveite bem os conheci- mentos transmitidos e tenha um ótimo período de estudo! 58 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Sistema Digestório EDUCAÇÃO FÍSICA 59 Caro(a) aluno(a), nesta unidade, o estudo do siste- ma digestório será feito apresentando a função geral dele, as suas subdivisões, os seus componentes e os principais aspectos funcionais de cada estrutura que o compõe. FUNÇÃO O sistema digestório realiza a digestão (suprindo de nutrientes os seres vivos) e a eliminação de substân- cias inúteis ao organismo (como restos do metabo- lismo celular). Para tanto, apresenta estruturas anatômicas que realizam a apreensão do alimento (colocan- do-o em contato com a boca), a mastigação (por meio dos dentes), a deglutição (da qual a língua participa), a digestão (que se dá na boca, no es- tômago e no duodeno), a absorção dos nutrien- tes e da água dos alimentos (com a atuação dos intestinos) e a expulsão dos resíduos sob a forma de fezes (ação do intestino grosso) (DANGELO; FATTINI, 2011). DIVISÕES O sistema digestório divide-se em canal alimentar e em órgãos anexos. O canal alimentar é um con- junto de órgãos situados na cabeça, no pescoço, no tórax, no abdome e na pelve, pelos quais o alimento transita enquanto sofre o processo de digestão. In- clui órgãos como boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso. Órgãos anexos são estruturas pelas quais o ali- mento não passa, mas que são essenciais ao processo de digestão, pois sintetizam secreções com enzimas digestivas. São eles: as glândulas salivares, o fígado e o pâncreas (DANGELO; FATTINI, 2011). COMPONENTES Boca O canal alimentar tem iníciona boca, cujas funções incluem apreensão do alimento, mastigação, deglu- tição, percepção dos sabores, digestão e fonação. A apreensão é realizada pelos lábios. A mastigação de- pende dos dentes, os quais exercem ação mecânica sobre o bolo alimentar, modii cando-o i sicamente para aumentar a sua superfície de contato a i m de expô-lo às enzimas. Enquanto a deglutição e a per- cepção dos sabores dependem da língua, a digestão depende da enzima amilase salivar (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). A boca comunica-se anteriormente com o meio externo e, posteriormente, com a parte oral da farin- ge. As bochechas representam o seu limite lateral, o palato duro e mole representam o seu limite supe- rior, e os músculos do assoalho da boca representam o seu limite inferior. Figura 1 – Órgãos do sistema digestório (canal alimentar e órgãos anexos) 60 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA A boca é dividida em vestíbulo e cavidade oral. O vestíbulo é o espaço anterior que i ca entre os lá- bios, as bochechas e os dentes. A cavidade oral é re- presentada pelo restante da boca, ou seja, é o espaço onde a língua se aloja e onde as glândulas salivares lançam a saliva. Bochechas As bochechas são estruturalmente semelhantes aos lábios, pois são compostas por pele, músculo (buci- nador) e mucosa, sendo, por isto, consideradas cutâ- neo-músculo-mucosa. Entre o músculo bucinador e a mucosa existem várias pequenas glândulas bucais e acima dele existe tecido adiposo (corpo adiposo da bochecha), o qual é maior em crianças, recebendo o nome de bola de “Bichat” (FREITAS, 2004). Figura 2 – Boca (vestíbulo e cavidade oral) Lábios Os lábios são compostos por músculo (orbicular da boca) e cobertos por pele (i na e sensível), sendo, por isto, considerados pregas músculo i brosas. São mui- to irrigados, apresentam glândulas salivares labiais e embora os seus frênulos limitem parcialmente a sua mobilidade, são muito móveis a i m de permitir a mastigação e a fonação. A junção dos lábios superior e inferior forma an- teriormente uma fenda chamada rima da boca e, la- teralmente, as comissuras labiais ou ângulos da boca (WATANABE, 2009). Figura 3 – Bochecha Palato O palato se posiciona entre a cavidade nasal e a ca- vidade oral (a sua face superior é voltada ao nariz e a sua face inferior é voltada à boca, onde apre- senta várias glândulas palatinas). Anteriormente, a sua constituição é predominantemente óssea e imóvel, sendo chamada de palato duro. Posterior- mente, a sua constituição é predominantemente muscular e com relativo movimento, sendo cha- mada de palato mole. EDUCAÇÃO FÍSICA 61 O palato duro é formado pelas maxilas e pelos ossos palatinos, os quais se unem por meio das su- turas palatina mediana e palatina transversa. A sua coloração é rósea devido à vascularização menos ex- pressiva do que a do palato mole (que é vermelho). A sua mucosa é intimamente aderida ao periósteo, podendo ser chamada de mucoperiósteo e apresen- ta processos alveolares (onde os dentes da maxila se i xam) e importantes forames (pelos quais vasos e nervos passam). O palato mole é constituído por músculos que atuam na deglutição elevando o palato para que o alimento não rel ua em direção à cavidade na- sal. Em sua região mediana e posterior, se localiza a úvula palatina (conhecida como “campainha” ou “sininho”), lateralmente a qual se encontra a tonsila palatina (conhecida como “amídala” ou “amígdala”) (MADEIRA, 2001). Istmo das fauces O istmo das fauces é o espaço entre a úvula palatina, os arcos palatoglossos, o dorso da língua e a carti- lagem epiglótica da laringe. Ele representa o limite posterior da boca (ou seja, onde esta acaba e onde começa a faringe) (MADEIRA, 2001). Figura 4 – Palato duro e mole Língua A língua é um órgão importante para a mastigação e a deglutição, e atua como órgão gustativo e fonador. Localiza-se parcialmente na cavidade oral e parcial- mente na faringe, mantendo-se presa à cartilagem epiglótica. É muscular e revestida por mucosa. Os seus mús- culos podem ser intrínsecos (os quais lhe dão forma) ou extrínsecos (os quais lhe permitem movimento). A sua mucosa apresenta receptores gustativos cha- mados de papilas linguais (circunvaladas, folhadas, i liformes e fungiformes), as quais lhe dão um aspec- to rugoso, além de serem relacionadas à percepção sensitiva da língua (inclusive dos sabores). A extremidade anterior da língua é chamada de ápice, as suas regiões laterais são as margens laterais, a sua região inferior é a face inferior, e a sua face superior é chamada de dorso da língua. O dorso é Figura 5 – Istmo das fauces 62 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA marcado pelo sulco mediano, que a divide em me- tades direita e esquerda. Além desse sulco, a língua apresenta o sulco terminal, que a divide em corpo da língua (anterior ao sulco) e raiz da língua (poste- rior ao sulco). Ela apresenta um septo visível quando cortada transversalmente. Embora apresente o frênulo da língua, a língua tem importante mobilidade necessária à mastigação e à fonação, e é bastante inervada (em relação a tato, dor, temperatura, pressão, propriocepção, gustação e em relação à sua capacidade contrátil) (MADEI- RA, 2001). Gengiva A gengiva é constituída por tecido i broso e é cober- ta por mucosa. A gengiva livre é vermelha e a aderi- da é rósea (MADEIRA, 2001). Figura 6 – Língua Figura 7 – Gengiva Dentes Os dentes i cam implantados em cavidades (cha- madas alvéolos dentais) da maxila e da mandíbula. São rígidos, esbranquiçados, muito vascularizados e inervados. Apresentam três partes: raiz (implantada no alvéolo), coroa (parte mais evidente) e colo (re- gião entre a raiz e a coroa, circundada pela gengiva). Enquanto a criança apresenta 20 dentes (oito incisivos, quatro caninos e oito molares), o adulto apresenta 32 (oito incisivos, quatro caninos, oito pré-molares e 12 molares). A substituição da denti- ção primária (da criança) pela dentição permanente (do adulto) começa a partir dos seis ou sete anos e pode durar até os 25 anos de idade. Eles servem para triturar os alimentos, dei- xando-os acessíveis às enzimas digestivas. Para tanto, cada dente tem uma função especíi ca na mecânica da mastigação. Enquanto os incisi- vos cortam o alimento e os caninos o rasgam, os pré-molares e os molares fazem a sua trituração (MADEIRA et al., 2014). EDUCAÇÃO FÍSICA 63 Assoalho da boca O assoalho da boca é constituído, principalmente, por músculos como o platisma e os supra-hióideos e representa o limite inferior da boca (MADEIRA, 2001). Anel linfático É um conjunto de tonsilas (palatinas, linguais, fa- ríngeas e tubárias) localizado na parte posterior da cavidade oral e na parte oral da faringe. Ele di- minui a contaminação dos alimentos ingeridos a partir da produção de células imunológicas (MA- DEIRA, 2001). Figura 8 – Dentes FARINGE A faringe é uma estrutura músculo-membranácea lo- calizada posteriormente à cavidade nasal, à cavidade oral e à laringe. Ela se inicia na base do crânio e termi- na ao nível da sexta vértebra cervical. Apresenta, em sua constituição, músculos estriados esqueléticos (re- lacionados aos movimentos peristálticos) e mucosa. Ela se associa tanto ao sistema respiratório quanto ao digestório, atuando como um canal comum à pas- sagem do ar e do alimento. Assim, apresenta três par- tes sem limites precisos entre si: parte nasal, oral e la- ríngea da faringe. Enquanto a parte nasal tem função respiratória, a oral tem função digestória, e a laríngea, função respiratória e dá continuidade ao esôfago. Na parte nasal da faringe existe um importante acidente anatômico chamado óstio faríngeo da tuba auditiva, o qual marca a desembocadura desta(ou seja, a tuba auditiva comunica a parte nasal da faringe com a cavidade timpânica da orelha média). Esta co- municação permite quea pressão dentro da cavidade timpânica e a do ar externo se igualem, permite que muco e perilinfa dos canais semicirculares sejam dre- nados, mas possibilita também que uma infecção da faringe se propague à orelha média (DI DIO, 2002). Figura 9 – Anel linfático Figura 10 – Faringe 64 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA ESTÔMAGO O estômago é uma dilatação do canal alimentar que segue o esôfago e dá continuidade ao intestino. Lo- calizado abaixo do músculo diafragma, com a sua maior porção à esquerda do plano mediano, a sua principal função é realizar a digestão química (por meio de enzimas) e mecânica (por meio de movi- mentos circulares e peristálticos) dos alimentos. Além disso, ele pode atuar como um reservatório para até três litros de alimento e é capaz de absorver algumas substâncias. Internamente, o estômago apresenta pregas gás- tricas que se distendem ao receber o alimento. A sua forma e posição podem variar com a idade, com o tipo constitucional e a posição do indivíduo, com a alimentação e o estado isiológico do órgão. ESÔFAGO O esôfago é um tubo ibromuscular que dá continu- ação à faringe e desemboca no estômago. Assim, ele atravessa o músculo diafragma (pelo hiato esofági- co) e apresenta uma parte cervical, uma parte torá- cica e uma parte abdominal. Com 25 cm de comprimento e 2 cm de diâme- tro, ele não apresenta função digestiva, produzin- do apenas muco para garantir que o bolo alimentar passe por meio de suas contrações (movimentos peristálticos, peristaltismo ou peristalse), inde- pendentemente da ação da gravidade (MOORE et al., 2014). Você já ouviu falar de reluxo gastroesofágico? O texto que segue é parte do artigo intitu- lado “Doença do reluxo gastroesofágico: uma afecção crônica”, do autor Ethel Zim- berg Chehter, disponível na revista Arquivos Médicos do ABC, de 2004. “A doença do reluxo gastroesofágico (DRGE) pode ser deinida como uma afecção crônica decorrente do reluxo retrógrado de parte do conteúdo gastroduodenal para o esôfago ou órgãos adjacentes a ele, acar- retando um espectro variável de sintomas e/ou sinais esofagianos e/ou extra-esofa- gianos, associados ou não a lesões teci- duais”. Para saber mais, acesse: <https:// www.portalnepas.org.br/amabc/article/ view/313/294>. Fonte: adaptado de Chehter (2004, p. 12). SAIBA MAIS Figura 11 – Esôfago EDUCAÇÃO FÍSICA 65 A sua comunicação com o esôfago se dá por meio da parte cárdia. O seu fundo é superior e acima da junção com o esôfago. O seu corpo é a maior parte do órgão. A parte pilórica é a sua por- ção terminal que, por sua vez, se comunica com o duodeno. Apresenta face anterior e posterior, uni- das pelas curvatura gástrica maior (à esquerda) e menor (à direita). Tanto na parte cárdica quanto no piloro existem orifícios chamados óstio cárdico e óstio pilórico, onde feixes musculares se condensam, permitindo um mecanismo de abertura e fechamento que regula o trânsito do bolo alimentar. Normalmente, o piloro só se abre para o quimo passar quando o duodeno está vazio e pronto para digerir mais conteúdo gás- trico (DI DIO, 2002). INTESTINOS Intestino delgado Em relação ao intestino grosso, o intestino delgado tem menor calibre e é mais longo (mede de 4 a 6 me- tros de comprimento). Ele se estende do piloro ao ceco, e é subdividido em três segmentos: duodeno, jejuno e íleo. Ele age sobre o alimento de maneira mecânica (misturando e propulsionando o quimo por meio de movimentos peristálticos) e de maneira química (por meio de enzimas). Assim, embora represente o principal local de absorção dos alimentos, ele tam- bém participa da digestão. No intestino, agem secreções do próprio intesti- no (suco entérico), do pâncreas (suco pancreático) e do fígado (bile) sobre o quimo, formando o quilo na fase inal da digestão (quando substâncias podem ser absorvidas). Para tanto, desembocam no duode- no os ductos do fígado e do pâncreas. O duodeno mede 25 cm de comprimento e é a primeira porção do intestino delgado. Ele começa no óstio pilórico, termina na lexura duodeno-je- junal e mantém íntimo contato com a cabeça do Figura 12 – Estômago Você sabia que o estômago pode dilatar se a quantidade de alimentos ingeridos for ex- cessiva? Você sabia que o estômago pode regredir de tamanho se uma reeducação ali- mentar for feita? A melhor maneira de evitar uma dilatação gástrica é estar sempre atento à quantidade de alimentos ingeridos e manter uma dieta balanceada e na quantidade ideal para o seu nível de atividade física e biótipo. Fonte: a autora. SAIBA MAIS 66 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA É subdividido em ceco, colo ascendente, colo transverso, colo descendente, colo sigmoide, reto e canal anal. Do ceco destaca-se o apêndice vermifor- me, um prolongamento cilindroide alongado com cerca de 6 a 10 cm de comprimento, formado no ponto de encontro das tênias. O apêndice é rico em folículos linfáticos. O reto tem 15 cm de comprimento e possui uma parte dilatada (ampola do reto) que armazena tem- porariamente as fezes. O canal anal é uma parte es- treita que se abre para o meio externo por meio do ânus (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). pâncreas. O jejuno mede 2,5 metros, e o íleo, 3,5 metros. Não há nítida divisão anatômica entre estas duas porções, podendo, assim, serem cha- madas, em conjunto, de jejuno-íleo (DANGELO; FATTINI, 2011). Intestino grosso O intestino grosso mede 1,5 metros de comprimen- to e difere-se do intestino delgado por apresentar faixas de músculo liso longitudinal (tênias do colo), gordura na serosa (apêndices omentais do colo) e dilatações limitadas por sulcos transversais (sacula- ções do colo). Ele ica ao redor do intestino delgado e repre- senta a porção terminal do canal alimentar, respon- sável pela absorção de água e eletrólitos do quilo, determinando, assim, a consistência do bolo fecal. Ademais, atua na formação, transporte e expulsão das fezes. Figura 13 – Intestino delgado e grosso Você sabia que apendicite é grave e trata-se da inlamação do apêndice vermiforme? Os sintomas associados a esta condição clíni- ca são vários e, se ela não for prontamente tratada, pode ocasionar a morte. Para saber mais, acesse: <https://www.tuasaude.com/ apendicite/acesso>. Fonte: a autora. SAIBA MAIS PERITÔNIO E CAVIDADE PERITONEAL As cavidades abdominal e pélvica, bem como as vísceras nelas localizadas são revestidas por uma membrana serosa transparente e brilhante chamada peritônio. Ele é formado por duas lâminas contínu- as, o peritônio visceral (que envolve as vísceras) e o peritônio parietal (que reveste as paredes dessas cavidades). Entre essas lâminas existe a cavidade pe- ritoneal, a qual contém uma pequena quantidade de líquido peritoneal. Alguns órgãos (como rins e pâncreas) se posi- cionam atrás do peritônio (são retroperitoneais) e, por isto, icam aderidos à parede posterior do abdo- EDUCAÇÃO FÍSICA 67 me (são ixos). Outros se destacam da parede abdo- minal e são acompanhados pelo peritônio de modo que, entre eles e a parede do abdome, se forma uma lâmina peritoneal chamada mesentério, meso ou li- gamento. Às vezes, essas pregas se estendem entre dois órgãos por uma lâmina do peritônio chamada omento (o omento maior sai do estômago, recobre os intestinos e se ixa ao colo transverso do intestino grosso; o omento menor vai do estômago ao fígado). Alguns órgãos podem ser intraperitoneais (TOR- TORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). ÓRGÃOS ANEXOS Fígado O fígado se localiza abaixo do diafragma e ica uni- do à parede abdominal anterior, ao estômago e ao duodeno. Ele é considerado a maior glândula do corpo e, depois da pele, é considerado o maior ór- gão, pesando 1,5 kg. Este órgão atua no metabolismo de carboidrato, de gordura e de proteína. Além disso, armazena gli- cogênio, sintetiza vários compostos orgânicos, meta- boliza e excretasubstâncias tóxicas (medicamentos e alimentos, por exemplo), participa dos mecanismos de defesa do corpo e secreta a bile. A bile é um líquido produzido pelo fígado e ar- mazenado na vesícula biliar. De cor esverdeada e de gosto amargo, tem ação detergente sobre gor- duras e favorece a absorção de ácidos e vitaminas lipossolúveis (sem bile, cerca de 40% da gordura se- ria excretada pelas fezes, assim como as vitaminas A, D, E e K). O fígado apresenta uma face diafragmática (que mantém contato com o músculo diafragma) e uma face visceral (que mantém contato com as vísceras Figura 14 – Peritônio e cavidade peritoneal Você sabia que os alimentos que ingerimos podem melhorar ou atrapalhar os nossos mo- vimentos peristálticos? Além disso, você sabia que os exercícios físicos estimulam muito a nossa peristalse? Pois é! Vale a pena estar in- formado(a) para garantir uma dieta adequada e um bom padrão de funcionamento intes- tinal. Para saber mais, acesse: <http://www. revistapenseleve.com.br/nutricao-destaque/ alimentos-estimulam-o-intestino>. Fonte: a autora. SAIBA MAIS 68 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Glândulas salivares As glândulas salivares produzem e liberam saliva na cavidade oral. A saliva é um líquido viscoso, transpa- rente, insípido e inodoro que desempenha diversas funções como prevenção de cáries, lubriicação do bolo alimentar, facilitação de seu transporte e digestão do amido. Além disso, mantém a cavidade oral limpa e com pH adequado, permite a percepção dos sabores e possibilita a excreção de algumas substâncias. Glândulas salivares menores localizam-se nas bochechas, nos lábios, no palato e na mucosa da língua. Glândulas salivares maiores incluem as pa- rótidas, as submandibulares e as sublinguais. A pa- rótida ica na porção lateral da face e apresenta o ducto parotídeo, que perfura a bochecha e se abre na boca. Ela pode ser infectada por vírus, causando parotidite (caxumba). A submandibular ica abaixo da mandíbula e o seu ducto submandibular se abre na boca abaixo da língua. A sublingual é a menor e a mais profunda delas, apresentando vários pequenos ductos, os quais se abrem no assoalho da boca (MA- DEIRA, 2001). Pâncreas O pâncreas localiza-se atrás do estômago e se divide em cabeça (extremidade dilatada à direita), colo (en- tre a cabeça e o corpo), corpo (em posição transver- sal) e cauda (extremidade ailada à esquerda). Este órgão é considerado uma glândula mista, pois secreta insulina e glucagon de maneira endócrina (no sangue) e suco pancreático de maneira exócrina (no duodeno para auxiliar a digestão) (FREITAS, 2004). Figura 16 – Pâncreas Figura 17 – Glândulas salivares Figura 15 – Fígado abdominais). Ele divide-se em dois lobos anatômi- cos (direito e esquerdo) e dois lobos acessórios (qua- drado e caudado) (WATANABE, 2009). EDUCAÇÃO FÍSICA 69 70 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA O sistema endócrino será abordado nesta unidade apresentando as suas generalidades, as principais glândulas e os seus hormônios, assim como as prin- cipais disfunções advindas de seu mau funciona- mento. Também será realizada uma correlação entre o seu funcionamento e a prática de exercícios físicos. GENERALIDADES Os hormônios são essenciais ao funcionamento do corpo, e se as suas concentrações estiverem altera- das, disfunções severas podem aparecer. Para que isto seja evitado, o sistema endócrino apresenta vá- rias glândulas macroscópicas, as quais não possuem Sistema Endócrino canais excretores, mas lançam os seus produtos (hormônios) na corrente sanguínea, fazendo com que eles sejam distribuídos ao corpo todo para agir em células-alvo de vários órgãos. Estas glândulas de secreção interna diferem das glândulas exócri- nas, uma vez que estas últimas secretam para fora da corrente sanguínea (como as glândulas lacrimais, salivares, sudoríparas, sebáceas e mamárias). O sistema endócrino apresenta como principais glândulas a hipói se, a tireoide, as paratireoides, as suprarrenais, a pineal e as porções endócrinas do pâncreas e das gônadas. Todavia alguns órgãos po- dem apresentar função endócrina, como é o caso da placenta, do timo, do coração, dos rins, do duodeno EDUCAÇÃO FÍSICA 71 etc. Ademais, existem várias glândulas endócrinas microscópicas representadas por células secretoras de hormônios que icam isoladas ou organizadas em pequenos agregados, os quais se distribuem pelo corpo, como na mucosa do trato gastrointestinal. Alguns hormônios são esteroides derivados do colesterol, alguns são proteicos e outros são derivados de aminoácidos. Eles podem agir na célula de várias maneiras. Por exemplo, modiicando a permeabilida- de da membrana, agindo sobre segundos mensagei- ros, inluenciando o material genético, agindo sobre enzimas etc. (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). PRINCIPAIS GLÂNDULAS E OS SEUS HOR- MÔNIOS Glândula hipóise A glândula hipóise ica alojada na fossa hipoisial do osso esfenoide e está ligada ao hipotálamo, de forma que existe uma íntima relação entre o sistema endócrino e o sistema nervoso. Esta pequena glândula (com cerca de 1 cm de di- âmetro e 1 g de peso) pode ser dividida em lobo an- terior (adeno-hipóise) e lobo posterior (neuro-hi- póise). Os hormônios da adeno-hipóise incluem o hormônio de crescimento (popularmente conhe- cido como GH), a corticotropina, a tireotropina, a prolactina, o hormônio folículo estimulante e o hor- mônio luteinizante. Os hormônios da neuro-hipói- se incluem o hormônio antidiurético e a ocitocina. O hormônio de crescimento inluencia a sínte- se de proteína e causa multiplicação e diferenciação celular. A corticotropina e a tireotropina controlam, respectivamente, a secreção de hormônios do cór- tex da glândula suprarrenal e da glândula tireoide. A prolactina desenvolve as glândulas mamárias e es- timula a produção do leite, e os hormônios folículo estimulante e luteinizante controlam o crescimento das gônadas e as suas atividades reprodutivas. Por im, enquanto a ocitocina ajuda na liberação de leite pelas glândulas mamárias e no trabalho de parto, o hormônio antidiurético (ou vasopressina) regula a excreção de água pelo corpo. Devido à atuação abrangente de seus hormô- nios, a disfunção da glândula hipóise pode causar severos prejuízos (como no caso de hiper ou hipo- tireoidismo) e ser tão severa a ponto de ocasionar óbito. Além disso, os seus hormônios são determi- nantes para a boa prática de exercícios físicos, pois estão relacionados ao metabolismo e à homeostasia corpórea (MOORE et al., 2014).Figura 18 - Visão geral do sistema endócrino 72 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Figura 19 - Glândula hipóise EDUCAÇÃO FÍSICA 73 Glândula tireoide A glândula tireoide está localizada na região ante- rior do pescoço, próximo à traqueia. Ela sintetiza os hormônios calcitonina, tiroxina (T 4 ) e triiodotironi- na (T 3 ) usando o iodo como substrato. A calcitonina reduz os níveis de cálcio e fosfato no sangue, e os hormônios T 3 e T 4 aceleram o metabolismo de car- boidratos, estimulam a síntese de proteínas e a de- gradação de gorduras, aumentam o metabolismo da água, de sais minerais e de vitaminas. Quando T 3 e T 4 são secretados de modo ex- cessivo, ocorre uma doença chamada hipertireoi- dismo. Neste caso, há perda de nitrogênio pela urina, redução do colesterol circulante, agitação psicomotora, perda de peso corporal, insônia, instabilidade afetiva, tremor nas mãos, taquilalia (fala rápida), taquicardia, palpitação, hipertensão arterial, dispneia, hiperfagia, fraqueza muscular e osteoporose. Ao contrário, a falta desses hormônios causa hipotireoidismo. Neste caso, ocorre aumento do co- lesterol circulante, desaceleração do metabolismo corpóreo, cansaço, alterações menstruais e deici- ência cardíaca. Adicionalmente, crianças com hipo- tireoidismo têm atraso na maturaçãodo esqueleto, podem desenvolver nanismo, hipotonia muscular e deiciência mental, uma vez que os hormônios tireoidianos são fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento físico e mental. Em conjunto, estes sinais caracterizam uma doença conhecida como cretinismo, a qual pode se dar por ausência congênita da glândula, por defeito genético em sua função ou por falta de iodo na dieta. Por isto, Mi- randa Neto e Chopard (2014) airmam que gestan- tes devem ingerir iodo diariamente na quantidade mínima necessária (em torno de 100 microgramas de iodo/dia). Glândula pineal A pequena glândula pineal (com cerca de 150 mg de peso) está localizada no epitálamo. Seu nome se deve ao seu formato de uma pequena pinha, e o hormônio que ela produz é a melatonina. Este hormônio está relacionado ao ciclo de sono e vigília, atuando nos relógios circadianos (que ocorrem durante o dia). Por isto, a sua disfunção pode causar, por exemplo, alteração do ciclo sono-vigília. Adicionalmente, vale destacar que a melatonina tem relação direta com o exercício físico e com o repouso após a sua prática. A sincronização do ciclo sono-vigília depende da intensidade da luz do ambiente. Variações nos níveis de luz são detectadas por receptores localizados na retina dos quais partem neurônios que chegam ao hipotálamo. De maneira geral, a ativação dos fotor- receptores da retina reduz a produção de melatonina e causa o despertar. Ao contrário, a ausência de luz e a consequente redução de ativação desses fotorre- ceptores fazem com que a glândula pineal aumente a síntese e a liberação de melatonina na corrente san- guínea, causando sono (a sua síntese atinge o nível máximo entre 2 e 4 horas da manhã) (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Figura 20 - Glândula pineal 74 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Outro fato que merece destaque é que a ausência de iodo faz com que a glândula tireoide ique ede- maciada (inchada), formando um “papo” na região anterior do pescoço (esta condição é chamada de bócio). Tal fato ocorre com maior incidência em lo- cais onde o solo é pobre em iodo (em locais longe do mar, por exemplo). Desde 1955 iniciaram-se programas de adição de iodo no sal de cozinha no Brasil por recomenda- ção da Organização Mundial de Saúde (OMS). No entanto iodo em excesso pode causar hipertireoidis- mo induzido por iodo (principalmente em idosos) e a elevação do número de pessoas com doenças au- toimunes da glândula tireoide (WATANABE, 2000). Figura 21 - Glândula tireoide Glândulas paratireoides As glândulas paratireoides localizam-se na face pos- terior da glândula tireoide e têm a função de produzir o hormônio paratireoidiano (PTH) ou paratormô- nio. Desta forma, estas quatro pequenas glândulas atuam no controle dos níveis dos íons cálcio e fósforo do corpo. A glândula hipóise controla tal secreção conforme a concentração de cálcio nos luidos cor- porais (a diminuição dessa concentração aumenta a secreção de PTH, e o contrário é verdadeiro). Quando o PTH é liberado, ele ativa os osteoclas- tos, os quais retiram cálcio dos ossos aumentando a sua concentração no plasma sanguíneo e diminuin- do a sua excreção na urina. Além disso, a síntese de vitamina D pelos rins é aumentada, melhorando a absorção de cálcio no trato gastrointestinal. Enquanto o PTH retira cálcio dos ossos aumen- tando a sua concentração no plasma, a calcitonia age antagonicamente levando cálcio do plasma para os ossos. Assim, o hiperparatireoidismo faz com que haja excesso de PTH no sangue, causando descalci- icação óssea, fraturas, deformidades, osteroporose e calciicação de tecidos moles. Ao contrário, a deici- ência de PTH diminui o cálcio do sangue e aumenta a excitabilidade do sistema nervoso, causando câim- bras e espasmos (MOORE et al., 2014). Figura 22 - Glândulas paratireoides EDUCAÇÃO FÍSICA 75 Glândulas suprarrenais As glândulas suprarrenais recebem este nome por- que se localizam acima dos rins. São revestidas por uma cápsula de tecido conjuntivo e gordura, e pas- sam posteriormente ao peritônio. Têm forma piramidal e enquanto a sua parte central é chamada de medula, a sua parte periférica é chamada de córtex. A medula (20% da glândula) secreta epinefrina e noraepinefrina para ajudar o or- ganismo a regular funções que lhe permitam adap- tação a situações de emergência (como em casos de hemorragia, hipoglicemia, hipóxia, dor, exercícios intensos, medo e raiva). O córtex, por sua vez, secreta mineralocorti- coides, androgênios e glicocorticoides. Os mine- ralocorticoides (como a aldosterona) controlam os eletrólitos (como sódio e potássio) dos líquidos extracelulares. Os androgênios são hormônios se- xuais secretados em pequenas quantidades e que causam os mesmos efeitos da testosterona. Os glicocorticoides (como o cortisol e a cortisona) podem agir com ação anti-inlamatória e anties- tressante. Todavia o estresse crônico eleva demais o nível de cortisol, predispondo disfunções como acúmulo de gordura na face e no pescoço, depres- são imunológica e debilidade mental. Adicional- mente, o aumento nos níveis de adrenalina e de cortisol pode gerar sobrecarga cardíaca e inibir o crescimento e a renovação dos tecidos (WATA- NABE, 2000). Figura 23 - Glândulas suprarrenais 76 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Gônadas Os testículos e os ovários são, respectivamente, as gônadas dos sistemas genitais masculino e feminino. Tais órgãos, além de produzirem gametas, são tam- bém responsáveis pela síntese de hormônios sexuais testosterona, estrógenos e progestinas (o estrógeno mais importante é o estradiol, e a progestina mais importante é a progesterona). A testosterona é responsável pelas características sexuais secundárias masculinas, como a formação de pelos dispersos pelo corpo, o aumento da laringe, a espessura da pele e os desenvolvimentos ósseo e muscular. De igual modo, ela atua na formação do pênis, da bolsa escrotal, da próstata, das glândulas seminais, dos ductos genitais masculinos e participa da descida dos testículos para a bolsa escrotal. A sua atuação é bastante importante na puberdade, pois aumenta o tamanho do pênis, da bolsa escrotal e