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Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Farmacologia dos antiparasitários PARASITOSES Grave problema de saúde pública Prevalência Zona geográfica Condições climáticas Condições socioeconômicas da população Risco de infecções Condições higiênico-sanitárias precárias Controle inadequado do vetor Imunodeficiência do hospedeiro Estado nutricional Idade Fatores genéticos Resistência aos tratamentos convencionais São causadas por protozoários (unicelulares) e metazoários (pluricelulares, sendo os helmintos e os artrópodes) Epidemiologia Em 2014 levaram a 10 mil internações Prevalente no norte e nordeste As geomintoses (transmissão orofecal) são prevalentes em crianças em idade pré-esco- lares A neurocisticercose é mais incidente no sul e sudeste (consumo de carne mal-passada) 3 milhões de brasileiros estão infectadas com a doença de chagas Tratamento Não farmacológico – educação, investimento em infraestrutura, fiscalização e controle dos doadores de sangue Farmacológico – redução da carga parasitária para níveis toleráveis matando, inibindo ou pa- ralisando os parasitas MALÁRIA Agente etiológico Provocada pelo parasita do gênero Plasmodium Transmissão Picada pela fêmea infectada do mosquito Anopheles Esporozoítos são encaminhados para a circulação a partir da picada, no fígado os esporozoítos da- rão origem aos merozoítos que atingem a circu- lação sistêmica, o ciclo assexuado dos merozoítos dá origem aos gametócitos que podem ser adqui- ridos novamente pelo mosquito onde acontece a reprodução sexuada e a origem dos esporozoítos Mosquito -> homem -> mosquito Ciclo evolutivo da malária Mosquito pica o humano e libera os esporozoítos No fígado os esporozoítos se multiplicam for- mando o esquizonte que no tamanho adequado se rompe liberando os merozoítos Os merozoítos infectam as hemácias e se dividem formando esquizontes (aglomerados de merozoí- tos) e na carga parasitária adequada se rompem liberando novos merozoítos Os merozoítos podem se diferenciar em gametó- citos masculinos e femininos que podem ser su- gados pelo anófeles desenvolvendo lá sua repro- dução sexuada Algumas espécies têm um crescimento mais lento (hipnozoítos) originando a forma latente da malá- ria Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Os fármacos atuam em diferentes pontos do ci- clo evolutivo, podendo estar no tratamento agudo ou latente Sintomas Aparecem de 7 a 9 dias depois da picada (fase exoeritrocítica) Causa febre alta (lise celular leva ao aumento da concentração de TNFalfa), calafrios, sudorese, cefaleia, fadiga, icterícia de intensidade variável Mais raramente causa dores nas articulações, in- suficiência renal, insuficiência respiratória, ane- mia, sangramentos, hipoglicemia persistente e convulsões generalizadas Apresentações clínicas Varia em função do tipo de plasmodium P. falciparum – a mais grave, ciclo de 48 ho- ras, no terceiro dia surge a febre, malária terçã maligna, apenas apresenta uma forma aguda (não permanece por muito tempo no estado exoeritrocítico), forma agregados de eritrócitos capazes de desencadear disfun- ções orgânicas P. vivax – ciclo de 48 horas, malária terçã benigna, tem um estado exoeritrocítico (reci- divas) P. ovale – semelhante ao vivax e é mais raro P. malariae – ciclo de 73 horas, febre quartã, não apresenta um ciclo exoeritrocítico Fármacos Não existe nenhum que atue nos esporozoítos Primaquina – atua nos hipnozoítos Atovaquona/proguanil – atua no estágio primário hepático Artemisininas, cloraquina, mefloquina, quinina/qui- nidina, primetamina, sulfadoxina, tetraciclina, atovaquona/proquanil e primaquina – podem atuar nos estágios sanguíneos, assexuado ou ga- metócito FARMACOLOGIA DA MALÁRIA Inibidores do metabolismo do heme CLOROQUINA Fármaco de escolha desde 1940 Esquizonticida sanguíneo Trata os indivíduos infectados pelos P. vivax, P. malariae e P. ovale Mecanismo de ação – base