dos testículos. Os estrógenos (ou também conhecidos como estrogênios) são responsáveis pelo crescimento dos órgãos sexuais. Estimulam a síntese de colágeno e a renovação da pele, das mucosas e dos tecidos con- juntivos de suporte. Têm a sua produção reduzida após a menopausa, fazendo com que a renovação dos tecidos e a síntese de colágeno sejam diminuí- das. Assim, sinais de envelhecimento (como perda do vigor da pele, da massa muscular e óssea etc.) passam a ser facilmente identiicáveis. Ademais, fu- mar diminui a produção estrogênica e, desta forma, antecipa, prolonga e agrava os sinais característicos da menopausa. A progesterona prepara o útero para a implanta- ção do blastocisto, estimula o desenvolvimento das mamas e aumenta a secreção mucosa das tubas ute- rinas, ajudando na nutrição do ovo em desenvolvi- mento (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Pâncreas O pâncreas atua como uma glândula mista, uma vez que ele é responsável pela secreção de hormônios (in- sulina e glucagon) e do suco pancreático (lançado como secreção exócrina no duodeno). Este órgão se localiza atrás do estômago, interposto ao baço e ao duodeno. Enquanto as suas células alfa produzem gluca- gon e as células beta produzem insulina, as células delta produzem uma substância chamada somatos- tatina, que atua como um neurotransmissor inibitó- rio da liberação dos dois hormônios anteriores. A insulina é liberada em estado alimentado e a sua função é estimular o transporte de glicose do sangue para as células a im de que esta seja utilizada e arma- zenada em forma de glicogênio. A glicose exceden- te é convertida em gordura e armazenada no tecido adiposo. Adicionalmente, a insulinareduz o uso de gorduras e de proteínas e estimula a síntese proteica. O glucagon age antagonicamente à insulina, uma vez que diminui a quebra da glicose, promove a hiperglicemia, estimula a degradação do glicogê- nio hepático e a liberação de glicose para a corrente sanguínea (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Figura 24 - Pâncreas EDUCAÇÃO FÍSICA 77 Ao término desta unidade, você deverá ser capaz de associar as diversas glândulas do corpo aos hormô- nios por elas produzidos. Lembre-se sempre de que o exercício físico é capaz de causar efeitos benéicos na produção hormonal. Figura 25 - Ovários e testículos Você quer saber como o cigarro pode modi- icar a sua produção hormonal e antecipar a menopausa? Pois bem! Todos os proissionais da saúde deveriam saber disto em detalhes para ins de orientação e prevenção. Para tanto, sugiro que você leia o artigo intitulado “Tabagismo e antecipação da idade da me- nopausa” dos autores José Mendes Aldrighi, Israel Nunes Alecrin, Paulo Rogério de Olivei e Henrique O. Shinomata, de em 2005. Para saber mais, acesse: <http://www.scielo.br/ pdf/ramb/v51n1/a20v51n1.pdf>. Fonte: a autora. SAIBA MAIS 78 considerações inais O sistema digestório está diretamente relacionado à manutenção da vida, pois dele depende a obtenção de energia para o metabolismo celular e, consequen- temente, para todas as atividades do corpo (como crescimento, locomoção e re- produção). Tal fato pode ser dito, pois, sem o adequado suprimento energético, atividades diárias como contração muscular, pensamento, aprendizado e diversas outras funções cognitivas não seriam possíveis. Complementarmente, o sistema endócrino se encarrega de manter a home- ostasia corpórea, uma vez que ele é responsável pela produção e liberação hor- monal. Assim, o controle necessário à manutenção da vida é feito pelos sistemas nervoso e endócrino, os quais apresentam atuação conjunta e sincrônica, inluen- ciando, desta forma, os outros sistemas. Muitas doenças, no entanto, podem acometer esses sistemas e desregular o equilíbrio interno do corpo. Como exemplo podem ser citadas gastrite, esofagite, acalasia, doença de Crohn, colite ulcerativa, hiper e hipotireoidismo e muitas outras. A prevenção e o tratamento para tais males depende do pleno conheci- mento morfológico e funcional desses. Por isso, o estudo anatômico é essencial aos proissionais da área da saúde. Como várias dessas doenças podem ser evitadas por meio de uma vida isi- camente ativa e pelo desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis (como a ingestão diária e adequada de líquidos e de alimentos pré e probióticos), o pro- issional de Educação Física deve ter o conhecimento pleno desses sistemas. Por isso, o estudo pormenorizado deles e a sua integração com o restante do corpo é essencial. Além disso, o proissional de Educação Física comumente necessita responder a questionamentos referentes ao corpo humano e ao seu funciona- mento, e, enquanto educador, pode contribuir para minimizar muitos distúrbios alimentares (como anorexia e bulimia) e realizar a detecção precoce de disfun- ções endócrinas. Sendo assim, ótimo estudo para você! EDUCAÇÃO FÍSICA 79 1. O sistema digestório consta de um tubo de 10 a 12 metros de comprimento, localizado adiante da coluna vertebral e aberto em suas duas ex- tremidades. Em relação a este sistema, leia as airmações a seguir: I - O fígado produz a bile e a vesícula biliar a armazena. II - A bile é produzida pela vesícula biliar e é armazenada no fígado. III - São órgãos supradiafragmáticos do siste- ma digestório: boca, faringe, laringe, esô- fago e glândulas salivares. IV - São órgãos anexos do sistema digestório: baço, fígado e glândulas salivares. V - São órgãos anexos do sistema digestório: pâncreas, fígado e glândulas salivares. É correto o que se airma em: a) I e IV, apenas. b) I e V, apenas. c) I e III, apenas. d) II e IV, apenas. e) II e V, apenas. 2. Considerando que existem órgãos do sistema digestório acima e abaixo do músculo diafragma, assinale a alternativa que corresponde apenas aos órgãos infradiafragmáticos desse sistema: a) Esôfago (parte cervical, torácica e abdomi- nal), estômago, intestino delgado, intesti- no grosso, fígado e pâncreas. b) Esôfago (parte torácica e abdominal), estô- mago, intestino delgado, intestino grosso, fígado e pâncreas. c) Esôfago (parte abdominal), estômago, in- testino delgado, intestino grosso, fígado e pâncreas. d) Esôfago (parte abdominal), estômago, in- testino delgado, intestino grosso, fígado, pâncreas e glândulas salivares. e) Os órgãos infradiafragmáticos incluem to- dos os órgãos do tubo digestório. 3. Imagine uma refeição contendo pão francês, hambúrguer de carne bovina e fatias de bacon. Analise as airmações a seguir e assinale aquela que contém a descrição dos locais onde ocorre- rá a digestão de cada um destes alimentos: a) A digestão do pão ocorrerá na faringe e no esôfago. A carne será digerida no estôma- go. O bacon será digerido no duodeno. b) O pão (constituído principalmente por proteína) será digerido no duodeno; a car- ne bovina (constituída principalmente por carboidrato) será digerida no estômago; o bacon (constituído principalmente de gor- dura) será digerido no duodeno. c) O pão (constituído principalmente por carboidrato) será digerido na boca e no duodeno; a carne bovina (constituída prin- cipalmente por proteína) será digerida no estômago; o bacon (constituído principal- mente de gordura) será digerido na boca. d) O pão (constituído principalmente por carboidrato) será digerido na boca e no duodeno; a carne bovina (constituída principalmente por proteína) será dige- rida no estômago; o bacon (constituído principalmente de gordura) será digerido no duodeno. e) A digestão da carne ocorrerá no esôfago. O pão será digerido no estômago. O ba- con será digerido na faringe. 4. Imagine a seguinte situação hipotética: você re- cebe em sua academia uma senhora de 65 anos de idade que, embora sempre tenha sido seden- tária, te procurou porque está interessada em iniciar um programa de treinamento físico dire- cionado. Em sua avaliação inicial, você constatou que ela encontra-se em menopausa desde os 45 anos, que nunca fez terapia de reposição hor- monal e apresenta várias alterações endócrinas. 80 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA vez que ela já apresenta idade avançada, está na menopausa há 20 anos e nun- ca fez reposição hormonal. Dentre tais hormônios, pode-se citar o hormônio de crescimento (GH), o luteinizante (LH), o fo- lículo estimulante (FSH) e os androgênios (produzidos pela glândula suprarrenal). Tal diminuição se relaciona a disfunções, como aumento na pressão arterial, insô- nia, diiculdade na coagulação sanguínea e instabilidade emocional. É correto o que se airma em: a) I e IV, apenas. b) II e V, apenas. c) III e IV, apenas. d) III e V, apenas. e) IV e V, apenas. 5. As glândulas endócrinas são glândulas especia- lizadas na secreção dos hormônios na corrente sanguínea, sendo as principais: pineal, hipóise, tireoide, paratireoide e suprarrenais. Há glându- las mistas que possuem uma parte endócrina e outra exócrina, como o pâncreas e as gônadas, ou seja, os ovários e os testículos. Sobre esse sis- tema, assinale a alternativa correta: a) São hormônios da adeno-hipóise o hor- mônio antidiurético (ADH) e a ocitocina. b) São hormônios da glândula tireoide o pa- ratormônio e a melatonina. c) São hormônios da glândula suprarrenal o hormônio do crescimento e a prolactina. d) A melatonina é produzida pela glândula pineal. e) O hormônio do crescimento é produzido pela glândula tireoide. Considere os seus estudos sobre o tema e anali- se as proposições a seguir: I - Se a senhora apresentar hipertireoidismo, a concentração de hormônio tireoidiano calcitonina poderá estar alta, predispon- do a descalciicação óssea. Isto podeser dito considerando o fato de que esse hor- mônio ativa os osteoclastos e aumenta a calcemia a im de manter a concentração isiológica de cálcio para os neurônios, o miocárdio e o diafragma. Consequente- mente, é bastante provável que essa se- nhora apresente ou venha a apresentar severa osteoporose. II - Se essa senhora apresentasse disfunção das glândulas suprarrenais, seria possível que esta tivesse um aumento na dosagem do cortisol e da adrenalina. Neste caso, é certo que haveria contínua reabsorção óssea, uma vez que o hormônio cortico- tróico (ACTH) produzido pela glândula hipóise estaria aumentado. III - Se de fato essa senhora apresentasse dis- função das glândulas suprarrenais, seria possível que esta tivesse sinais e sintomas relacionados ao sistema circulatório, uma vez que o excesso dos hormônios produ- zidos por essas glândulas (como o cortisol e a adrenalina) poderiam causar sobrecar- ga cardíaca e hipertensão arterial. Tal fato é preocupante se você prescrever para a senhora exercícios aeróbios, os quais tendem a aumentar o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório. IV - Se o paratormônio ou hormônio parati- reoidiano (PTH) estiver aumentado, pode- rá haver aumento da calcemia, da reab- sorção óssea e dentária. Isto porque, em casos de hiperparatireoidismo, os osteo- clastos são ativados. V - É bem provável que alguns hormônios dessa senhora estejam em concentra- ções abaixo dos níveis isiológicos, uma 81 LEITURA COMPLEMENTAR Leia o artigo indicado a seguir que trata da inl uência do exercício físico sobre o sistema endócrino. INTRODUÇÃO Todas as funções do corpo humano e dos vertebrados de uma maneira geral são permanentemente controla- das em estado i siológico por dois grandes sistemas que atuam de forma integrada: o sistema nervoso e o siste- ma hormonal (Guyton & Hall, 1997). O sistema nervoso é responsável basicamente pela ob- tenção de informações a partir do meio externo e pelo controle das atividades corporais, além de realizar a integração entre essas funções e o armazenamento de informações de memória. A resposta aos estímulos (ou informações provenientes do meio externo ou mesmo do meio interno) é controlada de três maneiras, a sa- ber: 1) contração dos músculos esqueléticos de todo o corpo; 2) contração da musculatura lisa dos órgãos internos e 3) secreção de hormônios pelas glândulas exócrinas e endócrinas em todo o corpo (Berne & Levy, 1996; Guyton & Hall, 1997). Diferentemente dos músculos, que são os efetores i nais de cada ação determinada pelo sistema nervoso, os hor- mônios funcionam como intermediários entre a elabo- ração da resposta pelo sistema nervoso e a efetuação desta resposta pelo órgão-alvo. Por isso, considera-se o sistema hormonal o outro controlador das funções cor- porais (Guyton & Hall, 1997; Wilson & Foster, 1988). Para entendermos melhor o funcionamento desse sis- tema e o conceito de órgão-alvo, torna-se importante o conhecimento do que é um hormônio. Um hormônio é uma substância química secretada por células espe- cializadas ou glândulas endócrinas para o sangue, para o próprio órgão ou para a linfa em quantidades nor- malmente pequenas e que provocam uma resposta i siológica típica em outras células especíi cas. Os hor- mônios são reguladores i siológicos - eles aceleram ou diminuem a velocidade de reações e funções biológicas que acontecem mesmo na sua ausência, mas em ritmos diferentes, e essas mudanças de velocidades são funda- mentais no funcionamento do corpo humano (Schotte- lius & Schottelius, 1978). Fonte: Canali e Kruel (2001). 82 material complementar To the Bone Ano: 2017 Sinopse: uma jovem está lidando com um problema que afeta muitos outros no mundo, ou seja, a anorexia. Sem perspectivas de se livrar da doença e ter uma vida feliz e saudável, a moça passa os dias sem esperança. Porém, quando ela encontra um médico não convencional que a desai a a enfrentar a sua condição e a abraçar a vida, tudo pode mudar. Comentário: é um i lme que todo proi ssional de Educação Física deveria assistir. Ele trata de uma das desordens mais agressivas que têm acometido muitos ado- lescentes e jovens atualmente, os quais, inclusive, optam pela prática desenfreada e abusiva de exercícios físicos. Você deve assistir! Indicação para Ler 83 referências ALDRIGHI, J. M.; ALECRIN, I. N.; OLIVEI, P. R.; SHINOMATA, H. O. Tabagis- mo e antecipação da idade da menopausa. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v. 51, n.1, p. 51-53, jan./fev. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ramb/ v51n1/a20v51n1.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2018. CANALI, E. S.; KRUEL, L. F. M. Respostas hormonais ao exercício. Rev. Paul. Educ. Fis., São Paulo, v. 15, n. 2, p. 141-153, jul./dez. 2001. Disponível em: <ht- tps://www.revistas.usp.br/rpef/article/viewFile/139895/135145>. Acesso em: 19 nov. 2018. CHEHTER, E. Z. Doença do reluxo gastroesofágico: uma afecção crônica. Ar- quivos Médicos do ABC, Santo André, v. 29, n. 1, p. 12-18, 2004. Disponível em: <https://www.portalnepas.org.br/amabc/article/view/313/294>. Acesso em: 19 nov. 2018. DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. DI DIO, L. J. A. Tratado de anatomia sistêmica aplicada - princípios básicos e sistêmicos: esquelético, articular e muscular. 2. ed. v. 1. São Paulo: Atheneu, 2002. FREITAS, V. Anatomia: conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004. MADEIRA, M. C. Anatomia da face: bases anátomo-funcionais para a prática odontológica. 3. ed. São Paulo: Sarvier, 2001. MADEIRA, M. C.; RIZZOLO, R. J. C.; CARIA, P. H. F.; CRUZ, R. S. M.; LEI- TE, H. F.; OLIVEIRA, J. A. Anatomia do dente. 7. ed. rev. e ampl. São Paulo: Sarvier, 2014. MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem dinâmica. Maringá: Clichetec, 2014. MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia e isiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia humana. 9. ed. São Paulo: Atheneu, 2000. 84 gabarito 1. B. 2. C. 3. D. 4. C. 5. D. UNIDADEUNIDADEIII Professora Dra. Carmem Patrícia Barbosa Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Sistema urinário • Sistema genital masculino • Sistema genital feminino Objetivos de Aprendizagem • Estudar os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes dos sistema urinário: rim, ureter, bexiga urinária e uretra. • Entender os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes do sistema genital masculino: testículos, epidídimos, ductos deferentes, glândulas seminais, ducto ejaculatório, próstata, pênis, uretra, glândulas bulbouretrais e bolsa escrotal. • Abordar os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes do sistema genital feminino: ovário, tuba uterina, útero, vagina, estruturas do pudendo feminino: monte do púbis, lábio maior do pudendo, lábio menor do pudendo, vestíbulo da vagina, bulbo do vestíbulo, óstio da vagina, glândula vestibular maior e glândulas vestibulares menores. Cavidade pélvica e peritônio, períneo e mamas. APARELHO UROGENITAL unidade III INTRODUÇÃO O aparelho urogenital é constituído pelos sistemas urinário, genital mascu- lino e genital feminino. Enquanto os sistemas genitais agem em conjunto para possibilitar a continuidade da vida humana, o sistema urinário ga- rante a manutenção da homeostasia dos líquidos corpóreos. O sistema urinário, por exemplo, garante que produtos residuais gerados pelo metabolismo corpóreo sejam eliminados para o meio externo evitando danos ce- lulares como alterações de pH e mesmo morte celular. Ele é constituído pelos rins, ureteres, bexiga urinária euretra. Os rins são considerados órgãos uropoiéticos, pois produzem a urina a partir da iltragem do plasma. Os ureteres e a uretra são chama- dos de órgãos urocondutores pelo fato de conduzirem a urina. Já a bexiga urinária é um órgão uroarmazenador, pois dela depende a estocagem da urina até o momento da micção ou diurese (ou seja, o ato de urinar). Os sistemas genitais possuem estruturas anatômicas especíicas que podem ser agrupadas em órgãos gametógenos ou gônadas (os quais produzem gametas e hor- mônios sexuais), órgãos gametóforos ou vias espermáticas (os quais permitem o deslocamento dos gametas), órgãos de cópula (os quais entram em contato duran- te a cópula ou coito, ou seja, o ato sexual propriamente dito), estruturas eréteis (as quais aumentam de volume em decorrência da retenção de sangue e melhoram, assim, o acoplamento entre eles durante a cópula), glândulas anexas (as quais produzem secreções que facilitam o coito ou a progressão dos gametas nas vias genitais) e órgãos externos (os quais são visíveis à superfície do corpo). Além disso, apenas no sistema genital feminino há um órgão que abriga o novo ser em formação até que o período gestacional seja cumprido (o útero) . O objetivo desta unidade é descrever os aspectos mais relevantes dos sistemas urinário e genitais, bem como apresentar as suas inter-relações e dependência com os outros sistemas do corpo. Não se esqueça que o proissional de Educação Física precisa ter conhecimento sobre esses sis- temas, pois ele será solicitado a responder questões sobre o corpo hu- mano. Assim, aproveite a oportunidade de entendê-los e bom estudo! 90 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Sistema Urinário EDUCAÇÃO FÍSICA 91 Caro(a) aluno(a), o sistema urinário será abordado nesta unidade de forma a oferecer a você uma vi- são geral das funções desse tão importante sistema em relação ao corpo humano como um todo. Além disso, serão apresentados todos os seus componen- tes anatômico e serão pontuados os seus principais aspectos funcionais. FUNÇÕES O aparelho urogenital é composto pelos sistemas urinário, genital masculino e genital feminino, os quais, apesar de apresentarem algumas semelhanças entre si, diferem bastante em relação às suas estru- turas e funções. O sistema urinário, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não serve apenas para sintetizar urina. Ele é vital, pois a sua atuação está diretamente relacionada à manutenção da homeostasia corpórea (o que justii ca o grande número de pessoas em he- modiálise e as intermináveis i las de transplante por conta de graves doenças renais). O sistema urinário é considerado um sistema osmorregulador que controla a composição do sangue e dos líquidos intra e extracelular, moni- torando não só a quantidade de água, mas tam- bém de sais minerais, toxinas, excretas nitrogena- das (ureia e ácido úrico, por exemplo), produtos da degradação da hemoglobina, ácido carbônico, metabólitos de hormônios etc. Para tanto, o sis- tema urinário possibilita a excreção de algumas substâncias e a reabsorção de outras. Ademais, inl uencia o volume de sangue do corpo e, con- sequentemente, a pressão arterial (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Figura 1 – Órgãos do sistema urinário 92 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Em corte, o rim apresenta uma porção central es- cura chamada medula renal e outra periférica mais clara chamada córtex renal. O córtex se projeta em direção à medula formando as colunas renais que, por sua vez, separam porções da medula chamadas pirâmides renais. As pirâmides se estreitam inferior- mente originando as papilas renais, as quais apre- sentam forames para lançar a urina nos cálices re- nais menores (tais cálices se encaixam nas papilas à semelhança de uma taça, justiicando o seu nome). Os cálices renais menores se unem formando cálices renais maiores e estes se abrem na pelve renal. Dentro de cada rim há cerca de 1 milhão de né- frons, os quais servem para iltrar o sangue e formar a urina. Eles atuam como iltros, separando o que deve ser excretado ou reaproveitado pelo corpo. Esta es- trutura microscópica tem a forma de um tubo sinuo- so e é formada por diversas porções (glomérulo renal, cápsula glomerular, túbulo contorcido proximal, tú- bulo reto, túbulo contorcido distal e ducto coletor). O ducto coletor recebe a urina formada e a encaminha ao ureter, possibilitando que os cerca de 1.500 ml de urina produzidos ao dia cheguem à bexiga urinária (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Figura 2 – Rim COMPONENTES Rim O rim é o principal órgão do sistema urinário, pois é ele que iltra o plasma sanguíneo e forma a urina (realiza a uropoiese). Além disso, é responsável pela síntese da forma ativa da vitamina D, de glicose em casos de jejum prolongado, de eritropoetina (gli- coproteína que atua na medula óssea estimulando a produção de hemácias) e de renina (uma enzima produzida por ibras musculares das artérias quan- do a pressão arterial cai). De cor avermelhada, o rim é um órgão par que apresenta a forma de um grande feijão e se localiza na cavidade abdominal. Ele pesa de 125 a 170 g e apresenta cerca de 10 cm de comprimento, 2 de es- pessura e 5 de largura. Todavia o rim esquerdo ten- de a ser um pouco mais comprido e estreito do que o direito, que ica ligeiramente mais baixo devido à posição do fígado. Por fora, ele é revestido por uma cápsula ibrosa de tecido conjuntivo e uma cápsula adiposa. Ambas auxiliam na proteção e na ixação do rim à cavidade abdominal. Todavia os rins podem se deslocar du- rante os movimentos respiratórios e ao mudarmos a posição corpórea. Apresentam uma face anterior e outra poste- rior, uma margem medial e outra lateral e um polo superior e outro inferior. O polo superior é mais espesso, arredondado e próximo da linha media- na. Na margem medial existe um issura chamada hilo renal por onde passam os vasos, os nervos e a pelve renal. EDUCAÇÃO FÍSICA 93 Ureter O ureter é um tubo muscular estreito e longo (de 25 a 30 cm de comprimento) que apresenta ca- pacidade contrátil (movimentos peristálticos). Como a sua função é conduzir a urina produzida no rim até a bexiga urinária, ele tem origem no hilo renal e deixa de existir ao desembocar na be- xiga urinária. Em seu trajeto do rim à bexiga, ele se justapõe às paredes abdominal e pélvica, passando atrás do peritônio. Assim, apresenta uma parte abdominal, uma parte pélvica e uma parte intramural (quando adentra a parede da bexiga urinária). Os ureteres atravessam a parede muscular da bexiga urinária de maneira oblíqua, formando uma válvula unidirecional que impede o rel uxo da urina em direção ao ureter. Além disso, a pressão interna que o enchimento da bexiga causa e as suas contrações atuam como um esfíncter, impedindo, assim, tal rel uxo (WATANABE, 2000). Os cálculos renais (“pedras nos rins”) podem se for- mar nos cálices, na pelve, no ureter e até na bexiga urinária, obstruindo o l uxo de urina, provocando a contração dos músculos do ureter e desencadeando fortes dores e sangramento ao urinar (hematúria). Isto ocorre principalmente em pessoas que tenham predisposição genética e que ingerem pouca água, mas muita carne, leite, queijo, vitaminas C e D ou que tenham alteração na reabsorção de cálcio. Além dis- so, podem desenvolver doenças como o hiperparati- reoidismo, que obriga o repouso prolongado. O uso excessivo de antiácidos que tenham cálcio pode au- mentar a incidência (DANGELO; FATTINI, 2011). Figura 4 – Ureter (suas partes) Figura 3 – Néfron 94 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA URETRA A uretra é um tubo muscular ímpar e mediano que conduz a urina até o meio externo. Este ór- gão difere em relação aos sexos. Assim, enquanto a uretra feminina é curta (cerca de 4 cm) e desti- na-se apenas à passagem de urina, a masculina é longa (cerca de20 cm) e destina-se à passagem de urina e de sêmen durante a ejaculação. Desta for- ma, a uretra masculina pertence tanto ao sistema urinário quanto ao sistema genital masculino. A uretra se abre para o meio externo por meio do óstio externo da uretra, um pequeno orifício que, na mulher, se localiza entre os lábios meno- res do pudendo (próximo ao clitóris e ao óstio da vagina), e no homem, se localiza na região central da glande. No homem, ela é sinuosa e dividida em quatro partes: uretra pré-prostática ou intramural, uretra prostática, uretra membranácea e uretra esponjosa. A uretra prostática é completamente circundada pela próstata, a qual nela lança a sua secreção. A uretra membranácea penetra a membrana do pe- ríneo e termina ao entrar no pênis. As glândulas bulbouretrais pertencentes ao sistema genital mas- culino se localizam próximas a esta parte da uretra. A uretra esponjosa é longa, envolta pelo corpo es- ponjoso do pênis e nela as glândulas bulbouretrais se abrem (DI DIO, 2002).Figura 5 – Bexiga urinária BEXIGA URINÁRIA A bexiga urinária é um órgão ímpar que se loca- liza na cavidade abdominal (no feto e no recém- -nascido) ou na cavidade pélvica (após a puberda- de). Ela é constituída por músculo liso capaz de se distender e possibilitar a sua função de armazena- mento de urina (pode armazenar de 350 a 1.500 ml de urina). Por isto é um órgão oco (MOORE et al., 2014). A idade, o sexo e as fases de vacuidade (se está cheia ou vazia) podem inluenciar a sua forma, o seu tamanho e a sua relação com órgãos vizinhos. No adul- to, por exemplo, quando vazia, ela ica achatada contra a sínise púbica e, quando cheia, ica ovóide e se salien- ta na cavidade abdominal. No homem, ela localiza-se à frente do reto, e na mulher, o útero ica interposto entre essa bexiga urinária e o reto (FREITAS, 2004). EDUCAÇÃO FÍSICA 95 Você certamente já ouviu falar e se preocupou com o câncer de próstata. Mas você sabia que, no Brasil, esse câncer é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não-melano- ma)? Para saber mais, acesse: <http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/ prostata/defi nicao>. Fonte: a autora. SAIBA MAIS 96 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Sistema Genital Masculino EDUCAÇÃO FÍSICA 97 do escroto. Esta migração obrigatoriamente deve se completar antes da puberdade para que a sua fun- ção na produção de gametas possa ser viável. Isto porque a temperatura intra-abdominal (36 a 37 °C) é maior do que a ideal para a espermatogênese (que deve icar em torno de 35 °C). Inclusive, quando o testículo não migra para a bolsa escrotal (criptor- quidia) é necessária uma intervenção cirúrgica. Vale lembrar que, além da função de produção contínua de gametas a partir da maturidade sexual, os testí- culos também produzem hormônios sexuais como a testosterona. Os testículos esquerdo e direito são separados por um septo de tecido conjuntivo (septo do es- croto) visível externamente como uma espécie de “costura” mais escura no escroto (rafe do escroto). Esta região é extremamente inervada e, portanto, muito sensível. Internamente, a superfície do testículo é re- vestida por uma cápsula muito resistente de tecido conjuntivo (túnica albugínea) e por um saco seroso (túnica vaginal) que emite septos para o seu interior, dividindo-o em lóbulos. Nos lóbulos, os espermato- zoides são formados e deles tais gametas saem em direção à cabeça do epidídimo. Como o testículo ica externo à parede da pelve e os outros órgãos do sistema genital masculino es- tão em seu interior, várias estruturas entram e saem da bolsa escrotal, formando o funículo espermático. Este funículo percorre o canal inguinal, uma espé- cie de túnel através da parede do abdome, o qual pode apresentar hérnias inguinais. Dentre as estru- turas que percorrem o canal inguinal, destacam-se as veias testiculares, as quais podem apresentar va- rizes (varicocele), levando ao acúmulo de sangue no testículo e diminuindo a espermatogênese. Assim, Neste tópico, serão apresentadas as funções, a divi- são e os componentes anatômicos do sistema genital masculino. Para cada componente, serão destacados a localização, as principais características morfoló- gicas e os aspectos funcionais mais relevantes. FUNÇÕES O sistema genital masculino atua junto com o femi- nino, possibilitando a manutenção do número de indivíduos da espécie humana. O masculino é res- ponsável pela formação de gametas, pela passagem destes pelos genitais, pelo encontro deles (por meio da cópula) e pela produção de hormônios (especial- mente a testosterona) que garantem as característi- cas sexuais secundárias. DIVISÃO O sistema genital masculino apresenta órgãos ge- nitais externos e internos. Os externos são visíveis à superfície do corpo e incluem pênis e escroto. Os internos não são visíveis à superfície do corpo e, na maioria da vezes, icam dentro da cavidade pélvica e incluem testículo, epidídimo, ducto deferente, glân- dula seminal, ducto ejaculatório, próstata, uretra e glândula bulbouretral (MIRANDA NETO; CHO- PARD, 2014). COMPONENTES Testículo Os testículos são órgãos pares, de forma oval e acha- tados no sentido látero-lateral. Eles se desenvolvem dentro do abdome (perto aos rins), mas à medida que a gestação da mãe avança, os testículos do bebê de sexo masculino descem e se posicionam dentro 98 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Ducto deferente O ducto deferente é um órgão par, em forma de um longo tubo (tem cerca de 30 cm de comprimento), constituído de músculo liso e, portanto, capaz de se contrair, facilitando a expulsão dos espermatozoides no momento da ejaculação. A sua função é permitir que os espermatozoi- des amadurecidos passem da cauda do epidídimo à próstata, sendo considerado o canal excretor do testículo. Assim, ele se une aos ductos das glândulas seminais e penetra a próstata, originando o ducto ejaculatório (DANGELO; FATTINI, 2011). dentro da bolsa escrotal não ica apenas o testículo, mas também o epidídimo, parte do ducto deferente e do funículo espermático (MOORE et al., 2014). Figura 7 – Testículo Epidídimo O epidídimo é um órgão par que se estende da borda posterior do testículo até o ducto deferente. Apresen- ta a forma de tubo enovelado e se divide em cabeça (região dilatada que ica na extremidade superior do testículo), cauda (parte inferior, contínua ao ducto deferente) e corpo (entre as outras duas partes). A sua função é armazenar temporariamente os esper- matozoides e permitir a sua maturação (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Figura 8 – Epidídimo Figura 9 – Ducto deferente A vasectomia é um procedimento cirúrgico que impede que os espermatozoides subam pelo ducto deferente e cheguem até o ducto ejaculatório. Desta forma, ocorre a esterili- zação do homem, assim como a laqueadura na mulher. É importante pontuar que após a realização da vasectomia, o homem ainda ejacula nor- malmente, porém eliminando apenas líquido seminal, sendo os espermatozoides reabsor- vidos. Para saber mais, acesse: <https://www. tuasaude.com/vasectomia>. Fonte: a autora. SAIBA MAIS EDUCAÇÃO FÍSICA 99 Glândula seminal A glândula seminal tem por função (como o próprio nome sugere) secretar líquido seminal. Este líquido é espesso, alcalino, rico em nutrientes (frutose, prin- cipalmente) e serve para nutrir os espermatozoides e ativar o movimento destes. Em termos de quantida- de, ele equivale a cerca de 60% do conteúdo líquido eliminado durante a ejaculação. Esta glândula par tem cerca de 5 cm de com- primento e se localiza atrás da bexiga urinária, acima da próstata, sendo constituída por músculo liso e tecido conjuntivo i broso. Ela apresenta uma extremidade inferior estreita (ducto da glândula seminal), que se une ao ducto deferente forman- do, assim, o ducto ejaculatóriodentro da próstata (WATANABE, 2000). Por exemplo, ao nascimento, ela é pouco desenvolvi- da; na puberdade, ela aumenta de tamanho e cresce até em torno dos 30 anos; após os 40 anos, ela dimi- nui gradativamente. A sua função é secretar líquido prostático para ativar o movimento dos espermatozoides e neutra- lizar a acidez do líquido proveniente do ducto de- ferente e da vagina. Este líquido representa cerca de 30% do volume ejaculado e dá o odor característico do sêmen. Este órgão é envolto por uma cápsula i brosa neurovascular e é constituído por músculo liso, teci- do conjuntivo i broso e glândulas (apresenta de 30 a 50 glândulas). Assim, o músculo liso e a cápsula que o reveste se contraem, forçando o líquido prostático em direção à parte prostática da uretra. Vale desta- car que, como a uretra atravessa a próstata, a secre- ção das glândulas prostáticas é lançada diretamente na porção prostática da uretra. A próstata se localiza na pelve, abaixo da bexiga urinária, em posição mediana. Como ela i ca pró- xima ao reto, pode ser apalpada por meio do toque retal a i m de diagnosticar hiperplasia de próstata (DI DIO, 2002). Figura 10 – Glândula seminal Próstata A próstata é a maior glândula acessória do sistema genital masculino (tem aproximadamente 3 cm de comprimento, 4 de largura e 2 de profundidade). Todavia o seu tamanho varia de acordo com a idade. Figura 11 – Próstata 100 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Glândula bulbouretral A glândula bulbouretral é um órgão par que se lo- caliza à direita e à esquerda da uretra membranosa, junto ao bulbo do pênis. Embora seja bastante pe- quena, essa glândula desempenha uma importante função, pois produz uma secreção mucosa e alca- lina durante o período de excitação sexual (antes da ejaculação). Esta secreção, além de lubriicante, ajuda a neutralizar o pH da uretra e a eliminar resí- duos de urina (TORTORA; DERRICKSON; WER- NECK, 2010). Ducto ejaculatório O ducto ejaculatório tem aproximadamente 2 cm de comprimento (é o menor segmento das vias esper- máticas). Este órgão ímpar se forma pela união do ducto da glândula seminal com o ducto deferente, atravessa a próstata e desemboca na parte prostática da uretra (FREITAS, 2004). Quando o homem é diagnosticado com câncer de próstata e necessita ser submetido a uma prostatectomia (tratamento convencional da doença que consiste na retirada do órgão), as chances de haver impotência sexual realmen- te existem. Todavia quando o diagnóstico é precoce e a cirurgia é bem-sucedida, os riscos de disfunção erétil são bem menores. Desta forma, a prevenção é o melhor recurso. Para saber mais, acesse: <https://www.andrologia. com.br/cancer-de-prostata-causa-impoten- cia-sexual>. Fonte: a autora. SAIBA MAIS Figura 12 – Ducto ejaculatório Figura 13 – Glândula bulbouretral Uretra A uretra masculina é um tubo sinuoso, mediano e longo (cerca de 20 cm de comprimento), constitu- ído por tecido conjuntivo, músculo liso e mucosa. Apresenta uma parte pré-prostática (ou intramu- ral), uma parte prostática, uma parte membranácea e uma parte esponjosa. No homem, esta estrutura anatômica é comum tanto ao sistema urinário quan- to ao sistema genital masculino. EDUCAÇÃO FÍSICA 101 A uretra prostática se localiza na próstata e dela recebe secreção prostática e sêmen. A uretra mem- branácea penetra a membrana do períneo e termina ao entrar no pênis. A uretra esponjosa começa na extremidade distal da uretra membranácea, termina no óstio externo da uretra, é longa e se localiza den- tro do corpo esponjoso do pênis. Nela se abrem as glândulas bulbouretrais (MOORE et al., 2014). O pênis apresenta três regiões principais. A raiz é a sua porção i xa, que representa onde esse órgão se origina. O corpo é a sua parte livre e móvel onde os corpos cavernosos e o corpo esponjoso estão. A glande é a sua extremidade distal dilatada onde o ós- tio externo da uretra se abre. A glande é coberta por uma pele i na (chama- da prepúcio) que forma uma prega retrátil e cuja mobilidade é limitada pelo frênulo do prepúcio (localizado inferiormente). Nela existem glândulas prepuciais produtoras de esmegma (uma secreção sebácea de odor característico que lubrii ca a glan- de). Se a abertura do prepúcio for estreita a ponto de impedir a exposição da glande (i mose), ocorre des- conforto durante o coito e a higienização do pênis i ca comprometida. Tal fato é maléi co, pois devido à glande apresentar inúmeras glândulas sebáceas e prepuciais, as secreções podem se acumular, fazen- do com que haja proliferação de microrganismos e, provavelmente, infecção (aparece odor desagradável e prurido/coceira) (WATANABE, 2000). Figura 14 – Comparação entre as uretras masculina e feminina Pênis O pênis é um órgão ímpar cuja principal função é penetrar o sistema genital feminino (por meio da vagina) e assim permitir o coito para que os esper- matozoides possam ter contato com os gametas fe- mininos. É constituído por três longas massas cilíndricas de tecido erétil (dois corpos cavernosos e um corpo esponjoso), os quais apresentam pequenos espaços onde o sangue i ca retido, possibilitando a ereção. Além desses corpos, o pênis também apresenta mui- tos vasos sanguíneos e linfáticos, e é revestido por uma pele i na, sensível, elástica e lisa. Figura 15 – Pênis 102 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA EREÇÃO E EJACULAÇÃO A ereção é caracterizada pelo enrijecimento do pê- nis, o qual passa do estado de lacidez para o de ri- gidez a im de possibilitar o coito. A ejaculação é a eliminação do sêmen (espermatozoides e líquido seminal) pelo óstio externo da uretra, o que ocorre habitualmente no momento do orgasmo ou durante o sono (polução noturna). A ereção é desencadeada por estímulos físicos (com o toque, por exemplo) e estímulos psíquicos (por meio de um pensamento relacionado à sexu- alidade). Isto porque tais estímulos geram uma res- posta do sistema nervoso autônomo parassimpático que desencadeia a secreção de óxido nítrico (NO), o qual causa relaxamento dos músculos das artérias do pênis e, consequentemente, a vasodilatação. Tal fato faz com que o sangue lua rapidamente para o pênis, ocupando o tecido erétil de seus corpos caver- nosos e esponjoso. A ejaculação é desencadeada pelo sistema ner- voso autônomo simpático, o qual causa a vasocons- trição arterial e a redução do luxo de sangue para os corpos cavernosos, fazendo com que o pênis volte ao estado de lacidez. O desempenho sexual pode ser afetado por pro- blemas psicológicos, tensões emocionais e insuici- ências vasculares (comum em idosos, diabéticos, hipertensos, sedentários e fumantes). O fumo se destaca por afetar diretamente a função erétil, uma vez que apresenta poderoso efeito vasoconstritor. Além disso, quando associado à predisposição ge- nética, o fumo pode estar envolvido em várias do- enças degenerativas da parede arterial (MOORE et al., 2014). Escroto ou bolsa escrotal O escroto é um órgão ímpar que se localiza inferior- mente à sínise púbica, atrás do pênis, icando pen- dente na região urogenital. Esta bolsa ibromuscular cutânea tem por função principal conter o testículo fora da cavidade pélvica, o que mantém a tempera- tura ideal para a espermatogênese (35 ºC). A pele do escroto é muito pigmentada, com pou- cos pelos e muitas glândulas sebáceas e sudoríferas, cuja sudorese ajuda a eliminar o calor. Ela é marca- da externamente por uma “costura” chamada rafe do escroto. Internamente, o septo do escroto o divide em dois compartimentos onde o testículo, o epidídi- mo e a parte inferior do funículo espermático, bem como seus envoltórios, icam contidos. Aderida à pele do escroto está a túnica dartos, formada por ibras musculares lisas fundamentais à termorregulação. A contração dessas ibras gera um aspecto enrugado na pele, ajudando os músculos cremásteresa manterem os testículos mais próxi- mos do corpo a im de reduzir a perda de calor. Isto ocorre com o frio, por exemplo (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Figura 16 – Bolsa escrotal EDUCAÇÃO FÍSICA 103 104 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Sistema Genital Feminino EDUCAÇÃO FÍSICA 105 De igual modo ao sistema genital masculino, o sis- tema genital feminino será apresentado nesta aula com destaque para as suas funções gerais, a sua di- visão e os seus componentes. Para cada estrutura anatômica que o forma, serão pontuados localização anatômica, principais características morfológicas e aspectos funcionais mais relevantes. FUNÇÕES O sistema genital feminino atua junto ao masculino, possibilitando a manutenção do número de indiví- duos da espécie humana. O feminino é responsável pela formação de gametas, pela passagem destes pelos genitais, pelo encontro deles (por meio da có- pula) e pela produção de hormônios (especialmente estrógeno e progesterona) que garantem as caracte- rísticas sexuais secundárias. Complementarmente, o sistema genital feminino possibilita o período gesta- cional e o trabalho de parto. DIVISÃO O sistema genital feminino apresenta órgãos genitais externos e internos. Os externos são visíveis à super- fície do corpo e incluem as estruturas da vulva ou pu- dendo feminino. Os internos não são visíveis à super- fície do corpo, na maioria da vezes, icam dentro da cavidade pélvica e incluem ovário, tuba uterina, útero e vagina (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). COMPONENTES Órgãos internos Ovário O ovário é um órgão alojado na fossa ovárica que mede cerca de 4 cm na vida adulta, embora tenda a diminuir de tamanho com o envelhecimento. Este órgão par e de forma oval apresenta consistência irme (inclusive, esta aumenta com a idade) e a sua função é produzir gametas femininos (ovócitos) e hormônios (estrógeno e progesterona) a partir da puberdade. O ovário é envolto por uma cápsula de tecido conjuntivo chamada túnica albugínea. Nas mulheres pré-púberes, a sua superfície externa é lisa e rosada, porém as sucessivas ovulações lhe causam ibrose e distorções por cicatrizes, além de lhe conferir um aspecto branco/acinzentado e rugoso (DANGELO; FATTINI, 2011). Figura 17 – Ovário Tuba uterina A tuba uterina é um órgão tubular com cerca de 10 cm de comprimento e uma luz bastante estreita. A sua extremidade medial se comunica com o útero e a sua extremidade lateral se comunica com a cavidade peritoneal. Ela apresenta quatro partes principais: infundí- bulo, ampola, istmo e parte uterina. O infundíbulo é a sua extremidade distal, alongada, justaposta ao ovário, móvel e com franjas (fímbrias). A ampola é a sua parte mais longa e larga, móvel e onde nor- malmente a fecundação ocorre. Istmo é uma porção 106 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA com a idade, com o estado gestacional e a vacuidade da bexiga e do reto. Este órgão cavitário é eminentemente muscular e apresenta aproximadamente 7 cm de comprimen- to, 5 de largura e 90 g de peso. Embora de dimen- sões pequenas, ele pode aumentar o seu tamanho para abrigar o feto, inclusive gêmeos, trigêmeos etc. Assim, as suas principais funções são alojar o em- brião para que este se desenvolva durante o período gestacional e, por meio de fortes contrações de suas paredes musculares, possibilite o parto natural ou normal (via vaginal). O útero apresenta corpo (a sua parte principal, em cujo interior está a cavidade uterina) e colo (que inferiormente se projeta para a vagina). Estas partes são separadas pelo istmo do útero. Perimétrio, miométrio e endométrio são as três camadas da parede do corpo do útero. Enquanto o perimétrio é externo, o miométrio forma a maior parte de sua parede (constituído de músculo liso), e o endométrio é sua camada mucosa interna que participa do ciclo menstrual. Mensalmente, o endo- métrio se prepara para receber o zigoto, tornando- -se espesso e rico em capilares. Se a fecundação não ocorrer, este espessamento se descama, fazendo com que o sangue seja eliminado pelo óstio da vagina (menstruação). O útero e a vagina formam entre si um ângulo de cerca 90º, e ele se l ete anteriormente em relação ao seu próprio colo. Este posicionamento é importante para possibilitar o período gestacional sem inter- corrências, e é mantido por ligamentos. Todavia o envelhecimento e a menopausa podem tornar esses ligamentos menos resistentes e mais l ácidos (devi- do a menor produção de estrógeno e à redução na síntese de colágeno), fazendo com que haja prolapso uterino e/ou vesical (ou seja, útero e bexiga urinária estreita, de parede espessa e que penetra o útero. A parte uterina atravessa a parede do útero e se abre na cavidade uterina. Internamente, a tuba apresenta pregas longitudi- nais (pregas tubárias) que lhe dão um aspecto labi- ríntico útil para a captação e o transporte do ovócito e do espermatozoide por meio de seu comprimento. Assim, a sua principal função é transportar os ovóci- tos e os espermatozoides (FREITAS, 2004). Figura 18 – Tuba uterina (externa e internamente) A laqueadura é um procedimento voluntário de esterilização defi nitiva da mulher. Esta téc- nica promove a obstrução das tubas uterinas, impedindo o processo de fecundação. Para saber mais, acesse: <https://minutosaudavel. com.br/laqueadura-o-que-e-como-funciona- -vantagens-e-desvantagens>. Fonte: a autora. SAIBA MAIS Útero O útero tem a forma de uma pera invertida, se lo- caliza na pequena pelve (entre a bexiga urinária e o reto), onde é envolto pelo ligamento largo do útero. A sua forma, o seu tamanho e a sua posição variam EDUCAÇÃO FÍSICA 107 podem sair de suas posições e migrarem a favor da gravidade). Em alguns casos, cirurgias corretivas são necessárias (DI DIO, 2002). Vagina A vagina (cujo signiicado é “bainha”) é o órgão de cópula, pois a sua função é abrigar o pênis durante o coito. Adicionalmente, a vagina é um tubo muscu- lomembranáceo que forma um canal de passagem para os produtos menstruais e representa a parte in- ferior do canal de parto. A vagina é um órgão interno, ímpar, mediano, que mede aproximadamente 8 cm de comprimento e cujas paredes normalmente icam colabadas (ade- ridas). Localizada à frente do reto e atrás da bexiga urinária e da uretra, ela tem direção oblíqua para baixo e para frente e, por isto, a sua parede anterior é mais curta do que a posterior. A sua comunicação com o meio externo ocorre por meio do óstio da vagina, e nas mulheres virgens, ele é parcialmente fechado pelo hímen. O hímen é uma ina membrana de tecido conjuntivo pouco vas- cularizado, cuja ruptura não é dolorosa e nem provo- ca hemorragia. Após a sua ruptura, permanecem pe- quenos fragmentos chamados carúnculas himenais. Figura 19 – Útero e vagina A vagina é constituída por uma túnica externa de tecido conjuntivo, uma média de músculo liso e, internamente, por uma mucosa. A camada mucosa é resistente, elástica, apresenta glândulas produto- ras de muco e nela existem células que, sob a ação do estrógeno, sintetizam glicogênio e partículas de gorduras que são utilizados por lactobacilos da lora vaginal para a produção de ácido lático. Este ácido baixa o pH da vagina protegendo-a contra microrga- nismos e paralisando os espermatozoides. Além dis- so, na mucosa existem rugas vaginais que melhoram a adesão ao pênis durante o coito. Todavia tais rugas tendem a desaparecer com o envelhecimento e com a fraqueza do músculo liso que forma a sua camada média (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). ÓRGÃOS EXTERNOS As estruturas anatômicas externas do sistema genital feminino recebem o nome de vulva ou pudendo femi- nino. São elas: o monte do púbis, os lábios maiores e menores do pudendo, o clitóris, o bulbo do vestíbulo e as glândulas vestibulares maiores e menores. Essas es- truturas orientam o luxo da urina,evitam a entrada de material estranho no aparelho urogenital e atuam como tecido sensitivo e erétil para a excitação e a relação se- xual (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Figura 20 – Vulva 108 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Clitóris e bulbo do vestíbulo O clitóris e o bulbo do vestíbulo são formados por tecido especial capaz de se ingurgitar de sangue (ou seja, estas estruturas podem se dilatar, tornando-se eréteis) e, por isto, são considerados análogos aos corpos cavernosos do pênis. Tal ingurgitamento con- fere à mulher uma sensação de edema ou peso na re- gião pudenda durante o período de excitação sexual. Em termos funcionais, o clitóris é uma estrutura sensível e ligada à excitabilidade sexual. Em termos constitucionais, ele apresenta duas extremidades (ramos do clitóris) que se unem formando o corpo do clitóris. Este, por sua vez, termina em uma dila- tação conhecida como glande do clitóris (visível à frente dos lábios menores). O bulbo do vestíbulo, em termos funcionais, está relacionado à melhora do contato entre o pênis e a va- gina durante o coito devido ao seu ingurgitamento de sangue e à sua consequente dilatação. Em termos cons- titucionais, ele é formado por duas massas de tecido erétil, alongadas e dispostas como uma ferradura ao re- dor do óstio da vagina (não é visível à superfície externa do corpo, pois é profundo e recoberto por músculos). Glândulas vestibulares maiores e menores As glândulas vestibulares maiores são duas glându- las profundas cujos ductos se abrem entre os lábios menores do pudendo. Elas produzem uma secreção mucosa que lubriica esta região e a parte inferior da vagina durante o período de excitação sexual e o coito (devido à sua compressão). As glândulas vestibulares menores apresentam- -se em número variável, e os seus minúsculos ductos se abrem entre o óstio da uretra e o óstio da vagina. É importante enfatizar que as secreções das glându- las vestibulares maiores e menores tornam as estru- turas da vulva úmidas e propícias à penetração. Monte do púbis O monte do púbis é uma região anterior à sínise púbica, contínua à parede abdominal, constituída principalmente de tecido adiposo e de pelos es- pessos. Os pelos se formam após a puberdade e a quantidade de tecido adiposo apresentada é signi- icativamente maior na puberdade, tendendo a di- minuir após a menopausa. Lábio maior do pudendo O lábio maior do pudendo é um prega cutânea alon- gada no sentido ântero-posterior, cuja principal função é dar proteção indireta ao clitóris, ao óstio da uretra e ao óstio da vagina. Ele é constituído de tecido conjuntivo frouxo e músculo liso, e após a pu- berdade, apresenta-se hiperpigmentado, com glân- dulas sebáceas e pelos (exceto em sua face interna, que permanece sempre lisa e rosada). Lábio menor do pudendo O lábio menor do pudendo também é uma prega cutânea alongada no sentido ântero-posterior e que se posiciona medialmente aos lábios maiores do pudendo. Entre os lábios menores do pudendo direito e esquerdo (região chamada de vestíbulo da vagina) se localizam o óstio externo da uretra, o ós- tio da vagina e os orifícios dos ductos das glândulas vestibulares. Esses lábios são constituídos de tecido con- juntivo esponjoso contendo tecido erétil, diversos vasos sanguíneos pequenos, glândulas sebáceas e terminações nervosas sensitivas. A sua pele é lisa, úmida e vermelha, e em crianças e idosas, tendem a ser mais volumosos do que os lábios maiores de- vido a uma grande quantidade de tecido adiposo em sua estrutura. EDUCAÇÃO FÍSICA 109 MAMAS As mamas não pertencem ao sistema genital femi- nino, e sim, ao sistema tegumentar (que estuda es- truturas como pele e unha). Todavia as mamas se desenvolvem junto com os órgãos do sistema genital feminino, inluenciadas pelos hormônios sexuais femininos e tendo o seu desenvolvimento mais ex- pressivo durante a puberdade. Assim, as mamas são anexos de pele situados à frente dos músculos da região peitoral. São consti- tuídas por glândulas mamárias, tecido conjuntivo (inclusive tecido adiposo) e pele. As suas glândulas são especializadas na produção de leite após a ges- tação. O tecido conjuntivo dá sustentação à mama e o tecido adiposo está diretamente relacionado ao tamanho e à forma dela. A sua pele é ina e apre- senta glândulas sebáceas e sudoríparas (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Anatomicamente, elas apresentam dois aci- dentes anatômicos principais, a papila e a aréola. A papila mamária é uma projeção composta prin- cipalmente de ibras musculares lisas onde desem- bocam os ductos lactíferos. Ela é muito inervada e pode se tornar rija em decorrência da contração de seus músculos. A aréola da mama é uma região bastante pigmentada que ica ao redor da papila e contém grande número de glândulas sudoríparas e sebáceas. Nela existem pequenas saliências visíveis e palpáveis (chamadas tubérculos) que marcam o ponto onde os ductos lactíferos desembocam (MOORE et al., 2014). Durante a gravidez, é comum que a aréola ique mais escura e que o volume da mama triplique em função dos hormônios liberados neste período (pro- lactina e ocitocina, por exemplo). Sucessivas gesta- ções e amamentações e o envelhecimento fazem com que as aréolas se tornem pedunculadas devido à perda de elasticidade das estruturas de sustenta- ção, causando ptose mamária. Embora os homens apresentem mamas, elas ten- dem a ser pouco desenvolvidas em condições nor- mais. Todavia, em caso patológico, a ginecomastia faz com que as mamas se desenvolvam, o que neces- sita, por vezes, de cirurgia reparadora. É importante pontuar que o termo “seios” não deve ser usado para se referir às mamas. Figura 21 – Mama (vista anterior e lateral) 110 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Ao término desta aula, você deve estar apto(a) para listar todas as estruturas anatômicas que compõem o sistema genital feminino, as suas localizações, in- ter-relações e funcionalidades. Além disso, é impor- tante que você tenha em mente que, para a manuten- ção do número de indivíduos da espécie, o sistema genital masculino deve agir em conjunto. PERÍNEO Períneo é o conjunto de partes moles (de forma lo- sângica) que fecha inferiormente a pelve óssea, auxi- liando na sustentação das vísceras pélvicas. Na mu- lher, ele é atravessado pela uretra, pela vagina e pelo reto; no homem, ele é atravessado apenas pela uretra e pelo reto (DI DIO, 2002). Considerando que o períneo está relacionado à sustentação das vísceras, é importante que ele seja fortalecido a i m de evitar prolapso visceral. Portan- to, contrair o períneo ao caminhar, ao fazer exercí- cios físicos ou ao levantar é essencial. Figura 22 – Períneo 111 considerações inais A manutenção adequada da composição dos líquidos do corpo é um proces- so complexo que deve garantir que não haja perdas desnecessárias ou acúmulos excessivos de água, eletrólitos e não eletrólitos (como colesterol, glicose, ureia, ácido lático, ácido úrico, creatinina, bilirrubina e sais biliares, por exemplo). Desta forma, a homeostasia depende diretamente da ação do sistema uriná- rio, o qual realiza sucessivas iltragens do plasma para formar e eliminar a urina por meio da micção quando necessário, mantendo, assim, valores normais de pressão arterial. Por isto, anormalidades nesse sistema podem causar a morte e justiicar a quantidade de pessoas dependentes de hemodiálise ou no aguardo de um transplante de rim. Desta forma, o sistema urinário exerce função vital. Os sistemas genitais masculino e feminino são responsáveis por manter o número de indivíduos da espécie. Embora o sistema genital feminino seja mais complexo do que o masculino (pois apresenta o útero para abrigar o ser vivo em formação), as funções do sistema genital masculino são mais longínquas e apre- sentam ação sinérgica e interdependente.A integridade das estruturas anatômicas que compõem esses sistemas in- luencia diretamente na viabilidade da reprodução natural. Por isto, doenças vasculares, disfunções hormonais, má formação de órgãos, endometriose, ovário policístico, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e etc. podem inviabilizar a reprodução. O pleno conhecimento anatômico e isiológico das estruturas que compõem tanto o sistema urinário quanto os sistemas genitais garante não só o tratamento adequado para tais males, mas a prevenção destes. Por isto, todo o(a) proissio- nal/professor(a) de Educação Física deve ser exímio(a) conhecedor(a) dos aspec- tos de normalidade e anormalidade de tais sistemas a im de garantir orientação adequada. Neste contexto, o(a) proissional de Educação Física deve se mostrar apto(a) a dar esclarecimentos sobre DSTs, prevenção gestacional e vários outros aspectos importantes desses sistemas. Portanto, bom estudo para você! 112 atividades de estudo 1. “Vários produtos nocivos para o organismo são levados aos rins por meio do sangue. Esses rins os retiram da circulação e os expulsam pelas vias urinárias. Rins e vias urinárias constituem o siste- ma urinário, o qual é de grande eicácia na depu- ração do organismo. Sobre este sistema, assinale a alternativa correta: a) A uretra feminina e a uretra masculina per- tencem tanto ao sistema urinário quanto ao sistema genital feminino e masculino, respectivamente. b) A uretra é considerada uma estrutura urocondutora, ou seja, faz parte das vias urinárias. c) O ureter pertence tanto ao sistema uri- nário quanto ao sistema genital masculi- no, pois é por ele que passam a urina e o sêmen. d) A bexiga urinária é considerada uma es- trutura uropoiética, pois apresenta relação direta com a produção da urina. e) O rim é considerado uma estrutura uro- condutora e, por isto, faz parte das vias urinárias. 2. O sistema genital é um conjunto de órgãos res- ponsáveis pela produção de gametas e hormô- nios sexuais secundários, cuja inalidade é a reprodução da espécie. Sobre esse sistema, as- sinale a alternativa correta: a) As glândulas seminais são consideradas as principais glândulas do sistema genital masculino, pois produzem a maior quanti- dade de líquido seminal eliminado durante a ejaculação. b) Ao contrário do proposto anteriormente, as glândulas bulbouretrais são conside- radas as principais glândulas do sistema genital masculino, pois produzem a maior quantidade de líquido seminal eliminado durante a ejaculação. c) Contrariando as alternativas anteriores, a principal glândula do sistema genital mas- culino é a próstata, pois ela produz a maior quantidade de líquido seminal eliminado durante a ejaculação. d) A vasectomia é uma cirurgia na qual o duc- to deferente é seccionado bilateralmente. Embora este procedimento seja de fato útil para a esterilização do homem, pacientes submetidos a tal prática perdem a capaci- dade de ejaculação, embora a sensação de orgasmo seja mantida. e) A parte esponjosa da uretra percorre o cor- po esponjoso do pênis. Além deste corpo, o pênis apresenta outros dois (os corpos cavernosos), os quais estão diretamente relacionados à capacidade de percepção do orgasmo masculino. 3. O sistema genital engloba os órgãos que produ- zem, transportam e armazenam as células germi- nativas, que são as responsáveis por originar os gametas. Sobre esse sistema, assinale a alterna- tiva correta: a) As secreções das glândulas vestibulares maiores e menores são lançadas no mon- te do púbis. b) Clitóris, óstio da vagina e óstio externo da uretra são estruturas da vulva ou puden- do feminino. Em ordem, se posicionam se- quencialmente no sentido ântero-posterior. 113 atividades de estudo c) Clitóris, óstio externo da uretra e óstio da vagina são estruturas da vulva ou puden- do feminino. Em ordem, se posicionam sequencialmente no sentido ântero-pos- terior. d) Estrógeno (ou estrogênio) e a progeste- rona são os principais hormônios sexuais femininos, pois determinam vários acon- tecimentos dos ciclos femininos, além das características sexuais secundárias. A pro- dução desses hormônios é realizada pelo útero. e) A produção dos hormônios sexuais femini- nos é realizada pela tuba uterina. 4. Ainda em referência aos sistemas genitais mas- culino e feminino, assinale a alternativa correta: a) O monte do púbis, os lábios maiores e os lábios menores do pudendo são constituí- dos principalmente por tecido ósseo. b) A manutenção do pH vaginal básico é im- portante, pois evita a proliferação de mi- crorganismos patogênicos. c) Durante o parto natural, é necessário que o bebê passe pelo ovário, pela tuba uteri- na, pelo útero e, posteriormente, pela va- gina. d) A produção de esmegma é realizada pelas glândulas prepuciais. Tal secreção é impor- tante, pois possibilita a adequada lubriica- ção da glande. e) O bulbo do vestíbulo e o clitóris não apre- sentam ereção. 