fraca que atravessa o vacúolo alimentar do parasito que é ácido, a clo- roquina fica sequestrada no vacúolo e se acumula, inibindo a polimerização de ferriprotoporfirina IX (heme) em hemozina, processo essencial para re- dução da toxicidade do grupo heme (reage com o o2 formando superóxido), a inibição promove o acúmulo de metabólitos tóxicos, algumas espécies mutadas produzem uma quantidade suficiente de enzimas antioxidantes, o que dá origem a cepas resistência Outro mecanismo de resistência é promover o efluxo do fármaco dos vacúolos (P. falciparum, P. vivax) Efeitos adversos Normalmente bem tolerada Pouco frequentemente vômitos, dor abdomi- nal, cefaleia, anorexia, turvação da visão, sin- tomas de urticária Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Raramente ocorre hemólise, comprometi- mento auditivo, confusão psicose, convulsões, agranulocitose, dermatite esfoliativa, alopecia, esbranquiçamento do cabelo, hipotensão, al- terações do ECG Injeções IM ou IV rápidas podem causar hipo- tensão e paradas respiratórias e cardíacas QUININA E QUINIDINA (ISÔMEROS) Atua no metabolismo do heme, mas se acumulam menos Intercala-se no DNA por ligação de hidrogênio e inibe a transcrição e translação do DNA Tratamento no estágio eritrocitário agudi Efeitos adversos Cinchonismo (zumbido, surdez, cefaleias, náu- seas, vômitos e distúrbios visuais) Pode estimular a liberação de insulina Pode prolongar o intervalo QT cardíaco Inibidores do transporte de elétrons PRIMAQUINA Esquizonticida tecidual – destrói os hipnozoítos hepáticos nas formas latentes (cura completa da forma latente) Não afeta os esporozoítos Possui ação gameticida Inibe o processo transmissão, mas não é efetiva no tratamento da doença em si (sempre utilizada em combinação) Etaquina e tafenoquina são os análogos mais ati- vos Mecanismo de ação – acredita-se que se relaci- ona com o seu metabólito quinona que interfere na função da ubiquinona como transportador de elétrons na cadeia respiratória causando um es- tresse oxidativo Efeitos adversos Náusea, cólica e cefaleia Raramente leucopenia, agranulocitose, leuco- citose e arritmias cardíacas Indivíduos com deficiência de G6PD pode pro- vocar hemólise potencialmente fatal Não usar em gestantes uma vez que atra- vessa a barreira placentária causando hemó- lise dos eritrócitos fetais ATOVAQUONA Análogo estrutural da ubiquinona, interfere na ca- deia de transporte de elétrons interrompendo a síntese de pirimidinas Usada sempre em combinação que pode ser feita com a doxiciclina (inibidor da síntese proteica Utilizada na terapia antimalária resistente e na profilaxia Não usar em gestantes ou lactantes (risco de mal formação fetal) Inibidores da síntese proteica Doxiciclina e tetraciclina inibe a síntese proteica na subunidade 30s Clindamicina (lincosamina) inibe a síntese proteica na subunidade 50s Úteis para o tratamento de malária resistente a cloroquina em associação com o artesunato ou quinina Fármacos que atuam na síntese do folato SULFONAMIDA (DULFADOXINA) E SULFONA (DAPSONA) Inibem a enzina di-hridropteroato sintetase São ativas contra esquizontes sanguíneos do P. falciparum PIRIMETAMINA E PROGUANIL Inibem a di-hidrofolato redutase Proguanil tem efeito adicional no estágio hepático Sulfadoxina-pirimetamidina foi muito utilizada, mas hoje muitas cepas são resistentes Proguanil é mais utilizado com a atrovaquona Artemisinina e compostos relacionados Primeira opção para o tratamento de indivíduos infectados pelo P. falciparum em muitas regiões Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Derivados – artesunato, artemeter, di-hidroarte- mininina Afetam gametócitos do estágio sanguíneo evi- tando a transmissão Mecanismo de ação – alquila macromoléculas for-mando adutos tóxicos para os parasitas, um dos alvos é atuar em uma bomba de cálcio Possui uma meia vida curta, o que fornece um risco de resistência e de recrudescência Devem ser combinadas com um segundo