5. Ainda em referência ao sistema genital masculi- no, faça a associação correta entre as colunas a seguir: I - Parte prostática da uretra. II - Ducto deferente. III - Parte esponjosa da uretra. IV - Glândula seminal. V - Glândula bulbouretral. ( ) Produz uma secreção liberada previamente à ejaculação a im de limpar a uretra de resíduos de urina e ajustar o pH deste canal. ( ) Recebe as secreções prostáticas que consti- tuirão o sêmen. ( ) Conduz os espermatozoides em direção ao ducto ejaculatório. ( ) Recebe as secreções das glândulas bulbou- retrais. ( ) Produz grande quantidade do líquido elimi- nado durante a ejaculação. A sequência correta para a resposta da questão é: a) I, II, III, IV e V. b) V, I, II, III e IV. c) II, I, IV, V e III. d) V, II, I, IV e III. e) IV, I, II, III e V. 114 LEITURA COMPLEMENTAR Leia o artigo indicado que aborda como a prática regular e bem orientada de exercícios físi- cos pode benefi ciar doentes renais submetidos ao tratamento de hemodiálise em relação ao controle da hipertensão arterial, da capacidade funcional, da função cardíaca, da força muscular e, consequentemente, da qualidade de vida. Pacientes portadores de doença renal crônica (DRC) submetidos a tratamento dialítico apre- sentam alterações físicas e psicológicas que predispõem ao sedentarismo. Nesta população, a prescrição rotineira de exercícios físicos não é uma prática frequente, especialmente no nosso país. No entanto, alguns autores têm demonstrado que um programa de exercícios para estes pacientes contribui para o melhor controle da hipertensão arterial, da capacidade funcional, da função cardíaca, da força muscular e, consequentemente, da qualidade de vida. Além dos benefícios relacionados ao sistema cardiovascular, a realização do exercício traz benefícios se- cundários, pois quebra a monotonia do procedimento, melhora aderência e pode aumentar a efi cácia da diálise. Na presente revisão, os autores discutem aspectos da realização de exercí- cios físicos em pacientes portadores de DRC em diálise e apresentam dados iniciais de sua ex- periência com a aplicação de exercícios supervisionados durante as sessões de hemodiálise. O número de pacientes com doença renal crônica (DRC) em todo o mundo tem aumenta- do em proporções alarmantes, ocasionando um importante problema de saúde pública. No Brasil, de 1994 a 2005, o número de pacientes em hemodiálise (HD) e diálise peritoneal ele- vou-se de 24.000 para 65.121. Como conseqüência, do número crescente de doentes renais crônicos, os gastos do Ministério da saúde com a terapia renal substitutiva são de aproxima- damente 1,4 bilhão de reais por ano, quantia esta correspondente a cerca de 10% do orça- mento global desse ministério. Nessa população, as doenças cardiovasculares (DCV) representam a principal causa de morbi- dade e de mortalidade. Além disso, contribuem sobremaneira para a diminuiçãoda capacidade funcional, para a baixa tolerância ao exercício e, conseqüentemente, para a difi culdade de rea- lização das atividades da vida diária. Além das DCV, também contribuem para a diminuição da capacidade funcional em pacientes renais crônicos, a uremia, a anemia, a fraqueza muscular, o sedentarismo, a desnutrição, entre outros. Utilizando o consumo máximo de oxigênio (VO2 máx) para avaliação da capacidade funcional, Painter et al. verifi caram que pacientes em HD possuem um valor médio de 64% do VO2 máx da média de indivíduos sadios, sedentários e da mesma faixa etária. Outros autores demonstraram que o índice de mortalidade nestes pacien- tes aumenta quando o VO2 máx atinge valores menores do que 17,5mL/kg/min(4). Fonte: Reboredo et al. (2007). 115 material complementar O link do vídeo apresenta o processo de ovulação, de fecundação e as primeiras divisões mitóticas res- ponsáveis pela formação do embrião. De igual modo, apresenta o processo de implantação do embrião no endométrio uterino. É um ilme curto (tem menos de dois minutos de duração), porém muito didático, pois retrata visualmente o milagre da concepção e do início do desenvolvimento da vida. Espero que você assista e goste! Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xLf02stWC_g>. Indicação para Acessar 116 referências gabarito DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. DI DIO, L. J. A. Tratado de anatomia sistêmica apli- cada - princípios básicos e sistêmicos: esquelético, arti- cular e muscular. 2. ed. v. 1. São Paulo: Atheneu, 2002. FREITAS, V. Anatomia: conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004. MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Ana- tomia humana: aprendizagem dinâmica. Maringá: Clichetec, 2014. MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia orientada para a clíni- ca. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. 1. B. 2. A. 3. C. 4. D. 5. B REBOREDO, M. M.; HENRIQUE, D. M. N.; BAS- TOS, M. G.; PAULA, R. B. Exercício físico em pa- cientes dialisados. Rev. Bras. Med. Esporte, v. 13, n. 6, p. 427-430, nov./dez. 2007. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/rbme/v13n6/14.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2018. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia e fi siologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia hu- mana. 9. ed. São Paulo: Atheneu, 2000. UNIDADEUNIDADEIV Professora Dra. Carmem Patrícia Barbosa Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Sistema esquelético • Sistema articular • Sistema muscular Objetivos de Aprendizagem • Estudar os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes do sistema esquelético: generalidades dos ossos, funções do esqueleto, divisões do esqueleto, tipos de ossos quanto à forma, à constituição e à arquitetura dos ossos, crescimento ósseo, nutrição e inervação óssea, processo de ossii cação, fratura e reparo ósseo, acidentes anatômicos dos ossos e principais ossos do corpo humano. • Entender os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes do sistema articular: dei nição, funções e classii cação das articulações, tipos e movimentos das articulações sinoviais, vascularização e inervação das articulações, fatores que afetam o contato e a amplitude de movimento das articulações sinoviais e envelhecimento articular. • Elucidar os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes do sistema muscular: funções musculares, tipos de músculos com ênfase no músculo estriado esquelético (MEE), tipos de contração e classii cação funcional do MEE, vascularização e inervação muscular, generalidades do sistema muscular, órgãos anexos do sistema muscular e principais músculos do corpo humano. APARELHO LOCOMOTOR unidade IV INTRODUÇÃO O s sistemas esquelético, articular e muscular constituem o cha- mado aparelho locomotor. Eles agem de maneira coordenada e dependente do sistema nervoso para possibilitar os movi- mentos voluntários e involuntários, as correções posturais e o equilíbrio do corpo. Ossos e cartilagens formam o sistema esquelético, o qual é estudado pela osteologia. Por sua vez, o sistema articular é formado pelas articula- ções (ou junturas), as quais são estruturas que fazem a conexão entre duas ou mais partes rígidas do esqueleto (como ossos, cartilagens e dentes), sendo este sistema estudado pela artrologia. Por im, o sistema muscular é constituído pelos músculos do corpo e os seus órgãos anexos (fáscias de revestimento, bolsas sinoviais, bainhas ibrosas e sinoviais que revestem os tendões dos músculos) e é estudado pela miologia. Os movimentos do corpo humano são estudados pela cinesiologia. Quando ocorre a adequada atuação desses três sistemas, é possível que ossos, articulações e músculos se complementem a im de que o de- sempenho funcional seja garantido. Adicionalmente, os ossos suportam e dão forma ao corpo, protegem os órgãos internos, são movimentados pelos músculos que neles se inserem, armazenam íons (como cálcio e fos- fato), fabricam células do sangue (por meio da medula óssea) e absorvem toxinas (evitando danos hepáticos e renais, por exemplo). A maioria das articulações relaciona-se aos movimentos. Já os músculos (que consti- tuem quase metade do peso corporal do indivíduo), além de gerarem ati- vamente movimentos por meio da tração óssea exercida nas articulações, atuam na coordenação motora, no tônus muscular, no peristaltismo e na produção de calor pelo corpo. Nesta unidade, abordaremos os principais aspectos dos sistemas for- madores do aparelho locomotor relacionando-os à prática do exercício físico. Assim, ique atento(a) ao conteúdo programático e aproveite. Bom estudo! 122 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Sistema Esquelético EDUCAÇÃO FÍSICA 123 Os ossos, em conjunto, pesam 12 kg no homem adulto, em média. Eles têm formatos variados, e em- bora rígidos, os ossos são plásticos (se adaptam a es- truturas vizinhas). A sua quantidade varia conforme a idade. Na criança, por exemplo, existem 350 ossos, os quais se fundem com o tempo, fazendo com que o adulto apresente apenas 206. Exemplo dessa junção ocorre no sacro, no osso do quadril e no osso fron- tal. No entanto pode haver variações se o indivíduo tiver dedos ou costelas a mais ou a menos e se os critérios de contagem forem diferenciados. Além dos ossos convencionais existem alguns ossos especiais, por exemplo, os suturais, que se po- sicionam entre as suturas do crânio, e os ossos hete- rotópicos, que se formam em meio a tecidos moles, como os músculos (MOORE et al., 2014). FUNÇÕES DO ESQUELETO Os ossos desempenham funções importantes, in- clusive algumas vitais. Assim, o esqueleto possibi- lita movimentos (são tracionados pelos músculos), suporta o peso corporal, dá forma aos diferentes segmentos do corpo, protege os órgãos internos, armazena íons (como cálcio, fosfato e magnésio, os quais são essenciais à sinapse e à contração muscu- lar), sintetiza células sanguíneas (por meio da me- dula óssea vermelha que se localiza em seu interior) e absorve toxinas, diminuindo os efeitos deletérios destes compostos em outros tecidos, como fígado e rins (DANGELO; FATTINI, 2011). ESQUELETO AXIAL E ESQUELETO APEN- DICULAR O esqueleto axial é formado por ossos localizados na região central do corpo como os ossos da cabeça (crânio), pescoço (osso hioide e vértebras cervicais) e tronco (osso esterno, costelas, vértebras e sacro). O esqueleto apendicular é formado por ossos localizados nas extremidades do corpo (membros superiores e inferiores), incluindo os ossos dos cín- gulos (escápula, clavícula e ossos do quadril) (MO- ORE et al., 2014). Figura 1 – Esqueleto axial e esqueleto apendicular 124 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA TIPOS DE OSSOSQUANTO À FORMA Considerando o comprimento, a largura e a espes- sura dos ossos, eles podem ser classii cados como longos (tubulares), curtos (cuboides), laminares (planos), irregulares, sesamoides ou pneumáticos. Os longos têm o comprimento maior em rela- ção à largura e à espessura, para abrigar a medula óssea, têm uma cavidade central chamada cavidade medular e apresentam uma parte central chamada diái se e duas extremidades chamadas epíi ses. A epíi se proximal i ca próxima ao cíngulo do mem- bro, e a distal se localiza longe deste. Entre as epíi ses e a diái se está a metái se. Fêmur, rádio, ulna, tíbia e fíbula são alguns exemplos deste tipo de osso. Vale destacar que ossos cujo comprimento predomina, mas que não têm cavidade medular, são chamados de alongados. Ossos curtos têm os diâmetros equivalentes. É o que ocorre, por exemplo, com os ossos carpais e tarsais. Por outro lado, os ossos laminares são largos e i nos, e geralmente têm função protetora como al- guns ossos do crânio (parietal, por exemplo). Os irregulares têm formatos variados e nenhum diâmetro predomina. É o caso das vértebras e de al- guns ossos da face. Já os sesamoides (também cha- mados intratendíneos ou periarticulares) são encon- trados onde os tendões cruzam as extremidades dos ossos longos a i m de protegê-los contra desgastes, podendo, inclusive, mudar o seu ângulo de inserção (a patela é um exemplo característico, mas algumas pessoas podem apresentar outros ossos sesamoides nas mãos e nos pés como variação anatômica). Os ossos pneumáticos localizam-se no crânio (frontal, maxila, esfenoide e etmoide), apresentam cavidades (seios) revestidas por mucosa e contendo ar. Esses seios podem ser chamados de seios da face ou seios paranasais, pois drenam o seu conteúdo mucoso para a cavidade nasal (WATANABE, 2000). Figura 2 – Comparação entre os tipos de ossos: a) exemplo de osso irre- gular b) exemplo de osso sesamoide c) exemplo de osso longo CONSTITUIÇÃO E ARQUITETURA DOS OSSOS Os ossos são vivos, dinâmicos e têm um metabolis- mo muito ativo. Na verdade, eles se renovam, em média, a cada dois anos. Assim, podemos inferir que o fêmur que te sustenta hoje não é o mesmo que te sustentava há dois anos nem será o mesmo que te sustentará daqui a dois anos. EDUCAÇÃO FÍSICA 125 O tecido ósseo é constituído por três componen- tes principais: água, matriz óssea orgânica e matriz óssea inorgânica. A proporção de água é maior em recém-nascidos e crianças e diminui à medida que ocorre o envelhecimento, de forma que equivale a 25% no adulto (esta é uma das causas de os ossos serem mais frágeis em idosos). A matriz orgânica (também 25%) é rica em proteínas (proteoglicanas e colágeno). Ela dá resistência à tensão e à tração às quais os ossos estão sujeitos, ou seja, é responsável pela maleabilidade destes. Se não estiver presente, doenças como a dos ossos de vidro podem surgir, fazendo com que os ossos sejam frágeis, quebradiços e não resistam à tensão e à tração que os músculos lhes impõem. A matriz inorgânica (cerca de 50% da estrutura óssea) é constituída por minerais como fosfato de cálcio e carbonato de cálcio, os quais dão resistência à compressão. Assim, a deiciência dessa matriz poderá fragilizá-los. As trabéculas ósseas podem se dispor bem próxi- mas ou mais distantes umas das outras. No primeiro caso, forma-se o tecido ósseo compacto ou cortical, que é bem resistente e, por isto, tem alta capacidade de sustentação de peso. No segundo caso, forma-se o tecido ósseo esponjoso ou trabecular, que é altamen- te poroso e adaptado à absorção de impacto. Figura 3 – Osso compacto e esponjoso 126 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA A distribuição de substância óssea compacta e es- ponjosa não é uniforme para todos os ossos, pois depende das solicitações biomecânicas, ou seja, varia com a função do osso, com a tração e com a pressão a que está sujeito. Assim, embora os ossos tenham uma i na camada externa de tecido compac- to e uma massa central de tecido esponjoso, ossos longos que suportam peso têm maior quantidade de tecido compacto próximo à parte média da diái se, onde tendem a se curvar (diferentemente do que acontece em outros ossos longos que não recebem grandes descargas de peso, ou nos ossos carpais e tarsais). Tal fato deve ser considerado ao prescrever exercícios físicos para pessoas tetraplégicas que per- deram a capacidade de manter o ortostatismo. Por outro lado, atletas têm estrutura óssea diferenciada em relação a indivíduos sedentários, pois são cons- tantemente submetidos à descarga de peso e à tração óssea (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Vale destacar que os ossos planos do crânio têm a sua arquitetura adaptada à proteção do encéfalo alojado em seu interior. Assim, entre as duas lâmi- nas de substância óssea compacta que esses ossos apresentam, existe uma camada de substância óssea esponjosa interposta (chamada díploe) para absor- ver impactos. Na díploe, estão presentes a medula óssea vermelha e os vasos sanguíneos (DANGELO; FATTINI, 2011). As principais células ósseas são os osteoblastos, os osteócitos e os osteoclastos. Os osteoblastos são cé- lulas jovens que sintetizam e secretam i bras colá- genas e outros componentes orgânicos necessários à matriz extracelular. Tais células iniciam a calcii - cação e, à medida que são recobertas por matriz, i - cam presas em suas secreções e se transformam em osteócitos. Os osteócitos são células maduras que mantêm o tecido ósseo. Osteoclastos são células re- sultantes da fusão de até 50 monócitos, os quais libe- ram enzimas e dissolvem as matrizes ósseas, estan- do, por isto, diretamente relacionadas à renovação óssea. A sua ação excessiva pode causar osteopenia e osteoporose (MOORE et al., 2014). Figura 4 – Díploe Figura 5 – Células ósseas Fatores como idade, hereditariedade, nutrição, do- ença, trauma, gravidez, esforço funcional e inl u- ência hormonal inl uenciam a ação das células ós- seas. Por exemplo, os ossos são inl uenciados pelo hormônio do crescimento (GH), pelos hormônios sexuais (testosterona, estrógeno e progesterona), EDUCAÇÃO FÍSICA 127 pela calcitonina (hormônio tireoidiano) e pelo para- tormônio (ou hormônio paratireoidiano). Exceto o paratormônio, que estimula a degradação óssea por ativar os osteoclastos, os outros hormônios citados são osteogênicos, pois ativam os osteoblastos. Os elementos do esqueleto são revestidos por ca- madas de tecido conjuntivo ibroso nominadas pe- ricôndrio, periósteo e endósteo. O pericôndrio re- veste as cartilagens, nutrindo-as; o endósteo reveste o interior da cavidade medular e contém células formadora de osso; o periósteo reveste externamen- te os ossos, protegendo e ajudando em sua nutrição e inervação, atua na consolidação de fraturas e no crescimento ósseo e também ajuda na ixação dos tendões e ligamentos (MIRANDA NETO; CHO- PARD, 2014). A osteoporose é uma doença que torna os os- sos progressivamente mais porosos. É comum na velhice e em mulheres após a menopausa, pois ocorre redução do estrógeno e da reno- vação da matriz orgânica. A ação excessiva dos osteoclastos causa osteólise, aumen- tando o nível de cálcio no sangue e gerando complicações como depósito do cálcio nas articulações e nos rins, além de hipercoagula- ção sanguínea (causando embolia pulmonar, acidente vascular encefálico isquêmico etc). Para saber mais, acesse: <http://www.scielo. br/pdf/aob/v9n2/v9n2a07.pdf>. Fonte: a autora. SAIBA MAIS A medula óssea está presente no interior de prati- camente todos os ossos do feto e em alguns ossos adultos (costelas, esterno, crânio, ossos do qua- dril e dos membros). Esta medula pode ser ver- melha ou amarela. Quando vermelha, a medula é um órgão hematopoiético, pois produz células sanguíneas. Quando amarela, torna-se gorduro- sa e perde esta função(tal fato está normalmente associado ao envelhecimento). Se a medula ós- sea tornar-se anormal ou cancerosa, ela pode ser substituída por meio de um transplante de medula óssea a im de restabelecer as contagens normais das células sanguíneas (MIRANDA NETO; CHO- PARD, 2014). Figura 6 – Tipos de medula óssea Figura 7 – Pericôndrio, periósteo e endósteo 128 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA CRESCIMENTO ÓSSEO O crescimento ósseo depende do periósteo e da lâ- mina epiisial. Enquanto o periósteo atua no cresci- mento em largura e espessura dos ossos, a lâmina epiisial atua no crescimento em comprimento (esta é uma ina camada de cartilagem hialina localizada na metáise). Quando o crescimento em compri- mento cessa (por volta de 18 anos nas mulheres e 21 anos nos homens), as células da lâmina epiisial pa- ram de se dividir, permanecendo apenas uma linha epiisial (WATANABE, 2000). ACIDENTES ANATÔMICOS Acidentes anatômicos são os elementos descritivos utilizados no estudo dos ossos. Surgem, por exem- plo, onde tendões, fáscias e ligamentos se inserem, ou onde vasos e nervos penetram os ossos. Podem ser do tipo saliência, depressão ou aber- tura. Processos, tubérculos, eminências, cristas e espinhas são alguns exemplos de acidentes do tipo saliência. Fossas, sulcos e incisuras são alguns exem- plos de acidentes do tipo depressão. Forames e ca- nais são alguns exemplos de acidentes do tipo aber- tura (WATANABE, 2000). PRINCIPAIS OSSOS DO CORPO HUMANO Ossos da cabeça Os ossos da cabeça são chamados de crânio. Ele protege o encéfalo, abriga e protege os órgãos dos sentidos, os quais icam alojados em cavidades, e possibilita a mastigação e a fonação por meio dos movimentos da mandíbula. Figura 8 – Periósteo e lâmina epiisial NUTRIÇÃO E INERVAÇÃO ÓSSEA Os ossos são muito vascularizados e inervados. Por isto, em caso de fratura, eles sangram e doem bas- tante. Tanto os vasos sanguíneos quanto os nervos penetram o osso a partir do periósteo. Os principais vasos dos ossos incluem as artérias e as veias periosteais, metaisárias, epiisiárias e nu- trícias. Os nervos acompanham os vasos sanguíne- os, destacando-se os nervos periostais sensitivos (al- guns responsáveis pela dor) e os nervos vasomotores que possibilitam a vasoconstrição e a vasodilatação, regulando o luxo sanguíneo para a medula óssea (MOORE et al., 2014). Figura 9 – Artérias ósseas EDUCAÇÃO FÍSICA 129 A parte superior do crânio é chamada de calvá- ria, e o seu assoalho é chamado de base. Ele apresen- ta 22 ossos, os quais apenas a mandíbula é móvel. Dentro dos ossos temporais, localizam-se os três os- sículos da audição (martelo, bigorna e estribo). A maioria dos ossos do crânio (14 deles) for- mam o crânio facial ou visceral: mandíbula, vômer, nasais, palatinos, maxilas, zigomáticos, lacrimais e conchas nasais inferiores. O restante (oito ossos) forma o crânio neural: osso frontal, occipital, esfe- noide, etmoide, parietais e temporais. De forma ge- ral, o crânio apresenta muitos forames pelos quais vasos e nervos passam. A maxila e a mandíbula se destacam por apresentar estruturas (os processos alveolares) para a sustentação dos dentes (DANGE- LO; FATTINI, 2011). Todos os ossos do crânio se articulam entre si por meio de suturas (exceto a mandíbula e o osso tempo- ral, que formam a articulação temporomandibular). Tais suturas não estão presentes desde o nascimento, mas surgem com o desenvolvimento, uma vez que existe, no crânio fetal, entre os ossos, um tecido con- juntivo ibroso, o qual forma espaços popularmente chamados de “moleiras” e anatomicamente nomi- nados de fontículos. Os fontículos permitem que o crânio fetal cresça sem compressão e, após o cresci- mento cessar, o tecido conjuntivo sofre ossiicação (DI DIO, 2002). Figura 10 - Crânio Figura 11 – Fontículos 130 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Ossos do pescoço Os ossos do pescoço incluem o osso hioide, as vér- tebras cervicais, o manúbrio do esterno e as claví- culas. O manúbrio do osso esterno e as clavículas serão descritos, respectivamente, com o esqueleto do tronco e do membro superior. O osso hioide se localiza na parte anterior do pescoço. Ele é móvel, pois i ca suspenso por mús- culos e ligamentos. Assim, i xa músculos da região anterior do pescoço e ajuda a manter as vias aéreas abertas. O hioide não se articula com nenhum outro osso do corpo. As vértebras cervicais são chamadas, respectiva- mente, de C 1 (ou atlas), C 2 (ou áxis), C 3 , C 4 , C 5 , C 6 e C 7 (ou vértebra proeminente) (MOORE et al., 2014). Ossos do tronco O esqueleto do tronco é formado por osso esterno, cos- telas, vértebras torácicas, lombares, sacrais e coccígeas. O osso esterno se localiza na região anterior e central do tórax. É um osso ímpar, plano, consti- tuído por três partes antes da sua ossii cação, que ocorre até a meia idade: manúbrio, corpo e proces- so xifoide. O manúbrio é a sua parte mais larga e superior e também onde as incisuras claviculares e a incisura jugular podem ser identii cadas. O corpo é central, mais longo e estreito, e onde as incisuras costais estão presentes. O processo xifoide é a sua parte inferior, menor e mais variável. As costelas são ossos curvos, de alta resiliência e que não contêm medula óssea. Os 12 pares de costelas se agrupam em costelas verdadeiras, falsas ou l utuan- tes. As verdadeiras (do primeiro ao sétimo par) conec- tam-se diretamente ao osso esterno por meio de suas próprias cartilagens costais. As falsas (do oitavo ao dé- cimo par) conectam-se indiretamente ao osso esterno, pois as suas cartilagens costais são unidas, formando a margem costal. As l utuantes (décimo primeiro e déci- mo segundo par) não se articulam com o osso esterno. As vértebras torácicas (T 1 ,T 2 , T 3 ,T 4 ,T 5 , T 6 , T 7 , T 8 , T 9 , T 10 , T 11 a T 12 ), as lombares (L 1 , L 2 , L 3 , L 4 a L 5 ), as sacrais (S 1 , S 2 , S 3 , S 4 a S 5 ) e as coccígeas (Co 1 , Co 2 , Co 3 a Co 4 ) formam a parte inferior do esqueleto do tronco. As sacrais e as coccígeas têm seus discos intervertebrais ossii cados, originando, respectivamente, o sacro e o cóccix. As lombares são grandes e resistentes, apresen- tam processos espinhosos largos e espessos para a i xação dos músculos do dorso. O sacro se articula aos ossos do quadril e apresenta morfologia diferen- ciada em relação ao sexo do indivíduo para favore- cer o parto natural (DI DIO, 2002).Figura 12 – Ossos do pescoço EDUCAÇÃO FÍSICA 131 É importante salientar que embora a coluna verte- bral (CV) deva ser retilínea (ou seja, sem curvaturas lateralmente), ela deve apresentar curvaturas i sioló- gicas ântero-posteriores a i m de melhor distribuir o peso corpóreo e dar equilíbrio. Tais curvaturas começam a se formar desde a vida embrionária, o que se segue durante o desen- volvimento corpóreo. Nas regiões cervical e lombar surgem curvaturas côncavas chamadas de lordose cervical e lombar, respectivamente. Nas regiões to- rácica e sacral, as curvaturas são convexas e chama- das de cifoses torácica e sacral, respectivamente. O aumento dessas curvaturas (hipercifoses e hiperlor- doses) é patológico, assim como o desvio látero-late- ral da CV (escolioses). Figura 13 – Ossos do tronco Entre os corpos das vértebras i cam inter- postos os discos intervertebrais. Estes discos são constituídos pelo anel i broso de i bro- cartilagem (externamente) e núcleo pulposo (internamente). Este é altamente hidratado e, por isto, capaz de absorver impactos impostos à coluna vertebral e permitir movimentos. Fonte: Kapandji (2000). SAIBA MAIS Figura 14 – Curvas normal e patológica da CV 132 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Ossos do membro inferior O membro inferior permite postura, suporte de peso, mobilidade e equilíbrio do corpo. Os ossos do quadrilconstituem o seu cíngulo, e a sua parte livre apresenta um osso na coxa (fêmur), dois ossos na perna (tíbia e fíbula), um osso no joelho (patela), 12 ossos no pé (sete ossos tarsais e cinco ossos metatar- sais) e 14 ossos nos dedos (cinco falanges proximais, quatro falanges médias e cinco falanges distais). O osso do quadril do recém-nascido é formado por três ossos: ílio, ísquio e púbis, os quais se unem completamente por volta da segunda década de vida. O anel ósseo formado pelos dois ossos do quadril e pelo sacro compõe a pelve óssea que dá suporte à CV e aos órgãos pélvicos. O fêmur é o maior, mais pesado e mais resistente osso do corpo. Articula-se com o osso do quadril e com a tíbia e a patela. A patela é um osso triangular que se desenvolve no tendão do músculo quadríceps Ossos do membro superior O membro superior tem 32 ossos. O seu cíngulo é composto pela clavícula e pela escápula. A sua par- te livre apresenta um osso no braço (úmero), dois no antebraço (rádio e ulna), 13 nas mãos (oito ossos carpais e cinco ossos metacarpais) e 14 ossos nos de- dos (cinco falanges proximais, quatro falanges mé- dias e cinco falanges distais). A clavícula se articula com o osso esterno e com a escápula, e serve como ponto de ixação para alguns ligamentos. A escápula é um osso grande localizado posteriormente, de formato plano e triangular, que se articula com a clavícula e com o úmero. O úmero se articula com a escápula, o rádio e a ulna. Enquanto a ulna se localiza medialmente, o rádio se localiza lateralmente no antebraço. O rádio e a ulna se articulam entre si pela membra- na interóssea do antebraço, e o rádio se articula com três ossos do carpo (semilunar, escafoide e piramidal). Os oito ossos carpais se dispõem em duas ilei- ras de quatro ossos cada. Na ileira proximal estão os ossos escafoide, semilunar, piramidal e pisiforme; na ileira distal estão os ossos trapézio, trapezoide, capitato (maior) e hamato. Os cinco ossos metacarpais são numerados de I a V a partir da posição lateral. Consistem em uma base (proximal), um corpo (médio) e uma cabeça (distal). Os ossos metacarpais articulam-se proxi- malmente com os ossos do carpo e distalmente com as falanges. As falanges apresentam base, corpo e cabeça e são chamadas de proximal, média e distal. O polegar tem apenas as falanges proximal e distal (MIRAN- DA NETO; CHOPARD, 2014). Figura 15 – Ossos do membro superior EDUCAÇÃO FÍSICA 133 femoral, aumentando a sua força de alavanca, man- tendo a posição de seu tendão na lexão do joelho e protegendo a articulação. A tíbia é o osso medial e sustentador de peso do membro inferior que, por sua vez, se articula com o fêmur, com o osso tálus e com a fíbula (pela membrana interóssea da perna). A fíbula é paralela e lateral à tíbia. Os ossos tarsais (tálus, calcâneo, navicular, cuboide, cuneiforme medial, cuneiforme lateral e cuneiforme intermédio) unem-se pelas articulações intertarsais. Os metatarsais são numerados de I a V a partir da posição medial e apresentam base (proxi- mal), corpo (média) e cabeça (distal). Articulam-se com os ossos tarsais e com as falanges. As falanges apresentam base, corpo e cabeça, e as articulações que formam entre si são chamadas de interfalângicas. Vale lembrar que o hálux (popular- mente chamado de “dedão”) apresenta apenas falan- ges proximal e distal (DANGELO; FATTINI, 2011). Figura 16 – Ossos do membro inferior 134 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Sistema Articular EDUCAÇÃO FÍSICA 135 O sistema articular será trabalhado nesta unidade de forma a contemplar a sua deinição, funções e clas- siicações, assim como os seus tipos. Também serão realizados um detalhamento em relação às articula- ções sinoviais (pois são estas as mais móveis do cor- po) e uma abordagem em relação aos movimentos do corpo humano. DEFINIÇÃO As articulações ou junturas são deinidas como o conjunto de estruturas anatômicas que conectam duas ou mais peças do esqueleto. Se a articulação ocorrer entre apenas dois ossos, ela é chamada de simples, e se acontecer entre mais de dois ossos, ela é chamada de composta (WATANABE, 2000). FUNÇÕES A função da maioria das articulações é possibilitar os movimentos, uma vez que os ossos se movem tracionados pelos músculos ao redor dos pontos de junturas entre eles. Todavia algumas articulações dão estabilidade às zonas de união entre os vários segmentos do esqueleto, ou seja, estão mais rela- cionadas à postura e ao equilíbrio (MOORE et al., 2014). CLASSIFICAÇÃO Segundo a classiicação funcional, deve-se conside- rar o grau e o tipo de movimento que a articulação permite. Assim, as articulações podem ser chama- das de sinartrose (quando a articulação é ixa, sem movimento), aniartrose (a articulação permite pouco movimento) ou diartrose (a articulação é muito móvel). A classiicação estrutural se baseia nas caracte- rísticas anatômicas da articulação. Por exemplo, a presença ou a ausência de um espaço (cavidade arti- cular) entre os ossos da articulação e no tipo de te- cido que une os ossos. Assim, as articulações podem ser do tipo ibrosa, cartilagínea ou sinovial (GRABI- NER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). A articulação ibrosa permite apenas pequenos deslocamentos e movimentos vibratórios, não têm cavidade articular entre os ossos e alguns destes são unidos por tecido conjuntivo ibroso. A articulação cartilagínea tem ossos unidos por cartilagem hiali- na ou ibrocartilagem, também permite apenas pe- quenos deslocamentos e movimentos vibratórios e também não tem cavidade articular entre os ossos. Já a articulação sinovial permite vários tipos de mo- vimentos, tem cavidade articular, os seus ossos são unidos por tecido conjuntivo em forma de cápsula articular e apresenta elementos característicos e ou- tros especiais. As articulações ibrosas podem ser do tipo sutu- ra, sindesmose ou gonfose. As suturas são funcional- mente classiicadas como sinartroses, existem entre os ossos do crânio e podem ser planas (quando os ossos se encaixam de forma retilínea, como no caso da sutura internasal), serrilhada (quando os ossos se encaixam um no outro, como na sutura sagital) ou escamosa (quando os ossos se sobrepõem um ao ou- tro, como ocorre entre o parietal e temporal). A ossi- icação das suturas se inicia, geralmente, na segunda década de vida e termina após os 80 anos, recebendo o nome de sinostose. A sindesmose é classiicada funcionalmen- te como aniartrose. Ela apresenta uma distância maior entre os ossos, os quais são unidos por mais tecido conjuntivo