agente de meia vida mais longa Esquemas terapêuticos O esquema longo é de 4 e 14 dias Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA AMEBÍASE 90% dos casos são causados pela Entamoeba histolytica, as demais espécies são comensais A histolytica recebe esse nome, pois os trofozo- ítos lisam as células do hospedeiro Ciclo evolutivo Possui apenas o homem como hospedeiro A infecção ocorre pela ingestão dos cistos pelo ser humano (água e alimentos contaminados) No intestino delgado ele se desencista e se trans- forma em trofozítos (lesões) ou se proliferam (disseminação, vai para as fezes) Quadro clínico Infecção intestinal assintomática Diarreia recorrente e dor abdominal (luminal) Colite leve a moderada, diarreia sanguinolenta, as- sociada a febre e dor abdominal com risco de perfuração intestinal (invasiva) Abcesso hepático, hepatomegalia, ameboma e plurite (extraintestinal) Tratamento Metronidazol (Flagyl) Amplo espectro – atua contra protozoários (amebíase, giardíase e tricomoníase), bacté- rias anaeróbias e microaerófilas É um pró-fármaco – é ativado pela redução do grupo nitro pelos organismos susceptíveis (protozoários e bactérias) Mecanismo de resistência – níveis crescen- tes de O2 nesses organismos inibem sua to- xicidade, redução do nível da PFOR e da fer- redoxina, aumentar a expressão de superó- xido dismutase e de peroxidorredoxina (antio- xidantes), surgimento de gnes de resistência ao nitroimidazol que converte o 5-nitroima- dazol em 5-aminoimidazol (modificação da mo- lécula do metronidazol) Pode ser administrado por várias vias (versá- til), bem absorvido por via oral, tem meia vida de 8 horas, tem ampla distribuição pelos dife- rentes tecidos e fluidos corporais, não atra- vessa a placenta (pode ser utilizado na gravi- dez), interage com vários medicamentos (in- dutores do seu metabolismo: fenobarbital, prednisona, rifampicina, etanol / inibe seu metabolismo: cimetidina / potencializa o Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA efeito da varfarina, aumentando o risco de hemorragia) Efeitos adversos – gosto metálico, náuseas, boca seca e cefaleia (comum), diarreia, vô- mito, insônia, fraqueza, tontura, monilíase oral, exantema, disúria, urina escura, verti- gem, parestesias e neutropenia (infrequen- tes), pancreatites e toxicidade grave no SNC (raros) e quando interage com o álcool produz efeitos semelhantes ao dissulfiram Tinidazol – meia vida de 12 a 14 horas Secnidazol – meia vida de 14 a 30 horas Os dois últimos possuem mecanismos de ação e efeitos adversos semelhantes aos do me- tronidazol, mas com tempo de meia vida maior Paromomicina Aminoglicosídeo da família das canamicinas Mecanismo de ação – inibe a síntese proteica inibindo a subunidade 30 s do parasita Fármaco não absorvido no TGI – por via oral tem efeito local É utilizado principalmente contra a amebíase, mas pode ser usado contra a criptosporidí- ase, giardíase e tricomoníase (tópico) Efeitos adversos raros – náuseas, vômitos, dor abdominal, esteatorreia e diarreia GIARDÍASE Causada pela Giardia lamblia, um protozoário fla- gelado produtor de cistos altamente resistentes a cloração, desidratação e temperaturas extre- mas Ciclo evolutivo Alimentos e água contaminadas podem apresen- tar os cistos que podem ser ingeridos pelo ho- mem e dentro do organismo se transformarem em trofozoítos ou continuarem como cistos, as duas formas podem ser eliminadas pelas fezes, mas apenas os cistos têm potencial infeccioso por ser mais resistente Quadro clínico Alguns pacientes são assintomáticos Pode surgir uma doença autolimitada aguda (fezes aquosas, de mau cheiro, distensão abdominal e flatulência) Pode evoluir para uma síndrome da diarreia crô- nica, que é quando a doença persiste por mais de duas semanas e apresenta sinais de má absorção (esteatorreia) e perda ponderal Adultos podem cursar sem diarreia e apenas com sintomas bem inespecíficos (dor abdominal, cólica, flatulência, anorexia, perda