ibroso interposto entre eles. É o caso, por exemplo, da membrana interóssea da per- 136 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA na (sindesmose tibioibular) e do antebraço (sindes- mose radioulnar). A gonfose é classiicada funcionalmente como sinartrose. Ocorre na junção das raízes dos dentes com os processos alveolares da maxila e da man- díbula. Apresenta movimentos discretos de rebai- xamentos ao sofrer fortes compressões (durante a mastigação), suavizando impactos e evitando que os dentes se partam. As articulações cartilagíneas podem ser do tipo sincondrose ou sínise. A sincondrose é classiicada funcionalmente como sinartrose e tem cartilagem hialina entre os ossos. Algumas dessas articulações podem ser temporárias, uma vez que sofrem ossii- cação no decorrer da vida (sincondrose esfenoccip- tal e lâmina epiisial são exemplos). Outras podem ser permanentes (articulações entre o osso esterno e as 10 primeiras cartilagens costais). A sínise é classiicada funcionalmente como an- iartroses. É uma articulação onde os ossos são uni- dos por um disco de ibrocartilagem (como ocorre nas sínises púbica, manubrioesternal e interverte- bral). As articulações sinoviais têm elementos caracte- rísticos (como superfície articular, cartilagem articu- lar, cápsula articulare líquido sinovial) e elementos especiais (como lábios, discos articulares, meniscos, ligamentos acessórios, bolsas e bainhas tendíneas). A superfície articular é a porção óssea que faz parte da articulação. Ela é coberta por uma ina car- tilagem articular do tipo avascular, lisa e escorrega- dia. Assim, ela é capaz de reduzir o atrito entre os ossos e absorver impactos. Essa cartilagem é nutrida pelo líquido sinovial. A cápsula articular é uma dupla membrana de tecido conjuntivo muito vascularizada e inervada e que reveste a articulação. A sua membrana exter- na, ibrosa e bem resistente, tem a função de fazer a coaptação articular, ou seja, unir os ossos. Já a sua membrana interna é chamada de sinovial, pois faz a síntese do líquido sinovial. Este líquido é constituído principalmente por ácido hialurônico, proteoglinas e glicosaminoglica- nas. A sua consistência é viscosa e de cor amarelo- -clara. A sua função é reduzir o atrito por meio da lubriicação da articulação, absorver os impactos mantendo os ossos levemente afastados e eliminar o calor produzido nas articulações durante os mo- vimentos. Além disso, ele nutre e oxigena a carti- lagem articular e dela remove o CO2 e os resíduos metabólicos. É importante destacar que esse líquido é produzido quando ocorre movimento articular e, por isto, a imobilização torna-o escasso. Se for pro- duzido em excesso (durante uma inlamação, por exemplo), causa dor e deve ser aspirado para que a pressão intra-articular diminua (FREITAS, 2004). Os lábios são estruturas de ibrocartilagem que ampliam a cavidade e conferem maior estabilidade à articulação. Os discos articulares e os meniscos também são de ibrocartilagem e estão presentes em articulações muito requisitadas, como a temporo- mandibular e o joelho. Os discos e os meniscos dão estabilidade, melhoram a coaptação articular, dimi- nuem o atrito e os danos por impactos e distribuem o líquido sinovial. Os ligamentos acessórios podem ser extracap- sulares quando presentes fora da cavidade articular (ligamentos colaterais do joelho) ou intracapsulares quando dentro da cápsula, mas fora da cavidade ar- ticular (ligamento cruzado anterior do joelho). Eles aumentam a coaptação articular. As bolsas se localizam entre a pele e o osso, entre o tendão e o osso, entre o músculo e o osso ou entre o ligamento e o osso. Elas reduzem o atrito em arti- EDUCAÇÃO FÍSICA 137 culações muito requisitadas e, quando inlamadas, causam bursite (bolsite). São sacos de tecido conjun- tivo revestidos por membrana sinovial e preenchidos por uma pequena quantidade de líquido semelhante ao líquido sinovial. Por último, as bainhas tendíneas são bolsas que envolvem tendões que sofrem atrito. TIPOS DE ARTICULAÇÕES SINOVIAIS A forma dos ossos determina quais movimentos a articulação realizará e como as articulações sinoviais serão nomeadas. Assim, essas articulações podem ser: plana, gínglimo, trocoide, elipsoide, selar ou es- feroide (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Articulações planas, como o nome sugere, têm faces planas e permitem movimentos de desliza- mento de uma superfície sobre a outra. Um exemplo ocorre entre os ossos carpais e tarsais, nas articula- ções sacroilíaca, acromioclavicular, esternoclavicu- lar, esternocostais e vertebrocostais. Articulações do tipo gínglimo apresentam faces cilíndricas como depressão em carretel em um osso e saliência correspondente no outro. Um exemplo ocorre nas articulações interfalângicas do cotovelo e do joelho. Articulações trocoides permitem movimento de rotação, pois têm faces ósseas semicilíndricas com- pletadas por ligamentos. Um exemplo ocorre nas ar- ticulações radioulnar proximal e distal, e na articu- lação atlantoaxial. Nas articulações elipsoides, uma das superfícies ósseas é oval e convexa, e a outra é oval e côncava. Um exemplo ocorre nas articulações radiocarpal e metatarsofalângica. As articulações selares têm superfície côncava em uma direção e convexa em outra, com encaixe recíproco em outra superfície óssea. Um exemplo ocorre na articulação carpometacarpal do pole- gar. Articulações esferoides têm superfície esférica articulando-se em uma cavidade correspondente. Um exemplo ocorre nas articulações do quadril e do ombro. Figura 17 – Tipos de articulações 138 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA MOVIMENTOS DAS ARTICULAÇÕES SI- NOVIAIS Os movimentos são pares de opostos e apresentam ex- trema relevância ao proissional de Educação Física. Eles ocorrem em um dos planos (sagital, coronal ou transversal) e por meio de linhas imaginárias denomi- nadas eixos, as quais são perpendiculares aos planos (GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). Alguns fatores afetam a amplitude de movimen- to articular. É o que ocorre, por exemplo, com a for- ma dos ossos, a resistência das estruturas articulares, a tensão muscular, o contato de partes moles próxi- mas, a ação de alguns hormônios e o próprio desuso (GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). As articulações sinoviais podem apresentar movi- mento de deslizamento, dos tipos angular e de rotação, ou ainda, movimentos especiais. No deslizamento, as fa- ces planas dos ossos se movimentam sem alterar signi- icativamente o ângulo entre eles, sendo a amplitude de movimento limitada. Nos movimentos angulares (le- xão, extensão, lexão lateral, abdução, adução e circun- dução), o ângulo entre os ossos da articulação é alterado (GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). Na lexão, o ângulo entre os ossos é reduzido, e na extensão, aumentado. Ambos ocorrem no plano sagital por meio do eixo coronal (exceto o do po- legar). Alguns autores consideram a continuação da extensão para além da posição anatômica como hiperextensão. Na lexão lateral (que ocorre, por exemplo, no tronco), o segmento corpóreo se des- loca em direção ao plano lateral. Ocorre no plano coronal por meio do eixo sagital. Na abdução, o segmento corpóreo se move para longe da linha mediana do corpo enquanto que, na adução, ele retorna em direção a esta linha. Ambos ocorrem no plano coronal por meio do eixo sagital (exceto o do polegar). Na articulação radiocarpal, a abdução também recebe o nome de desvio radial, e a adução, de desvio ulnar. Na circundução, ocorre um movimento de cír- culo quando se observa a extremidade distal do segmento corpóreo que se move. Representa o re- sultado de uma sequência de movimentos: lexão, extensão, abdução e adução. Na rotação, o osso gira em torno do seu próprio eixo longitudinal. Na rotação medial, a face anterior do segmento é girada em direção à linha mediana do corpo. Na rotação lateral, esta face é girada para longe da linha mediana. Alguns movimentos são chamados de especiais. Na elevação, por exemplo, uma parte do corpo se move para cima, e no abaixamento, para baixo (ocor- re na mandíbula, nas costelas, nos ombros, no osso hioide etc.). Na protração (ou protrusão), há o mo- vimento anterior de uma parte do corpo no plano transversal, e na retração (ou retrusão), ocorre o mo- vimento de retorno (possível na mandíbula, na claví- cula etc.). Inversão e eversão ocorrem nas articulações intertarsais de forma que, na inversão, as plantas se movimentam medialmente, e na eversão, lateralmen- te. Na lexão dorsal (ou dorsilexão), o dorso do pé se move em direção à face anterior da perna, e na lexão plantar (ou plantilexão), a planta se move em direção à face posterior da perna. A supinação e a pronação ocorrem nas articulações radioulnar proximal e dis- tal. Na supinação, a palma é girada anteriormente, e na pronação, a palma gira posteriormente. Oposição é o movimento do polegar na articulação carpometa- carpal para tocar as falanges dos dedos no movimento de pinça. Reposição é o movimento oposto. EDUCAÇÃO FÍSICA 139 VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO ARTI- CULAR As articulações são muito inervadase vasculariza- das. Recebem sangue dos ramos das artérias que passam ao redor da cápsula articular e são drenadas por veias que acompanham as artérias. A maioria dos nervos articulares deriva de nervos que suprem os músculos ao redor das articulações. A cápsula e os ligamentos articulares têm vários tipos de sensi- bilidade, como a dolorosa e a proprioceptiva (MI- RANDA NETO; CHOPARD, 2014). ENVELHECIMENTO ARTICULAR O envelhecimento pode afetar as articulações de maneira individual e, principalmente, pela heredita- riedade e pelo uso. É comum, por exemplo, o enve- lhecimento desencadear menor produção de líquido sinovial, fragilidade na cartilagem articular, perda de lexibilidade ligamentar, aumento do peso corpo- ral e tendência a deformidades corpóreas (principal- mente na coluna vertebral e nos joelhos) (GRABI- NER; GREGOR; VASCONCELOS, 2001). É importante, no entanto, enfatizar que os efei- tos do envelhecimento podem ser atenuados pela prática regular e supervisionada de exercícios físicos e por meio de cuidados alimentares, como as inges- tões proteica e hídrica adequadas. PARTICULARIDADES DE ALGUMAS ARTI- CULAÇÕES DO CORPO Algumas articulações apresentam características anatômicas diferenciadas, as quais são inluencia- das pelas demandas funcionais. As articulações do joelho e a temporomandibular, por exemplo, apre- sentam meniscos e discos em decorrência do fato de receberem descarga de peso e de serem constan- temente requisitadas. Por outro lado, embora não sejam adaptadas à descarga de peso, as articulações do tórax são aptas à realização dos constantes movi- mentos respiratórios. Como anteriormente mencionado, todas as articulações se movem ao redor de eixos de mo- vimento, os quais são linhas imaginárias que atra- vessam as articulações de maneira perpendicular ao plano realizado pelo movimento. Assim, quanto mais móvel for a articulação, mais eixos de movi- mento passarão por ela e mais movimentos essa articulação realizará em diferentes planos. As arti- culações do quadril e do ombro, por exemplo, são extremamente móveis, pois realizam movimentos em três planos e por meio de três eixos, ou seja, são triaxiais. As articulações do joelho e do coto- velo são menos móveis, pois são monoaxiais (ou seja, realizam movimento em apenas um plano, e por elas passa apenas um eixo de movimento). Já as articulações do punho e do tornozelo são biaxiais e intermediárias em relação aos movimentos que elas realizam quando comparadas às articulações tri e monoaxiais. Normalmente, os movimentos de lexão e exten- são ocorrem no plano sagital por meio do eixo coro- nal. Já os movimentos de abdução e adução ocorrem no plano coronal por meio do eixo sagital. As rota- ções ocorrem no plano transversal por meio do eixo longitudinal (GRABINER; GREGOR; VASCONCE- LOS, 2001). 140 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Sistema Muscular EDUCAÇÃO FÍSICA 141 Nesta aula, você será direcionado(a) ao estudo da miologia no que se refere às funções dos músculos, aos seus tipos e aspectos anatômicos (como iner- vação e vascularização). Um enfoque especial será dado aos músculos estriados esqueléticos. FUNÇÕES A partir da contração muscular, o músculo pode realizar várias funções, como manter a postura e o tônus muscular, possibilitar a respiração, os movimentos cardíacos e peristálticos. Adicional- mente, os músculos dão forma ao corpo, produ- zem calor e permitem movimentos voluntários (MOORE et al., 2014). TIPOS DE MÚSCULOS Os diferentes tipos de músculos do corpo apresen- tam variações em relação ao controle voluntário, à presença de estrias em suas ibras (quando vistas ao microscópio) e à localização. Por exemplo, o mús- culo pode ser voluntário se a sua contração ocorrer conforme a vontade do indivíduo ou involuntário se a sua contração ocorrer de maneira indepen- dente deste controle. O músculo pode apresentar estrias transversais e ser classiicado como estria- do ou não apresentá-las e ser dito liso. Por im, o músculo pode se localizar na parede do corpo ou nos membros e ser chamado de somático ou pode se localizar nos órgãos ocos e nos vasos sanguíneos e ser dito visceral. Assim, de maneira geral, os músculos podem ser: estriado esquelético, estriado cardíaco ou liso. Enquanto o estriado esquelético move ou estabiliza ossos e estruturas como os olhos, o estriado cardíaco forma a maior parte das paredes do coração e dos grandes vasos, e o liso forma a parede da maioria dos vasos sanguíneos e dos órgãos ocos. O primeiro é somático e voluntário, e os outros dois são visce- rais e involuntários. O músculo diafragma é um caso especial, pois embora ele seja involuntário, pode ter a sua con- tração inluenciada voluntariamente, permitindo, assim, alterações na frequência e na intensidade da respiração (FREITAS, 2004). Músculo estriado cardíaco Músculo estriado esquelético Músculo liso Figura 19 – Tipos de músculos 142 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO Os músculos estriados esqueléticos, além de extre- midades que servem para i xá-los, apresentam uma parte central carnosa, avermelhada e contrátil cha- mada de cabeça ou ventre muscular. Tais extremi- dades são compostas principalmente por colágeno, têm coloração esbranquiçada, não são contráteis e são chamadas de tendões ou aponeuroses conforme o seu aspecto morfológico (enquanto os tendões são i nos e longos, as aponeuroses têm aspecto laminar). Tais i xações costumam ser descritas como origem e inserção, sendo a origem a extremidade proximal que permanece i xa durante a contração muscular, e a inserção, a extremidade distal que se move durante a contração muscular. A maioria dos músculos estriados esqueléti- cos está i xada a ossos, cartilagens, ligamentos ou fáscias, mas alguns deles podem se i xar a órgãos (como os olhos), à pele (como os músculos da face) ou à mucosa (como os músculos intrínsecos da língua). Figura 20 – Ventre, tendão e aponeurose EDUCAÇÃO FÍSICA 143 O músculo é envolto por uma membrana de tecido conjuntivo chamada epimísio. Desta, septos (peri- mísio) penetram o interior do músculo envolvendo pequenos grupos de células musculares. As células do músculo são chamadas de ibras musculares e o seu conjunto forma os fascículos. Cada ibra mus- cular é envolta por outra membrana de tecido con- juntivo chamada endomísio e, por fora, o músculo como um todo é revestido por mais uma camada de tecido conjuntivo, a fáscia muscular. Todos estes re- vestimentos se prolongam para além das ibras mus- culares e formam as extremidades dos músculos. Figura 21 – Perimísio, Epimísio, Endomísio e Fáscia muscular A fáscia sustenta o músculo, assim como os seus vasos e nervos, também preserva a sua anatomia funcional, permite o deslizamento de músculos próximos e for- ma septos intermusculares que compartimentalizam grupos musculares adjacentes. A aderência da fáscia pode ocorrer devido a diversos fatores (como pro- cessos inlamatórios ou traumáticos), fazendo com que os músculos tenham o seu poder de contração diminuídos. Por isso, atualmente, a liberação miofas- cial tem sido prescrita em casos de extremo encur- tamento muscular ou em casos de treinamento de hipertroia (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). 144 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA TIPOS DE CONTRAÇÃO DO MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO A contração fásica ou ativa dos músculos pode ser isométrica ou isotônica (GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). Na contração isométrica, embora o músculo se contraia, o comprimento dele não é alterado (não há movimento visível), mas é importante para a manutenção da postura. Na con- tração isotônica, o músculo produz movimento e, por isto, o seu comprimento é alterado. A contração isotônica pode ser concêntrica ou excêntrica. No primeiro caso, o movimento gera encurtamentodo músculo (por exemplo, ao con- trair os músculos lexores do cotovelo para levar até a boca um copo d’água que se encontra apoiado em uma mesa); no segundo caso, o movimento está associado ao alongado do músculo (por exemplo, fazer o caminho inverso do movimento anterior, ou seja, levar o copo d’água da boca para a mesa pela contração dos mesmos músculos lexores do cotovelo). O tipo de contração que o músculo exercerá de- pende da inluência da gravidade. Por isto, o prois- sional de Educação Física precisar analisar biomeca- nicamente como a gravidade é capaz de inluenciar cada músculo durante a execução de um determina- do movimento. VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO MUS- CULAR Tanto a vascularização quanto a inervação dos mús- culos são abundantes. Por meio dos vasos sanguíne- os ocorrem as adequadas nutrição e oxigenação do tecido muscular, bem como a drenagem do gás car- bônico e dos produtos residuais produzidos durante o próprio metabolismo deste tecido. Ademais, por meio dos nervos ocorrem a contração e os estímulos sensitivos dos músculos, sendo os estímulos doloro- sos e proprioceptivos os mais importantes (MOORE et al., 2014). CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DO MÚS- CULO ESTRIADO ESQUELÉTICO Os músculos podem ser classiicados como ago- nista, antagonista, sinergista ou ixador. Agonista ou motor primário é o mais importante músculo na realização de um movimento (como o músculo reto femoral na extensão do joelho). Antagonista é o músculo que atua de maneira contrária à ação de outro músculo (como o músculo bíceps femoral na extensão do joelho). Sinergista é o músculo que ajuda o agonista na realização de um determinado movimento (como o músculo vasto medial na extensão do joelho). Ele também pode estabilizar uma articulação interme- diária para que o agonista aja de maneira eicaz. Fixador ou postural é o músculo que estabiliza as partes proximais de um membro por meio de contrações isométricas enquanto ocorrem movi- mentos nas partes distais desse membro. O mús- culo deltoide, por exemplo, ixa a articulação do ombro em abdução enquanto o movimento das mãos pode ser realizado (GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). EDUCAÇÃO FÍSICA 145 ÓRGÃOS ANEXOS DO SISTEMA MUS- CULAR Os órgãos anexos do sistema muscular são estrutu- ras que mantêm a integridade dos músculos e/ou fa- cilitam a ação deles. Incluem as bolsas sinoviais, os retináculos, as bainhas ibrosas e sinoviais. As bolsas sinoviais são sacos ibrosos revestidos de membrana sinovial que contêm líquido sinovial em seu interior. Posicionam-se em regiões de atrito (como entre um músculo e um osso, entre dois mús- culos, entre um músculo e a pele suprajacente etc.). Tais bolsas podem inlamar ou lesionar por esforço repetitivo, desencadeando um quadro clínico que inclui edema e dor, popularmente conhecido como bursite (bolsite). As bainhas ibrosas são constituídas de tecido conjuntivo, revestem tendões e fáscias de revesti- mento e se inserem nos ossos, formando canais que mantêm em posição os tendões de músculos longos que passam no interior desses canais. As bainhas sinoviais icam dentro das bainhas ibrosas. Elas localizam-se, geralmente, na região dos ossos carpais e tarsais e têm por função pro- duzir um líquido semelhante ao líquido sinovial para, desta forma, facilitar o deslizamento dos tendões durante os movimentos. Essas bainhas são formadas por uma camada interna (aderida ao tendão) e por uma camada externa (voltada à bainha ibrosa). Os retináculos são constituídos por tecido con- juntivo e representam espessamentos das fáscias musculares. Eles servem para manter os tendões bem posicionados ao cruzarem as articulações (FREITAS, 2004). GENERALIDADES SOBRE O SISTEMA MUSCULAR Segundo Moore et al. (2014), o corpo humano apresenta 656 músculos estriados esqueléticos nominados, cuja nomenclatura depende de crité- rios como forma (deltoide e trapézio), localização (intercostais e subescapular), forma e localização (quadrado da coxa e orbicular da boca), ação (ere- tor da espinha e extensor dos dedos), ação e forma (pronador quadrado e adutor longo), ação e loca- lização (lexor superior dos dedos e lexor radial do carpo), origem e inserção (esternocleidomas- toideo) etc. Outras classiicações dos músculos consideram a função que eles desempenham, a aparência deles, a Figura 23 – Órgãos anexos do sistema muscular 146 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA direção de suas ibras, a localização que apresentam, o número de pontos de origem, de inserção e de ven- tres musculares que possuem. Quanto à função, os músculos podem ser le- xores, extensores, abdutores, rotadores etc. Quan- to à direção das ibras, eles podem ser de ibras paralelas ou oblíquas. Normalmente, músculos de ibras paralelas (sartório, por exemplo) têm bastante amplitude de movimento articular, mas pouca força. Ao contrário, músculos de ibras oblíquas (glúteo máximo, por exemplo) têm mui- ta força, mas pouca amplitude de movimento e podem ser do tipo unipenados (extensor longo dos dedos), bipenados (reto da coxa) ou multipe- nados (deltoide). Alguns músculos (como o peitoral maior) têm ibras que convergem de uma larga faixa de origem para um estreito e único tendão de inserção, fazendo com que o músculo tenha um arranjo em forma de leque ou apresente um aspecto triangular. Figura 24 – Músculos de ibras paralelas e oblíquas, músculos longos, curtos, planos e fusiformes EDUCAÇÃO FÍSICA 147 Quando a aparência é considerada, os músculos podem ser curtos (como os da mão), longos (como o sartório, que apresenta forma de ita), planos/chatos (localizados, normalmente, no abdome ou no dorso; o trapézio é um deles), fusiformes (como o bíceps braquial, que tem uma região central de maior di- âmetro do que as suas extremidades) ou circulares/ esincterianos (como o orbicular do olho, que cir- cunda uma abertura ou um orifício do corpo). Se a localização for o critério de classiicação, eles podem ser supericiais (se icarem logo abaixo da pele e tiverem, pelo menos, uma de suas inserções na derme, sendo, desta forma, chamados de múscu- los dérmicos, como os da expressão facial) ou pro- fundos (se não tiverem inserções na derme, como é o caso dos músculos profundos do antebraço). Bíceps, tríceps e quadríceps são classiicações quando à nomenclatura considera o número de pontos de origem. Se o número de pontos de inser- ção for o critério, os músculos são chamados de bi- caudado ou policaudado. Por im, se o número de ventres musculares for o fator em questão, os mús- culos são chamados de digástrico (biventre) ou poli- gástrico (poliventre). Figura 26 – Músculos bíceps, tríceps, quadríceps, bi e policaudado, digástrico e poligástrico 148 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA PRINCIPAIS MÚSCULOS DO CORPO HU- MANO Principais músculos da cabeça e do pescoço Músculos da cabeça e do pescoço podem ser da ex- pressão facial, da língua, do palato mole e da faringe, mastigatórios, relacionados ao osso hioide, superi- ciais do pescoço e relacionados à coluna vertebral. Os músculos da expressão facial são responsá- veis por expressar emoções por meio de suas con- trações. Incluem os músculos occipitofrontal (com seus ventres frontal e occipital, os quais se unem pela aponeurose epicrânica; a sua função é elevar os su- percílios e enrugar a pele da fronte em uma expres- são de atenção), corrugador do supercílio (que en- ruga a pele entre os supercílios dando a expressão de braveza), prócero (sinergista do corrugador do su- percílio), orbicular do olho (fecha a rima palpebral), nasal (abre a asa do nariz, como ocorre, por exem- plo, em situações de esforço respiratório), levanta- dor do lábio superior e da asa do nariz, levantador do lábio superior (levanta este lábio fazendo eversão ou “bico” do lábio superior), levantador do ângulo da boca (atua narisada, tracionando o ângulo da boca obliquamente para cima), zigomáticos maior e menor (tracionam o ângulo da boca obliquamente para cima na risada), risório (traciona o ângulo da boca horizontalmente no sorriso), orbicular da boca (fecha a rima bucal), abaixador do ângulo da boca (abaixa este ângulo dando a expressão de tristeza), abaixador do lábio inferior (abaixa este lábio fazen- do a eversão ou “bico” do lábio inferior), mentual (protrai o lábio inferior e enruga a pele do mento), bucinador (contrai a bochecha no assopro, no asso- vio e no bocejo, e puxa o ângulo da boca lateralmen- te) e platisma (abaixa a mandíbula, traciona o ângu- lo da boca para baixo e enruga a pele do pescoço). Figura 27 – Músculos da expressão facial EDUCAÇÃO FÍSICA 149 Os músculos da mastigação movimentam a man- díbula durante a mastigação e a fala. São o tempo- ral, o masseter, o pterigóideo lateral e o pterigói- deo medial. O músculo esternocleidomastoideo (ECM) tem localização supericial no pescoço. Quando ele se contrai bilateralmente, possibilita a lexão da cabe- ça; quando se contrai unilateralmente, faz a lexão lateral da cabeça para o mesmo lado do músculo que se contraiu, associada a uma rotação da face para o lado contrário deste músculo. Figura 28 – Músculos da mastigação Os músculos relacionados ao osso hioide podem ser supra ou infra-hioideos. Os supra-hioideos ele- vam este osso durante a primeira fase da deglutição e abaixam a mandíbula contra a resistência (são o digástrico, o estilo-hioideo, o milo-hioideo e o gê- nio-hioideo). Os músculos infra-hioideos abaixam o hioide durante a segunda fase da deglutição (são eles o omo-hioideo, o esterno-hioideo, o esternoti- reoideo e o tíreo-hioideo). Figura 29 – Músculos supra e infra-hioideos Figura 30 – Músculo ECM 150 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA A coluna vertebral apresenta músculos pré, para e pós-vertebrais conforme as suas localizações. Os pré-vertebrais se posicionam anteriormente à coluna e estão relacionados à lexão da cabeça e do pescoço. São eles: os músculo longos da cabeça e do pescoço, reto anterior da cabeça e reto lateral da cabeça. Os paravertebrais localizam-se lateralmente à coluna e realizam a lexão lateral (inclinação lateral) da cabeça e do pescoço. São eles: os escalenos ante- rior, médio e posterior. Os pós-vertebrais icam posteriormente à coluna e fazem a extensão da cabeça e do pescoço. Incluem os músculos esplênio da cabeça, esplênio do pesco- ço, semiespinal da cabeça, semiespinal do pescoço, multíidos e suboccipitais (músculos reto posterior maior da cabeça, reto posterior menor da cabeça, oblíquo superior da cabeça e oblíquo inferior da ca- beça). Músculos multíidos também fazem rotação da coluna vertebral (FREITAS, 2004). PRINCIPAIS MÚSCULOS DO DORSO O dorso apresenta músculos fortes que se ixam às vértebras. Eles podem movimentar os membros su- periores (trapézio, latíssimo do dorso, levantador da escápula e romboides, por exemplo), participar dos movimentos respiratórios (serrátil posterior supe- rior e serrátil posterior inferior), sustentar a postura ou mover a coluna (como os esplênios da cabeça e do pescoço, o eretor da espinha, o seminespinal, os multíidos e os rotadores) (DI DIO, 2002). Figura 31 – Músculos para e pós-vertebrais Figura 32 – Músculos do dorso PRINCIPAIS MÚSCULOS DO TÓRAX No tórax existem músculos que unem o esqueleto axial ao apendicular, músculos da parede anterola- teral do abdome, do pescoço, do dorso e alguns que agem na respiração. Os verdadeiros músculos do tórax são os levantadores das costelas (fazem a ins- piração), o transverso do tórax (fazem expiração), os intercostais externos (fazem a inspiração), os in- tercostais internos (fazem expiração), os intercostais íntimos (sinergistas dos intercostais internos) e os subcostais (sinergistas dos intercostais internos). EDUCAÇÃO FÍSICA 151 O diafragma separa o tórax do abdome e é o principal músculo da inspiração. A sua parte central é aponeurótica e chamada de centro tendíneo; a sua parte muscular é dividida em parte esternal, costal e lombar, de acordo com as suas ixações. O diafrag- ma é atravessado pela veia cava inferior, pelo esôfago e pela artéria aorta, os quais passam, respectivamen- te, pelo forame da veia cava, pelo hiato esofágico e pelo hiato aórtico (WATANABE, 2000). ma, movem o tronco, ajudam a manter a postura e atuam em diversas atividades diárias, como tossir, espirrar, vomitar, assoar o nariz, defecar e reali- zar um parto normal (MIRANDA NETO; CHO- PARD, 2014). Na parede abdominal posterior do abdome es- tão os músculos psoas maior, psoas menor, ilíaco e quadrado do lombo. O psoas maior ica lateral à coluna vertebral e parte de suas ibras se juntam ao tendão do ilíaco, formando o músculo iliopsoas, considerado o principal lexor do quadril. Ademais, ele é lexor lateral do tronco e ajuda a manter a lor- dose lombar. O psoas menor é uma variação anatômica, pois ele pode não existir. O ilíaco estabiliza a articulação do quadril, e o quadrado do lombo faz a lexão late- ral e a extensão do tronco. Figura 33 – Músculos do tórax PRINCIPAIS MÚSCULOS DO ABDOME Na parede anterolateral do abdome existem cin- co pares de músculos: reto do abdome, piramidal, oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdome. Pelo fato de apresentarem ibras com diferentes direções, tais músculos formam uma forte sustentação e, juntos, sustentam e protegem as vísceras abdominais e comprimem o conteúdo abdominal. Além disso, eles se opõem ao diafrag- Figura 34 – Músculos do abdome 152 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA PRINCIPAIS MÚSCULOS DO MEMBRO SUPERIOR Os músculos do membro superior incluem peitoral maior, peitoral menor, subclávio, serrátil anterior, levantador da escápula, romboide maior, romboide menor, deltoide, redondo maior, redondo menor, supraespinal, infraespinal, subescapular e vários músculos do braço, do antebraço e da mão. O peitoral maior é um músculo em forma de leque que possibilita adução, rotação medial, lexão e extensão do braço a partir da lexão. O peitoral menor ica abaixo do peitoral maior e age estabili- zando a escápula e ajudando a elevar as costelas no movimento de inspiração profunda. O subclávio estabiliza a clavícula nos movimentos do membro superior. Enquanto o serrátil anterior é protrusor da escápula, o levantador da escápula a eleva, e os romboides maior e menor fazem a sua retração e a rotação inferior. O deltoide é um músculo forte que envolve o om- bro, dando-lhe uma forma arredondada. Ele apre- senta partes clavicular, acromial e espinal, as quais fazem, respectivamente, lexão, abdução e extensão do ombro. Além disso, ele estabiliza esta tão impor- tante articulação. O redondo maior também estabili- za o ombro e faz a sua adução e rotação medial. O re- dondo menor faz a rotação lateral desta articulação. A escápula apresenta muitos músculos cujos tendões se fundem, reforçando, assim, a cápsula ar- ticular do ombro, protegendo-o e estabilizando-o. Enquanto o supraespinal começa a abdução do om- bro e o infraespinal faz a sua rotação lateral, o subes- capular é o seu rotador medial. Em conjunto, supra- espinal, infraespinal, redondo menor e subescapular formam o “manguito rotador”, pois, exceto pelo su- praespinal, os outros são rotadores desta articulação. Os músculos do braço incluem os lexores do coto- velo (bíceps braquial, braquial e coracobraquial) e os seus extensores (tríceps braquial e ancôneo). Os lexores são mais fortes e, por isto, é mais fácil puxar do que empurrar (MOORE et al., 2014). O bíceps braquial é um músculo longo que apre- senta uma cabeça longa e outra curta. É triarticular, pois atravessa as articulações do ombro, cotovelo e radioulnar proximal. Ele realiza a lexão do ombro, a supinação da articulação radioulnare a lexão do antebraço em supinação. Profundamente a ele está o músculo braquial, que é o principal lexor do ante- braço. O coracobraquial auxilia na lexão, adução e estabilização da articulação do ombro. O tríceps braquial também ajuda a estabilizar a articulação do ombro. Ele é um músculo longo com três cabeças (longa, curta e medial). A longa atraves- sa o ombro, e a medial é a mais importante na ex- tensão do cotovelo, sendo recrutada principalmente em atividades de contrarresistência. O ancôneo ica na face póstero lateral do cotovelo e é sinergista do tríceps braquial na extensão do antebraço. Figura 35 – Músculos relacionados à escápula EDUCAÇÃO FÍSICA 153 No antebraço existem 17 músculos que cruzam a articulação do cotovelo e agem nas articulações do punho e dos dedos. O pronador redondo faz prona- ção do antebraço; o lexor radial do carpo faz lexão e abdução do punho; o palmar longo faz lexão do punho; o lexor ulnar do carpo faz lexão e adução do punho; o lexor supericial dos dedos lexiona as articulações interfalângicas proximais dos quatro dedos mediais; o lexor profundo dos dedos lexio- na as articulações interfalângicas distais dos dedos mediais; o lexor longo do polegar faz a lexão das articulações do polegar; o pronador quadrado é o agonista da pronação do antebraço e ajuda a mem- brana interóssea a unir o rádio e a ulna. Os extensores do antebraço podem fazer exten- são e abdução ou adução do punho (extensor radial longo do carpo, extensor radial curto do carpo e ex- tensor ulnar do carpo, por exemplo), podem esten- der os quatro dedos mediais (como o extensor dos dedos, extensor do indicador e extensor do dedo mínimo) ou podem fazer a extensão ou abdução do polegar (extensor longo do polegar, extensor curto do polegar e abdutor longo do polegar). Os músculos da mão incluem abdutor curto do po- legar, lexor curto do polegar, oponente do polegar, abdutor do dedo mínimo, lexor curto do dedo mí- nimo, oponente do dedo mínimo, lumbricais, in- terósseos e adutor do polegar (DI DIO, 2002). PRINCIPAIS MÚSCULOS DO MEMBRO IN- FERIOR Os músculos do membro inferior permitem o equi- líbrio, a sustentação do peso corpóreo, a manuten- ção da postura bípede, os movimentos diversos e a marcha. Agrupam-se em músculos anteriores e posteriores da coxa, mediais da coxa, músculos da região glútea, músculos da região anterior da perna, músculos da região posterior da perna, músculos da região lateral da perna e músculos do pé. Na região anterior da coxa, localizam-se os mús- culos lexores do quadril e/ou extensores do joelho (pectíneo, sartório, iliopsoas, quadríceps femoral e articular do joelho). O pectíneo faz adução, lexão e rotação medial do quadril. O sartório é supericial, parece uma ita e é o músculo mais longo do corpo. Ele é lexor das articulações do quadril e do joelho. O iliopsoas é o principal lexor do quadril e, em con- tração bilateral, é lexor do tronco sobre o quadril, podendo aumentar a lordose lombar e agir na cami- nhada em declive. O quadríceps femoral é um dos músculos mais fortes do corpo. Ele é formado pelos músculos reto Figura 36 – Músculos do braço Figura 37 – Músculos do antebraço e da mão 154 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA femoral, vasto lateral, vasto medial e vasto intermé- dio, os quais se unem formando um tendão único (tendão do músculo quadríceps femoral), cuja con- tinuação é o ligamento da patela que se prende à tu- berosidade da tíbia. O reto femoral é biarticular (percorre as articu- lações do quadril e joelho), sendo mais eiciente em movimentos que associam a lexão do quadril e a extensão de joelho a partir da hiperextensão do qua- dril e da lexão do joelho (como ao cobrar um pênal- ti no futebol). O quadríceps femoral como um todo faz a extensão do joelho e, individualmente, ajuda os vastos medial e lateral a manterem a patela alinhada. O articular do joelho é um músculo pequeno, deri- vado do vasto intermédio que, por sua vez, traciona a membrana sinovial na extensão da perna. sua vez, extensora desta articulação. O grácil cru- za as articulações do quadril e joelho e se une aos músculos sartório e semitendíneo para formar uma inserção tendínea conhecida como “pata de ganso”. Ele dá estabilidade ao joelho estendido e é lexor do joelho e rotador medial da perna quando o joelho está lexionado. Por im, o obturador externo faz a rotação lateral do quadril (DI DIO, 2002). Na região glútea estão os músculos glúteo máxi- mo, glúteo médio, glúteo mínimo, tensor da fáscia lata, piriforme, obturador interno, gêmeo superior e inferior e quadrado femoral. O glúteo máximo é extensor e rotador lateral do quadril e a sua paralisia não afeta a marcha em superfície plana, mas a afeta em aclive (principalmente ao subir escadas). Os glú- teos médio e mínimo estabilizam a pelve, aduzem e rodam medialmente o quadril. O tensor da fáscia lata, além de lexor do quadril, tensiona a fáscia lata. Piriforme, obturador interno, gêmeo superior, gêmeo inferior e quadrado femoral estabilizam a articulação do quadril e a rodam late- ralmente. Figura 38 – Músculos anteriores e mediais da coxa Os músculos adutor longo, adutor curto, adutor magno, grácil e pectíneo localizam-se na região medial da coxa. Todos eles são adutores do quadril. Todavia o adutor magno também tem uma parte le- xora do quadril e uma parte do jarrete que é, por Figura 39 – Músculos da região glútea EDUCAÇÃO FÍSICA 155 Na região posterior da coxa localizam-se os mús- culos semitendíneo, semimembranáceo e bíceps fe- moral. Todos são extensores do quadril e lexores do joelho, exceto a cabeça curta do bíceps femoral, que não passa pela articulação do quadril e, por isto, age apenas na lexão do joelho. O gastrocnêmio apresenta cabeça lateral e medial, as quais se unem no tendão do calcâneo (o mais forte e espesso tendão do corpo). Este músculo é muito for- te, forma a parte mais proeminente da panturrilha e é biarticular. Assim, embora ele faça lexão do joe- lho e plantilexão do tornozelo, ele não pode exercer toda a sua força concomitantemente nas duas arti- culações, sendo mais eicaz com o joelho estendido e, principalmente, quando a extensão do joelho é associada à dorsilexão. O sóleo ica abaixo do gastrocnêmio e é o prin- cipal músculo da lexão plantar do tornozelo. Isto se deve ao fato de ele ser monoarticular, podendo atuar intensamente apenas na articulação do tor- nozelo. Além disso, é um músculo antigravitacio- nal importante para manter a postura ortostática e o equilíbrio, além de possibilitar a marcha. Embora ele seja de contração lenta, é forte e capaz de se con- trair por bastante tempo. O sóleo se une às cabeças do gastrocnêmio, formando o tríceps sural. As dife- renças morfofuncionais entre gastrocnêmio e sóleo permitem airmar que “se passeia com o sóleo, mas se ganha o salto à distância com o gastrocnêmio” (MOORE et al., 2014). O plantar é um músculo pequeno, de ventre cur- to e tendão longo, que é ausente em cerca de 10% das pessoas. É sinergista do gastrocnêmio e, adicional- mente, é considerado um órgão de propriocepção, devido aos seus muitos fusos neuromusculares. O seu tendão pode ser usado em cirurgias de enxertia (para reconstrução dos tendões da mão, por exem- plo) e a sua retirada não causa incapacidade. Durante a lexão do joelho, o poplíteo ajuda a tracionar o menisco lateral posteriormente. Além disso, quando em pé e com o joelho parcialmente lexionado, ele se contrai para ajudar o ligamento cruzado posterior, prevenindo o deslocamento an- Figura 40 – Músculos da região posterior da coxa Os músculos tibial anterior, extensor longo dos de- dos, extensor longo do hálux e ibular terceiro situ- am-se na região anterior da perna. O tibial anterior é dorsilexor do tornozelo e inversor do pé. O exten- sor longo dos dedos estende os quatrodedos laterais e faz dorsilexão do tornozelo. O extensor longo do hálux estende esse hálux e faz dorsilexão do torno- zelo. O ibular terceiro faz dorsilexão do tornozelo e auxilia na eversão do pé. Na região lateral da perna estão os músculos ibu- lar longo e ibular curto, os quais são eversores do pé. Na região posterior da perna estão os músculos gastrocnêmio, sóleo, plantar, poplíteo, lexor longo dos dedos, lexor longo do hálux e tibial posterior. 156 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA terior do fêmur. Em pé, com os joelhos estendidos, o poplíteo faz a rotação lateral do fêmur, liberando o joelho para fazer l exão. Os l exores longos do hálux e dos dedos são, res- pectivamente, l exores das articulações do hálux e dos dedos. Por i m, o tibial posterior é inversor do pé e plantil exor do tornozelo. O sistema muscular é de fato fascinante, e o mais incrível é que ele pode ser modii cado em função de seu uso. Assim, o exercício físico tem a capacidade de moldá-lo e a ausência dele pode causar atroi a. Portanto, o conhecimento especíi co sobre os mús- culos estriados esqueléticos é essencial ao proi ssio- nal de Educação Física. Os vários músculos do pé atuam na fase de suporte da marcha, mantendo os arcos do pé em posição ide- al e produzindo supinação e pronação para permitir ajustes ao solo. Incluem abdutor do hálux, adutor do hálux, l exor curto do hálux, abdutor do dedo míni- mo, l exor do dedo mínimo, l exor curto dos dedos, quadrado plantar, lumbricais, interósseos dorsais e plantares, extensor curto dos dedos e extensor curto do hálux (FREITAS, 2004). Figura 41 – Músculos da perna: a) região anterior b) posterior c) lateral Figura 42 – Músculos do pé (planta e dorso) 157 considerações inais Ao contrário do que algumas pessoas pensam, o sistema esquelético tem um meta- bolismo bastante ativo. A formação desse sistema tem início a partir do segundo mês de vida intrauterina, período no qual os ossos começam a ser formados. O sistema esquelético (estudado pela osteologia), junto aos sistemas articular (estudado pela artrologia) e muscular (estudado pela miologia) constituem o apare- lho locomotor. Desta forma, a atuação conjunta desses três sistemas, em concordân- cia com os comandos delagrados pelo sistema nervoso (estudado pela neurologia), garante a realização de movimentos voluntários harmônicos e coordenados. Enquanto o sistema esquelético representa o elemento passivo do movimento, pois além de suportar e dar estrutura ao corpo, é tracionado pelos músculos, o sis- tema muscular representa o elemento ativo do movimento, uma vez que é ele quem traciona ossos como alavancas, movendo-os nas regiões onde estes se conectam, ou seja, nas articulações. Já o sistema nervoso é considerado o idealizador, o realizador e o corretor do movimento, pois a programação motora, a ativação de áreas executoras e das áreas de controle estão a seu encargo. A falha de qualquer um destes sistemas, todavia, poderá implicar em graves dis- túrbios motores, como hipertonia ou hipotonia muscular, paralisias ou paresias, dis- cinesias, dentre outros. E isto acontecendo, as atividades fundamentais do ser huma- no podem ser prejudicadas, levando o indivíduo à perda da independência funcional (incapacidade de realizar cuidados pessoais, de se alimentar e até de deambular). Cuidados diários relativamente simples podem garantir o pleno funcionamento dos sistemas esquelético, articular, muscular e nervoso. Uma dieta adequada rica em colágeno, cálcio, vitamina B, C e D, por exemplo, é essencial. Adicionalmente, a prática regular e supervisionada de exercícios físicos, uma boa qualidade de sono e a reposição hormonal (quando necessária) fazem toda a diferença. Para tanto, é essencial que se tenha pleno conhecimento anatômico e isiológico das estruturas que compõem tais sistemas a im de incentivar procedimentos preven- tivos e curativos adequados. Como o proissional/professor de Educação Física atua na área da saúde, ele deve conhecer profundamente esses sistemas, pois a sua ação proissional pode estimulá-los. Desta forma, boa capacitação para você! 158 atividades de estudo 1. Leia atentamente o texto a seguir sobre o siste- ma esquelético e analise as airmativas. O sistema esquelético envolve os ossos e carti- lagens que compõem o corpo humano. Ele faz a sustentação e auxilia na forma do corpo, além de proteger os órgãos internos. Permitir que o cor- po se movimente é a sua principal função e, ainda assim, também produz células sanguíneas e atua como reserva de minerais (por exemplo, do cálcio). O crânio é constituído por 22 ossos. Estes se articulam por meio das suturas e da articulação temporomandibular. A maioria deles tem grande mobilidade e forma o crânio neural. a) Todos os ossos dos membros superiores são classiicados como longos, exceto os ossos carpais, que são curtos. b) Todos os ossos dos membros inferiores são classiicados como longos, exceto os ossos tarsais, que são curtos. c) Todos os ossos dos membros superiores e inferiores são classiicados como longos, exceto ossos carpais, escápula, clavícula, ossos tarsais e patela, que são, respecti- vamente, curtos, plano, alongado, curtos e sesamoides. d) A escápula e a clavícula pertencem ao es- queleto axial, pois se localizam no tronco. e) Todos os ossos do crânio são planos. 2. O estudo dos planos de secção e tangenciamen- to do corpo humano é essencial à Anatomia Hu- mana, uma vez que auxilia no corte anatômico e na nomenclatura das estruturas estudadas. So- bre este tema, está correta a seguinte alternativa: a) A estrutura mediana é a que está próxima do plano sagital mediano, mas não exata- mente sob ele. b) A estrutura mediana é aquela mais próxi- ma ao plano anterior. c) A estrutura média é a que se posiciona en- tre uma estrutura lateral e outra estrutura medial. d) A estrutura intermédia é aquela entre uma estrutura lateral e outra estrutura medial. e) A estrutura intermédia é a que se posicio- na sob o plano sagital mediano. 3. O estudo anatômico se preocupa em elucidar a morfologia (constituição), a localização e as fun- ções desempenhadas pelas diversas estruturas que compõem o corpo humano. Ele considera o fato de que cada indivíduo pode apresentar pe- quenas variações anatômicas, as quais podem ser causadas por diversos fatores. Sobre este tema, analise as airmativas a seguir: I - A sinostose do crânio é exemplo de varia- ção anatômica causada pela idade. II - O biótipo e a etnia são fatores causado- res de variação anatômica. Enquanto in- divíduos longilíneos apresentam tórax arredondado, membros curtos em rela- ção ao tronco e baixa estatura corpórea, indivíduos brevilíneos têm tórax alongado, membros longos em relação ao tronco e maior estatura corpórea. Em relação à etnia, é importante salientar que as dife- renças anatômicas entre grupos raciais são apenas externas (cor de pele, cor de olhos, aspecto do cabelo, do nariz etc.), nunca internas. III - A variação anatômica também pode ser causada pelas diferenças em relação ao sexo. O crânio masculino, por exemplo, apresenta a fronte mais inclinada, tem aci- dentes anatômicos mais salientes (devido a maior força muscular) e a pelve desen- volvida no sentido longitudinal. 159 atividades de estudo IV - A anatomia legal se utiliza do fato de o sexo ser um fator causador de variação para identiicar cadáveres. O crânio fe- minino, por exemplo, apresenta a fronte mais inclinada, acidentes anatômicos mais salientes devido aos hormônios femininos (estrógeno e a progesterona) e a pelve mais desenvolvida no sentido transversal. V - Uma criança que nasce sem o encéfalo (anencefálica) é exemplo de variação ana- tômica. É correto o que se airma em: a) I e II, apenas. b) I e III, apenas. c) II e III, apenas. d) I e IV, apenas. e) III e V, apenas. 4. Considerando os seus conhecimentos em miolo- gia, analise as airmativasa seguir e identiique-as como verdadeiras (V) ou falsas (F). ( ) Músculos digástricos (ou biventres) têm dois ven- tres musculares separados por um tendão interme- diário. O estilo-hioideo é um músculo assim. ( ) Músculos bíceps (como o bíceps braquial), tríceps (como o tríceps braquial) ou quadríceps (como o qua- dríceps femoral) apresentam, respectivamente, dois, três ou quatro ventres musculares. ( ) Músculos mímicos são voluntários, uma vez que são classiicados como estriados esqueléticos. Além disso, são dérmicos, pois estão aderidos à camada profunda da pele. Assim, a proximidade deles à pele faz com que as suas contrações marquem a pele, ori- ginando rugas de expressão com o passar dos anos. A sequência correta para a resposta da questão é: a) V, V, V. b) F, F, F. c) V, F, V. d) F, V, F. e) F, F, V. 5. Considerando os seus conhecimentos referentes à miologia, analise as proposições a seguir: I - O miocárdio é classiicado como músculo estriado cardíaco. Ele apresenta várias es- trias transversais e a sua contração é invo- luntária. Portanto, ele é classiicado como músculo somático. II - O músculo estriado esquelético tem con- tração do tipo voluntária e não apresenta estrias transversais (sendo classiicado como músculo liso). III - Os músculos tríceps braquial e tríceps su- ral apresentam três ventres musculares e se inserem por meio de um único tendão. IV - Um músculo policaudado tem apenas um ventre muscular e vários tendões de inserção. V - O tendão de origem é a extremidade do músculo que permanece mais ixa duran- te o movimento. O tendão de inserção é a extremidade do músculo que se move du- rante o movimento. É correto o que se airma em: a) I e III, apenas. b) II e III, apenas. c) III e IV, apenas. d) IV e V, apenas. e) II e V, apenas. 160 LEITURA COMPLEMENTAR O artigo intitulado “Modelo didático aplicado ao estudo de conceitos introdutórios à Ana- tomia Humana” de autoria de Itamar Cossina Gomes, Juliana Vanessa Colombo Martins Perles e Carmem Patrícia Barbosa Lopes, publicado na revista Arquivos do MUDI, aborda a utilização prática dos planos que tangenciam e seccionam o corpo humano, bem como os eixos que permitem os diversos movimento do corpo humano. Como toda ciência, a Anatomia Humana tem sua linguagem própria a qual, em conjunto, recebe o nome de Nômina Anatômica. Instituída a partir de 1955, esta terminologia teve por objetivo evitar que estruturas do corpo humano recebes- sem diferentes denominações em diversos centros de estudos e pesquisas em Anatomia Humana do mundo (DANGELO; FATTINI, 2011). A Nômina Anatômica atualizada, publicada com o nome de Terminologia Ana- tômica, foi aprovada pelas Associações de Anatomia de todo o mundo e tor- nou-se oi cial a partir do ano de 1998 e é válida até a próxima edição revisada. Considerada um documento oi cial que deve ser obedecido pelos professores e alunos da disciplina de anatomia humana, é constituída de cerca de 6.000 termos que são expressos em latim e traduzidos pelas sociedades de anatomia de cada país para a língua vernácula. No Brasil, a terminologia é traduzida pela Comissão de Terminologia Anatômica da Sociedade Brasileira de Anatomia e o livro conta um uma seção de termos gerais e outras organizadas por sistemas. O sistema ósseo, por exemplo, apresenta termos anatômicos próprios que são empregados na osteologia (DI DIO, 2002; SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATO- MIA, 2001; FREITAS, 2004). O estudo anatômico é sempre realizado a partir da padronização dos termos de descrição anatômica a i m de se possibilitar uma comunicação sem ambiguida- des entre os estudiosos desta ciência. Neste contexto, a posição anatômica de descrição ou referência foi instituída e tornou-se de grande valia para evitar er- ros na nomenclatura e no posicionamento do corpo humano a ser estudado. Em tal posição (Figura 1), supõe-se que o cadáver está ereto, com a cabeça em nível horizontal, olhos volta- dos para frente, pés plantados no chão e direcionados para frente, membros superiores ao lado do corpo com as palmas das mãos voltadas para frente (MOORE, 2001; TORTORA, 2010). Após sua leitura, sugere-se que a atividade prática proposta seja realizada. Você aprenderá muito com esta vivência. Boa leitura! Fonte: Gomes, Perles e Lopes (2014). Figura 1 - Representação da boneca em posição anatômica de descrição 161 material complementar Por meio deste documentário, é possível entender um pouco sobre a realidade das pessoas que nas- cem com osteogênese imperfeita, a doença dos ossos de vidro, bem como a vida de seus cuidadores. Etiologia, tratamentos e vida diária são abordados por especialistas e familiares. De igual modo, são valorizados os sonhos e as perspectivas daqueles que precisam sobreviver com esta rara doença. É um ilme curto que retrata sobre a realidade de portadores de osteogênese imperfeita e os seus familiares. Grande lição de vida! Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2YiYMJRNeJM>. Indicação para Acessar 162 referências DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. DI DIO, L. J. A. Lançamento oicial da Terminologia Anatômica em São Paulo: um marco histórico para a medicina brasileira. Rev. Ass. Med. Brasil., v. 46, n. 3, p. 191-193, 2000. FREITAS, V. Anatomia: conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004. GALI, J. C. Osteoporose. Acta Ortop. Bras., v. 9, n. 2, p. 3-12, abr./jun. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/aob/v9n2/v9n2a07.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2018. GOMES, I. C.; PERLES, J. V. C. M.; LOPES, C. P. B. Prática de Laboratório: Mo- delo Didático Aplicado ao Estudo de Conceitos Introdutórios à Anatomia Hu- mana. Arquivos do MUDI, Maringá, v. 18, n. 1, p. 5-17, 2014. Disponível em: <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ArqMudi/article/view/24739/pdf_49>. Acesso em: 20 nov. 2018. GRABINER, M. D.; GREGOR, R. J.; VASCONCELOS, M. M. Cinesiologia e anatomia aplicada. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. KAPANDJI, A. I. Fisiologia articular: esquemas comentados de mecânica huma- na. v. 3. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem dinâmica. Maringá: Clichetec, 2014. MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. SBA. Sociedade Brasileira de Anatomia. Terminologia anatômica. São Paulo: Manole, 2001. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia e isiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. 163 gabarito 1. C. 2. D. 3. B. 4. E. 5. D. gabarito Professora Dra. Carmem Patrícia Barbosa Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Tecido nervoso • Sistema nervoso central • Sistema nervoso periférico • Sistema nervoso autônomo Objetivos de Aprendizagem • Compreender a constituição do tecido nervoso. • Estudar as principais correlações do sistema nervoso central com o movimento humano: medula espinal, tronco encefálico, cerebelo, diencéfalo, telencéfalo, meninges, ventrículos encefálicos e líquido cerebrospinal. • Descrever as principais correlações do sistema nervoso periférico com o movimento humano: nervos espinais, nervos cranianos, plexos nervosos, terminações nervosas e gânglios nervosos, lesões nervosas. • Entender as principais correlações do sistema nervoso autônomo (SNA) com o movimento humano: apresentar a função geral do SNA. Estudar, do ponto de vista morfológico e funcional, o SNA simpático e o SNA parassimpático em função do movimento. NEUROANATOMIA APLICADA AO MOVIMENTO unidade V INTRODUÇÃO Quando movemos qualquer parte do nosso corpo, devemos ter em mente que este movimento começou bem longe de onde ele de fato ocorreu. Assim, um atleta que executa um arremesso ou um chute preciso deve entender queeste ato motor pode ser aperfeiçoado ainda mais, pois depende do planejamento, da atuação, da correção e do reinamento do sistema nervoso que o desencadeou. Isto explica por que os atletas repetem tantas vezes os mesmos movimentos que já praticam há tempos . Uma das áreas estudadas pelas neurociências enfoca detalhes acer- ca de como o movimento humano é planejado, executado, corrigido e aperfeiçoado. Assim, a neuroanatomia que será descrita aqui intencio- nará aplicar o conhecimento da anatomia e da isiologia do sistema ner- voso à prática do movimento corpóreo. Para tanto, serão abordadas as diversas estruturas formadoras desse tão precioso sistema no sentido de relacioná-las ao tema. A medula espinal, o tronco encefálico (composto pelo bulbo, pela ponte e pelo mesencéfalo), o cerebelo, o diencéfalo e o telencéfalo serão abordados anatômica e isiologicamente, objetivando entender em profundidade o desenrolar do movimento. Temas básicos que substanciam o entendimento desse complexo sis- tema deverão ser previamente trabalhados a i m de prepará-los para o pleno aproveitamento desta temática. Desta forma, serão apresentadas as células formadoras do sistema nervoso (os neurônios e as células da glia), os mecanismos de comunicação entre o sistema nervoso e o corpo (por meio das sinapses) e a constituição estrutural básica desse sistema. Considerando que o controle das funções orgânicas, a realização de funções voluntárias (como fonação e deambulação) e involuntárias (como salivação e respiração) dependem diretamente da atuação do sis- tema nervoso, o qual controla e coordena as funções dos demais sistemas do organismo e permite que o corpo reaja a modii cações do ambiente interno e externo a i m de manter a homeostasia, justii ca-se a sua rele- vância e a importância de seu estudo. No contexto proi ssional de atuação do proi ssional de Educação Física, onde o movimento, a coordenação motora, o equilíbrio, o tônus muscular, a aprendizagem motora e outras aptidões são essenciais, este estudo é fundamental. Portanto, aproveite para entendê-lo e dedique-se ao seu estudo! 168 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Tecido Nervoso EDUCAÇÃO FÍSICA 169 Caro(a) aluno(a), o movimento humano depende da atuação precisa e coordenada das estruturas que compõem o sistema nervoso (SN). Assim, as estru- turas formadoras do sistema nervoso central (SNC), do sistema nervoso periférico (SNP) e do sistema nervoso autônomo (SNA) atuam em conjunto para que a mobilidade seja garantida de maneira harmô- nica. Além disso, todas as células que constituem o tecido nervoso devem desempenhar as suas funções de modo preciso e coordenado para que nada ocorra de maneira indesejada. Neste contexto, esta unidade abordará, além das células do tecido nervoso, cada porção do SNC, do SNP e do SNA. Como anteriormente mencionado, as funções do SN estão diretamente relacionadas às células que constituem o próprio tecido nervoso, ou seja, os neurônios e as células gliais. Os neurônios são as principais células nervosas, haja vista serem eles os responsáveis pela comunica- ção intercelular, conhecida como sinapse (do grego synapsis, que signiica conexão). Existem vários ti- pos morfologicamente diferentes de neurônios. Os neurônios são constituídos por partes caracte- rísticas com funções especíicas. Os dendritos, por exemplo, são vários pequenos prolongamentos que surgem do corpo do neurônio e que servem para re- ceber o estímulo e enviá-lo a esse corpo. No corpo está localizado o núcleo do neurônio, ou seja, é onde o seu material genético está armaze- nado. Por isto, o corpo é considerado o “centro me- tabólico” do neurônio, já que representa uma região de grande importância funcional. Inclusive, uma le- são na região do núcleo normalmente causa a morte desse neurônio. Do corpo (mais especiicamente de uma região chamada cone de implantação) emerge um prolon- gamento maior e único denominado axônio, em cuja extremidade inal ocorre uma extensa ramiicação chamada terminação axônica. A função do axônio é conduzir o impulso nervoso até a terminação axôni- ca para que este seja passado a outra célula durante a sinapse. Nos neurônios mielinizados, o axônio é envolto pela bainha de mielina, a qual é constituída por gordura, proteínas e vitamina B12. Ela é formada por células especiais chamadas células de Schwann (no SNP) e oligodendrócitos (no SNC). A bainha de mielina é interrompida esporadicamente, deixando pequenos espaços denominados nódulos de Ran- vier, onde essa bainha não existe. Por isso, ela serve para aumentar a velocidade de condução dos impul- sos nervosos, haja vista que a gordura atua como um isolante elétrico e obriga o impulso a “saltar” pelos nódulos de Ranvier. Assim, ao invés de o impulso ter que percorrer toda a extensão do axônio, ele sal- ta de nódulo em nódulo, acelerando, assim, a trans- missão elétrica.Figura 1 - Diferentes tipos de neurônios presentes no corpo humano 170 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA As sinapses podem ser entendidas como ordens ou comandos que ocorrem entre os neurônios, ou entre um neurônio e uma célula efetora (que pode ser, por exemplo, um músculo ou uma glândula). Em verte- brados, esses comandos dependem da liberação de uma substância química chamada neurotransmis- sor, que ica armazenada em vesículas (as vesículas sinápticas) localizadas no neurônio pré-sináptico. Assim, para que o impulso seja propagado, o neu- rotransmissor deve ser liberado na fenda sináptica (um espaço existente entre as células que realizam a sinapse). Para isso, o íon cálcio adentra o neurônio pré-sináptico e sinaliza às vesículas sinápticas para que ocorra a exocitose do neurotransmisor. Dependendo de alguns fatores (por exemplo, o tipo de neurotransmissor liberado na fenda sináp- tica), as sinapses podem ser excitatórias ou inibitó- rias. Vale ressaltar que a sinapse entre um neurônio e uma célula muscular é chamada de junção neuro- muscular (ou placa motora), e o neurotransmissor liberado nesta situação é a acetilcolina. Figura 2 - Dendritos, corpo celular, núcleo, axônio, célula de Schwann, terminação axônica, nódulo de Ranvier, bainha de mielina Figura 3 - Fenda sináptica. Observe os neurônios pré e pós-sinápticos, as vesículas sinápticas localizadas no neurônio pré-sináptico e a libera- ção do neurotransmissor na fenda sináptica Uma disfunção grave chamada epilepsia pode ocorrer quando a sinapse é, de alguma maneira, perturbada. Em grande parte das vezes, a pessoa em crise de epilepsia apresenta, dentre vários aco- metimentos, alterações motoras. É comum, por exemplo, haver espasticidade (contração muscular exacerbada) durante a crise, seguida de hipotonia (relaxamento muscular exagerado) após o episó- dio epilético. Depois de compreender como são e como atuam os neurônios, é de igual importância entender como as células da glia agem. Estas células também podem ser chamadas de neuroglia, células neurogliais ou neurogliócitos. Embora cinco vezes mais abundan- tes do que os neurônios, as células da glia não são excitáveis, ou seja, não fazem sinapses. Todavia elas desempenham funções importantes como sustenta- ção, isolamento e nutrição dos neurônios. EDUCAÇÃO FÍSICA 171 Existem quatro tipos de células da glia no SNC (as- trócitos, micróglia, células ependimárias e oligoden- drócitos) e dois tipos no SNP (células de Schwann e células satélites ou anfícitos). Os astrócitos con- trolam a nutrição dos neurônios. A micróglia é res- ponsável pela defesa imunológica desses neurônios, uma vez que ela é um fagócito. As células ependimá- rias produzem líquido cerebrospinal. Os oligoden- drócitos produzem a bainha de mielina no SNC, e as células de Schwann a produzem no SNP. As células satélites protegem os neurônios. Você pode estar se perguntando qual é a corre- laçãoentre as células da glia e o movimento. A res- Figura 4 - Aspectos morfológicos das principais células da glia: oligoden- drócitos, micróglia, células ependimárias, células de Schwann e astrócitos posta é total e, se você considerar que as funções dos astrócitos, da micróglia e das células satélites são essenciais à sobrevivência dos neurônios, ica ainda mais fácil concordar com isso. Complementarmente, os oligodendrócitos e as células de Schwann garan- tem a rápida comunicação nas sinapses por meio da bainha de mielina. Por isso, doenças desmielinizan- tes (como a esclerose lateral amiotróica, a adreno- leucodistroia e tantas outras) são tão incapacitantes e maléicas. Além disso, se as células ependimárias produzirem líquido cerebrospinal demais ou de me- nos, a pressão intracraniana pode ser afetada, e os movimentos, comprometidos. 