de peso, fadiga, vô- mito e até febre) Tratamento Nitazoxanida (Annita) Derivado nitrotiazolil-salicilamida Amplo espectro – atua contra protozoários, bactérias anaeróbias e helmintos, mas princi- palmente contra a giardíase e criptosporidí- ase É um pró-fármaco, é ativada em tizoxanida Mecanismo de ação – inibe a enzima piruvato ferrodoxina oxidorredutase (altera a polime- rização da tubulina e a divisão celular) Efeitos adversos – náuseas, vômitos e dor abdominal e urina esverdeada (muito comum) Metronidazol Tinidazol Secnidazol Paromomicina TRICOMONÍASE IST causada pelo Tricomonas vaginalis Ciclo evolutivo Trofozoítos se instalam na mucosa vaginal e na uretra peniana podendo assim ser transmitida Quadro clínico Mulheres – vaginite (leucorreia, edema, irritação e prurido vulvar) Homens – uretrite (bem menos frequente), nor- malmente são assintomáticos Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Tratamento Metronidazol Tinidazol Secnidazol Paromomicina TRIPANOSSOMÍASE – DOENÇA DE CHAGAS Doença parasitária causada pelo Trypanosoma cruzi Ciclo evolutivo O triatomíneo (barbeiro) contaminado pela forma tripomastigota pode picar e defecar no ser hu- mano depositando os tripomastigotas que inva- dem células (principalmente cardíacas), se trans- formam em amastigotas e se multiplicam até o rompimento da célula e se transformam na forma tripomastigota sanguínea que pode ser ab- sorvida por outros barbeiros, no intestino do ba- beiro o tripomastigota pode se transformar em epimastigota que se multiplicam e se transfor- mam em tripomastigotas Outras formas de contaminação são por via oral, vertical, transfusional e acidental Quadro clínico Sintomas agudos – febre prolongada (mais de sete dias, mal-estar, cefaleia, fraqueza muscular, aumento dos gânglios linfáticos, edema no local da mordida, a tenção a epidemiologia é importante para o levantamento da hipótese diagnóstica Problemas cardíacos – alargamento dos ventrí- culos, causando insuficiência cardíaca em 20% dos casos Problemas digestivos – 10% das pessoas podem desenvolver megaesôfago e megacólon Pequena quantidade de pessoas podem desenvol- ver problemas do SNC Tratamento A terapêutica disponível até o momento tem um caráter supressivo, não curativo, o objetivo é manter a ação supressiva do fármaco durante o maior período possível (o tratamento não deve durar menos que 90 dias) para provocar a exa- ustão da infecção pelo T. cruzi Benznidazol e nifurtimox Tripanocidas contra formas tripomastigotas e amastigotas Mecanismo de ação – são ativados por uma nitrorredutase mitocondrial dependentes de NADH, que forma radicais nitro aniônicos ca- pazrs de causar danos celulares Efeitos adversos são náuseas, vômito, mialgia, fraqueza e reações de hipersensibilidade que podem ser tratadas com anti-histamínicos, efeitos menos comuns e dependentes da dose são dor de cabeça, distúrbios psíquicos, parestesias, polineurites e excitabilidade do SNC Protocolo Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA LEISHMANIOSE Doença dependente de vetor (flebotomíneo fê- mea) que pode carregar diferentes tipos de leish- manias (cutânea ou visceral) Ciclo evolutivo Flebotomíneos picam o indivíduo e depositam for- mas pró-mastigotas do parasita que são fagoci- tadas pelos macrófagos e nessas células se transformam em amastigotas e se proliferam continuamente até gerar a ruptura celular, uma vez o flebotomíneo picando o indivíduo infectado, ele carrega macrófagos infectados com amasti- gotas, no intestino do flebotomíneoos amastigo- tas são transformados em pró-mastigotas que se multiplicam e migram para a orofaringe do in- seto Quadro clínico Forma cutânea – mais branda, caracterizada pela formação de feridas desagradáveis que podem ser curadas espontaneamente, embora eventualmente possam deixar cicatrizes Forma mucocutânea – apresentação de grandes úlceras nas membranas mucosas da boca, nariz e garganta Forma visceral – caracterizada por hepatome- galia, esplenomegalia, anemiai e febre intermi- tente Tratamento Antigo e tóxico Antimônios pentavalentes – antimoniato de me- glumina e estibogliconato de sódio) Mecanismo de ação – pró-fármacos que são reduzidos a espécies mais tóxicas de antimô- nios que matam amastigotas nas fagolisosso- mas dos macrófagos (morte por estresse oxidativo) Cepas de leishmania são resistentes ao tra- tamento antimonial – bombas de efluxo de fármacos Anfotericina B Única opção no tratamento de estantes e pa- cientes que tenham contraindicações ou que manifestem toxicidade ou refratariedade re- lacionada ao uso dos antimônios pentavalentes Age como um ionóforo que causam extrava- samento de cátions do citoplasma Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Miltefosina Análogo da alquilfodfocolina, originalmente de- senvolvida como um agente antineoplásico Altamente curativo contra leishmaniose vis- ceral e também eficaz contra formas cutâ- neas da doença Mecanismo de ação – desconhecida, mas acredita-se que atua no metabolismo do éter- lipídeo, na metabolização celular ou na biossín- tese da âncora de glicosilfosfatidilinositol (lesi- onando a membrana parasitária) Administrado por via oral e normalmente bem tolerado Os efeitos adversos são náuseas e vômitos É teratogênico Não observado nos protocolos brasileiros do tratamento HELMINTOS Vermes pluricelulares de vida livre ou parasitas Podem infestar o fígado, o sangue, o intestino e outros tecidos do hospedeiro humano Classificação Platelmintos – vermes achatados com tubo digestivo ausente ou rudimentar Nematelmintos – cilíndricos e com intestino completo Anelídeos – vida livre Ciclo evolutivo Bio-helmintos – participação de um ou mais hospedeiros além do ser humano (normal- mente os platelmintos) Geo-hemintos – parte do ciclo evolutivo ocorre no solo (fonte de infecção que contém ovos ou larvas), não necessitando de um outro hospedeiro (maioria dos nematelmintos) A presença de um sistema nervoso rudimentar proporciona diversos alvos possíveis para os agentes farmacológicos Mecanismo de ação geral – paralisia do verme dificultando sua fixação na parede intestinal, alte- ração do processo metabólico Os fármacos devem ser capazes de penetrar na cutícula exterior dura do verme ou ter acesso ao seu trato alimentar em concentrações suficiente para que o fármaco seja efetivo BENZIMIDAZÓLICOS Principais anti-helmínticos utilizados clinicamente Todos os fármacos possuem o anel benzil-imidazol Tiabendazol causa muita náusea, vômitos e ano- rexia, sendo utilizado mais topicamente O mebendazol e o albendazol são mais bem tole- rados tendo uma maior biodisponibilidade oral Cambendazol tem indicação mais restrita a es- trongilodíase Mecanismo de ação Inibição seletiva da beta tubulina helmíntica impe- dindo a motilidade e a replicação do DNA, gerando alterações degenerativas nas células tegumenta- res e intestinais dos helmintos, causando a imobi- lização e morte dos vermes As alterações bioquímicas evidentes são: a inibição da enzima fumarato redutase mitocondrial, redu- ção do transporte de glicose e bloqueio da fosfo- rilação oxidativa É de 250 a 400 vezes mais efetivo no tecido helmíntico do que nos mamíveros Tiabendazol Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Primeiro derivado bezimidazólico que apresenta muitos efeitos adversos É um anti-helmíntico polivalente É utilizado principalmente na forma tópica e de forma oral apenas em casos que outros fárma- cos são ineficazes Tem potencial teratogênico, podendo ser apenas utilizado com cautela após o 2 trimestre de ges- tação A indicação terapêutica é em combate as larvas migrans cutâneas (erupção serpiginosa) Mebendazol Tem uma baixa absorção e consequentemente um efeito local (TGI) e uma baixa incidência de efeitos colaterais, refeições gordurosas aumen- tam a absorção Os efeitos adversos são a distensão abdominal e diarreia e não deve ser administrado em mulhere