172 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Sistema Nervoso Central EDUCAÇÃO FÍSICA 173 É considerado sistema nervoso central (SNC) o tecido nervoso localizado na região central do corpo, ou seja, na cabeça e no tronco (o próprio termo SNC enfatiza a sua localização). Assim, o SNC é constituído pela me- dula espinal (abrigada no canal medular formado pelas vértebras) e encéfalo (abrigado na cavidade craniana). A maioria das pessoas chama o encéfalo de cére- bro. Este termo está incorreto, pois o cérebro é ape- nas uma parte do encéfalo. Isto porque o encéfalo apresenta várias partes: tronco encefálico (formado pelo bulbo, pela ponte e pelo mesencéfalo), cerebelo, diencéfalo e telencéfalo. O cérebro nada mais é do que o diencéfalo e o telencéfalo juntos. Desta forma, se você disser que o cérebro é o que está localizado na cavidade craniana, você está negligenciando a exis- tência das outras partes do encéfalo, ou seja, o tronco encefálico (bulbo, ponte e mesencéfalo) e o cerebelo. O objetivo desta unidade é abordar a relação en- tre cada uma destas estruturas formadoras do SNC com o ato motor. Adicionalmente, temas como as meninges, os ventrículos encefálicos e o líquido ce- rebrospinal serão abordados devido à importância funcional que apresentam. FUNÇÕES GERAIS DO SISTEMA NERVO- SO CENTRAL De maneira geral, o SNC recebe, analisa e integra informações advindas do meio ambiente (meio ex- terno) e do meio interno (o próprio corpo do indiví- duo). Assim, ele representa o local onde os estímu- los chegam e são interpretados, bem como o local onde as decisões ocorrem, desencadeando ordens à periferia do corpo. No entanto é importante ressal- tar que o SNC age em conjunto e de maneira depen- dente à ação do SNP (MOORE et al., 2014). CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Tanto o encéfalo quanto a medula espinal apresen- tam corpos celulares e ibras nervosas (axônios). O aglomerado de corpos celulares origina a substân- cia cinzenta, e a junção das ibras nervosas origina a substância branca. As células da glia estão presentes tanto na substância cinzenta quanto na branca. Na medula espinal, a substância cinzenta ica lo- calizada por dentro da substância branca e se parece com uma borboleta ou com a letra H. No encéfalo, essa substância ica localizada predominantemente por fora da substância branca, constituindo, assim, o córtex cerebral. A substância branca do encéfalo é chamada de centro branco medular do cérebro. Vale ressaltar que parte da substância cinzenta do encé- falo se localiza em meio à substância branca, cons- tituindo os núcleos da base (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Embora os núcleos da base também tenham funções não motoras (cognitiva, emocional, de mo- tivação e seleção de informações sensitivas para o controle motor), eles atuam principalmente no con-Figura 5 - Sistema nervoso central e sistema nervoso periférico 174 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA trole do movimento. Por isto, as suas lesões podem causar vários distúrbios motores, como coréia, ate- tose, balismo, distonia, tiques, síndrome de Tourette (tiques motores e vocais) e distúrbios hipocinéticos (como o Parkinsonismo). Dentre tais núcleos, pode-se citar o caudado, o lentiforme (putame e glóbulo pálido), o claustro, o corpo amigdaloide (parte do sistema límbico, é um importante centro regulador do comportamento se- xual e da agressividade), o núcleo basal de Meynert e o núcleo accumbens. O seu calibre não é uniforme, pois ela é mais ca- librosa onde as raízes nervosas que formam os ple- xos braquial e lombossacral fazem conexão. Estes plexos são aglomerados de nervos (neurônios) que inervam os membros superiores e inferiores. A ME se comunica superiormente com o bul- bo (ao nível do forame magno do osso occipital) e, inferiormente, ela termina ailando-se para formar o cone medular, o qual continua com um delgado ilamento meníngeo, o ilamento terminal, ao nível da segunda vértebra lombar. Assim, no adulto, a me- dula não ocupa todo o canal vertebral, tendo 45 cm no homem e 42 cm na mulher. Tal fato tem importância clínica, pois, abaixo da segunda vértebra lombar, o canal vertebral não tem mais ME, todavia, contém apenas as meninges e as raízes nervosas dos últimos nervos espinais que formam a cauda equina. Isto porque ME e vértebras crescem em ritmos diferentes. Figura 6 - Núcleos da base do cérebro e centro branco medular do cérebro MEDULA ESPINAL Sem dúvida, a medula espinal (ME) é imprescindível ao movimento. Por isto, quando ela é lesionada, qua- dros de paraplegia ou de tetraplegia podem ocorrer. Segundo Machado e Haertel (2014), a ME é uma massa cilíndrica de tecido nervoso que ica localizada dentro do canal vertebral. O seu nome (medula) sig- niica justamente aquilo que ica por dentro, o miolo. Figura 7 - Medula espinal e os seus limites EDUCAÇÃO FÍSICA 175 A ME apresenta sulcos longitudinais onde se conec- tam os ilamentos radiculares que formam as raízes dos nervos espinais. Estes nervos trazem à medula informações sensitivas da periferia do corpo para serem conduzidas ao encéfalo, e levam as ordens do encéfalo à periferia do corpo. Isto explica porque uma lesão na ME pode causar perdas sensitivas e/ ou motoras. Para dar maior proteção à ME, membranas i- brosas chamadas meninges fazem o revestimento externo. A dura-máter é a mais externa das menin- ges, a mais espessa e a mais resistente. A pia-máter é a mais delicada e interna, e adere intimamente ao tecido nervoso. Já a aracnoide-máter se dispõe entre as outras duas, formando um emaranhado de trabé- culas aracnóideas. ENCÉFALO Como vimos anteriormente, o encéfalo é composto por tronco encefálico (bulbo, ponte e mesencéfalo), cerebelo, diencéfalo e telencéfalo. Estudaremos a partir de agora cada uma destas porções, relacionan- do-as ao movimento sempre que possível. Tronco encefálico O tronco encefálico ica acima da ME, abaixo do diencéfalo e à frente do cerebelo. Ele é composto pelo bulbo (inferiormente), mesencéfalo (supe- riormente) e ponte (entre o bulbo e o mesencéfa- lo). A sua grande importância é, em parte, atribu- ída ao fato de 10 dos 12 pares de nervos cranianos estarem conectados a ele. Por isto, lesões bulbares podem ser muito graves e com sintomas bastante variados. Todo o texto que segue foi escrito a partir das considerações de Aii e Bergman (2007), Ma- chado e Haertel (2014) e outros autores importan- tes da área. Figura 8 - Sulcos da medula espinal e meninges É importante ressaltar que além das lesões medula- res de origem traumática (como acidentes automo- bilísticos, quedas, tiros, facadas etc.), a ME também pode ser acometida por doenças neoplásicas (cân- cer) e degenerativas, as quais são tão incapacitantes quanto as traumáticas. Figura 9 - Visão geral do tronco encefálico 176 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Bulbo O bulbo ica abaixo da ponte e acima da ME (acima do forame magno). A sua superfície também apre- senta sulcos longitudinais como a medulaespinal. De cada lado do bulbo existe uma eminência alongada chamada pirâmide, que é formada por um feixe de ibras nervosas, as quais, por sua vez, des- cem das áreas motoras do cérebro até os neurônios motores localizados na ME. Assim, as pirâmides do bulbo são essenciais ao movimento e nelas ocorre um cruzamento parcial dessas ibras, formando a decussação das pirâmides. Isto explica o fato de uma lesão do lado direito do encéfalo causar perda mo- tora do lado esquerdo do corpo (ou seja, o déicit motor é contralateral à lesão). Complementarmente, o bulbo tem diversas ou- tras funções. Ele é considerado um importante cen- tro nervoso, pois se relaciona às funções respiratória e cardiovascular, à tosse, ao vômito, à deglutição e ao bocejo. Além disso, ele ajuda a formar o IV ventrícu- lo, e em sua área posterior estão os fascículos grácil e cuneiforme, os quais são constituídos por ibras nervosas ascendentes. Ponte A ponte ica entre o mesencéfalo e o bulbo e à frente do cerebelo. Em relação às suas funções, ela ajuda a formar o IV ventrículo e apresenta amplas conexões com o cerebelo, o que é essencial para a execução e o reinamento do movimento. Mesencéfalo O mesencéfalo ica entre a ponte e o diencéfalo. Ele é atravessado em toda a sua extensão por um estreito canal chamado aqueduto do mesencéfalo, que une o III ao IV ventrículo, permitindo, assim, a drenagem do líquido cerebrospinal. Além disso, o mesencéfalo apresenta uma área escura chamada substância negra, onde existem neurônios ricos em melanina e diretamente relacio- nados ao movimento. Ele também participa das vias da audição e da visão. CEREBELO O cerebelo situa-se atrás do bulbo e da ponte e re- pousa sobre o osso occipital. Ele se conecta à ME, ao bulbo, à ponte e ao mesencéfalo. A sua porção mediana e ímpar é chamada de verme, e as suas massas laterais são os hemisférios cerebelares. Tanto o verme quanto os hemisférios apresentam sulcos transversais que delimitam inas lâminas, estas chamadas de folhas. Os sulcos mais profundos são chamados de issuras. À semelhança do cérebro, o cerebelo é constitu- ído por um centro de substância branca (corpo me- dular do cerebelo) e revestido por uma ina camada de substância cinzenta (córtex cerebelar). Dentro do corpo medular existem quatro pares de núcleos de substância cinzenta (os núcleos centrais do cerebe- lo): denteado, emboliforme, globoso e fastigial.Figura 10 - Bulbo, ponte e mesencéfalo EDUCAÇÃO FÍSICA 177 O cerebelo deve ser bem conhecido pelos proi s- sionais de Educação Física devido aos seus aspectos funcionais. Isto porque ele está diretamente relacio- nado ao equilíbrio, à coordenação dos movimentos e à aprendizagem motora. Todavia é importante res- saltar que estudos recentes têm sugerido que o ce- rebelo também apresenta funções não motoras. Por exemplo, função autônoma, de comportamento e de cognição, além de ajudar a formar o IV ventrículo. Adicionalmente, é descrito que autistas apresentam hipoplasia cerebelar e que lesões cerebelares podem causar síndromes com diferentes sintomas (GAR- CIA; MOSQUERA, 2011). O pequeno volume ocupado pelo diencéfalo não re- l ete a sua importância funcional, pois ele desempe- nha inúmeras e importantes funções. O diencéfalo se relaciona ao III ventrículo e compreende quatro regiões principais: tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo. O tálamo é uma grande massa de substância cin- zenta, disposta uma de cada lado do diencéfalo (es- tas massas são unidas pela aderência intertalâmica). Ele recebe impulsos motores e sensitivos vindos da periferia do corpo (exceto o olfato) e os encaminha ao córtex cerebral. Relaciona-se intimamente com a dor e, por isto, uma lesão talâmica pode causar a sín- drome talâmica dolorosa, o déi cit de memória e de linguagem e vários outros sintomas. O hipotálamo i ca abaixo do tálamo e as suas funções se relacionam principalmente com o con- trole da atividade visceral. Ele é considerado um grande centro autônomo e endócrino, atuando em processos como alimentação, ingestão de líquidos, comportamento sexual e emocional, regulação da temperatura, memória e crescimento. Figura 11 - Cerebelo inteiro DIENCÉFALO Como já mencionado, o diencéfalo, junto com o telencéfalo, formam o cérebro, o qual representa a porção mais desenvolvida e importante do encéfa- lo e que ocupa cerca de 80% da cavidade craniana. Enquanto o telencéfalo se desenvolveu mais nos sentidos lateral e posterior, formando, assim, os he- misférios cerebrais, o diencéfalo i cou quase comple- tamente encoberto pelo telencéfalo, permanecendo, assim, em situação ímpar e mediana. Figura 12 - Diencéfalo e cérebro 178 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA O epitálamo ica acima do sulco hipotalâmico. A glândula pineal é o seu elemento mais evidente, atuando, portanto, no controle do ritmo circadiano e na função gonadal. Por isto, uma lesão nesta região pode retardar ou adiantar a puberdade, ou mesmo alterar o ritmo circadiano. O subtálamo, que ica abaixo do tálamo, é bem importante ao proissional de Educação Física, pois o seu elemento mais evidente é o núcleo subtalâmi- co, cuja função é controlar e modular o movimento voluntário. Por isto, quando esse núcleo é lesionado, pode haver hemibalismo (uma doença cujos movi- mentos violentos e involuntários ocorrem na meta- de do corpo contralateral ao subtálamo lesado). Telencéfalo O telencéfalo compreende os dois hemisférios cere- brais e uma pequena parte mediana situada na por- ção anterior do III ventrículo. Tais hemisférios são parcialmente separados pela issura longitudinal do cérebro, cujo assoalho é formado pelo corpo caloso (o principal meio de união entre eles). Ele possui duas cavidades chamadas ventrícu- los laterais onde o líquido cerebrospinal se aloja. Também apresenta três pontos projetados (polos frontal, occipital e temporal), cinco lobos (frontal, parietal, temporal, occipital e da ínsula) e três faces (superolateral, medial e inferior ou base do cére- bro). Estudaremos os principais aspectos de cada uma destas regiões. Figura 13 - Telencéfalo, dois hemisférios e issura longitudinal do cérebro Figura 14 - Polos, lobos e faces A superfície do cérebro humano apresenta vários sulcos e, assim, delimitando vários giros. Os giros aumentam a superfície do cérebro sem aumentar o seu volume, pois dois terços da área do córtex cere- bral estão “escondidos” nos sulcos (o encéfalo hu- mano é, por isto, chamado de girencéfalo; encéfalos sem giros são chamados de lisencéfalos). Enquanto muitos sulcos são inconstantes e não recebem nomes, outros são constantes e rece- bem nomes especiais. É importante salientar que o padrão dos sulcos e dos giros pode ser diferente nos dois hemisférios de um mesmo indivíduo, e não existe nenhum sulco ou giro que seja carac- terístico de uma determinada raça, sendo, assim, impossível a identiicação da raça pelo estudo do cérebro. EDUCAÇÃO FÍSICA 179 Os dois sulcos mais importantes são o lateral e o central. O lateral separa os lobos frontal e parietal do lobo temporal. O sulco central separa os lobos frontal e parietal e é ladeado por dois giros paralelos, o giro pré-central (anterior ao sulco) e o pós-central (posterior a ele). Estes giros relacionam-se, respecti- vamente, à motricidade e à sensibilidade do corpo. Admite-se que o menor encéfalo compatível com a inteligência normal deve pesar cerca de 900 g. Aspectos funcionais das principais áreas en- cefálicas Algumas áreas encefálicas têm funções especiais. Mencionaremos a seguir as mais importantes. Os giros frontal superior e frontal médio rela- cionam-se à cognição, ao raciocínio lógico e mate- mático, e à memória recente. O giro frontal inferior do lado esquerdo do cérebro é chamado de giro de Broca e é onde se localiza o centro da palavra falada. Enquanto nogiro pré-central se localiza a área motora primária do cérebro, no giro pós-central se localiza a área sensitiva deste. No giro temporal superior está a área de Werni- cke, envolvida na compreensão da linguagem fala- da. O giro temporal inferior está envolvido na per- cepção visual de cor e de forma. No giro temporal transverso anterior se localiza o centro cortical da audição (área acústica primária). O lóbulo parietal superior está envolvido na in- teração do indivíduo com o seu meio e, por isto, a presença de lesões, principalmente no hemisfério não dominante, causam negligência em relação a partes do corpo. Nele existem os giros supramargi- nal e angular, os quais estão envolvidos na integração de diversas informações sensoriais quanto à fala e à percepção. Assim, lesões, principalmente no hemis- fério dominante, causam distúrbio na compreensão da linguagem e no reconhecimento de objetos. O corpo caloso une áreas simétricas do córtex cerebral de cada hemisfério. O giro do cíngulo faz parte do sistema límbico e, por isto, afeta o funcio- namento visceral, as emoções e o comportamento. No lobo occipital está localizada a área visual primá- ria, e o giro reto está relacionado ao olfato. Figura 15 - Sulco lateral e central, giro pré e pós-central Dos cinco lobos cerebrais, quatro recebem a sua de- nominação de acordo com os ossos do crânio com os quais se relacionam: frontal, temporal, parietal e occipital. Todavia o quinto lobo situa-se profun- damente, não se relacionando diretamente com os ossos do crânio, sendo chamado de lobo da ínsula. Este lobo associa-se a funções autônomas. É importante ressaltar que o peso do encéfalo depende do peso corporal do indivíduo, da comple- xidade do encéfalo (coeiciente de encefalização; K) e não tem relação com os estados cultural ou de in- teligência do indivíduo (o encéfalo de Einstein, por exemplo, pesava 1.230 g). O K é quatro vezes maior no ser humano do que em um chimpanzé. No homem adulto brasileiro normal, o encéfalo pesa cerca de 1.300 g (1.200 g na mulher). O maior encéfalo humano registrado até hoje pesou 2.850 g e o seu dono tinha um nível normal de inteligência. 180 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Ventrículos encefálicos e líquido cerebrospinal Nesta unidade, por várias vezes, os termos “III ven- trículo”, “IV ventrículo” e “ventrículos laterais” fo- ram mencionados. Eles são cavidades do encéfalo. Os ventrículos laterais (direito e esquerdo) locali- zam-se nos hemisférios cerebrais; o III ventrículo ica no diencéfalo; o IV ventrículo ica entre o bulbo, a ponte e o cerebelo. Eles produzem líquido cerebrospinal e se comu- nicam entre si, permitindo que este líquido circule. Ele é absorvido pelas granulações aracnoideas e é drenado para as veias que drenam o encéfalo. Desta forma, o líquido se mistura ao sangue e sofre os mes- mos processos de iltragem que ele. O líquido cerebrospinal é um luido aquoso e incolor que protege o sistema nervoso central, redu- zindo, desta forma, o risco de traumas. Além disso, ele torna o encéfalo mais leve, fazendo com que este lutue, e impede que o seu peso comprima as raízes dos nervos cranianos e dos vasos sanguíneos contra a superfície interna do crânio. O seu volume total é de 400 a 500 ml/dia, mas algumas pessoas podem apresentá-lo em maior quantidade (hidrocefalia). Ele se renova completamente a cada oito horas. Meninges Meninges são membranas conjuntivas que envolvem o sistema nervoso central, protegendo-o. Todavia elas podem ser acometidas por processos patológicos, como infecções (meningites) ou tumores (meningiomas). A dura-máter é a mais externa. Ela é muito vas- cularizada e inervada (quase toda a sensibilidade in- tracraniana depende dela, a qual é responsável pela maioria das dores de cabeça). A aracnoide-máter é intermediária e se relacio- na à absorção do líquido cerebrospinal por meio das granulações aracnóideas (como já mencionado). A pia-máter é a mais interna, aderindo intima- mente à superfície do encéfalo, acompanhando sul- cos, giros e vasos que penetram o tecido nervoso. Vascularização da cabeça e do pescoço Embora o encéfalo represente apenas uma pequena parte do corpo, ele recebe muito sangue e muito oxi- gênio. Isto por que as suas estruturas nobres e espe- cializadas exigem suprimento constante de glicose e oxigênio para o seu metabolismo. Por isto, a parada da circulação cerebral por mais de sete segundos leva à perda da consciência, e após cinco minutos, aparecem lesões irreversíveis. O luxo de sangue tende a diminuir durante o sono e é maior em áreas com mais sinapses. Assim, a falta de oxigênio faz com que áreas diferentes sejam lesadas em tempos diferentes. Figura 16 - Meninges encefálicas EDUCAÇÃO FÍSICA 181 A irrigação do encéfalo depende dos ramos das artérias carótida interna e subclávia. As suas veias não acompanham as artérias, são maiores, mais calibrosas, têm paredes muito inas, não têm válvulas e são prati- camente desprovidas de músculos. Os sistemas venosos supericial e profundo se comunicam e desembocam na veia jugular interna, a qual desemboca na veia sub- clávia e, posteriormente, no átrio direito do coração. Você já ouviu falar de neuroplasticidade? Você sabia que a prática de atividades motoras (exercícios físicos especíicos) estimulam o nosso cérebro de maneira fantástica, causando, inclusive, mudanças estruturais? Para saber mais, acesse: <http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2009/RN%20 17%2002/14.pdf>. Fonte: a autora. SAIBA MAIS Figura 17 - Artérias do encéfalo Círculo arterial do encéfalo 182 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Sistema Nervoso Periférico EDUCAÇÃO FÍSICA 183 Estudaremos as principais correlações do sistema nervoso periférico (SNP) com o movimento huma- no. Para tanto, abordaremos todas as estruturas que o constituem e, adicionalmente, discutiremos o que ocorre nas lesões nervosas. Todo o texto a seguir será baseado nas considerações de Aii e Bergman (2007), Machado e Haertel (2014) e outros autores importantes da área. FUNÇÃO DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉ- RICO O SNP, de maneira geral, conduz estímulos da pe- riferia do corpo ao SNC e leva comandos deste aos órgãos efetores (que podem ser músculos ou glân- dulas) (MOORE et al., 2014). ESTRUTURAS DO SISTEMA NERVOSO PE- RIFÉRICO O SNP é formado por neurônios localizados fora do SNC. De acordo com Miranda Neto e Chopard (2014), ele se organiza em quatro estruturas prin- cipais: terminações nervosas, gânglios (espinais e autônomos), nervos espinais e nervos cranianos. As terminações nervosas são estruturas especializadas em captar os estímulos da periferia do corpo; os gânglios são constituídos por corpos de neurônios; os nervos unem a parte central do SN às estruturas periféricas do corpo. Terminações nervosas As terminações nervosas são ramiicações das ex- tremidades das ibras nervosas dos nervos. Elas podem ser sensitivas ou aferentes (chamadas de receptores) e motoras ou eferentes (chamadas de junção neuroefetora). Os receptores são estimulados por uma forma de energia (calor, luz, pressão etc.) e então originam um impulso nervoso que segue até atingir o SNC para ser interpretado em áreas cerebrais próprias (como o giro pós-central ou as áreas 3, 2 e 1 de Brodmann). As terminações nervosas motoras fazem a contração muscular ou a secreção glandular, pois trazem as or- dens do SNC até os órgãos efetores. Existem receptores especiais e gerais. Os espe- ciais são mais complexos, estão ligados a um neu- roepitélio (como retina e órgão de Corti) e estão presentes nos órgãos dos sentidos (visão, audição, equilíbrio, olfato, gustação). Os gerais são mais simples, espalham-se pelo corpo e podem ser li- vres ou encapsulados, conforme tenham ou não uma cápsula de tecido conjuntivo que os envolva. Assim, enquanto os receptoresgerais livres não têm essa cápsula, os receptores gerais encapsula- dos são mais complexos, pois se ramiicam dentro de uma cápsula de tecido conjuntivo. Os simples são mais abundantes, ramiicam-se na pele e re- lacionam-se ao tato e às sensibilidades térmica e dolorosa. 184 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Dentre os receptores gerais encapsulados destacam- -se o órgão tendinoso de Golgi (OTG), o fuso neu- romuscular (FNM) e os corpúsculos sensitivos da pele. Os corpúsculos sensitivos incluem o corpúscu- lo de Meissner (receptor de tato e pressão, localizado principalmente na pele espessa das mãos e dos pés), de Ruini (receptor de tato e pressão, presente prin- cipalmente na pele espessa das mãos e dos pés e na parte pilosa do corpo) e de Vater-Paccini (receptor de sensibilidade vibratória, presente principalmente no tecido subcutâneo das mãos e dos pés, nos septos intermusculares e no periósteo). O FNM e o OTG são muito importantes para a contração e o alongamento muscular e, por isto, devem ser bem compreendidos por você, en- quanto diretamente relacionados ao movimento. O FNM é um receptor proprioceptivo composto por feixes de ibras musculares modiicadas cha- madas ibras intrafusais, uma vez que icam loca- lizadas dentro de uma cápsula de tecido conjun- Figura 18 - Tipos de receptores EDUCAÇÃO FÍSICA 185 tivo ibroso. Ele ica paralelo às ibras musculares extrafusais e se liga ao tendão do músculo. É ati- vado quando o comprimento das ibras muscu- lares varia (o que ocorre, por exemplo, durante a contração e o alongamento muscular). Assim, é importante para a manutenção do tônus mus- cular e para o relexo miotático (por exemplo, o relexo patelar). O OTG também é um receptor proprioceptivo que se localiza na junção da ibra muscular com o tendão do músculo esquelético. Ele permite ao SNC avaliar a força do músculo e é muito sensível à alte- ração na tensão deste (ao contrário do FNM, que é mais sensível à alteração do comprimento muscular). De maneira geral, os receptores podem ser classiicados de acordo com o tipo de estímulo que os ativa. Quimiorreceptores, por exemplo, são ati- vados por estímulos químicos como os do olfato, da gustação e da artéria carótida; osmorreceptores detectam variações na pressão osmótica; fotor- receptores são ativados pela luz (bastonetes e co- nes da retina); termorreceptores são ativados por estímulos térmicos (terminações nervosas livres); nociceptores são ativados por estímulos nocivos (terminações nervosas livres); mecanorreceptores são ativados por estímulos mecânicos (audição, equilíbrio, tato, pressão, vibração, barorreceptores da carótida, OTG e FNM). Além disso, os receptores também podem ser classiicados de acordo com o local onde estão. Ínteroceptores ou vísceroceptores estão nas vísce- ras e vasos, e permitem sensações viscerais pouco localizadas, como fome, prazer sexual, sede e dor visceral. Exteroceptores estão na superfície exter- na do corpo e são ativados por calor, frio, tato, pressão, luz e som. Proprioceptores estão nos mús- culos, tendões, ligamentos e cápsulas articulares, Figura 19 - Gânglios e os seus impulsos podem ser conscientes ou in- conscientes. Por im, a terminação nervosa motora pode ser somática ou visceral. A somática estimula o mús- culo estriado esquelético, formando a placa motora onde há liberação do neurotransmissor acetilcolina. As viscerais terminam no músculo liso, no estriado cardíaco ou nas glândulas, pertencem ao sistema nervoso autônomo e o seu neurotransmissor pode ser a acetilcolina ou a noradrenalina. Gânglios Os gânglios são aglomerados de corpos de neurô- nios localizados fora do sistema nervoso central, os quais são protegidos pelas células satélites. Existem gânglios espinais e autônomos. Os espinais são formados por neurônios sensiti- vos e estão ligados à raiz dorsal do nervo espinal. Os autônomos pertencem ao sistema nervoso autônomo e podem ser constituídos por corpos de neurônios simpáticos (gânglios simpáticos) ou parassimpáticos (gânglios parassimpáticos). Enquanto os gânglios simpáticos estão localizados predominantemente nas cavidades torácica e abdominal, os gânglios pa- rassimpáticos estão localizados principalmente no interior dos órgãos (gânglios intramurais). 