grávidas e lactantes As indicações terapêuticas Ancilostomíase Ascaridíase Enterobíase Necatoríase Tricuríase Estrongiloidíase Albendazol Absorção limitada e aumentada na presença de alimentos gordurosas e sais biliares Sofre metabolização hepática e possivelmente in- testinal para se tornar um metabólito ativo Mais eficaz que o mebendazol contra ancilosto- míase, ascaridíase, cisticercose (administrar junto com um corticoide para diminuir a chance de ha- ver uma reação inflamatória muito intensa), neu- rocisticercose (necessário o acompanhamento com o neurologista pelo risco de convulsões), en- terobíase, necatoríase e estrongilodíase Menos eficaz que o mebendazol contra a tricurí- ase Pode ser utilizado contra larvas migrans cutânea, teníase e hidatidose Os efeitos adversos são dor epigástrica, diarreia, náusea, vômito, tontura e cefaleia, o uso prolon- gado pode gerar cefaleia mais intensa, febre, fa- diga, alopecia, leucopenia, trombocitopenia e dis- função hepática, além de ser teratogênico como os outros benzimidazólicos PRAZIQUANTEL Tratamento de escolha para a esquistossomose e teníase Não é ativo contra nematódeos Mecanismo de ação Aumento da permeabilidade da membrana do pa- rasita ao cálcio – paralise e morte do verme Compromete o tegumento do parasita, disponibi- liza novos antígenos e ativa as resposta imunoló- gicas normais dos hospedeiros Os efeitos adversos são o desconforto gastrin- testinal, náusea, cefaleia e tontura, também pode causar febre, prurido, urticária, rash cutâneo, artralgia e mialgia devido a resposta imune do hospedeiro Tem efeito sinérgico com a niclosamida no trata- mento das infestações por tênia PIPERAZINA Tratamento de infestações pelos nematelmintos comuns (ascaridíase) e pelo nematódeo filiforme (enrobiose) Mecanismo de ação – ativa canais de cloreto re- gulados por GABA do músculo do nematódeo, re- sultando na paralisia do verme Indicada como tratamento alternativo da ascari- díase e da enterobiose, deve ser utilizada com al- gum laxante ou óleo mineral (expulsão dos vermes adultos) Os efeitos adversos são alterações no TGI, urti- cária e broncoespasmo, menos comumente po- dem ser observada tontura, parestesia, vertigem e dificuldade de coordenação IVERMECTINA Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Usada para tratar uma grande variedade de in- fecções causadas por nematelmintos e artrópo- des Primeira escolha no tratamento da oncocercose Pode ser opção no tratamento da estrongiloidise, larvas migrans cutâneas, escabiose e piolho Mecanismo de ação – ativação de canais de clo- reto regulados por glutamato (específico de in- vertebrados) que vai gerar a paralisia do verme, quantidades muito altas podem causar depres- sões do SNC, é agonista dos receptores do GA- BAa também e é ineficaz contra cestódeos e trematódeos (não expressão os canais) Os efeitos adversos são tontura, náuseas e vô- mito, mas pode causar taquicardia, diarreia, dor abdominal, prurido, hipotensão ortostática, artral- gia, alterações hepáticas e convulsões (esses úl- timos dependendo da dose e do tempo de trata- mento) DIETILCARBAMAZINA (DEC) Derivado da piperazina Fármaco de escolha no tratamento de certas fi- larioses, inclusive da filariose linfática Mecanismo de ação – incerto, mas acredita-se que ela estimule os mecanismos imunesinatos, iniba a polimerização de microtúbulos e do meta- bolismo do ácido araquidônico Normalmente é bem tolerada, mas pode causar anorexia, cefaleia e náuseas, além de reação de Mazzoti, (indivíduos com uma carga alta de para- sitas) que é caracterizada por artralgia, sinovite, dor abdominal, aumento da sensibilidade dos nódu- los linfáticos (axilares, cervicais e inguinais), pru- rido, edema, erupção cutânea e febre, para dimi- nuir os efeitos dessa reação as doses do medica- mento podem ser aumentadas gradualmente (in- flamação pelo excesso de vermes adultos mor- tos)
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