186 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA ao telencéfalo e ao diencéfalo, e o nervo acessório que se origina na parte superior da medula espinal). Os nervos olfatório (I par) e óptico (II par) são sensitivos, pois são responsáveis, respectivamente, pelo olfato e pela visão. Os nervos oculomotor (III par), troclear (IV par) e abducente (VI par) são mo- tores, pois são responsáveis pelos movimentos dos músculos extrínsecos do olho. O nervo trigêmeo (V par) é misto e recebe este nome porque as suas ibras originam três nervos: otálmico, maxilar e mandibular. De maneira geral, ele dá a sensibilidade exteroceptiva (temperatura, dor, tato e pressão) de grande parte da cabeça (face, dentes, boca, cavidade nasal e dura-máter craniana), a sensibilidade exteroceptiva e proprioceptiva dos músculos mastigatórios e da articulação temporo- mandibular, inerva os músculos mastigatórios, o milo-hioideo, o ventre anterior do digástrico, o ten- sor do véu palatino e o tensor do tímpano. Se este nervo for acometido (nevralgia ou neuralgia do tri- gêmeo), pode haver dor intensa no couro cabeludo, na mandíbula, na fronte, nos olhos, nariz e lábios. O nervo facial (VII par) também é misto. Os seus ramos motores incluem o temporal, o zigomá- tico, o bucal, o marginal da mandíbula e o cervical, os quais inervam os músculos da expressão facial, da orelha, do ventre posterior do digástrico, do es- tilo-hioideo e do músculo estapédio. O nervo facial inerva as glândulas lacrimais e as glândulas salivares sublingual e submandibular. Adicionalmente, ele dá sensibilidade gustativa aos dois terços anteriores da língua, ao palato mole e a uma pequena área de pele da orelha. O nervo vestibulococlear (VIII par) permite o equilíbrio, a orientação espacial e a audição. A sua lesão pode causar enjoo, desequilíbrio, nistagmo, vertigem e hipoacusia. Nervos Nervos são feixes de ibras nervosas envoltas por te- cido conjuntivo e que se localizam fora do SNC. Os nervos unem este sistema aos órgãos periféricos e a sua função é conduzir impulsos nervosos eferentes do SNC à periferia do corpo, além de fazer o trajeto contrário, ou seja, conduzir impulsos nervosos afe- rentes da periferia do corpo ao SNC. Alguns nervos têm apenas ibras nervosas sensi- tivas (nervos sensitivos), outros, ibras nervosas mo- toras (nervos motores) e outros podem ter ambos os tipos (nervos mistos). Geralmente, os motores são profundos, e os sensitivos, supericiais. Em um mesmo nervo podem existir ibras ina- tivas, já que estas apresentam funcionamento inde- pendente. Os nervos podem rearranjar as suas ibras se anastomosando ou se bifurcando, e próximo à sua terminação, se ramiicam muito. São muito vascula- rizados, mas quase não têm sensibilidade (estímulos dolorosos causam dor no trajeto do nervo e não no ponto onde o estímulo foi feito). A velocidade de condução do impulso nervo- so varia dependendo do calibre das ibras nervosas que formam os nervos (em média, de 1 a 120 m/s). Os nervos são fortes, pois três membranas de teci- do conjuntivo sustentam e protegem as suas ibras: o endoneuro envolve cada ibra nervosa; o perineu- ro envolve um fascículo destas ibras; o epineuro une os vários fascículos. Eles podem ser espinais ou cranianos. Nervos cranianos São 12 pares de nervos cranianos ligados ao encéfa- lo, nominados e enumerados por algarismo romano. Eles entram e saem do crânio por forames. A maioria deles se conecta ao tronco encefálico (exceto os ner- vos olfatório e óptico que ligam-se, respectivamente, EDUCAÇÃO FÍSICA 187 Nervosespinais São 31 pares de nervos espinais ligados à medu- la espinal e que inervam o tronco, os membros, o pescoço e parte da cabeça. Eles são identiicados por uma letra (que identiica a região da medula à qual pertencem) e um número (que identiica a sua ordem). Por exemplo, o nervo T 4 é o quarto nervo da região torácica. Assim, existem oito nervos cer- vicais, 12 torácicos, cinco lombares, cinco sacrais e um coccígeo. Figura 20 - Nervos cranianos Figura 21 - Nervos espinais O nervo glossofaríngeo (IX par) é misto. Ele dá movimento ao músculo estilofaríngeo, permite a inervação da glândula parótida e dá sensibilidade ao terço posterior da língua e da faringe. O nervo vago (X par) é o nervo mais longo e o de distribuição mais extensa do corpo e, por isto, ele recebeu este nome (derivado do latim vagari, que signiica “errante”). Inerva palato, faringe, laringe, esôfago, brônquios, pulmões, coração, estômago e intestinos. Ele é misto. O nervo acessório (XI par) é formado por uma raiz craniana (bulbar) e outra espinal. Ele é motor e inerva músculos da laringe e das vísceras torácicas e os músculos trapézio e esternocleidomastoideo. O nervo hipoglosso (XII par) é motor e dá movi- mento aos músculos da língua. A sua lesão pode cau- sar desvio lateral da língua quando se faz a protrusão. 188 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Os nervos espinais emergem da medula espinal por meio de radículas que saem dos sulcos da medula e formam as raízes ventral e dorsal. Enquanto a raiz ventral tem axônios de neurônios motores e inerva órgãos efetores (músculos e glândulas), a raiz dorsal tem axônios de neurônios sensitivos vindos das ter- minações sensitivas da periferia e cujos corpos estão nos gânglios espinais. As raízes ventrais e dorsais unem-se e formam o tronco do nervo espinal, que é misto e com com- ponentes viscerais e somáticos. O tronco se divide em ramos dorsal e ventral. O dorsal inerva pele, músculos da região occipital, nuca, região dorsal do tronco e articulações sinoviais da coluna vertebral. São separados uns dos outros e não formam plexos nervosos (são unissegmentares). O ramo ventral inerva pele, músculos, ossos, ar- ticulações e vasos da região ântero-lateral do pesco- ço, tronco e membros. Na região torácica, os ramos ventrais têm trajeto paralelo às costelas (são unisseg- mentares), mas em outras regiões, se anastomosam e formam plexos plurissegmentares (com ibras de mais de um segmento medular). Os principais plexos são: cervical, braquial, lom- bar e sacral. No entanto também é descrito o plexo coccígeo, que inerva a articulação sacrococcígea, o músculo coccígeo e parte do músculo levantador do ânus. Dele se originam os nervos anococcígeos, que inervam uma pequena área de pele entre o cóccix e o ânus. Resumidamente, o plexo cervical inerva a pele e os músculos da cabeça, do pescoço, ombro e tó- rax, e tem um ramo de cada lado (o nervo frênico), que inerva o músculo diafragma. O plexo braquial inerva o membro superior. O plexo lombar inerva os músculos abdominais, as regiões inguinal e pú- bica e os membros inferiores. O plexo sacral inerva as vísceras pélvicas e o membro inferior. Este ple- xo emite, além de vários outros nervos, o nervo is- quiático. Este é popularmente chamado de ciático e é considerado o mais calibroso e longo nervo do corpo (chega aos dedos dos pés). O isquiático não inerva estruturas da região glútea, mas sim, os mús- culos posteriores da coxa, da perna e do pé, a pele da maior parte da perna e do pé e todas as articulações do membro inferior. Figura 22 - Formação dos nervos espinais EDUCAÇÃO FÍSICA 189 LESÃO NERVOSA Uma lesão nervosa pode ocorrer por diversas causas (trauma, facada, tiro etc.) e pode gerar graves danos, principalmente aos movimentos e à sensibilidade, pois quando uma lesão ocorre, é comum que o axô- nio se degenere. Em casos especíicos, todavia, pode haver a re- generação dos axônios e a reversão dos sintomas. Um fator que pode contribuir para a regeneração do neurônio é a presença de uma glicoproteína chama- da laminina, produzida pelas células de Schwann no SNP (no SNC, a laminina não é produzida). Ela atua como um fator neurotróico que estimula o cresci- mento neuronal. É possível, no entanto, que essa regeneração não ocorra espontaneamente, podendo, inclusive, ocor- rer formação de neuroma (um crescimento desorde- nado dos axônios, formando uma estrutura sensível, comum após amputações). Neste caso, uma inter- venção cirúrgica pode ser necessária. Figura 23 - Plexos 190 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA Para inalizarmos esta unidade, estudaremos os principais aspectos do sistema nervoso autônomo (SNA), apresentando as suas características gerais do ponto de vista morfológico e funcional, as prin- cipais diferenças entre SNA simpático e parassimpá- tico, fazendo, quando possível, a correlação de todo este conteúdo com o movimento humano. CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DO SN Funcionalmente, o SNA pode ser classiicado em SN visceral e somático. Enquanto o SN somático (tam- bém chamado de SN de vida de relação) permite ao organismo se relacionar com o meio ambiente que o cerca, o SN visceral (ou SN de vida vegetativa) per- mite ao organismo manter o seu controle interno (homeostasia corporal). Para isto, tanto o SN somático quanto o visce- ral apresentam vias sensitivas (aferentes) e motoras (eferentes). A via sensitiva no SN somático origina- -se em exteroceptores e, no SN visceral, origina-se em ínteroceptores ou vísceroceptores. Exterocep- tores são receptores sensitivos localizados na parte externa do corpo e cuja função é levar informações Sistema Nervoso Autônomo EDUCAÇÃO FÍSICA 191 da periferia ao SNC. Já os vísceroceptores são re- ceptores sensitivos localizados nas vísceras e cuja função é levar informações da parte interna do cor- po ao SNC. A via motora no SN somático traz comandos do SNC ao músculo estriado esquelético e a sua função é possibilitar movimentos voluntários. Já a via moto- ra do SN visceral leva comandos do SNC aos órgãos (constituídos de músculo liso ou estriado cardíaco), às glândulas e aos adipócitos, possibilitando, assim, ações involuntárias como batimentos cardíacos, mo- vimentos peristálticos e secreção glandular. Em resumo, se os aspectos funcionais desempe- nhados pelo SN forem voltados à sobrevivência do in- divíduo no meio que o cerca, estamos falando do SN somático. Mas se os aspectos funcionais desempenha- dos pelo SN forem voltados ao controle do ambiente interno do corpo, estamos falando de SN visceral. O SNA simpático é considerado toracolombar, pois os seus neurônios pré-ganglionares estão locali- zados nos segmentos torácicos e lombares da medula espinal. As suas ibras pré-ganglionares geralmente são curtas e fazem sinapse com neurônios pós-gan- glionares localizados em gânglios simpáticos verte- brais e pré-vertebrais. As suas ibras pós-ganglionares geralmente são longas, indo até os órgãos efetores. O simpático é responsável por: constrição dos vasos sanguíneos, dilatação da pupila, secreção das glându- las sudoríparas, ereção dos pelos, aumento do ritmo cardíaco, dilatação dos brônquios, diminuição do peristaltismo, fechamento dos esfíncteres do tubo digestório, estimulação da secreção da glândula su- prarrenal, aumento da contração da musculatura lisa do sistema genital masculino e feminino e ejaculação. O SNA parassimpático é considerado cranios- sacral, pois os seus neurônios pré-ganglionares localizam-se em núcleos do tronco encefálico, anexos aos nervos cranianos (III, VII, IX e X pa- res) e nos segmentos sacrais da medula espinal. As suas ibras pré-ganglionares geralmente são muito longas e fazem sinapse com os neurônios pós-ganglionares dos gânglios motores viscerais, que estão localizados próximos ou dentro das vís- ceras.Quando estimulados, fazem as glândulas la- crimais e salivares secretarem e causam constrição da pupila e dos brônquios, acomodação visual, bradicardia, ativação dos movimentos peristálti- cos, relaxamento dos esfíncteres do tubo digestó- rio, estimulação da secreção das glândulas anexas dos genitais e ereção. Fatores como tabagismo e estresse emocional es- timulam exageradamente o SNA simpático, predis- pondo à elevação da pressão arterial, à impotência Ainal, o que é o SNA? Ele nada mais é do que a via motora (eferente) do SN visceral. Desta forma, a sua função é levar os comandos do SNC às vísceras para manter a homeostasia. Ele é subdividido em SNA simpático, paras- simpático e SN entérico. REFLITA SNA SIMPÁTICO E PARASSIMPÁTICO As vias eferentes do SNA simpático e parassimpático apresentam dois neurônios. Um deles tem o corpo no SNC (neurônio pré-ganglionar), e o outro tem o corpo em gânglios motores do SNP (neurônio pós- -ganglionar). 192 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA sexual e aos distúrbios do sistema digestório. Por isto, se estes estímulos forem persistentes ou fre- quentes, pode haver sobrecarga em vários órgãos, in- clusive no coração. Tal fato é extremamente maléico e está associado às alterações comumente presentes no estresse, como taquicardia, “frio na barriga”, dor no estômago, alterações respiratórias e tantas outras relacionadas à ativação do SNA simpático. Os neurônios centrais do SNA constituem nú- cleos viscerais na medula espinal e tronco encefáli- co, e obedecem a centros superiores do diencéfalo, cerebelo e córtex cerebral. Os gânglios vertebrais localizam-se ao lado da coluna vertebral, são uni- dos entre si por feixes nervosos e formam o tronco simpático (direito e esquerdo), e estes se ligam aos nervos espinais por meio dos ramos comunicantes. Enquanto os gânglios pré-vertebrais icam à frente da coluna vertebral, os gânglios periféricos icam muito próximos ou dentro dos órgãos. SN ENTÉRICO O SN entérico é constituído por neurônios locali- zados entre as células da parede do tubo digestório. Ele é formado por neurônios sensitivos, motores e interneurônios. Os seus principais componentes são o plexo submucoso e o mioentérico. A maior parte dos neurônios motores são neurô- nios pós-ganglionares do SNA parassimpático. Os neurônios sensitivos são estimulados por alterações na tensão da parede dos intestinos e por alterações químicas na luz intestinal. Assim, pode-se dizer que o SN entérico é fundamental para o controle da mo- tilidade do intestino, da tonicidade dos vasos san- guíneos intestinais, da velocidade de proliferação das células de revestimento epitelial do tubo diges- tório, da secreção de hormônios e para a absorção de nutrientes (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).Figura 24 - Sistema simpático Figura 25 - Sistema parassimpático EDUCAÇÃO FÍSICA 193 RELAÇÃO SNA E MOVIMENTO HUMANO Inicialmente, nesta unidade, abordamos as subdi- visões do sistema nervoso, as suas funções gerais, a sua constituição em termos microscópicos (es- tudando as células que o formam e as funções que desempenham) e a sua constituição em termos ma- croscópicos (estudando cada estrutura que o forma, bem como os seus aspectos funcionais). Além disso, foi apresentada uma visão geral de como o sistema nervoso é capaz de controlar o funcionamento do corpo ao mantê-lo em constante homeostasia. Em um segundo momento, esta unidade enfa- tizou que o SN somático dedica-se à interação do indivíduo com o meio que o cerca, possibilitando movimentos voluntários e sendo, por isto, denomi- nado sistema nervoso de vida de relação. Por outro lado, o SN visceral se encarrega de manter o ade- quado funcionamento dos nossos órgãos, sendo, por isto, chamado de sistema nervoso de vida vegetativa. Ademais, é importante lembrar que a parte eferente ou motora do SN visceral é o chamado sistema ner- voso autônomo (SNA). Agora considerando o seu entendimento sobre todos os tópicos descritos anteriormente e a sua capacidade de perceber a integração entre eles, é importante que façamos uma correlação de como o SNA age em situações de realização do exercício físico. Em primeiro lugar, é importante pontuar que o SNA simpático está mais relacionado ao exercício, uma vez que este, de maneira geral, é responsável pela estimulação dos nossos órgãos, enquanto que o SNA parassimpático tende a diminuir tal estímulo. Assim, enquanto o SNA parassimpático tende a agir em situações de relaxamento (como quando dormi- mos, por exemplo), o SNA simpático tende a agir em situações em que nosso corpo é exigido com maior intensidade (como durante o estresse físico e psico- lógico e a prática de exercícios físicos). Isso acontece porque, durante o exercício físico, o nosso coração deve se contrair mais rapidamen- te e com maior força para permitir que um volume maior de sangue seja encaminhado ao músculos que estão se contraindo. Para tanto, o calibre dos vasos sanguíneos deve ser ajustado a im de que o luxo sanguíneo seja remanejado das vísceras para o apa- relho locomotor. Vale pontuar que a taquicardia ini- cialmente observada na prática do exercício tende a diminuir à medida que o indivíduo ganha condi- cionamento físico. Assim, em alguém sedentário, ocorre grande aumento da frequência cardíaca. Já em alguém com melhor preparo físico, a taquicardia é compensada pelo aumento da força de contração do coração. Este passa a se contrair menos vezes, porém, com maior volume de ejeção (ou seja, de sangue ejetado pelo coração quando este se contrai). Isto justiica o fato de um indivíduo com bom nível de treinamento aeróbio, por exemplo, não icar tão taquicárdico quanto um indivíduo sedentário. Ademais, os pulmões passam a ter que oxigenar uma quantidade maior de sangue a im de deixá- -lo arterial (já que recebem grande quantidade de sangue venoso advindo dos músculos). Para tanto, Figura 26 - Sistema nervoso entérico 194 ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA ocorre broncodilatação (os brônquios relaxam). Complementarmente, como o exercício físico é considerado um fator que modii ca a homeostasia corpórea e causa certo estresse físico (tanto maior quanto maiores forem a sua intensidade e duração), outras alterações ocorrem. As pupilas dilatam, e a salivação, o peristaltismo e a contração da bexiga urinária são inibidos. Todavia, a i m de que haja um fornecimento rápido de energia para possibilitar a contração muscular, o fornecimento de glicose é estimulado, assim como a secreção de adrenalina e noradrenalina. Ao término da prática do exercício, no entanto, faz-se necessário que haja uma atuação mais acen- tuada do SNA parassimpático para que o organismo retorne às suas condições basais de funcionamento. Assim, parte daquela sensação agradável que senti- mos após um treino deve-se ao relaxamento induzi- do pelo parassimpático. A prática de modalidades especíi cas de es- porte requer um treinamento também es- pecíi co. Um exemplo pode ser dado ao se trabalhar o condicionamento de atletas de surfe: o planejamento do treino físico deve ser baseado nas exigências cardiorrespiratórias e metabólicas impostas ao organismo durante as diferentes fases que compõem uma bateria competitiva de surfe. Assim, é essencial ao proi ssional de Educa- ção Física (por estar diretamente envolvido neste planejamento) compreender todas as adaptações cardiorrespiratórias e metabóli- cas ocorridas durante os diferentes eventos que compõem uma bateria competitiva desta modalidade. A mediação das adaptações cardiorrespirató- rias e metabólicas depende diretamente da contribuição do sistema nervoso autônomo. Portanto, o seu conhecimento em termos morfológicos e funcionais é essencial. Para saber mais, acesse: <http:// books.scielo.org/id/tb94w/pdf/cam- pos-9788523212209-08.pdf>. Fonte: a autora. SAIBA MAIS 195 consideraçõesinais O estudo desta unidade permitiu a visão geral sobre as divisões didáticas do SN e os seus principais aspectos morfológicos e funcionais. No desenvolvimento deste estu- do, foi enfatizado que as três principais partes do sistema nervoso (sistema nervoso central, sistema nervoso periférico e sistema nervoso autônomo) agem em conjunto para possibilitar o controle e a integração das atividades sensitivas, motoras, visce- rais, cognitivas e comportamentais do indivíduo. Certamente, o estudo especíico das estruturas que o formam, das funções que cada uma de suas estruturas desempenham e das formas de organização do sistema nervoso como um todo são pré-requisitos essenciais a quem trabalha com o movi- mento corpóreo, uma vez que este importante sistema está diretamente envolvido no planejamento, na execução, na correção e no aprimoramento deste movimento. É exatamente por isto que um atleta, mesmo sabendo como se faz um arremesso ou um chute e já tendo praticado isso inúmeras vezes, continua fazendo indeinidamen- te até conseguir a perfeição do ato motor. Além disso, é essencial entender como ocorre a conectividade do sistema nervo- so com os outros sistemas do corpo humano para que se tenha uma visão geral dos mecanismos que possibilitam a manutenção da vida em condições adequadas. pois embora o sistema nervoso de fato seja responsável pelos principais ajustes necessá- rios à homeostasia, ele não o faz de maneira isolada, mas sim na base da dependência e da coparticipação em relação aos outros sistemas. Por im, este conhecimento aplicado ao sistema nervoso, além de ser apaixo- nante, é extremamente relevante à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento das mais diversas desordens desse sistema. Por isto, o seu estudo histológico, anatômico e isiológico é imprescindível a todo proissional da saúde. Portanto, sugiro que você se aplique em conhecê-lo e, quem sabe, goste tanto do sistema nervoso a ponto de seguir nesta área. 196 atividades de estudo 1. As diferentes estruturas do sistema nervoso, em- bora ajam em conjunto, desempenham funções especíicas. Considere os seus conhecimentos sobre o tema e faça a associação correta entre estrutura nervosa e função. a) Medula espinal b) Hipotálamo c) Corpo caloso d) Bulbo e) Cerebelo ( ) Une partes semelhantes do telencéfalo. ( ) Contém o segundo neurônio da via motora. ( ) É responsável pelo equilíbrio, pela coordenação e aprendizagem motoras e pelo tônus muscular. ( ) Relaciona-se ao controle endócrino. ( ) Nele se localizam importantes centros nervosos, como o da respiração e o vasomotor. A sequência correta para a resposta da questão é: a) c, a, e, b, d. b) a, c, e, b, d. c) b, d, e, c, a. d) d, b, e, a, c. e) e, c, a, b, d. 2. Os nervos cranianos podem ser motores, sensiti- vos ou mistos e exercem funções especíicas. Es- tão elencados a seguir os nomes de alguns pares de nervos cranianos. Associe tais nomes às suas deinições. I - I. Nervo facial II - II. Nervo vago III - III. Nervo trigêmeo IV - IV. Nervo acessório ( ) Nervo misto cuja função é complementada pelo VII par de nervo craniano, uma vez que au- xilia na inervação sensitiva da face. Além disso, é responsável pela inervação motora dos músculos mastigatórios. ( ) Nervo motor responsável pela inervação dos músculos esternocleidomastoideo e trapézio. ( ) Inerva importantes órgãos do corpo, como o coração e os intestinos. ( ) Nervo misto que dá parte da inervação sen- sitiva à face e a inervação motora dos músculos mímicos (da expressão facial). A sequência correta para a resposta da questão é: a) III, I, IV, II. b) IV, III, II, I. c) II, III, I, IV. d) I, II, III, IV. e) III, IV, II, I. 3. A imagem a seguir mostra um fragmento do te- cido nervoso com algumas de suas células. Con- siderando que neurônios e células da glia coe- xistem tanto no sistema nervoso central (SNC) quanto no sistema nervoso periférico (SNP), e que desempenham funções especíicas, preen- cha o quadro com as funções especíicas das cé- lulas da glia: 197 atividades de estudo Célula Função Astrócito Micróglia Células ependimárias Células satélites Células de Schwann 4. Anos de pesquisa em neurologia têm mostrado que cada área do encéfalo desempenha funções especíicas, o que explica o fato de que sintomas diferentes podem aparecer em indivíduos que sofreram traumatismo crânio encefálico (TCE) em diferentes regiões. Alguns importantes pes- quisadores, como Paul Pierre Broca, Karl Werni- cke e Brodmann, identiicaram alguns dos vários centros nervosos atualmente conhecidos. Preen- cha a tabela a seguir com os nomes das áreas en- cefálicas numeradas de 1 a 5 e explique as suas principais funções: Estrutura Nome Função 1 2 3 4 5 5. Enquanto o sistema nervoso somático cuida da relação do indivíduo com o meio, o sistema ner- voso visceral é responsável pelo funcionamento dos órgãos. Considerando que o sistema nervo- so autônomo (SNA) representa a parte eferente ou motora do sistema nervoso visceral, assinale a alternativa correta: a) O SNA simpático causa a diminuição do di- âmetro da pupila. b) O SNA parassimpático causa taquicardia. c) O SNA simpático e parassimpático agem em concordância para possibilitar a home- ostasia corpórea. d) Durante o período que antecede e prepara o organismo para o sono, o SNA simpático age de maneira expressiva. e) O exercício físico ativa principalmente o SNA parassimpático. 198 LEITURA COMPLEMENTAR Leia o artigo indicado a seguir que trata de como o exer- cício físico pode modii car o funcionamento do SNA. Nes- te estudo, os autores apresentam avaliações dos níveis de atividade do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático em atletas de alta performance pratican- tes de atletismo. A avaliação dos atletas do estudo foi feita considerando a análise de variabilidade da frequ- ência cardíaca. A leitura vale a pena. Apaixone-se pela neurologia! COMPORTAMENTO DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO EM ATLETAS DE ALTA PERFORMANCE O exercício físico regular está associado com uma taxa de mortalidade global diminuída. Os efeitos benéi cos do exercício físico regular contribuem para a saúde de uma forma global e para reduzir a mortalidade cardiovascu- lar incluindo, por exemplo, inl uências no metabolismo lipídico, melhora da resistência à insulina, e tem também efeitos na função sistema nervoso autônomo. A variabilidade da frequência cardíaca signii ca a oscila- ção no intervalo entre sucessivos batimentos cardíacos como também a oscilação entre sucessivos batimentos cardíacos instantâneos e intervalos R–R. A modulação cardíaca autonômica é o principal regula- dor da Variabilidade da FC (VFC), sendo assim, a variabili- dade da FC é um indicador indireto, qualitativo e quanti- tativo da função do sistema nervoso autônomo. A FC é primariamente controlada pela atividade direta do sistema nervoso autônomo na ritmicidade própria do nódulo sino-atrial, pelos seus dois ramos (simpático e parassimpático). No repouso prevalece a atividade vagal (parassimpáti- ca), que é progressivamente inibida com o aumento do exercício onde passa a prevalecer a atividade simpática. Imediatamente após o exercício o que se encontra ainda é uma prevalência de atividade simpática e uma inibição parassimpática. O treinamento esportivo utilizado neste estudo foi o treino metabólico, que se caracteriza por um estresse ao metabolismo energético de forma geral e/ou sistema cardiorespiratório. Exemplo, trabalhos que estimulem a geração de energia via sistemas aeróbicos ou anaeróbi- cos láticos ou aláticos. Este estudo teve como objetivo analisar o comporta- mento do sistema nervoso simpático e parassimpático em atletas de alta performance praticantes de atletismo através da variabilidade da frequência cardíaca por sis- tema informatizado especíi co, verii cando-se também a possibilidade de utilizaçãodeste tipo de análise como um teste de screening para a presença de distúrbios au- tonômicos que possam interferir na i siologia e conse- quentemente na performance dos atletas. O estudo se justii ca pelos seguintes motivos: importân- cia da quantii cação dos níveis de recuperação do atleta após treinamento, necessidade de individualização de prescrição de treinamento e recuperação após esforço e necessidade de praticidade para aferição de condições de recuperação. Fonte: Valio et al. (2005). 199 material complementar Diário de uma paixão Ano: 2004 Sinopse: na década de 40, na Carolina do Sul, o operário Noah Calhoun e a rica Allie estão desesperadamente apaixonados, mas os pais da jovem não aprovam o namoro. Quando Noah vai para a Segunda Guerra Mundial, parece ser o i m do romance. Enquanto isso, Allie se envolve com outro homem. Quando Noah retorna, anos mais tarde, perto da data do casamento de Allie, logo se torna claro que a paixão ainda não acabou. A história é narrada a partir da atualidade por um homem idoso a uma senhora portadora de um tipo de demência senil e residente em um lar de idosos. Comentário: é um lindo e emocionante i lme que você não pode deixar de assis- tir. Nele pode-se entender como uma degeneração do sistema nervoso pode de fato destruir a memória de uma vida toda. Ao mesmo tempo, é possível ver como o amor verdadeiro não abandona o incapaz. É uma valorosa lição de vida! Indicação para Assistir : na década de 40, na Carolina do Sul, o operário Noah Calhoun e a rica Allie estão desesperadamente apaixonados, mas os pais da jovem não aprovam do romance. Enquanto isso, Allie se envolve com outro homem. Quando Noah retorna, anos mais tarde, perto da data do casamento de Allie, logo se torna claro que a paixão ainda não acabou. A história é narrada a partir da atualidade por um homem idoso a uma senhora portadora de um tipo de demência senil e residente 200 referências AFIFI, A. K.; BERGMAN, R. A. Neuroanatomia funcional: texto e atlas. São Paulo: Roca, 2007. BORELLA, M. P.; SACCHELLI, T. Os efeitos da prática de atividades motoras sobre a neuroplasticidade. Rev. Neurocienc., v. 17, n. 2, p. 161-169, 2009. Disponível em: <http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2009/RN%2017%2002/14.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2018. GARCIA, P. M., MOSQUERA, C. F. F. Causas neurológicas do autismo. O Mosaico – Revista de Pesquisa em Artes da Faculdade de Artes do Paraná. n. 5, jan./jun. 2011. MACHADO, A. B. M.; HAERTEL, L. M. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Pau- lo: Atheneu, 2014. MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem di- nâmica. Maringá: Clichetec, 2014. MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia orien- tada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. PALMEIRA, M. V.; WICHI, R. B.; CAMPOS, H. J. B. C.; MIRANDA, J. M. Participa- ção do sistema nervoso autônomo nas alterações cardiorrespiratórias e metabólicas durante a prática competitiva do surfe. Práticas investigativas em atividade física e saúde, Salvador, p. 153-164, 2013. VALIO, M. A.; PASTRE, C. M.; NETTO JR, J.; SERILO, T. B.; OLIVEIRA, L. V. F. Comportamento do sistema nervoso autônomo em atletas de alta performance. Re- vista Univap, São José dos Campos, v. 12, n. 23, 2005. referências 201 gabarito 1. A. 2. E. 3. Astrócitos: controlam a nutrição neuronal e o inluxo de eletrólitos aos neurônios. Micróglia: são células fagocíticas envolvidas na defesa do sistema nervo- so central e na eliminação de invasores (vírus, bactérias etc.). Células ependimárias: estão relacionadas à produção do líquido cere- brospinal. Células de Schwann: sintetizam a bainha de mielina no sistema nervoso periférico. 4. 1 - Giro pré-central: Nesta área, localiza-se a área primária do movimento. Uma lesão pode causar plegia ou paralisia. 2 - Giro pós-central: nesta área, localiza-se a área somestésica responsável pela sensibilidade do corpo. Uma lesão pode causar alterações sensitivas. 3 - Giro frontal inferior (área de Broca): nesta área, localiza-se a área mo- tora da fala (do lado esquerdo do cérebro). Uma lesão pode causar afasia motora. 4 - Giro temporal superior (área de Wernicke): nesta região, localiza-se a área da compreensão da linguagem. A sua lesão causa afasia sensitiva, cujo indivíduo ouve, mas não compreende o signiicado da mensagem. 5 - Lobo occipital: neste lobo, localiza-se a área primária da visão. A sua lesão pode causar danos à acuidade visual. 5. C. gabarito conclusão geral Neste momento, eu espero que você esteja feliz e sa- tisfeito(a) consigo mesmo(a), ainal, você acabou de conhecer os principais aspectos anatômicos e fun- cionais de todos os sistemas que constituem o corpo humano. Também acredito que, depois de adquirir todo este conhecimento tão especíico, você já esteja concordando comigo quando eu airmo que a cons- tituição e o funcionamento do nosso corpo é perfei- to. De fato, um milagre! Hoje você é capaz de entender como os siste- mas circulatório e respiratório agem em conjun- to para possibilitar que as nossas células recebam sangue oxigenado e rico em nutrientes, ao mesmo tempo em que delas retiram os seus produtos re- siduais. Com o seu conhecimento adquirido, você pode compreender como ocorre o processo de di- gestão e como o sistema endócrino atua em con- cordância com o sistema nervoso para coordenar todas as funções do corpo. De igual modo, você é capaz de entender a interação e as particularidades entre os sistemas urinário e genital. E o melhor de tudo: você pode airmar, sem medo de errar, que sabe como o movimento humano é planejado, exe- cutado, corrigido e otimizado. Parabéns! Sinta-se orgulhoso(a)! Desejo que você bem utilize todas as descobertas feitas sobre o corpo humano em sua vida proissio- nal e, muito mais do que isso, que você as transmita àqueles que não puderam desfrutar dos mesmos pri- vilégios em relação às oportunidades de aprendiza- do. Isto é, estenda o seu conhecimento! Ademais, espero sinceramente que você seja pro- issionalmente muito bem-sucedido(a). A meu ver, o segredo para isto é nunca perder de vista que o ser humano, embora muito complexo, deve ser vis- to com base em sua constituição e funcionabilidade. Para isto, a sua dedicação e o seu estudo em relação à sua “matéria-prima” nunca deve parar. Nunca sabe- remos tudo. Nunca poderemos parar de estudar e de nos dedicarmos integralmente ao que fazemos. As- sim, certamente exerceremos a nossa proissão com excelência e de maneira grandiosa. Grande abraço!